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NATHÃ ALMEIDA PEREIRA RANA MICHAELA DE PAULA RODRIGUES REBECA DE CAMARGO DOMINGUES SABRINA CRUZ VASCONCELOS TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES Atividade Pratica Supervisionada SOROCABA 2022 NATHÃ ALMEIDA PEREIRA RANA MICHAELA DE PAULA RODRIGUES REBECA DE CAMARGO DOMINGUES SABRINA CRUZ VASCONCELOS TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES Atividade Pratica Supervisionada Trabalho para aprovação na disciplina de Atividades Práticas Supervisionadas – APS apresentado á Universidade Paulista - UNIP Orientadora: M° Ana Laura Vallarelli Gutierres Araújo SOROCABA 2022 RESUMO O trabalho abordará um dos 178 processos do maior litigante do país, Luiz Célio Bottura. Com base na decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que deu origem ao Recurso Especial julgado no Supremo Tribunal de Justiça. Será apresentada a análise e fundamentação sobre o processo estudado. Onde tem como cerne o requerimento de uma obrigação de fazer, a qual foi negada pela decisão do TJ e também no recurso no STJ. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 5 2. OBRIGAÇÃO .................................................................................................. 6 2.1 Direito Das Obrigações ................................................................................. 6 3. Decisão do Tribunal de Justiça do estado de São Paulo .......................... 7 4. OBRIGAÇÃO DE FAZER QUE FOI REQUERIDA E NEGADA ..................... 8 5. FUNDAMENTOS ULTILIZADOS PELO TJ E STJ ......................................... 9 5.1 Obrigação de fazer aos réus ................................................................... 10 5.2 Medida de restrição ................................................................................. 11 5.3 Indenização por danos morais ............................................................... 11 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 13 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 14 ANEXOS .............................................................................................................. 15 1. INTRODUÇÃO A obrigação é o vínculo que interliga indivíduos em ação ou omissão. Quando tal pacto não é cumprido por qual seja o empecilho para essa que consolidação de direitos não seja efetivada, cabe ao poder judiciário intervir para que essa obrigação atinja sua finalidade. Porém, para o pleito desta intervenção é necessário que o requerente ofereça e apresente provas que confirme o seu direito de recebimento do fruto da obrigação. A atividade apresentará a analise fundamentada referente a uma decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo e ao Recurso Especial do STJ, onde a obrigação de fazer pleiteada foi negada em ambas decisões. 2. OBRIGAÇÃO A palavra obrigação possui amplos significados de acordo com o contexto empregado, sendo pertinente a afabilidade quando usada como dever jurídico ou não jurídico. Dessa forma, é dever não jurídico de todos agradecer um presente, ser um bom aluno, etc. Entretanto, os deveres no mundo jurídico são os que obrigam o cumprimento de uma prestação acordada, como a compra de um imóvel. Em suma a obrigação em âmbito jurídico, versa sobre o vínculo que liga e relaciona sujeitos. Sendo os sujeitos ativo (credor) e o passivo (devedor). Na definição de Maria Helena Diniz: Na obrigação civil, há um vínculo jurídico que sujeita o devedor à realização de uma prestação positiva ou negativa no interesse do credor, estabelecendo um liame entre os dois sujeitos, abrangendo o dever da pessoa obrigada (debitam) e sua responsabilidade em caso de inadimplemento (obligatio), o que possibilita ao credor recorrer à intervenção estatal para obter a prestação, tendo como garantia o patrimônio do devedor. 2.1 Direito Das Obrigações O ramo denominado de direito das obrigações é o conjunto de princípios e normas jurídicas que regulam as relações patrimoniais entre o sujeito ativo e sujeito passivo. Onde o sujeito passivo tem o dever de sanar o requerimento do sujeito ativo. Em ênfase, o cumprimento deve ocorrer de forma espontânea, caso contrário a legislação determina a realização da obrigação de forma coativa. De acordo com Maria Helena Diniz (2006): Infere-se daí que esse ramo do direito civil trata dos vínculos entre credor e devedor, excluindo de sua órbita relações de uma pessoa para com uma coisa. O direito obrigacional ou de crédito contempla as relações jurídicas de natureza pessoal, visto que seu conteúdo é a prestação patrimonial, ou seja, a ação ou omissão da parte vinculada (devedor), tendo em vista o interesse do credor, que, por sua vez, tem o direito de exigir aquela ação ou omissão, de tal modo que, se ela não for cumprida espontaneamente, poderá movimentar a máquina judiciária para obter do patrimônio do devedor a quantia necessária à composição do dano. Sendo assim, a principal função do direito das obrigações é trazer harmonia às relações obrigacionais entre as partes por qual seja o motivo de não cumprimento do acordo firmado. 