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Legislação, Regulamentos e Normas em Saúde do Trabalhador

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LEGISLAÇÃO, REGULAMENTOS 
E NORMAS EM SAÚDE 
DO TRABALHADOR
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Luciano Trentin
Indaial - 2020
1ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2020
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
T795l
 Trentin, Luciano
 Legislação, regulamentos e normas em saúde do trabalhador. / 
Luciano Trentin. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.
 164 p.; il.
 ISBN 978-65-5646-253-0
 ISBN Digital 978-65-5646-248-6
1. Saúde e trabalho. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo 
da Vinci.
CDD 341.6
Sumário
APRESENTAÇÃO ............................................................................5
CAPÍTULO 1
SAÚDE DO TRABALHO ..................................................................7
CAPÍTULO 2
SAÚDE DO TRABALHO ................................................................55
CAPÍTULO 3
SAÚDE DO TRABALHO .............................................................. 115
APRESENTAÇÃO
Caro acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Legislação, Regulamentos 
e Normas em Saúde do Trabalhador. O livro que agora está disponível para você 
servirá de subsídio para que possa dar início ao seu processo de aprendizagem 
na temática de Saúde do(a) Trabalhador(a) que vem conquistando cada vez mais 
notoriedade devido à grande influência na qualidade de vida e bem-estar físico, 
mental e social das pessoas. 
A saúde do(a) trabalhador(a) é uma relevante estratégia não meramente 
para assegurar a saúde da mão de obra, mas para colaborar positivamente com 
a produtividade, qualidade dos produtos e serviços, motivação e satisfação no 
desenvolvimento de suas atividades e para o desenvolvimento socioeconômico 
de forma sustentável. 
Para um melhor entendimento de todo esse processo de aquisição 
de conhecimento, inicialmente, abordaremos, na primeira seção, de forma 
mais abrangente, a saúde do trabalhado. Iniciaremos nossa aprendizagem 
compreendendo a evolução histórica e os conceitos gerais sobre a saúde do(a) 
trabalhador(a) e dos riscos e as enfermidades relacionados ao trabalho. 
Em seguida, no segundo módulo, abordaremos a legislação acidentária, 
compreendendo como identificar direitos e deveres, além de entender o processo 
formal de reconhecimento do acidente de trabalho ou doença ocupacional. 
Na terceira e última seção, apresentarem as normativas de saúde do(a) 
trabalhador(a), abordando os princípios e as diretrizes para o desenvolvimento da 
atenção integral à saúde, os requisitos e procedimentos relativos à segurança e 
medicina do trabalho e a importância de um sistema de certificação internacional.
Enfim, o conhecimento disponibilizado para você nesse material servirá 
como alicerce para iniciar seu aprendizado no extenso campo de conhecimento 
da saúde do(a) trabalhador(a), que é digno de notoriedade quando se aborda a 
produtividade e efetividade, ou seja, fazendo as coisas certas (eficácia) da melhor 
maneira possível (eficiência), destacando-se a promoção, proteção e prevenção 
da saúde do(a) trabalhador(a).
Bom estudo!!!
CAPÍTULO 1
SAÚDE DO TRABALHO
A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
Saber:
 Compreender os determinantes de saúde e do bem-estar do(a) trabalhador(a).
Fazer:
 Conhecer a evolução histórica da saúde do(a) trabalhador(a);
 Identifi car os riscos mais frequentes nos ambientes de trabalho e seus efeitos 
sobre a saúde.
8
 LEGiSLAÇÃo, rEGuLAmENToS E NormAS Em SAÚDE Do TrABALHADor
9
SAÚDE DO TRABALHO Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO 
Como parte constituinte da Saúde Pública, a saúde do(a) trabalhador(a) tem 
como propósito estudar e intervir na relação de interdependência entre produção-
consumo e o processo saúde-doença das pessoas, em particular da mão de obra. 
Pode-se considerar o trabalho como estrutura organizadora da vida social e, em 
vista disso, provedor das condições de vida e saúde e um conversor natural de 
processos produtivos no sentindo de transformá-los em impulsionadores de saúde 
e não de enfermidade e perecimento em colaboração com os trabalhadores. 
As concepções de trabalho, trabalhador, saúde e enfermidade associadas 
à ocupação profi ssional constituem o campo de conhecimento e propiciam a 
compreensão das restrições sociais, econômicas, tecnológicas e organizacionais, 
resultantes da matriz de desenvolvimento utilizada pelo país, responsável pela 
condição de vida e de saúde dos cidadãos e dos(as) trabalhadores(as). 
A partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, a saúde do(a) 
trabalhador(a) dispõem de uma nova defi nição e novo delineamento institucional, 
com o estabelecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e sua integração como 
área de competência própria de saúde. Tal efeito, proveniente de um processo 
constituinte com evidente participação dos movimentos sociais e sindicais, 
suscitou estados e municípios a modernizarem seus estatutos jurídicos de 
maneira a conduzir tais modifi cações e robustecer suas práticas na esfera da 
saúde, essencialmente, a saúde do(a) trabalhador(a).
Compreendido ainda como um campo de conhecimento contemporâneo, no 
que diz respeito às práticas, à competência, às atribuições e ao objeto (a saúde 
do(a) trabalhador(a) em relação ao processo produtivo). Inevitavelmente, é um 
objeto de difícil compreensão, dadas suas concepções socioculturais, políticas 
e econômicas, com interações institucionais variadas com as quais estados e 
municípios têm enfrentado consideráveis embates rumo à consolidação da área 
de saúde do(a) trabalhador(a).
O perfi l dos(as) trabalhadores(as) no país que perderam suas vidas em 
decorrência de uma doença específi ca dentro de determinado segmento 
mercadológico caracteriza-se pela existência simultânea de agravos que possuem 
vínculo contínuo com as condições do ambiente de trabalho. São exemplos disso 
os acidentes de trabalho típicos, as doenças profi ssionais e doenças relativas ao 
trabalho, que possuem frequência, manifestação e ou gravidade transformadas 
pelo trabalho, além de doenças cotidianas ao conjunto populacional, que não 
apresentam vínculo e ou origem com o trabalho.
10
 LEGiSLAÇÃo, rEGuLAmENToS E NormAS Em SAÚDE Do TrABALHADor
Esperamos que o presente material não seja o fi m de um ciclo de 
aprendizagem, mas que possa ser um instrumento de compreensão, revisão e 
aperfeiçoamento na medida em que amplie o desenvolvimento de competências 
e futuras práticas de vigília da saúde do(a) trabalhador(a), encontrem-se elas nos 
âmbitos da assistência, da vigilância epidemiológica, da vigilância sanitária ou da 
promoção da saúde.
2 CONHECENDO A SAÚDE DO(A) 
TRABALHADOR(A)
A concepção do campo de conhecimento de saúde do(a) trabalhador(a) no 
Brasil preserva um vínculo próximo do movimento de reestruturação sociopolítico 
do país entre os anos de 1970-1980, na tentativa de conquistar melhorias na 
condição de vida e saúde para os(as) trabalhadores(as). Ao trazer à tona o 
debate sobre questões relacionadas ao trabalho e à enfermidade para o domínio 
da saúde pública, ou da saúde coletiva, o movimento criou uma ruptura com os 
padrões correntes das práticas de saúde ocupacional. E, no contexto das políticas 
públicas, incorporou a temática debatida na rede de serviços de saúde (GOMEZ 
et al., 2018). 
O movimento da saúde do(a) trabalhador(a)obteve relevantes incentivos, 
entre eles: as premissas da denominada “corrente latino-americana da Medicina 
Social”, acerca da defi nição social da doença (LAURELL; NORIEGA, 1989); o 
debate sobre as demandas de saúde do(a) trabalhador(a) relacionadas à corrente 
do “novo sindicalismo”, infl uenciado, signifi cativamente, pela experiência operária 
italiana; e a colaboração de profi ssionais especializados, dos serviços de saúde, 
dos Ministérios do Trabalho e da Previdência Social (MENDES; DIAS, 1991).
Afi nal, o que devemos entender por saúde do(a) trabalhador(a)? 
“É o conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância 
epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos 
trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos 
trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de 
trabalho” (BRASIL, 1990). 
Em sua origem o tema saúde do(a) trabalhador(a) foi constituído no encontro 
do vínculo regulamentar entre a medicina e as ciências sociais nos anos 1970, por 
intermédio das ideias expostas por Karl Marx1 (1978), particularmente no Capítulo 
VI Inédito de O Capital1, pela adesão da premissa sobre a determinação social 
11
SAÚDE DO TRABALHO Capítulo 1 
do processo saúde-doença, sumarizada no conceito de “processo de trabalho” 
(NEHMY; DIAS, 2010).
A apropriação do conceito “processo de trabalho” como um recurso de análise 
propicia remodelar princípios ainda dominantes que ao instituírem conexões 
simplifi cadas entre causa e efeito, em uma interpretação única e ou de várias 
causas, desconceituam a dimensão social e histórica do trabalho e do binômio 
(consiste em dois termos que estão unidos) saúde-doença (GOMEZ et al., 2018).
Uma temática tão abrangente como a saúde do(a) trabalhador(a) nos 
reporta, a princípio, à análise de uma quantia de normativas técnicas que 
circundam o campo de conhecimento. No entanto, não podemos omitir que todo 
o conhecimento somente será plenamente compreendido na sua completude 
quando observados os movimentos históricos que resultaram no todo da área de 
conhecimento, tanto quanto na teoria como na práxis.
1 Karl Marx (1818-1883), considerado como um dos três principais arquitetos 
da ciência social moderna, foi fi lósofo, sociólogo, historiador, economista, 
jornalista e revolucionário socialista. Publicou vários livros durante sua vida, sendo 
O Manifesto Comunista (1848) e O Capital (1867-1894) os mais proeminentes.
Livro: Capítulo VI Inédito De O Capital. 
Autor: Karl Marx. 
Link: o livro está disponível em: <https://cutt.ly/XghcpbC>.
Sinopse: Ao revolver a análise do modo de produção burguês 
com todos os seus antagonismos na proclamação da sua catástrofe 
revolucionária, que opera através das forças geradas no seu seio 
pelas próprias exigências da sua conservação, o Capítulo VI Inédito 
de O Capital lança uma ponte em direção ao Livro II de O Capital, 
ao analisar a mercadoria não já como ponto de partida do processo 
produtivo, mas como seu resultado, isto é, como depositária do 
capital original antecipado e da mais-valia produzida e, nessa 
medida, precisamente como premissa de um novo ciclo de produção 
de mercadorias.
