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8- OFICINAS DE GERAÇÃO DE RENDA - 27 folhas

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1 
 
 
OFICINAS DE GERAÇÃO DE RENDA 
1 
 
 
Sumário 
NOSSA HISTÓRIA .......................................................................................... 2 
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 3 
GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA ............................................................ 5 
ECONOMIA SOLIDÁRIA ............................................................................... 10 
MINISTÉRIO DA SAÚDE E MINISTÉRIO DO TRABALHO ........................... 13 
PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA ....................................................................... 15 
TRABALHO ................................................................................................... 19 
OFICINA DE GERAÇÃO DE RENDA PARA O FAMILIAR ............................ 21 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 24 
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 25 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
NOSSA HISTÓRIA 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, 
em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo 
serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação 
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. 
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que 
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de 
publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 Um dos grandes desafios colocados para a intervenção em saúde mental 
encontra-se na dificuldade de acesso dos usuários à vida produtiva. Aponta-se, a 
despeito de todos os progressos, mudanças de paradigmas e práticas implementadas 
voltadas à reabilitação psicossocial, que a inclusão no mundo do trabalho ainda é 
uma importante barreira a ser transposta, objetivando alcançar melhores níveis de 
qualidade de vida e condições mais concretas de inclusão social. 
Considera-se que o valor do trabalho, enquanto prática que integraliza e 
legitima socialmente os indivíduos, é reconhecido nas diferentes classes sociais, 
grupos e comunidades. A oportunidade de voltar a integrar o mundo do trabalho – ou, 
em muitos casos, iniciar essa integração – amplia as possibilidades de alcance da 
inserção social e de melhores níveis de saúde e de qualidade de vida. Nesse sentido, 
sob a ótica da teoria bi ecológica de Bronfenbrenner, quando se proporciona aos 
usuários a oportunidade de vivência e aprendizado em oficinas de trabalho, pretende-
se também estender esses aspectos positivos à família, filhos e comunidade. Dessa 
forma, investe-se em situações que são potencialmente protetivas, tanto para a 
pessoa com transtorno mental, quanto para os indivíduos que compartilham com ele 
diferentes ambientes. 
A história da psiquiatria evidenciou o valor do trabalho como forma de 
intervenção. Desde a introdução do Tratamento Moral por Pinel a partir de 1773, na 
França, a instituição manicomial foi reconhecida como meio terapêutico e passou-se 
a atribuir ao trabalho um caráter terapêutico. Pode-se dizer que, no interior do 
manicômio, o trabalho sempre teve essa conotação. Contudo, com o movimento de 
desinstitucionalização, fortemente presente na Itália, evidenciou-se a discussão do 
direito dos portadores de transtorno mental ao trabalho, visto como forma de 
aquisição de renda e como promotor de autoafirmação, possibilitador de troca e de 
construção de redes sociais, que diminui o estigma ligado à doença mental. 
No Brasil, o movimento da Reforma Psiquiátrica questionou as instituições 
asilares e seus métodos de intervenção, entre eles a laborterapia e outras formas de 
ocupação, que provocam exclusão e segregação, e estimulou o investimento na 
implementação de serviços territoriais substitutivos da lógica manicomial. A escassez 
4 
 
 
de recursos institucionais levou profissionais técnicos a descobrirem e criarem 
recursos não institucionais, crescendo, por conseguinte, as alternativas territoriais de 
assistência à saúde mental. Ainda nesse raciocínio, pode-se dizer que, em 
contribuição à reforma psiquiátrica e suas propriedades básicas de assistência extra 
institucional, a inexistência dos recursos institucionais não determina somente 
recursos suplementares, mas práticas terapêuticas e assistenciais inovadoras, 
desmedicalizadas. 
Nessa medida, ressalta-se a importância de reflexões e ações que invistam na 
formação de futuros profissionais e no estímulo do desenvolvimento de práticas que 
buscam implantar ou consolidar ações inovadoras na área de saúde mental. No novo 
contexto de atenção em saúde mental, o trabalho passou a ser compreendido sob 
novas perspectivas e concebido como recurso de produção e troca de mercadorias e 
de afetos e não mais simplesmente como instrumento terapêutico. De acordo com 
Rotelli: 
 
O trabalho pode ser o ocultamento das necessidades ou pode ser o processo 
através do qual se amplia o leque das necessidades. Pode ser o modo 
através do qual uma pessoa troca com o mundo e pode ser, ao invés disso, 
o modo pelo qual uma pessoa pode permitir-se não trocar mais nada com 
ninguém. Pode ser as duas coisas, mas, se advém de um processo de 
formação e se a inserção no trabalho, mais do que ser uma adaptação a um 
mundo circunscrito, se transforma em um processo de formação, então o 
discurso se modifica e aí acontecem coisas muito interessantes que estão 
relacionadas com a progressividade (p. 182). 
No entanto, no Brasil, é ainda ambíguo o caráter atribuído ao trabalho, tanto 
por parte dos serviços de saúde mental, como pelos próprios usuários, pois ora é 
concebido como instrumento terapêutico, ora como forma única de conquistar e 
exercer cidadania. Uma pesquisa desenvolvida por Silva identificou que quando o 
usuário se refere à sua experiência individual o trabalho assume um caráter 
terapêutico, porém, quando se refere ao coletivo, adquire um significado articulado 
com o mundo e o tempo contemporâneo, contextualizado dentro dos conceitos da 
divisão de classes sociais e relacionado ao acesso à cidadania. 
Atualmente, avançando na direção dos princípios da reforma psiquiátrica e da 
desconstrução do modelo manicomial, tem-se buscado alcançar intervenções no 
território relacionadas à reconstrução da identidade dos sujeitos e ao reencontro da 
sua individualidade a partir do uso do trabalho. Essas são medidas que, direta ou 
5 
 
 
indiretamente, estão pautadas pelos ganhos obtidos em decorrência da reforma 
psiquiátrica italiana e de sua disseminação e, em particular, a sua adaptação no 
Brasil. É no campo da formação e capacitação de alunos e de profissionais que atuam 
direta ou indiretamente na reabilitação psicossocial, com práticas de trabalho 
oferecidas para pessoas com transtornos mentais, da análise e do questionamento 
debruçados sobre o trabalho desenvolvido em oficinas de geração de renda que se 
situa este estudo. 
 
