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UMA ANALISE FENOMENOLÓGICA-EXISTENCIAL DA VIVÊNDIA DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL NA PERSPECTIVA DE MULHERES NEGRAS

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAMETRO
 CURSO DE PSICOLOGIA
 ERIKA OLIVEIRA DA SILVA
VAMOS ESTAR COM O PUNHO CERRADO FALANDO DE NOSSA EXISTÊNCIA CONTRA OS MANDOS E DESMANDOS QUE AFETAM NOSSAS VIDAS¹: 
UMA ANALISE FENOMENOLÓGICA-EXISTENCIAL DA VIVÊNCIA DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL NA PERSPECTIVA DE MULHERES NEGRAS
Manaus /AM
2019
ERIKA OLIVEIRA DA SILVA
VAMOS ESTAR COM O PUNHO CERRADO FALANDO DE NOSSA EXISTÊNCIA CONTRA OS MANDOS E DESMANDOS QUE AFETAM NOSSAS VIDAS¹: 
UMA ANALISE FENOMENOLÓGICA-EXISTENCIAL DA VIVÊNCIA DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL NA PERSPECTIVA DE MULHERES NEGRAS
Trabalho de conclusão de curso, apresentado como requisito para orientação do titulo de Bacharel em psicologia pelo Centro Universitário de Manaus – FAMETRO.
Orientador: Prof. Me. Cleison Guimarães Pimentel.
Manaus /AM
2019
FOLHA DE APROVAÇÃO
 ERIKA OLIVEIRA DA SILVA
VAMOS ESTAR COM O PUNHO CERRADO FALANDO DE NOSSA EXISTÊNCIA CONTRA OS MANDOS E DESMANDOS QUE AFETAM NOSSAS VIDAS¹: 
UMA ANALISE FENOMENOLÓGICA-EXISTENCIAL DA VIVÊNDIA DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL NA PERSPECTIVA DE MULHERES NEGRAS
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Psicologia do Centro Universitário de Manaus (FAMETRO), como requisito parcial a obtenção do grau de Bacharel em Psicologia – Formação do Psicólogo.
Aprovado em: __/__/__
MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA.
Prof.° Me. Cleison Guimarães Pimentel.
Centro Universitário de Manaus – Assinatura__________________________________________________________________________________________
Centro universitário de Manaus – Assinatura __________________________________________________________________________________________
Centro universitário de Manaus – Assinatura __________________________________________________________________________________________
DEDICATÓRIA
Ao meu pai Elias Nogueira (in memorian), não está mais entre nós, mas se faz presente todos os dias em meus pensamentos, obrigada por tudo.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, minha mãe Maria Fotunata, que após o falecimento do meu pai, triplicou sua garra e permaneceu sendo a base da família, obrigada por todo esforço e ajuda que me deste nessa jornada, sem você eu não conseguiria.
Ao mestre e orientador Cleison Guimarães Pimentel, eu não poderia ter escolhido alguém melhor para me auxiliar, obrigada pelos ensinamentos que me passaste, pela paciência. Tu és sem duvidas, o exemplo de profissional que eu quero seguir.
Aos meus amigos, que são minha família, agradeço por vezes compreender a ausência, as prioridades, por me incentivarem. Aos amigos que fiz no decorrer do curso, a Daylla Soares (in memorian) começamos esse sonho juntas e por forças maiores, não estás mais entre nós, saudade eterna. Agradeço em especial a Tainá Oliveira, obrigada por caminhar comigo nessa jornada, por ter segurado minha mão sempre que eu me via perdida.
Gratidão a todas as forças que me guiaram e protegeram até aqui.
“Minha luta diária é para ser
reconhecida como sujeito, impor
minha existência numa sociedade 
que insiste em negá-la.”
Djamila Ribeiro
RESUMO
O presente trabalho analisa a relação do racismo que a mulher negra sofre durante sua vida e sua perspectiva frente a isso, como interfere e deixam marcas em diferentes situações, marcas essas que perpassam gerações. Um dos objetivos dessa pesquisa é abranger através das pesquisas feitas as turbulências que uma mulher negra pode passar por conta de sua cor e sexo, através de entrevistas foi possível também realizar um levantamento qualitativo com método fenomenológico de pesquisa em psicologia, revelando assim o grande impacto da luta pela sobrevivência em um mundo historicamente racista. Sendo assim possível compreender o sentido que essas mulheres atribuem ao racismo vivenciado e o sofrimento que lhes causa. 
Palavras-chave: Racismo, mulher, negra, psicologia, fenomenologia.
SUMÁRIO
1. REFLEXIVO...........................................................................9
2. INTRODUÇÃO........................................................................11
3. OBJETIVO.............................................................................14
4. MARCO TEÓRICO.................................................................15
4.1 RACISMO NO BRASIL..........................................................15
4.2 RACISMO CONTRA MULHER NEGRA..................................17
4.3 O QUE É SER NEGRA NO BRASIL......................................19
4.3.1 A ESTÉTICA DA MULHER NEGRA..................................19
4.3.2 HIPERSEXUALIZAÇÃO DA MULHER NEGRA.................20
4.3.3 RELACIONAMENTO DA MULHER NEGRA......................21
4.3.4 MULHER NEGRA E O MERCADO DE TRABALHO..........23
4.3.5 RACISMO, MULHERES NEGRAS E SAÚDE MENTAL.....24
4.4 CONTRIBUIÇÕES DO PSICOLOGO NO COMBATE AO RACISMO............................................................................25
5. FENOMENOLOGIA..............................................................26
6. METODOLOGIA...................................................................30
6.1 MÉTODO DE ANALISE FENOMENOLOGICA......................31
7. CATEGORIA DE ANALISE...................................................33
7.1 MEDO DE FICAR SÓ...........................................................33
7.2 ESTÉTICA...........................................................................35
7.3 PERCEPÇÃO DO OUTRO...................................................37
7.4 SE AUTOCONHECER COMO MULHER NEGRA..................38
8. SINTESE COMPREENSIVA.................................................40
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................42
10. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS......................................44
11. ANEXOS..............................................................................48
1. REFLEXIVO
 Desde pequena ouvia minha mãe falar que eu não era preta, principalmente quando era alguém que falava isso, não importava se era da família ou não, falava que era “morena cor de jambo”, eu nem sabia se aquela cor realmente existia, eu ficava muito sem graça quando ela corrigia as pessoas falando isso na minha frente, eu ficava me perguntando quão ruim era ser preta, pessoas da família tiravam “brincadeiras” pelo fato de eu ser de outra cor, falavam que eu era mais “escurinha” comparado ao resto da família, e o motivo poderia ser que eu não fosse da família mas sim adotada, entre risadas forçadas e um silencio desconcertante eu tentava de todas as formas transparecer que estava tudo bem, aceitava as brincadeiras, dava algumas respostas esfarrapadas e tentava mudar de assunto, e deixava aquele assunto ali dentro de mim pra morrer, mas não morria, e pra falar a verdade ele é tão vivo que as vezes eu realmente chego a me questionar se sou adotada mesmo ou não.
 Na escola não foi diferente, eu ouvia as piadinhas que faziam comigo, sobre minha cor, e relevava, as vezes ria, aquele sorriso sem graça só pra não demonstrar que fiquei afetada, as vezes rebatia com algum xingamento ou bagunçando com algum defeito da pessoa, só pra não me sentir por baixo, eu não via aquilo como racismo, via aquilo como uma brincadeira que muitas vezes eu não achava legal, mas tudo bem porque era meus amigos, era só uma piadinha estava tudo bem deixar pra lá e fingir que não me importava, não me recordo de ter passado por uma situação mais constrangedora ou de agressão verbal ou física vinda de algum desconhecido por conta da minha cor, então eu achava que nunca tinha passado por tal situação. 
Ficava me questionando o porquê de tanto ódio a outro alguém por conta de sua cor, o porquê de em nossa sociedade existir tantas frases e definições relacionadas a cor preta, que são vistas como algo ruim, acredito que depois que entrei para faculdade meus olhos se abriram mais ainda pra isso, percebi que ser negro no mundo éuma coisa bem difícil desde que você nasce, ser mulher negra, é mais complicado ainda, aos poucos também senti certos “racismos sutis” aqueles que na verdade sempre estiveram presentes através das brincadeiras e comparações de mau gosto, comecei a me interessar pela busca em minhas redes sociais de referências que representassem quem eu sou, pois percebi que no meu leque de pesquisas o que prevalecia era aquele modelo padrão de famosas que são vistas e colocadas como a beleza verdadeira, entendi que acompanhar esse tipo de coisa me causava um certo tipo de angustia pois eu acabava sim me comparando, e muitas vezes a angustia só aumentava ainda mais por perceber que eu estava me comparando e não tinha forças para me amar como sou, a partir disso fui tomando mais conhecimento e percepção das adversidades sofridas por conta de nossa cor.
Pouco sei ainda de todo valor existente na minha raça, percebi que era um assunto pouco comentado, por conta de viver em um país racista, por que talvez, assim como eu, muitas mulheres se sintam tímidas para falar ou se impor sobre tal assunto, cheguei à conclusão que não queria mais me esconder e nem evitar o assunto, nem levar na esportiva certas “brincadeiras”, percebo que cada vez mulheres negras vem ganhando espaço, poder de fala, ainda que eu sinta que todas as referências, matérias, livros e artigos falando sobre isso sejam poucos, acredito num futuro melhor e com mais igualdade. O tema de escolha para meu projeto não poderia ser outro que não fosse a busca por mais visibilidade social, luta para a igualdade de raças e combate ao sofrimento psíquico vivenciado pela mulher negra.