12
 LEGiSLAÇÃo, rEGuLAmENToS E NormAS Em SAÚDE Do TrABALHADor
2.1 CONCEITOS GERAIS SOBRE A 
SAÚDE DO(A) TRABALHADOR(A) 
As ocupações produtivas, no Brasil, estão estruturadas de inúmeras 
maneiras, com diferentes níveis de inserção tecnológica e modelos de gestão, 
na lógica de cadeias produtivas, em todos os setores econômicos (agroindústria, 
mineração, construção, indústria, setor de serviços, entre outros) (CANO; SILVA, 
2010). Assim podemos observar diferentes maneiras de conformação dos 
processos produtivos e de integração tecnológica (da mão de obra manual à 
robotização de produção), de modelos de gerir e de vínculo do(a) trabalhador(a) 
com o empregador ou responsável por gerir o processo produtivo, por intermédio 
de características distintas, a começar com carteira assinada e outro modelos de 
contratos, tais como cooperativas, associações e relações informais (CARNEIRO; 
MARTINS, 2015; MARTINS; MOLINARO, 2013). 
Embora, ainda sejam verifi cadas, em algumas circunstâncias, ocorrências de 
trabalho ilegal, como o trabalho cativo e ou que engloba crianças e adolescentes, 
elas devem ser contestadas/suprimidas e analisadas na mensuração dos 
impactos sobre a saúde e a qualidade de vida dos(as) trabalhadores(as) e suas 
famílias (SANCHEZ; MINAYO, 2004). 
Em consequência dos diferentes vínculos de trabalho, estabilidade, acesso 
aos direitos trabalhistas e previdenciários, considera-se a força da mão de obra 
brasileira como complexa, infl uenciando diretamente na qualidade de vida dos(as) 
trabalhadores(as) e suas famílias, seja na vida pessoal, no trabalho ou na saúde. 
O IBGE (2015) categorizou a população ocupada conforme ocupação e categoria 
da ocupação (Figura a seguir).
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística 
(IBGE), no ano de 2015, em torno de 105 milhões de pessoas eram 
consideradas como trabalhadores(as) brasileiros(as), sendo que 
desses trabalhadores(as) encontravam-se somente 43 milhões 
(quase 41%) de pessoas seguradas pelo Seguro Acidente de 
Trabalho (SAT) da Previdência Social. 
13
SAÚDE DO TRABALHO Capítulo 1 
FIGURA 1 – CATEGORIZAÇÃO DA POPULAÇÃO OCUPADA 
POR OCUPAÇÃO E CATEGORIA DE OCUPAÇÃO
FONTE: Adaptado de IBGE (2015)
Esteja ele presente ou ausente de nossas vidas, o trabalho pode ser 
considerado como o relevante originador do padrão de vida e da condição de 
saúde dos(as) trabalhadores(as) e de suas famílias. Visto como essencial à 
vida das pessoas, o trabalho, além da remuneração ou rendimentos, propicia 
ao trabalhador(a) a sensação benéfi ca de utilidade e partícipe da vida social, 
favorecendo a saúde. Em contrapartida de acordo com o ambiente no qual o 
trabalho é realizado ele também pode ocasionar infortúnios, como angústia e 
enfermidade ao(a) trabalhador(a), algumas vezes podendo levar a óbito, agravar 
injustiças e a instabilidade das pessoas e ocasionar a destruição do ambiente. 
Cabe destacar que ser ou estar desocupado também pode colaborar para que 
o(a) trabalhador(a) adoeça. 
Garbois, Sodré e Dalbello-Araujo (2017) consideram o trabalho como um 
agente motivador de saúde e do bem-estar do(a) trabalhador(a) e das pessoas 
que estão em volta dele(a). Além de gerar ganhos, que promove as condições 
materiais de vida, existe um aspecto que confere um caráter mais humano ao(a) 
trabalhador(a) e consente a inclusão social a quem trabalha, colaborando com a 
criação de vínculos sociais de suporte, essenciais para a saúde. 
14
 LEGiSLAÇÃo, rEGuLAmENToS E NormAS Em SAÚDE Do TrABALHADor
Nessa perspectiva de que o trabalho é determinante social do binômio 
saúde-doença, no ano de 2005, a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou 
uma comissão específi ca denominada Comissão para os Determinantes Sociais 
da Saúde (CDSS), para debater os determinantes sociais da saúde e intimou o 
comparecimento de autoridades de diversos países para criar diretrizes coletivas 
de combate as profundas desigualdades em saúde (ALMEIDA-FILHO, 2010).
O que são determinantes sociais?
A Comissão para os Determinantes Sociais da Saúde (CDSS) entende os 
determinantes sociais da saúde como as “circunstâncias em que as populações 
crescem, vivem, trabalham e envelhecem, bem como os sistemas implementados 
para lidar com a doença” (CDSS, 2010, p.1).
O conceito de Determinantes Sociais da Saúde (DSS), da mesma maneira 
que foi criado pela CDSS, foi inspirado no modelo de Dahlgren e Whitehead 
(1991). Nesse modelo, os determinantes sociais da saúde são tratados em 
camadas, desde aquelas que apresentam características do indivíduo, até as que 
compreendem os macrodeterminantes do processo saúde-doença (DAHLGREN; 
WHITEHEAD, 1991). Contudo, no ano de 2010, a OMS constituiu um novo marco 
conceitual sobre os determinantessociais de saúde, sintetizado a partir do modelo 
proposto por Solar e Irwin (2010) (Figura a seguir), que foi adoto no ano seguinte, 
na Conferência Mundial sobre os Determinantes Sociais de Saúde de 2011, sendo 
adicionado no relatório denominado Diminuindo diferenças: a prática das políticas 
sobre determinantes sociais da saúde (OMS, 2011).
FIGURA 2 – MODELO DOS DETERMINANTES SOCIAIS 
DE SAÚDE PROPOSTO POR SOLAR E IRWIN
FONTE: Solar e Irwin (2010, p. 6)
15
SAÚDE DO TRABALHO Capítulo 1 
Os determinantes estruturais, nesse novo modelo (Figura anterior), operam 
por intermédio de um agrupamento de determinantes intermediários para delinear 
as implicações na saúde. A estrutura exterioriza-se como os mecanismos sociais, 
econômicos e políticos dando origem a um grupo de posições socioeconômicas, 
nas quais a população é segmentada conforme a renda, a educação, a ocupação, 
o gênero, a raça/etnia, dentre outros fatores (determinantes estruturais). Esse 
posicionamento socioeconômico, no que lhe concerne, estabelece vulnerabilidades 
e exposição desiguais nas condições de saúde, refl etindo a posição das pessoas 
dentro das hierarquias sociais (BORDE; HERNANDEZ-ALVAREZ; PORTO, 2015; 
ALBUQUERQUE; SILVA, 2014; SOLAR; IRWIN, 2010). 
Dentre os fatores contextuais pertencentes à produção e manutenção da 
ordem social, Solar e Irwin (2010) destacam: 1) estruturas de governança formais 
e informais relacionadas com os mecanismos de participação social da sociedade; 
2) políticas macroeconômicas, incluindo políticas fi scais, monetárias, políticas 
de mercado e a estrutura do mercado laboral; 3) políticas sociais nas áreas 
de emprego, posse de terra e habitação; 4) políticas públicas em áreas como 
educação, saúde, água e saneamento, assim como a extensão e a natureza de 
políticas redistributivas, de seguridade social e de proteção social; e 5) aspectos 
relacionados com a cultura e com os valores sociais legitimados pela sociedade.
Os determinantes intermediários referem-se ao agrupamento de elementos 
classifi cados em condições materiais (como condições de moradia, características 
da vizinhança, condições de trabalho, qualidade do ar, acesso e disponibilidade a 
alimentos, à água), aspectos comportamentais (estilos de vida e comportamentos, 
que se expressam, entre outros, nos padrões de consumo de tabaco, álcool e na 
falta de atividade física), biológicos (fatores genéticos) e psicossociais (estressores 
psicossociais, circunstâncias estressantes, falta de apoio social). Nesse padrão 
conceitual, o sistema de saúde é tido como um determinante intermediário de 
saúde, admitindo em especial a infl uência das barreiras de acesso. A coesão 
social e o capital social permeiam as duas dimensões: estrutural e intermediária 
(BORDE; HERNANDEZ-ALVAREZ; PORTO, 2015; ALBUQUERQUE; SILVA, 
2014; SOLAR; IRWIN, 2010). 
A compreensão dos determinantes sociais de saúde corresponde, 
essencialmente, a uma diversidade e a uma complexidade de fatores que 
pertencem às condições de vida, trabalho e saúde e como elas se relacionam. 
Os elementos/fatores determinantes sociais de saúde, referentes ao processo 
de trabalho, são entendidos pelo Ministério da Saúde como uma estratégia 
de estruturação da Atenção Básica (ou primária) à saúde, que desenvolve a 
mediação das ações governamentais para melhorar as condições de vida, 
trabalho e saúde, a partir de práticas desenvolvidas por equipes multiprofi ssionais. 
Essa força de trabalho promove ações a grupos de pessoas com fatores de risco 
16
 LEGiSLAÇÃo, rEGuLAmENToS E NormAS Em SAÚDE Do TrABALHADor
comportamentais e ambientais, propondo-se a adequar hábitos/estilos de vida 
saudáveis, minimizando o aparecimento de enfermidades (SANT'ANNA et al, 
2010). 
Considerados os pressupostos estabelecidos para os determinantes sociais 
de saúde, faz-se necessária uma melhor compreensão das práticas cotidianas 
de atenção básica à saúde, compreendendo o processo de trabalho das equipes 
de atenção básica à saúde e a respectiva responsabilidade pelo atendimento 
inicial às urgências e emergências, além dos serviços disponibilizados pela rede 
de atenção às urgências e emergências, de forma a articular e integrar todos os 
equipamentos de saúde.
No dia a dia dos serviços de saúde, faz-se necessária uma percepção 
diferenciada dos(as) trabalhadores(as), considerado os vínculos entre as 
atividades que exercem e suas condições de saúde-doença. As resultantes 
negativas na saúde defi nidos pelo trabalho são usualmente evidenciados nos 
acidentes e nas enfermidades relacionadas ao trabalho que se apresentam como 
demanda dos(as) usuários(as) nos inúmeros locais da rede, cujos principais 
pontos de entrada são a atenção básica à saúde (Figura 3 e Quadro 1) e as 
Redes de Urgência e Emergência – RUE (Figura 4 e Quadro 2) (VELLO, 2015; 
MSB, 2001). 
Fique por dentro do conhecimento!!!
Descubra a importância da atenção básica à saúde e a rede de urgência e 
emergência.
FIGURA 3 – ATENÇÃO BÁSICA
 FONTE: <https://cutt.ly/VghcG8x>. Acesso em: 21 fev. 2020.