GERAÇÃO DE TRABALHO E RENDA 
 
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) (2005, p.18) define em seu 
documento sobre geração de renda o conceito da mesma como “a possibilidadede 
criação de força de trabalho que por sua vez gerará renda ao trabalhador”. Nessa 
lógica, a qualificação profissional capacita o trabalhador para fazer frente às 
necessidades do mercado de trabalho, levando em consideração as próprias 
características do trabalhador. Segundo a mesma organização, essa é uma das 
formas mais eficazes para redução do desemprego, o combate à pobreza e a 
violência, além de favorecer a produtividade, a qualidade e a competitividade. 
Conforme exposto por Maia e Cesar (2008) é possível identificar uma inserção 
crescente no mercado de trabalho, por meio de experiências de trabalho no campo 
da informalidade devido as propostas implementadas nas Organizações não 
Governamentais e Governamentais para enfrentamento do desemprego. Essas 
iniciativas são fundamentais para a minimização dos efeitos econômicos e sociais 
oriundos das constantes mudanças em curso, além de contribuírem para propostas 
de reinclusão social na afirmação do desenvolvimento com cidadania. Esses autores 
afirmam a importância da adoção de um padrão de desenvolvimento que valorize as 
iniciativas locais, suas características específicas e, sobretudo, impulsione o resgate 
das potencialidades existentes como parte das estratégias de enfrentamento da 
pobreza e dos seus problemas decorrentes. 
Segundo orientações da OIT (2005), a implantação de um programa de 
geração de renda e capacitação profissional precisa seguir uma estratégia 
6 
 
 
denominada Qualificação Profissional Vinculada à Demanda Local. Para isso são 
necessárias algumas etapas: 
 
 Identificação e avaliação da oportunidade de geração de renda; 
 
 Desenvolvimento do plano de negócios; 
 
 Determinação e captação dos recursos necessários; 
 
 Capacitação da equipe envolvida; 
 
 Abertura e gerenciamento do negócio criado; 
 
 Assessoria profissional até a estruturação do negócio. 
 
 
Partindo do pressuposto de uma teoria da empregabilidade/sustentabilidade, o 
desenvolvimento de oficinas de capacitação para usuários atendidos por programas 
e projetos de geração de renda são como um passaporte para a reinserção no 
mercado restrito de trabalho ou para o trabalho autônomo (MAIA; CESAR, 2008). Na 
atual conjuntura, esses são considerados como estratégias de enfrentamento do 
desemprego, assumindo diversas configurações no chamado campo das políticas de 
inclusão social como uma ação emergencial. 
Embora a vulnerabilidade social seja um conceito de recente formulação para 
Padoim e Vergolim (2010) há um consenso entre os autores que estudam essa 
temática, de que a essa abrande inúmeras dimensões, a partir das quais identifica-se 
situações de vulnerabilidade dos indivíduos, famílias ou comunidades. Essas 
dimensões estão ligadas a características grupais e individuais e também do meio 
social no qual estão inseridos. 
É importante compreender que quando se fala em vulnerabilidade social, 
aponta-se para um estado no qual grupos ou indivíduos se encontram, destituídos de 
capacidade para ter acesso aos equipamentos e oportunidades sociais, econômicas 
7 
 
 
e culturais oferecidos pelo Estado, mercado e sociedade. A falta de acesso a 
elementos considerados fundamentais para o desenvolvimento dos recursos 
materiais e socioculturais como: educação, lazer, trabalho e cultura, corroboram para 
o crescimento da situação de vulnerabilidade social. 
Um estudo realizado pelos autores Pinto et al (2010), aprofunda a temática da 
mulher em situação de vulnerabilidade social dentro da condição feminina de chefe 
de família aponta: que tem ocorrido um crescimento significativo de famílias 
monoparentais, em especial aquelas onde a mulher assume a chefia do domicílio. 
Com base nos estudos do IBGE (2009), o documento Síntese dos Indicadores 
Sociais apresenta dados estatísticos, referenciado entre os anos de 1998 e 2008, que 
ratificavam um significativo aumento de mulheres nessa condição, tendo um 
crescente de 25,9% para 34,9%. Já no ano de 2014, o Relatório Anual 
Socioeconômico da Mulher (RASEAM) aponta que no ano de 2012 em quase 38% 
dos domicílios brasileiros a mulher é tida como a pessoa de referência, ou seja, 
responsável pelos seus membros (RASEAM, 2014). Os dados de forma mais 
específica são apresentados pelo Gráfico. 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
De acordo com os dados apresentados no Gráfico, em 2012 entre as famílias 
chefiadas por mulheres 42,7% eram compostas por mulheres sem cônjuge e com 
filhos em contrapartida, o percentual de famílias chefiadas por homens nessa mesma 
situação era de 3,5%. Além disso, quando somados as famílias formadas por casais 
com filhos o percentual vai para 65,6%, isso demonstra o quanto a mulher ainda 
assume em grande parte o papel social do cuidado de seus dependentes de forma 
mais incidente que os homens. Em relação à jornada de trabalho, quando somada ao 
tempo dedicado aos afazeres domésticos, a mulher possui uma jornada total superior 
à dos homens, conforme detalha o Gráfico 2 com diferenciações entre o setor rural e 
urbano. 
9 
 
