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32 n. Stephan Kinsella isso é manifesto no argumento de que se apropria propriedade sem dono misturando trabalho porque as pessoas são “donas” de seu tra- balho. entretanto, como Palmer corretamente mostra, “a ocupação, e não o trabalho, é a forma através da qual coisas externas se tornam propriedade”.74 ao se focar na primeira ocupação, ao invés do traba- lho, como a chave para a apropriação, não há necessidade de colocar a criação como a fonte dos direitos de propriedade, como objetivistas e outros o fazem. na verdade, direitos de propriedade devem ser re- conhecidos para pioneiros (ou seus herdeiros contratuais) para evitar o problema onipresente de conflito quanto a recursos escassos. além do mais, não há necessidade de defender a estranha visão de que al- guém é “dono” de seu trabalho para possuir as coisas que ocupa pri- meiro. o trabalho é um tipo de ação, e ações não são passíveis de ser apropriadas; pelo contrário, é a forma através da qual algumas coisas tangíveis (por exemplo, corpos) agem no mundo. o problema com defesas jusnaturalistas da Pi, então, está no argumento de que pelo fato de que um autor-inventor “cria” alguma “coisa”, ele “dessa for- ma” merece possuí-la. o argumento pede uma réplica ao supor que o objeto ideal é passível de apropriação em primeira instância; uma vez que isso é garantido, parece natural que o “criador” dessa propriedade seja seu dono justo e natural. Contudo, objetos ideais não são passí- veis de apropriação. na abordagem libertária, quando há um recurso escasso (apropriá- vel), identificamos seu dono ao determinar quem é seu primeiro ocu- pante. no caso de bens “criados” (isto é, esculturas, fazendas, etc.), pode às vezes ser suposto que o criador também é o primeiro ocupante pelo fato de que a coleta de matérias-primas e o próprio ato da criação (impor um padrão sobre a matéria, confeccionando um artefato, ou coisa do gênero). Mas não é a criação per se que dá origem à posse, como dito acima.75 Por motivos similares, a ideia lockeana de “mis- 74 Palmer, “are Patents and Copyrights Morally Justified?” p. 838 (ênfase minha), citando Georg W.F. He- gel, Hegel’s Philosophy of Right, tradução. t.M. Knox. (1821; reimpressão, londres: oxford university Press, 1967), pp. 45–46. 75 Mesmo defensores da Pi como rand não mantêm que a criação per se é suficiente para dar origem aos direitos, ou que a criação seja ao menos necessária. não é necessária porque propriedade sem dono pode ser apropriada simplesmente ao ocupá-la, o que não envolve criação, a menos que o conceito seja am- pliado sem limites. também não é suficiente, porque rand certamente não afirmaria que criar um item usando matérias-primas possuídas por terceiros dá ao criador-ladrão a posse do item. a própria visão de rand implica que direitos, incluindo direitos de propriedade, aparecem apenas quando há possibilidade de conflito. rand, por exemplo, vê os direitos como um conceito social surgindo apenas quando há mais de uma pessoa. Ver rand, “Man’s rights,” em Capitalism: The Unknown Ideal, p. 321: “um “direito” é um princípio moral definindo e sancionando a liberdade de ação de um homem num contexto social”. de fato, como argumenta rand, “os direitos de um homem podem ser violados apenas através do uso da força física”, isto é, de algum conflito quanto a um recurso escasso. “the nature of Government,” em
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