17
SAÚDE DO TRABALHO Capítulo 1 
FIGURA 4 – REDE DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
FONTE: <https://cutt.ly/IghcK24>. Acesso em: 21 fev. 2020.
QUADRO 1 – ATENÇÃO BÁSICA (AB) À SAÚDE
QUADRO 2 – REDES DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA 
(RUE)
A atenção básica em saúde tem como objetivos a ampliação 
do acesso, o fortalecimento do vínculo, a responsabilização 
e o primeiro atendimento às urgências e emergências, em 
ambiente adequado, até
a transferência/encaminhamento dos pacientes a outros 
pontos de atenção, quando necessário, mediante implantação 
de acolhimento com avaliação de riscos e vulnerabilidades. 
Caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito 
individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da 
saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, 
a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde 
com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que 
impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos 
determinantes e condicionantes de saúde das coletividades 
(Portaria MS/GM nº 2.488/2011).
As equipes da atenção básica têm a possibilidade de se 
vincular, responsabilizarem-se e atuar na realização de 
ações coletivas de promoção e prevenção no território, 
no cuidado individual e familiar, assim como na cogestão 
dos projetos terapêuticos singulares dos usuários, que, por 
vezes, requerem percursos, trajetórias e linhas de cuidado 
que perpassam outras modalidades de serviços para atender 
as necessidades de saúde de modo integral.
• A rede de atenção às urgências e emergências, de 
forma a articular e integrar todos os equipamentos 
de saúde, objetiva ampliar e qualifi car o acesso 
humanizado e integral aos usuários em situação 
de urgência e emergência nos serviços de 
saúde, de forma ágil e oportuna, em todo o 
território nacional, respeitando-se os critérios 
epidemiológicos e de densidade populacional. A 
rede de atenção às urgências e emergências se 
organizam em um arranjo composto por: 
• Atenção básica: unidades básicas de saúde.
• Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e demais 
serviços 24h.
• Serviço de Atendimento Móvel de Urgência 
(SAMU).
• Hospitais voltados ao atendimento de urgências – 
SOS Emergências.
• Esses serviços possuem uma ampla gama legal 
de portarias que são essenciais para o seu devido 
funcionamento. São elas:
• Portaria nº 1.600/2011 – Reformula a política 
nacional de atenção às urgências, de 2003, e 
instituindo a rede de atenção às urgências e 
emergências no SUS.
• Portaria nº 1.601/2011 – Contém as diretrizes 
para regular o funcionamento da UPA 24h e os 
demais serviços de urgência da rede de urgências, 
baseado na Política Nacional de Atenção às 
Urgências.
18
 LEGiSLAÇÃo, rEGuLAmENToS E NormAS Em SAÚDE Do TrABALHADor
No que se refere ao processo de trabalho das equipes 
com foco na urgência/emergência, os profi ssionais devem 
realizar o acolhimento com escutaqualifi cada, classifi cação 
de risco, avaliação de necessidade de saúde e análise de 
vulnerabilidades, tendo em vista a responsabilidade da 
assistência resolutiva à demanda espontânea e ao primeiro 
atendimento às urgências e emergências. 
• Portaria nº 1.010/2012 – Institui diretrizes para a 
implementação do Serviço de Atendimento Móvel 
de Urgência (SAMU) e da sua central de regulação 
médica.
• Portaria nº 963/2013 – Institui o cuidado em 
domicílio no Sistema Único de Saúde (SUS).
FONTE: Adaptado de Brasil (2013a) FONTE: Adaptado de Brasil (2013a)
No que se refere aos serviços de atendimento de urgências e emergências, 
de modo específi co, a implantação da Política Nacional de Atenção às Urgências 
e Emergências intenciona atingir todos os estágios de prestação de assistência 
desenvolvidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), estruturando desde os 
serviços oferecidos nas Unidade Básicas de Saúde (UBS) até os atendimento 
de maior complexidade, como os cuidados pós-hospitalares na convalescença, 
recuperação e reabilitação. Da mesma forma, estar interligado a um atendimento 
ou meio de transporte adequado a partir da hierarquização dos serviços de saúde, 
regulado e integrando ao sistema de urgência e emergência vigente. Além das 
UBS, os serviços também podem ser prestados por: equipes de saúde da família, 
ambulatórios especializados, serviços de diagnóstico e terapêuticos, unidades 
não-hospitalares de atendimento de urgência e emergência e pelos serviços 
móveis de atendimento pré-hospitalar, como o Serviço de Atendimento Móvel de 
Urgência (SAMU). A adoção da rede de atenção às urgências e emergências visa 
ampliar os acessos e meios de promoção de saúde através de um planejamento 
articulado, fl exível e rápido, dirigido às necessidades da população (OLIVEIRA; 
TRINDADE, 2017). A fi gura a seguir apresenta a hierarquização e qualifi cação do 
sistema de atendimento às urgências e a emergência. 
19
SAÚDE DO TRABALHO Capítulo 1 
FIGURA 5 – HIERARQUIZAÇÃO E QUALIFICAÇÃO DO SISTEMA 
DE ATENDIMENTO ÀS URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS
FONTE: Ortiga et al. (2016, p. 3)
Legenda: AB: Atenção Básica; ACS: Agentes Comunitários de Saúde; SADT: Serviço de 
Apoio Diagnóstico e Terapêutico; SAMU: Serviço de Atendimento Móvel de Urgência; SF: 
Saúde da Família; USA: Unidade de Suporte Avançado; USB: Unidade de Suporte Básico; 
VIR: Veículo de Intervenção Rápida.
Você sabe quantas ambulâncias possui o SAMU?
O SAMU 192 está presente, atualmente, em 3.618 municípios, 
com 3.274 ambulâncias. O país conta ainda com 252 motolâncias, 
12 embarcações (ambulancha), 14 aeromédicos e 191 centrais de 
regulação. Ao todo, 174 milhões de pessoas (83,69% da população) 
contam com a cobertura do serviço (BRASIL, 2019).
20
 LEGiSLAÇÃo, rEGuLAmENToS E NormAS Em SAÚDE Do TrABALHADor
Considerada uma estratégia essencial, a organização da atenção básica 
à saúde, propõe-se a reduzir a desigualdade e prover cuidados resolutivos e 
com qualidade. Por intermédio das atividades desenvolvidas pelas equipes de 
saúde, permite-se que se acompanhe mais a respeito das condições de vida e 
de trabalho dos cidadãos sob sua supervisão, colaborando com a defi nição de 
políticas e ações de saúde mais apropriadas ao perfi l de pessoas mortas em 
decorrência de algumas doenças específi cas (morbimortalidade) e o ingresso e 
acompanhamento de grupos de risco (BRASIL, 2013b). A rede de atenção básica 
à saúde abarca uma série de ações de caráter individual e coletivo, incluindo as 
regras e normas de promoção de saúde, prevenção de agravos, tratamento e 
reabilitação, instituindo o primeiro estágio de atenção à saúde do Sistema Único 
de Saúde (SUS) (OLIVEIRA; TRINDADE, 2017). 
Starfi eld (2002) menciona a existência de diversas formas de organização 
da atenção básica à saúde no Brasil, devido à inserção de ações essencialmente 
voltadas à saúde do(a) trabalhador(a). Essas ações indicam mudanças no 
modelo tradicional de assistência à saúde, de cunho médico hospitalar e baseada 
na oferta de serviços de maneia centralizada, ocasionando uma certa ausência 
de clareza no emprego dos termos “atenção médica” convencional e “atenção 
básica (ou primária)” à saúde. O quadro a seguir apresenta as diferenças entre 
“atenção médica” convencional e “atenção básica (ou primária)” à saúde, segundo 
o entendimento de Starfi eld.
QUADRO 3 – DIFERENÇAS ENTRE ATENÇÃO MÉDICA 
CONVENCIONAL E ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE
Características
Atenção médica 
convencional
Atenção básica à saúde
Enfoque • Doença• Cura
• Saúde, 
• Prevenção, atenção e 
cura
Conteúdo
• Tratamento
• Atenção por episódio
• Problemas 
específi cos
• Promoção da saúde
• Atenção continuada
• Atenção abrangente
Organização
• Especialistas
• Médicos
• Consultório individual
• Clínicos gerais
• Outros profi ssionais
• Equipe multiprofi ssional
Responsabilidade
• Apenas o Setor 
Saúde
• Domínio pelo 
profi ssional
• Recepção passiva
• Ação intersetorial
• Participação da 
comunidade
• Autorresponsabilidade
FONTE: Starfi eld (2016, p. 33)
Desta forma, a denominação atenção básica à saúde vem sendo utilizada 
para caracterizar modelos distintos de organização e oferta de serviços de saúde, 
em vários países do mundo, inclusive no Brasil. 
21
SAÚDE DO TRABALHO Capítulo 1 
O conceito de atenção básica (ou atenção primária) à saúde, 
provavelmente, teve sua origem nos Estados Unidades da América, 
em uma conjuntura de crescimento urbano, com comunidades 
carentes oriundas de pequenas províncias e de milhares de 
imigrantes estrangeiros, em sua maioria sem condições de custear 
as despesas de cuidado à saúde (UFMG, 2010).
FIGURA 6 – SÍNTESE DOS RESPECTIVOS FOCOS DE ATUAÇÃO 
DAS EQUIPES DE ATENÇÃO BÁSICA E SAÚDE DA FAMÍLIA
FONTE: Adaptado de Brasil (2013a) e Mângia e Lancman (2008)
As intervenções desenvolvidas pelas equipes de atenção básica e saúde da 
família (fi gura a seguir), no campo do conhecimento da saúde do(a) trabalhador(a), 
possibilitam a compreensão das relações entre as condições de vida e trabalho, 
evidenciados nos determinantes sociais de saúde (estruturais ou intermediários) e 
sua inclusão no cuidado (BORDE; HERNANDEZ-ALVAREZ; PORTO, 2015). 
O cuidado em saúde, no ponto de vista da atenção integral, engloba práticas 
de promoção e proteção da saúde, vigilância, assistência e reabilitação. Desse 
modo, a rede de saúde por intermédio de seus profi ssionais, em especial as 
equipes de atenção básica e saúde da família, deve ser qualifi cada para constituir 
as relações entre as condições de vida, saúde-doença e o trabalho, recente ou 
anterior dos usuários, de maneira a determinar a diagnose precisa, a relação 
causal com a atividade de trabalho e estabelecer o plano terapêutico apropriado, 
abarcando a reabilitação, a instrução do(a) trabalhador(a) sobre as medidas de 
promoção e proteção da saúde, o direcionamento trabalhista e previdenciário 
e a notifi cação ao sistema de informações em saúde (CYPRIANO, 2016; 
NASCIMENTO; NASCIMENTO, 2005). 