 
 
 
Pelo exposto no Gráfico 2, a jornada total das mulheres quando considerado o 
tempo dedicado ao trabalho principal juntamente com os afazeres domésticos 
ultrapassa 55 horas semanais, superior à jornada total dos homens que é de mais de 
51 horas semanais. Tal diferença se acentua quando analisados o meio urbano em 
que as mulheres passam a ter uma jornada total de aproximadamente 57 horas 
semanais em relação aos homens com 52,2 horas. Quanto ao vínculo empregatício, 
constate-se que entre as mulheres 28,4% possuem carteira assinada contra 71,6% 
que não possuem já entre os homens o percentual de carteira assinada aumenta para 
50,2% e os que não possuem para 49,8% (IBGE,2012). Nesses achados para Pinto 
et al (2010) existe uma estreita relação entre chefia feminina e pobreza, em 
consequência da ocupação de postos de trabalho com baixa remuneração e 
vinculação a atividades informais, estando a mulher mais sujeita às oscilações do 
mercado de trabalho do setor informal. 
 
 
 
10 
 
 
ECONOMIA SOLIDÁRIA 
Desde a década de 70 vem tomando impulso no Brasil o que hoje chamamos 
de "economia solidária". São iniciativas que incluem grupos de produção, vendas, 
grupos de auto-gestão, cooperativas de trabalhadores, grupos de trocas, etc. 
Segundo Paul Singer, 
 
“A economia solidária é a resposta organizada à exclusão pelo mercado, por 
parte dos que não querem uma sociedade movida pela competição, da qual 
surgem incessantemente vitoriosos e derrotados. É antes de qualquer coisa 
uma opção ética, política e ideológica, que se torna prática quando os 
optantes encontram os de fato excluídos e juntos constroem 
empreendimentos produtivos, redes de trocas, instituições financeiras, 
escolas, entidades representativas, etc., que apontam para uma sociedade 
marcada pela solidariedade, da qual ninguém é excluído contra vontade” 
(Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde et al. 2005.p.11). 
 
 
 
 
Ela é identificada por uma forma de gestão onde a propriedade é de todos que 
produzem e a administração é coletiva. São empresas autogeridas pelas pessoas que 
produzem e se articulam com mercados consumidores. 
Cruz 2006 define economia solidária como: 
 
“O conjunto das iniciativas econômicas associativas, nas quais (a) o trabalho, 
(b) a propriedade de seus meios de operação (de produção, de consumo, de 
crédito etc.), (c) os resultados econômicos do empreendimento, (d) os 
conhecimentos acerca de seu funcionamento e (e) o poder de decisão sobre 
as questões a ele referentes são compartilhados por todos aqueles que dele 
participam diretamente, buscando efetivamente relações de igualdade e de 
solidariedade entre seus partícipes (Cruz 2006. p.89). 
 
Esta economia vem se apresentando como uma possibilidade de reinserção 
social de vários grupos que estiveram durante muito tempo fora do mercado de 
trabalho e dastrocas sociais, como presidiários, ex-presidiários, usuários de saúde 
mental e comunidades carentes. 
A experiência tem mostrado que tanto pessoas que fazem uma crítica a esse 
modelo, quanto pessoas que foram excluídas ou nunca incluídas nele, têm construído 
alternativas viáveis de trabalho e renda e também de luta por uma sociedade mais 
justa para todos (Ministério Da Saúde, Secretaria De Atenção À Saúde et al., 2005). 
11 
 
 
Essa outra economia, que por ter em seus princípios e características a 
cooperação, autogestão, atuação econômica e solidariedade, acolhe uma infinidade 
de cidadãos, dando ao trabalhador a responsabilidade e liberdade frente ao trabalho, 
podendo assim ter respeitados seus corpos e suas subjetividades. 
Singer, respondendo a Oliveira sobre o que é Economia Solidária, aponta que: 
 
 “...costumamos definir economia solidária como um modo de produção que 
se caracteriza pela igualdade. Pela igualdade de direitos, os meios de 
produção são de posse coletiva dos que trabalham com eles – essa é a 
característica central. E a autogestão, ou seja, os empreendimentos de 
economia solidária são geridos pelos próprios trabalhadores coletivamente 
de forma inteiramente democrática, quer dizer, cada sócio, cada membro do 
empreendimento tem direito a um voto (Oliveira 2008. p. 289). 
 
 
 
No âmbito de políticas públicas, o Governo de Luiz Inácio Lula da Silva criou, 
em 2003, a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), vinculada ao 
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). 
Além da SENAES, existem outros programas governamentais voltados à 
economia solidária. Por exemplo, têm aumentado o apoio aos empreendimentos 
populares solidários, com destaque para os programas de microcrédito - Bancos do 
Povo - as ações de capacitação socioprofissional, a implantação de centros populares 
de comércio, entre outras iniciativas. O intercâmbio entre tais iniciativas fez surgir uma 
rede de gestores governamentais para promover a troca de experiências e o 
fortalecimento das políticas públicas no âmbito da economia solidária a nível 
municipal, estadual e federal. 
A economia solidária no Brasil teve um forte impulso a partir de uma oficina 
denominada “Economia Popular Solidária e Autogestão” que ocorreu em 2001 
durante o I Fórum Social Mundial. Uma das principais deliberações desta oficina foi a 
constituição do Grupo de Trabalho Brasileiro de Economia Solidária (GT- Brasileiro), 
composto por representantes de diferentes organizações associativas. 
Em 2006, após a realização das Conferências Estaduais, quando foram 
escolhidos os delegados e definidas as reivindicações e propostas, realizou-se a I 
Conferência Nacional de Economia Solidária, em Brasília. Nesta oportunidade foram 
discutidas as resoluções voltadas à participação no Conselho Nacional de Economia 
12 
 
 
Solidária e propostas para políticas públicas para a Economia Solidária (F.B.E.S 
2009). Quanto à organização e funcionamento, integram o FBES os três segmentos 
do campo da Economia Solidária: empreendimentos da economia solidária, entidades 
de assessoria e/ou de fomento e gestores públicos. 
 
