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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE DE MACAÉ
DEPARTAMENTO DE DIREITO DE MACAÉ
CURSO DE DIREITO
Samuel da Cruz Santana Lima
222084067
ATIVIDADE AVALIATIVA DA DISCIPLINA DE ANTROPOLOGIA DO DIREITO.
RESENHA DO TEXTO, “MORENA”: A EPISTEMOLOGIA FEMINISTA NEGRA
CONTRA O RACISMO NO TRABALHO DE CAMPO.
Macaé
2022
ATIVIDADE AVALIATIVA DA DISCIPLINA DE ANTROPOLOGIA DO DIREITO.
RESENHA DO TEXTO, “MORENA”: A EPISTEMOLOGIA FEMINISTA NEGRA
CONTRA O RACISMO NO TRABALHO DE CAMPO.
Resenha apresentada para obtenção de nota na
avaliação da disciplina Antropologia do Direito
ministrada pela professora Andreza Camara.
Macaé
2022
Resenha crítica:
 "Morena": a Epistemologia Feminista Negra contra o racismo no trabalho de campo.
Samuel da Cruz Santana Lima
Universidade Federal Fluminense
samuellima@id.uff.br
DANIEL, Camila. "Morena": a Epistemologia Feminista Negra contra o racismo no 
trabalho de campo. Revista Humanidades e Inovação, v.6, n.16, p. 24-34, 2019. Disponível em: 
<https://drive.google.com/file/d/1EsKCszvIqN8RPrmGKSG93CSzHBaMto4C/view>
O presente artigo foi escrito pela antropóloga Brasileira, Camila Daniel, graduada em
ciências sociais pela Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), mestre em ciências
sociais pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), doutora em ciências sociais
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e pós-doutora pela Morgan
State University nos Estados Unidos, e é atualmente professora na Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro. O artigo foi dividido em sete tópicos, sendo dentre eles, uma introdução e
uma consideração final, dissertando acerca de uma experiência própria em um estudo de casos
para elucidar seus conceitos.
Em sua introdução, Camila começa com uma breve introdução da sua história no
tocante ao trabalho antropológico com a comunidade peruana, tendo convivido e estudado por
anos a comunidade de peruanos no Rio de Janeiro, sendo assim algo intrigante para a autora a
forma com que os peruanos falam de raça para se referir a si mesmos ou denunciar atos
racistas sofridos. Após isso, a escritora descreve que em 2016 foi fazer outro estudo de campo
com grupos peruanos, mas dessa vez, nos Estados Unidos, buscando entender como os
imigrantes construíram suas identidades raciais em outro país diferente do Brasil. Porém, para
o desapontamento da antropóloga, o racismo com a mesma pelo fato de ser negra, dificultou e
mudou os rumos da pesquisa drasticamente. Entretanto, foi a partir das experiências de
racismo sofridos durante esse estudo, que a autora explora a epistemologia feminista negra
para refazer o seu ofício antropológico, tentando se desvincular do histórico eurocêntrico
masculino da disciplina e encontrar seu espaço, já que não se encaixava no estereotipo do
pesquisador antropólogo e nem de mulher negra, no final tudo isso ocasionando até no
desligamento de um dos interlocutores da pesquisa que a descriminava. 
No seu primeiro tópico, “Morena: silêncios que revelam”, Camila começa fazendo um
breve relato de sua experiência no estudo da colônia peruana nos EUA, onde após muita
dificuldade em se conectar com a comunidade de peruanos, tendo apenas encontros
esporádicos marcados por visíveis sinais que deixavam claro que ela não era bem-vinda,
consegue um contato por meio de uma amiga da comunidade do Rio de Janeiro que a
apresenta para Ángeles, mãe de uma de suas amigas de Lima, está que acolhe a pesquisadora
em sua casa e é o principal interlocutor da pesquisa. Todavia, logo no começo a confiança da
escritora é abalada em sua anfitriã, ao passo que a mesma insiste em a chamar de morena
mesmo já tendo se afirmado como negra, esse termo que segundo a autora diminui sua auto
identificação, sendo um eufemismo para diluir a presença africana em seu corpo, mascarando
o racismo, porém, a pesquisadora prefere se calar e ir em frente com a pesquisa. Completa,
tendo como possíveis causas do silêncio dela em relação à ofensa, sua formação acadêmica e
sua incapacidade de validar as próprias emoções, já que embora tenha recebido formação
acadêmica, a universidade não a preparou para lidar com as emoções no trabalho de campo
etnográfico como mulher negra, e por mais que a discussão de como as emoções estão
presentes no trabalho etnográfico não sejam novidades, a formação acadêmica acima de tudo
não a ensinou que como mulher negra, não seria vista pelos interlocutores como sujeito que
sente e pensa.