22
 LEGiSLAÇÃo, rEGuLAmENToS E NormAS Em SAÚDE Do TrABALHADor
2.2 CONHECENDO A SAÚDE DO(A) 
TRABALHADOR(A)
Integrante do escopo de atuação de saúde pública, a saúde do(a) 
trabalhador(a) tem como objetivo de estudo e intervenção as relações produção-
consumo e o processo saúde-doença das pessoas e, em particular, dos(as) 
trabalhadores(as). Em se tratando de saúde pública, o trabalho pode ser 
compreendido com a base organizadora da vida social o ambiente de dominação 
e resistência dos(as) trabalhadores(as) e determinante das condições de vida e 
saúde das pessoas. A partir desse silogismo, as intervenções devem dedicar-
se na proposição de mudanças dos processos produtivos, no propósito de 
transformá-los em originadores de saúde, e não de adoecimento e morte, além 
de assegurar a atenção integral à saúde dos(as) trabalhadores(as), considerando 
sua incorporação nos processos produtivos (BRASIL,2012).
Livro: Determinantes Ambientais e Sociais da Saúde. 
Autor: Luiz Augusto C. Galvão, Jacobo Finkelman, Samuel 
Henao. 
Sinopse: Os organizadores chamam atenção para a crescente 
medicalização das agendas de saúde, “ignorando com frequência 
a crescente massa de evidências que associam uma boa ou má 
saúde individual e coletiva a um grau de determinantes ambientais e 
sociais, dominados por amplas iniquidades sociais e econômicas que 
limitam o bem estar e o progresso de amplos setores da população”.
No campo de ação da atenção básica, as ações públicas de Vigilância 
em Saúde do Trabalhador (Visat) devem iniciar pela observação e registro das 
atividades produtivas estabelecidas no Brasil que estão sob gerenciamento das 
equipes de atenção básica e saúde da família, incluindo-os em seu planejamento 
de trabalho, além da vigilância dos danos à saúde relativos ao trabalho (os 
acidentes e as doenças) que é assegurado por intermédio da notifi cação dos 
casos reconhecidos no Sistema de Informação de Agravos de Notifi cação (Sinan) 
e o monitoramento dos ambientes e processos de trabalho, com ênfase nas 
atividades produtivas concebidas na residência e ou na área externa de uma 
residência, em um raio não superior a cem metros dela (VASCONCELLOS; 
GOMEZ; MACHADO, 2014; BRASIL, 2013c).
23
SAÚDE DO TRABALHO Capítulo 1 
O nível de cobertura de saúde do(as) trabalhadores(as) por intermédio 
da Previdência Social brasileira, exceto os segurados especiais, decorre, 
essencialmente, do modo de se comportar do mercado de trabalho. A elevação 
do emprego formal ou da desocupação possui infl uência direta no número 
de segurados do sistema. Desse modo, a responsabilidade do SUS com a 
vida e a saúde dos(as) trabalhadores(as) tem por orientação sua inclusão no 
processo produtivo/processo de trabalho, a partir do início da vida laboral, 
independentemente, da atividade laborativa, abrangendo os intervalos de 
inatividade, desocupação, aposentadoria e velhice (BATISTA et al., 2008).
Tambellini (1987) menciona que a evolução da área da saúde do(a) 
trabalhador(a) recebeu uma grande contribuição de técnicos em nível das 
instituições públicas, tais como, as universidades e institutos de pesquisa, a rede 
de serviços de saúde e fi scalização do trabalho, agregando esforços por melhores 
condições de saúde e trabalho, por intermédio do desenvolvimento profi ssional, 
da geração de conhecimento, da prestação de serviços e da fi scalização das 
demandas legais. 
Na década de 1980, o Movimento da Saúde do(a) Trabalhador(a) 
estabeleceu-se no Brasil, no âmago do processo de redemocratização do País 
e da luta pela Reforma Sanitária, que culminou na instituição do Sistema Único 
de Saúde (SUS) pela Constituição Federal (CF) de 1988. Ao instituir a saúde 
como direito de cidadania e dever do estado, a Constituição Federal assegurou 
a atenção integral à saúde para todos(as) trabalhadores(as) a despeito do 
modelo contratual acordado no mercado de trabalho. Outrora, somente os(as) 
trabalhadores(as) com contratos regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho 
(CLT), ou seja, com “carteira de trabalho assinada”, usufruíam do direito à 
assistência médica e à Previdência Social (VELLO, 2015).
A Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) é um 
documento obrigatório para toda pessoa que venha a prestar algum 
tipo de serviço, seja na indústria, no comércio, na agricultura, na 
pecuária ou mesmo de natureza doméstica. Agora sua CTPS poder 
ser digital. Desenvolvida pela Dataprev, a Carteira de Trabalho Digital 
é um aplicativo que permite ao cidadão acessar as informações 
da carteira física e emitir a sua CTPS de forma digital. Além das 
informações de identifi cação civil, o cidadão tem acesso a seus 
vínculos, remunerações e contribuições (BRASIL, 2019a).
24
 LEGiSLAÇÃo, rEGuLAmENToS E NormAS Em SAÚDE Do TrABALHADor
Na implementação desse "novo" método de abordagem de questões 
relacionadas à saúde do(a) trabalhador(a), Mendes e Dias (1991) defi nem como 
propósito fundamental de saúde do(a) trabalhador(a) o processo de saúde-doença 
dos grupos de pessoas, em sua relação com o trabalho. Segundo os autores, a 
concepção do processo saúde-doença representa um esforço de compreensão 
de como e porque isso ocorre, e do desenvolvimento de possibilidades de 
intervenção que conduzam a um modelo mais humanizado na relação entre 
trabalho e trabalhadores(as).
Backes et al. (2009) menciona que a vida se manifesta através da saúde-
doença, que são formas singulares, experiências abstratas e que não devem ser 
reveladas por intermédio de palavras. Contudo, a pessoa doente serve-se de 
palavras para exteriorizar a sua doença e os profi ssionais da saúde, no que lhe 
concerne, igualmente utilizam-se de palavras para dar sentido às lamentações 
dos pacientes. Para os autores, a saúde-doença possui aspectos econômicos, 
políticos, socioculturais, socioepidemiológicos e históricos que infl uenciam a 
saúde humana e os modos de vida, os processos de trabalho e de produção, 
essenciais para se interpretar os processos de saúde, adoecimento e morte da 
população.
As concepções dispares sobre saúde-doença, de maneira a estabelecer 
relações entre as necessidades em saúde baseadas nas particularidades de uma 
população em um dado território, caracterizam-se pela relação entre a saúde-
doença e as atividades de cuidado inseridas no contexto relativo à organização 
das ações e serviços de saúde e as redes de apoio para a população, em especial 
os(as) trabalhadores(as). E também compreender os diferentes determinantes 
sociais da saúde-doença a partir das características de uma dada população 
(CRUZ, 2012).
Para Gamba e Tadini (2010), a saúde-doença não são duas faces da 
mesma moeda. A saúde-doença deve ser compreendida como um mecanismo 
social relativamente autônomo em relação à ideia de doença, assim como as 
repercussões que ela trará para a vida social e para a rotina das pessoas. De 
outro ponto de vista, Brêtas e Gamba (2006) expõem que a saúde é silenciosa, 
normalmente não a identifi camos em sua totalidade, na maior parte das ocasiões, 
somente a identifi camos quando estamos enfermos. Trata-se de uma experiência 
de vida, experienciada no íntimo do corpo humano. Escutar o próprio corpo é uma 
excelente técnica para garantir a saúde com qualidade, visto que não se encontra 
uma linha precisa entre a saúde-doença, mas um vínculo de interdependência 
entre elas. 
A Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano de 1947, defi niu a saúde 
25
SAÚDE DO TRABALHO Capítulo 1 
como: “Um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a 
ausência de doença ou enfermidade” (OMS, 2011, p. 283). A defi nição de saúde 
pela OMS é considerada válida até os dias atuais, entretanto, tem recebido, 
desde sua formulação, diversas críticas e refl exões de inúmeros profi ssionais, 
pesquisadores e outros intérpretes da área da saúde. Essas pessoas, em tese, 
consideram-na como uma ideia irrealizável e não funcional, tipifi cando-a como 
uma declaração ao invés de uma defi nição propriamente dita (NARVAI; PEDRO, 
2008).
Dentre as abordagens possíveis para defi nir o binômio saúde-doença, 
apresentaremos uma que parece mais proveitosa a nossos estudos. Pode-se 
então descrever a condição de saúde, didaticamente, segundo a soma de três 
planos: subindividual, individual e coletivo, apresentados no quadro a seguir.
Organização Mundial da ou de Saúde é uma agência 
especializada em saúde, fundada em 7 de abril de 1948 e 
subordinada à Organização das Nações Unidas. A OMS é composta 
por representantes de 194 Estados-membros e presidida por 
um diretor-geral. Com sede localizada em Genebra, na Suíça, a 
organização ainda possui seis escritórios regionais (Américas, África, 
Sudeste da Ásia, Europa, Mediterrâneo Oriental e Pacífi co Ocidental) 
(OMS, 2020).
QUADRO 4 – CONDIÇÃO DE SAÚDE DE ACORDO COM OS 
PLANOS: SUBINDIVIDUAL, INDIVIDUAL E COLETIVO
Su
bind
iv
id
ua
l
Corresponde ao nível biológico e orgânico, fi siológico ou fi siopatológico. Nesse 
plano, o processo saúde-doença seria defi nido pelo equilíbrio dinâmico entre 
a normalidade – anormalidade/funcionalidade – disfunções. Assim, quando 
a balança pender para o lado da anormalidade/disfunção, podem ocorrer 
basicamente duas situações: a enfermidade e a doença. A enfermidade seria a 
condição percebida pela pessoa ou paciente, caracterizando-a como queda de 
ânimo, algum sintoma físico ou mesmo dor. A doença seria a condição detectada 
pelo profi ssional de saúde, com quadro clínico defi nido e enquadrada como uma 
entidade ou classifi cação nosológica (área da medicina que se dedica ao estudo, 
descrição e classifi cação das diferentes doenças).
