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Caderno Direito das Coisas

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Aula 01 - 08/03
 
18:27
 
DIREITOS REAIS
 
- introdução 
Contraposição ao direto pessoal, visão preponderante diante das relações econômicas. Duas grandes teorias, ou melhor, dois grandes grupos de teorias. 
1 teorias clássicas realistas - sustentam que a característica principal do direito real é o poder imediato do titular sobre a coisa/objeto do direito, sem o intermédio de outrem, do comportamento alheio. Não existiria no direito pessoal, como o direito de crédito, tendo por objeto o comportamento do devedor prometido em forma de prestação para o credor. 
2 teorias personalistas - influência de kant, o poder não seria relevante ao direito (como o direito é protegido pela ordem jurídica). A diferença é que o direito real é erga omnes, sendo protegido contra todas pessoas que compõem a coletividade. Já o direito pessoal, seria um direito com oponibilidade relativa, ou seja, inter partes. 
- doutrina: teorias de compromisso, as teorias mistas. O direito real atribui direito imediato a coisa é é protegido contra todos. Identificação de outras diferenças, todas como desdobramentos. 
 
Características:
1 sequela (seguir a coisa): apenas os direitos reais são dotados da faculdade de sequela, de acompanhar a coisa. O direito real adere a coisa como a lembra adere ao corpo. O vínculo é muito forte entre o direito real e a coisa, como a força da hipoteca (garantia real que tem por objeto bens imóveis, normalmente). Contexto de violação e reação do direito real. Decorre da eficácia absoluta.
2 publicidade: para que todos conheçam os direitos e os titulares constituídos. Decorre também da eficácia absoluta. Diferenciação da natureza do bem: móveis e imóveis. Móveis: publicitados por meio da posse, sendo um método não muito eficiente (caso do roubo, é uma falha por exemplo, que há posse mas não há propriedade). Porém a posse é barata, é espontânea, não é necessário um serviço público. Imóveis: registro de imóveis, sendo uma publicidade racionalizada, organizada por serviços. 
3 preferência: Serve para dirimir conflitos entre direitos reais. De acordo com a preferência o primeiro no tempo, é o primeiro no direito. Esse é o critério para saber qual direito real prevalece diante dos demais. Exceção: quando todas as escrituras forem lavradas no mesmo dia, o horário é o que vale. 
4.1 taxatividade: só há direitos reais previstas em lei, é uma reserva legal. Não é dado aos particulares criar outros direitos reais além dos já previstos na legislação brasileira. Mas não tem um lugar onde diga isso,  apenas o 1.225, CC, que enumera os direitos reais. O que não diz "são apenas...", não há essa previsão, há um respeito a taxatividade desde o código de 1916. Podendo o legislador criar um novo direito real, não contrariando a ideia da taxatividade, de estar previsto no código civil. Está atrelado a fonte do direito real.
4.2 tipicidade: cria-se uma tipologia dos direitos reais, há os tipos. Está atrelado ao conteúdo dos direitos reais. Não podendo eles serem atípicos, sendo atípico não é direito real, não tem proteção erga omnes. Revela qual é o espaço da autonomia privada tem para atuar nos direitos reais. São tipos abertos, ou seja, algumas caracterizas são essenciais (primárias), das quais o particular não pode se afastar é, outras, secundárias, sendo moldáveis, até afastáveis, não tornando o direito criado, um direito atípico. 
 
 
Aula 02 - 13/03
quinta-feira, 16 de março de 2017
17:26
 
DIREITO DE PROPRIEDADE
 
1- conceito 
·  Clássica: também conhecida como perspectiva estrutural, examina os poderes do proprietário, é um exame do direito. Ainda é válida, por mais que tenha uma leitura parcial da propriedade. Art. 1228, CC - conceituarão a partir dos poderes atribuídos ao proprietário, se analisados, duas ordens de poderes serão encontradas: 
 
A) conteúdo econômico da propriedade (senhorio) - uso (forma mais imediata de aproveitamento da coisa, ex: vestir uma roupa; morar em um imóvel, etc), gozo (direito de se apropriar dos frutos gerados pela coisa, podendo ser civis, naturais ou industriais, ex: pessoa que põe o seu imóvel para locação e recebe o valor do aluguel dele (fruto civil), a pessoa que empresta capital (mútuo) e recebe os juros (fruto civil)),  e disposição (duas acepções: disposição física do bem (poder de transformar e de até mesmo destruir a coisa, ex: pisar no celular / disposição jurídica do bem - compreende os atos de alienação e de constituição de direitos sobre a coisa, ex: transferir uma propriedade a outrem); inerentes ao domínio que permitem que o proprietário tire proveito econômico da coisa. 
 
B) conteúdo jurídico da propriedade (está associado a forma de proteção da propriedade em caso de violação) - tutela jurisdicional adequada, defesa do direito sobre o bem. A ação judicial mais importante de defesa de domínio é a ação reivindicatória. 
 
Essa análise foi, durante muitos anos, a única encontrada. Ela responde a seguinte pergunta: o que é a propriedade? É uma descrição da propriedade. Não responde: por que é protegida e para que a propriedade é protegida pela ordem jurídica? Para responder isso, adotamos uma perspectiva, vinculado a fundamentação ao direito de propriedade na ordem jurídica. Por influência do pensamento liberal, sendo a exteriorização da liberdade humana (loções), condição material do homem para exercer a liberdade, não seria preciso responder a essas duas perguntas, as finalidades caberiam somente ao proprietário e não ao direito. Posição essa, fortemente associada à liberdade individual, perante a ordem jurídica estatal. Essa maneira de racionar levou a concepção de propriedade como um direito absoluto, mó sentido do proprietário poder usar da maneira que ele bem entender, pois ele que estabelece as finalidades da mesma. Sendo esse o direito mais amplo possível, desde que não infrinja a ordem pública, que deve ser sempre respeitada. Essa teoria começa a ser criticado em razão do desenvolvimento das ciências nitrais e, em seguida, do positivismo sociológico. A ideia de um organismo vivo, cada indivíduo cumprindo um papel, esse tipo de explicação funcional começa a ganhar força. A propriedade passa a ser investigada como uma instituição social importante para o funcionamento da sociedade, ferramenta a serviço da sociedade não mais ao indivíduo. A fim de estabelecer um bem estar social, que satisfassa as necessidades matérias da população. Esse pensamento é, por alguns apresentado, de uma forma que a propriedade deixa de ser um direito e passa a ser um dever social (como Léon Duguit), função social. O proprietário não deve satisfazer a individualidade, mas para servir a sociedade, atendendo às necessidades da coletividade. Invertendo, assim, o pensamento do conceito propriedade. Esse pensamento seria fortemente criticado pelo seu vires totalitário, pois coloca o indivíduo numa situação subalterna a coletividade. Chegando no momento das constituições do pós guerra, que soa constituições que procuram um certo compromisso, com o Estado de bem estar social, uma visão do estado que prove aos indivíduos condições dignas, por outro lado contra as visões totalitárias de direito, que coloca o indivíduo como subalterno frente ao coletivo. A partir disso, passa-se a pensar sobre a função social da propriedade procurando reconhecer essa função social (limites do proprietário aos interesses da coletividade, a terceiros), mas pro outro lado evita que essa função social não reconheça ao indivíduo uma certa autonomia de acordo com o seu interesse. 
 
· Função social da propriedade como premissa o chamado "personalismo". Maneira de demarcar uma mudança em relação ao individualismo, não tem compromisso com a autonomia da vontade como um fim em si mesmo. Mas  a dignidade da pessoa humana influência de maneira a promove-la, sendo uma ruptura com o pensamento coletivista. Há indicação que na ordem constitucional existe os valores existenciais acima patrimoniais, ou seja, atender às pessoas, as necessidades delas. 
 
-> Síntese é que a propriedade é direito,mas ela tem função social, cujo exercício deve ser orientado a satisfação a sua função social. A constituição de 1934 foi a primeira a reconhecer isso, sendo mantido inclusive no regime militar, mas desprovido de eficácia normativo, um enunciado voltado apenas para o legislador. Esse panariam se altera com a constituição de 1988, que consagra a propriedade e s au função social como direito fundamental (art. 5o). Adotando como eficácia normativa própria, não é mais um comando para o legislador, podendo ser aplicado pelo juiz em um caso concreto, sendo inédito no direito brasileiro. Nos dias atuais, a propriedade é limitada pela função social, não é limitada apenas pela ordem pública. Mesmo que o legislador não tenha proibido determinada conduta do proprietário, o juiz pode reconhecer que haja um exercício contrário, que seja uma conduta indevida, em relação a função social da mesma. Isso significa que o proprietário deve exercer o seu direito em seu interesse, mas também de terceiros não proprietários. O compromisso constitucional entre o indivíduo e a coletividade é isso, não há uma negação do interesse próprio do proprietário, o que deve haver é uma ponderação para com o interesse coletivo. Podendo o juiz entender que está conduzindo de maneira contrária à sua função social - exemplo: conflitos possessórios. 
 
> função social da propriedade: o juiz pode ponderar, no caso concreto, os interesses do proprietário e de não proprietários para verificar se o exercício do direito está correto ou não.
> não há a última prima da liberdade, ou seja, a partir do reconhecimento da função social, não há um espaço de liberdade assegurado ao proprietário. Toda conduta do proprietário será verificado pelo judiciário, mesmo que o legislador não diga nada a respeito. 
No código civil, timidamente fala a respeito da função social da propriedade, ainda mais por ser da década 1960, apesar de ter sido promulgado em 2002. 
 