¹ Frase dia pela vereadora Marielle Franco em 08 de março de 2018 no plenário da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro em homenagem ao Dia Internacional da Mulher. 
2. INTRODUÇÃO 
O racismo é um assunto enraizado em nossa cultura, dificultando um diálogo entre os diferentes grupos que existe no Brasil, fica dividido entre a identidade do que é ser negro e do que é ser branco, onde o primeiro grupo é baseado em estereótipos negativos e o segundo em estereótipos positivos. A mulher, de nascença, já recebe vários tabus e discriminação, sendo tratada muitas vezes como inferior, a mulher negra, é triplamente discriminada: por ser mulher, por ser negra e por sua classe social, já sofremos bem mais por receber a “marca” do estigma, a cor da pele é utilizada como principal elemento para atribuições negativas, abusos e humilhações que refletem em um sofrimento psíquico.
 Desde os tempos antigos, na escravidão, a mulher negra tem o corpo e a cor da pele associados a objeto de uso, naquela época era associado a três coisas: o prazer sexual, serviçal da casa e o cuidado com as crianças, os senhores das fazendas as abusavam e as descartavam com frequência. A luta começa a partir da menor idade, quando a mulher preta, ainda menina, precisa de esforços para se sentir mais bonitas, porque socialmente a negra mal arrumada é visto como desleixada, crescendo e tendo de lutar para ser reconhecida e valorizada como pertencente de um meio social. O racismo produz diferentes formas de adoecimento e provoca distorções na construção da identidade negra; compreender como ele atua no psiquismo das raças envolvidas e encontrar formas de superação é uma tarefa e um dos estágios na reconstrução de uma sociedade mais justa e igualitária. (NASCIMENTO, 2003).
Por aguentar desde os tempos primórdios situações como essas é que a mulher negra é taxada com o simbolismo de “mulher guerreira” criado no imaginário social e projetado em cima de nós, quando na verdade, isso não foi nos dado como uma escolha, por gerações a mulher negra precisa ser forte por estar constantemente sendo exposta em contextos de vulnerabilidade e humilhação, deixando satisfações pessoais de lado por precisar focar na luta ao direito de aspectos básicos da vida e na superação de adversidades.
Existe uma incidência muito grande de racismo e sexíssimo voltados a imagem da mulher negra em relação às suas características fenotípicas, que estão a todo o momento sendo alvo de comentários e julgamentos em que são diminuídas em todos os sentidos da vida, deixando sentimentos de inferioridade e dor, serem causadores de doenças psíquicas. 
O impacto do racismo constrói barreiras psíquicas e sociais difíceis de enfrentar, a mulher negra está entre os piores indicadores sociais do Brasil, apesar dos avanços realizados na escolarização e das cotas, a dificuldade no acesso à educação se reflete no mercado de trabalho, de acordo com a pesquisa “estatística de gênero” do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) realizada em 2014, o percentual de mulheres brancas com ensino superior completo é de 2,3 vezes maior do que o de mulheres negras, e apenas 10,4% das mulheres negras tem ensino superior completo. Grossi e Aguinsky (2001) lembram que a violência contra as mulheres, embora esteja presente em todas as classes sociais, incide de maneira diferente entre os segmentos mais fragilizados da população, nos quais se incluem as mulheres negras. E a cada dia que passa essa discriminação é reforçada no meio social, segundo o Atlas da violência 2018, as mulheres negras são assassinadas mais do que as brancas, cerca de 71% a mais, e em casa são as que mais sofrem violência.
A discriminação racial e as repercussões nas identidades de mulheres negras ainda são um campo de pesquisa pouco estudado. Somos de forma geral expostas a todo tipo crítica e comparação, tendo como a cor e corpo a principal fonte de julgamento para os outros. O racismo coloca a mulher negra em um patamar social diferente do grupo racialmente imposto como dominante, o de pessoas brancas, logo, o padrão feminino de estética também será propagado pela mulher branca, sendo vistos então como modelo a ser seguido. A busca pela compreensão das vivências da mulher negra e das consequências da discriminação racial torna-se necessário para que haja um resgate e uma ressignificação do que é ser mulher negra no mundo
Esse racismo contra a mulher negra foi construído historicamente no meio social e político e necessitam ser confrontados para que haja uma estratégia de redução de danos, reforçando a promoção de políticas de igualdade, é importante que se tenha debates, implementação do assunto em diversas áreas sociais do país, principalmente em escolas e universidades, para que se possa ter o entendimento e aceitação da raça como categoria importante no desenvolvimento do ser humano, valorizando as histórias e expressividades culturais de origem negra. 
3. OBJETIVO
Compreender os sentidos atribuídos às vivências e a discriminação racial no contexto de vida de mulheres negras na perspectiva fenomenológica-existencial.
4. MARCO TEORICO
 4.1 Racismo no Brasil.
O Brasil em 1888, aboliu a escravidão, porém, como coloca Gonçalves (2018), a lei que aboliu a escravidão libertou do trabalho forçado e ao mesmo tempo abandonou as pessoas, deixando dessa forma, muitas marcas na sociedade brasileira, o negro foi liberto da escravidão, mas continuou preso pelos maus tratos, sofrendo a renúncia do direito de ter condições de moradia, alimentação, acesso à educação, atendimento hospitalar adequado e segurança. 
É difícil falar de racismo quando as pessoas se negam a falar dele, tentam omitir um preconceito que está explicito diariamente de formas sutis ou violentas, “os brasileiros sabem haver, negam ter, mas demostram, em sua imensa maioria, preconceito contra os negros” Rodriguez (1995). O preconceito racial já faz parte da construção mental dos brasileiros, as pessoas praticam o racismo antes de qualquer reflexão, reforçando estereótipos, frases e brincadeiras racistas, basta perceber que, algumas pessoas sempre vão associar o negro a coisas negativas, mas que se forem questionadas a respeito, vão falar que não são racistas e possivelmente falaram de forma sutil ou com uma afirmação de que não passou de umabrincadeira.
O fato de o racismo ser algo enraizado no brasileiro gerou, nutriu e naturalizou uma hierarquia racial, onde o branco, a elite brasileira, se acha superior a qualquer outra raça, seja ela mestiça, indígena e principalmente superior ao negro. Essa construção ideológica tem como uma de suas bases o fato de que o próprio racista muitas vezes não acha que ele é racista, supondo que não faria mal a ninguém, ele não sofre racismo, logo não o sente, de forma mascarada a humilhação e discriminação continuam sendo vividas pela população negra.
Apesar do discurso que nega ou ameniza a presença do preconceito e da discriminação racial no país, não é difícil ver manifestações de racismo no dia-a-dia da vida social brasileira. Ora ele é escancarado, como nos massacres frequentes, ora é silencioso, como no olhar policial que põe constantemente os negros sob suspeita. Pesquisa recente concluiu que há diferença de tratamento, por parte da justiça, de brancos e negros. Estes são tratados com mais severidade, desde a instância policial até o tribunal, como se a criminalidade e a possibilidade de “perturbar a ordem social” lhes fosse inerente (ADORNO, 1996).
Em uma pesquisa realizada com policiais para a Universidade Federal de Pernambuco no início de 2018, os mesmos admitem e percebem que pretos e pardos são as prioridades na hora das abordagens, mas não falam em racismo. Segundo a população, especialmente entre os jovens, “quando a polícia chega para nos matar, nós estamos praticamente mortos: discursos sobre genocídio da população negra no cenário de Recife-PE”, Pernambuco é apontada como um estado que apresenta alta vulnerabilidade juvenil negra, de acordo com o levantamento feito pela Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, pelo Ministério da Justiça e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil. É necessário pensar e agir sobre as práticas policiais racistas, infelizmente é comum assistirmos ou lermos notícias de pessoas negras assassinadas por policial, por ser confundido com bandido e até mesmo por estar segurando algum objeto que, nem de longe se parece com uma arma, mas para os policiais parecia e isso já era suficiente para que fosse manifestado neles o comportamento racista. 
A população negra sempre viveu na própria pele a violência da discriminação e do preconceito racial. Por estarem acostumados com a invisibilidade da população negra, e por de certa forma, não deixarem de lado sua tradição escravocrata, o brasileiro expõe seu preconceito quando, especialmente a população negra ascende socialmente. Silva (2018) afirma que: “Ao conquistarmos a possibilidade de abrir caminhos institucionais e sociais para a diminuição da absurda desigualdade racial damos de cara com o ódio racial militante nas classes médias”. Um exemplo bastante comum de tal situação, é a discussão constante sobre as cotas em universidades, território que até então era dominado em sua maioria, se não total, por pessoas brancas. 