Empreendimentos econômicos solidários são organizações com as seguintes 
características: 
1) são coletivas (organizações supra familiares, singulares e complexas, tais 
como associações, cooperativas, empresas autogestionárias, clubes de trocas, redes 
e grupos produtivos); 
2) seus participantes ou sócios são trabalhadores que exercem coletivamente 
a gestão das atividades, assim como a alocação dos resultados; 
3) são organizações permanentes, incluindo os empreendimentos que estão 
em funcionamento e os que estão em processo de implantação, com o grupo de 
participantes constituído e as atividades econômicas definidas; 
4) podem ter ou não um registro legal, prevalecendo a existência real; 
5) realizam atividades econômicas que podem ser de produção de bens, 
prestação de serviços, de crédito (finanças solidárias), de comercialização e de 
consumo solidário. 
 
Entidades de assessoria e/ou fomento são organizações que desenvolvem 
ações nas várias modalidades de apoio direto junto aos empreendimentos solidários, 
tais como: capacitação, assessoria, incubação, pesquisa, acompanhamento, fomento 
ao crédito, assistência técnica e organizativa. Gestores públicos são aqueles que 
elaboram, executam, implementam ou coordenam políticas de economia solidária no 
âmbito de prefeituras e governos estaduais. 
 
 
 
13 
 
 
MINISTÉRIO DA SAÚDE E MINISTÉRIO DO TRABALHO 
 
Até aqui pudemos notar que tanto a economia solidária quanto a reforma 
psiquiátrica tem em comum a luta por uma sociedade diferente, mais justa e 
igualitária. Como diz Delgado, citado por Singer: 
 
“a economia solidária e o movimento antimanicomial nascem da mesma 
matriz – a luta contra a exclusão social e econômica. Uns são excluídos (e 
trancafiados) porque são loucos, outros porque são pobres. Há ricos, que 
enlouquecem porque empobreceram e há pobres, que enlouquecem porque 
ninguém os nota (o que é uma forma particularmente cruel de exclusão). A 
matriz comum de ambos é uma sociedade que fabricam pobres e loucos de 
modo casual e inconsciente.” (Ministério da saúde, secretaria de atenção à 
saúde et al.,2005. p.11). 
 
 
 
Assim, a partir dos anos 90 começam a surgir grupos de trabalho de usuários 
dos serviços de Saúde Mental, muitos deles já diretamente assessorados por 
incubadoras tecnológicas de cooperativas populares. Exemplos com maior 
visibilidade são a Cooperativa da Praia Vermelha (RJ), o Núcleo de Oficinas 
Terapêuticas (SP), a Geração POA (RS), a Trabalharte (MG) e a Suricato (MG). Sabe-
se que outras experiências existiam e existem nas capitais e no interior do País. 
Em 2004 os Ministérios da Saúde e do Trabalho realizaram uma “Oficina de 
Experiências de Geração de Renda e Trabalho” que contou com a participação de 78 
grupos de todo o Brasil. Desta oficina foram encaminhadas três propostas: a criação 
e consolidação da Rede Nacional de Experiências de Geração de Renda e Trabalho 
em Saúde Mental; a criação de um mecanismo de articulação entre a Área Técnica 
de Saúde Mental e a Secretaria Nacional de Economia Solidária e suas respectivas 
políticas; a criação e manutenção de incubadoras que apoiem, capacitem e fomentem 
iniciativas de Geração de Renda e Trabalho em Saúde Mental. 
Nesse encontro o Ministério da Saúde contabilizava aproximadamente 239 
experiências de inclusão social pelo trabalho mapeados no Brasil (Ministério Da 
Saúde, Secretaria De Atenção À Saúde et al., 2005). A partir dos encaminhamentos 
da oficina, criou-se um grupo virtual de discussões com participantes da oficina, 
culminando, em março de 2005, com a constituição de um Grupo de Trabalho (GT) 
14 
 
 
interministerial Saúde Mental e Economia Solidária, através da Portaria 
Interministerial n° 353. 
O Grupo de Trabalho foi composto por representantes do Ministério da Saúde; 
Ministério do Trabalho e Emprego; Colegiado Nacional de Coordenadores de Saúde 
Mental; Rede de Gestores de Políticas Públicas de Fomento à Economia Solidária; 
Fórum Brasileiro de Economia Solidária; Rede de Experiências de Geração de Renda 
e Trabalho em Saúde Mental; e Usuários de Saúde Mental inseridos em Experiências 
de Geração de Renda e Trabalho vinculados a Serviços de Saúde Mental. 
As discussões do GT levaram à definição de quatro eixos principais de 
aprofundamento e debates durante os seis meses iniciais a partir de sua instalação: 
mapeamento (articulação/divulgação/ rede de produção e comercialização); formação 
(capacitação/assessoria/incubagem); financiamento; legislação (Ministério Da Saúde, 
2006). O GT conseguiu aprovar a portaria nº 1.169, de 7 de julho de 2005, que destina 
incentivo financeiro a municípios que desenvolvam projetos de inclusão social pelo 
trabalho destinados a pessoas portadoras de transtornos mentais e/ou de transtornosdecorrentes do uso de álcool e outras drogas. 
 Outra atividade do GT foi a organização da primeira Turma Nacional de 
Formação em Economia Solidária para gestores municipais de saúde mental, em 
2006, que teve como objetivo subsidiar a elaboração de planos de ação para inserção 
laboral dos usuários de serviços de saúde mental. Além disso, realizou o mapeamento 
e cadastramento das experiências, resultando, em 2006, em 182 experiências 
cadastradas em 57 municípios situados em 17 estados (Saúde, 2006). 
Em 2004, o Ministério da Saúde já tinha cadastradas 345 iniciativas de inclusão 
social pelo trabalho em todo o Brasil. A coordenação nacional de saúde mental 
mantém o acompanhamento destas iniciativas através do Cadastro Nacional das 
Iniciativas de Inclusão Social pelo Trabalho. 
 