3. Decisão do Tribunal de Justiça do estado de São Paulo A decisão proferida é pertencente ao processo de n° 1003424- 97.2018.8.26.0003, com assunto referente a Processo Comum- Direito de Imagem, tendo como requerente “Luiz Célio Bottura” e requerido “Cleinaldo Simões Gomes”. A decisão singular foi preferida pelo Juiz de Direito Fábio Fresca: [...] Pela quantidade de documentos acostados pela parte, em especial aqueles que não guardam pertinência alguma com o caso e com os sujeitos do processo, bem como aqueles introduzidos de maneira repetitiva, percebo manifesto abuso do direito de ação: tal comportamento causa resistência injustificada e temerária ao andamento do feito, ao exercício do contraditório pelos requeridos, e à cognição do juízo. Ante os fundamentos expostos, com base no art. 487, inciso I, do CPC, resolvo o mérito e JULGO IMPROCEDENTE a ação. Pela má- fé, CONDENO o autor no pagamento de multa que arbitro em 10% do valor atualizado da causa (art. 79 c/c art. 80, incisos IV e V, e art. 81 do CPC). Frente à sucumbência, CONDENO o autor no pagamento das custas, despesas processuais e honorários ao patrono dos requeridos. Com fundamento no art. 85, §2º, observando a dificuldade da defesa oposta pela quantidade de documentos, o zelo profissional, as impugnações específicas às provas pertinentes e a capacidade econômica das partes, arbitro honorários em 20% do valor atualizado da causa. P.R.I. FABIO FRESCA Juiz de Direito São Paulo, 27 de julho de 2018. 4. OBRIGAÇÃO DE FAZER QUE FOI REQUERIDA E NEGADA O processo analisado é um entre os muitos processos do maior ligante do país, que de acordo com dados da plataforma “JusBrasil” é autor de aproximadamente 178 processos. Além de maior ligante do país, o indivíduo também possui diversas acusações como por exemplo: Aplicar golpe em viúva. No processo analisado o autor entrou com uma ação contra uma associação, a qual é formado por suas prováveis vítimas. A decisão analisada teve como pleito a indenização por danos morais. O dano moral é a violação da honra ou imagem de alguém. Resulta de ofensa aos direitos da personalidade (intimidade, privacidade, honra e imagem). Como reparo pelo dano alegado no pleito o autor exigiu uma medida de restrição de aproximação com o limite de 200 metros. Tal requerimentofoi julgado improcedente por unanimidade, afinal as provas juntadas e apresentadas ao poder judiciário, foram impertinentes e vultuosas com a grande quantidade desnecessária de documentos. Com tais ações ao decorrer do processo, ocasionou um dano ao processo, sendo assim tendo como finalidade uma decisão maléfica ao autor. Em primeira instância o Juiz Fábio Fresca, em sua decisão singular, que o autor da ação deveria pagar uma multa de 10% no valor da causa, como previsto no artigo 81 do CPC: De ofício ou a requerimento, o juiz condenará o litigante de má-fé a pagar multa, que deverá ser superior a um por cento e inferior a dez por cento do valor corrigido da causa, a indenizar a parte contrária pelos prejuízos que esta sofreu e a arcar com os honorários advocatícios e com todas as despesas que efetuou. § 1° Quando forem 2 (dois) ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará cada um na proporção de seu respectivo interesse na causa ou solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária. § 2° Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo. § 3° O valor da indenização será fixado pelo juiz ou, caso não seja possível mensurá-lo, liquidado por arbitramento ou pelo procedimento comum, nos próprios autos.” E pagamento das despesas e custos processuais. Após tal veredito o autor entrou com um recurso em uma instância superior, para fosse revisada a decisão singular do Tribunal de Justiça, onde novamente não obteve o sucesso desejado e outra vez o pleito do requerente foi negado. O desembargador Rogério Murillo Pereira Cimino, o relator, em seu voto afirmou, em suas palavras: "Sem sombra de dúvida, tal comportamento, totalmente reprovável, causa resistência injustificada e temerária ao andamento do feito, ao exercício do contraditório pela parte ré, e à cognição do juízo. Pode-se verificar o modus operandi do apelante e seus familiares, de modo a justificar a pertinência da menção do nome do apelado no documento pela associação, ora apelada, sem que isso configurasse ilicitude, ou acusação de crime". 