Esse discurso frequente se dá por contestarem que no Brasil não existe desigualdade, se baseiam na ilusão do mito da democracia racial, a democracia racial, significa um sistema desprovido de qualquer barreira legal ou institucional para a igualdade racial, e em certa medida, um sistema racial desprovido de qualquer manifestação de preconceito ou discriminação (Diálogos Latinosmericanos, Domingues, 2005), já o mito da democracia racial, é o inverso disso, como afirma a pesquisadora e diretora de pesquisas sociais da fundação Joaquim Nabuco, Rosalira Oliveira, em uma entrevista para o diário de Pernambuco (2015) que "A democracia racial é um mito para esconder a falta de acesso. É uma espécie de racismo cordial...” fantasiando que o Brasil possui uma inter-relação racial adequada, longe de racismo e onde todos têm as mesmas oportunidades, essa ideia está enraizada na população desde a abolição da escravatura, que como mencionado no texto, não foi nem de longe uma ação libertadora e igualitária para a população negra estabelecida no Brasil. Em geral, o mito é uma ‘ideologia’, um ‘discurso’ que busca amenizar a tensão entre o real e o imaginário, com base nisso, o mito da democracia racial tem como fins esconder os conflitos raciais e toda a estrutura de dominação racial existente, passando uma imagem melhor para a sociedade, não é à toa que, em uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos para “os perigos da percepção 2017”, o Brasil está em 2º lugar no ranking de percepção distorcida sobre a realidade, dessa forma, o mito dificulta ações organizadas contra o racismo.
Ninguém quer o estigma de racista, pois é um termo negativo e todos querem manter a boa aparência, a utilização do que Martiniano Silva (1995) chama de “racismo à brasileira” que é esse racismo mascarado, é terrivelmente eficiente em sua função de discriminar as pessoas da cor negra, e também lamentavelmente muito difícil de erradicar. É notável a necessidade da busca para soluções em todos os aspectos vivenciados por nós, é importante conhecer o racismo em detalhes, saber como atua e seus efeitos sobre as pessoas, que muitas vezes, chega a ser causa de adoecimento psíquico.
4.2 Racismo contra mulher negra.
Para os negros, o racismo teve uma significância perversa de destituição de direitos humanos e a não ascensão econômico-social, para as mulheres negras, esse fato é potencializado três vezes mais, estamos fadadas a vivermos em uma sociedade que, além de racista, nos diminuindo com sua crença de superioridade racial, é sexista, com suas ideologias manifestadas através de comportamentos, discursos e representações culturais e sociais onde são atribuídos características e espaço de atuação de acordo com os sexos, provocando a exclusão das mulheres, é também heteronormativa, onde tendem a ter o comportamento de limitar a existência da mulher, a liberdade de seu corpo e seu desejo de autonomia, personificando a sexualidade da mulher ao estereótipo de que ela deve estar voltada para a maternidade, cuidado e manutenção da família e afazeres domésticos, colocando as mulheres em uma condição subalterna e passível de objetificação.
A população negra, em especial as mulheres negras, são mais vulneráveis, estamos constantemente lutando pela sobrevivência e visibilidade em um país que se encontra em 5º lugar em número de homicídios de mulheres e que é tão violento contra nossa raça, de cada 100 pessoas assassinadas, 71 são negras, segundo o Atlas de violência 2017, e em um recorte de gênero, a mortalidade de mulheres que não são negras (brancas, pardas, indígenas) caiu 7,4% entre 2005 e 2015, enquanto o de mulheres negras o indicie subiu 22%, além do indicie de mortalidade também sofremos com o descaso da polícia ao retratar assassinatos, procurando muitas vezes de todas as formas justificar a ocorrência de forma negativa ou dificultosa, o feminicídio é algo difícil de trabalhar com a população pois muitos acham que isso não existe, tratar o feminicídio de mulheres negras é mais dificultoso ainda e demorado perante a lei. Um exemplo claro disso, é o assassinato da vereadora Marielle Franco no dia 14 de Março de 2018, que foi alvejada por diversos tiros juntamente com seu motorista Anderson Gomes, o crime segue sob investigação e sem sinais de estar perto de ser um caso encerrado, 241 dias da morte e seguimos contando, e pessoas ainda se utilizam de frases como “Ela era negra, mas não morreu por isso” ou “Um crime político não pode ser tratado como racismo”, na verdade, o racismo também é político sim, no sentindo de que se torna inseparável os conjuntos da política e do estado.
 De acordo com Nitahara (2015), as mulheres negras estão atrás nos indicadores sociais e econômicos. O dossiê Mulheres Negras (Marcondes etal, 2013) mostra que:
 “Em termos de pobreza, a população negra é mais vulnerável, sete em cada dez casas que recebem o Bolsa Família são chefiadas por negros, sendo que 37% das casas são chefiadas por mulheres. Temos entre mulheres brancasum desemprego de cerca de 9%, entre as mulheres negras ultrapassa 12%. Outra área que vale a pena ressaltar é o tema da renda. As mulheres negras recebem 42% do salário dos homens brancos”. 
No Brasil, em 2014, o dia 25 de julho foi declarado como dia nacional da mulher negra, a partir da data regional em homenagem a líder quilombola Teresa de Benguela, e no Rio de Janeiro, dia 14 de março, dia da morte da vereadora Marielle, instituiu-se como dia de luta contra o genocídio da mulher negra. O número de violência contra a mulher negra é alarmante, mulheres negras têm três vezes mais chances de serem vítimas de feminicídio que mulheres brancas. “É por isso que seguimos fazendo do luto, luta: não porque somos fortes, mas porque não nos dão outra escolha. São nossos corpos que estão na linha de frente todos os dias. O racismo não descansa”. (HELAINE, 2018)
4.3 O que é ser negra no Brasil.
A mulher negra vive uma condição histórica de violência onde o abuso sexual se firmou como mecanismo de opressão, desde o período da escravidão onde tiveram seus corpos desumanizados, objetificados e diminuídos em nossa estrutura social, permanecendo a ideia de que a mulher negra está ali para servir o outro, para ser objeto de prazer. A pesquisadora e escritora Djamila Ribeiro explica que “esses estereótipos racistas contribuem para a cultura da violência contra as negras, pois somos vistas como “fáceis”, as que não merecem ser tratadas com respeito”. As mulheres negras amargam a injustiça social e marginalização em diferentes aspectos, tais como:
4.3.1 A estética da mulher negra.
As mulheres negras passam pela dominação cultural ao serem constantemente orientadas a seguir os padrões estéticos das mulheres brancas, destruindo ou escondendo sua ancestralidade, Bento (2002) fala que:
A violência racial constitui um constante ataque às identidades e subjetividades dos excluídos, por meio da veiculação de um discurso que estabelece o padrão cultural dominante, capitalista, branco e andrógino, ao qual a população negra é constantemente pressionada a se adaptar e moldar.
A injustiça social cerca a mulher negra desvalorizando-as em múltiplas violências simbólicas, um dos aspectos dessa violência é a pressão social que a mulher vive ao querer alisar o cabelo, negando sua origem, para tentar ao máximo se encaixar no padrão que foi posto pela sociedade, bell hooks analisa que:
 Dentro do patriarcado capitalista – o contexto social e político em que surge o costume entre os negros de alisarmos os nossos cabelos –, essa postura representa uma imitação da aparência do grupo branco dominante e, com frequência, indica um racismo interiorizado, um ódio a si mesmo que pode ser somado a uma baixa autoestima. (HOOKS, 2005).
Em relação a estética negra, são muitos os fatores que incomodam a mulher negra quando se trata do seu corpo, mas a transição capilar para o alisamento é a mudança mais comum que existe, mudando também muitas vezes para uma cor clara, na tentativa de chegar o mais perto possível ao perfil ditado pela sociedade como ideal. Essa construção de não aceitação do cabelo, para mulher negra, vem desde a infância quando, muitas vezes na escola acabam sendo alvos de piadas sobre seu cabelo como “bombril” “arame” “cabelo feio ou ruim” entre outros. O cabelo acaba sendo mais uma extensão do racismo que a mulher negra sofre, dificultando a construção da identidade negra, a mulher acaba crescendo com a ideia de que o seu tipo de cabelo não é o “cabelo bom”
Entende-se o cabelo como símbolo de identidade, este pode ser um vínculo à compreensão da identidade negra na comunidade. O mesmo vem sendo reprimido na tentativa de manipulação no enquadramento de padrões sociais eurocêntricos (FÉLIX, 2010)
Pensar em uma identidade negra é pensar em criar mecanismo de manifestação, de exibição e de valorização da cultura negra e essa cultura perpassa pela problemática do cabelo, com isso, para a negra, viver na ditadura da estética branca significa viver sem a liberdade de poder ser negra em sua plenitude física, cultural e identidária.
4.3.2 Hipersexualização da mulher negra.
Através de um legado histórico extenso, a hipersexualização da mulher negra perpetua desde a época escravista, onde as escravas tinham como função proporcionar aos seus senhores a satisfação de suas necessidades sexuais. Até os dias atuais, sendo banalizada pelo outro, o racismo e o sexismo alinhados representam por meio de símbolos e imagens, a mulher negra como aquela que está designada a servir os outros. Outra perspectiva apontada por tal estereótipo é a posição ocupada pela mulher negra como predadora sexual, que seduz com seus encantos irresistíveis (GILLIAM, 1995 apud. CARNEIRO, 2002).
