Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO ESPIRITO SANTO – CAMPUS CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM MARIA ALICE DE SOUZA FARIA LEAL RELATÓRIO DE VISITA TÉCNICA A MINA DE LAVRA DA EMPRESA ZARDO GRANITOS Cachoeiro de Itapemirim 2022 MARIA ALICE DE SOUZA FARIA LEAL RELATÓRIO DE VISITA TÉCNICA A MINA DE LAVRA DA EMPRESA ZARDO GRANITOS Trabalho apresentado como pré-requisito para a avaliação e obtenção de nota na disciplina Geologia Geral do curso Bacharelado em Engenharia de Minas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espirito Santo – IFES, Campus Cachoeiro de Itapemirim. Orientador (a): Prof. Ana Paula Meyer Lista de Figuras Figura 1 – Afluente Caxixe do Rio Castelo………………………………………………….5 Figura 2 – Bandamento de minerais orientados……………………………………………...5 Figura 3 – Pegmatito de feldspato identificado no local de estudo…………………… …….6 Figura 4 – Veio de quartzo……………………………………………………………………6 Figura 5 – Bloco de granito extraído………….………………………………………….…..7 Figura 6 – Diferença na textura dos materiais………………………………………………..8 Figura 7 – Disposição rúptil de xenólito no primeiro painel………………………………….9 Figura 8 – Veios desconexos…………………………………………………………………10 Figura 9 – Enclaves de caráter dúctil no segundo painel…………………………………….10 Figura 10 – Dique e veio de diferentes espessuras presentes no segundo painel…………….11 Figura 11 – Veio que cota o segundo painel inteiro, indicando que foi o último evento geológico da rocha antes do seu afloramento, segundo o Principio da Continuidade………..11 Figura 12 – Fratura sub-horizontal no segundo painel……………………………………….12 Figura 13 – Rocha intemperizada…………………………………………………………….12 Figura 14 – Rocha intemperizada com a presença de elementos ferromagnesianos oxidados………………………………………………………………………………………13 Figura 15 – Parte superior da frente de lavra pintada de preto para minimizar a “poluição visual” da área de extração………………………………………..………………………….14 Figura 16 – Blocos descartados………………………………………………………………14 Figura 17 – Paralelepípedos fabricados………………………………………………………14 Figura 18 – Funcionário desmontando os blocos com o auxílio do ponteiro e a maceta…….15 Figura 19 – Caixa seca construída no relevo até a pedreira…………………………………..15 Figura 20 – Croqui realizado durante a visita técnica………………………………………...16 1. INTRODUÇÃO O presente relatório tem como objeto de estudo a mina de lavra, “pedreira”, da empresa Zardo Granitos, situada no Município de Castelo, região sul do estado do Espírito Santo. O relatório abordará a caracterização da área de estudo, descrição mineralógica e petrográfica da rocha aflorante e o produto de valor econômico da área. Ademais, feições como veios, diques e suas respectivas atitudes, grau de alteração intempérica e o método de lavra também serão descritos. É natural da região sul do estado do Espírito Santo o afloramento de corpos ígneos que representam o magnetismo pós-colisional do Orógeno Araçuaí ocorrido no Paleozóico. As intrusões resultantes são qualificadas por bordas graníticas e um núcleo básico, formadas por ascensão de fluxos mantélicos alojado em fraturas transcorrentes durante o processo de extensão do orógeno em questão. Assim, o aumento da temperatura teria provocado a fusão parcial da crosta, fazendo com que os magmas do manto e o crustal se misturassem, originando plutons alternados, com núcleos básicos a intermediários e bordas graníticas. É possível observar evidências desta mistura nos enclaves encontradas em pranchas lavradas e no local de afloramento da pedreira, oriundas da assimilação da rocha encaixante mediante a fusão parcial da rocha fonte, isto é, uma intrusão magmática que está disposta como um dique na rocha metamórfica. 2.0 RELATÓRIO DE CAMPO 2.1 Localização geográfica da área A pedreira da empresa Zardo Granitos está localizada na estrada Fazenda do Centro, no município de Castelo, localizado no sul do estado do Espírito Santo – CEP 29360-000. 