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1 10º Seminário Internacional de Transporte e Desenvolvimento Hidroviário Interior Belém/PA, 12-14 de setembro de 2017 Experiências na Elaboração de Projetos, Construção e Operação de Instalações Portuárias Públicas de Pequeno Porte – IP4 na Região Amazônica Andrea Soares Barnez, DNIT/MT, Brasília/Brasil, andrea.barnez@dnit.gov.br Lindomar Luíz de Abreu Júnior, DNIT/MT, Brasília/Brasil, lindomar.junior@dnit.gov.br Resumo O presente trabalho procura traduzir a experiência acumulada ao longo de dez anos exercendo atividades de gestão de projetos, construção e operação de instalações portuárias públicas de pequeno porte - IP4 nos diferentes corpos hídricos da Região Amazônica. Atualmente são 41 IP4 implantadas e em operação e suas concepções permitem que sejam divididas em, basicamente, seis tipos de projetos de conexão terra-água, os quais serão detalhados elencando as vantagens e desvantagens que influenciam diretamente no grau de dificuldade de operação das estruturas. 1. Introdução A vida dos cidadãos de dezenas de municípios da Região Norte é controlada pelo regime hídrico da Bacia Amazônica. Boa parte destes municípios não dispõe de acesso terrestre, e dependem, exclusivamente, das vias navegáveis para suprir seu abastecimento com insumos de primeira necessidade como gêneros alimentícios, combustíveis, medicamentos e vestuário. Até 2005, dos 62 municípios que constituem o Estado do Amazonas, apenas cinco (Tabatinga, Manaus, Coari, Itacoatiara e Parintins) dispunham de uma estrutura para realizar as operações de embarque e desembarque de cargas e passageiros. Nos 57 municípios restantes, os cidadãos encostavam suas embarcações nas margens do rio e subiam os barrancos, que na estiagem podem atingir 20 metros de altura, desembarcando por “pinguelas” (ponte improvisada de ripas de madeira) até encontrar o barranco pelo qual escalavam com suas mercadorias. Um sistema mal ajambrado (ver Figura 1) no qual o cidadão está exposto a acidentes e também corre o risco de perder suas mercadorias para as águas do rio (RODOVIAS VIAS, 2016). Pensando em mudar este cenário, o primeiro passo foi dado em 18/08/2004, quando o Ministro dos Transportes, por meio da Portaria nº 426, constituiu Grupo de Trabalho com o objetivo de planejar, coordenar e acompanhar a implantação dos portos e terminais fluviais da Região Amazônica. Figura 1 - Detalhe da situação do embarque e desembarque na Região Amazônica. Coube à Diretoria de Infraestrutura Aquaviária – DAQ, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT, apresentar um caminho para reverter a realidade retratada acima. Naquela época, buscou-se apoio junto à Diretoria de Obras e Cooperação – DOC, do Departamento de Engenharia e Construção – DEC, do Exército Brasileiro – EB, que realizou estudos preliminares para levantamento das necessidades de obras portuárias em algumas cidades da Região Norte. Essa atividade foi denominada Operação Cobra D’Água e foi concluída em junho de 2005. 2 No início do Programa, as hoje denominadas instalações portuárias públicas de pequeno porte – IP4 eram, indiscriminadamente, chamadas de terminal hidroviário, terminal portuário, terminal fluvial, porto fluvial ou até mesmo de portinho. O fato é que em nada se assemelhavam aos portos organizados como o Porto de Santos, Suape ou Paranaguá, por exemplo. Acontece que não havia uma legislação que tratasse especificamente deste tipo de empreendimento, cujo principal fim era dotar os municípios localizados às margens dos rios, que dependem exclusivamente do transporte hidroviário para suprir seus principais insumos (medicamentos, combustíveis, alimentos, dentre outros), com infraestrutura mínima para fornecer segurança nas operações de embarque e desembarque de cargas e passageiros. De acordo com a Lei nº 10.233, de 05/06/2001, as atribuições referentes à construção e operação dos terminais fluviais e lacustres, hoje as IP4, eram de competência do DNIT e exercidas pela DAQ. Após a publicação da Medida Provisória nº 595/2012, de 06/12/2012, essas atribuições foram delegadas à