Em seu segundo tópico, “Quando o Racismo está no campo”, a autora começa
destacando o seu trabalho e postura colaborativa com seus interlocutores no Rio de Janeiro,
tendo participado ativamente da comunidade peruana, contribuindo assim para o combate a
estereótipos do Peru na sociedade brasileira, recebendo em troca a sua aceitação na
comunidade, e se tornando amiga de muitos deles, assim como de seus amigos e familiares
ainda no Peru. De volta no assunto racial, ela conta o relato de outra situação onde se sentiu
desconfortável com falas de uma peruana, mas, depois de uma breve conversa tudo foi
resolvido, ilustrando o teor da sua relação construída com essa comunidade, onde a raça e o
racismo não desapareceram por completo dessa, entretanto, ela era marcada pela abertura ao
diálogo, possibilitando o reconhecimento dos erros e acertos, algo que não aconteceu com
Ángeles em Paterson, New Jersey. Dessa forma, conta sobre sua experiência em terras anglo-
saxônicas, que diferentemente do Brasil, onde ser solicita rendia bons olhares e aceitação da
comunidade, nos Estados Unidos era tratada pela anfitriã como se os trabalhos voluntários
fossem sua obrigação, e uma obrigação feita de má vontade, claramente explorando a
pesquisadora como uma empregada, além disso, foi ofendida fisicamente, sendo sugerido até
mesmo que mude seu estilo de cabelo crespo natural, a fim de agradar o marido. Ainda,
descreve outra experiência de racismo nesse ambiente, na sua segunda viagem para a casa de
Ángeles, dessa vez foi para uma comemoração dos 50 anos da mulher, nessa sendo ainda mais
hostilizada e tratada como empregada pela anfitriã, a autora relata também uma experiência
inclusive de assédio que aconteceu com a mesma nessa festa, tal situação demonstrou para ela
o quanto as manifestações de racismo de Ángeles colocaram até a sua segurança física em
risco. Dessa maneira, a autora se encontrou incapaz de expressar seus sentimentos,
assimilando isso como uma parte do trabalho antropológico, porém o incômodo sentido com a
sua receptora e os outros peruanos daquele meio não era apenas fruto do choque de universos
simbólicos, era fruto de racismo, uma opressão simultânea de raça e gênero dos interlocutores
sobre a pesquisadora.
No seu terceiro tópico, “Epistemologia Feminista Negra ou sobre o quê a universidade
não me ensinou”, a autora começa com uma crítica ao pensamento científico atual, que se
propõe em sua concepção a ser neutro e universal, porém, ao hierarquizar o sujeito e o objeto
do conhecimento, e impor como o conhecimento verdadeiro, subjuga as outras epistemologias
produzidas a partir da experiência de sujeitos não acadêmicos, entre eles as mulheres negras.
