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DIREITO CIVIL V – DIREITO DAS COISAS Vitória Maria Tavares Ferreira do Carmo Professor: Edson Kiyoshi Nacata Júnior INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS COISAS – AULA DIA 27.02.19 (VITÓRIA) ⮚ Onde nós encontramos na nossa ordem de estudos o direito real? Onde seus institutos basilares já apareceram nos nossos estudos? Onde ele se encontra na sistemática do nosso código? ● Os conceitos básicos do direito das coisas, definição, terminologia técnica não se exaure no código civil, essa é a parte do direito civil que tem mais elementos no direito administrativo, constitucional. ● Do direito civil I ao IV – direito obrigacional. ● Só agora é que viramos a chave para estudarmos uma nova classe de direito civil patrimonial, que são os direitos reais ou direito das coisas. 1 – INSERÇÃO SISTEMÁTICA Lembra de quando nós estudamos direito das obrigações, nós insistimos nessa estrutura do código (parte geral x parte especial). Qual o critério subjacente a essa divisão? Nós sabemos que o código pode ser dividido de várias maneiras; se tivermos em consideração, por exemplo, o Código Civil Francês sabemos que a divisão é bem diferente dessa, porém, sabemos que no código alemão, a divisão é bem semelhante a essa nossa, porque nossa divisão se inspirou no Código Civil alemão. ● No Código Francês – pessoas, casamento, propriedade e posse, sucessões e por últimas obrigações. O conceito pessoas inclui indivíduo e ele em sua relação familiar, as coisas compreendem basicamente toda a matéria restante. Então se eu perguntar para os senhores, o que são coisas? Coisa é conteúdo da pessoa. Tudo aquilo que não é pessoa é coisa (o código austríaco diz isso). ● Portanto coisa é conteúdo residual, as coisas reúnem os objetos corpóreos e também os direitos – sucessões (incorpóreo), obrigações (incorpóreo) e direito real (corpóreo) são coisas. ⮚ O nosso sistema, é mais articulado, mais científico. E qual critério o está articulado na base do nosso código? Uma parte geral e uma parte especial, veja-se: PARTE GERAL: ⮚ PESSOAS ⮚ BENS ⮚ FATOS JURIDICOS PARTE ESPECIAL: ⮚ DIREITO DAS OBRIGAÇÕES ⮚ DIREITO DAS COISAS ⮚ DIRIEITO DE FAMÍLIA ⮚ DIREITO DAS SUCESSÕES Apesar de toda essa articulação, existe um conceito da ciência jurídica que permeia todo o nosso código, toda a divisão, qual é? A RELAÇÃO JURÍDICA. O fato jurídico (pode ser um contrato, um ato ilícito, um ato fato jurídico) desata um liame entre dois sujeitos (podem ser pessoas físicas, jurídicas ou entes despersonalizados) tendo por objeto uma determinada coisa/bens (pode ser um crédito, um imóvel, uma bicicleta). Esse esquema abaixo reúne todas essas partes do nosso código. Lembram-se de quando estudamos direitos das obrigações nós insistimos nessa estrutura: Fato jurídico determinante: Contrato; Ato ilícito. Na parte geral do nosso código a gente tem todos os elementos constantes de toda relação jurídica, ou seja, a relação jurídica é uma relação entre sujeitos, que tem por objeto determinadas coisas e que surgem de determinados fatos jurídicos. Na parte especial ainda assim é relação jurídica, mas agora as tipologias são específicas de relação jurídica, dependendo se estamos diante de obrigações ou de uma R.J. do direito das coisas nós vamos ter algumas modificações estruturais, na composição objetiva, subjetiva ou dos fatos jurídicos determinantes; mas o conceito que permeia todo o nosso código é o conceito de relação jurídica. F.J. SP SP OBJETO ● Até agora, quais as relações jurídicas que nós estudamos? A teoria geral das obrigações, a teoria geral dos contratos, os contratos em espécie e responsabilidade civil. Tudo que nós estudamos, até então, foi obrigações, querem ver? ⇨ Na teoria geral das obrigações foi apresentado a vocês a relação jurídica, mas quando estudamos obrigações nós não falávamos de devedor/comprador, depositante/depositário, alienante/comprador; nós falávamos de um credor/devedor, ou seja, era a relação jurídica fossilizada, nós falávamos da relação jurídica mais abstratamente considerada. ⇨ Quando passamos a estudar teoria geral dos contratos houve uma mudança e porquê? Porque o fato jurídico determinante agora era um contrato e a gente estudou que no seu momento de formação a proposta que encontra a aceitação fundem e gera relação jurídica. Na teoria geral dos contratos os sujeitos ganham nomes e vimos como funciona economicamente os variados contratos, (vendedor/comprador; locador/locatário, etc.). ⇨ Quando estudamos responsabilidade civil, a relação jurídica ainda é a mesma dentro dessa estrutura, mas o que vai mudar é o fato jurídico que a determina que passa a ser, em regra, o ato ilícito. Então quando o Leonardo que colide com o meu carro que está parado na praça Afonso Arinos, causa um dano – ficando adstrito ao dever de indenizar. Adstrição ao dever de indenizar impende uma prestação pecuniária – nada mais é do que uma relação jurídica obrigacional que tem por objeto uma prestação de dar – que tem por objeto uma quantia/uma soma pecuniária, ou seja, ele é causador do dano e o Edson é a vítima, mas ainda é uma relação obrigacional. Então, todas as relações que estudamos até agora tem essa feição, só muda os nomes, mas a estrutura continua a mesma relação intersubjetiva que tem por objeto determinadas prestações – dar, fazer ou não fazer – e que nasce de fatos jurídicos determinados – que pode ser contrato ou ato ilícito, mas pode nascer responsabilidade civil de ato lícito também? Sim, o ato praticado em estado de perigo (ex.: para fugir de um estado de perigo, quebra uma janela, esse dano é um dano que se exclui a sua ilicitude/ a injustiça do dano, mas mesmo assim ela é reparável (art. 928 CC) E a responsabilidade objetiva (independente de culpa), ela seria uma responsabilidade por ato ilícito? Depende do entendimento de cada autor. Muito bem, já no direito das coisas, muda-se um pouco essa estrutura, ainda é uma relação intersubjetiva que terá por objeto coisas (no sentido técnico) e nascera de fatos jurídicos determinados, todavia os fatos jurídicos que assumem importância no direito das coisas, são os fatos jurídicos em sentido estrito; atos fatos jurídicos ou ato jurídico em sentido estrito. Os contratos assumem importância secundária aqui. 1- Fatos jurídicos em sentido estrito: por exemplo – a força de uma correnteza que traz um bloco de terra que se incorpora ao terreno do Vitor. 2- Atos fatos jurídicos: descoberta de um tesouro, uma tradição. 3- Ato jurídico em sentido estrito 2- DIREITO DAS COISAS NO PLANO DE ESTUDOS Nós já encontramos essa matéria (direito das coisas) dentro dos nossos estudos, até mesmo em direito das obrigações. Isso porque, o direito das obrigações ele é bem abstrato. Pensamos em um contrato basilar, um contrato de compra e venda; muitas dúvidas, desde TGDP II surgiram, em relação ao funcionamento desse contrato: Nós sabemos que o contrato de compra e venda não transfere propriedade, nós sabemos que um contrato inválido seus efeitos podem ser contidos, mas noções como tradição, registro, atos que tornariam a transação econômica mais complexa, eles também são contidos? Ou seja, um contrato ele não se atem a esfera puramente (sob o ponto de vista econômico) da obrigação, ele resvala para cumprir a sua função socioeconômica também para o direito das coisas. Então, muito antes mesmo de pensarmos sob um ponto de vista jurídico, vamos pensar no contrato de compra e venda brasileiro, nós sabemos que ele não tem eficácia translativa, mas sabemos que quem compra quer adquirir propriedade – essa é a função econômica social do contrato de compra e venda: mediar, remediar, revestir juridicamente esse acordo de vontades, esses interessas contrapostos. ● Ondeencontramos o direito das coisas nos nossos estudos? Quando estudamos bens, em TGDP II – o que são bens? É sinônimo de coisa? Qual é mais amplo? Bem é mais amplo que coisa, os bens correspondem a objeto de direito de um modo em geral; que podem ser materiais ou imateriais, condutas. O nosso legislador classificou os bens em móveis, imóveis, semoventes – essa classificação antes não tinha muita aplicação prática para a gente em TGDP, II. No direito obrigacional nós já vimos uma aplicação: prazo para arguir vícios redibitórios, porque o prazo para reclamar é diferente se o bem é móvel ou imóvel. Já aqui no direito das coisas essa distinção entre bens é de suma importância, porque o modo aquisitivo é diferente, os bens móveis só se transmitem intervivos pela tradição; e os imóveis pelo registro ou respectivo título, isso é de suma importância. ● Lembram-se daquela classificação de bens reciprocamente considerados, bens principais e acessórios? Para o que servia toda essa divisão? Qual a aplicabilidade prática disso? ⮚ Imagine a vaca que você tem no seu sítio e fornece leite. Aquele leite é um bem acessório em relação à vaca, ele pertence ao proprietário (quem é dono do principal é do acessório). Os problemas podem surgir quando os frutos são percebidos por alguém que não é proprietário, imaginemos que o Edson vende para Luiza a vaca, mas a vaca não era de Edson, tinha sido emprestada para o Edson por Bruno. Durante um ano a Luiza extrai o leite, vende e lucra, pensando aproveitar algo que era seu. O Bruno 1 ano depois prova ser proprietário da vaca e ajuíza uma ação de reintegração de posse ou reintegratória. A Luiza deve indenizar Bruno por ter aproveitado algo que era dele ou não? É no direito das coisas que encontramos a resolução desse problema, porque na parte geral do nosso código civil