2.2 Coordenadas UTM A pedreira está situada em dimensões UTM de 273717-7726829. 2.3 Descrição geral da área de estudo A área de estudo possuí um afloramento em leito de um dos afluentes principais do Rio Castelo, o Caxixe (Figura 1). O relevo que cerca o afloramento é formado por colinas de topo plano, o que salienta a emersão de rocha metamórfica. 5 Contudo, é possível perceber a presença de intrusões ígneas, em forma de diques e em bandamentos de minerais ferromagnesianos e félsicos orientados e alinhados por pressão dirigida (Figura 2). O local está sob processo de intemperismo ocasionado pela exposição ao sol e a própria água, expondo a rocha e seus minerais à erosão diferencial. Os minerais ferromagnesianos são menos resistentes, portando são removidos com mais facilidade, originando sulcos. Figura 1-Afluente Caxixe do Rio Castelo. Figura 2 – Bandamentos de minerais orientados. 5 2.4 Descrição mineralógica e petrográfica da rocha aflorante A rocha aflorante é de origem ígnea, encaixada em rochas magmáticas, portanto, pode- se supor, que os principais minerais que a forma são de origem félsicas e máficas. Os minerais félsicos são aqueles ricos em elementos leves, como o silício, alumínio, oxigênio, sódio e potássio, presentes em rochas de magma ácido, e geralmente de cores claras. No afloramento, foram identificados o Feldspato (K, Na Ca) (Si, Al)4 O8) e a Muscovita (KAl2(Si3Al)O10(OH, F)2), também em pegmatitos (Figura 3) e o Quartzo, formado basicamente por sílica (dióxido de silício (Si02), e visto comumente veios (Figura 4). Já os minerais máficos são mais ricos em elementos pesados, como o magnésio e o ferro, e pobres em sílica, perceptíveis em rochas de magma básico e dispostos em cores mais escuras. Na área, foi identificada a presença da Biotita (K(Mg, Fe)3(OH,F)2(Al,Fe)Si3O10). A rocha aflorante e objeto de extração da empresa Zardo Granitos é o granito, de origem ígnea e composto por quartzo, feldspatos alcalinos e minerais ferromagnesianos. A textura é fanerítica, de granulação que oscila entre milimétrica e cerca de 25 mm, predominando dimensões entre 4 e 8 mm, e coloração predominantemente félsica, embora haja algumas intrusões máficas. Figura 3 – Pegmatito de feldspato identificado no local de estudo. Figura 4 – Veio de quartzo 6 2.5 Produto extraído e valor econômico O principal produto extraído pela empresa Zardo Granitos são os blocos de granito (Figura 5) para fins, em sua maioria, ornamentais. O granito ornamental é uma rocha conhecida por sua alta resistência e que, após o polimento, adquire um brilho duradouro, sendo, desta maneira, requisitado para todos os tipos de revestimento, interno e externo. Na Zardo, especificamente, o granito é dividido em dois tipos: o Cinza Andorinha e o Piton Black. Esses dois materiais são diferenciados principalmente por sua granulação; enquanto o Cinza Andorinha possuí textura fina – visto que, sua formação se deve ao resfriamento rápido de magma crostal, o Piton Black, por ser formado posteriormente, com ascensão lenta de magma mantélico, é caracterizado por uma textura média-grossa (Figura 6). Além do mais, ainda motivado por suas condições magmáticas, o granito Cinza Andorinha é quimicamente félsico, a medida que o Piton Black possuí porções ferromagnesianas. Ambos são mais requeridos para a exportação e os índices de lucro e beneficiamento são de 50 a 60% e 25 a 30%, respectivamente. Figura 5 – Bloco de granito extraído. 7 Figura 6 – Diferença na textura dos materiais. 