5. FUNDAMENTOS ULTILIZADOS PELO TJ E STJ O Direito das Obrigações é baseada num conjunto de normas que visa a questão de relações jurídicas e suas resoluções, com objetivo de prestações e serventias de um para outro no modo de fazer ou não fazer algo; quando encaminhado a um Poder, queremos que uma Obrigação seja imposta, a obrigação de fazer, não fazer ou dar. Direito que visa garantir o cumprimento da relação jurídica entre as partes, destacando que não se há apenas direitos entre elas, mas, também obrigações entrelaçadas; sendo um bem necessário. O Poder Judiciário, que tem como suas responsabilidades, a solução de conflitos da sociedade e garantia de direitos dos cidadãos (de forma individual ou coletiva), foi adotado pelo Brasil como sistema único jurisdicional, onde pode interpretar e aplicar lei em caráter definitivo, em casos concretos de conflitos de interesses trazidos a ele para apreciação, valendo-se do cumprimento dessas garantias fundamentais a fim de promover a justiça. E se valendo assim do poder de impor tal questão obrigacional no seu parecer de sentença. Para embasamento dessas resoluções foi vista a necessidade de que tais decisões fossem fundamentadas pelo juiz que as proceda, pois é inerente ao Estado Democrático de Direito; dever previsto na Constituição Federal de 1988, inciso IX, artigo 93. “Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito a intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público a informação,” O Juiz com a obrigação de fundamentar suas decisões garante que serão tomadas de acordo com a lei, postulando maior segurança jurídica aos indivíduos que estão sujeitos. Então em 2015, com inúmeras atualizações e revisões do Código de Processo Civil- CPC, uma foi alvo de criticas e exaltações notórias, que é o artigo 489, § 1º; onde é determinado: “Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão que: - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; - se limitar, a invocar precedente o enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento”. No caso em questão, as obrigações requeridas por Juiz, foram: 5.1 Obrigação de fazer aos réus Consistente em absterem-se de manifestarem-se sobre o autor ou manterem contato direto com este sob pena de multa pecuniária. Quanto sua fundamentação o Judiciário decidiu por tal sentença com base em: • Contestação de fatos; • Inépcia da inicial, onde a petição inicial não se encontra apta e por tanto é indeferida; • Pratica Litigante da família Bottura: “alega que os desentendimentos societários, empresariais e jurídicos com o Grupo Bueno Netto, cliente do réu 01, começaram em virtude de um divórcio entre membros das duas famílias, defendendo a hipótese de que o autor vem abusando de seu direito de ação para judicializar questões de desafeto pessoal com pessoas ligadas a Alberto Bueno Netto, justificando a criação de uma associação de vítimas para sistematizar as defesas.” Isto é, os litigantes se valem de abuso previsto no art. 187 do Código Civil. “Quem se vale do processo sem finalidade séria e legítima, com excessos, lesando injustamente a esfera jurídica de terceiros, com indevido apoio no direito de acesso à justiça, comete abuso do direito de ação, ou abuso do direito de litigar, incidindo em ato ilícito. Usando essa faculdade de forma desnecessária, com fim de obstruir o curso do processo em andamento, por inconformidade e má-fé, contrariando as alegações da exordial (peça que abre o processo, que descreve o fato), que diz não existir condenação transitada em julgada contra o requerido 01, proibindo-o de se manifestar sobre o requerente. 