- Art. 1228, CC
Parágrafo 2o: teoria dos atos emulativos (exemplo de abuso do direito) - estabelece limites de como o titular pode exercer seu direito. Evolução muito lenta, mas ao mesmo tempo interessante, nasce na França, com o caso do vizinho que instalava torres pontiagudas para afastar os balões que voavam na área (a corte reconheceu que era um caso emulativo, que não produz nenhuma comodidade/utilidade ao seu titular e é praticado com a intenção de prejudicar). Foi rapidamente superada, mas ainda foi recepcionada pelo código de 2002. Suas condições de aplicação são extremamente difíceis e restritivas, sendo uma delas subjetiva (intenção de prejudicar o outro), dependem de uma análise complicada. 
Parágrafo 1o: função social (primeira parte);  meio ambiente, inútil pois depende de lei especial (segunda parte).
 
-> características/atributos:
A) exclusividade
Se manteve inalterado ao longo dos anos. Cada coisa só pode ser objeto de um único direito de propriedade, não se admite uma sobreposição de diversas propriedades sobre o mesmo bem. Ruptura com as concepções feudais de propriedade, que havia uma pluralidade, uma sobreposição, cada um à sua maneira. Propriedade como um bem exclusivo, ideia de que quando algo é "meu", isso significa que eu sou dono de determinada coisa, ou seja, pertencimento - exemplo: Usucapião (no momento que a pessoa adquire por meio da usucapião, a propriedade do antigo se extingue imediatamente); Condomínio (visto como exceção a exclusividade, ou não - há ideia de exclusividade atrelada a união da titularidade pela coletividade).
B) plenitude
A propriedade é o único direito real capaz de conter todas as faculdades inerentes ao senhorio. Também se manteve ao longo do tempo.
C) elasticidade
A propriedade é elástica, ou seja, tem capacidade de ser alterada em seu conteúdo sem perder a sua identidade, o conteúdo varia. Podendo ser completa ou limitada (desfalcadas de parte do seu conteúdo econômico, por meio da constituição sobre a coisa de outros direitos reais) - exemplo: usufruto (que é transferido o uso e o gozo para outrem). Também se manteve ao longo do tempo.
D) relatividade
Surge em virtude da evolução histórica. Ela se contrapõe ao caráter absoluto que se atribui a propriedade. Como qualquer direito subjetivo, a propriedade encontra limites não só na ordem pública, mas também os limites decorrentes da sua função social.
E) complexidade
As relações jurídicas de uma maneira geral eram concebidas de maneira simples (ativa/passiva), porém, hoje, a propriedade é considerada como direito complexo. O proprietário não tem apenas poderes, ele também tem deveres e ônus jurídicos, não é mais simplesmente ativa, é uma situação complexa, composta de elementos ativos e passivos. Essa complexidade pode ser encontrada no próprio texto constitucional, para imóveis urbanos (art. 182, CF - o proprietário tem um ônus, o de usar o seu bem, por serem escassos; parágrafo 4o - destinação ao terreno, socialmente útil, caso contrário: poder municipal poderá obriga-lo a realizar algum empreendimento, ou um imposto progressivo, ou cabível a desapropriação - o não uso é um comportamento não é aceitável).
 
 
Aula 03 - 15/03
quinta-feira, 16 de março de 2017
17:27
 
O que pode ser objeto de propriedade 
 
- requisitos 
1. bem jurídico corpóreo 
Só podem ser objeto de propriedade bens fungíveis, porém é controvertido. Hoje dada a existência de situações em que, aparentemente, há propriedade de bens incorpóreos. Fala-se muito da propriedade intelectual, sobre marcas e patentes, mas isso é bastante discutível. Os poderes que o titular de uma patente tem são muito diferentes dos poderes de um proprietário, não é muito visível o uso, o gozo e à disposição. Na linguagem jurídica ter propriedade já fio consagrado, ele é recorrente, mas tecnicamente a questão se torna mais discutível. Há exemplos mais incontroversos como ações de companhia, as ações não tem existência corpórea, não mais, são escriturais ou nominativas. Nesse caso, a lei 6404 trata as ações, trata como propriedade, de possibilidade de constituir usufrutos, penhor, alienação fiduciária sobre as ações. No direito brasileiro, pelo menos para as ações, há um caso de direito de propriedade a bem corpóreo. 
1. bem jurídico individualizado 
Ideia de especialização, propriedade sobre um bem identificável. 
1. bem jurídico apropriável 
Ideia muito intuitiva, essa coisa deve ser passível de ser objeto da propriedade. Há coisas que não são propriáveis, como o "ar", ninguém pode ser dono do ar, assim como a lua, as estrelas. Apesar de bens jurídicos, tendo relevancia para o direito, eles não podem ser objeto de propriedade. Uma "informação", ninguém pode ser dono, pois ela é compartilhada, apesar de ter um valor econômico e relevância jurídica. 
 
- limites do objeto
Móveis
Limites dados as suas próprias dimensões físicas. Aquilo que eles aparentam ser.
Imóveis
São finitos, pelo simples fato de que a terra é finita. Pode se criar imóveis, por exemplo, quando se constrói um edilício. Até os limites de um imóvel não é algo tão simples. O continente é um imóvel só, filosoficamente. Os limites de um imóvel é dado por um serviço público, por meio da matrícula registrada. No plano horizontal os limites são dados no registro de imóveis, no vertical são definidas do interesse humano e da utilidade para as pessoas. 
> Art. 1229, CC - a extensão da propriedade no plano vertical, considerando seus conteúdos jurídico e econômico. Para o senhorio, deve ser observado a utilidade, em relação ao conteúdo jurídico (defender seu direito a terceiros) o critério é interesse legítimo. Você só pode excluir uma interferência alheia se você tiver legião interesse em impedir tal atividade. 
> Há riquezas do subsolo que forma propriedades destacadas, cujo o dono não é o dono do imóvel, mas a união (por força constitucional), como o petróleo. 
> Todos os bens que se incorporam ao solo, natural ou artificialmente (trabalho humano), incorpora o bem. Todas as acessões integram o imóvel, seja naturais seja artificiais. (Ex: no caso de uma árvoreplataforma em um terreno. Quantos bens jurídicos eu tenho? 1).
 
- Limites ao direito de propriedade 
Limites aos poderes do proprietário: função social e todos os limites de ordem pública (são específicos).
Limites estabelecidos no interesse da vizinhança: todas as pessoas devem se abster de praticar diversos atos no imóvel, no interesse do vizinho
Limitações voluntárias: são instituídas por vontade do proprietário, gravando seu bem com a constituição de direitos reais limitados, menores (ex: usufruto). 
 
Aquisição da propriedade
 
- O código civil prevê modos de aquisição da propriedade, podendo ser exclusivo aos bens móveis, outros aos imóveis e outros comuns a todos os bens. 
 
- Os modos de aquisição de propriedade são taxativos, só se adquire propriedade pelos modos previstos em lei. Não há artigos, mas é algo já consolidado na doutrina.
 
- Distinção entre aquisição originária e aquisição derivada. 
1a versão (Caio Mário) - aquisição originária é aquela que se dá ao bem que não tem dono. Se o bem já tem dono, no momento da aquisição, ela é derivada. O único modo originário do direto brasileiro seria a ocupação, somente aplicada a bens móveis. 
2 a versão (professor) - aquisição derivada é aquela que resulta, que pressupõe uma relação jurídica entre quem adquire e entre quem perde a propriedade. Há o fenômeno da transmissão, o bem é deslocado para o patrimônio do adquirente devido a uma relação jurídica entre as partes. Há também o fenômeno da sucessão, o adquirente sucede ao bem anterior na titularidade do bem. O direto permanece o mesmo, não surge um novo, a propriedade já existia, só que com um novo titular. Se há uma mera alteração na titularidade do direito, o adquirente passa a ser titular tal como o antigo era, o direito não é alterado, é exatamente o mesmo. Consequências: a transmissão tem como pressuposto de eficácia que o antigo proprietário fosse o dono da coisa. Ninguém pode transmitir um direito se não for titular. / ninguém pode transmitir mais direito do que tem, ou seja, se eu sou dono de um imóvel hipotecado, só poderei transmitir o imóvel hipotecáveis. É necessária a mesma característica do bem que se encontrava no patrimônio do transmitente. 
Já a aquisição originária resulta na aquisição de um direito novo. O adquirente adquire um direito que ainda não existia. Pode existir uma aquisição originária quando o bem já estivesse na propriedade de uma outra pessoa, como a usucapião. Na aquisição originária se dá independentemente de uma relação jurídica entre o adquirente e o proprietário, ela é feita por meios próprios. O direito pre existente se extingue, não há transmissão nem sucessão, o que há é uma substituição de direitos, surge um novo direito. 
 
- Aquisição por ato inter vivo X aquisição mortis causa
Inter vivos
Modos: tradição e o registro aquisitivo no registro de imóveis. Pressupõe um negócio jurídico entre as partes, de transmissão do bem.
Mortis causa
Modos: herança (fração do patrimônio em favor dos herdeiros, no momento da abertura da sucessão, do falecimento transmitem-se os bens para os herdeiros. "Droit de saisine") e o legado (depende de partilha, inventário, tem um procedimento, que só após o término dele a pessoa terá acesso ao bem). 
 