Para a autora, a epistemologia dominante reproduz estereótipos e racismo em suas produções
que visam alcançar a sociedade, sendo a referência sempre o homem branco europeu ou
estadunidense, já as mulheres negras nesse processo são imaginadas somente com o “objeto”
das pesquisas, a epistemologia dominante não reconhece as mulheres negras, sendo elas
acadêmicas ou não, como sujeitos do conhecimento, logo essas mulheres fazem suas análises
da realidade por meio das dos seus espaços de convivência, como igreja, movimentos sociais
e a arte. Assim, a epistemologia feminista negra, se baseia nas mulheresnegras acadêmicas
recorrendo a processos alternativos de validação do conhecimento dentro da sua própria
comunidade, de onde aprendem com as mulheres negras não-acadêmicas as alternativas de
análise da realidade, confrontando assim o conhecimento hegemônico na academia, tal
epistemologia se baseia em quatro princípios: a experiência vivida como critério de
significação, o uso do diálogo, a ética da responsabilidade pessoal e a ética do cuidado,
conhecimento ancorado em experiências individuais e coletivas, bem como na visão de
mundo que as mulheres negras construíram ao longo das suas histórias, sendo ainda
importante que nenhum desses princípios são inerentes à natureza dessas mulheres, mas
forjados na participação coletiva, e em suas experiências. Em síntese, a autora escolhe dar
atenção ao princípio da “ética do cuidado”, onde a expressividade pessoal, as emoções e a
empatia são centrais no processo de validação do conhecimento. 
Nesse ínterim, tal ética do cuidado pressupõe a singularidade do indivíduo, mas o seu
envolvimento com o espírito comum, que leva então a união e a formação das coletividades, o
seu segundo elemento é a emoção, que indica que a pessoa que fala acredita na validade do
próprio argumento, esse então superando a dicotomia entre razão e emoção que estrutura a
ciência moderna, como no exemplo citado pela autora de Patricia Hill Collins, que cita como
exemplo a expressão das mulheres negras no blues, onde as mulheres expunham suas
reflexões sobre a vida ao mesmo tempo que expressavam as suas emoções, ainda segundo
Collins o papel da ética do cuidado no conhecimento produzido por mulheres negras é
importante para desmitificar a ideia de que a ciência hegemônica é neutra, mas que, na
verdade não valida as mulheres negras como sujeitos de direito, ação, conhecimento e
emoção, reconhecendo assim o caráter posicionado de todas as formas de conhecimento, o
que significa que qualquer conhecimento que se propõe universal escamoteia seu poder e
tentar oprimir as outras formas de conhecimento existentes. Retornando as suas experiências,
Camila descreve como a ética do cuidado teve papel central para se construir uma boa relação
com os peruanos no Rio de Janeiro, possibilitando que ela fosse aceita na comunidade e se
tornassem uma coletividade, validando o conhecimento que ela já produzia, porém, com
Ángeles e os peruanos nos Estados Unidos não gerou diálogo ou aceitação, suas tentativas
sempre a puseram em uma posição de subalternidade, assim ela se viu com a urgência de se
rever como pesquisadora e mulher negra, para a experiência da pesquisadora, para a ética do
cuidado se tornar eixo de conexão, ambos precisam se reconhecer mutuamente como dignos
de respeito. Termina com a dissertação acerca de mulheres quilombolas, onde as mesmas
sofrem exploração ao trabalhar remuneradamente, no que chama de “cuidado para fora”,
entretanto, as mesmas narravam com felicidade quando deixavam o trabalho remunerado para
realizar o trabalho doméstico exclusivamente em suas próprias casas, sendo encarado com a
libertação da exploração, o cuidado para a autora pode ter funções sociais, se tornando uma
ferramenta revolucionária.