O corpo feminino negro é hipersexualizado, considerado exótico e pecaminoso. Quem nunca ouviu falar que a mulher negra tem a “cor do pecado”? Essa é a brecha que sobrou para que o racismo continue a ser imposto às mulheres negras: a dicotomia do gostoso, exótico e diferente, mas que ao mesmo tempo é proibido, impensável, pecaminoso e não serve para o matrimônio ou monogamia (ARRAES, 2014).
Sendo assim, a mulher negra acaba sendo vista como alvo fácil para investidas sexuais. Em um estudo realizado por Ana Claudia Pacheco (2013) chamado “Mulheres negras: afetividade e solidão” onde ela entrevista um grupo de mulheres negras em Salvador, mostra que, um dos principais fatores para que levam essas mulheres a não possuírem parceiro fixo, é a ideia de que elas não são desejáveis para casar.
Em nossa sociedade, os vestígios racistas da época escravocrata ainda se fazem muito presente, fazendo com que a mulher negra sofra desde cedo, as meninas e adolescentes negras são vistas com o olhar objetificador, são as maiorias das vítimas de exploração sexual segundo o dossiê violência e racismo, porque a hipersexualização da mulher negra é apresentada em uma mulher jovem, sendo considerada como aquela que incita e depois satisfaz, - legado deixado pelo período escravocrata -, a mulata de ontem reconfigurada na Globeleza de hoje, como afirma Figueiredo (2010).
Através desses fatores, a garota negra já cresce com o estigma de ser promiscua.
 A mulher negra ainda tem que enfrentar as questões da exploração sexual infantil e de adolescentes e o tráfico de mulheres, onde compõe o grupo de maior incidência. Isto tem forte relação às imagens de controle que envolvem a mulher negra como objeto de consumo e exploração sexual, como também a ausência de políticas públicas de controle e responsabilidade midiática e da indústria do turismo, que deveriam trabalhar para a eliminação destes estereótipos, mas acabam por reforça-los. (ROMIO, 2015) 
 E essa mesma garota negra vivencia em diversas situações a solidão afetiva, criando em seu imaginário uma serie de incômodos, ferindo a sua visão de si mesma ao se considerar inadequada frente os padrões sociais exigidos.
4.3.3 Relacionamentos da mulher negra.
A trajetória da mulher negra é permeada pela solidão, isso é também consequência, como por exemplo, do fato de o gosto afetivo ser uma construção social, sendo baseado na ideia da beleza eurocêntrica, da política do branqueamento, que exalta o padrão da mulher branca como o certo. É árduo o trabalho da mulher negra na tentativa de se sentir incluída até mesmo em questões de afetividade. Silva (2003) analisa que:
A situação da mulher negra no Brasil de hoje manifesta um prolongamento da sua realidade vivida no período de escravidão com poucas mudanças, pois ela continua em último lugar na escala social e é aquela que mais carrega as desvantagens do sistema injusto e racista do país. Inúmeras pesquisas realizadas nos últimos anos mostram que a mulher negra apresenta menor nível de escolaridade, trabalha mais, porém com rendimento menor, e as poucas que conseguem romper as barreiras do preconceito e da discriminação racial e ascender socialmente têm menos possibilidade de encontrar companheiros no mercado matrimonial.
Existe certa dificuldade, que muitas das vezes não percebemos e por issoacabamos deixando de falar sobre, que é em reconhecer a mulher negra como sujeito para ser amado, nos deixando levar pela ideia de que para nós, não existe amor. Em uma entrevista para a Revista Fórum em 2015, a mestre e doutoranda em Psicologia Social pela USP e psicóloga do Instituto AMMA Psiquê e Negritude, Clélia Prestes, afirma que: 
“Desde o nascimento e ao longo do processo identitário, a autoestima é influenciada pelos referenciais coletivos de beleza, nos quais as mulheres negras praticamente não estão representadas, apesar da maioria da população brasileira ser negra. Como resultado, no imaginário social e em concepções pessoais, pensamentos e sentimentos que tratam a diversidade com hierarquia de valores, prejudicando drasticamente a forma como mulheres negras são vistas e, consequentemente, sua autoestima e relações afetivas” (CRUZ, 2017 apud PRESTES, 2015)
Em um levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a mulher negra brasileira, em 2010, revela que, à época, mais da metade das mulheres – 52,52% – não viviam em união estável independentemente do estado civil. Esse número significantemente alto que atinge afetivamente as mulheres negras, podem gerar danos tanto físicos como psicológicos, ser preta e ter em seu contexto diário frases e adjetivos pejorativos atribuídos a sua aparência e/ou cor causam sentimento de menos valia, baixa autoestima e introspecção. Nesse contexto, a psicóloga Maitê Lourenço, neuropsicóloga pelo Centro de Diagnostico Neuropsicológico da Unifesp, e colaboradora do Grupo de Trabalho de Psicologia e Relações Raciais do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, explica que, “Dentro do processo cognitivo, palavras, gestos e ações são captados e processados pelo cérebro, formando assim a concepção daquela mulher sobre si mesma de uma forma deturpada”.
4.3.4 Mulher negra e o mercado de trabalho.
Ser mulher e ser negra exibe dificuldades em vários aspectos da vida, no mercado de trabalho não seria diferente, o período da escravidão contribui bastante para isso, ali o papel da mulher negra estava inteiramente ligado aos afazeres domésticos e às questões sexuais, após a abolição, uma das primeiras soluções que foram tomadas para ela ser inserida no mercado trabalhista foi justamente a realização do trabalho doméstico, Segundo Santos (2009), “há poucas mulheres negras trabalhando como executivas, médicas, enfermeiras, juízas, dentre outras profissões de destaque; o que se verifica ainda é a grande maioria realizando trabalhos domésticos e recebendo baixos salários”.
O fato de ser mulher e ter que enfrentar todo o machismo da sociedade e o fato de ser negra e ter que enfrentar toda a carga negativa recorrente do racismo, dificulta a ascensão da mesma no mercado de trabalho. Segundo dados de pesquisa do Instituto Ethos, realizada em 2016, pessoas negras só ocupam 6,3% dos cargos de gerente e 4,7% do quadro de executivos nas empresas analisadas pelo estudo. A situação é ainda mais desigual para as mulheres negras: 1,6% são gerentes e só 0,4% participam do quadro de executivos. 
Conseguir um emprego formal, uma boa colocação e ingressar no ensino superior também são dificuldades típicas daquelas que possuem a pele negra (ARRAES, 2014). A mulher negra no mercado de trabalho é colocada no mais baixo patamar da pirâmide social e essa problemática se dá pela falta de oportunidade educacional, Santos (2009) também afirma que: 
No que diz respeito à escolaridade, pesquisa realizada em 2006, revela que entre as mulheres negras com 15 anos ou mais, a taxa de analfabetismo é duas vezes maior que entre as brancas, no que tange ao trabalho doméstico infantil, 75% das trabalhadoras são meninas negras. [...]
Esses dados são consequências prematuras da mulher negra, ainda jovem, se tornar muitas vezes mãe, e muitas vezes também, única provedora do lar.
4.3.5 Racismo, mulheres negras e saúde mental.
A luta histórica marcada pelo preconceito e desvalorização da mulher negra no Brasil mostra como pode ser adoecedor, e também, danoso para saúde mental se manter viva em uma sociedade machista e racista. 
O racismo é desumanizador. Ou seja, tira da pessoa a noção de sua individualidade, identidade e senso de pertencimento social. Crescer e viver em um cenário social em que o negro é retratado apenas como objeto de reportagens sobre violência, fetiche sexual carnavalesco e posição de servidão com apelações emotivas estereotipadas, cria internalizações sobre o lugar social (MOURA, 2017).
Diante desse contexto, a mulher negra continua sendo a mais desvalorizada em todos os sentidos, Maria Aparecida Silva (2009) expõe:
Marcadas pelo estigma da escravidão, a elas permanecem destinados os trabalhos sem qualificação, trabalhos que dispensam inclusive a educação e a instrução, sobre elas pesa, além das diferenças de gênero, também as de raça. O que observamos é que com papéis sociais “naturalmente” definidos como adequados, os nexos explicativos da condição da mulher negra remetem, primeiramente à sua condição de escrava. Sobre elas recaem tanto as representações em relação ao uso de seu corpo enquanto objeto sexual como aquelas que o vêm adequado ao trabalho doméstico.
Como já visto nos textos mencionados, a população negra, especialmente as mulheres, tem os piores indicadores sociais, fazendo com que elas apareçam cada vez mais apresentando algum tipo de transtorno mental. Em um artigo publicado em maio de 2018 para a revista de políticas públicas, Imaíra Pinheiro e Cássius Guimarães, caracterizam dois eixos de fatores, externos e internos, que podem ser causadores de sofrimento psíquico causado pelo racismo: 
No que consiste à construção dos fatores externos, estes são resultantes do menor nível de escolaridade, do baixo poderio econômico/financeiro, da ausência de oportunidades e desvalorização no mercado de trabalho, como exemplos. Em relação aos fatores internos, que são, em sua maioria consequências da ação dos agentes externos, destacam-se: a solidão da mulher negra, a maior taxa de fecundidade, a construção da baixa autoestima, e as cobranças sociais advindas, especialmente, do enquadramento da mulher negra nos estereótipos racistas e sexista (PINHEIRO; GUIMARÃES, 2018).