26
 LEGiSLAÇÃo, rEGuLAmENToS E NormAS Em SAÚDE Do TrABALHADor
Enxergando-se a condição de saúde-doença segundo esses três planos, 
compreendemos melhor porque somente em situações muito específi cas a saúde 
resulta apenas da disponibilidade e do acesso aos serviços de saúde. Assim, o 
direito à saúde deveria ser entendido de forma mais abrangente do que apenas o 
direito ao acesso aos serviços de saúde (NARVAI; PEDRO, 2008). Nossa própria 
Constituição Federal de 1988, em sua seção sobre saúde (Art. 196), defi ne-a nos 
seguintes termos (grifos do autor): “A saúde é um direito de todos e dever do 
Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução 
do risco de doenças e outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações 
e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
De acordo com Brasil (2016), a partir da década de 1990, diferentes maneiras 
de organização institucional e estratégica de ações foram utilizadas pelas três 
instâncias de gestão do SUS (União, estados e municípios) para executar as 
determinações constitucionais. Nesse sentido, a constituição da Rede Nacional de 
Atenção à Saúde do Trabalhador (RENAST), planejada com base nos Centros de 
Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), trouxe, dentre outras vantagens, 
maior exposição para o desenvolvimento de ações junto aos gestores, às equipes 
de saúde e ao controle social. 
É notório que a maior evolução da saúde do(a) trabalhador(a) no país foi seu 
reconhecimento constitucional como área contida no âmbito da saúde pública. 
Todavia, as ações de proteger, promover a saúde e prevenir os danos à saúde 
do(a) trabalhador(a), missão do SUS, contribuíram para distinguir a prática médica 
de saúde dos(as) trabalhadores(as) da medicina tradicional. 
Minayo, Machado e Pena (2011) e Brasil (2009) mencionam que a saúde 
dos(as) trabalhadores(as) difere do hábito comum da medicina convencional e a 
FONTE: Adaptado de Navai e Pedro (2008)
In
di
vi
du
al
Entende que as disfunções e anormalidades ocorrem em indivíduos que são seres 
biológicos e sociais ao mesmo tempo. Portanto, as alterações no processo saúde-
doença resultam não apenas de aspectos biológicos, mas também das condições 
gerais da existência dos indivíduos, grupos e classes sociais, ou seja, teriam 
dimensões individuais e coletivas. Segundo essa concepção, a condição de saúde 
poderia variar entre um extremo de mais perfeito bem-estar até o extremo da morte, 
com uma série de processos e eventos intermediários entre eles.
C
ol
et
iv
o
Expande ainda mais o entendimento sobre o processo saúde-doença, que é 
encarado não como a simples soma das condições orgânicas e sociais de cada 
indivíduo isoladamente, senão a expressão de um processo social mais amplo, 
que resulta de uma complexa trama de fatores e relações, representados por 
determinantes do fenômeno nos vários níveis de análise: família, domicílio, 
trabalho, micro área, bairro, município, região, país, continente etc. 
27
SAÚDE DO TRABALHO Capítulo 1 
implicação do médico com o capital. Ela posiciona a saúde do(a) trabalhador(a) 
como objetivo fundamental da prática médica, ao contrário de somente declarar 
a aptidão do(a) trabalhador(a). Ela abarca os fundamentos da Saúde Pública, 
de prevenção de riscos e da promoção da saúde com a participação dos(as) 
trabalhadores(as). Essa concepção tem implicações consideráveis acerca das 
práticas de saúde e da compreensão sobre quem são as pessoas consideradas 
trabalhadores(as).
Quem são trabalhadores para o SUS?
Para o SUS, trabalhadores(as) são todos(as) homens e mulheres que 
trabalham na área urbana ou rural, independentemente da forma de inserção no 
mercado de trabalho, formal ou informal, de seu vínculo empregatício, público 
ou privado, assalariado, autônomo, avulso, temporário, cooperativado, aprendiz, 
estagiário, doméstico, aposentado e mesmo os desempregados (BRASIL, 2012).
Organizada a partir da atenção básica à saúde, as ações colocadas em 
prática por intermédio da Rede de Atenção à Saúde (RAS), tida como organizadora 
da rede e coordenadora do cuidado, ratifi cou a necessidade do comprometimento 
das equipes de atenção básica e em especial da estratégia de saúde da família 
nos cuidados à saúde do(as) trabalhadores(as). Contudo, independentemente, 
da concordância sobre o progresso da atenção básica enquanto política e 
estratégia de consolidação do SUS, em especial no que tange a expansão da 
cobertura de acesso da população aos serviços de saúde, a conjuntura se torna 
mais complexa com o advento das transformações ambientais nos processos 
produtivos decorrentes da inclusão de novas tecnologias e estratégias de gestão, 
que instituem aceleração e fl exibilização do trabalho metodizados em cadeias 
produtivas, aumentando a responsabilidade do SUS, em especial as ações 
desenvolvidas pelas equipes de atenção básica e saúde da família, no cuidado à 
saúde do(as) trabalhadores(as) (SOUZA; VIRGENS, 2013). 
As ações de saúde, organizadas e direcionadas ao(à) trabalhador(a), nas 
inúmeras competências da rede do SUS, têm que levar em consideração: 
a) O processo saúde-doença dos(as) trabalhadores(as) é concebido socialmente.
b) O(a) trabalhador(a) é sujeito da saúde e possui saberes e conhecimentos 
sobre seu trabalho e sobre as repercussões dele sobre sua saúde, que devem 
ser considerados no planejamento e na execução das ações de saúde.
c) É essencial a participação dos(as) trabalhadores(as), da comunidade e do 
controle social em todas as instâncias e etapas da organização das ações e 
serviços de saúde.
d) A integralidade das ações de saúde pressupõe que as ações preventivas e 
curativas são indissociáveis, porém com primazia das ações de promoção e da 
vigilância em saúde.
28
 LEGiSLAÇÃo, rEGuLAmENToS E NormAS Em SAÚDE Do TrABALHADor
QUADRO 5 – EIXO REPRESENTATIVO DE ASPECTOS 
DE SAÚDE DO(A) TRABALHADOR(A)
Pr
om
oç
ão
 d
a 
sa
úd
e
Reconhece o trabalho como promotor de saúde e não apenas produtor de 
sofrimento, adoecimento e morte. Mais do que mudanças de comportamentos 
favoráveis à saúde, as ações de promoção da saúde devem buscar o 
empoderamento e o fortalecimento da autonomia dos(as) trabalhadores(as) 
na luta por condições dignas de trabalho. A articulação de políticas e práticas 
intersetoriais deve ser estimulada, especialmente aquelas com potencial para 
promover o controle e a intervenção sobre os determinantes de saúde e a 
participação em processos regulatórios e na produção conjunta de normas 
protetivas, entre outras.
As
si
st
ên
ci
a 
à 
sa
úd
e
Começa pela identifi cação do(a) usuário(a) enquanto trabalhador(a), 
considerando sua inserção laboral atual e pregressa, para que se estabeleça 
a relação entre o trabalho e o processo saúde-doença e se faça o diagnóstico 
correto e se defi na o plano terapêutico adequado, incluindo a reabilitação física 
e psicossocial. Também deve incluir a orientação do(a) trabalhador(a) sobre as 
medidas de prevenção e direitos trabalhistas e previdenciários, a notifi cação dos 
agravos relacionados ao trabalho e, se necessário, o acionamento dos setores 
da vigilância em saúde.
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gi
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 S
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Vi
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t É um dos componentes da Vigilância em Saúde e abrange a vigilância 
epidemiológica dos agravos (acidentes, intoxicações, entre outros) e doenças 
relacionadas ao trabalho e a vigilância dos ambientes e processos de trabalho, 
em estabelecimentos e atividades do setor público e privado, urbanos e 
rurais. Inclui a produção, a divulgação e a difusão de informações em saúde 
e ações de educação em saúde. Deve ser realizada de forma articulada com 
a rede assistencial e com os demais componentes da Vigilância em Saúde: 
Epidemiológica, Sanitária e em Saúde Ambiental.
FONTE: Brasil (2018, p. 19)
O avanço de ações de saúde do(a) trabalhador(a) deve cogitar a organização 
das redes de atenção e monitoramento nas relações entre espaço e poder 
desenvolvidas pelos Estados, os processos de divisão dos espaços identifi cados 
em localidades e de fi rmar acordo entre intergestores, na localidade e no 
estado. Outro enfoque essencial do cuidado à saúde dos(as) trabalhadores(as) 
relaciona-se à participação integral dele(as) em todas as fases, colaborando 
e) A articulação intra e intersetorial das políticas e práticas de saúde na perspectiva 
da transversalidadede é fundamental para garantir cuidado resolutivo e de 
qualidade.
As atividades de saúde do(a) trabalhador(a), na sua relação com o trabalho, 
concebem o fenômeno saúde-doença, em seus aspectos individuais e coletivos, 
biológicos e sociopolíticos. De maneira representativa, os aspectos individuais e 
coletivos podem ser dispostos em três eixos apresentados no quadro a seguir.
29
SAÚDE DO TRABALHO Capítulo 1 
com conhecimento específi co e saberes, práticas e subjetividade com os 
padrões institucionais, sobretudo no reconhecimento dos riscos para a saúde 
presentes no trabalho e as consequências dessa exposição sobre a enfermidade 
e ou agravamento dela, da mesma maneira que na constatação das mudanças 
indispensáveis nos processos de trabalho para torná-los mais seguros e saudáveis 
(VELLO, 2015). 
Considerando-se que a atenção básica à saúde do(a) trabalhador(a) 
é um acesso primordial à rede de serviços de saúde, recebendo diversos 
trabalhadores(as) com relações de trabalho diferenciados e que podem 
demonstrar formas de enfermidade e necessidades pertinentes ao trabalho, torna-
se imprescindível que as equipes de atenção básica e saúde da família estejam 
aptas a reconhecer esses problemas e enfrentá-los na concepção da atenção 
integral, da mesma forma que instruir e direcionar corretamente o acesso do(a) 
trabalhador(a) ao seguro social.
O órgão responsável pelo Seguro Social do governo federal é o Instituto 
Nacional do Seguro Social (INSS), pertencente ao órgão do Ministério da 
Previdência Social, ligado diretamente ao Governo, que recebe as contribuições 
para a manutenção do Regime Geral da Previdência Social, sendo responsável 
pelo pagamento de aposentadorias, salário-maternidade, pensão por morte, 
auxílio-doença, auxílio-acidente, auxílio-reclusão e outros benefícios para aqueles 
que adquirirem o direito a esses benefícios segundo o previsto pela lei. O INSS 
foi criado em 27 de junho de 1990, por meio do Decreto n° 99.350, a partir da 
fusão do Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social 
– IAPAS com o Instituto Nacional de Previdência Social – INPS, como autarquia 
vinculada ao Ministério da Previdência e Assistência Social – MPAS (BRASIL, 
2017).
Agora que compreendemos melhor a saúde do(a) trabalhador(a), vamos 
complementar nossos estudos e nos aprofundar nessa temática?
Você sabe o que signifi ca Seguro Social do governo federal?