 
 
 
15 
 
 
PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA 
 
A família é fundamental para o usuário da saúde mental, pois ela tem que 
participar ativamente no tratamento, dar o apoio e suporte para o cuidado que 
necessitam, assim como auxiliar no resgate para autonomia. 
A partir da intervenção aos familiares, através da Oficina de Experimentações 
de Geração de Renda, foi possível perceber o que eles entendem por família e qual 
seu papel no apoio ao usuário. Assim, foi observado que para os familiares, família 
são pessoas que moram na mesma casa. Os pais, irmãos e filhos que não moram 
junto e que eles não têm contato não são considerados do núcleo familiar. Esse modo 
de pensar família restringe-se apenas as pessoas que dividem o mesmo espaço 
habitacional. Através dessa observação pode-se perceber a rede de suporte familiar 
do usuário pequena. 
Atrelado a isso, observa-se a qualidade desse suporte familiar quando os 
usuários nas oficinas trazem nas suas falas que, muitas vezes sentiram-se 
discriminados e rotulados de loucos pelos seus familiares. Entende-se que a família 
tem um papel importante no desenvolvimento e no crescimento de seus membros. 
No contexto familiar dos usuários participantes da oficina, observa-se que a maneira 
de tratá-los, está carregada de preconceitos o que pode ser considerado um fator de 
risco para o usuário podendo potencializar o sofrimento mental. 
A Família pode ser considerada fator de risco ou fator de proteção para as 
pessoas com sofrimento mental. Alguns fatores de risco como os conflitos e os afetos 
exagerados ou a falta deles podem potencializar o sofrimento mental dessas pessoas. 
Por outro lado, o diálogo, o cuidado, o desejo de auxiliar no despertar a autonomia do 
usuário podem ser considerados fatores de proteção potencializando ganhos em 
saúde mental como independência e bem-estar dentre outros. Neste contexto, os 
fatores de risco e de proteção devem ser compreendidos e atrelados ao papel da 
família de acordo com as mudanças sociais. 
Nesse sentido, Santin e Klafke (2011, p.1) entendem que: 
 
Ao mesmo tempo em que o mundo muda sua forma de ver e de se relacionar 
com a loucura, também o papel da família na sociedade também passa por 
16 
 
 
inúmeras transformações. Muda a forma de se pensar a implicação da família 
no aparecimento da doença mental, uma vez que a literatura atual sobre o 
tema coloca a família tanto como a grande causadora do adoecimento 
psíquico quanto como potente meio de cuidado e melhora. 
 
 
 
Esta aparente ambiguidade da família aparecer como fator protetivo, mas 
também como um fator de risco justifica-se quando se considera a família como o 
grupo social básico da pessoa, cuja estrutura e função são decisivos em seu 
desenvolvimento. A família protetiva, continente, segura, com ambiente incentivador, 
com um bom vínculo, com ausência de discórdia conjugal severa e como 
enfrentamento positivo de problemas, nas quais as relações são permeadas por afeto, 
equilíbrio de poder, cuidados adequados, senso de pertencimento e disciplina 
consistente propicia a ter membros saudáveis emocionalmente, sociáveis e 
resilientes. Entretanto, para Melman (2008), através dos seus estudos relata que a 
família e o ambiente familiar, pode ser entendido também como um agente estressor 
para a pessoa com sofrimento mental. 
É fato que a família pode ser considerada como fator de risco ou de proteção 
em determinados momentos e de acordo com o papel que desempenham no cuidado 
de seus membros (BRASIL, 2007). Os familiares dos usuários que participaram da 
oficina entendem que seu papel familiar restringe-se aos cuidados das necessidades 
básicas do usuário como: alimentação, roupas, ter uma casa para morar, levar no 
CAPS e auxiliar na medicação. Alguns familiares dizem que procuram conversar e 
saber o interesse que eles têm pelas atividades. Outros relatam não conseguirem 
comparecer ao CAPS e nem ao grupo dos familiares que é realizado uma vez na 
semana. Enquanto outros familiares ficam somente no controle e organização dos 
medicamentos para que os usuários não cometam o suicídio através da medicação. 
Segundo Schrank e Olschowsky (2008), as famílias não comparecem ao 
CAPS, não tem conhecimento do Projeto Terapêutico Singular- PTS do usuário e nem 
do tratamento. O cuidado está voltado apenas na administração da medicação do 
usuário. Assim se sabe que o tratamento não se restringe apenas a medicamentos, 
mas, também a ações e procedimentos que visem a uma reintegração familiar, social 
e profissional, bem como a melhoria na qualidade de vida do usuário. 
Observa-se, dessa forma, que as famílias estão pouco inseridas no cuidado 
dos usuários e que não conseguem estar presentes no CAPS e ter uma 
17 
 