- Como se dá a aquisição inter vivos 
1. modelo romano 
Sistema de causalidade e baseado na distinção entre título e modo. A transmissão não é efeito imediato do negócio jurídico, sendo necessária a prática de ato jurídico específico para a produção desse efeito. Um ato jurídico adicional, sem natureza de negócio jurídico, mas que tenha efeito de transmissão da propriedade (ex: um título (contrato jurídico) não basta para a transmissão de propriedade, é preciso da tradução, nos bens móveis). A eficácia do modo depende da eficácia do título. Se o título for considerado ineficaz, esse vício repercute na eficácia do modo. O modo não sobrevive sem o título. Preguiça um pouco a segurança do adquirente, mas protege o dono da coisa. O direito BRASILEIRO adota esse sistema, apenas abriu um pouco de abstração em casos de bens móveis específicos.
- art. 1.226 e 1.227, CC
1. modelo francês 
O contrato por si só basta a transmissão do domínio. PEGAR
1. modelo germânico 
Sistema abstrato baseado na distinção entre título e modo. O modo, uma vez realizado, abstrai do título. Caso o contrato de compra e venda seja ineficaz, a tradição permanece a produzir efeitos. Aquele que adquiriu permanece sendo proprietário, por que a eficácia do modo abstrai a do título, de maneira geral. O que está em jogo é o quanto se protege o verdadeiro dono do bem e o adquirente. O modelo germânico protege mais o adquirente, o que é bom para o comércio. É ruim para o dono lesado. 
- título singular X título universal
Singular: aquisição de determinados bens.
Universal: aquisição por objeto um patrimônio ou uma fração de patrimônio (ex: herança). 
 
 
Aula 04 - 20/03
 
19:19
 
Modos de aquisição da propriedade 
 
· Imobiliária 
 
- Registro do título aquisitivo no RGI
 
Princípios
Representam duas respostas diferentes: para que serve o registro de imóveis? 
1. Inscrição 
Todo ato constitutivo ou transplantio de direito real sobre imóvel deve ser levado a registro para produzir efeitos. Não se opera a constituição de direito real sem que seja praticado o ato registrário, tem uma importância constitutiva. O efeito real se produz não pelo ato aquisitivo por si só, mas depois de seu registro no RGI. (Brasil - CC é Lei 6.015/73, dos registros públicos (LRP)).
2. Publicidade
Conferir publicidade aos direitos reais sobre imóveis e a titularidade desses direitos. Nessa acepção, o RGI tem uma importância probatória, o registro vai servir de prova erga ornes, tem efeitos reais. (França e Itália)
· Transmissão hereditária: em razão do princípio droit de saisine. O registro da partilha apenas da publicidade. 
· Aquisição por meio da usucapião: a sentença judicial que reconhece a ocorrência da ususcapiao tem natureza declaratória. O registro serve para o reconhecimento do usucapiente, meramente probatório. 
 
-> O RGI aspira a completude, que todos os atos que sejam importantes para conhecer uma situação importante para o direito, é necessário registro. Oferecimento de uma visão completa do que já aconteceu com aquele imóvel. 
 
 
Regras de funcionamento
 
1. Matrícula do imóvel
Nenhum registro será feito sem que o imóvel a que se referir esteja matriculado. A matrícula é o primeiro ato a ser realizado no RGI sobre determinado imóvel, é o ato de identificação do imóvel (LRP, art. 236).
 
2. Princípio da continuidade do registro
É dever do oficial do RGI zelar pela completude e coerência dos registros que mantém sob sua administração. Por isso, toda vez que lhe é apresentado um título para registro, ele deve verificar se esse ato confere com aqueles que já foram registrados no registro, verificação da coerência. Se não houver continuidade, não vai haver credibilidade (LRP, art. 237).
 
3. Ordem de apresentação 
Todos os títulos apresentador, tomam no protocolo do RGI, o número de ordem em razão da sequência de apresentação. Princípio da preferência em direitos reais, prevalece o ato registrado em primeiro lugar, por isso é importante o número de ordem de apresentação. Não importa a data do deferimento do registro, o que vai determinar é o momento do protocolo. 
 
4. Quem pode solicitar o registro do título junto ao RGI
· Iniciativa conjunta dos dois; II - atuação ex ofício do RGI, ainda que não provocado, ele poderia dar início ao registro; III- iniciativa de qualquer pessoa interessada (Brasil - LRP, art. 217).
 
5. Princípio da legalidade
Regra que define o escopo do trabalho desempenhado pelo oficial do RGI. Quando o oficial recebe um novo título para registro, ele deve verificar se o registro é devido nos termos da legislação em vigor. Esse exame de legalidade teria um alcance limitado, atendendo aos seguintes aspectos: pedido de registro se encontra instruído e com toda documentação em lei; verificar seo título apresenta algum vicio de nulidade; verificar se o registro daquele título tem previsão legal (importante em matéria direitos reais limitados, sendo essa uma atividade de qualificação); verificar se há descontinuidade entre o título apresentado e os títulos registrados precedentemente. Ele não faz, por exemplo, análise de anulabilidade (apenas pelo judiciário), ou rescisão contratual (arts. 212 e 213, LRP).
 
6. Presunção relativa de veracidade do registro
Os assentamentos do RGI (a matrícula, o registro, as averbações) presumem-se (presunção relativa) verdadeiros e gozam de fé pública. Podendo ser retificados (consiste na averbação de correção de informação que não exprime ou deixou de exprimir a realidade sobre o imóvel - sanar um erro material no momento do registro ou para atualizar uma informação alterada após o registro, o próprio oficial pode reconhecer) ou até anulados (causas de nulidade formais - são relativas ao procedimento de registro, por exemplo: o registro foi registrado por ente incompetente, não alcança o negócio jurídico, apenas o registro; e substanciais (relativa à validade e a eficácia do negócio jurídico que foi levado a registro, só podem ser conhecidas por decisão judicial. Se o judiciário reconhecer a nulidade do negócio, o registro também perde o efeito - teoria causalista; apenas o judiciário pode reconhecer). Enquanto isso não ocorrer, o assento produz efeitos plenos (art. 252 e 254, LRP).
 
 
Como se dá o procedimento de registro
Decorre em duas etapas.
1. Inspeção do título pelo oficial (obrigatória)
Ele pode deferir o registro ou formular uma exigência ao requerente para a supressão de irregularidades (o requerente cumpre a exigência e o pedido é deferido ou o requerente não concorda e ele contesta a exigência, nesse momento surge a segunda etapa do procedimento).
2. Suscitar dúvida (apenas no caso de contestação) 
O oficial suscita dúvida perante o juízo competente, avaliando se a contestação vai ser mantida ou se a exigência deve cair, o que não acontece normalmente. 
 
 
-> aquisição da propriedade pelo registro do título no RGI: caput e §1º do art. 1245, CC 
O registro do titulo aquisitivo no RGI é modo de aquisição tendo eficácia constitutiva. O negocio jurídico não tem o efeito de transferir o domínio, vez que no direito brasileiro o negocio jurídico só produz efeitos obrigacionais. A transmissão do domínio só ocorre com o registro do titulo. 
-> momento da aquisição: art. 1246, CC 
Desde o momento em que. Oficial recebe o número de ordem, no protocolo. O deferimento tem um efeito retroativo. 
-> presunção relativa de veracidade do título aquisitivo: art. 1247, CC 
É possível retificação e anulação. Enquanto não promovidas, o assentamento continua a gozar de fé pública - Art. 1245, parágrafo 2o. Aquele que tiver seu título devidamente registrado, é presumidamente dono do imóvel. Comprometida a vaidade do registro do título, o veredito proprietário por via judicial, a anulação do registro. Uma vez reconhecida a a nulidade, o registro é cancelado e o antigo dono volta a ser o proprietário, independente da boa fé ou do terceiro adquirente. 
 
 
 
Ex:
 
 
 
 
Muitas brigas sobre imóveis se arrastam por décadas. Há a compra e venda do imovel, só que essa compra e venda é forjada, pois a pessoal que vendeu o imovel se valeu de uma procuração forjada no nome do dono. Ele vendeu a propriedade sem poderes para tal. Se tem, então, um negocio nulo, uma compra e venda forjada. Antes se tinha o proprietário A, e agora se tem o B que comprou. B vende em favor de C. A em determinado momento percebe que foi passado para tras, pois a procuração era falsa, e procura reaver o imovel que esta em nome de C. Ele vai entrar com uma ação judicial em face de B e C para reconhecer a nulidade de ambas as compras e vendas e dos seus respectivos registros. A primeira compra e venda era nula. A segunda compra e venda é ineficaz, pois é uma venda feita por quem não é dono, a non domino. Essa venda não e nula porque os requisitos do NJ estão presente. O que há é a falta de pressuposto da eficácia da transmissão da propriedade, pois o negocio foi feito por quem não era dono. Ninguem pode transmitir um negocio que não tem. Sendo assim, os registros no RGI serão nulos. 
Vamos supor que isso foi feito em 1910 e tenha ocorrido uma cadeia de vendas a non domino. A invalidade de um titulo da cadeia tem o potencial efeito de desconstruir toda a cadeia superveniente de transmissão do domínio, pois todos os negócios passam a ser ineficazes, pois foram feitos a non domino. Não é uma questao de efeito retroativo. O que há é a invalidade de toda cadeia superveniente ao titulo invalido. 
Ficando apenas com A, B C, é uma situação complicada com C, que fez tudo certo. Ele foi no RGI, levantou toda a situação do imovel, viu que estava lidando com o dono do imovel, que o RGI dizia ser B. E, momento depois, ele se ver eu em uma ação que levara a sua evicção. C estava de boa fé ele confiou nas informações de fé publica do RGI. Ele ficara sem o preço pago e sem o imovel (na pratica é praticamente impossível ele recuperar o preço). Na vigência do CC06, que não tratava claramente do assunto, havia os autores que deveria permanecer o direito do verdadeiro proprietário, mesmo que o adquirente seja um terceiro de boa fé; e de outros que deveria prevalecer a posição do terceiro de boa fé no negocio oneroso. No final da década de 50, os tribunais deram razão dizendo que no direito brasileiro se protege o verdadeiro proprietário e não o terceiro de boa fé. Nos tribunais, na pratica, essa ainda é uma questao complicada. O CC02 pacificou essa questao, deixando claro que não há tutela do adquirente de boa fé nas transações imobiliárias onerosas. Isso está no artigo 1247 §único. Essa foi uma opção do legislador que, sabendo do dilema, pacificou a situação. O CC02 criou um “remédio” para isso. O remédio que ele criou foi uma modalidade especifica de usucapião de 5 anos. A pessoa que adquiriu com base no registro de imóveis negocio onerosos e que tenha tido o registro do seu imovel cancelado, há o usucapião em 5 anos. Entao, se C já tiver há 5 anos no imovel, ele está protegido. Ainda que o judiciário reconheça que a primeira compra e venda foi invalida, o C vai opor ao reivindicante a sua propriedade com base no usucapião. Se C não era dono em razão da compra e venda, ele sera em razão da usucapião. A usucapião é um “saneamento”. Ainda que haja visto na cadeia, não é possível questionar a titularidade. É o usucapião tabular, que está previsto no CC
O que há de novo na proposta do CC02 é o prazo de 5 anos. Não é o adquirente de boa fé poder se valer do usucapião. Isso já era permitido, mas antes o prazo era de 15 anos.
 
