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Ajustes e Tolerâncias A produção seriada de produtos industriais no século XX estimulou a redução de preços em relação à produção artesanal, fator que determina a competitividade entre empresas. Entretanto, é praticamente impossível fabricar peças cujas dimensões tenham uma exatidão matemática. Imprecisões da própria máquina-ferramenta usada, erros de centragem e fixação da peça na máquina, desgaste da ferramenta de corte, variações de temperatura, falta de rigidez do conjunto peça-máquina-ferramenta, entre outros fatores, obrigam a admitir certas discrepâncias entre dimensões nominais desejadas e as dimensões efetivas observadas na peça pronta. Para se obter, sem que haja a necessidade de se efetuar trabalhos de ajustagem, posicionamentos corretos nos encaixes de uma máquina, por exemplo, é necessário que as dimensões sejam mantidas dentro de uma determinada tolerância. Os encaixes podem ser com folga ou interferência (apertado), dependendo do tipo de produto e do tipo de serviço que será executado. A tolerância é determinada através de erros admissíveis nas medidas nominais de uma peça (NIEMANN, 1982; STEMMER, 1974). Devido a esta exigência e a de obter produtos de modo mais econômico, o erro admissível deve estar entre limites pré-fixados. O valor admissível do erro na forma ou na dimensão da peça é função das seguintes variáveis (KIRCHOFF, 1980; NIEMANN, 1982): a) Intercambiabilidade – É a possibilidade de se efetuar a montagem de um conjunto sem necessidade de ajuste algum, ou seja, tomando uma peça qualquer ao acaso, tem-se a certeza que a mesma desempenhará satisfatoriamente a função; b) Função – Sendo a peça um elemento de um conjunto, a função que a mesma desempenha pode ser crítica ou não e, portanto, sua fabricação requer maior ou menor precisão; c) Produção – Sendo a fabricação em série e de grande produção, as tolerâncias admissíveis são controladas, visando o barateamento das peças; d) Máquina-ferramenta – O erro admissível dependerá da qualidade e da tecnologia empregada para a fabricação da máquina-ferramenta; e) Operador – Qualificação e treinamento do operador podem resultar em peças bem acabadas. f) Instrumentos de medição – O instrumento de medição, e sua precisão, usado para a fabricação da peça. Ajustes e Tolerâncias Exemplo: Pastilhas do freio de um veículo. Tolerância Dimensional É muito difícil executar peças com as medidas rigorosamente exatas porque todo processo de fabricação está sujeito a imprecisões. Sempre acontecem variações ou desvios das cotas indicadas no desenho. Entretanto, é necessário que peças semelhantes, tomadas ao acaso, sejam intercambiáveis, isto é, possam ser substituídas entre si, sem que haja necessidade de reparos e ajustes. A prática tem demonstrado que as medidas das peças podem variar, dentro de certos limites, para mais ou para menos, sem que isto prejudique a qualidade. Esses desvios aceitáveis nas medidas das peças caracterizam o que chamamos de tolerância dimensional. As cotas indicadas no desenho técnico são chamadas de dimensões nominais. É impossível executar as peças com os valores exatos dessas dimensões porque vários fatores interferem no processo de produção, tais como imperfeições dos instrumentos de medição e das máquinas, deformações do material e falhas do operador. Então, procura-se determinar desvios, dentro dos quais a peça possa funcionar corretamente. Esses desvios são chamados de afastamentos. Os afastamentos são desvios aceitáveis das dimensões nominais, para mais ou menos, que permitem a execução da peça sem prejuízo para seu funcionamento e intercambiabilidade. Afastamentos Tolerância é a variação entre a dimensão máxima e a dimensão mínima. Para obtê-la, calculamos a diferença entre uma e outra dimensão. Tolerância A tolerância admissível aumenta com a dimensão nominal, isto é, quanto maiores as dimensões, em geral, maior poderá