 
corresponsabilização do cuidado. Também se observa a falta de diálogo, de troca de 
afetos positivos, de reciprocidade, de estabilidade, o que pode tornar a família como 
fator de risco potencializando o sofrimento mental do usuário. 
No contexto do sofrimento mental, cuidar, transforma-se em tarefa difícil, seja 
pela ausência de comprometimento e de apoio dos outros membros do núcleo 
familiar, seja pelas demandas do familiar doente que exigem uma atenção maior do 
familiar. Com relação à corresponsabilização da família com o tratamento do usuário 
observa- se que não sabem o que realmente o usuário faz no CAPS e em que esta 
sendo terapêutico para ele as atividades. 
Os familiares gostariam que os usuários fossem todos os dias para o CAPS e 
fizessem todas as atividades oferecidas. Dessa forma, entende-se que a família esta 
distante da construção do PTS do usuário. Em outros momentos observa-se que o 
usuário não segue seu PTS. Uma usuária relatou na oficina que não segue o seu 
PTS, pois tem vergonha de fazer os grupos, diz se sentir menos inteligente que os 
outros e que fica triste com isso, então vai apenas ao dia do atendimento individual 
da Psicologia. Outro familiar diz que a usuária conversa sobre a oficina e o CAPS e 
que gostaria de morar no serviço. Assim, observa-se um distanciamento do usuário 
com as relações familiares transpondo essas relações para o CAPS além de um 
distanciamento com a equipe de referência na construção do PTS de forma 
significativa para o usuário. 
Alguns familiares argumentam que as pessoas não podem achar que o mundo 
é só o CAPS e que elas precisam ter força de vontade de viver e conviver com as 
outras pessoas tem que convidar as amigas para tomar chá em casa, para sair 
daquele mundo e conviver com sua família demonstrando que a rede de apoio familiar 
atuando como fator de proteção pode promover saúde mental ao usuário e familiares 
ampliando assim as relações sociais. Dessa forma, entende-se que a vida, o cuidado 
e as relações sociais do usuário não podem ficar apenas no CAPS e sim para além 
dele. O familiar também tem que ser corresponsabilizado pelo tratamento, pelo PTS 
do usuário. 
Por outro lado vê-se a autonomia e empoderamento que os usuários têm, e 
com isso entende-se porque o CAPS se torna a casa, o refúgio e muitas vezes a única 
família que possuem, entretanto pode ser um lugar maisadoecedor para os usuários, 
18 
 
 
pois a falta de rede de saúde mental, de outro serviço de CAPS II e Centro de 
Convivência acarretam aos usuários ficarem encapsulados e cronificados ao CAPS, 
a sua ‘’doença’’ e suscetíveis à crises. Segundo Mello e Furegato (2008), os CAPS 
foram criados para beneficiar as pessoas com sofrimento mental, mas pode surgir o 
risco de uma cronificação dos usuários dentro desses serviços. O CAPS não deve 
tornar-se um refúgio, a casa, e nem a família, mas um espaço que os usuários e os 
familiares obtenham um apoio e um suporte para o cuidado e onde seja propiciada a 
continuidade de suas vidas. 
A percepção de familiares, no estudo de Vanzela e Pegoraro (2018), é de que 
os CAPS são uma nova institucionalização, que cronifica as pessoas com sofrimento 
mental, pois o CAPS pode favorecer o exercício da cidadania, ora ocupar, ora 
aproximar usuário da sociedade, ora tutelar ora segregar e proteger. 
Na maioria dos casos, o envolvimento do familiar é remetido ao cuidado 
clínico. Não há relatos da participação familiar no PTS do usuário do Caps, 
que deve ser construído em conjunto com os sujeitos envolvidos 
(profissionais, familiares e usuários), tendo como referencial as histórias 
singulares de cada um, especialmente quando relacionadas ao sofrimento 
psíquico (COVELO e BADARÓ- MOREIRA, 2015, p. 1137). 
 
Na concepção de Carvalho et al. (2012), os familiares não participam e nem 
discutem sobre as ações do PTS, o tratamento e o cuidado dos usuários, o que 
considera muito importante para estabelecer uma rede de apoio, o desenvolvimento 
da autonomia, do vínculo e da integração e parceria no tratamento dos usuários, pois 
se efetiva quando as redes sociais e a família ligam-se no cuidado, por meio da troca 
de informações e execução das ações. 
Incluir a família no CAPS como um agente ativo de participação no tratamento 
dos usuários representa para o serviço de saúde mental um desafio e uma mudança 
de práticas terapêuticas, passando então a destinar a dedicação não mais no 
atendimento individual, ressaltando o sofrimento mental como único foco, mas na 
coletividade de seus relacionamentos sociais, afetivos, sociais e familiares. 
 
 
 
19 
 
 
TRABALHO 
 
O trabalho se torna terapêutico para a pessoa com sofrimento mental, produz 
sentido e valor para vida delas, promove a inclusão e amplia as relações sociais. 
Deixando de ser vistos como doentes e passando a ser mais reconhecidas. Na 
concepção de Lussi e Morato (2012), o trabalho está exatamente interligado ao 
resgate de atitudes, de sentimentos, de capacidades e de habilidades que antes 
estavam apagadas. O trabalho é uma importante ferramenta para a autonomia dos 
usuários do serviço de saúde mental, além de promover a autorrealização e o 
autoconhecimento possibilita uma redução da ociosidade. Porém, identificou-se que 
os usuários que experienciaram práticas de processos de decisão democrática e 
autogestão no ambiente de trabalho apresentaram maior autonomia no trabalho que 
desenvolvem mesmo modo em relação à própria vida do que usuários que não 
participam desse tipo de prática. 
Os familiares dos usuários participantes da oficina entendem trabalho como 
qualquer atividade realizada, como exemplo, o serviço doméstico feito pela mulher na 
sua casa. Trabalho é relacionado como ocupação podendo ou não ser remunerado. 
Relatam também que há várias formas e tipos de trabalho, como ações voluntárias 
que ajudam outras pessoas. 
Amarante (2007) mostra que Franco Basaglia implicou-se com esta questão, 
propondo que os usuários da saúde mental pudessem ser capazes de desempenhar 
atividades de trabalho e, que fossem remunerados. Entretanto a administração do 
hospital não consentiu, já que os julgavam “loucos”. Portanto justificou o trabalho 
como voluntário e terapêutico, para além da função de ocupação da mente, 
possibilitando a autonomia e estimulando a independência do usuário. 
A maioria dos usuários já trabalhou, mas deixou de trabalhar por causa do 
sofrimento mental que possuíam anteriormente ao trabalho, desencadeados por 
vivências traumáticas na infância ou início da fase adulta. Outros deixaram de 
trabalhar por dificuldade em se adaptar ao emprego sendo este um fator 
desencadeante do sofrimento mental. Há relatos de dificuldades enfrentadas pelo 
usuário de se manter no emprego, como a rotina, pressão, cobrança e a sobrecarga 
20 
 