2.6 Método e equipamentos utilizados para a lavra Sendo uma rocha ígnea – naturalmente mais resistentes e duras – os equipamentos utilizados para a lavra do granito comumente são perfuratrizes e fio diamantado, e, na empresa Zardo Granitos, o método é por painel. A perfuratriz é utilizada, basicamente, pararealizar os furos que permitirão a passagem do fio diamantado. O fio diamantado permite que a extração de blocos seja feita com mais rapidez e produtividade, afinal, minimiza a intensidade de ruídos e vibrações, e a geração de resíduos finos. A consequência da somatória resulta em melhor aparência do produto final, pois a superfície fica lisa e uniforme. Este equipamento é composto por um cabo flexível de aço inox, formado por fios torcidos, sobre o qual são colocadas pérolas diamantadas separadas por anéis de borracha e/ou molas espaçadoras. O fio diamantado pode ser usado para cortes verticais e horizontais em bancadas ou no esquadrejamento após desmonte. Além destes, também são utilizados guindastes (pau-de-carga), para mover os blocos, e banqueadoras. 8 2.7 Intrusões, enclaves e falhas No primeiro painel há intrusões da rocha encaixante (encontrada no afloramento do rio), caracterizando, dessa forma, xenólitos dispostos de forma angular, indicando que o magma crostal não se encontrava com a temperatura alta o bastante para conferir-lhes caráter dúctil (Figura 7). É possível observar bandamentos de cores alternadas indicando minerais orientados de estruturas diferentes, exprimindo, consequentemente, xenólitos de rocha metamórfica, ou seja, do orógeno no qual o granito aflorou tardiamente. Há, ainda, existências de veios desconexos, apontando movimentação transcorrente na crosta para a elevação do magma, deslocando e interrompendo o Principio da Continuidade de Camadas na rocha (Figura 8). Já o segundo painel é formado por um material mais escuro e homogêneo, e os enclaves, assim como no primeiro painel, também foram assimilados de forma mecânica, contudo, neste caso o magma crostal estava quente o suficiente para atribuí-las forma plástica (Figura 9). Além disto, há a presença de um dique e um veio (Figura 10), que cortam toda superfície. E, baseado no Principio da Continuidade, é possível afirmar que o veio (o mais fino) em específico foi o último evento geológico a marcar a rocha antes do seu afloramento, pois ele percorre toda sua extensão. (Figura 11) Figura 7 – Disposição rúptil de xenólito no primeiro painel. 9 Figura 8 – Veios desconexos. Figura 9 – Enclaves de caráter dúctil no segundo painel. 10 Figura 10 – Veio e dique de diferentes espessuras presentes no segundo painel. Figura 11 – Veio que corta o segundo painel inteiro, indicando que foi o último evento geológico da rocha antes do seu afloramento, segundo o Principio da Continuidade. 2.9 Grau de alteração intempérica Como está em local aberto, a lavra, assim como seus produtos, estão expostos e suscetíveis aos fatores intempéricos naturais, como a água, o vento e o sol. À vista disto, a formação de manto de alteração é iminente. Um exemplo disto é a trinca de alívio de pressão no segundo painel (Figura 12). A água de chuva infiltra na fratura sub-horizontal, intemperizando e alterando a rocha, que, em seguida, se transformará em solo (Figura 13). O intemperismo físico e químico ocorre em diferentes níveis, mas determina alguns fatores ambientais no local, como a aparência alaranjada do solo. 11 Os elementos ferromagnesianos são menos resistentes ao intemperismo químico, então são lixiviados com mais facilidade, e, como são mais propensos a oxidação, formam óxidos, especificamente o óxido de ferro II e III, responsáveis por tal coloração (Figura 14). Figura 12 – Fratura sub-horizontal no segundo painel. Figura 13 – Rocha intemperizada. 12 Figura 14 – Rocha intemperizada com a presença de elementos ferromagnesianos oxidados. 