a gente só tem a classificação dessa matéria. O possuidor de boa-fé não tem que indenizar os frutos percebidos e colhidos – essa resolução está na parte especial. Se estava de má-fé responderá por todos, até aqueles que por sua culpa deixou de colher (arts. 1.214 a 1.216 CC/02) ⮚ Vamos pensar agora em matéria de benfeitorias. As benfeitorias são classificadas no art. 96 do código civil (necessárias, úteis e voluptuárias), benfeitorias são despesas realizadas. Se eu construo um imóvel em uma gleba nua, isso pode ser considerado uma benfeitoria? NÃO! Todavia o código civil não nos dá essa resposta na parte geral, o norte suficiente é visto com aplicações práticas no direito das coisas. A construção de uma casa sob uma gleba nua é uma acessão – construção material. Benfeitorias são despesas, não necessitam ter uma consistência material, as acessões sim (edificações/construções). - Necessidade de distinguir as benfeitorias também encontram aplicação prática, também, só no direito das coisas. Vamos voltar ao exemplo da vaquinha: imagina que a Luiza vacinou a vaca, teve vários gastos com veterinário, sem isso a vaquinha morreria se não fossem as despesas. O Bruno reivindica depois de um ano e retoma o poder fático sobre a coisa. A Luiza então fala: ok, devolvo a vaca, ela é sua, você quer ser indenizado em relação ao leite, mas e as despesas que eu realizei? São BENFEITORIAS, necessárias. Se a Luiza estava de boa-fé ela tem direito de ser indenizada pelas benfeitorias necessárias e úteis, se ela estava de má-fé ela só tem direito de ser indenizada pelas benfeitorias necessárias. ● Art. 97 do Código civil – nós temos uma limitação muito importante: “Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor”. Nesse artigo temos referência as três figuras basilares do direito das coisas, as três posições subjetivas, do direito das coisas. No momento dos nossos estudos da parte geral não interessada distinguir muito essas três posições. O que o legislador quis dizer nesse artigo? Vamos supor que o Leonardo seja proprietário de um imóvel ribeirinho. A correnteza traz um bloco de terra que se incorpora em seu terreno. Então, essa extensão/incremento adicional em seu terreno, um acréscimo. Esse acréscimo não sobreveio por uma despesa ou por uma atuação do Leonardo, razão pela qual não pode ser consideradas benfeitorias, logo, é considerada acessões. ● Encontramos o direito das coisas também dentro de direito obrigacional. Sabe qual é o instituto limítrofe entre o direito obrigacional e o direito das coisas? Exatamente os institutos que nós estudamos ao final dessas duas matérias. ⇨ Eu vendo ao Pablo um determinado carro ou imóvel, o Pablo adquire e toma posse do bem. O Pablo recebe o bem e se julga proprietário, porque comprou de alguém que parecia ser dono. Alguns anos depois o Vinícius prova ser proprietário do móvel/imóvel e ele prova que eu roubei o carro ou prova alguma falsificação por parte do signatário que permitiu a alienação do imóvel ao Pablo. Conflito: Pablo – possuidor e Vinícius – proprietário. Se o Vinícius ajuizar uma ação contra Pablo, o que vence? A posse ou a propriedade? Vinícius vai recuperar, pois Pablo vai sofrer a evicção. Titularidade do crédito x Titularidade do direito real: a propriedade vence o direito de crédito, o crédito se resolve de uma maneira equilibrada (restituição do preço + perdas e danos). E onde eu entro na história? A lei permite a Pablo me acionar para ser ressarcido pelo preço que pagou mais perdas e danos. Vinícius não tem relação nenhuma com Pablo! Ele não tem que indenizar nem nada. ⇨ Outro momento que já encontramos o direito das coisas nos nossos estudos Em um contrato de compra e venda: o vendedor se obriga a transferir a propriedade da coisa e o comprador se obriga a pagar o preço, nas palavras da lei SE OBRIGA a TRANSFERIR A PROPRIEDADE, isso é diferente de TRANSFERE a propriedade pelo contrato. No nosso sistema jurídico, portanto, os contratos só geram obrigação, crédito contra débito! Carecem de eficácia translativa; você pode cumprir ou não a obrigação. ⇨ Riscos de perecimento futuro da coisa: supondo que Leonardo venda o carro a Edson e peça 30 dias para entregar o carro para Edson. Dentro desses 30 dias o carro danifica. O problema é responsabilidade ou risco? Se o perecimento é por causa de culpa (responsabilidade), por causa fortuita (risco) – sorte da contraprestação. E no nosso sistema quem suporta o risco é o dono! O vendedor! Porque ele é proprietário! É direito obrigacional, mas a regra é de direito real (a posição jurídica é de direito das coisas). ⇨ Percebemos que a obrigação tem uma grande importância para mediar as trocas de coisas, serviços, mas nós sabemos que a transmissão ela só se completa no âmbito do direito das coisas. Nesse ponto, a nossa nova matéria vai nos permitir verificar o que é feito com o objeto da prestação. 3- CONCEITOS ⮚ TERMINOLOGIA TÉCNICA – direitos reais ou direito das coisas? Res – coisa Os objetos de direito podem ser: bens, coisas, prestações, ou outros direitos. Coisa: espécie de objeto de direito. Diferentemente das obrigações, estaremos considerando uma relação jurídica que tem por objeto principalmente os bens de consistência corpórea, mas não estão excluídos outros direitos de objeto de transação, por exemplo, a venda da propriedade superficiária ou a transmissão de uma propriedade útil (que são direitos também), mas o que verificamos imediatamente é a própria coisa. Rigorosamente falando, toda transmissão é transmissão de um direito e indiretamente a transmissão da coisa corpórea, mas atualmente nós fazemos a distinção de direito obrigacional e real com vistas à materialidade ou imaterialidade do objeto do direito, no caso do direito das coisas vamos dizer que a própria coisa é o objeto e não o direito que incide sobre ela. Então por exemplo, quando eu vendoum carro, o que eu transfiro? O carro ou a propriedade sobre o carro? A propriedade sobre o carro. O que eu transfiro é um direito, um bem incorpóreo. Entretanto, nós somos condicionados a pensar que a propriedade concerne a própria coisa, porque sendo a propriedade o direito real mais amplo nós confundimos o próprio direito com a coisa sobre a qual ele incide. Qual a designação mais correta para o Edson? Direito das coisas, é mais amplo que direitos reais, porque nós estudamos posse e propriedade e a posse não é um direito real, todavia, nossos manuais utilizam ambas as designações. ⮚ FONTES DE COGNIÇÃO ● O nosso direito das coisas extravasa o Código Civil ● Legislação administrativa, principalmente municipal. 4- DIREITOS REAIS X DIREITOS PESSOAIS (OBRIGACIONAIS) Os direitos subjetivos patrimoniais eles são passíveis de serem agrupados em duas classes, quais sejam: 1- Direitos pessoais ou obrigacionais 2- Direitos reais Existem alguma diferença entre eles? O Direito Obrigacional – crédito/débito – o que ele tinha como característica? O Direito Obrigacional seria aquela relação intersubjetiva entre credor e devedor que tem por objeto uma conduta – prestação – que nasce de determinados fatos – ato ilícito ou contrato. E o Direito Real? A diferença é estrutural ou de composição em um dos polos da relação jurídica? Essa distinção não é antiga (antiga no sentido provido do direito antigo). O direito antigo distinguia pretensões, na definição de obrigação, ele dizia que a substância da obrigação não consistia em tornar o sujeito proprietário de determinada coisa corpórea, mas a vincular alguém a nos dar/fazer/prestar algo. Muito pelo contrário, investigávamos a distinção em termos materiais, se a obrigação não consiste em afirmar o direito que temos sobre o bem (imediato), mas sim em lidar/vincular alguém a uma determinada conduta em nosso favor consistente no dar/fazer/prestar, nós já tínhamos uns indícios do que deveríamos pensar acerca dessas duas classes de direitos: Poder mediato e poder imediato. Ius in re - DIREITO NA COISA (direito real); poder ou faculdade imediata do sujeito sobre determinados bens. Então se eu sou dono de um carro, proprietário, eu não preciso inserir ninguém mais nessa história, meu poder é imediato, a coisa é minha, eu exerço poder sobre ela. Ius ad rem – DIREITOS OBRIGACIONAIS – a ligação do sujeito com a coisa é mais tênue, é mitigada por um esforço de cooperação do devedor. Se eu compro um carro do Leo e ele não me entregou, o meu direito é muito mais tênue, para que o carro se torne meu; porque o Leo tem o ius in re e eu tenho apenas o ius ad rem; então eu preciso da cooperação do Leo, para que ele faça a tradição, antes disso eu só tenho um crédito. Diz o artigo 1.226 e 1.267 do Código Civil que: Art. 1.226: “Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com a tradição” Art. 1.267: “ A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição. Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico”. ⮚ Essas duas distinções ainda existem ou foram atenuadas? Temos duas principais teorias. ● Teoria monista: tenta elimina a distinção entre essas duas classes de direitos subjetivos – dizendo que há uma transformação de todos os direitos em direitos obrigacionais ou pessoais, ou tem as subcaracterísticas híbridas. Aqui não há diferença substancial. ● Teoria dualista: (teorias mais clássicas e mais corretas para o nosso direito brasileiro). Aqui há diferenças. Qual elemento distingue o direito real e o obrigacional? - Realista (estrutural) a distinção entre os direitos reais e os obrigacionais se daria nos seguintes termos. Os direitos obrigacionais teriam a seguinte estrutura (uma relação entre dois sujeitos que tem por objeto uma determinada coisa); já a real seria uma relação entre um sujeito e uma coisa, sem precisar de outro sujeito no polo da relação jurídica. A distinção aqui é estrutural - Personalista (composição do polo da relação jurídica) o direito obrigacional é um direito oponível a um sujeito determinado, a distinção em relação ao direito real é o modo como é oponível. Comunidade x sujeito determinado. O direito real se diferencia do direito obrigacional pela composição do polo da relação jurídica. O sujeito passivo do direito real são todos, menos o sujeito da ativo da relação, ou seja, o direito real é oponível contra todos, é o sujeito da relação contra um passivo universal! Toda relação é intersubjetiva. A distinção é no polo da relação jurídica. Caio Mário: Duas escolas se digladiam na diferenciação, a teoria realista e a teoria personalista. ● A doutrina realista entende que o direito real significa o poder da pessoa sobre a coisa, numa relação que se estabelece diretamente e SEM INTERMÉDIARIO, enquanto o direito de crédito requer sempre a INTERPOSIÇÃO de um sujeito passivo, devedor da prestação, independentemente de consistir esta na entrega da coisa, na realização de um fato, ou numa abstenção. ● Em oposição à teoria realista, tem-se a teoria personalista. Na base de sua estruturação situa-se um conceito segundo qual não é de ser aceita a instituição de uma relação jurídica diretamente entre a pessoa do sujeito e a própria coisa, uma vez que todo direito, correlato obrigatório de um dever, é necessariamente uma relação entre pessoas. Então, no direito de crédito há dois sujeitos em confronto – o ativo, cujo favor ou benefício a situação jurídica se constitui e o sujeito passivo, que se vincula ao primeiro e lhe deve a prestação. No direito real, tem-se um sujeito ativo, titular do direito e há uma relação jurídica, que não se estabelece entre a coisa, porque esta é o objeto do direito, mas tem a faculdade de opô-la erga omnes, estabelecendo-se, assim, uma relação jurídica em que o sujeito ativo é titular do direito real e o sujeito passivo é a generalidade anônima dos indivíduos. Então, enquanto no direito de crédito tem-se um sujeito passivo contra o qual o titular da relação jurídica pode individualmente opor a facultas agendi, no direito real fica-lhe reconhecido o poder de opô-lo indiscriminadamente a toda a sociedade. AULA DIA 08.03.19 (VITÓRIA) CONTINUAÇÃO A AULA ANTERIOR Vimos na semana passada que o modo a relação jurídica de direito real é também uma relação jurídica que tem uma estrutura, conteúdo próprio, típico. Vimos que a oposição entre os direitos obrigacionais e reais poderiam se dar pela estrutura ou pela composição subjetiva da relação jurídica. Partimos então de uma teoria dualista (aquela que admite a contraposição entre as duas categorias) e, então, eu disse a vocês que o modo de explicar a oposição entre o direito real e obrigacional do ponto de vista da teoria dualista real partiria do ponto de vista estrutural (obrigacional: relação entre dois sujeitos que tem por objeto determinadas coisas que nasce de determinados fatos jurídicos; enquanto a relação de direito real seria a relação direta ou mediata do sujeito com a coisa que seria objeto de sua titularidade – ultrapassada). Já a teoria dualista personalista, entende que a diferença reside na composição do polo passivo da relação jurídica (mais adotada, assiste mais razão, contrapõe as duas relações jurídicas sob a composição subjetiva do polo passivo). Se a relação jurídica obrigacional é uma relação entre sujeitos determinados desde o início do surgimento de um direito, a relação de direito real tem como polo o titular (sujeito determinado) de propriedadeou de outro direito e no polo passivo encontramos a generalidade dos indivíduos adstritos a uma não ingerência, a uma abstenção, a uma não turbação no processo de aproveitamento e utilização da coisa (que está sobre a titularidade de alguém, seja ele proprietário ou titular de um direito menor). Tendo por base a teoria dualista, vamos apontar um pouco mais as diferenças entre os direitos reais e obrigacionais, distinguindo essas categorias. 4- DIREITOS REAIS – CARACTERÍSTICAS Em que se contrapõe os direitos reais e obrigacionais? ⇨ Direitos obrigacionais, os senhores notaram, que eles não são dotados de um aspecto de regulamentação no Código Civil, um rol categórico, porque? Porque os direitos obrigacionais perpassam por todo o direito privado, na verdade, todo o direito! Tem obrigação por todo o edifício jurídico, nós não podemos reduzi-lo a um rol taxativo nem mesmo exemplificativo. O que nós podemos fazer é identificar quais são seus pontos mais frequentes; toda obrigação, nasce em regra, de um acordo de vontades, contrato, ou ato ilícito, mas dizer que podemos enumerá-las é impossível. Falando que a obrigação nasce de contrato, por exemplo, além dos contratos típicos, temos que lembrar que existe os contratos atípicos, portanto é um número indeterminado. art. 425 CC – “É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código”. Se eu e o Vinícius decidimos que a transação econômica que temos em vista não possui nenhuma previsão, nenhum amparo legal, nós podemos observar as regras gerais do contrato, que sempre nos valerá como uma roupagem jurídica, que nos permitirá formalizar essa transação econômica. ⇨ No âmbito do direito das coisas, ao observarmos o art. 1.225 do CC, vemos um rol exaustivo, não há outro direito real fora desse rol; o legislador escolheu quais seriam os direitos reais, é um rol fechado, normas cogentes. Por qual razão? Art. 1.225. São direitos reais: I - a propriedade; II - a superfície; III - as servidões; IV - o usufruto; V - o uso; VI - a habitação; VII - o direito do promitente comprador do imóvel; VIII - o penhor; IX - a hipoteca; X - a anticrese. XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; XII - a concessão de direito real de uso; e XIII - a laje. Pensemos na propriedade, nós temos a seguinte situação; a situação de apoderamento, assenhoramento de determinados bens – de utilização e fruição exclusivas, que retiram o bem do processo de aproveitamento dos demais não utilitários, logo há um interesse público em regulamentar essa utilização, esse aproveitamento em vista do sujeito passivo universal que seriam privados disso, ou seja, há um interesse do público em regulamentar com maior clareza, estabelecendo restrições mais contundentes ao exercício desses direitos subjetivos, dessa fixação, limitação de utilização e exercício do direito. Alguém que é proprietário não pode pretender sê-lo em detrimento de todos os demais; a utilização, a fruição é consentida, mas tem uma contrapartida, que é não lesar interesses, nem ser um comportamento antissocial. Portanto, as razões de política legislativa são essas, o direito real não pode estar adstrito pela própria estrutura das para duas partes apenas, há um interesse público bastante evidente. ⇨ No direito obrigacional esse é oponível interpartes, pelo acordo de vontade nós sabemos desde o início sabemos quem são as partes obrigadas e as partes que irão responder em caso de inadimplemento. Ou em caso de responsabilidade civil, o direito já nasce no momento da violação do dever geral de não lesar ninguém, ou seja, desde o início do surgimento do direito as partes já são determinadas. - então a violação pode ser positiva ou negativa, conforme a obrigação se ela for positiva ou negativa (dar, fazer ou não fazer) e o sujeito é determinado desde o começo, seja decorrente de um contrato – o sujeito está adstrito a uma determinada conduta – ou de um ato ilícito – a obrigação que nasce do ato ilícito, nasce como uma atuação de responsabilidade, ou seja, a partir do momento que eu causo um dano sou responsável por indenizar, desde o início que surge o direito de crédito surge consequentemente a obrigação. ⇨ Já o Direito das coisas não é assim; supondo que eu sou dona de uma gleba em BH, quem é o sujeito passivo de uma pretensão reivindicatória, de uma ação real que visa recuperar a coisa ou obstar a perturbação? Na verdade, todos os não titulares estão adstritos ao dever de não ingerência, mas o sujeito passivo só se individualiza por conta de uma ação de direito (aquele que comete o esbulho possessório; aquele que intervêm no processo de aproveitamento e utilização do bem – aquele que exerce uma ingerência injustificada no exercício do direito do titular, ou seja, a partir do momento que o Vinícius esbulha o meu imóvel, adentra e passa a exercer atos de posse ele passa a ser sujeito passivo de uma ação reivindicatória). O sujeito passivo de uma ação real só vai ser determinado no momento da violação; uma vez que só no momento que só será réu no momento que praticar a conduta que ele está adstrito a não realizar. Violação do direito real é positiva! ⇨ O Direito Obrigacional ele pode ser violado tanto comissivamente tanto omissivamente (omite a ação que deveria praticar). ⇨ No caso dos direitos reais suas violações só podem se dar de forma positiva, uma vez que todos estão obrigados ao não fazer (não intervir, não esbulhar, etc); por isso só há violação no direito real por ato comissivo. ⇨ Os Direitos obrigacionais são transitórios – a satisfação dos interesses na relação jurídica obrigacional visa: após ser atendido tal interesse dissolve-se o vínculo obrigacional, pelo adimplemento, ou então se esse vínculo é por prazo indeterminado, ambas as partes ou uma delas pode pôr fim a esse vínculo contratual. ⇨ Os Direitos reais são duradouros, alguns são perpétuos, outros são