 
de trabalho que pode ser um fator de risco para pessoas com sofrimento mental. Por 
exemplo, uma usuária perdeu seu trabalho, pois não poderia ser contrariada. 
Foi demitida por agressão física e nunca mais trabalhou. Depois do acontecido 
foi internada em um Hospital Psiquiátrico e hoje está buscando uma aposentadoria 
entendendo que não consegue trabalhar, pois se irrita muito fácil. Se por um lado há 
um entendimento de que o trabalho pode trazer benefícios à saúde do usuário, por 
outro, este pode apresentar-se como prejudicial à saúde, manifestando alguns receios 
e indicando que o trabalho pode interferir de modo negativo na vida dos usuários. 
Outro aspecto observado nas falas dos familiares diz respeito ao medo de 
voltar a trabalhar e perder indenizações, auxílio-doença ou outro benefício 
assistencial. O medo relatado parece estar relacionado ao fato de, caso não 
conseguissem se adaptar ao trabalho, não conseguiriam novamente o benefício. 
Segundo Lopes (2013), os usuários não estão inseridos no mercado formal, mesmo 
este sendo tão importante por vários motivos, tais como: dificuldades de ofertas de 
vagas para este seguimento, medo do novo, do estigma, do preconceito, de se 
acharem incapazes, receio da perda do benefício (às vezes a única fonte de renda), 
dentre outras questões subjetivas e da sociedade capitalista. 
Nesse contexto, um familiar relatou em uma visita da equipe que o usuário 
deixou de trabalhar por medo de perder uma indenização que há mais de 10 anos 
esperava ganhar judicialmente e, assim, foi se acomodando e atualmente recebe o 
Benefício de Prestação Continuada- BPC. 
Alguns usuários não recebem nenhum benefício ou tiveram o auxílio-doença 
negado pelo INSS e vivem com a ajuda dos familiares. Outros usuários são 
interditados e recebem o BPC e o familiar tem a curatela. Nesse caso temos o 
exemplo de um usuário interditado, ganhando o BPC, e que não morava junto com 
seu curador. O curador enviava alguma parte do dinheiro não se responsabilizando 
pelo cuidado do usuário. Foi realizada a troca de curatela e hoje outro familiar que 
mora junto com o usuário recebe o dinheiro e usuário utiliza para autocuidado e 
alimentação (cortar o cabelo, fazer as unhas, comer xis, tomar refrigerante, comprar 
roupas). Outra família relata que a usuária não é interditada. Recebe o BPC que usa 
para comprar sua medicação, que é cara e às vezes não dá para comprar todos os 
21 
 
 
medicamentos, então sua família ajuda, estão tentando conseguir pela justiça a 
medicação. 
Na concepção de Sartor (2017), os usuários tem receio de perder o benefício 
e por isso não querem se inserir em trabalho formal e preferem participar das oficinas 
de geração de renda, mesmo ganhando pouco dinheiro, ficam para eles 
administrarem e o benefício para a família. 
 
OFICINA DE GERAÇÃO DE RENDA PARA O FAMILIAR 
 
O usuário deixa de ser o ’’louco’’, e passa a ser independente e autônomo 
participando da oficina de geração de renda sendo esse um processo de extrema 
importância para o tratamento. Essas ações fazem com que os usuários tenham 
maior autonomia, inclusão social uma rede apoio e relação extra CAPS. 
Os Programas como a Geração de Renda e a Economia Solidária são 
entendidos como um meio de trabalho que possibilita aos usuários da saúde mental 
terem um espaço para desenvolver suas habilidades, de reconhecimento social, 
reconquistar a capacidade de autonomia e garantir o acesso aos direitos de cidadão 
entre outros aspectos.As iniciativas de geração de trabalho e renda/empreendimentos solidários/ 
cooperativas sociais de que trata o § 1º deste artigo devem articular 
sistematicamente as redes de saúde e de economia solidária com os 
recursos disponíveis no território para garantir a melhoria das condições 
concretas de vida, ampliação da autonomia, contratualidade e inclusão social 
de usuários da rede e seus familiares (Portaria n° 3088/2011, p.5). 
 
 
 
 
No entendimento dos familiares a oficina de geração de renda ajuda a produzir 
uma renda para o usuário usufruir de alguma forma e se sentir útil com relação aos 
outros. Os familiares acreditam que o trabalho dessa oficina para a pessoa com 
sofrimento mental é bom, é gratificante, pois não ficaria sem fazer nada, poderia se 
distrair e se sentiria melhor. 
22 
 