De acordo com Constituição da República Federativa do 
Brasil, em seu Art. 194., a seguridade social compreende um 
conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da 
sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à 
previdência e à assistência social (BRASIL, 2020) 
30
 LEGiSLAÇÃo, rEGuLAmENToS E NormAS Em SAÚDE Do TrABALHADor
Livro: Avaliação da Atenção Básica em Saúde. 
Autor: Patrícia Abrahão Curvo, Maria José B. Pereira, Silvana 
M. Mishima. 
Sinopse: Esta investigação de caráter avaliativo da Atenção 
Básica à Saúde – ABS pretende produzir subsídios para decisões 
que fortaleçam a ABS, pautados na integralidade da atenção. 
Pesquisas de avaliação permitem verifi car o modo como os direitos 
individuais e de cidadania são observados no acesso e utilização 
do sistema de saúde, considerando a assertiva das percepções 
dos usuários em relação as suas expectativas, valores e desejos. 
Na literatura, identifi camos que a avaliação para decisão deve 
considerar metodologias de apreensão da realidade que possam 
ressignifi car as práticas, envolvendo a participação de todos os 
atores responsáveis pela produção da saúde e impactando na 
qualidade dos serviços. Indagamos: sob o ponto de vista do usuário, 
o processo de implantação da ABS tem favorecido a produção de 
ações na perspectiva da integralidade? Partimos do pressuposto 
de que a integralidade agrega e articula diversos princípios da ABS, 
tendo maior potencialidade de revelar a expectativa do usuário e 
assim assinalar aspectos da satisfação e da insatisfação.
2.3 OS RISCOS E AS ENFERMIDADES 
RELACIONADOS AO TRABALHO
Conjuntamente com a população, os(as) trabalhadores(as), compartilham 
maneiras de adoecer e morrer em um determinado tempo e lugar, estabelecidas 
pela sua classe social, pelos modos de vida e consumo, sexo, ciclo de vida, 
perfi l genético e condições de exposição a fatores de riscos, retratados nas 
situações de instabilidade social e ambiental. Esses distúrbios de saúde podem 
ser ocasionados ou serem alterados em sua frequência, gravidade ou latência, de 
acordo com a atividade que a pessoa desempenha ou desempenhou no decorrer 
da vida (TAKEDA; ROBAZZI; LAVRADOR, 2001). 
A saúde do(a) trabalhador(a) decorre de um perfeito equilíbrio entre 
a capacidade dele(a) e o conjunto de restrições e limitações, sejam essas 
provenientes da vida, de ambientes e da profi ssão, ao qual encontra-se submetido. 
31
SAÚDE DO TRABALHO Capítulo 1 
A capacidade do(a) trabalhador(a) é infl uenciada por distintos fatores, tais como: 
a idade, a formação, a vida privada, estado de saúde anterior e atual, a motivação 
e o modo de vida. O conjunto de restrições e limitações pode ser materiais ou 
psíquicos e atuar sobre a pessoa nos níveis interior e exterior, expressando a 
sua origem nas condições importas ou nos fatores ambientais e psicossociais 
(FREITAS, 2016).
No dia a dia laboral, as pessoas estão expostas a inúmeros ocorridos 
e fatores de risco para a saúde, que são capazes de atuar em conjunto ou 
intensifi car seus efeitos. Além das exposições nos ambientes de trabalho, com 
frequência, os(as) trabalhadores(as) e suas famílias estão vulneráveis a riscos 
resultantes da contaminação e da degradação ambiental nos arredores e nas 
áreas de moradia, originados pelos processos produtivos desenvolvidos na região 
(PIRES, 2013). 
Os malefícios do trabalho podem estar associados a insumos e às matérias-
primas, a objetos, máquinas e às ferramentas manuseadas, capazes de originar 
lesões e situações de risco à saúde, como a existência de poeiras, substâncias 
químicas e agentes físicos perigosos ou nocivos. A organização das atividades 
relacionadas ao trabalho, manifestam-se na duração, intensidade, exigência 
de produtividade, jornada de trabalho diuturno, relações de confl ito entre os 
gestores e os colegas, que podem ocasionar sofrimento e distúrbio de saúde. 
Do mesmo modo, os malefícios do trabalho podem se expandir para além do 
trabalho, causando abalo e ou comoção no ambiente domiciliar, nos familiares, na 
vizinhança e no ambiente em geral (SANTOS; ALMEIDA, 2016). 
Analisado a partir de diversas disciplinas, o fator de risco é considerado um 
conceito descritivo e normativo, visto que aponta o real sentido de uma situação 
e constitui, integralmente, as normas, direcionando-asno propósito desejado. O 
conceito de risco surge a partir da conjunção da probabilidade de materialização 
de uma condição perigosa e da gravidade das anomalias decorrentes de 
irregularidades e ou anormalidades evidenciadas (FREITAS, 2009). 
Segundo Grizenko e Fisher (1992) e Halpern e Figueiras (2004), pode-se 
considerar fator de risco como um elemento que, quando manifesto, eleva a 
probabilidade da manifestação de distúrbios ou aumenta a fragilidade de uma 
pessoa ou grupo a propagar uma doença ou agravo à saúde. No quadro a seguir 
foram apresentados exemplos de riscos mais frequentes nos ambientes de 
trabalho e seus efeitos sobre a saúde.
32
 LEGiSLAÇÃo, rEGuLAmENToS E NormAS Em SAÚDE Do TrABALHADor
QUADRO 6 – EXEMPLOS DE RISCOS EXISTENTES NO AMBIENTE 
DE TRABALHO E SEUS EFEITOS SOBRE A SAÚDE
Categoria Exemplos de riscos Possíveis efeitos sobre a saúde Atividades onde podem estar presentes
Fí
si
co
s
Ruído
Efeitos auditivos: surdez, 
zumbidos. 
Efeitos extra auditivos:
gastrite, insônia e outras
manifestações de estresse.
Trabalhos com máquinas
barulhentas, motores,
britadeiras; motoristas de
ônibus.
Temperaturas
extremas
Desidratação, câimbras
pelo calor, fadiga, alergia 
respiratória, sinusite, resfriados 
frequentes.
Trabalho na rua e a céu
aberto; frigorífi cos; cozinhas 
industriais; ambientes com 
ar-condicionado.
Iluminação
Problemas de visão, dor
de cabeça, acidentes.
Várias atividades na indústria 
e no setor de serviços, 
costureiras
e manicures podem ter pouca 
iluminação ou iluminação em 
excesso, prejudicando a visão
do(a) trabalhador(a).
Radiações ionizantes
e não ionizantes – Ultravioleta, 
infravermelho,
raios X etc.
Câncer de pele, anemia
aplástica; leucemia; catarata.
Agricultores(as) e
trabalhadores(as) na rua:
trabalhadores(as) em hospitais 
e consultório dentários que 
operam
raios X, soldadores(as) etc.
Q
uí
m
ic
os
Substâncias químicas
que podem estar presentes nos 
ambientes de trabalho na forma
de poeiras, fumos, névoas, 
neblinas, gases ou vapores. 
Ex.: agrotóxicos.
Queimaduras, náusea,
vômito, cefaleia, alergia,
asma brônquica, câncer,
doenças gástricas e
intestinais, neurológicas,
hepáticas, renais, entre
outras. Também podem
provocar acidentes decorrentes 
de explosões e incêndio. Elas 
penetram no organismo pela via
respiratória, pela pele
ou pelo trato digestivo
provocando intoxicação
aguda ou crônica.
Inúmeras atividades na
indústria e no setor de serviços, 
no setor agropecuário, 
silvicultura, madeireiro; 
empresas desinsetizadoras e 
da saúde pública que atuam
no controle de endemias e de 
zoonoses etc.
M
ec
ân
ic
os
Máquinas com partes móveis 
não protegidas;
calandras e cilindros;
guilhotinas; prensas e
o uso de instrumentos
cortantes ou perfurantes etc.
Acidentes diversos (quedas, 
fraturas, esmagamento,
amputação; traumatismos).
Trabalhadores(as) da
construção civil; motoristas de 
transportes coletivos; padeiros, 
metalúrgicos, trabalhadores(as)
em vias públicas, profi ssionais 
de saúde etc.
33
SAÚDE DO TRABALHO Capítulo 1 
Bi
ol
óg
ic
os
Micro-organismos 
(bactérias, fungos, protozoários, 
vírus, entre outros). Animais 
peçonhentos (cobras, escor-
piões, aranhas).
Doenças contagiosas: hepatite, 
tuberculose, tétano, pneumonia, 
aids etc. Envenenamento por
picada de cobra ou escorpião.
Profi ssionais de saúde;
manicure, trabalhadores(as)
rurais; carteiros etc.
Ps
ic
os
so
ci
ai
s
Jornadas de trabalho
longas, esforços físicos
exagerados com posturas 
forçadas e carregamento de 
peso. Ritmo acelerado,
trabalho repetitivo e monótono; 
trabalho em turnos e noturno. 
Desemprego, vínculos 
precários ou ausência de 
vínculo trabalhista.
Doenças osteomusculares 
relacionadas ao trabalho
(Dort); problemas na coluna, 
dores musculares e articulares. 
Sofrimento mental, com 
manifestações de insegurança; 
desmotivação; depressão;
distúrbios do sono; estresse, 
entre outros.
Trabalhadores(as) de linha 
de montagem; carregadores; 
bancários; trabalhadores(as) 
em teleatendimento. 
Trabalhadores(as) informais 
e com vínculos precários, 
terceirizados e temporários.
FONTE: Brasil (2001, s.p.)
A possibilidade de um agravo vir a acontecer em um determinado momento, 
seja ele imediato ou remoto, pode ser aferido para um fator de risco único ou para 
inúmeros ao mesmo tempo. Classes específi cas de pessoas expostas a riscos 
semelhantes podem ser caracterizadas na população, medidas e retratadas por 
intermédio dos indicadores de riscos utilizados na área da saúde, expressos 
como: risco absoluto (incidência), risco relativo e risco atribuível (quadro a seguir) 
(PEREIRA, 2001). 
QUADRO 7 – INDICADORES DE RISCO UTILIZADOS NA ÁREA DA SAÚDE
Indicador de Risco Descrição
Absoluto (incidência)
O risco absoluto de uma doença é a incidência da doença (GORDIS, 
1988). De acordo com Rouquayrol (1988), a incidência traduz a ideia de 
intensidade com que acontece determinado fenômeno nocivo em uma 
população, sendo a intensidade relacionada à unidade de intervalo de 
tempo (dia, semana, mês ou ano). Essa forma de medida alcança maior 
signifi cado quando comparada com os resultados obtidos de maneira 
semelhante em um outro grupo de indivíduos.
Relativo
O risco relativo é uma medida de associação. Essa medida se refere
à intensidade com que uma determinada exposição se relaciona com a 
doença em estudo. Informa quantas vezes o risco é maior em um grupo, 
quando comparado a outro.