A mulher negra está exposta a diversos fatores que podem leva-las ao estresse e cansaço tanto físico como mental, por vezes e durante toda sua vida, estão mais suscetíveis a estarem expostas por dificuldade em ter serviços básicos de saúde e educação, sensação de isolamento, maior sensação de insegurança, a problemas com sua autoestima pela impossibilidade de se ver como bela. A psicóloga Jeane Tavares, membro do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA (ISC/UFBA) e docente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) explica que:
"Crescendo em uma sociedade que ridiculariza e demoniza a negritude, a pessoa negra é levada a negar sua identidade racial e buscar de forma irracional se adaptar ao padrão imposto. No entanto, como alcançar este padrão é impossível para não-brancos, geram-se crenças persistentes de inadequação, desvalor, desamor e impotência, que são associadas a depressão e diferentes transtornos de ansiedade" (TAVARES, 2018).
A realidade dessa pressão vivida pelas mulheres negras pode chegar a causar danos psíquicos profundamente marcantes, com isso, faz-se necessário traçar o melhor caminho para a prevenção com a saúde da população negra, com o intuito de:
Qualificar o quesito raça/cor nos instrumentos de saúde é importante para monitorar e avaliar as ações de promoção da igualdade racial previstas no Estatuto da Igualdade Racial, em que é garantida à nós acesso universal e fundamental, que a política de saúde mental inicie discussão que vá além de recomendações de conferências, para que se definam estratégias para esse enfrentamento às violações que já se perduram anos (ALMEIDA, 2017).
4.4 Contribuições do psicólogo no combate ao racismo.
A psicologia, com um trabalho que envolve a escuta, a aprendizagem e o acolhimento, tem a potencialidadee o compromisso no desenvolvimento de estratégias para o combate ao racismo e ao machismo, na redução das vulnerabilidades e desvalorização das mulheres negras.
A discriminação racial estabelece relações hierarquizadas de poder entre as diferentes raças por meio da ideologia da raça dominante. Esses mecanismos atuam desrespeitando e menosprezando a identidade da população negra, produzindo sofrimento físico e emocional e modos de subjetivação que assujeitam e homogeneízam. (BENTO, 2002; BAIRROS, 2002 apud. LOPES, 2003)
Verifica-se então a necessidade, contribuição e estratégias partindo da (o) psicóloga (o) para que haja enfrentamento ao combate do racismo, assim como também se faz necessário propostas na formação do estudante de psicologia e do profissional. 
É preciso que as (os) atuais e futuras (os) psicólogas (os) compreendam de forma mais ampla e especifica como se dão as relações raciais existentes na sociedade e, principalmente, que há um sofrimento psíquico peculiar, sutil e explicito presente no cotidiano da vida de pessoas negras; seja nas relações institucionais em especial na escola, no trabalho, na família e também nas outras relações sociais como no esporte, no lazer, nos cultos religiosos, na segregação territorial, na luta de classes, etc. (Conselho Federal de Psicologia, 2017).
5 Fenomenologia
Na metade do século XX surgiu o movimento filosófico da Fenomenologia, Edmund Husserl (1859-1938), considerado fundador da Fenomenologia e um dos pensadores mais importantes do movimento no século XIX, influenciou através de sua obra tanto as correntes filosóficas do seu tempo como a ciência de forma geral (BARBIERI, 2011). Husserl utilizou a psicologia como uma das disciplinas mais abordadas em seus escritos, dessa forma, a psicologia disponibilizou para o restante das disciplinas das ciências humanas e sociais o método fenomenológico.
Edmund Husserl foi discípulo de Brentano, sendo considerado o mais importante (VENANCIO 2011), já os pensadores que foram influenciados por Husserl, alguns dos mais importantes destacasse Martin Heidegger e Merleau-Ponty, que no decorrer da discussão terão seus pensamentos como base para análise da pesquisa.
O método fenomenológico é o estudo dos fenômenos em si mesmos, propondo uma base de análise da experiência na forma como ela se manifesta, permitindo visualizar outras maneiras de compreensão do homem, mundo, ser, verdade, tendo essa última como caráter de mutabilidade e relatividade, desta forma, pode ser vista enquanto uma postura ou atitude, um modo de compreender o mundo. Desta forma, a fenomenologia nos fornece uma nova forma de “ver” o mundo e as coisas, e esse novo olhar nos sugere uma nova forma de orientação, de pensamento, de análise do mundo, das coisas, como do próprio sujeito cognoscente[footnoteRef:1] (BRAGAGNOLO, 2014). [1: Cognoscente é um adjetivo que qualifica a pessoa que busca ou toma o conhecimento sobre algo, também utilizado para se referir ao indivíduo que tem a capacidade de conhecer e assimilar o saber.] 
A direção que Husserl deu a fenomenologia foi de ir as coisas mesmas, A fenomenologia husserliana considera que aquilo que é dado à consciência é o fenômeno (objeto do conhecimento imediato). Esse fenômeno só aparece numa consciência, portanto, é a essa consciência que é preciso interrogar. A consciência, para Husserl, define-se como uma certa maneira de perceber o mundo e seus objetos. Mostrar os diversos aspectos pelos quais a consciência percebe esses objetos e sob os quais eles lhe aparecem. Nessa abordagem o pesquisador considera sua vivência em seu mundo, uma experiência que lhe é própria, permitindo-lhe questionar o fenômeno que deseja compreender. (SILVA; etal, 2011)
Já a filosofia heideggerianA, se propõe a abordar questões do sentido do Ser, buscando a noção de homem em sua singularidade a partir do que chamou de Dasein (CASTRO, 2017).
O Dasein ou ser-aí, segundo Roehe e Dutra (2014), é o ente que manifesta o quê e como algo é, revela o Ser a partir de sua condição existencial. O Dasein como totalidade estrutural, revela-se na cotidianidade como abertura para possibilidades de outras formas de vir a ser-no-mundo, o dasein se lança para o mundo para qual o Ser se mostra, sendo o Ser lançado no mundo a todas as possibilidades da existência, o antológico – sendo aquele que atribui sentidos e significados as situações cotidianas, Segundo Castro (2017), “o objetivo da reflexão filosófica heideggeriana é desvendar o ser em si mesmo, partindo da existência humana (Dasein – ser-aí)”.
O Dasein tem como composição fundamental para a analítica existencial, o ser-no-mundo, sendo o modo particular e individual de compreender e interpretar a vida e as situações que nela ocorrem, caracterizando o indivíduo como o ser que ele é. Esse mundo se refere a tudo, ou seja, se refere à sempre estar em relação com algo ou alguém. Para Samaridi (2011) Ser-no-mundo é ir muito além de ser (humano) e estar (no mundo), mas sim se encontrar aberto às possibilidades que lhe são oferecidas. Dessa forma, ser-no-mundo é fazer-se Ser, Ser as próprias possibilidades.
Sabendo-se que o fenômeno mundo é caracterizado por ser carregado de sentido para o homem, a partir disso, o Dasein se lança no mundo com a possibilidade de mergulhar na aventura da partilha deste mundo com os outros, Heidegger considera que, segundo Castro (2017), em vista de a existência se revelar como essência da pre-sença (do ser humano), somente dessa forma pode-se analisar seu mundo de relações, sendo compreendida pelo autor como característica fundamental do existir humano, existir é originalmente ser-com-o-outro. É uma relação de reciprocidade, onde as potencialidades do indivíduo se fortificam conforme a relação cotidiana, para Roberto (2009), o Dasein como ser-com-o-outro, está lançando-se no mundo, mantendo uma interação consigo mesmo, com os demais entes – todas as coisas – e com o mundo.
Outro presente aspecto que faz parte do ser-no-mundo é o cuidado, sendo esse o modo como resultamos em relação aos entes que nos envolvem no mundo, Oliveira e Carraro (2010) entendem o conceito de Heidegger ao falar do cuidado como:
Cuidado pode ser entendido como ato, o qual ocupa um sentido ôntico, ou como possibilidades, um sentido que vai além do ato, além do que se pode perceber, ocupando um sentido ontológico. Para Heidegger o cuidado contempla o modo positivo de cuidar dos entes, não é sinônimo de bondade, é entender autenticamente o que é importante. (P. 378)
A partir disso, o cuidado, envolve as necessidades que precisam ser atendidas, é o cuidado em tratar de si mesmo e dos outros.
Merleau-Ponty e a corporeidade
Para o filósofo, sua concepção de mundo é: um mundo constituído por relações objetivas é a partir da experiência vivida do homem que origina e sustenta todas as explicações posteriores a ele. Sendo assim, o sentido da subjetividade instalada no corpo e não mais na transcendência de um eu interior pensante (DENTZ, 2008).
Na visão de Merleau, a percepção não está fundada no empirismo e no intelectualismo onde apresenta o pensamento objetivo, para ele, a percepção está relacionada à atitude corpórea. Na concepção fenomenológica da percepção a apreensão do sentido se faz pelo corpo, tratando-se de uma expressão criadora, a partir dos diferentes olhares sobre o mundo (NÓBREGA, 2008).
A partir disso, a consciência está ligada ao corpo em um diálogo permanente com o mundo, ocorrendo uma relação direta do homem com o mundo, denominada como corpo-mundo. 