5.2 Medida de restrição A medida requirida visava obrigar o réu a manter 200 metros de distância do requerente. Quanto sua fundamentação o Judiciário decidiu por tal sentença com base em: O Juízo fundamentou que não houve comprovação nos autos, que os requeridos não expressaram de forma alguma conduta ameaçadora para com o autor. • O réu não praticou agressão física contra requerente para meio de justificação ao pedido. • Ressalva a ausência de Periculum in Mora e necessidade de submeter a cognição ao contraditório, onde o juiz detêm que o principio do contraditório deve ser seguido, dando a todas as partes a oportunidade de se fazer presente no processo, desconsiderando o Periculum in Mora, não observando urgência. 5.3 Indenização por danos morais A indenização pecuniária pleiteada foi no valor de R$ 50.000,00 contra os réus pela difusão dos dossiês. Quanto sua fundamentação o Judiciário decidiu por tal sentença com base em: Incabível a reclamação de violação de direito recorrente ao documento. No uso indevido de imagem e nome do autor utilizado pelos réus por meio dos dossiês, não foi observada violação de direito,afinal o uso, foi apenas para inquérito policial e não repassado ao público, não encontrando fato que atente a sua honra e a sua moral, sem ofender direito fundamental previsto no artigo 5o, inciso X da Constituição Federal: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. Porém, para que seja um dano é necessário que suas consequências sejam negativas a quem foi exposto. 12 A Indenização por danos morais no valor de R$ 50.000,00 contra os réus pela constituição de pessoa jurídica valendo-se do nome do autor para denegrir sua imagem. Quanto sua fundamentação o Judiciário decidiu por tal sentença com base em: • Houve distinção de dois aspectos dos direitos da personalidade, um moral e outro patrimonial e sua indenização independe da comprovação da lesão a tais vertentes, porém há necessidade de provas evidenciais o que não ocorre. Dano Moral/Patrimonial, exemplo, o direito à imagem (quando ele se vale do nome do autor para denegrir sua imagem), sendo um direito da personalidade (moral) e um princípio no qual ninguém é lícito a locupletar-se à custa alheia (patrimonial). • Razão a argumentos dos requerentes quanto a criação da ré 02, deferindo o agravo de instrumento que alega o réu ser o provimento jurisdicional que impede o réu de se manifestar a seu respeito, incidindo então na criação da pessoa jurídica para fazê-lo, afetando assim o direito a personalidade e dando procedência a indenização a danos morais. • Fato Incontroverso: Família Bottura é litigante habitual, e assim coleciona ações judiciais. 13 CONSIDERAÇÕES FINAIS Em virtude dos fatos mencionados constatamos que, a veracidade das sentenças deferidas pelo poder judiciário mediante ao processo em ambas instâncias. As decisões as quais foram improcedentes os pedidos requeridos pelo requerente, o qual declarou embasamentos de má-fé e de forma tumultuosa. Nosso ordenamento jurídico nos traz a garantia de tutela estatal perante a insegurança constitucional. Entretanto, é necessário que diante a uma perplexidade o indivíduo apresente evidências válidas para o pleito ao judiciário. 14 REFERÊNCIAS DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral das obrigações. 22. ed., revista e atualizada de acordo com a Reforma do CPC. São Paulo: Saraiva, 2007, v. 2. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO, Orgãos da Justiça. TJSP, . Disponível em: https://www.tjsp.jus.br/PoderJudiciario/PoderJudiciario/OrgaosDaJustica Acesso em: dia, mês e ano. MSJ. Dever de fundamentação das decisões judicias. Disponível em:https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2017/04/15/o-dever-de- fundamentacao-adequada-das-decisoes-judiciais/. Acesso em: 04 de novembro de 2022 DIREITO NET. Dever de fundamentações das decisões. Disponível em : direitonet.com.br/artigos/exibir/11003/O-dever-da-fundamentacao-das-decisoes. Acesso em: 04 de novembro de 2022 BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. CONJUR.O maior litigante do país.. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021- jun-22/maior-litigante-individual-pais-bottura-investigado-golpe-viuva.Acesso: 28 de outubro de 2022 https://www.conjur.com.br/2021-jun-22/maior-litigante-individual-pais-bottura-investigado-golpe-viuva https://www.conjur.com.br/2021-jun-22/maior-litigante-individual-pais-bottura-investigado-golpe-viuva 15 ANEXOS ANEXO A – NOTICÍA “MAIOR LITIGANTE INDIVIDUAL DO PAÍS, BOTTURA É INVESTIGADO POR GOLPE EM VIÚVA” A dona de casa Maria Matuzenetz perdeu seu companheiro Plínio Zurdo Martinez em 19 de outubro de 2018. Foram 25 anos de convivência plena. Sozinha, teve que se ver com o inventário do ex-companheiro, que deixara um patrimônio vultoso a ser partilhado