Atribuível
O risco atribuível indica a diferença de incidências entre os dois grupos, 
diferença que é atribuída à exposição ao fator de risco. Suponhamos 
duas populações, uma exposta e outra não exposta, e que o risco de 
uma doença seja maior entre os expostos. O nível de risco não exposto 
pode ser visto como risco de fundo, um risco que é compartilhado por 
ambos os grupos. Se quisermos saber quanto do risco total nos expostos 
pode ser realmente atribuível à exposição propriamente dita (e não ao 
risco de fundo), devemos tomar o risco total nos expostos e subtrair o 
risco não exposto.
FONTE: Adaptado de Seta, Pepe, Oliveira (2006) e Pereira (2001)
34
 LEGiSLAÇÃo, rEGuLAmENToS E NormAS Em SAÚDE Do TrABALHADor
Segundo Pires (2013), uma análise de risco requer melhor entendimento 
sobre: a frequência (possibilidade com que se pode produzir); a gravidade 
das consequências; a interação dos diversos fatores presentes; e o tempo de 
exposição. Nessa perspectiva, a proteção da saúde do(a) trabalhador(a) destina-
se a inibir a manifestação de perdas decorrentes das condições laborativas. 
A partir da compreensão dos exemplos de riscos existentes no ambiente de 
trabalho e seus efeitos sobre a saúde (Quadro 6), Costa (2017) apresenta que no 
cotidiano do trabalho, difi cilmente, observa-se a exposição de um fator de risco 
em particular, sendo frequente a exposição concomitante a inúmeros fatores de 
risco, o que intensifi ca os efeitos deles na saúde do(a) trabalhador(a). 
Os efeitos de adoecimento dos(as) trabalhadores(as) por conta do trabalho 
podem ser melhor compreendidos por intermédio da classifi cação das doenças 
relacionadas ao trabalho proposta por Richard Schilling (um professor de 
medicina) em Londres no ano de 1984. Ela foi denominada “classifi cação de 
Schilling”, combina a abordagem clínico-individual com a coletivo-epidemiológica 
e agrupa as doenças segundo a contribuição ou o “papel causal” desempenhado 
pelo trabalho no adoecimento (SANTOS et al., 2018). Nessa classifi cação, as 
doenças relacionadas ao trabalho estão divididas em três categorias apresentadas 
no quadro a seguir.
QUADRO 8 – RELAÇÃO DO TRABALHO COM O ADOECIMENTO DE 
TRABALHADORES(AS) SEGUNDO A CLASSIFICAÇÃO DE SCHILLING
Categoria Exemplos
I – Trabalho como causa necessária
Intoxicação por chumbo
Silicose
Asbestose
II – Trabalho como fator contributivo, mas não 
necessário
Doença coronariana
Doenças do aparelho locomotor
Câncer
Varizes dos membros inferioresIII – Trabalho como provocador de distúrbio latente 
ou agravador de doença já estabelecida
Bronquite crônica
Dermatite de contato alérgica
Asma
Doenças mentais
FONTE: Schilling (1984, p. 73)
A classifi cação de Schilling foi utilizada pelo Ministério da Saúde, no Brasil, 
para a elaboração da Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho, disposta do 
Anexo LXXX da Portaria de Consolidação n.º 5, de 28 de setembro de 2017, 
com a fi nalidade de orientar os profi ssionais de saúde sobre a possível relação 
do adoecimento com a exposição a riscos para a saúde presentes no trabalho 
(BRASIL, 2017a).
35
SAÚDE DO TRABALHO Capítulo 1 
QUADRO 9 – DOENÇAS QUE PODEM SER GERADAS NO AMBIENTE DE TRABALHO
Doença Signifi cado
1. LER A sigla LER signifi ca Lesão por Esforço Repetitivo. 
O nome da sigla já é explicativo, pois as pessoas 
que adquirem a LER são aquelas que fazem 
a mesma ação repetidamente por dia. Como, 
por exemplo, os colaboradores que trabalham 
em frente ao computador, por conta do esforço 
repetitivo de digitar, podem adquirir a tendinite 
(infl amação nos tendões).
2. DORT As DORTs são os Distúrbios Osteomusculares 
Relacionados ao Trabalho. Os que adquirem 
essa doença são aqueles que trabalham em 
posturas inadequadas, chamadas de posturas 
anti-ergonômicas. Caso não sejam tratadas a 
tempo, as DORTs podem se agravar causando 
até mesmo a invalidez do trabalhador. Por isso 
a importância da postura para manter a coluna 
saudável.
3. Surdez defi nitiva ou temporária Em alguns tipos de trabalhos, há constantemente 
ruídos que podem ocasionar a perda da 
sensibilidade auditiva. Essa perda pode ser 
temporária ou defi nitiva e pode acontecer de 
forma silenciosa e lenta, ou seja, não se trata de 
uma doença relacionada ao trabalho que pode ser 
evitada por conta da dor, pois o trabalhador não 
percebe que está perdendo a audição e, por isso, 
é importante ter atenção com ela.
4. Sofrimentos psíquicos relacionados ao trabalho Sofrimentos psíquicos, tais como a ansiedade e o 
estresse, estão diretamente ligados às pressões 
que podem ocorrer no ambiente de trabalho 
(desentendimentos, a carga horária excessiva, 
dentre outros). 
5. Dermatite Alérgica de Contato Trata-se de uma doença relacionada ao trabalho 
que se caracteriza por alterações na mucosa 
e pele do colaborador, devido a sua exposição 
a agentes nocivos no momento em que ele 
está executando suas atribuições. Ulcerações, 
dermatite de contato, infecções e cânceres são 
alguns males que o termo dermatite alérgico de 
contato engloba.
Conheça as cinco principais doenças relacionadas ao trabalho!!!
FONTE: <https://cutt.ly/ZgzxzZh>. Acesso em: 21 fev. 2020.
36
 LEGiSLAÇÃo, rEGuLAmENToS E NormAS Em SAÚDE Do TrABALHADor
 A listagem de doenças relacionadas ao trabalho organizada pelo Ministério 
da Saúde possui dupla entrada: a Lista A, que considera o agente ou grupos de 
agentes patogênicos responsáveis pelo adoecimento ou que guardam evidências 
sólidas de nexo causal entre a exposição e a doença; e a Lista B, que tem 
como referência os códigos dos grupos de patologias defi nidos na Classifi cação 
Estatística Internacional de Doenças (CID-10), com elenco de aproximadamente 
400 agravos relacionados ao trabalho (BRASIL, 2008).
QUADRO 10 – EXEMPLOS DA “LISTA A” DAS DOENÇAS RELACIONADAS AO TRABALHO
Agentes etiológicos ou 
fatores de risco de natureza 
ocupacional
Doenças causalmente relacionadas com os respectivos agentes ou 
fatores de risco (denominadas e codifi cadas segundo a CID-10)
Sílica Livre
Neoplasia maligna dos brônquios e do pulmão (C34)
Cor Pulmonale (I27.9)
Outras Doenças Pulmonares Obstrutivas Crônicas (Inclui "Asma
Obstrutiva", "Bronquite Crônica", "Bronquite Obstrutiva
Crônica") (J44)
Silicose (J62.8)
Pneumoconiose associada com Tuberculose ("Sílico-
Tuberculose") (J63.8)
Síndrome de Caplan (J99.1; M05.3)
Ruído e afecção auditiva
Perda da Audição Provocada pelo Ruído (H83.3)
Outras percepções auditivas anormais: Alteração Temporária do
Limiar Auditivo, Comprometimento da Discriminação Auditiva
e Hiperacusia (H93.2)
Hipertensão Arterial (I10)
Ruptura Traumática do Tímpano (pelo ruído) (S09.2)
A seguir estão elencados exemplos de situações frequentes na rotina diária 
das equipes de atendimento básico e saúde da família, com base nas listagens A 
e B, organizadas pelo Ministério da Saúde (quadros a seguir).
A CID-10 signifi ca classifi cação Internacional de Doenças 
e Problemas Relacionados à Saúde (também conhecida como 
Classifi cação Internacional de Doenças – CID 10). Ela foi publicada 
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e fornece códigos 
relativos à classifi cação de doenças e de uma grande variedade de 
sinais, sintomas, aspectos anormais, queixas, circunstâncias sociais 
e causas externas para ferimentos ou doenças.