Com isso, o filosofo considera redefinir a fenomenologia ao não concordar em tomar o físico e o psíquico como objetos de estudo no sentido da determinação de princípios e funcionamento. Nóbrega (2008, p.142) enfatiza que é preciso enfatizar a experiência do corpo como campo criador de sentidos, a percepção não é uma representação mentalista, mas um acontecimento da corporeidade e, como tal, da existência.
A concepção de corpo vai além da sua constituição, por isso, não pode ser objetificado, pois é um aspecto fundamentalda existência humana, é um objeto que se traduz como corporeidade, sendo assim o que constitui o existir do homem. A percepção é a experiência do corpo com o mundo ao seu redor, Castro (2017) acrescenta que, Merleau em sua teoria, compreende da seguinte forma, existir significa ser um corpo, que o viver sempre se dá corporalmente e que é através do corpo que acontece toda relação homem-mundo.
Dentz (2008) concorda com o filósofo ao comentar que:
 O sujeito, como corpo, desta maneira, não é um evento ou parte do mundo – como coisa -, mas a instância fundamental de um "pacto de intencionalidade vital", no qual o corpo conduz o mundo em si (tem consciência de..., do mundo..., das coisas..., do outro..., e de si próprio), assim como o mundo o conduz. (p.3) 
Portanto, o mundo é uma extensão do corpo do indivíduo, e este fenômeno chamado corpo aprende e apreende em sua potencialidade, de acordo com nossas experiências diárias e percepções.
6 Metodologia
Este trabalho tem como finalidade compreender os assuntos determinantes para o adoecimento psíquico causado na vida de mulheres negras que já sofreram racismo. Como a psicologia é uma ciência, ela se utiliza do método cientifico para produzir seus conhecimentos com o objetivo de, estudar o comportamento e os processos mentais, como o ser humano reage, se comporta e vive essas situações da vida, ou seja, sua interação com o mundo, a cultura e sociedade (SILVA 2010). O campo da psicologia em sua totalidade é bastante vasto e expõe teorias, pesquisas e métodos (CAVALCANTI 2012), sendo assim, o conhecimento cientifico é uma busca de articulação entre uma teoria e a realidade empírica, o método é o ‘fio condutor’ para essa articulação. SILVA (2010 apud Minayo e Sanches 1993).
A pesquisa realizada será de forma qualitativa, de caráter exploratório, buscando analisar dados de uma determinada questão. Segundo Oliveira (p. 7) o pesquisador qualitativo pauta seus estudos na interpretação do mundo real, preocupando-se com o caráter hermenêutico na tarefa de pesquisar sobre a experiência vivida dos seres humanos. Desta forma, um fenômeno pode ser melhor compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte, devendo ser analisado numa perspectiva integrada (GODOY, 1995). Sendo assim, compreende-se que, a pesquisa de forma qualitativa tem como finalidade conseguir dados voltados para compreender as atitudes, motivações e comportamentos de determinado grupo de pessoas. 
Existe diversas formas utilizadas para coletar dados de forma qualitativa, a forma escolhida para o presente trabalho, foi a entrevista aberta. Sobre entrevista, segundo Almeida (2004 apud Bleger, 1998), na consideração de entrevista psicológica ela possui: 
Regras empíricas, com os quais não só se amplia e se verifica como também, ao mesmo tempo, se aplica o conhecimento científico. Essa dupla face da técnica tem especial gravitação no caso da entrevista porque, entre outras razões, identifica ou faz coexistir no psicólogo as funções de investigador e de profissional, já que a técnica é o ponto de interação entre a ciência e as necessidades práticas; é assim que a entrevista alcança a aplicação de conhecimentos científicos e, ao mesmo tempo, obtém ou possibilita levar a vida diária do ser humano ao nível do conhecimento e da elaboração científica. E tudo isso em um processo ininterrupto de interação (p. 1)
Diante disso, a escolha da entrevista aberta se dá por, principalmente, possuir a finalidade exploratória, permitindo um aprofundamento mais amplo da personalidade do entrevistado, e sobre a sua estruturação, Boni e Quaresma (2005) explicam que: 
O entrevistador introduz o tema e o entrevistado tem liberdade para discorrer sobre o tema sugerido. É uma forma de poder explorar mais amplamente uma questão. As perguntas são respondidas dentro de uma conversação informal. A interferência do entrevistador deve ser a mínima possível, este deve assumir uma postura de ouvinte e apenas em caso de extrema necessidade, ou para evitar o término precoce da entrevista, pode interromper a fala do informante (p.74).
A partir disso, a entrevista aberta se dará por meio de 5-10 participantes, onde será feito relatos e experiências de diversas situações em mulheres vivenciaram o racismo.
6.1 Método de análise fenomenológica
Para que haja um melhor entendimento de como as mulheres negras vivenciam o racismo, será feito uma análise na perspectiva fenomenológica existencial, com o objetivo de chegar aos significados da experiência vivida, a proposta fenomenológica tem como objetivo mostrar o núcleo essencial do fenômeno, que tem como significado, “o que se manifesta à consciência” (SILVEIRA E OLIVER, p.3).
O método introduzido será para compreender a colocação do mundo exterior para que a investigação se dê apenas com as operações realizadas pela consciência, essa etapa é conhecida como redução, sabendo que o fenômeno é a consciência manifestada, Merleau-Ponty diz que, “as essências trazem consigo todas as relações vivas da experiência, e, consequentemente, estão vinculadas à existência. ” (GRAÇAS, p.30). Ou seja, tem como objetivo pelo pesquisador, identificar os significados nos relatos que o sujeito expressa, selecionando no discurso o que pode ser relevante para a pesquisa.
Diante disso, o método parte para a compreensão de toda a colocação, a compreensão é o estado constante de projeção no sentido das inúmeras possibilidades que despertam na medida em que o entrevistado se defronta com o mundo, diz respeito a interpretação e a compreensão das respostas dadas pelo sujeito, a direção se dá para a coisa mesma, para o fenômeno que vai se apresentar para a experiência como fenômeno, ou seja, daquilo que se mostra à experiência (SIANI etal, 2016). É o modo onde o “ser-ai” se faz presente cheio de possibilidades para construir os projetos, interpretando o que foi compreendido, sendo a linguagem que o sujeito vai utilizar, sua expressão, responsável para tornar as possibilidades desse projeto explicito. 
Com base nisso, o pesquisador entra em relação com os sentidos atribuídos pelos participantes, através do método fenomenológico que busca o conhecimento das essências, estando em contato com as expressões e percepções que o sujeito possua sobre suas experiências.
Para melhor entendimento dos conteúdos explícitos na entrevista, e consequentemente, para a análise compreensiva, foi utilizado as recomendações de Martins e Bicudo (2005) que indicam:
I. A transcrição literal de todas as entrevistas; leitura preliminar de cada entrevista com o intuito de se alcançar uma compreensão global e intuitiva de seu modo de existir durante suas experiências, ou seja, uma leitura atenta dos depoimentos sem buscar ainda qualquer interpretação, atributo ou elemento, a fim de encontrar o sentido geral do que está descrito;
II. Releitura reflexiva de cada uma das entrevistas com o objetivo de apreender os sentidos e significados na descrição, dentro de uma perspectiva, focalizando o fenômeno que está sendo pesquisado, dessa forma o pesquisador pode vivenciar a experiência do sujeito, dessa maneira o fenômeno estudado é posto em frente aos olhos do pesquisador, com isso, envolvendo-se e distanciando-se quantas vezes forem necessários, encontrando as Unidades de Significado, pontos que indicam uma totalidade existente entre partes da descrição que surgem de maneira espontânea quando o pesquisador assume uma atitude fenomenológica, ou seja, o insight psicológico que o pesquisador tem do que está sendo dito, o que o outro está querendo me dizer naquilo que fala sob a forma de uma ou duas palavras; e buscar a convergência das unidades significativas para se chegar a uma descrição da vivência do sujeito que englobasse a todos, constituindo desta forma as categorias temáticas para a base da compreensão do fenômeno.
III. Ao pesquisador caberá, após a análise individual de cada transcrição, buscar as convergências ou invariantes, o aspecto comum que permaneceu em todas as transcrições das entrevistas – as Unidades de Significado- construindo as categorias de análise.
Nesta postura, foi possível através do ver fenomenológico, integrar todos os dados, aspectos e características obtidos, através das unidades de significado. Considerando o objetivo da pesquisa, a compreensão do vivido analisada a partir da fala das participantes e o método a ser utilizado - o fenomenológico, a síntese dos dados será efetivada a partir dos pressupostos da Psicologia Fenomenológico-Existencial. 