no mínimo estáveis. Por exemplo: eu digo que a propriedade é perpetua em qual sentido? Se eu tenho um imóvel no Amapá, eu não fiz nada nele por 50 anos, nunca exerci nenhum ato de aproveitamento nele. Eu não deixo de ser proprietária (a princípio). Meu carro parado por 30 anos na garagem a mesma coisa, eu não deixo de ser proprietária por não utiliza-lo. A propriedade só há de se perder em modo previsto na lei, em regra, por uma manifestação de uma situação possessória contrária, porque o problema surge se Marcelo passar a residir no meu imóvel no Amapá, passa a realizar atos de aproveitamento e seu ato passa a configurar posse. E essa posse, se prolongada no tempo, pode variar entre 2/5/10/15 anos, pode leva-lo a tomar a propriedade de mim por meio da usucapião. Todavia, se não houver uma ação possessória contraria, essa propriedade perpetua em meu patrimônio e passa aos meus sucessores mortis causa. Os direitos reais não surgem com uma tendência a serem extintos. Outros direitos reais tem um caráter de durabilidade, por exemplo, vamos falar da figura do usufruto. Vamos supor que eu tenho um imóvel e constituo um usufruto em favor da Daniel, para durar o tempo em que o seu vínculo na UFMG, ou então eu posso fazer um usufruto vitalício. ⇨ Vocês já estudaram direito obrigacionais, já ouviram falar de algum sujeito que se comportou perante a sociedade como se credor fosse e, passado um tempo essa aparência se convalidou em direito de modo que ele se tornou credor efetivamente? Não, porque os direitos obrigacionais não são passiveis de usucapião, porque eles não são suscetíveis de posse. Ceder o crédito, ceder a dívida, a posição contratual – isso é objeto de uma relação jurídica, bem imaterial, mas eles não são suscetíveis de posse. E para o núcleo central da usucapião é a posse prolongada! ⇨ Os Direitos Reais podem ser adquiridos porusucapião! A propriedade vai ser adquirida por usucapião? Assimilação do Direito a própria coisa, adquire-se a propriedade, a coisa é o objeto mediato do feito. E, não apenas os direitos de propriedade podem ser usucapidos! Todos os direitos reais são passíveis de usucapião; Eu posso me tornar, por exemplo, titular do direito real diverso da propriedade pela posse prolongada; eu posso ser usufrutuária por usucapião, porque a posse do direito real é o seu exercício; se eu me comporto em relação a coisa como alguém que exerce uma posse que se estende ao uso e fruição, eu adquiro a posse. Obs.: Usucapião prevê a posse; é um modo de adquirir a propriedade pela posse prolongada. É um fato jurídico! ⇨ Os Direitos Reais são dotados de sequela – estão ligados à coisa e a acompanham. O direito adere e acompanha. O crédito não adere a coisa. Suponha que A empresta algo a B. B vendeu a coisa a C C vendeu a coisa a D ● A é proprietário e pelo contrato de comodato ele não transmitiu a propriedade a B. Consequentemente, por B não ser proprietário ele não poderia ter transmitido a coisa a C, bem como C não poderia ter transmitido a D. E, pelo princípio jurídico, que só tem uma exceção no nosso sistema é o de que ninguém transfere mais direitos do que tem; a propriedade de A acompanhou as mutações subjetivas da coisa. O que é a sequela? É a manifestação processual desse fenômeno de que o direito real adere a coisa e acompanha as suas mutações subjetivas, de modo que A pode ajuizar uma ação contra D para recuperação do poder fático da coisa. A tem pretensão real contra D, como teria contra C como teria contra B (pois é oponível erga omnes). Agora vamos pensar em outra situação, A vendeu a coisa ontem a B, e vendeu a coisa hoje a C, em relação a C ele entregou, e para C, supondo que é bem imóvel, C obteve o registro. Então C tem o registro de escritura, e B, como ele era o primeiro ao adquirir, ele pode buscar a coisa em poder de C? Não, porque o direito de B sobre a coisa é apenas um crédito, o crédito não tem sequela, ele não pode buscar a coisa, ele precisa para se efetivar/ ele depende de uma cooperação do credor. A questão aqui, portanto, irá se resolver entre A e B; é uma relação puramente obrigacional e, como A não pode mais cumpri-la, resolveremos apenas em perdas e danos. O direito de A sobre a coisa é o ius in re – direito imediato, direito da coisa. O direito de B é o ius ad rem - o direito a coisa, necessita da cooperação do vendedor. 5- DIREITOS REAIS – PRINCÍPIOS - 5.1 ADERÊNCIA/SEQUELA Faceta material da sequela – que vimos que é a sua aplicação processual. A sequela não é o poder do titular de buscar a coisa com o possuidor ou detentor? Logo, a aderência, é dizer em outros termos que o direito real grava a coisa e a acompanha em todas as suas mutações subjetivas. Eu posso buscas a coisa porque o direito real acompanha a coisa, a propriedade não destitui do meu patrimônio e eu posso reaver a coisa com quem estiver. O furto causa o desligamento da posse, a propriedade permanece minha, e o direito real acompanha a coisa, por isso eu posso busca-la. O fato de que o direito real acompanha a coisa não vale só para a propriedade, vamos dar um exemplo de um direito real menor: Eu sou fazendeira e a minha propriedade se confunde com a do Daniel, que é meu vizinho. Na adjacente a minha propriedade passa uma rodovia importante para o escoamento da produção agrícola e o Daniel é produtor agrícola e, para escoar a sua produção ele dá uma volta muito grande para escoar até essa rodovia. Ele consegue me convencer a ceder uma passagem para ele por dentro da minha propriedade; nós fazemos isso por meio de um contrato que foi registrado, posteriormente, eu crio, em favor do imóvel do Daniel, um direito real de servidão (regulamentado nos arts. 1.388 e seguintes do Código Civil). O Daniel, pelo tempo que isso ofereceu utilizar objetiva a ele, poderá transitar pelo meu imóvel para escoar a sua produção. Vamos supor que passado algum tempo eu resolvi vender meu imóvel a Gabriela, e o Daniel vendeu o imóvel dele a Vitor. Os imóveis da Gabi e do Tolima, os imóveis agora estão nas mãos de sujeitos que não foram partes daquele contrato. O Tolima vai ter direito de transitar pelo imóvel da Gabi? Sim, porque no momento em que eu vendi o imóvel, ele estava gravado com uma servidão em favor do imóvel vizinho. O imóvel dominante tem o benefício de transitar pelo outro imóvel, se ele é transferido essa utilidade é transferida, tal direito permanece, o direito ele grava a coisa independente do titular. Se a Gabi tentar impedir a passagem, pode exercer uma ação real de reintegração de posse, uma defesa de seu direito, como direito real que é, ainda que o Tolima não tenha sido parte do referido contrato, o direito acompanha a coisa! O direito acompanha a coisa como acessório e como gravame – para o bem e para o mal. - 5.2 ABSOLUTISMO Os direitos reais são absolutos no sentido de que eles são oponíveis contra todos, não existe direito real oponível apenas interpartes, relativo. Se o direito tiver oponibilidade restrita a determinados sujeitos, direito real não é, só pode ser direito obrigacional, de natureza creditícia. Só é direito real se tem oponibilidade erga omnes. Vamos supor que o Pedro esteja exercendo posse de um imóvel há 16 anos, ele já se tornou proprietário pela usucapião. O Pablo que era o último proprietário na matrícula do imóvel resolve ajuizar uma ação de reivindicatória. Quando o Pablo ajuíza uma ação ele já está em uma situação muito diferente, porque a propriedade já foi transferida por usucapião para Pedro. Pedro pode nessa condição proteger o seu direito contra proprietário registral e contra qualquer outro sujeito que pretenda esbulhar o seu imóvel Se a Gabi tenta invadir o imóvel, o Pedro pode defender como proprietário. O direito de Pedro é absoluto contra todos, inclusive contra o proprietário registral. No exemplo do tópico anterior da servidão, quando se torna titular do direito de passagem (e não titular da passagem, porque se fosse DA ele passaria a ser proprietário da porção de terra e a servidão não é isso), se ele for impedido, ele terá uma ação real. Contra terceiros estranhos e contra o próprio proprietário do imóvel serviente. É um direito absoluto! Vamos supor que eu constituo um usufruto por 5 anos em nome da Nayara, supondo que eu tenha perdido tudo em jogos de azar e só me sobrou esse apartamento onde a Nayara está e eu queria utilizar ele para uso pessoal. Se fosse um contrato de locação, o locador pode rescindir para utilizar para morar nele, e no caso do usufruto? Eu poderia, passados 3 anos, pedir que a Nayara se retirasse para que eu utilizasse em uso próprio? Não! Porque o direito dela é um direito real TANTO QUANTO O MEU, os dois são oponíveis erga omnes. - 5.3 VISIBILIDADE/PUBLICIDADE Se os direitos reais devem ser respeitados por todos é de suma importância saber quem são os titulares e qual é a extensão do direito que se tem. Vamos pensar no direito obrigacional, como só interessam as partes celebrantes, nós sabemos que há um princípio de liberdade de formas. Então um contrato de locação ou na venda de um veículo, se esses forem feitos verbalmente são validos, não é necessário registrar nem publicização, porque na relação obrigacional, só afeta as partes celebrantes. Já no caso de um direito real, no caso da venda de um imóvel, afeta toda a coletividade, porque todos têm que saber o direito que devem respeitar, uma abstenção que deve ser observada a gente deve saber quem é proprietário, quem é o verdadeiro proprietário. A compra e venda de um automóvel não precisa de um instrumento! Todavia, a transferência da titularidade é de interesse amplo, porque nós temos interesses em comprar o carro emum momento futuro, ou mesmo eu devo saber quem é o titular para saber o direito de quem eu devo respeitar, embora o contrato de compra e venda não necessite de uma visibilidade, o ato de transmissão da propriedade necessita (Registro para bens imóveis e tradição para os bens móveis). Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis. Art. 1.267. A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da tradição. Parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico. O ato deve ser visível a todos! A compra e venda de um bem imóvel, devido a uma solenidade prevista pela lei, deve ser realizada por meio de um instrumento público. Em consideração aos valões dos bens imóveis, mas a transação/transmissão necessita do registro do contrato no cartório de registro de imóveis, onde ficará registrada a transmissão da propriedade (para que todo mundo saiba como adquirir e de quem adquirir). Ademais, para que o indivíduo possa saber se existe direitos reais menores, se está gravado um usufruto, se tem servidão. Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com a tradição. Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos neste Código. Note, por meio de tais artigos, que ou os direitos reais, não apenas para transmitir a propriedade, mas também para constituir a servidão ou usufruto, é preciso levar o contrato a registro, se não o fizer, direito real não é! - 5.4 TAXATIVIDADE Os direitos reais são numerus clausus, apenas esses 13 elencados no art. 1225. São direitos escolhidos pelo legislador! NÃO SIGNIFICA QUE OS DIREITOS REAIS DEVEM ESTAR NO CÓDIGO CIVIL, a promessa de compra e venda foi criada por uma legislação extravagante. Em 2016 criou-se o direito real de laje – foi uma medida provisória em 2016 e convertida em lei em julho de 2017. E, outras figuras que até então eram previstas no código de 1916 como direitos reais deixaram de ser, como, as enfiteuse (não pode mais ser criada). Logo, não pode as partes, convencionarem a criação de direito real, a taxatividade significa a reserva de lei! Porque não faz sentido atribuir as convenções particulares eficácias reais? Pensemos que eu e o Edson formalizamos uma operação econômica que nos atenda e criamos uma eficácia real a ela. Se tiver eficácia real, se as partes pudessem fazer isso, todo mundo seria sujeito passivo de uma relação criada pela autonomia privada. Não faz sentido! A importância social dos direitos reais faz com que ela seja reservada a escolha do legislador. - 5.5 TIPICIDADE Os direitos reais possuem aquela formulação que o legislador lhes deu; como assim? Os direitos reais são taxativos e típicos. O que isso quer dizer? Descrever elementos fáticos que compõe uma determinada figura. Então, quando falamos de taxatividade: apenas aqueles que o legislador escolheu como tais. Quando digo que são típicos, significa dizer que os direitos reais devem obedecer a roupagem que o legislador conferiu, não tem espaço para a composição dos interesses, ou seja, o legislador nos diz que o usufruto é um direito real menor, tão qual o proprietário atribui ao usufrutuário as parcelas de uso e fruição. Se eu constituo ao Daniel um direito que seja o de uso, mas para uma finalidade específica, qual seja, apenas morar no imóvel, isso NÃO É UM USUFRUTO, é um direito real de habitação. Se eu fizer um direito de passagem só a favor de DANIEL, que se extingue caso Daniel venda o imóvel, isso não é servidão, mas sim um direito obrigacional. A autonomia privada NÃO TEM GRANDE APLICAÇÃO NO DIREITO REAL! Os direitos reais são aqueles, tal como o legislador quis. Já nos direitos obrigacionais não são assim; por exemplo, se eu faço uma compra e venda de um carro e digo para o Tolima que eu não respondo por vícios redibitório, o Tolima concorda, mas ele quer inserir uma cláusula penal. Isso deixou de ser uma compra e venda? Logico que não, isso não descaracterizou o tipo, mas se fazemos isso com o direito real a gente descaracteriza o tipo (podemos pensar em um outro direito real) ou então a gente descaracteriza um direito real como tal, e aí só podemos pensar no referido direito como obrigacional. A autonomia privada, por exemplo, não pode sair criando um usufruto sucessivo, porque a lei o regula como intransferível, isso não pode ser afastado, ela é cogente! AULA DIA 13.03.19 (VITÓRIA) - 5.6 ESTABILIDADE A estabilidade tem dois aspectos, duas facetas, a da perpetuidade e da durabilidade. Os direitos obrigacionais têm uma caraterística intrínseca nascem com vistas a sua extinção, ou seja, a relação jurídica obrigacional tende ao adimplemento, que é aa satisfação do credor e a liberação das partes do vínculo. Os direitos reais possuem como característica a sua estabilidade, durabilidade, dado o fato de serem direitos subjetivos patrimoniais de natureza diversas, eles também são estáveis. Estabilidade: no tempo. Direitos reais perpétuos, na realidade nós só temos dois direitos reais dessa natureza. E hoje talvez, com a natureza de nascer, ser criado, apenas um, que é a propriedade. Se eu sou dona de um imóvel no Amapá, durante a minha vida, no meu exercício ou não sobre o bem, ele continuará sendo minha titularidade, isso não mudará nada na matricula do imóvel. Eu serei proprietária exercendo ou não sobre o bem. A gente sabe que os direitos de crédito prescrevem, os direitos reais prescrevem? Também prescreve, só que os direitos reais não dependem pura e simplesmente pelo decurso do tempo, as prescrições dos direitos reais dependem de manifestação de uma situação possessória contrária. Se ninguém ocupar, por 50 anos, e eu também não morar lá, continuará sendo meu e, falecendo isso passará aos meus herdeiros. A propriedade é perpetua nesse sentido; ela se transfere intervivos, mortis causa, e só se extingue pelas causas expressamente previstas em lei, logo não prescrevem pura e simplesmente com o decurso do tempo como os direitos obrigacionais. Existe outro direito real que também é dotado dessa característica, que é a enfiteuse ou aforamento, note pelo código civil que ela não está mais prevista como direito real, porque o legislador retirou. As enfiteuses serão reguladas pelo código de 1916, logo não é possível mais constitui-las, as existentes não perderão eficácia. As enfiteuses são os institutos mais próximos da propriedade, externamente é basicamente uma propriedade, a gente só vai ver que não é quando vermos o proprietário fazer valer o seu próprio direito em um determinado momento. A enfiteuse foi um instituto útil, principalmente, no Brasil que tinha uma extensão territorial muito grande. Para atrair colonos para ocuparem, por exemplo, uma fazenda, na época, o proprietário deveria lhe dar uma vantagem, benefício, e qual seria? O de ter um direito estável sobre aquilo que é meu, transmissível intervivos e mortis causa e, pelo qual deveria pagar uma pensão módica. Exemplo de Petrópolis! Enfiteuse ou aforamento – externamente parece uma propriedade, somente se vê que o elo entre o proprietário e o foreiro não é de propriedade, quando se rompe o elo. Instituto útil no Brasil, de grande extensão territorial. Supondo que eu sou dono de uma área determinada sobre a qual você pode exercer os direitos de usar, fruir e dispor,o que sobra para mim, proprietário do bem? Basicamente um rol, um título de senhorio direto – o senhor de direito; mas o que vocês têm é o domínio útil, a substancia econômica; vocês podem fazer tudo ali, vender, essa parcela se transfere aos seus herdeiros. E qual a vantagem para eu, proprietário? Vocês vão me pagar, periodicamente, uma renda modica, apenas para lembra-los que vocês não são proprietários. E a vantagem econômica reside no seguinte: se alguém vende ou transfere o domínio útil para outro, eu como proprietária tenho o direito de preferência, para resgatar aquilo que é meu e livrar o meu imóvel da enfiteuse. Se eu não fizer isso, vocês podem vender para um terceiro, mas aí, 2,5% da transação mobiliária vem para mim. Laudêmio (2,5% da transição imobiliária). Ademais, essa venda, não é a venda da propriedade, é a venda do domínio útil. Essa figura ainda existe, mas a tendência é sua extinção, porque o legislador quer exaurir essa figura e quer propiciar o exaurimento de sua função e o resgate pelo senhorio direto, pouco a pouco. EXISTE ENFITEUSE que AINDA pode ser constituída? Sim, as do terreno de marinha, porque são de propriedade da união, os condôminos têm apenas o domínio real – chamam de enfiteuse administrativa. Portanto, retirando a propriedade, todos os outros direitos, excluindo a propriedade, não são perpétuos, são duradouros. Onde nós podemos ver isso? Por exemplo, o direito real de usufruto, ele pode ser vitalício. Art. 1.410. O usufruto extingue-se, cancelando-se o registro no Cartório de Registro de Imóveis: I - pela renúncia ou morte do usufrutuário; II - pelo termo de sua duração; III - pela extinção da pessoa jurídica, em favor de quem o usufruto foi constituído, ou, se ela perdurar, pelo decurso de trinta anos da data em que se começou a exercer; IV - pela cessação do motivo de que se origina; V - pela destruição da coisa, guardadas as disposições dos arts. 1.407, 1.408, 2ª parte, e 1.409; VI - pela consolidação; VII - por culpa do usufrutuário, quando aliena, deteriora, ou deixa arruinar os bens, não lhes acudindo com os reparos de conservação, ou quando, no usufruto de títulos de crédito, não dá às importâncias recebidas a aplicação prevista no parágrafo único do art. 1.395; VIII - Pelo não uso, ou não fruição, da coisa em que o usufruto recai (arts. 1.390 e 1.399). Isso significa, então, que o usufruto pode durar por toda a vida do beneficiário, nunca ele passará a vida do beneficiário, porque ele é intransmissível! Vamos supor que o Edson constitua um usufruto em favor da Carol, se ele morrer antes, o que acontece? Os herdeiros de Edson devem suportar o ônus ou não? Sim. Se o Edson brigar com a Carol, ele pode extinguir o usufruto? Pensemos em uma outra manifestação desse fenômeno da durabilidade, em princípio da indeterminação dos direitos reais. Pensemos na servidão de passagem. Imagina que a gente permite por meio de uma servidão pública que o Gustavo passe por meio do meu imóvel para escoar a sua produção. Em regra, as servidões elas são gratuitas, e em regra ela duram pelo tempo que o meu imóvel oferece utilidade objetivamente ao outro. Isso abre azo a uma indeterminação. Porque a servidão perdura, o ônus vai gravar o meu bem, ela pode durar 20, 30, 40 anos – uma duração que é impensável para uma relação obrigacional pura e simples. Existe direitos reais que não são perpétuos? Existe uma propriedade que não é perpetua? Sim, a propriedade resolúvel. Propriedade resolúvel é um gênero, onde vamos encontrar algumas espécies mais familiares? Se eu vou ao banco e peço um empréstimo para adquirir um imóvel eu faço um financiamento – sob comissão de que transfira a propriedade para a instituição financeira até que eu quite a dívida; essa transação é uma alienação fiduciária em garantia. O credor fiduciário se torna um proprietário resolúvel, porque o banco não tem interesse em ser proprietário perpetuo do imóvel, ele só tem essa finalidade como garantia do crédito, para que ela se resolva. É o típico caso de propriedade que não está destinada a durar. Outro exemplo é a propriedade literária, sabemos que 70 anos após o falecimento do autor, os direitos autorais, por mais que sejam imprescritíveis, eles caem em domínio público – que é a perda da exclusividade da fruição/utilização da coisa que está sobre a titularidade do criador ou do autor. - 5.7 ELASTICIDADE OU CONSOLIDAÇÃO A propriedade é o direito real mais amplo, não é à toa que abre a lista dos direitos reais, ela é o direito real mais amplo, abrange todas as parcelas dominiais, a propriedade é a soma do uso, da fruição, da disposição e da reivindicação. Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm#art1407 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm#art1407 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm#art1408 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm#art1409 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm#art1390 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/2002/L10406.htm#art1399 P = U + F + D + R (Propriedade = uso, fruição ou gozo, reinvindicação e disposição) Todos os outros direitos reais são chamados de direitos limitados, seja no tempo ou no conteúdo. Exemplo: usufruto é a soma do uso e fruição; se eu constituo um usufruto em favor do Gustavo, o Edson que é o proprietário fica com a disposição e reivindicação e o Gustavo fica com o uso e a fruição. Veja-se, o usufruto é menor, são duas parcelas, ao passo que a propriedade são quatro parcelas. As parcelas dominiais foram distribuídas entre dois sujeitos diversos. Vejamos o exemplo do direito real de uso que corresponde a usar + fruir modicamente. Habitação: direito de usar para moradia. Notamos aqui, só em relação ao direito de uso e fruição, um modo decrescente, um maior direito, um direito médio, um direito menor, um direito reduzido. O que significa isso? Alguns direitos reais, não apenas a propriedade, são passíveis de estender seu máximo e reduzir o seu mínimo. Porque a propriedade pode se desmembrar para formar direitos reais menores, as parcelas dominiais – todavia, lembre-se, a propriedade não deixa de ser propriedade. Como assim? Se eu proprietário constituo um usufruto, sofro uma constrição média no meu direito de propriedade. A propriedade em seu aspecto formal não se altera, mas seu conteúdo pode variar na medida em que convive com direitos reais menores. Elasticidade a propriedade em seu conteúdo é mais amplo porque tem todas as parcelas dominiais; a propriedade limitada sofre uma constrição. O domínio é elástico. Se eu constituo um usufruto vitalício em favor da Malu, enquanto a Malu viver eu tenho disposição e reivindicação enquanto a lulu tem o uso e fruição. Quando ela falecer ocorre o fenômeno da consolidação, ou seja, as parcelas dominiais que estavam destacadas para a Lulu voltam para mim. A propriedade readquire a sua posição inicial (lembre-se de uma mola). Apenas a propriedade que pode se dividir para formar direitos reais menores? Não, outros direitos reais também. Pensemos na enfiteuse; consideramos que eu sou um Príncipe imperial e a Isadora seja uma das foreiras ou enfiteutas. Eu sou o senhor direto e ela é a foreira. Isadora tem o direito de uso, fruição, disposição e reivindicação – se ela tem esses direitos, significa que ela pode transferir a outrem. Então, ela constitui Adrieli como usufrutuária, transferindo então as parcelas de uso e fruição. Nós podemos abrir o direito ou formar direitos reais menores, desde que a lei não estabeleça que esses direitos são intrasferíveis. Por exemplo, não pode a Adrieli querer constituir a Ana o direito real de uso, porque o usufruto é intransferível.Outro exemplo: a superfície. O shopping Diamond Mall; há uma controvérsia de que há uma situação de bipartição entre a propriedade do solo e a propriedade da acessão. No nosso sistema a regra é de unidade – se eu construo, mesmo com materiais próprios, e o solo é meu, o proprietário do solo adquire a propriedade do que eu construí e me indeniza se eu estiver de boa-fé. A regra pode ser invertida também, se a acessão for mais valiosa que o solo, eu que construí adquiro a propriedade do solo, mas veja, a regra é normalmente a unificação, sem possibilidade de duas propriedades conviverem ao mesmo tempo. Todavia, pelo direito real de superfície, eu fragmento a acessão (seja por construção ou plantação) e o solo. O solo pertence ao CAM e a construção pertence a Multiplan, ambos exercendo titularidade bipartida. A Multiplan tem o direito de propriedade sob a acessão (uso, fruição, disposição e reivindicação) e o galo tem a propriedade sobre o solo, logo tem o uso, fruição, disposição e reivindicação também – as duas titularidades se comportam de maneira independente. O único ponto é que terá uma intersecção é se um deles decidir alienar porque o direito de preferência será do outro para consolidar o domínio. A Multiplan pode constituir um usufruto? PODE. A Multiplan pode constituir uma servidão de passagem? PODE O CAM pode constituir usufruto? PODE O CAM pode dar hipoteca do solo? PODE Os direitos reais menores são tirados outros maiores e, como já falamos antes, tais direitos menores, só não serão dispostos se houver limitação por lei, por exemplo, se houver um usufruto constituído, esse não pode ser realizado em segundo grau, porque são personalíssimos (Multiplan concede um usufruto para a Sophia. Sophia não pode por mais uma vez constituir um usufruto). A propriedade plena corresponde a soma, ela limitada sofre constrição, então o domínio é elástico. ⮚ A é proprietário de dois imóveis: 01 e 02. A locou para B por 5 anos o imóvel 01. Em relação ao imóvel 02 ele constituiu um usufruto em favor de C por 05 anos. Passados 02 anos, faltando, portanto, 03 anos para extinção da locação e do usufruto, ele vendeu tudo a D, venda com registro. D é o novo proprietário dos imóveis e tem interesse em reaver a sua posse direta. Ele pode exigir a retirada direta de B e de C? De B ele pode? Sim, a regra da locação – A celebrou com B, mas a titularidade está com D, quem é D perante B? o proprietário e não um contratante, ele é o titular de um direito real. Qual é o direito de B perante a coisa? É o exercício de uso e fruição decorrente de um crédito, de um contrato natureza obrigacional. B tem um direito de crédito e D tem um direito real. A propriedade é em um nível erga omnes, propriedade contra crédito, vence a propriedade. D pode exigir a retirada, porque qual direito é dotado de tutela mais forte? A propriedade. B sofreu um dano, porque faltavam mais 03 anos, ele locou por 05 anos e foi obrigado a deixar o imóvel. Esse dano é decorrente de um contrato inadimplido, quem tinha obrigação de ceder a posse a B pelo tempo previsto no contrato era A, que era parte do contrato. A oponibilidade de B é em relação a A, o que B pode fazer é exigir indenização em perdas e danos em relação a A. D não inadimpliu nenhum contrato, não há nenhum dever anexo decorrente da boa- fé porque não há nenhuma aproximação contratual entre D e B, por isso B só pode ir reclamar com A. Analisando a questão do usufruto. D pode exigir a retirada de C? Não. E por quê? Porque ambos são direitos reais. Temos a propriedade e o usufruto. Porque o usufruto deve ‘vencer’ se a propriedade é um direito mais amplo? Não deveria o maior, ser mais potente e ganhar? Não! Porque não vamos analisar em questão da natureza, como fizemos em relação ao direito crédito x real. A resolução aqui pode ser resolvida com a aderência e da sequela. A propriedade é o direito mais amplo, mas vamos pensar, A constituiu um direito real em favor de C. A tinha uso, fruição, reivindicação e disposição; quando A constitui usufruto em favor de C ele dá as parcelas de uso e fruição e fica com a reivindicação e disposição. O direito real grava a coisa, como a propriedade foi vendida a D, o ônus também foi passado a D, consequentemente, D