No seu quarto tópico, “O quinto fundamento da Epistemologia feminista negra”,
Camila trás à tona a questão de como o racismo afeta a saúde mental das pessoas negras,
citando Fanon que analisa como a psiquê do sujeito colonizado é afetada pelo lugar de
subalternidade que a sociedade branca o atribui, para a autora esse racismo afeta a maneira em
como os negros não demonstram as suas emoções, onde muitas meninas negras crescem
acompanhadas pela constante crítica e a ideia de que se expressar demais é sinal de fraqueza,
isso faz com que muitas mulheres negras que alcançam sucesso no espaço público tenham
dificuldade de cuidar de si e ter uma vida saudável. Ainda para Camila, o princípio,
“antropólogo também sente durante todo o processo de pesquisa”, não era suficiente, visto
que ela estava em uma jornada para simplesmente admitir ser um ser humano que sente, pensa
e produz conhecimento, apenas ao entrar em contato com a epistemologia feminista negra que
ela se deu conta da sua dificuldade em expressar suas emoções, o seu silêncio diante Ángeles
não era um problema isolado ou pessoal, mas resultado das opressões sofridas ao longo da sua
vida, o racismo sofrido durante seu trabalho nos Estados Unidos fez propor a adição de mais
um fundamento a epistemologia em questão, o autocuidado, a capacidade então de priorizar o
próprio bem-estar, segurança e dignidade mesmo em suas pesquisas de campo, o autocuidado
implica evitar as situações de risco, entendo o racismo como uma delas. Completa, dando o
exemplo da pesquisa de Rocha, “mães na luta”, que se baseava em mães que tiveram seus
filhos assassinados pelo Estado, essa análise baseada nas emoções, indicou que perante essas
opressões, as emoções tornara-se ferramenta para se posicionar politicamente, dando
visibilidade a raça na Antropologia das emoções, que reconhece as emoções como indignação
contra injustiças e opressões e também narrativa de luta coletiva. Termina, contando outro
relato, de que se integrou no coletivo de justiça racial “Neighborhood voices”, conhecendo e
compartilhando a sua realidade como antropóloga negra com outras pessoas nos Estados
Unidos, construindo uma comunidade político afetiva em que a experiência era uma
importante ferramente na luta antirracista naquele país.
No seu quinto tópico, “Reconhecendo-me como uma “outsider-within”, a autora
explora um pouco mais as suas vivências no coletivo, sendo o seu momento de buscar
referências produzidas por mulheres negras, se aproximando de obras de escritoras afro-
americanas e de outras obras de negras brasileiras, elaborando como fruto desse trabalho um
projeto de extensão para desenvolver uma oficina de leituras de autoras negras com a
universidade no Brasil. Com isso, três anos depois, a autora analisa o que chama de “virada
epistemológica” como o que Collins atribui a qualidade de ser "outsider-within", inspirada na
experiência das mulheres afro estadunidenses, que trabalham como doméstica e viam as
coisas que aconteciam nas famílias brancas mesmo sem participar delas, estando dentro,
porém ao mesmo tempo, fora dessas famílias, com isso a autora traça um paralelo com a sua
realidade, pois como uma mulher negra acadêmica, para ser reconhecida como tal, ela precisa
aprender os métodos e referências epistemológicas da ciência branca eurocêntrica, porém,
essa mesma ciência reluta em reconhecê-la como acadêmica, e, por outro lado ela também
enfrente dificuldade em manter laços com sua comunidade negra de origem, estando assim as
pesquisadoras negras em local de fronteira, se tornando uma outsider-within, para Collins,
citada pela autora, essa posição permite que as pesquisadoras negras participem da luta, com a
desconstrução de estereótipos sobre as mulheres negras, que a ciência legitimou e também
institucionalizou conceitos criados sobre as negras não-acadêmicas. Completa escrevendo que
em sua trajetória acreditou haver se tornado uma insider, estudando a produção eurocêntrica
da ciência social e vivendo em uma sociedade que a discussão sobre o racismo não fazia parte
do cotidiano, todo esse processo a tornou incapaz de auto afirmar como negra, só através
desse trabalho de campo nos Estados Unidos que a autora se descobre uma "outsider-within".
Em síntese, Camila descreve que nessa experiência entendeu que o conhecimento acadêmico
tradicional não a ajudaria a se entender, e encontrou na dor do racismo a possibilidade de
buscar outros caminhos de pesquisa, com fundamentos como o seu própriobem-estar,
segurança e dignidade em primeiro lugar, outra importância da sua experiência foi a
construção dessa rede de afeto, solidariedade, sociabilidade e militância contra o racismo, foi
no campo de trabalho etnográfico que a autora descobriu que os principais interlocutores na
pesquisaram não eram os peruanos, mas ela mesma.