7 Categoria de análise 
Posteriormente a transcrição das entrevistas, foi realizada a análise de cada diálogo, a partir do qual obtive as unidades de significado, os elementos que possibilitam a compreensão dos sentidos implicados no discurso do fenômeno “a vivência da discriminação racial na perspectiva de mulheres negras”. Identifiquei, então, as partes semelhantes nestes discursos, através das quais sistematizei as categorias de análise, que se resume em quatro, que se mostraram da seguinte forma: 
7.1 Medo, medo de ficar só, vulnerabilidade, insegurança:
Como já foi mostrado neste trabalho, as estatísticas revelam que a mulher negra está no topo da pirâmide da solidão, e essas estatísticas só concretizam pensamentos de que realmente a mulher negra sempre vai ter dificuldades afetivas não importa a classe social, através das entrevistas feitas para tal pesquisa pude perceber a conexão de pensamentos a respeito do medo de ficar só, nunca se sentir suficiente. A rejeição é um processo histórico, assim como nossos gostos e nossa construção afetiva também perpassam aspectos sociais, então, se os gostos são processos sociais e a sociedade historicamente impõe que o padrão certo é o da pessoa branca, obviamente a mulher negra, mais uma vez e em mais um aspecto da vida, fica colocada de escanteio. A respeito da submissão por medo de ficar só:
 “... eu acho que isso influenciou muito no meu relacionamento porque eu acho que a gente tem uma fragilidade muito maior assim, um medo de ficar sozinha é muito grande e isso acaba deixando a gente muito muito muito mais vulnerável a violência dentro de um relacionamento né, porque são coisas assim que nossos companheiros reproduzem mesmo não sendo tipo, a pessoa que eu namorava não era branca, ele era indígena digamos assim, ele não era de uma comunidade mas ele tinha traços e tal e ele reproduzia racismo comigo né, tipo de me objetificar, de falar coisas pesadas, acho que não só por conta do machismo como também do racismo, acho que juntava os dois ne, e ai de certa forma eu me submetia a esse tipo de violência por medo de ficar só”. (Shuri)
Frente à insegurança de ser objetificada: 
 “O medo é grande, vou te falar, é grande... é grande ter alguém... de ter alguém... me olhando com aquele olhar de tipo, da preta do bundão, da preta com o peitão, de estar com uma roupa mais curta e mexer ou de.. não sei. Medo de ta em um relacionamento e piscar e o cara me trocar por uma menina branca, e ai voltar todos os tijolos que eu fui construindo, tipo “não eu sou foda, isso não vai acontecer”, mas é porque nossa autoestima é abalada, medo de tudo, é insegurança”. (General Okoye)
Em uma concepção heideggeriana do homem como Dasein perante as tonalidades afetivas, fala-se sobre estar-lançado, que significa estar projeto dentro de uma situação (POMPÉIA; SAPIENZA, 2011), situação essa que gera não apenas medo, mas também muitas expectativas, nesse ponto de vista, a mulher negra se submete a alguns tipos de relações pelo medo de ficar só, cria expectativas que muitas vezes podem se desdobrar, e que vão se arrastando no contentamento de ter aquilo para diminuir a dor da solidão. Dentro do contexto de tonalidades afetivas também existe a vergonha (POMPÉIA; SAPIENZA, 2011), que está dentro da tonalidade de desabrigo, é a sensação de estar exposta, sensação essa que mulheres negras vivenciam ao ter o medo de ser olhada por conta de seu corpo, de não poder vestir o que quer por ter a sensação de estar desprotegida.
Martin Heidegger em sua teoria fenomenológica explica sobre as esferas de mundo que constituem a espacialidade existencial da pre-sença, isto é, do ser humano (CASTRO, 2017) sendo uma delas o mundo pessoal, que diz respeito sobre a relação que o individuo estabelece consigo mesmo, na consciência de si e no autoconhecimento. Dessa forma, as situações que a mulher negra vai vivenciando, sua relação o mundo circundante e com os outros é que vão possibilitar a atualização de suas potencias e de como elas se enxergam, colocando as condições necessárias para ir se descobrindo e se reconhecendo exatamente como é. 
7.2 Estética:
Visto que o padrão estabelecido pela sociedade, é o da mulher branca de traços europeus, existe uma grande inferiorização da estética negra, isso se dá desde a escravatura, onde os traços negroides foram demonizados e colocados como feios perante a sociedade. Por toda nossa vida foi criado um tabu de que ser branco é ser gente, então quanto mais perto da branquitude à mulher negra chega, mais dignamente ela pode ser tratada, nessa tentativa de alcançar o inalcançável surge a angustia de lutar contra sua aparência, pois cada vez que a mulher é julgada ou recebe olhares de estranhamento por causa do seu fenótipo, mais ela se sente pressionada a seguir um padrão. A mulher negra se vê desde pequena condicionada a se esforçar para se encaixar nesse ideal de branquitude. Visto que, a partir do cabelo também se constrói a identidade e que a família incentiva algumas coisas, consciente ou inconscientemente, pode-se notar como esse ciclo de opressão a estética existe por varias gerações na procura por meios que possam camuflar seus traços naturais. 
 “Mana, eu comecei a alisar meu cabelo com 12 anos. por ter aquele padrão dentro da família também de todo mundo ir pro salão, sempre, e eu ia com minha mãe pro salão eu via todo mundo bonito daquele jeito e eu pedi uma chapinha, e eu fazia todo dia, e acordava sei lá, 1 ou 2 horas mais cedo do que tinha que acordar pra ir pra aula, pra poder alisar meu cabelo, eu acordava 4 da manhã pra 6 horas sair de casa. E eu só não alisei antes dos 12 porque a mamãe não deixou, se não com 8 anos eu já estava com a chapinha na mão ou feito alguma química”. (General Okoye)
Frente ao medo que o impacto dos traços naturais causa no outro:
“Ano passado eu coloquei tranças né, e ai eu tava em Goiânia e depois fui pra Brasília, e ai eu percebi nos olhares, as piadinhas, porque Goiânia é uma cidade de brancos né e ai eu... foi horrível, assim, porque eu tava passando na feira e as pessoas tavam tipo, teve gente que tocou no meu cabelo, bem aleatório assim sem nem eu conhecer sabe. E acho que isso fere a gente [...] primeiro que eu fiquei com medo de sofrer violência na rua né. Como te falei é uma cidade predominantemente branca a gente fica meio assustada porque muita gente olhou ao mesmo tempo e aí foi na mesma hora que a pessoa passou a mão no meu cabelo e eu estava sozinha, porque eu tinha ido com mais amigas né no encontro de mulheres negras, e aí eu tinha ido na feira sozinha e aí parece que todo mundo virou pra mim ao mesmo tempo, isso me deixou desesperada e aí falei ‘meu Deus espero que não aconteça nada comigo’ porque foi uma coisa muito estranha como se fosse um objeto estranho, no lugar estranho, o que talvez pra eles tenha ate sentido, não sei, mas é isso eu fique com medo de ser atacada, não sei se aconteceria alguma coisa porque foi muito estranha a reação deles quando me viram”. (Shuri)
Dentro do contexto de tonalidades afetivas de Heidegger, se encontra a angustia existencial, a partir dessa angustia o primeiro movimento do Dasein é procurar abrigo, e ele vai se abrigar no “todo mundo” (POMPEIA; SAPIENZA 2011), ou seja, o Dasein vai procurar determinações ou referencias dada pelo coletivo na busca de enquadrar, de acordo com isso, a mulher negra ao enfrentar a angustia de não poder ser quem é, muda sua estética na expectativa de conseguir o padrão e significados já estabelecidos de “todo mundo”, o que acaba lhe gerando angústia também já que o Dasein ficaimpedido de ser ele mesmo. Por outro lado, quando a mulher negra também se mostra ao mundo de acordo com seus traços penteados e afins, também passa pelo sentimento de medo e ameaça (POMPÉIA; SAPIENZA, 2011), como visto em uma das entrevistas onde foi relato a estranheza no olhar do outro. 
Segundo a fenomenologia de Merleau-Ponty (CASTRO, 2017), o corpo não pode ser objetificado nem coisificado, pois a consciência está ligada com o corpo, e o corpo compreende, e assim os sentidos existenciais se manifestam corporalmente, sendo assim, a mulher negra existe para si mesma pela experiência do seu corpo e por meio do seu corpo assume o espaço e não deveria passar por essas representações simbólicas ou objetificantes.
7.3 Percepção do outro:
É possível ver a prática comum do pré-conceito gerado pela sociedade em cima da raça negra, até porque, historicamente as pessoas sempre buscaram silenciar os negros, seja por meio de tratamentos desiguais ou por meio da não valorização e não identificação da raça, a maneira que as pessoas colocam isso em cima da mulher negra causa-lhe distorções em sua imagem e autoestima. O outro está constantemente impondo sobre a mulher como ela deve ser, com a mulher negra não é diferente, além de ser pior por conta da sociedade que está tão adoecida em controlar o outro, que acaba impondo até mesmo de que cor ela deve ser, como mostra a fala a seguir: 
 “Eu vou falar de uma vez, marcou muito comigo porque foi dentro da universidade e foi com uma professora. A gente estava conversando, professora tava dando a matéria, acho que teoria da comunicação que ela estava dando pra gente, e a gente chegou no âmbito de falar sobre racismo no Amazonas, pessoas negras, essa parada toda. Ela, mulher branca, e tinha um outro colega de turma, ele era teólogo, e ele era meio metido a sociólogo mesmo que ele não tivesse formação, do Paraná, branco também, a gente estava conversando sobre e eu fui falar sobre experiências como mulher negra, situações, e ai ela falou “ah, mas você não é negra, você é queimadinha de sol do Amazonas, você é morena” e eu falei “professora, eu sou negra” e ela “não, você não é”, tipo, uma pessoa que não tem propriedade nenhuma pra apontar o dedo na minha cara e me dizer “não você não é negra”, porque na época talvez eu tinha o cabelo liso, porque meu cabelo era vermelho, eu maquiava de uma forma que deixasse meus traços mais fino, tipo, aquela parada nariz da Kim kardashian, talvez isso tenha ajudado a passar isso”. (General Okoye)
Frente à existência que se revela como a essência da pre-sença, Martin Heidegger (CASTRO, 2017) diz que esta só poderá ser analisada em sua relação com os outros, se existir é originariamente ser-com-o-outro, e, como Merleau-Ponty ressalta que as coisas oferecem suas faces e o individuo as percebe de diversos pontos de vista espaciais e temporais (CASTRO, P.30), será somente a partir dessas relações cotidianas que a mulher negra terá suas potencialidades exaltadas, sendo o Ser essas potencialidades, a experiência diária da mulher, e suas percepções fará que, em seu fenômeno chamado corpo, ela aprenda e apreenda enquanto humana nas relações que vivencia. 