deve tolerar mais 03 anos de C. Após esses 03 anos D recupera essa extensão original. Outra leitura que pode ser feita é a seguinte, A transfere uso e fruição, pensando na propriedade como uma pizza, a propriedade de A tinha é uma pizza composta de 04 fatias (U + F + R + D), a propriedade de A tinha essa feição (R + D), ou seja, duas dessas fatias estavam indisponíveis. Então A poderia dispor e reivindicar e, sendo assim, ele dispôs, porque dispor significa o poder de vender, doar, permutar ou constituir direitos reais menores. Não foi por outra razão que A, não podia usar e fruir o bem, as ele podia dispor e por isso ele vendeu a D. Ninguém transfere mais direitos do que tem, se A não tinha a propriedade PLENA, ele não pode fazer a transferência de uma propriedade plena, porque essa propriedade tinha gravames. Logo, a propriedade que ele transferiu a D possuía ônus, por isso, aderiu-se o usufruto a coisa. Se D falecer, os seus herdeiros estarão obrigados a suportar o ônus. E no caso do falecimento de C – se os seus herdeiros permanecerem na posse da coisa, como sucessores do usufrutuário, eles poderiam opor seus direitos a D ou aos sucessores de D? Não, porque o usufruto é intransferível, o que se transmite é apenas a posse. Razão pela qual se houver resistência dos herdeiros de C na entrega da coisa, eles cometem um esbulho possessório – o direito não foi transmitido, mas a posse pode ser transmitida. A partir do momento que há uma negativa de devolução a posse passa a ser injusta e, se ela é injusta, nós temos um esbulho possessório que dá azo a uma ação de reintegração. ● Seria possível em uma locação termos os mesmos efeitos que conseguimos com o usufruto? Ou seja, seria possível, mesmo que a coisa fosse alienada durante o prazo contratual, o novo proprietário tivesse que respeitar o prazo anteriormente avençado contratualmente entre o proprietário anterior e o locatário? Sim, é possível. Como? Se o contrato for por tempo determinado, ter uma cláusula de vigência em caso de alienação, ou seja, uma cláusula de oponibilidade ao novo adquirente – se esse contrato for registrado, obtemos um efeito semelhante. Pelos 05 anos em que eu estiver no imóvel, A pode vender a D, D pode vender a E, mas meu contrato será sempre oponível. Porque tudo dependeu do registro? Nós passamos a ter um direito real por via transversa? Não! A LEI DIZ QUE OS DIREITOS REAIS SÃO TAXATIVO! Essa eficácia decorreu do registro, se nada tivesse sido feito, a eficácia ainda seria interpartes. O que passamos a ter foi uma relação jurídica obrigacional com eficácia real por causa da expansão decorrente da publicização. Aqui temos uma situação mista entre direito obrigacional e real. Essencialmente temos uma obrigação, mas por causa da publicidade, aproximamos de um direito real. A oponibilidade contra terceiros só decorreu da publicidade; mas ainda é essencialmente uma relação obrigacional, porque os alugueis que eram pagos a mim, agora passarão por cessão da posição contratual a serem pagos ao novo adquirente – relação jurídica obrigacional com eficácia real, expansão da oponibilidade; depende de a autonomia privada escolher essa cláusula e leva-la a registro, de outro modo a resolução será como apresentado em exemplos anteriores. Dornelas fez uma pergunta. Usufruto, uso e habitação; a reivindicação não tem conteúdo econômico propriamente dito para caracterizar o direito real, o que vai diferenciar o usufruto, o uso e habitação são os poderes e as extensões dos poderes. Como a reinvindicação está em todos eles, então elanão serve para diferenciar. 7- FIGURA HIBRIDA Obrigações com eficácia real são figuras hibridas, porque, é uma relação jurídica obrigacional, mas tem oponibilidade erga omnes, essencialmente uma obrigação, mas funciona como direito real, mas não é. Vamos pensar em um comodato. A solução seria a mesma do caso anterior? Você como novo proprietário pode exigir a saída de quem está lá devido a um contrato de comodato? Sim, porque é um direito real contra um direito de crédito; mas agora, nós podemos também por esse artifício inserir uma cláusula de vigência em caso de alienação do imóvel? Não! Ela não é registrável, porque se for qualquer outro contrato que não a locação, nós não adquirimos esse efeito, nós estaríamos ferindo o princípio da taxatividade, se isso fosse possível, nós estaríamos sempre com esses expedientes criando indiretamente direitos reais. Só é possível a obrigação com eficácia real quando o legislador expressamente isso prever. (Isso foi questão de prova!) ● Qual outra figura hibrida? Obrigações propter rem. As obrigações em razão da coisa, também é uma figura que transita entre os direitos obrigacionais e reais. Fundamentalmente é o vínculo jurídico que adstringe alguém a levar o cumprimento de uma prestação, em regra, determinada em favor de outrem; mas de onde vem a faceta de direito real? Se é sempre uma prestação, em regra pecuniária, onde está a faceta de direito real? Está na determinação do sujeito passivo, ou seja, será devedor o sujeito que estiver na posição de titularidade. Lembra-se lá, quem paga IPVA, IPTU? O proprietário do imóvel, o proprietário do veículo – ele está obrigado a uma prestação pecuniária, a prestação do devedor se dá por ele ser proprietário. O condomínio também é uma obrigação propter rem. A taxa condominial também são uma obrigação propter rem: Art. 1.336. São deveres do condômino: I - Contribuir para as despesas do condomínio, na proporção de suas frações ideais; I - contribuir para as despesas do condomínio na proporção das suas frações ideais, salvo disposição em contrário na convenção; II - não realizar obras que comprometam a segurança da edificação; III - não alterar a forma e a cor da fachada, das partes e esquadrias externas; IV - dar às suas partes a mesma destinação que tem a edificação, e não as utilizar de maneira prejudicial ao sossego, salubridade e segurança dos possuidores, ou aos bons costumes. Vamos supor que eu e o tolima compramos um piano juntos, cada um pagou metade e sobre esse bem móvel, estabelecemos uma copropriedade, esse condomínio é um condomínio ordinário, o condomínio que a gente mora é chamado condomínio de risco. Caso o piano tenha que ser alocado em um depósito ou ser afinado, ou se consertado, quem deve pagar as respectivas despesas? Quem será responsável por elas? E em qual medidas? Os condôminos são responsáveis na proporção das suas quotas pelas despesas de conservação da coisa, então isso é uma obrigação propter rem, a determinação do sujeito passivo e da extensão do próprio débito. Art. 1.315. O condômino é obrigado, na proporção de sua parte, a concorrer para as despesas de conservação ou divisão da coisa, e a suportar os ônus a que estiver sujeita. Parágrafo único. Presumem-se iguais as partes ideais dos condôminos. Em todos esses casos parece que o sujeito passivo devedor é sempre o proprietário, é sempre assim? Não. No exemplo do usufruto, quem paga os impostos prediais? C – Isso faz sentido, porque a atividade do proprietário se restringe meramente a um poder de disposição e, quem utiliza a coisa, por princípio jurídico também suporta o ônus. Art. 1.403 Incumbem ao usufrutuário: I - as despesas ordinárias de conservação dos bens no estado em que os recebeu; II - as prestações e os tributos devidos pela posse ou rendimento da coisa usufruída. No Diamond quem para impostos prediais? A Multiplan. Art. 1.371. O superficiário responderá pelos encargos e tributos que incidirem sobre o imóvel. Então vejam, outras situações de titularidade que não a propriedade, também podem ser sujeitos passivos essas obrigações propter rem, não apenas o proprietário, temos aí alguns exemplos. ● Para encerrarmos os direitos reais e passarmos para o estudo da posse; esse rol do artigo 1.225 ele pode ser sujeito a uma classificação. Os direitos reais podem ser classificados em direitos reais na coisa própria e na coisa alheia. ⮚ Direitos reais na coisa própria, só pode ser um, apenas um: a propriedade. ⮚ Todos os demais são na coisa alheia (usufruto, por exemplo, você titulariza um direito real sobre uma coisa que é de titularidade de outro sujeito). Os direitos reais na coisa alheia, se classificam como: - Direitos reais de uso e fruição: superfície, servidão, usufruto, habitação, direito de superfície, concessão de uso especial para fins de moradia, concessão de direito real de uso e a laje - Direitos reais de garantia: penhor, hipoteca e anticrese - Direitos reais de aquisição: temos apenas a promessa imutável de compra e venda de imóvel. Caio Mário: Os direitos reais se classificam, genericamente, em duas categorias: sobre coisa própria e sobre coisa alheia. No primeiro plano, está a propriedade, direito real por excelência. No segundo, situa-se os direitos reais limitados de fruição ou gozo (servidão, uso, usufruto, habitação, direito de superfície, concessão de uso especial para fins de moradia, concessão de direito real de uso e a laje) e os direitos de garantia (hipoteca, anticrese, penhor, propriedade fiduciária), além da posse, que ocupa lugar destacado. E num derradeiro plano, surge um novo direito real, gerado pelas exigências da vida moderna, o direito real da aquisição (promessa irrevogável de venda) Finalizando o capítulo, fechamento de Caio Mário: ⮚ Assentado que a relação jurídica real cria a facultas, que o titular exerce contra quem quer que o moleste, e opõe-na à generalidade anônima dos indivíduos, tendo por objeto uma coisa especificamente, suas características ressaltam, que: 1. O direito real é oponível erga omnes, ao passo que o direito de crédito é oponível a um sujeito passivo determinado. 