Em suas considerações finais, a autora recapitula seu trabalho, com enfoque em como
a epistemologia feminista negra como referencial teórico e político, abre para as
pesquisadoras negras brasileiras, a possibilidade de ocupar o seu espaço na academia, não
somente com o proposito de ascensão social, mas como uma disputa epistêmica contra a
reprodução que a ciência se acostumou a impor a elas como objeto, inclusive de
branqueamento, as mulheres negras agora têm a oportunidade de construir uma ciência que
não se conforma em apenas trocar os lugares delas de objeto para sujeito do conhecimento,
mas pressupor que as emoções, o diálogo, o cuidado, a responsabilidade e a sua posição no
mundo como base do conhecimento, e o autocuidado deve ser assumido como base
metodológica para a existência das mesmas, na sociedade atual que nega o racismo e priva
muitos negros de se reconhecerem, o autocuidado tem papel revolucionário, ao ser o motor de
fortalecimento das subjetividades negras fundamentadas em projetos comunitários.
Certamente, a visão de Camila Daniel sobre a antropologia é bastante acurada, ao
passo de que praticamente todos os autores estudados na academia se constituem de brancos
europeus ou estadunidense, dessa forma, desconsiderando todos as outras produções
científicas e antropológicas que não estejam alinhados com essa “elite” intelectual, sendo as
minorias, como as mulheres negras citadas na obra e outras como mulheres e negros no geral,
latino-americanos e outros povos não europeus, sempre estando na posição de objeto estudado
e nunca na posição de pesquisador, assim como elucidado por Mariza Peirano (1999), em seu
artigo, “A alteridade em contexto: a antropologia como ciência social no Brasil”. Outro
aspecto assertivo denunciado no texto, é o racismo palpável contra Camila, onde a mesma
relata no texto várias situações onde sofreu racismo escancarado por parte dos peruanos nos
Estados Unidos, tal racismo escancarado não presenciado anteriormente no Brasil, demonstra
que mesmo entre grupos étnicos que já são vítimas de racismo como os peruanos, ainda há
racismo contra outros grupos como os negros, os enxergando como inferiores e sem opinião,
como elucidado nos relatos em que Ángeles a enxergava como uma empregada, mesmo que
estivesse fazendo trabalho voluntário. É verdade que, há a necessidade de se repensar as
ciências sociais a partir de uma epistemologia feminista negra, e está sendo de suma
importância para quebrar paradigmas dentro dessas áreas, para que elas venham ser mais
acessíveis a toda população, e comecem a enxergar a mulher negra não apenas como um
objeto de pesquisa sem opinião, mas como um ser humano com capacidades idênticas a
qualquer outro, mesmo as negras não-acadêmicas conseguem elucidar as suas visões de
mundo e a expressar para o exterior através de seus meios de convivência e por meio de
instrumentos como a arte, todas as donas de suas próprias experiências e passíveis de iniciar
seus próprios estudos sobre suas visões e vivências, não tendo que estar necessariamente
presas aos paradigmas e modelos de pesquisa da ciência eurocêntrica. 
Está leitura é recomendável a todo corpo civil, especificamente para as minorias
afetadas pelo racismo e que não enxergam um horizonte onde possam se expressar e fazer
ciência, a leitura além de elucidar situações e pesquisas da autora, da esperança para
semelhantes a ela, para que não desistam e se esforcem para fazer suas opiniões serem
ouvidas e levadas em consideração. Dessa forma, colabora para a formação de um mundo
melhor e menos preconceituoso através da educação transmitida em seu texto.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. 
PEIRANO, Mariza. A alteridade em contexto: antropologia como ciência social no Brasil. 
Série Antropologia 255. Brasília, UnB: 35 pp. 1999
DANIEL, Camila. "Morena": a Epistemologia Feminista Negra contra o racismo no 
trabalho de campo. Revista Humanidades e Inovação, v.6, n.16, p. 24-34, 2019. Disponível em: 
<https://drive.google.com/file/d/1EsKCszvIqN8RPrmGKSG93CSzHBaMto4C/view>
DANIEL, Camila. CAMILA DANIEL. UFRRJ ACADEMIA, 2022. Disponível em: 
<https://ufrrj.academia.edu/CamilaDaniel>. Acesso em: 31, outubro de 2022.
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