7.4 Se autoconhecer como mulher negra:
Um dos aspectos muito dolorosos da vida da mulher negra é da construção e aceitação da própria identidade. É curioso, e ao mesmo tempo triste, notar que o processo destrutivo está desde a infância, o desenvolvimento já é fundado em procurar meios de ascender qualquer traço que seja mais perto do traço da pessoa branca, e esconder de alguma forma o traço negroide, se dentro do seu meio familiar e/ou social não tiver o contato necessário para que a criança tenha esse auto reconhecimento, todo o restante do processo evolutivo será mais doloroso ainda. O racismo que a mulher negra sofre desde nova, quando não mata, a deixa insegura, com medo de sonhar. É a partir das falas dessas mulheres que foi possível perceber mais ainda, que enquanto não se reconhece nem se assume tais características fenotípicas, irá existir um certo sofrimento. Pode-se entender que:
 “... eu acho que uma das primeiras coisas assim que eu me deparei depois que eu consegui me reconhecer como mulher negra né, porque demorou um pouco, acho que foi em 2015 depois que eu entrei no movimento social que eu consegui me identificar enquanto mulher negra e entender as coisas que aconteciam na minha vida e que eu não sabia o motivo né, não tudo né, mas algumas coisas”. (Shuri)
Analisando a perspectiva dessa dificuldade em se reconhecer como mulher negra, Heidegger em sua filosofia denomina tal situação como inautenticidade (CASTRO, 2017), que se dá pelo distanciamento de sua condição real, ou seja, de sua condição como mulher negra. É só quando a mulher negra encontra o sentindo do Ser que ela poderá se reconhecer em sua singularidade, é a partir do Dasein, Heidegger explica que o Dasein é a abertura para possibilidades, de ser-no-mundo, que é livre em seu modo de ser, deve ser entendido como uma estrutura de realização do ser (CASTRO, 20177), frente a condição de mulher negra, é só quando ela atingir a reflexão como negra que ela irá conseguir desvendar o ser em si mesmo, partindo da sua existência e reconhecimento como mulher negra que ela terá a abertura (Da) para a compreensão das coisas (Sein), e a possibilidade de ser propriamente quem é.
8 SÍNTESE COMPREENSIVA
O interessa por abordar o tema racismo vivido dentro da condição de ser mulher negra foi pensado com intuito tanto de aprender, como de gerar mais conteúdos que mexam com essa temática, com o olhar fenomenológico, o objetivo foi compreender os sentidos que essas mulheres atribuíam a partir do racismo que vivenciaram e vivenciam no decorrer de suas vidas.
Desde o momento que iniciei as buscas pelo tema, fui me deparando com vários conteúdos e informativos que até então eram desconhecidos para mim, que talvez eu não entendesse como racismo, me chamou atenção o fato de eu, como mulher negra, fazer tão pouco uso de mídias sociais que me representavam, não só mídias, mas conteúdos bibliográficos também e daí por diante, a partir disso comecei a me aprofundar em diversos conteúdos, pude ter uma noção maior do peso que o racismo, que está inteiramente ligado também com o machismo, causa na vida de uma mulher negra.
Por meio de círculos sociais consegui chegar até três mulheres, as quais tive a oportunidade de entrevistar. Logo de cara estabelecemos um dialogo muito bom, foi interessante notar como tínhamos situações semelhantes, o que fazia essas entrevistas se estender por mais tempo, pois a cada assunto colocado na conversava, acaba que puxando outro, e ali se tornou uma troca de experiência, de informação, percebi em uma das entrevistas o medo comum frente a vulnerabilidade principalmente se tratando do corpo, do relacionamento afetivo, me senti feliz e triste amo mesmo tempo, feliz por saber que eu não estava sozinha no meus pensamentos sobre como eu percebia as coisas (na relação afetiva), triste por ter mais certeza ainda que apesar dos processos ocorridos ainda somos vistas e tratadas de formas muito desiguais, a entrevista se tornou uma conversa mais carinhosa, por despertar conteúdos meus também, foi uma experiência muito boa essa troca de conhecimento, de compartilhar a verdadeira fragilidade do que é ser mulher negra. 
Foi possível verificar que apesar de todas se identificarem como mulher negra, e de ter conteúdos semelhantes, nossos processos de descobertas e autoconhecimento são singulares, pude perceber na conversa com uma das entrevistadas a presença de falas carregadas de pré-conceito que por sua vez também eram racistas, porque sim, tudo é tão enraizado e doente que pessoas pretas também reproduzem racismo, sem ao menos perceber. E por essa razão eu escolhi não introduzir a entrevista na linha de pesquisa, pois acredito que não condizia com o que eu queria passar.
O racismo tem efeitos e marcas que são carregados à vida toda, para mim, foi um privilegio abordar esse assunto, na busca de compreensãodo ponto de vista da vida da mulher negra, também pude me compreender, e reaprender. Vejo através dessa pesquisa uma forma de contribuir para o movimento na luta contra a discriminação racial.
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a pesquisa pude compreender como a história de vida da mulher negra carrega tanto tabu desde o seu nascimento, cada uma com suas particularidades. Foi possível notar a carga emocional existente em todas as mulheres, foi transpassada a fragilidade do que é ser mulher e negra, são marcas que o racismo instala na autoestima, nas escolhas, em tudo, como se fosse uma ferida constantemente aberta.
Ao notar todo trajeto da pesquisa, fica evidente que a mulher negra está bem mais a mercê como alvo da sociedade, por sofrer em estruturas tanto do racismo, como do machismo e classismo. Por essa razão, se faz necessário pensar sobre politicas públicas, mas um olhar com o devido recorte racial, é possível reconhecer o avanço que houve frente à temática, mas ainda é preciso mais vozes aos movimentos sociais, com foco em prevenções na área da saúde, educacional, moradia, trabalho. Sabemos que o trabalho de politicas publica é lindo no papel e muito bem desenvolvido, mas para que funcione é necessário criar todo um conjunto de etapas de desenvolvimento, infelizmente o planejamento de qualquer intervenção dentro das politicas publica leva mais tempo do que resultado, um dos muitos exemplos é na área educacional, que possui uma precariedade no acesso ao conhecimento para todos em prol de um país menos desigual, essa educação que se diz para todos não existe para a menina preta que tem que parar de ir para a aula porque tem que ajudar em casa, que precisa abrir mão de seu lazer para trabalhar, muitas vezes em situações desumanas, para sobreviver. 
No campo da psicologia, pensar nessas politicas públicas e relações raciais se torna necessário, uma vez que a psicologia é uma área que tem como alguns dos princípios éticos, atuar com responsabilidade social, politica e econômica, eliminando qualquer forma de negligencia e discriminação. Estaria o profissional de psicologia preparado para tal demanda? Quais ferramentas e manejos o profissional teria para intervenção no campo das relações raciais em diversos contextos? Acredito que ainda exista um déficit muito grande a respeito da temática dentro da formação da (o) psicóloga (o), se formos parar para analisar, uma das justificativas para a falta de estudo a respeito da problemática, é o fato de a grande maioria das (os) psicólogas (os) serem brancas (os), é muito difícil, diria que quase não existe, um profissional, ao se deparar com a queixa de alguma paciente negra por exemplo, fazer o devido recorte racial para analisar que o conteúdo se trata de determinada desigualdade racial, infelizmente acontece de o profissional enquadrar o tema em outro tipo de aspecto, seja violência doméstica, problema no trabalho, na vida social ou amorosa, nesse sentido, falta um olhar mais delicado para a situação, para que se possa perceber esse tipo de situação até mesmo para que haja um levantamento de dados melhor sobre a real situação do que se passa com a população negra e assim tenha um direcionamento melhor de providencias a serem tomadas. Como estudante de psicologia acredito que é importante refletir sobre esses desafios desde a sala de aula, com intuito de sensibilizar os alunos diante à realidade que a sociedade vive.
Ao termino desta pesquisa pude compreender a necessidade que existe em fazer disso um trabalho continuo, após toda a pesquisa, a desconstrução do racismo e de seus consequentes é um trabalho interdisciplinar. Este trabalho é só uma ponta de tantas outras que podem ser desenvolvidas, acredito que assim como a pesquisa contribuiu para minha vida e formação, ela também pode contribuir para a sociedade de modo que possa alcançar todas as classes.
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