2. O objeto do direito real é sempre determinado, ao passo que no direito de crédito basta que seja determinável. 3. O ius in re exige a existência atual da coisa, em contraposição ao ius ad personam, compatível com a sua futuridade. 4. O direito real é exclusivo – não se compadece a pluralidade de sujeitos com iguais direitos. 5. O direito real adquire-se por usucapião, ao passo que os de crédito não suportam esse modo de aquisição. 6. Os direitos de crédito extinguem-se pela inércia do sujeito, ao passo que os direitos reais conservam-se, não obstante a falta de exercício, até que se constitua uma situação contrária em proveito de outro titular. 7. Os direitos reais são providos da prerrogativa de ACOMPANHAREM A COISA (ambulatoriedade), autorizando o titular a exercê-los contra quem quer que com ela se encontre (sequela) 8. O titular do direito real que não possa mais suportar seus encargos, tem a faculdade de abandona-lo, o que não cabe no tocante aos direitos de crédito. ⮚ O aspecto igualmente preponderante na caracterização dos direitos reais é a sua limitação legal, porquanto, somente o legislador – no código ou em lei extravagante – pode cria-los, sendo assim, a convenção ou a vontade dos interessados NÃO tem este poder. Tais direitos são revestidos da prerrogativa de restringir o uso dos bens a certos sujeitos, logo, é conveniente que somente o legislador possa cria-lo, devido as implicações sociais consequentes. POSSE A POSSE ● Se observarmos o código, vemos que o livro III tem dois eixos: a posse e os direitos reais. ● A posse é regulamentada no preambulo do livro III, antes de falar sobre os direitos reaiso legislador se ocupa de falar desse instituto (art. 1.196 a 1.224 do código civil). Essa escolha de regulamentar primeiro a posse é uma escolha pela justificativa histórica, mas tem uma justificativa, também, prática. Nós estamos a estudar o poder jurídico que os sujeitos exercem diretamente sobre as coisas; o poder jurídico exercido sobre as coisas de uso, fruição, aproveitamento econômico e disposição das coisas. Antes mesmo de proceder o exame que é bastante complexo como o sujeito adquirem um direito dessa dimensão, como ele se transfere, nós já encontramos um problema preliminar, que é o problema da aparência, ou seja, o sujeito, de fato, comporta como se ele tivesse esses direitos – e ele se comporta desse modo em decorrência de um ato lícito ou ilícito (mas que para o direito em princípio é igual, tendo em vista, a sua tutela). Em outros termos, antes de enfrentarmos os problemas concernentes aos direitos reais, aos seus modos de constituição, destituição, extinção e as figuras parcelares do direito real central da propriedade, nós encontramos os problemas referentes a manifestação fática da propriedade dos direitos reais dos imóveis que é a posse. ● Vamos pensar o seguinte, na primeira aproximação do fenômeno possessório: Ana Carolina está utilizando o seu celular, todos nós aqui a vemos com esse celular e o Edson vai fazer uma pergunta: Edson: Carol, esse celular é propriedade sua? Carol: Sim, porque eu adquiri Edson: você pode provar? Carol: com nota fiscal Edson: a nota fiscal demonstra que você é uma ótima compradora, que você adimple suas dívidas, mas nada diz quanto ao fato de você ter adquirido essa mercadoria. Suponha que você tenha adquirido isso da Vitória, que costuma adquirir carga roubada, compra seus aparelhos na Praça Sete. Se você tivesse adquirido da Vitória, que é sua colega de turma, tem essa aparência de probidade, de lealdade; mesmo a sua boa-fé Carol, não diria nada sobre você ser proprietária sobre esses materiais. E para você ser proprietária desses materiais, você tem que ter adquirido do proprietário. Então você não tem que me apresentar a nota fiscal. Você tem que me provar que a Vitória era proprietária, que quem forneceu para ela era proprietário e que quem montou o celular era proprietário das peças. De outro modo, você não terá adquirido a propriedade – senão uma maneira de legitimar os 03 ou 05 anos de posse ininterrupta, porque aí a usucapião resolve, mas antes disso não. Então, eu tenho uma dificuldade de dizer que você é proprietária, por que? Por mais que esses bens possam parecer vis de nossa utilização diária, a prova da propriedade foi diabólica. Além disso, o fato de você utilizar esse aparelho não significa necessariamente que você é proprietária dele; você pode ter pegado de empréstimo, ter locado, recebido de usufruto. Sob o ponto de vista jurídico há uma variedade grande de possibilidades: desde o direito obrigacional, até o direito real, ou mesmo a ausência de direito. Você pode ter esse computador porque foi você mesma que a roubou. Então sob o ponto de vista jurídico a sua situação pode ser muito variada. Todavia, todo mundo aqui na sala, não temos dúvidas em dizer que você possui o celular. O seu poder jurídico sobre o bem é muito discutível, mas o seu poder fático não, parece bem evidente, porque essa utilização, fruição, comportamento como de um proprietário é indício de uma legitimidade que é a essência da posse. A posse é uma manifestação fática no exercício de poderes dominiais, pode ou não estar assentada no direito, mas isso nós vamos verificar depois, mas a situação da Carol é uma situação que indicia legitimidade e, por isso, deve ser protegida. Por isso a ordem jurídica protege, dado esse indício/fumaça do bom direito. ⇨ Quando falamos de posse/propriedade nós utilizamos esses termos com uma certa promiscuidade ou mesmo com uma certa sinonímia. Em uma primeira aproximação para distinguir ambos, nós já diríamos, que posse e propriedade são poderes – poderes sobre a coisa. Ocorre, porém, que a propriedade é um poder jurídico. E a posse, por outro lado, é um poder fático. PODER JURÍDICO x PODER FÁTICO - esse seria o nosso primeiro contraste. ⇨ A posse corresponde a que? Ao exercício de parcelas dominiais, nota bem, EXERCÍCIO, eu não disse TITULARIDADE. Eu posso ser proprietário de um bem e exercer sobre ele os poderes a que tenho direito, mas eu posso exercer os mesmos poderes mesmo não tendo direito algum; imaginemos um ladrão: ele vai se assenhorear da coisa e utiliza como se proprietário fosse, ele exerce direitos de proprietários sem ser. Então note bem essa primeira aproximação ao estudo da posse; A posse corresponde ao uso e fruição das coisas, a um comportamento típico de um proprietário. O que um proprietário faz? Usa, frui e dispõe daquilo que é seu. Então vamos lá: em relação aos bens móveis – apreensão, utilização da coisa, o fato de carregar consigo Bens imóveis – o que nós costumamos chamar de ocupação, usar a coisa, fruir; isso denota posse. Porque é tão importante a posse, se nós já podemos pensar que a propriedade é um direito real e ela tem por conteúdo esse poder fático. Qual é a razão? Qual a importância da posse juridicamente falando. AULA DIA 15.03 (VITÓRIA) CONTINUAÇÃO Abrimos um parêntese do nosso estudo e consideraremos o fenômeno possessório e para depois retomarmos o nosso estudo de direitos reais. De fato, o estudo da propriedade e dos direitos que derivam dela, ‘fragmentos da propriedade’, comunhados para formar, por exemplo os direitos de uso, usufruto e habitação; para considerarmos esses direitos nós passamos por umas questões como seus modos aquisitivos, o conteúdo desses direitos, os seus modos de extinção. Principalmente no que diz respeito ao modo de aquisição é bastante complexo, lembrem na última aula que eu perguntei se a Carol seria proprietária dos bens que estavam sobre a mesa dela e sobre os quais ela exercia poder fático, ela respondeu que sim e tentou provar com um recibo e eu disse que para o direito obrigacional isso seria uma quitação como nós já estudamos, mas para o direito das coisas isso é irrelevante, porque a aquisição por um modo ilibado depende de uma triagem muito complexa, da verificação de uma cadeia regular daquele bem – porque, como aprendemos no início do nosso semestre, ninguém transfere mais direitos do que tem, então a única maneira da Ana Carolina pretender ser proprietária inconteste daquele bem é conseguir me provar que ela exerce posse sobre eles há 3 ou 5 anos a usucapião vem. Como eu já adiantei, a nossa matéria é muito complexa e antes mesmo do legislador aprofundar das questões ele dispõe alguns artigos para regulamentar a matéria concernente a manifestação fática desse poder jurídico que o sujeito exerce sobre as coisas, ou seja, antes mesmo de considerar o poder jurídico com toda a sua complexidade, apresenta-se o problema da manifestação fática desse poder – ou seja o modo com que esse poder sobre os bens se apresenta na prática. Muito bem, essa manifestação fática dos poderes dominiais, ou seja, esse comportamento comum/típico de um proprietário sobre as suas coisas, corresponde a uma primeira aproximação do fenômeno possessório. Tanto a posse como a propriedade são utilizados com uma certa promiscuidade na linguagem vulgar para aludir ao fenômeno de assenhoramento, de poder que o sujeito exerce sobre o bem, poder sobre a coisa. E isso procede de certa maneira, porque tanto a posse como a propriedade são poderes que o sujeito exerce sobre o bem, mas uma a primeira distinção que devemos estabelecer é a seguinte; a propriedade como um direito real máximo corresponde a um direito jurídico, um direito subjetivo dando poder e faculdade que o sujeito exerce sobre o bem, ao passo que a posse que
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