ser a tolerância para produtos. Na verdade, a eficiência de uma peça em um produto está associada ao desempenho que o mesmo deverá ter em relação as suas condições de trabalho (estanqueidade, velocidade, rotação e etc). A tolerância admissível varia aproximadamente com a raiz cúbica da dimensão nominal, ou seja, 3D. Assim, a unidade internacional de tolerância, cujo símbolo é “i”, é dada em micrometro [μm], cujo valor é obtido da relação (NIEMANN, 1982; STEMMER, 1974): Em que “D” entra em milímetros e “i” em micrometro. O segundo termo da relação só passa a ser expressivo para dimensões pequenas. Tolerância Admissível A base do estudo de tolerâncias e ajustes é a combinação de eixos e furos e é adotada a terminologia brasileira segundo a ABNT (NBR-6173, 1980). Definições Representação esquemática de furo e eixo. Fonte: KIRCHOFF, 1980. Furo – Toda peça na qual se considera a medida interna; Eixo – Toda peça na qual se considera a medida externa; Dimensão nominal – É a medida indicada no projeto. Sempre que possível deve ser usado um número normalizado com o intuito de reduzir o número de ferramentas e calibradores necessários. Símbolo: D para furo e d para eixo; Dimensão efetiva – É a dimensão obtida através da medição da peça pronta. As medições de precisão devem ser executadas em uma sala a 20 °C. Símbolo: Def para furo e def para eixo; Dimensão máxima – É o valor máximo admissível para a dimensão efetiva. Símbolo: Dmax para furo e dmax para eixo; Dimensão mínima – É o valor mínimo admissível para a dimensão efetiva. Símbolo: Dmin para furo e dmin para eixo; Tolerância – É a variação permissível da dimensão da peça, é dada pela diferença entre as dimensões limites (dimensão máxima e mínima). t = Dmax - Dmin ou t = dmax - dmin Definições Afastamento – É a diferença entre a dimensão limite e a dimensão nominal; Afastamento superior – É a diferença entre a dimensão máxima e a dimensão nominal. Pode ser valor positivo ou negativo. Afastamento inferior – É a diferença entre a dimensão mínima e a dimensão nominal. Pode ser valor positivo ou negativo. Linha zero – É a linha que fixa a dimensão nominal e serve de origem dos afastamentos, ou seja, é a linha que passa pela dimensão nominal. Medida tolerada – É o conjunto da medida nominal da peça acompanhada dos afastamentos superior e inferior. É representada da seguinte maneira: Definições Campo de tolerância – É o conjunto de valores compreendidos entre os valores limites dos afastamentos. É representado por um retângulo. Quando o retângulo é hachurado ou de cor, a representação é do campo de tolerância de um eixo; caso o retângulo seja branco, representa o campo de tolerância de um furo. Representação esquemática campo de tolerância. Fonte: STEMMER, 1974. Escolha da tolerância e indicação em desenho Para a escolha do campo de tolerância e sua posição, que depende da finalidade da peça, devem-se observar as seguintes regras: 1º) A finalidade da peça – Determinadas peças podem ter funções vitais no desempenho de um equipamento. Podem-se comparar duas situações extremas: a) Uma tampa de panela que se acopla em uma panela de cozimento de alimento. Neste caso, a tolerância e o acoplamento entre ambos não é rigoroso em relação ao segundo caso. b) Um eixo de motor que se acopla em um mancal de deslizamento, cujo eixo irá trabalhar com alta rotação. 2º) Método de produção – O processo de fabricação de peças pode determinar a tolerância permitida, tem-se como exemplo, peças fabricadas por fundição de areia permitem tolerâncias grandes em relação ao processo de fundição de precisão; 3º) Custo de produção – O custo de fabricação aumenta com a exigência de maior precisão. Isto significa que peças de maior qualidade exigem processo de fabricação mais específico para obtenção da qualidade, muitas vezes recorrendo-se de vários processos de fabricação para uma mesma peça.
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