2.10 Procedimentos para a minimização de impactos ambientais e econômicos Para minimizar os impactos ambientais e econômicos, a empresa Zardo Granitos adota métodos que vão desde o reaproveitamento de subprodutos a diminuição da poluição visual a longas distâncias, ao pintar a parte externa e superior da frente de lavra (Figura 15). Os blocos removidos sem valor econômico agregado (os “bota-fora”), seja por erros no corte ou pela irrelevância estética (Figura 16), são utilizados para a fabricação de paralelepípedos, ou seja, bloquetes de pavimentação (Figura 17). O desmonte para originar essas peças menores ocorre com a utilização de ferramentas como o ponteiro e a maceta, que quebram a rocha em seus pontos frágeis (Figura 18). Durante a subida para o local da pedreira propriamente dito, é possível observar caixas secas (valas), que foram construídas com a finalidade de diminuírem a remoção de sólidos suspensos pela chuva, reduzindo os processos erosivos (Figura 19). Esta, e a remoção de vegetação somente na área de remoção dos blocos, são alguns dos principais procedimentos executados para minorar os danos ambientais. 13 Figura 15 – Parte superior da frente de lavra pintada de preto para minimizar a “poluição visual” da área de extração. Figura 16 – Blocos descartados. Figura 17 – Paralelepípedos fabricados. 14 Figura 18 – Funcionário desmontando os blocos com o auxílio do ponteiro e a maceta. Figura 19 – Caixa seca construída no relevo até a pedreira 15 2.11 Croqui do afloramento (com ênfase nas feições relatadas) 16 3.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS O granito é uma das principais rochas geradas no Espirito Santo. Na região sul de Castelo há a existência de corpos bimodais do orógeno Araçuaí, que foram gerados a partir de extravasamento de magmas injetados ao longo de zonas de cisalhamento dúctil durante sua fase distensiva. O magma ácido alojou-se posteriormente na crosta e provocou a fusão desta, ocasionando e explicando, portanto, a mistura mineral encontrada no material de estudo. A composição mineralógica da rocha, que a empresa Zardo Granitos diferenciou em granito Cinza Andorinha e Piton Black, assim como a presença de intrusões durante sua extensão, pode ser explicada por essa cristalização e mobilização do material granítico que se altera em compostos félsicos e ferromagnesianos de texturas distintas. Visto que, durante a ascensão do material ácido na rocha encaixante de origem metamórfica, ocorreu a diferenciação ao que a infiltração de material básico permanecia, juntamente a assimilação deste pela rocha encaixante, originando os xenólitos e veios avistados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LUZ, Gelson. – Blog de Minerais. Atualizado em 2022. Disponível em: <https://www.materiais.gelsonluz.com/2019/03/composicao-quimica-do-granito.html> Acesso em: 15 de outubro de 2022. Museu de Minerais, Minérios e Rochas Heinz Ebert. Disponível em: <https://museuhe.com.br/rocha/granito/>. Aceso em: 15 de outubro de 2022. REGADAS, Isaura Clotilde Martins da Costa Rodrigues – Aspectos Relacionados às Lavras de Granitos Ornamentais com Fio Diamantado no Norte do estado do Espirito Santo, Brasil. Disponível em: <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18132/tde-19122006- 102804/publico/Regadas_ICMC.pdf>. Acesso em: 16 de outubro de 2022. MEYER, Ana Paula – Geologia e Geoquímica da Porção Sul do Maciço Castelo – ES. Rio Claro, 2017. Universidade Estadual Paulista. Instituto de Geociências e Ciências Exatas – Campus de Rio Claro. 17 https://www.materiais.gelsonluz.com/2019/03/composicao-quimica-do-granito.html https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18132/tde-19122006-102804/publico/Regadas_ICMC.pdf https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18132/tde-19122006-102804/publico/Regadas_ICMC.pdf https://museuhe.com.br/rocha/granito/ Museu de Minerais, Minérios e Rochas Heinz Ebert. Disponível em: <https://museuhe.com.br/rocha/granito/>. Aceso em: 15 de outubro de 2022.
Compartilhar