 
No CAPS as oficinas de trabalho e geração de renda constituem-se em um 
processo de extrema importância, é um espaço de superação de desigualdade, 
inclusão social e um complemento do tratamento e intervenção dos usuários. 
A importância da geração de renda como recurso terapêutico é explicitada 
pelos familiares no aumento da autoestima, autonomia, distração dos usuários para 
que eles saibam que tem capacidade de fazer alguma coisa, e o fato de ganhar 
dinheiro ou ter uma renda não importa, o que importa é participar da oficina e se 
sentirem bem. Um familiar também relaciona a oficina de geração de renda à terapia 
relatando que é tudo aquilo que ocupa a mente e o corpo. Até um jogo de futebol pode 
ser terapêutico, então a Oficina de Experimentações de Geração de Renda é 
terapêutica também, ela exercita o físico, mental e todo corpo, isso é terapêutico e 
traz saúde mental, concepção dos familiares. Para Sartor (2017), a geração de renda 
é um importante recurso terapêutico, uma ocupação, uma valorização e uma 
ampliação de trocas sociais para as pessoas com sofrimento mental. 
Os familiares tem conhecimento que os usuários participam da Oficina de 
Experimentações de Geração de Renda e estão empolgados com a atividade. 
Relatam perceberem melhora dos usuários depois da oficina no comportamento, nos 
sentimentos e emoções, aumento na autoestima, ficam mais incentivados a fazerem 
suas atividades e afazeres domésticos, e estão socializando muito mais com as 
pessoas de fora do CAPS. Esses relatos corroboram com Lussi e Pereira (2014), 
onde afirmam que essas oficinas geram um ambiente acolhedor e protegido, 
promovem a recuperação dos desejos, a vontade de aprender e elevam a autoestima. 
Segundo Amarante (2007), a atenção psicossocial e as políticas de saúde 
mental passaram a empregar estratégias mais concretas e específicas, na criação 
dos projetos de geração de renda para usuários da saúde mental. Com os projetos 
de geração de renda, o trabalho deixou de ser uma atividade terapêutica (orientada, 
prescrita, protegida), uma simples forma de controle institucional ou forma de 
ocupação do tempo ocioso, para se tornar uma estratégia de cidadania, emancipação 
social e de autonomia, instituindo diversas iniciativas de inclusão social pelo trabalho. 
Observa-se, contudo, que alguns familiares conseguem perceber avanços 
relacionados à inclusão social dos usuários na temática da geração de renda. Assim, 
os familiares percebem que os usuários após algumas semanas de participação na 
23 
 
 
Oficina de Experimentações de Geração de Renda estão procurando conhecer e 
fazer receitas novas em casa. Também relatam que estão pesquisando a respeito da 
venda de produtos, no caso os biscoitos que fizeram para vender em um evento 
realizado em Dezembro de 2018. Estão fazendo receitas e oferecendo para a 
vizinhança ou para outros usuários do CAPS, por exemplo, uma usuária começou a 
fazer pão caseiro e vendia no CAPS. Outros familiares percebem maior superação do 
usuário sendo mais comunicativo, demonstrando que é capaz de vender e fazer as 
coisas na oficina, sendo mais protagonista de sua vida. 
 
A geração de trabalho e renda é misturada com a geração de sentido para 
cada um, no mesmo espaço-tempo da oficina, na intenção de que os 
participantes sejam cada vez mais autônomos e protagonistas de suas 
histórias (RODRIGUES, 2016, p. 18). 
 
Os familiares percebem o envolvimento dos usuários com a participação da 
Oficina de Experimentações de Geração de Renda, nos comentários que os usuários 
fazem quando chegam em suas casas, que estão pesquisando, observando e 
aprendendo a fazer as receitas e esperam conseguir sair e vender os produtos. Esses 
relatos vêm ao encontro do que Sartor (2017) relata que a percepção dos familiares 
relacionada a benefício da participação dos usuários em oficinas de geração de renda 
é de autoestima elevada, aumento na contratualidade mesmo gerando uma pequena 
renda, e que além de ser entretenimento é também espaço de valorização da 
subjetividade, ampliação das relações sociais e participação na comunidade na 
perspectiva dos familiares. 
 
 
 
 
 
 
24 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A constituição das oficinas se baliza na criação de vínculos, em uma interação 
entre os oficineiros e desses com seu entorno social. A geração de trabalho e renda 
é misturada com a geração de sentido para cada um, no mesmo espaço-tempo da 
oficina, na intenção de que os participantes sejam cada vez mais autônomos e 
protagonistas de suas histórias. Destarte, o que há de mais importante numa oficina 
não é somente o que dela se vende, mas o esforço pela produção de saúde e tudo o 
que disso advém. Tal aposta se apresenta viável com a escolha da economia solidária 
para balizar seu funcionamento. 
 
Espera-se que cada participante se apresente com suas próprias 
singularidades no fazer da oficina. Nessa maneira de atuar, é preciso estar além da 
relação profissional de saúde x paciente, pois ambos devem se reconhecer em tantos 
outros papéis quantos forem necessários para estarem juntos na mesma oficina, 
todos agregados sob o signo do trabalho promovendo rupturas no modo instituído de 
fazer saúde. 
 
A modalidade de oficina de geração de trabalho e renda é executável na vida 
de todo dia, um pouco de cada vez e cada vez mais. Consideramos ser um projeto 
plenamente realizável por vislumbres de dimensões talvez ainda pouco pensadas e 
investidas no âmbito da saúde mental. Acreditamos que é possível a transposição do 
lugar de doente que faz prejuízo ao social para o lugar de trabalhador com valor social. 
O que compõe esse exercício cotidiano de intersecção entre trabalho, renda e 
cuidado são invenções constantes de relações que podem resultar em 
transformações sensíveis ao que o oficineiro solicita. Tais relações são constituídas 
sem definição, a princípio, de como se faz, mas, quando são postas em cena, se 
conectam para se configurarem, balizando as trocas relacionais e estando sempre 
fundadas em mutações. Isso acontece na intensidade da potência que o sujeito cria 
para sustentar sua existência não somente no NOT, mas no mundo. Por isso, a oficina 
pode ser laboratório de transformação e ampliação da vida. 
25 
 
 
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