entre ela e as duas filhas do primeiro relacionamento de Martinez. Sem conhecimento jurídico e beneficiária de um plano de previdência privada no valor aproximado de R$ 7 milhões, a viúva desabafou com a psicóloga que a atendia havia 18 anos sobre como se conduzir na partilha. A psicóloga era Maria Alice Auricchio Bottura, que recomendou seu filho, o empresário Luiz Eduardo Auricchio Bottura, alegando ser capacitado para a tarefa. Ele, garantiu a psicóloga, cuidaria bem do patrimônio e não permitiria que ela fosse passada para trás. Com a confiança que só é criada após tantos anos em uma sala de sessões de terapia, Maria depositou sua esperança e suas economias, cegamente, nas mãos de Luiz Eduardo Auricchio Bottura. Quase três anos depois, prestes a completar 59 anos, Maria Matuzenetz vende potes de mel para sobreviver e não tem notícia do patrimônio deixado por seu ex- companheiro. Orientada por Bottura, ela transferiu o dinheiro para uma conta no Uruguai e abriu uma holding naquele país, supostamente para se proteger do inventário que tramitava na Justiça brasileira. A partir daí, a viúva nunca mais viu um tostão do dinheiro, que foi parar — graças a documentos que a viúva garante jamais ter assinado — na conta de uma empresa administrada por Raquel Fernanda de Oliveira, mulher de Luiz Eduardo Auricchio Bottura. Além do dinheiro, Maria também pode perder os direitos hereditários do inventário para o casal Bottura. A história está em dois relatórios feitos pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e pelo Ministério Público Federal em São Paulo (MPF-SP). Ambos anexados ao inquérito policial que investiga o golpe de que Maria foi vítima. No documento do MP- SP, datado de junho de 2020, a promotora de Justiça Solange Aparecida Sibinel determina a remessa dos autos para a Justiça Federal, por entender que o caso se encaixa no crime de "efetuar operação de câmbio não autorizada, com o fim de promover evasão de divisas do país", previsto no artigo 22 da Lei 7.492/1986, que define os crimes contra o sistema financeiro nacional. Na Justiça Federal, contudo, também há divergência sobre a classificação dos crimes e, em consequência, do foro correto para apurá-los. Em despacho de 11 de março passado, o procurador da República Daniel de Resende Salgado recebeu o inquérito e o distribuiu à Polícia Federal, para a continuidade das investigações. Em seu relatório, a Polícia Federal opina pela devolução do inquérito para a Justiça Estadual. De acordo com a PF, não houve remessa ilegal de dinheiro para o exterior, tampouco evasão de divisas. Logo, não haveria crime contra o sistema financeiro a ser apurado. "Registre-se que na notitia criminis formulada perante a Polícia Civil, por meio de advogado, a noticiante reputou aos envolvidos, corretamente, a suposta prática dos delitos previstos nos arts. 155, 288 e 171, todos do Código Penal", anotou o delegado da PF no relatório, do qual consta trecho do boletim de ocorrência da viúva contra Bottura (clique aqui para ler). Os artigos citados pelo delegado correspondem, respectivamente, aos crimes de furto, associação criminosa e estelionato, todos de competência da Justiça Estadual e cujas penas, somadas sem circunstâncias agravantes, podem chegar a 12 anos de prisão. O relatório data de 25 de março de 2021, mesmo dia em que foi aberta vista para manifestação do MPF em São Paulo. Três meses depois, não há notícia de novo andamento do processo. A reportagem da ConJur consultou o MPF-SP por meio de sua assessoria de imprensa, mas não obteve informações porque a apuração corre sob sigilo. Enquanto não se define o foro para que a investigação prossiga, Maria Matuzenetz segue vendendo potes de mel e cada vez mais longe de reaver seu patrimônio. https://www.conjur.com.br/dl/campeao-audiencias-luiz-eduardo.pdfhttps://www.conjur.com.br/dl/campeao-audiencias-luiz-eduardo.pdf https://www.conjur.com.br/dl/luiz-eduardo-auricchio-bottura.pdf 16 Se antes de ser convencida pela psicóloga e entregar seu patrimônio nas mãos de Bottura Maria tivesse ido ao Google, talvez não estivesse na situação em que se encontra hoje. Luiz Eduardo Auricchio Bottura é o exemplo mais bem acabado de um litigante profissional. Recente reportagem levada ao ar pelo Jornal da Band, por exemplo, o descreve como "um empresário suspeito de usar brechas na Justiça para aplicar golpes que está fazendo fortuna". O jornal televisivo lembra alguns golpes de Bottura, sua lista de mais