 
· Registro Torrens
Criado na Austrália, sistema incorporado ao Brasil por Rui Barbosa. Foi mantido pela LRP, por mais que que seja um fracasso, está ainda em vigor. Regime de registros facultativo, que se aplica apenas a imóveis rurais. O dono do imóvel rural pode solicitar a inclusão no registro Torrens, a presunção de veracidade é absoluta, o direito de propriedade é inatacável. É um procedimento complexo e demorado, não só administrativo, como também judicial. Tornou pouco interessante, pegando ao registro ordinário, que é puramente administrativo, presunção relativa e ainda prevê a usucapião. 
 
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Aula 05 - 22/03
 
19:18
 
· Acessão 
 
Conceito
Empregado na parte geral do código civil para definir os bens imóveis, são definidos como o solo e tudo aquilo que se acede ao solo. Acessão são os bens que se incorporam ao imóvel passando a formar o imóvel. Bens que tem uma individualidade, passam a formar um único bem jurídico. Normalmente não significa nenhum modo de aquisição de propriedade, a menos que os bens que acedem um ao outro pertencem a donos distintos. Quando eles se tornam uma coisa: quem é o proprietário dessa coisa? Existência de uma propriedade é incompatível de outra propriedade sobre o bem, há a exclusividade do domínio. Háum conflito, um dos dois será o proprietário. Se aplica para bens móveis e imóveis.
 
· Imóveis 
 
Art. 1.248, CC: o último inciso é o que vamos estudar. Em razão de um dos fenômenos naturais, se tem duas coisas que juntam e deve se decidir quem é o dono da coisa consolidada. Aluvião: sedimento contínuo e discreto por meio de uma passagem de água. Avulsão: deslocamento de terra violento é pontual, ocorre em determinado momento do tempo. Formação de ilhas: braço de um rio que surge, a grande maioria dos rios no Brasil são públicos, da União. Álveo abandonado: quando o rio seca, se tem um álveo que foi abandonado. 
· Construções e plantações: não é um fenômeno natural, mas artificial, provocada pelo homem. O homem constrói ou planta num determinado terreno. Há três atores possíveis: proprietário do terreno, possuidor do trabalho e o dono do material. 
Art. 1.254, CC: conflito: alguém que semeia, planta ou edifica um terreno, mas se vale de sementes, plantas ou materiais alheios. Solução: ele se apropria dos materiais utilizados, não podendo o antigo dono reivindica-los. Mas haverá uma compensação (valor do material restituído), para não haver um enriquecimento sem causa. E indenização, pela responsabilidade civil, se houver má fé. 
Art. 1.255, CC: conflito: alguém que semeia, planta, edifica em terreno alheio e material próprio. Solução, parágrafo único: o construtor, que utilizou material próprio, se torna proprietário do imóvel se o valor da plantação ou edificação exceder consideravelmente o valor do terreno. Além disso, ele tem que estar de boa fé, deve ignorar que está plantando ou construindo em terreno alheio e, ainda, indenizar o antigo proprietário. -> acessão invertida: inverte aquilo que, pela tradição romana, se considerava a lógica comum da acessão. Na falta de qualquer requisito, é o dono do térreo que se torna proprietário do imóvel. 
Art. 1.256, CC: caso em que ambas as partes estão de má fé. Má fé de um, neutraliza a má fé do outro. Por meio da lógica: o construtor não é compensado pela construção, mas se o dono também estiver, ele será compensado. Ele não vai indenizar pelo valor da riqueza criada e, sim, pela despesa que ele teve.
Art. 1.257, CC: referencia equivocada, o que o artigo quis fazer referencia é o art. 1.255. Hipótese de se ter uma diferença de proprietários no que diz respeito ao material utilizado e quem realizou a obra. Parágrafo único: admite uma cobrança direta do dono dos materiais, em face do dono do terreno. Ele assume uma responsabilidade do dono do terreno. 
· invasões de terreno vizinho que ocorre nas construções. Pode acontecer de uma construção invadir parte de um terreno vizinho. Pode ser exigida a demolição dessa construção, às custas do vizinho (código de 1916). Porém, há casos que essa solução não é cabível, como com prédios. 
Arts. 1.258, CC: hipótese em que o construtor invasor vai poder se apropriar do terreno invadido. Esse que se a proporção do solo alheio não for superior a vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente. 
Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o construtor de má-fé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o valor da construção exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção. 
Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro. 
-> diferença entre os artigos: tamanho da invasão, aumenta-se a invasão, aumentam-se os requisitos. 
 
*IMPORTANTE*
Benfeitoria: mais vista como uma melhoramento, a construção já existe, mas faz-se alguma obra/despesa para melhorar, para fins estéticos ou para utilidade.
Acessão: se refere a própria construção.
 
Art. 1.228, CC - parágrafos 4o e 5o: pequena aplicabilidade prática, novidade do código de 2002, sendo um estudo novo. Pois se pressupõe da boa-fé e, ainda, tem que indenizar. Sendo a hipótese de perda de propriedade, quando consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. O juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores.
-> Acessão invertida social, o critério é social, são construções que o juiz considerar socialmente relevante, tendo margem muito ampla para interpretação. 
Uma saída seria aplicar em uma das modalidades da usucapião. Usucapião coletiva: extensa área (maior que 250 metros quadrados) por um grupo de pessoas. Há a formação de um condomínio e, sob o ponto de vista urbanístico, essa não é a melhor solução, pelo dificuldade em estabelecer essa relação processual. Não vem acompanhada de um projeto urbanístico, é muito melhor se fazer um trabalho urbanístico para separa a posse de cada pessoa, apara que cada família tenha a sua propriedade. 
 
 
Aula 06 - 27/03
 
19:06
 
· Mobiliária 
 
-> Contextualização 
 
· Recorte temático 
Os modos de aquisição da propriedade móvel são, além da ocupação e do achado do tesouro, especificação e acessão (que tem 3 espécies: comissão, adjunção e confusão).
O recorde é porque não vai estudado agora a usucapião. É porque há um outro modo que é por meio da sucessão hereditária, que está previsto do CC.
São modos de aquisição dos moveis. A usucapião e a sucessão hereditária também podem ser feitas para os imóveis.
 
· Aquisição originária e aquisição derivada: efeitos
A originaria é uma aquisição que depende de um fato próprio, que não tem relação com a titularidade anterior do bem. E a aquisição derivada é quando há uma transmissão da propriedade.
Quando se encontra figurar especificas da aquisição da propriedade, fica mais difícil identificar se é originaria e derivada.
Obs: A maioria absoluta doutrina entende que usucapião é aquisição originaria, mas o caio Mario acha que é derivada.
Essa distinção teme feitos práticos. Se ela é originaria, ela não vai trazer na nova relação de titularidade, nenhum das vicissitudes de relação anterior. O novo titular do bem não precisa se preocupar com os problemas que gravavam o bem na relação anterior. Se adquire o bem livre de qualquer ônus. Na derivada isso não ocorre.
Um exemplo disso pode ser encontrado no Resp 620.610, no qual houve uma aquisição por usucapião, que é modo originário. E havia um direito real de garantia sob o bem. O credor procurou executar a sua garantia. Havia uma relação jurídica obrigacional entre um credor e o devedor. Esse devedor que deu o bem em garantia perdeu o bem que era de sua propriedade por usucapião. Com isso, quem se prejudicou foi o credor que tinha a garantia. Esse bem não existe mais e não se tem mais o direito de sequela, ou seja, não se pode mais ir atrás do bem.
 
· Contrato e propriedade
No direito brasileiro o CC se preocupa em falar de modos de aquisição da propriedade, pois no nosso direito o contrato tem eficácia real, ou seja, o contrato por si não transfere a sociedade. Para se ser dono é necessário um fato aquisitivo. É esse fato aquisitivo que vai gerar a propriedade. O fato aquisitivo nos bens imóveis registro no RGI, e nos bens moveis é a tradição.
 