37
SAÚDE DO TRABALHO Capítulo 1 
FONTE: Adaptado de Brasil (2008; 2001)
Micro-organismos e 
parasitas infecciosos vivos 
e seus produtos tóxicos 
(Exposição ocupacional ao 
agente e/ou transmissor da 
doença, em profi ssões e/
ou condições de trabalho 
especifi cadas)
Tuberculose (A15-A19)
Carbúnculo (A22)
Brucelose (A23)
Leptospirose (A27)
Tétano (A35)
Psitacose, Ornitose, Doença dos Tratadores de Aves (A70)
Dengue (A90)
Febre Amarela (A95)
Micro-organismos e 
parasitas infecciosos vivos 
e seus produtos tóxicos 
(Exposição ocupacional ao 
agente e/ou transmissor da 
doença, em profi ssões e/
ou condições de trabalho 
especifi cadas)
Hepatites Virais (B15-B19)
Doença pelo Vírus da Imunodefi ciência Humana (HIV)
(B20-B24)
Dermatofi tose (B35) e Outras Micoses Superfi ciais (B36)
Paracoccidiomicose (Blastomicose Sul Americana,
Blastomicose Brasileira, Doença de Lutz) (B41)
Malária (B50-B54)
Leishmaniose Cutânea (B55.1) ou Leishmaniose Cutâneo-
Mucosa (B55.2)
Pneumonite por Hipersensibilidade a Poeira Orgânica
(J67): Pulmão do Granjeiro (ou Pulmão do Fazendeiro)
(J67.0); Bagaçose (J67.1); Pulmão dos Criadores de Pássaros
(J67.2); Suberose (J67.3); Pulmão dos Trabalhadores de
Malte (J67.4); Pulmão dos que Trabalham com Cogumelos
(J67.5); Doença Pulmonar Devida a Sistemas de Ar-
Condicionado e de Umidifi cação do Ar (J67.7); Pneumonites
de Hipersensibilidade Devidas a Outras Poeiras Orgânicas
(J67.8); Pneumonite de Hipersensibilidade Devida à Poeira
Orgânica não especifi cada (Alveolite Alérgica Extrínseca SOE;
Pneumonite de Hipersensibilidade SOE (J67.0)
“Dermatoses Pápulo-Pustulosas e suas complicações
infecciosas" (L08.9)
QUADRO 11– EXEMPLOS DA “LISTA B” DAS DOENÇAS RELACIONADAS AO TRABALHO
Doenças Agentes etiológicos ou fatores de risco de natureza ocupacional
Leucemias (C91-C95)
Benzeno (X46; Z57.5) 
Radiações ionizantes (W88; Z57.1) 
Óxido de etileno (X49; Z57.5)
Agentes antineoplásicos (X49; Z57.5)
Campos eletromagnéticos (W90; Z57.5)
Agrotóxicos clorados (Clordane e Heptaclor) (X48; Z57.4)
Pneumoconiose devida à 
poeira de Sílica (Silicose) 
(J62.8)
Exposição ocupacional a poeiras de sílica-livre (Z57.2)
38
 LEGiSLAÇÃo, rEGuLAmENToS E NormAS Em SAÚDE Do TrABALHADor
FONTE: Adaptado de Brasil (2008; 2001)
Asma (J45)
Carbonetos metálicos de tungstênio sinterizados (X49; Z57.2 e Z57.5)
Cromo e seus compostos tóxicos (X49; Z57.5)
Poeiras de algodão, linho, cânhamo ou sisal (Z57.2)
Acrilatos (X49; Z57.5)
Aldeído fórmico e seus polímeros (X49; Z57.5)
Aminas aromáticas e seus derivados (X49; Z57.5)
Anidrido ftálico (X49; Z57.5)
Azodicarbonamida (X49; Z57.5)
Carbetos de metais duros: cobalto e titânio (Z57.2)
Enzimas de origem animal, vegetal ou bacteriano (X44; Z57.3)
Furfural e Álcool Furfurílico (X45; Z57.5)
Isocianatos orgânicos (X49; Z57.5)
Níquel e seus compostos (X49; Z57.5)
Pentóxido de vanádio (X49; Z57.5)
Produtos da pirólise de plásticos, cloreto de vinila, tefl on (X49; Z57.5)
Sulfi tos, bissulfi tos e persulfatos (X49; Z57.5)
Sulfi tos, bissulfi tos e persulfatos (X49; Z57.5)
Medicamentos: macrólidos; ranetidina; penicilina e seus sais;
cefalosporinas (X44; Z57.3)
Proteínas animaisem aerossóis (Z57.3)
Outras substâncias de origem vegetal (cereais, farinhas, serragem 
etc.) (Z57.2)
Outras substâncias químicas sensibilizantes da pele e das vias
respiratórias (X49; Z57.2)
Transtornos mentais e
comportamentais devidos
ao uso do álcool: Alcoolismo 
Crônico (Relacionado com o
Trabalho) (F10.2)
Problemas relacionados com o emprego e com o desemprego:
condições difíceis de trabalho (Z56.5)
Circunstância relativa às condições de trabalho (Y96)
Reações ao Stress Grave e 
Transtornos de Adaptação 
(F43):
Estado de Stress
Pós-Traumático (F43.1)
Outras difi culdades físicas e mentais relacionadas com o trabalho:
reação após acidente do trabalho grave ou catastrófi co ou após
assalto no trabalho (Z56.6)
Circunstância relativa às condições de trabalho (Y96)
Mononeuropatias dos
Membros Superiores (G56): 
Síndrome do Túnel do Car-
po (G56.0); Outras Lesões 
do Nervo Mediano: Sín-
drome do
Pronador Redondo (G56.1);
Síndrome do Canal de Guy-
on (G56.2); Lesão do Nervo 
Cubital (ulnar): Síndrome 
do Túnel Cubital (G56.2); 
Lesão do Nervo Radial 
(G56.3); Outras Mononeu-
ropatias
dos Membros Superiores:
Compressão do Nervo
Supraescapular (G56.8)
Posições forçadas e gestos repetitivos (Z57.8)
39
SAÚDE DO TRABALHO Capítulo 1 
Esse formato de organização propicia ao profi ssional consultar a lista com 
base no reconhecimento da exposição a um agente, fatores de risco ou situação 
desfavorável de trabalho referenciados ou detectados na interlocução com o(a) 
trabalhador(a) (anamnese ocupacional2) ou com início nos distúrbios de saúde 
que o(a) trabalhador(a) relata ao ser atendido no serviço de saúde (BRASIL, 
2001).
2 Anamnese ocupacional: (do grego ana, trazer de novo e mnesis, memória) 
é uma entrevista realizada pelo profi ssional de saúde ao seu doente, que tem 
a intenção de ser um ponto inicial no diagnóstico de uma doença. Utilizada 
também como uma fi cha de coleta de informações sobre o paciente para ser 
um instrumento epidemiológico que contribuísse para conhecer, sistematizar, 
agilizar, homogeneizar e intercambiar dados e informações úteis ao planejamento, 
à formação de recursos humanos, ao atendimento, à vigilância, à avaliação de 
serviços de saúde do(a) trabalhador(a) e à divulgação pública (SILVA et al., 2019).
Acolhidas pela Previdência Social, no ano de 1999, as listas A e B 
estabelecidas pelo Ministério da Saúde foram adotadas para nortear as avaliações 
médico periciais e a cedência de benefícios previdenciários e acidentários a seus 
segurados. Cabe destacar que, no ano de 2007, a Previdência Social acrescentou 
às listas A e B, a Lista C (Anexo II do Decreto Federal n.º 3.048/1999, alterado pelo 
Decreto Federal n.º 6.042/2007) elaborada com base na signifi cância estatística 
da associação entre a doença identifi cada como responsável pela incapacidade 
do(a) trabalhador(a) e a atividade econômica da empresa a qual o segurado é 
vinculado – Nexo Técnico Epidemiológico3 (NTEP), que passou a ser utilizado nas 
avaliações médico-periciais (SILVA-JUNIOR et al., 2014; BRASIL, 2007; BRASIL, 
1999).
3 Nexo Técnico Epidemiológico (NTEP) é uma metodologia que tem o objetivo 
de identifi car quais doenças e acidentes estão relacionados com a prática de uma 
determinada atividade profi ssional pelo INSS no Brasil. Com o NTEP, quando 
o trabalhador adquirir uma enfermidade inteiramente relacionada à atividade 
profi ssional, fi ca qualifi cado o acidente de trabalho. Nos casos em que houver 
relação estatística entre a doença ou lesão e o setor de atividade econômica do 
trabalhador, o nexo epidemiológico determinará automaticamente que se trata de 
benefício acidentário e não de benefício previdenciário normal (MUSSI, 2018).
Dentre os principais exemplos de doenças comuns, com estreita relação 
com o trabalho, destacados nos Quadro 6 e 7, segundo Viegas e Almeida (2016) 
e Brasil (2001), devemos nos preocupar, essencialmente, com as doenças 
relacionadas ao trabalho que destacam-se com uma proporção elevada de casos 
existentes em uma determinada população e determinado momento temporal, 
ocasionando distúrbios na s aúde dos(as) trabalhadores(as), que necessitam de 
40
 LEGiSLAÇÃo, rEGuLAmENToS E NormAS Em SAÚDE Do TrABALHADor
cuidados específi cos, uma vez que essa exposição ao risco por um longo período 
de tempo aumenta a susceptibilidade às respectivas doenças.
Em se tratando de saúde do(a) trabalhador(a), mesmo com condicionantes 
sobre a utilização de recursos diversos, como recursos de análise, tecnológicos 
e estatísticas de grande extensão, seja qual for a forma de coleta de dados e 
estudos sobre essa temática, existe a necessidade de direcionar esforços para 
uma melhor compreensão da complexidade dos fenômenos existentes e sua 
relação com a saúde do(a) trabalhador(a), pois o “desconhecimento do fenômeno, 
de seus determinantes e da distribuição de sua ocorrência em determinado 
território impede ou difi culta uma análise adequada dos fatores potenciais que 
estão em sua origem” (CAVALCANTE et al., 2015, p.101).
Isso posto, os dados e informações sobre a saúde do(a) trabalhador(a), a 
relação dele com o trabalho e seu adoecimento podem auxiliar na compreensão 
dos efeitos da estrutura moderna do trabalho, assim como identifi car a existência 
de possíveis originadores subjacentes (que não estão manifestos, mas implícitos) 
de riscos ao seu adoecimento (MANOEL, 2018).
Uma explicação ou a resolução favorável para os problemas mais 
proeminentes de saúde da classe trabalhadora compreende necessariamente 
o reconhecimento dos(as) trabalhadores(as) que vivem e laboram no território 
brasileiro, tendo em vista as atividades laborais recentes e anteriores e as 
condições de trabalho nos processos produtivos originários desses locais, 
que podem refl etir na saúde da comunidade e dos(as) trabalhadores(as). 
Consequentemente, consiste em integrar as relações trabalho-saúde-doença e 
ambiente nas ações de saúde desenvolvidas pelas equipes de atenção básica e 
saúde familiar. 
Desenvolvidas na rede de serviços de saúde do SUS, as ações de saúde 
do(a) trabalhador(a) recomendadas pela Lei Orgânica da Saúde (BRASIL, 1990) 
são descritas da seguinte maneira: 
a) A assistência ao sujeito vítima de acidente de trabalho ou portador de doença 
profi ssional e do trabalho. 
b) A participação em estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e 
agravos potenciais à saúde existentes no processo de trabalho.
c) A participação na normatização, fi scalização e controle das condições de 
produção, extração, armazenamento, transporte, distribuição e manuseio de 
substâncias, de produtos, de máquinas e de equipamentos que apresentam 
riscos à saúde do(a) trabalhador(a). 
d) A avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde.
e) A informação ao(à) trabalhador(a), a sua respectiva entidade sindical e às 
41
SAÚDE DO TRABALHO Capítulo 1 
empresas sobre os riscos de acidente de trabalho, doença profi ssional e do 
trabalho, assim como dos resultados de fi scalizações, avaliações ambientais 
e exames de saúde, de admissão, periódicos e de demissão, respeitando os 
preceitos da ética profi ssional. 
f) A participação na normatização, fi scalização e controle dos serviços de ST nas 
instituições e empresas públicas e privadas.
g) A revisão periódica da listagem ofi cial de doenças originadas no processo de 
trabalho.
h) A garantia ao sindicato de trabalhadores(as) de requerer ao órgão competente 
a interdição de máquina, do setor, do serviço ou de todo o ambiente de 
trabalho, quando houver exposição a risco iminente para a vida ou saúde do(a) 
trabalhador(a).
Esse conjunto de ações está detalhado e organizado no Anexo XV da Portaria 
de Consolidação n.º 2, de 28 de setembro de 2017, que dispõe sobre a Política 
Nacional de Saúde do(a) Trabalhador(a) (PNST) (BRASIL, 2017b).
Dentro de uma prática habitual de trabalho das equipes de atenção básica 
e saúde da família, diversos procedimentos podem e

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