de três mil processos judiciais e traz o caso de Maria Matuzenetz como um entre vários exemplos de pessoas lesadas por ele. Consta do relato da reportagem: "no início dos anos 2000, Bottura fez fortuna dando golpes via internet. Suas empresas de comércio online lideraram o ranking de reclamações no Procon. A partir de 2007, ele iniciou uma espécie de fábrica de processos, com mais de três mil ações, em que alega ter direito a mais de R$ 200 milhões. Para tornar as ações mais lentas, ele costuma processar juízes, promotores, peritos e testemunhas, o que acaba impedindo que eles continuem no julgamento". Bottura já foi condenado mais de 200 vezes por litigância de má-fé. São tantas as ações ineptas que a Justiça brasileira já formou até mesmo uma jurisprudência exclusiva sobre ele. Recentemente, o pai de Luiz Eduardo Bottura também foi condenado em ação por litigância de má-fé. Os desembargadores da 9ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo julgaram que houve manifesto abuso do direito de ação de Luiz Célio Bottura diante da absurda quantidade de documentos acostados aos autos, em especial alguns que não guardavam pertinência alguma com o caso que estava em análise, bem como outros juntados ao processo de maneira repetitiva. Reconheceu-se, assim, exatamente a forma de atuar do empresário no processo movido por seu pai contra a Associação de Vítimas de Eduardo Bottura (grupo que auxilia as pessoas processadas por ele) pela criação de um panfleto contra a família. A ação foi julgada improcedente em primeiro grau, com a condenação de Luiz Célio por litigância de má-fé. Ele foi sentenciado ao pagamento de multa de 10% do valor da causa. O recurso ao TJ-SP foi negado por unanimidade. Segundo o desembargador Rogério Murillo Pereira Cimino, nas razões da apelação, cujas páginas, somadas, totalizam 479 folhas, extrai-se apenas uma única que tenta impugnar a sentença. O restante, conforme o desembargador, é repetição do que já foi aduzido perante o juízo monocrático, além de uma série de sentenças e acórdãos de processos dos quais terceiros, na maior parte delas, seu filho, foram partes. No mês passado, a empresa SPPatrim, que tem como sócio o pai de Luiz Eduardo, Célio Bottura —, e como administradora judicial a mulher de Eduardo, Raquel Fernanda de Oliveira —, sofreu outro revés no Tribunal de Justiça de São Paulo. A 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do TJ paulista anulou sentença e ordenou a produção de provas para avaliar se árbitros do Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil Canadá (CAM-CCBC) favoreceram indevidamente o empresário em uma disputa societária. Os desembargadores firmaram o entendimento de que árbitros que agem com dolo ou fraude podem responder por ação indenizatória. O próprio Luiz Eduardo Auricchio Bottura já foi declarado controlador de fato da empresa SPPatrim (processo 2163750-23.2018.8.26.0000, Des. Carlos Alberto de Salles, 3ª Câm. de Dir. Privado do TJ-SP), o que significa que a empresa juridicamente representada por sua mulher age, segundo a Justiça, sob orientação de Luiz Eduardo Bottura. Nos mais recentes episódios, Luiz Eduardo Auricchio Bottura, em nome próprio ou de terceiros, se vale de documentos forjados, falsos, construídos, por vezes, com participação de agentes públicos, como acusa o MP, em denúncia oferecida contra ele, seu advogado e um escrivão de polícia (Ação Penal 1516672-58.2020.8.26.0050). O advogado foi denunciado por falsidade ideológica, desacato e coação no curso do processo (artigos 299, caput, 331 e 344, todos do Código Penal); o escrivão, por falsidade ideológica (art. 299, parágrafo único, do Código Penal); e Luiz Eduardo Auricchio Bottura, por uso de documento falso e falsidade ideológica (artigos 304 e 299, ambos também do Código Penal). A denúncia foi recebida pela 21ª Vara Criminal do Fórum Central Criminal Barra Funda. https://www.band.uol.com.br/noticias/jornal-da-band/ultimas/empresario-e-suspeito-de-fraudes-judiciais-16350921 https://www.conjur.com.br/2012-nov-21/empresario-acumula-condenacoes-ma-fe-passa-exame-ordem-df https://www.conjur.com.br/2014-ago-19/empresario-acumula-derrotas-forma-jurisprudencia-exclusiva https://www.conjur.com.br/2014-ago-19/empresario-acumula-derrotas-forma-jurisprudencia-exclusiva https://www.conjur.com.br/2020-ago-27/pai-eduardo-bottura-condenado-tj-sp-litigancia-ma-fe https://www.conjur.com.br/2021-mai-17/arbitro-age-dolo-responder-acao-indenizatoria