· Bens móveis na contemporaneidade 
Há uma importância quando se trata de bens moveis hoje em dia. O CC disciplinaalguns modos de aquisição que não fazem sentido hoje, mas que faziam sentido na época em que eles foram pensados.
Hoje em dia os bens moveis assumem uma importância muito maior, basta pensar no mercado de valores imobiliários.
A opção pelo contrato não ter eficácia real é uma opção politica, legislativa, Em alguns ordenamentos os contratos têm eficácia real. Diante dessa importância renovada dos bens moveis na contemporaneidade, se verifica que alguns aspectos do sistema de aquisição da propriedade imovel, passam a ter a sua ratio, a sua funçao justificada também em relação aos bens moveis, embora não como modo de aquisição, mas como requisitos que a pratica impõe.
Obs: Ratio = para o que aquela norma serve, qual é a função dela.
· Fato aquisitivo: qualificação 
Esse aspecto é o mais difícil e diz respeito aos atos jurídicos. Há uma distinção entre negocio jurídico e ato jurídico estrito sensu. O NJ e aquele em que a autonomia privada autoregulamenta os seus deveres, criando direitos e obrigações e disciplinando os efeitos que eles querem daquela relação jurídica. No ato jurídico estrito sensu se tem o ato de vontade, destinado a um determinado efeito, mas não se diz qual é esse efeito, pois é a lei que determinada esse efeito, que regulamenta esses efeitos.
Quando se estudou essa classificação, se viu uma categoria chamada de ato-fato que seria uma terceira espécie. Essa categoria, tem como principal defensor Pontes de Miranda. A diferença dela com o ato jurídico estrito sensu é que no ato fato não há uma preocupação se houve um ato de vontade destinado a produção daqueles afeitos. Simplesmente se verifica que houve um fato que vai produzir determinados efeitos.
Todas essas categorias não comportam todas as possibilidades de regulamentação privada. O NJ é uma categoria muito abstrata.
Muitas vezes na pratica há contratos celebrados que não se encaixam nessas categorias. Portanto, não se pode olhar essas categorias como absolutas, apesar de serem relevantes.
 
· Glossário: res ("nullius" e "derelictae")
Há duas expressões latinas que inevitavelmente vao ser encontradas nos livros de estudo dessa materia. Essas duas categorias dizem respeito a coisas sem donos.
Ocupação diz respeito a aquisição da coisa sem dono. Por isso, diante de ocupação se vai estar diante de res nullius ou de res derelictae.
"Nullius" - jamais teve dono. É possível? Muito difícil. Animais, conchas, vegetais, etc.
"Derelictae" - já teve dono. 
· Propriedade e relações existenciais
O direito civil estuda contrato, propriedade, testamento, família, etc. Hoje, para a metodologia do direito civil constitucional, o direito civil se preocupa tambem com relações existenciais. A CF88 coloca como fundamentos a dignidade da pessoa humana. Segundo Tepedino e Maria Celina, esses novos valores da CF vao se espalhar por todo ordenamento jurídico. Valores
existenciais são questões ligadas a dignidade humana. A disciplina da propriedade é aplicada em casos em que há relações existenciais subjacentes, que deveriam guiar a construção argumentativa do caso.
 
Ex: Caso em que uma senhora sequestrou um menino na maternidade. Isso foi descoberto e ela tinha uma outra filha. A duvida era se ela tambem tinha sequestrado essa outra filha. O problema foi que essa filha não quis fazer exame de DNA, pois foi criada pela senhora a vida inteira. Numa dessa, pegaram uma guimba de cigarro, que é res derelictae e foi feito exame de DNA. Constataram que ela tambem não era filha. Se pode pensar nesse caso como há res derelictae ou a argumentação tinha que ser pensada diferente, com questões como direito a verdade biológica, registro... Tratar isso como res derelictae é desrespeitar o que a CF estabeleceu. Não se aplica, portanto, a relações existenciais.
Ex2: Um tabloide inglês colocou em duvida a paternidade do príncipe Willian, dizendo que ele seria filho de um professor de educação física da princesa Daiana. Um repórter acabou pegando um lenço que o príncipe usou e se fez o exame de DNA. Essa forma de res derelictae, mais uma vez, foi usada de forma errada
Ex3: Uma cantora disse que sofreu abuso de gentes penitenciários quando estava em custodia e se recusou a fazer o DNA. Quando ela deu a luz, usaram a placenta dela para fazer o exame de DNA.
Ex4: O caso do computador das relações de trabalho. O empregador, que é o proprietário dos computadores, pode ver tudo o que o empregado faz, afinal o computador é dele? O raciocínio é ponderativo. Alguns entendem que o email institucional pode sim, outros acham que nem isso. Nem tudo o empregador pode ver por ser proprietário.
 
 Hoje se tem uma relativização da distinção entre relações reais, situações jurídicas reais e relações jurídicas obrigacionais, situações jurídicas obrigacionais. Sempre que se ouvir falar de situação jurídica é um aspecto que diz respeito ao seguinte ponto: antigamente o direito subjetivo servia para tudo. Hoje em dia, essa dinâmica da relação entre devedor e credor é totalmente alterada. Não se consegue mais racionar o direito sob a forma de direito subjetivo
 Hoje se tem essa relativização das relações jurídicas reais e obrigacionais. Varios atributos que são usados para realizar essa diferenciação, encontram diversas exceções no ordenamento jurídico. Essa distinção ainda se mantém, mas não mais em termos qualitativos. A disciplina passa a ser diferenciada em aspectos quantitativos. Se vai diferenciar um direito real de um obrigacional na medida em que o seu direito adere a uma determinada coisa. É um aspecto quantitativo. Parte da disciplina das relações obrigacionais poderá ser aplicada, eventualmente, nas relações reais, como a questao da boa fé objetiva. Com essa relativização dessa distinção passa a ter mais importância essa distinção.
 
 
 
· Ocupação 
 
· Conceitos e requisitos 
O principal aspecto é que ela é aquisição do bem móvel sem dono. “Ocupaçao é a tomada de posse, de uma coisa sem dono, com a intenção de adquira-la
para si, ou, atendendo mais a linguagem da lei, é o modo original de adquirir pelo o qual alguém se assenhora de coisa sem dono”.
O CC dedica um artigo a ocupação que é o artigo 1263. É um modo de aquisição exclusiva dos bens moveis, pois não há bem imovel sem dono no nosso sistema hoje em dia. Ou sera do estado ou sera de algum particular. Isso nem sempre foi assim.
 
A. Tomada de posse
Apreensão fáticas da coisa.
A. Intenção de adquirir a coisa para si
Como que vai se abrir uma intenção de uma coisa para si sem a tomada de posse? Há uma aproximação do primeiro, na medida de apreender a coisa, presume-se, relativamente, que é para si. 
A. Coisa sem dono
Res derelictae - tem que ter uma intenção de abandonar por parte do proprietário. Como se vai saber a intenção de abandonar? Circunstâncias fáticas. O simples "perder" não condiz com a Res derelictae. 
A. Salvo hipótese de vedação legal 
A aquisição não deve ser vedada por lei.
 
· Capacidade do ocupante
O ocupante precisa ser capaz? Para adquirir a propriedade de um móvel, e que a lei exige que haja uma vontade qualificada, uma vontade de produzir efeitos, tem que ser capaz?
Na disciplina da ocupação e exige uma vontade direcionada para a aquisição para si. O incapaz pode ter essa vontade.
A doutrina tenta explicar isso por uma presunção da vontade. Essa é a grande maioria da doutrina, que admite a possibilidade de ocupação por incapaz.
 
· Coisa sem dono: o problema da intenção
A intenção vai depender de parâmetro subjetivos que vao ser vistos no caso concreto. Mas há a presunção que se quer adquirir a coisa para si.
Depende da faculdade de discernimento ou vontade possessória.
Caso da lavanderia e vender o que ficou lá: A pessoa colocou roupas para lavar e assinou o contrato dizendo que se em 30 dias ela não as buscasse, o dono do estabelecimento poderia ficar com elas. Passados os 30 dias, o dono do estabelecimento pode vender as roupas? A tendência majoritária é que não. O principal argumento é que nesses casos incidiria, em primeiro lugar, o CDC, que proíbea renuncia de direitos no artigo 51, IV
 
· Ocupação X descoberta
Se a coisa tem dono, mas ela tava perdida, não é ocupação. Se não é ocupação, a máxima do “achado não é roubado” não permanece no direito civil, pois não se adquire a propriedade. O CC disciplina a descoberta quando trata da propriedade em geral. A descoberta não constitui modo de aquisição da propriedade móvel. A disciplina da descoberta está nos artigos 1233-1237 do CC. O CC estabelece que coisa perdida, mas que não é coisa sem dono (ou seja, não é res nullius nem res derelictae), se se souber quem é o dono, se deve restituir. Se não souber quem é o dono, o CC estabelece que o descobridor deve buscar encontra-lo e se não encontrar, entregara o encontrado a autoridade competente. A autoridade competente nem sempre
é o estado, a policia, pode ser, por exemplo, o setor de achados e perdidos. Esse dever de encontrar deve ser analisado com as novas tecnologias.
O CC diz que quem achou a coisa tem direito a receber uma recompensa quando encontra o dono da coisa. Esse direito de recompensa só vale quando o sujeito espontaneamente procura devolver o bem que a pessoa perdeu, ele não pode estar procurando porque a pessoa pediu, tem que ser espontâneo.
Em relação a recompensa, 5% é o piso, é o mínimo. A pessoa que achou e devolveu pode pedir mais. O juiz vai saber se ela tem direito a mais ou não com base na avaliação do esforço empregado pela pessoa nesse caso. Isso não se confunde com a indenização. Se o dono da coisa julgar que aquele bem não vale a pena, ele pode recusar o bem e não pagar a recompensa. Mas a pessoa que achou não pode exigir isso dele, é uma faculdade dele. Ele pode pegar a coisa, pagando as despesas e as recompensas e pode dizer que não quer mais a coisa.
Se o dono da cosa tinha interesse nela, mas o descobridor a devolveu danificada, causando um prejuízo enorme, ele pode reclamar? Apenas em caso de dolo se vai poder responsabilizar o descobridor da coisa.
Se se acha a coisa e a entrega a uma autoridade competente se tem uma nova relação, que vai ser entre o poder judiciário com o dono da coisa e não mais com o descobridor. O artigo 1236 tem que ser harmonizado com o NCPC, que trata das coisas vagas e dedica o artigo 476 as coisas vagas. A grande novidade do NCPC é que ele fez referencia as novas tecnologias. Se não se encontrar o dono, vai para o município. Se o município não quiser, pode ficar com quem descobriu a coisa
A descoberta não constitui modos de aquisição da propriedade imovel
 
· Análise de caso: TJSP- 2016: apelação civil 00557951220058260100
A autora de uma escultora emprestou essa escultura para um amigo que morava numa fila, para que ele colocasse a obra dela em uma exposição. O que aconteceu foi que depois de alguns anos, esse sujeito estava devendo alugueis e sumiu da vila, deixando a escultura lá. A vila, que tinha tomado calote, resolveu vender a escultura para o ferro velho. Quando a dona descobriu isso, ela propos uma ação indenizatória em face da vila. O TJSP considerou que era um caso de res derelictea. É difícil falar no caso concreto que a dona da coisa queria se desfazer da coisa. O que acontece é que a relação entre o dono da coisa e o amigo era uma relação obrigacional, que ninguém tinha obrigação de saber. Para a vila, o morador era o dono da coisa e, ao fugir, abandonou a coisa, considerando res derelictea. Foi isso que o tribunal entendeu.
 
 
 
· Achado do tesouro (arts. 1264-1266)
 
· "anacronismo romântico"
Essa é uma expressão do professor Renteria. Quem caça tesouro hoje em dia é ninguém.
O achado de tesouro tambem perde importância, pois a CF88 acaba com quase todas as vantagens de quem acha um tesouro, visto que quase tudo passa a ser da união. Se se achar um tesouro, muito provavelmente não se vai ter nenhum direito sobre isso.
 
· Requisitos para configuração 
O primeiro requisito que a doutrina elenca é que o tesouro tem que ser uma coisa móvel. Esse requisito é temperado, pois há tesouros que já acederam a outra coisa, como a solidificação na terra, num objeto. Teoricamente seria um bem imovel, mas a doutrina entende que se deve considerar que é móvel, desde que seja possível retira-lo quem que haja danos.
O segundo aspecto é que o bem tem que ser valioso. Não é necessária apenas uma relevância economica, mas tambem relevância histórica e cultura.
O terceiro aspecto é a antiguidade, mas não é bem requisito. Se não for antigo, provavelmente não se vai poder dizer que aquilo é um tesouro, que não se pode saber quem deixou ali
A quarta é que a coisa tem que estar escondida. Ela pode estar escondida em um bem imovel ou móvel. É o requisito da ocultação.
 
· Com quem fica?
O tesouro vai pertencer integralmente ao dono da coisa onde foi achado em 3 casos: Se o tesouro for achado na coisa do próprio dono. A segunda possibilidade é se é uma pesquisa que o dono da coisa ordenou, foi o seu preposto que achou. E a terceira possibilidade é quando o terceiro não autorizado encontra a coisa.
O tesouro sera divido entre o dono da coisa e o terceiro descobridor é quando ele é encontrado casualmente pelo descobridor. Art. 1264, CC.
 
· Qualificação 
Achado de tesouro é um modo autônomo de aquisição? Ele é uma ocupação? Configura acessão?
A qualificação é um tema controverso na doutrina. A posição do renteria é de que o achado de tesouro não é bem um modo de aquisição da propriedade móvel. Esse aspecto é critico e minoritário, pois nas 3 primeiras hipóteses o tesouro fica com o dono da coisa encontrado, não é preciso da disciplina de aquisição, pois se já estava na coisa, é do dono. E a hipótese diversa é quando alguém acha ocasionalmente, o CC entende que ele tem direito a uma recompensa, que sera metade do bem
O achado no tesouro se assemelha a descoberta. Primeiro porque se ele era um tesouro que estava escondido é difícil configurar res nullius e res derelictae, de forma que sera algo que estava perdido. E quando se fala de coisa perdida se tem a descoberta. Quando há descoberta há aquisição da coisa pelo dolo dela e, possivelmente, uma recompensa para quem achou casualmente.
 
 
 
Aula 07 - 28/03
 
19:29
 
· Tradição 
 
· Introdução 
É o principal modo de aquisição da propriedade móvel. Normalmente no cotidiano é a tradição que ocorre.
A tradição existe, pois no direito brasileiro, como regra, os negócios jurídicos não produzem efeitos reais. O contrato em si não faz com que a propriedade seja transferida.
Se se tem um contrato e está tudo direitinho, mas ainda não houve a tradição, a pessoa não pode dizer que é proprietária da coisa.
Tradição significa o ato de entrega ada coisa que alguém faz a outra com animo de transmitir o domínio
Obs: Como ainda não foi ensinado posse, se deve considerar a posse como o poder que se exerce a algo que está com você. Se está com o bem a disposição. Quando se ve alguém que está com o bem com ele, se presume-se que o bem é dele. Como ele está com a posse é isso que se presume.
Em uma economia de mercado como é a nossa, se exige um sinal externo de que aquele bem está tendo a titularidade transferida. Nos bens moveis essa sinalização externa de que está havendo uma transferência é a tradição.
Há certos bens moveis, que por sua importância economica, vem portando outros requisitos para que se concretize a sua transferência. A lei 6404, por exemplo, no artigo 31 §1º exige para a transferência de ações nominativas o termo lavrado no livro de ações nominativas.
 
 
· Conceitos e elementos 
É o conceito que vai permitir que se analise os elementos da tradição. Se a tradição é a entrega da coisa com o ânimo de transferir o domínio, se tem um elemento objetivo e um subjetivo.
Há duas expressões de latim que são usadas. Quem entrega a coisa é o tradens, e quem recebe sera o accipiens.
Nem toda entrega material vai levar a transmissão da sociedade, pois tem que haver a intenção de transferir o dominio. Esse é o elemento subjetivo, ou seja, a intenção de transferir o dominio. O elemento subjetivo é o animus tradendiObs: O próprio CC as vezes é atecnico quando fala de tradição como quando ele define o comodato. Quando o CC está falando da tradição no comodato, sem o elemento subjetivo que é o animus tradendi, se está diante da tradição nua.
Esse ponto evidencia um outro aspecto da tradição, que é que a tradição é um ato jurídico causal. Isso significa dizer que se a causa da tradição é invalida, essa tradição como regra não produz efeitos, ou seja, não haverá a aquisição da propriedade
Ex: Se se faz uma compra e venda e essa compra e venda é nula, ainda que tenha havido a entrega efetiva do bem, com animus tradendi, essa entrega não vai gerar, como regra, a aquisição do dominio.
Essa regra tem muitas exceções.
 
Se faz a tradição porque havia uma causa, um contrato, uma obrigação de dar para isso.
Os direitos reais não são taxativos? Como se tem muitos contratos que geram essa repercussão? Não se confunde taxatividade dos direitos reais com a do negócio jurídico subjacente. O nosso direito adota o principio da atipicidade dos contratos, ou seja, a autonomia privada pode livremente compactuar contratos que não estejam previstos no CC nem em lei.
O que é taxativo, o que tem que respeitar o que ta na lei, são os direitos reais, os modos de aquisição, mas não os contratos subjacentes
 
 
-> o código prevê duas possibilidades de tradição: real e ficta 
-> Doutrina acredita que tenha mais uma espécie de radiação, a simbólica. A tradição não precisa pela entrega do bem em si. Pode ser feita por meio de um documento que representa o bem que está sendo alienado. 
-> real: entrega material do bem; simbólica: entrega material do objeto que representa o bem; ficta: não há entrega/transferência efetiva material do bem. 
 
 
· Tradição ficta (art. 1.267, parágrafo único)
A doutrina diverge sobre quais são as possibilidades de tradição. O CC indica 2 possibilidades: a tradição real e a tradição ficta.
No § único do artigo 1267 do CF o CC menciona algumas hipóteses de tradição ficta. Esse parágrafo descontrói metade das coisas estudadas sobre aquisição da propriedade móvel. Ele faz isso, primeiro, porque ele admite a aquisição da propriedade móvel por contrato, que é uma exceção a tudo falado até agora; e porque ele possibilita, portanto, a aquisição da propriedade móvel sem a entrega material do bem
São 3 hipóteses de tradição ficta. Essas 3 hipóteses estão previstas na lei e estão escritas abaixo.
 
 
A. Constituto possessório 
É quando o alienante se desfaz da posse, ele transfere a posse do bem, mas ele mantém a detenção sobre o bem.
Qual a diferença entre posse e detenção? Na detenção se tem uma “posse” em nome de outra pessoa, para o outro, não se uma posse sua.
O alienante passa a posse para o adquirente, mas ele mantém a detenção do bem.
Isso significa, em termos de efeitos, que, em regra, esse detentor não vai poder se valer, usufruir de nenhum dos efeitos da posse. Os efeitos da posse serão estudados no final do semestre.
O adquirente, ainda que não tenha a posse material sobre a coisa, ele tem a posse direta e indireta, passa a exercer plenamente essa posse, desde o momento da celebração do NJ. É o NJ que vai transmitir a sociedade para ele. A partir desse momento ele (o adquirente) já pode receber, por exemplo, frutos da coisa, já pode se valer das ações possessórias, etc.
O direito admite isso, porque uma das principais diferenças do proprietário e do possuidor é que o proprietário tem o poder de disposição da coisa. E a disposição é um aspecto fundamental de direito de propriedade.
Ex: Se o proprietário não está na posse da coisa e ele quer aliena-la, ele pode faze-lo, mesmo tendo a posse indireta.
Ex: É muito comum isso em relação a bens imóveis. Quando se vende um imovel, pode haver uma clausula. Uma pessoa é a proprietária e vai vender o apartamento. Mas ele quer ficar ali por um tempo para se ajeitar. Ela vende, e o novo dono, mesmo sem ter tido posse material do bem, ele pode dispor do bem a vontade. Há uma transmissão da posse, e a pessoa que esta alienando o bem deixa de ser consumidor. Há a transferência da posse
A lei do constituto possessório tem uma clausula muito comum que é a clausula constituti, e que é diferente do constituo possessório. Normalmente quando se quer fazer o negócio, não se quer se desfazer do imovel e ter que pagar aluguel para ficar um pouco no bem. Se faz então a clausula constituti. Se faz o constituto possessório, se tornando mero detentor, mas com a clausula constituti se faz o desdobramento da posse entre posse direta e indireta, e se torna possuidor direto. Quando se passa a posse direta e indireta se deixa de ter o poder de possuidor sobre o bem. Na clausula constituti, que é diferente do constituo possessório se passa a posse e depois a pessoa pega a posse direta.
-> cláusula constituti: faz o desdobramento da posse, entre posse direta e indireta.
 
A. Cessão do direito à restituição 
A 2ª hipótese prevista no CC é quando há cessão ao adquirente do direito a restituição da coisa que se encontra em poder de terceiro.
O proprietário não está com o bem, mas quer aliena-lo. Se faz uma cessão do direito a restituição.
 
A. Adquirente possuidor
O adquirente do bem já esta na posse, então quem vai comprar o bem do proprietário é o locatário dele, é a pessoa que está alugando o bem, ou que está com ele emprestado.
É uma tradição ficta, pois como o bem já esta com o adquirente, não há uma efetiva entrega do bem
A doutrina fala de uma terceira possibilidade de tradição, além da tradição real e da ficta. Há uma controvérsia sobre a tradição dita simbólica, que é quando se vai alienar um bem, a tradição não precisa ser pela entrega do bem em si, ela pode ser pela entrega de uma chave, de um documento, etc. A entrega do documento que representa o bem que está sendo alienado, configura a tradição, que é conhecida como tradição simbólica
Tradição real é entrega material do bem. Na tradição simbólica há a entrega do objeto que simboliza o bem. Na tradição ficta não há efetiva transferência material do bem.
 
 
· Efeitos da tradição e teoria da aparência (art. 1.258, CC)
Aspecto que reflete a mudança de paradigma para o código de 2002. É um ato jurídico causal, a invalidade do ato faz com que a tradição com animes tradendi seja ineficaz. Se for adquirente de boa-fé (subjetiva - estado de ignorância quanto aos vícios daquele bem/relação jurídica), se vai ter uma garantia de propriedade. O subsídio principiológico está contido na teoria da aparência. Que busca proteger a confiança entre as partes, se legítima (parâmetros objetivos para cada situação - como coisa oferecida ao publico). Serve para a tutela da confiança legítima, a aparência daquele sujeito no contexto social gera uma expectativa que o negócio seja perfeitamente lícito. Essa teoria produz algum efeito, garante que a pessoa que tinha uma expectativa legítima na relação, seja protegida. 
Sem duvida a teoria da aparência servem a tutela da confiança legitima. A aparência que aquele sujeito tem no meio social, gera uma confiança, uma expectativa legitima de que se pode realizar aquele negocio e ele é perfeitamente licito.
O CC16 não previa essa possibilidade. A única possibilidade que ele previa para tradição feita a non domino, ou seja, feita por quem não é o proprietário, era quando esse vendedor, depois de realizado o negocio nulo, ele adquirisse o bem. Além disso o adquirente teria que estar de boa fé. O CC02 concordou com isso e tambem protegeu o terceiro de boa fé, com base na teoria da aparência.
Se a venda era nula, teoricamente não teria ocorrido a transmissão da propriedade. Mas, depois dessa venda nula, a pessoa foi no real proprietário do bem e o comprou. Entao se vai ter a transmissão da propriedade.
Se a venda de fato era nula, o terceiro estava de ma fe, ou estava de boa fe, mas pelas circunstâncias devia saber que não era bem do devedor, a tradição não produz efeito da aquisição da sociedade. Esse terceiro não sera o proprietário do bem. O real proprietário vai poderreaver esse bem do terceiro. Entao não produziu nenhum efeito? Na verdade produz um efeito, que é o efeito da posse em relação ao período em que esse adquirente de má fé, ou que deveria saber que aquele bem não era da pessoa que vendeu para ele, exerceu posse sobre esse bem do período que ele adquiriu ate o momento que o verdadeiro proprietário foi la reaver o bem. E esses efeitos são mantidos.
A teoria da aparência é uma construção que decorre da confiança. Ela garante que a pessoa que tinha uma expectativa legitima de que aquela relação fosse correta, licita, seja protegida.
 
 
 
· Acessão (de móvel a móvel) 
 
Acessão, fenômeno mediante o qual coisas pertencentes a proprietários diversos se aglutinam de modo inseparável juridicamente.
· Confusão; Comistão; Adjunção 
Distinção de pouquíssima relevância. Quando há uma dessa misturas, é importante determinar quem é o proprietário da da coisa que se formou e se o proprietário que se prejudicou tem direito a indenização. 
= Confusão: hipótese em que há uma mistura de líquidos (ex: café em pó na água).
= Comistão (e não comissão): mistura de bens sólidos, principalmente os metais (moedas).
= Adjunção: justaposição de uma coisa à outra (ex: piora sobre um vaso). 
 
· Possibilidade de separação 
Tendo em vista que a separação é impossível e que é involuntariamente, ou é um condomínio forçado (cada um proprietário de uma fração do bem) - primeira solução; ou gera propriedade exclusiva (apenas um deles vai ficar com o bem) - art. 1.272, CC.
São hipóteses em que a separação é impossível e essa mistura é involuntária.
Quando há qualquer uma dessas misturas, o CC está preocupado em disciplinar em quem é o dono da coisa que se forma dessa duas, e se o proprietário prejudicado tem direito a indenização e em que hipótese.
Há duas soluções. Ou há um condominio forçado, ou seja, se vai ter uma mistura inseparável que vai gera rum condomínio forçado, cada um proprietário de uma fração do bem. Ou vai gerar propriedade exclusiva, ou seja, apenas um deles vai ficar com o bem. Isso está previsto no artigo 1272
Se for possível separar sem a deterioração não há preocupação, continua pertencendo dos donos. Não sendo possível essa separação é que surge os problemas regulamentados nos § dos artigos 1272 e 1273. Os efeitos vao ser diferentes se a pessoa estava de má fé ou de boa-fé.
 
· Coisa principal 
Quando uma das coisas for considerada principal, o dono da dessa coisa vai ser o dono do todo. Tendo que indenizar os demais. Sendo essa, uma relação de funcionalidade, não meramente econômica. 
Essa possibilidade de separação é uma possibilidade material sempre ou pode ser outro tipo de separação tambem, como econômico? E se for muito custoso separar o bem? Isso deve ser levado em conta na hora de se analisar o código.
A regra que o CC estabelece como regra geral é o condomínio forçado. Quando que não vai acontecer isso? Primeiro quando uma das cosias puder ser considerada principal (ex. um bloco de ouro maciço e umas moedas de bronze), nesse caos, o dono da coisa principal vai ser o dono do todo, ele simplesmente terá que indenizar o outro. Isso está no §2º do artigo 1272. Essa relação de principal e acessório é uma relação de funcionalidade e não necessariamente econômica. É preciso remeter ao artigo 92 do CC.
 
· Reemissão do art. 1.274, CC
Demissão de uma disciplina incorreta, ela fala que quando a acessos der origem a uma coisa nova, vai ser tratado pela disciplina da acessão. Só que na verdade, a referencia correta seria a da especificação. 
 
· Má-fé (art. 1.273) 
O artigo 1273 trata da hipótese em que a acessão se deu com má fé de uma das partes. Se houve má fé, a outra parte poderá escolher entre ficar com a coisa toda e renunciar o seu direito de propriedade, exigindo indenização.
Outra opção é quando se quer ficar com a coisa. A pessoa vai pagar a indenização pela parte que o de má fé perdeu, mas ela vai poder descontar as perdas e danos. A parte que fez de má fé, embora tenha direito a indenização, ela terá que pagar indenização por ter feito isso de má fé, de forma que não lucrara nada.
 
 
 
 
· Especificação 
 
Aquisição do domínio ocorre a partir da transformação da matéria-prima total ou parcialmente alheia em espécie nova, não restituível ao estado anterior.
 
· Espécie nova 
Principal distinção em relação à acessão. Tudo que se mistura gera algo novo, no entanto, a espécie nova para se qualificar como especificado é aquela que tem um valor autônomo no mercado. Sendo essa, uma identidade caracterizadora dessa espécie.
 
· Matéria- prima alheia 
A. Em parte (art. 1.269, CC)
Se puder restituir a forma anterior, não interessa ao código. O especificador será sempre o dono, inclusive o se estiver de má-fé, ou se coisa for principal ou acessória. O outro pode ser ressarcido pela parte na medida em que a sua coisa medida se perdeu. 
A. Integralmente (art. 1.270, CC)
Especificador cria uma espécie nova a partir de uma matéria prima integralmente alheia. É relevante saber o valor da coisa nova, se for muito acima do valor original, o especificado irá adquirir, ainda que de má-fé. Se não houver esse valor da coisa nova que excede o da matéria prima, será interessante avaliar se o especificador estava de boa-fé ou de má-fé. Se de boa-fé, ele adquire a coisa, ainda que o valor da coisa não seja consideravelmente superior. Se de má-fé, ele perde a coisa nova, que passa a ficar com o dono da matéria prima. 
 
OBS:
-> acessão e especificação envolvem a aquisição de uma propriedade alheia, ambas o código garante indenizar a parte que perdeu ou a matéria prima ou da mistura. 
-> a acessão não é exclusivo para bens móveis, ocorre também para bens imóveis.
 
 
 
Aula 08 - 03/04
 
19:03
 
Perda da propriedade 
 
O Código é muito mais econômico no tratamento da propriedade, porque muitas vezes a aquisição significa também a sua perda. Quando alguém adquire a propriedade, outro está a perde-la. Não se faz necessário um estudo minucioso dos modos de perda, tendo em vista o estudo organizado dos modos de aquisição.
 
· Art 1275, CC – trata de indistintamente da perda dos bens móveis e dos bens imóveis. Não há diferença. Esses modos podem ser classificados em 3 grupos: (i) em razão do objeto; (ii) em razão da vontade do proprietário (causas voluntárias); (iii) contra a vontade do proprietário (causas involuntárias).
 
IV – em razão do objeto: perecimento do objeto. É uma hipótese que ocorre preferencialmente com os bens móveis, dada a maior facilidade de um bem móvel perecer. Com os bens imóveis isso dificilmente ocorre. O perecimento pode ser natural, ou seja, algo que ocorre do próprio exercício do direito de propriedade – ato de consumo. Ex: é dono de bem destinado ao consumo, ao exercer a propriedade do bem, você o consome e a sua propriedade se extingue. O perecimento também pode ser voluntário, mas isso é limitado pela função social da propriedade. A destruição também pode ser involuntária, ex: tem destruição porque caiu raio em cima, pega fogo etc. Equipara-se à destruição voluntária o extravio ou perda definitiva.
 
I – perda voluntária: alienação – se alguém adquire a propriedade por meio da transmissão, aquele que aliena a propriedade a perde em favor do adquirente.
 
II e III – renúncia e do abandono: ambos são atos unilaterais de abdicação da propriedade. Não depende do consentimento da outra parte. É ato pelo meio do qual o proprietário manifesta a vontade de não ser mais dono da coisa. Isso serve tanto para renúncia e abandono. Qual a diferença? A diferença está na forma de manifestação dessa vontade. A renúncia é manifestação expressa (escrita ou verbal). O abandono é uma manifestação tácita, ou seja, o dono comporta-se de tal modo que é inequívoca a vontade de abdicar a propriedade.
De uma maneira mais intuitiva, pode-se considerar o abandono um modo de abdicação própria dos bens móveis e a renúncia dos bens imóveis, dado que os bens móveis se caracterizam pela sua espontaneidade no sentido que isso sedá por meio da posse. Por outro lado, os direitos reais constituídos sobre os bens imóveis são caracterizados pelo formalismo, dado a necessidade de certa formalidade para constituir a propriedade.
Por outro lado, em relação aos bens móveis, o que vale é o comportamento da pessoa. Quando alguém não tem mais interesse em ser proprietário do bem móvel, ele joga fora. Então, o abandono é algo muito adaptado aos bens móveis.
Essa ideia, no entanto, não é o que passa no direito brasileiro. Admite-se tanto a renúncia quanto ao abandono para os bens móveis e bens imóveis. Como se dá renúncia dos bens móveis? E o abandono dos imóveis? Tem que pensar que abandono é modo voluntário de
perder a propriedade. Quando se fala de abandono, tecnicamente está dizendo que a pessoa manifestou vontade tacitamente de não querer mais ser dono da coisa.
A jurisprudência usa o abandono no sentido errado, mais casual.
· Como verifica abandono de imóvel, considerando que se trata de vontade tácita? Qual é o comportamento que revela de maneira inequívoca a vontade de não ser mais proprietário de bem? É o fato de não usá-lo? De não praticar ato de posse? Será que se pode interpretar assim?
 
· Art 1276, CC – o abandono de imóveis é uma hipótese de perda da propriedade que se reverte em favor do patrimônio público, que pode ser município, DF ou união, dependendo se é urbano ou rural. O abandono não está na posse do seu proprietário e não está na posse de terceiro, de ninguém. Há ausência do ato de posse sobre o imóvel. O requisito objetivo, portanto, é a ausência de posse. Já o requisito subjetivo é a intenção de não mais conservar o bem no seu patrimônio. Como é possível concluir que alguém não tem mais a intenção de conservar o bem imóvel?
§2º - há presunção absoluta de intenção de abdicar da propriedade, que é revelada pela cessação do pagamento dos ônus fiscais (imposto territorial – IPTU ou ITR).
Se o imóvel não está na posse de ninguém e o proprietário não recebe o imposto de ninguém, presume-se que não há ninguém e a propriedade pode passar para o patrimônio público.
Se verificar a configuração do abandono de imóvel, verifica-se que pressupõe procedimento no tempo. Isso fica claro no caput que traz o procedimento. O primeiro ato do procedimento é a arrecadação do bem como sendo bem vago. Reconhece-se que não está na posse de ninguém, que ninguém paga os tributos e então, considera o bem vago, sendo arrecadado pelo ente público. A arrecadação tem por efeito colocar o bem sob a custódia do ente público, que se torna responsável. Com a arrecadação, o bem passa a estar na posse do ente público. Em seguida a arrecadação, há a contagem de um prazo de 3 anos para que haja a perda da propriedade e, por via indireta, o ingresso da propriedade no patrimônio público. Enquanto não consumado o prazo, o particular dono do imóvel conserva a sua propriedade e pode reclamar o bem de volta. Para isso, terá que quitar os tributos atrasados.
Não procede a alegação que surgiu, após a promulgação do CC, de que o art 1276, §2º seria inconstitucional. Alguns autores escreveram que a presunção absoluta da intenção de abdicar iria contra o princípio de devido processo legal, porque o proprietário poderia reverter o abandono. Isso está errado, porque o abandono se consuma ao longo de um procedimento. Ao longo desse procedimento, o proprietário pode agir a fim de impedir a perda.
 
· Art 1275, V – perda involuntária: desapropriação – perda em razão do ato administrativo de desapropriação. Cabe indenização ao proprietário que perde.
 
Obs: o Estado não pode perder uma propriedade para um particular, tendo em vista o princípio do interesse público.
Existem outras causas de perda de propriedade? Tradicionalmente, entende-se que as hipóteses de perda de propriedade são taxativas (modos previstos em lei), de forma que alguém não poderia ser surpreendido pela perda da propriedade por uma causa não prevista pelo legislador. Isso não quer dizer, no entanto, que o art 1275 é taxativo. Taxatividade não se confunde com enumeração exaustiva pelo dispositivo legal. O legislador pode prever outra
causa de perda de propriedade em outra lei ou outro artigo do código. Com isso, a lista não é exaustiva, mas permanece respeitada a taxatividade, já que as outras hipóteses de perda tem previsão legal.
Em razão da função social da propriedade, começou-se a discutir se a taxatividade deve se interpretada em sentido estrito ou se pode ser interpretada em sentido amplo, com a necessidade de norma legal ou constitucional em sentido mais amplo. Ou seja, seria possível com base no princípio da função social da propriedade reconhecer a perda da propriedade em determinado caso? Haveria a autonomia da função social para produzir a perda da propriedade? Há diversas opiniões sobre o assunto.
· A decisão mais comentada, do Tribunal de São Paulo de 1994, é da Favela Puma – o tribunal, numa situação complicada em que alguém estava reivindicando a propriedade na qual havia instalação por toda a cidade. Nesse contexto, não cabia usucapião. Teria que retirar mais de 300 famílias de lá. Havia número considerável de pessoas. Em razão do descumprimento da razão da propriedade e do abandono do imóvel, o tribunal concluiu que a reivindicatória era improcedente (TJSP, 3ª C.C, apelação cível 212726-1-4; julgado em 16/12/94, Desembargador José Osório).
Existe um ativismo no Brasil que tem reconhecido a ocorrência da perda da propriedade mesmo fora das previstas em lei, mesmo fora da previsão legal do abandono como ação atentatória a função social da propriedade.
 
 
CONDOMÍNIO 
 
Determinado bem pertence a mais de uma pessoa. É a situação de comunhão na propriedade. Há co-proprietários, condôminos do bem.
 
No Direito Brasileiro, há de um lado o condomínio comum (pró-indivíduo/ordinário), que significa que a coisa toda, na sua integralidade, pertence aos diversos proprietários. A coisa toda está submetida ao condomínio. Não há uma divisão da coisa entre os diversos proprietários como se cada parte fosse de um, ela é indivisível. Pertence na sua integralidade aos diversos proprietários.
 
Há também o condomínio especial (edilício), que é baseado na associação indissolúvel entre propriedade exclusiva e condomínio. Ex: num condomínio residencial cada condômino é proprietário exclusivo do seu apartamento e ao mesmo tempo é dono de uma fração ideal das áreas comuns do prédio.
 
No curso vamos tratar apenas do condomínio comum. Ele pode surgir pela: (i) lei; (ii) negócio jurídico.
 
(i) Decorre da lei: Condomínio incidente decorre de certo evento. É um evento que ocorre em determinado momento e tem por efeito o surgimento de condomínio. É o exemplo de sucessão hereditária, em que há o deferimento da herança aos herdeiros. Surge um condomínio entre os herdeiros sobre o espólio e esse condomínio vai perdurar até que outro evento o extinga. O que caracteriza esse condômino é a transitoriedade, ou seja, tende a se extinguir em determinado momento. Outro exemplo é o condomínio da sociedade conjugal, que se extingue pelo divórcio ou com o falecimento de um dos cônjuges. O condomínio necessário é o que a lei impõe em razão de vizinhança. É o condomínio sobre paredes, cercas, muras para separar os prédios.
A diferença entre eles é que o necessário não é transitório, pois pode-se trocar os proprietários nos imóveis, mas sempre existirá a divisão na vizinhança.
 
(ii) Decorre do negócio jurídico: Condomínio voluntário – se baseia em duas ideias principais. As ideias são, de um lado a indivisão material e de outro a divisão abstrata da coisa. A indivisão material significa que a coisa, na sua integralidade, cada partícula da coisa, pertence em comum aos condôminos. A propriedade de cada condômino se estende a todos os recantos do bem. Não há nenhum pedaço do bem que não está sujeito a propriedade de alguém. A divisão abstrata, significa que nos termos da lei, a participação de cada condômino é representada pela atribuição exclusiva de uma fração ideal ou de uma parte ideal. A

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