Secretaria de Portos – SEP da Presidência da República. Com a publicação da Lei nº 12.815, de 05/06/2013, as IP4 voltaram à esfera de competência do DNIT, conforme Artigo 65: “Art. 65. Ficam transferidas à Secretaria de Portos da Presidência da República as competências atribuídas ao Ministério dos Transportes e ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT em leis gerais e específicas relativas a portos fluviais e lacustres, exceto as competências relativas a instalações portuárias públicas de pequeno porte.” Somente em 11/02/2015, a Portaria Interministerial nº 24 aprovou a relação das IP4 e estabeleceu diretrizes para sua administração. Em 04/01/2017, foi publicada a Portaria Interministerial nº 5, em substituição à anterior, que define as localidades que podem receber o investimento para construção de IP4. Desde então, o DNIT passou a padronizar a nomenclatura desses empreendimentos nos seus documentos, não mais utilizando os termos terminal fluvial, porto fluvial, terminal hidroviário, porto hidroviário, mas, sim, instalação portuária pública de pequeno porte – IP4. Este novo elemento – IP4 – permitiu que os cidadãos tivessem dignidade nas operações de embarque e desembarque de cargas e passageiros, evitando que colocassem em risco suas vidas e insumos de primeira necessidade. Em resumo, a IP4 é um novo elemento de caráter social, no contexto nacional, não pode ser tratada como um porto organizado, tem sua administração regulamentada pela Portaria Interministerial nº 5, de 04/01/2017, possuindo uma estrutura simplificada, equivalendo-se a uma pequena rodoviária às margens do rio. Na Figura 02 visualiza- se a IP4 de Urucurituba-AM, sendo possível ter noção da estrutura. Figura 2 - IP4 de Urucurituba. Após alocação de recursos, construção e conclusão das obras, o DNIT disponibilizou as IP4 para uso da população, sem que houvesse cobrança de tarifas. O DNIT apenas faz ação de presença em cada IP4 para garantir o funcionamento do retroporto e das estruturas de acostagem que a compõem. 2. Definição de IP4 Apesar do programa de implantação das IP4 ter sua largada iniciada em 2005, apenas dez anos mais tarde, com a publicação da Portaria Interministerial nº 24, de 11/02/2015, ficou definido que as estruturas construídas pelo DNIT se tratavam de IP4. E para assim serem definidas é imprescindível atender três requisitos básicos: a localidade contemplada deve fazer parte do Sistema Nacional de Viação – SNV, que define a infraestrutura física e operacional dos vários modos de transporte a nível federal (Lei nº 12.379/2011); a estrutura deve operar exclusivamente com embarcação interior; e estar fora dos limites da poligonal do porto organizado, que por ventura exista nas imediações. Pode-se afirmar que as IP4, basicamente, são instalações providas de retroporto (obras civis executadas da margem para o continente) e obras de acostagem (civis e/ou navais executadas da margem para o rio). O arranjo pode ser visualizado de forma sintetizada no croqui da Figura 03. As obras do retroporto contemplam as edificações (guarita, terminal de passageiros, armazém, entre outros), estacionamento, pátio de manobras, vias 3 de acesso e estruturas de contenção. Já as de acostagem sofrem variações que as distinguem umas das outras, interferido no método construtivo e nas condições de operação. Porém, todas são constituídas de um flutuante de atracação para que a embarcação realize a acostagem. 3. Fase de Projeto Na fase de projeto o desafio é pensar em uma solução que garanta o embarque e desembarque de passageiros ao longo de todo ciclo hidrológico, ou seja, na condição de cheias (máximo nível d’água) e vazantes (mínimo nível d’água). O desafio está em conectar o sistema em terra (retroporto) com o flutuante(obra naval), no qual as embarcações vão atracar. Nesse estudo, os holofotes são direcionados para a amplitude de variação de nível d’água - NA, a seção transversal do rio e a velocidade das águas, dados elementares, porém fundamentais para projetar a conexão água– terra. Estas informações são obtidas por meio das seguintes atividades e premissas: Levantamento hidrométrico para determinar a amplitude de variação do NA e estudo hidrológico para estimar o NA mínimo e máximo e, respectivos, tempos de recorrência; Levantamento topobatimétrico para conhecer a profundidade do rio e a conformidade do seu leito no local onde se pretende executar a infraestrutura aquaviária; Estudo sobre a capacidade de transporte de sedimentos do rio; Medição e traçado do sentido da correnteza para identificar a existência de remansos, ressalvando que esta atividade deve ser realizada no período de cheias, no qual os corpos hídricos tornam-se mais agressivos; Determinação da embarcação-tipo que utilizará a IP4, ou seja, o calado que a embarcação deve ter em situação de máximo carregamento para que ela possa atracar no período de estiagem sem riscos de encalhar no leito do rio); Declividade máxima das rampas de acesso a pedestres e veículos não deve ser superior a 12%, de forma a atender aos parâmetros da NBR 9050 que trata da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, bem como evitar esforços severos nos veículos; A conexão terra-água não deve obstruir o canal de navegação do rio, pois, nesse caso, a IP4 tornar-se- ia um obstáculo, impedindo a utilização da hidrovia. Estes dois últimos itens definem o braço de ponte que é necessário dispor para realizar a conexão terra-água. Em alguns casos, a lâmina d’água se afasta tanto da margem do rio, que se faz necessário construir pontes fixas para estender o alcance até a lâmina d’água. Além dos aspectos técnicos há de se verificar os de cunho social, pois todos os municípios de acesso fluvial da Região Norte têm suas áreas vocacionais portuárias, nas quais os armadores vêm atracando ao longo de anos. Por conta destas preferências intuitivas e quase sempre certeiras dos armadores locais, nestas áreas foram desenvolvidos os comércios dos municípios onde geralmente há uma feira, um mercado e outros pequenos comerciantes locais. Muitas vezes, após satisfeitas as condições de engenharia, estas são as áreas propícias para projeção da IP4. Aperceba-se que o enfoque deste artigo está nas condições para determinar a conexão terra-água. Porém, ressalva-se que para determinar o projeto de implantação do retroporto também devem ser realizados: Estudos geotécnicos, uma vez que a Região Norte sofre com o fenômeno natural de terras caídas, que é a terminologia regional para descrever o desbarrancamento em pequena ou larga escala das margens dos rios denominados de amarelos ou brancos (rios cujos leitos estão em formação) da Bacia Amazônica (CARVALHO, 2006); Estudos de engenharia naval, já que a estrutura do flutuante principal de atracação deve ser capaz de suportar, sem deslocamentos relevantes, todas Figura 3 - Croqui esquemático de uma IP4. 4 as combinações de carga de projeto (VASCONCELOS, 2005) Municiados de todos os elementos e peculiaridades dos locais onde se pretende implantar a IP4, inicia- se o processo criativo de projetar. Desde a criação do Programa até o presente momento foram implantadas, basicamente, seis tipos de projeto: 3.1. IP4 Composta por Duas Pontes Metálicas Móveis Este modelo é usado em rios cuja variação da amplitude do NA entre os períodos de seca e estiagem é grande e a seção transversal do leito do rio espraiada, características que fazem com que o canal de navegação se afaste muito da margem no período de estiagem. Na figura 4 consta representação esquemática desta solução no período de cheia. A IP4 de Novo Airão representa bem este modelo (ver Figura 5). Figura 4 - Representação esquemática da IP4 com duas pontes apoiadas em flutuante intermediário (berço). Figura 5 - IP4 de Novo Airão-AM O sistema de fundeio desta solução é por meio de guinchos (elétricos ou manuais) conectados às poitas, por cabos de aço, submersas e posicionadas de maneira que assegurem a estabilidade do sistema e facilite as operações dos guinchos, conforme esquema na Figura 6. Figura 6 - Representação esquemática do fundeio 3.2. IP4 Composta por Três Pontes Metálicas Móveis Para esses casos ainda se tem alta variação do NA, associada a uma seção transversal mais desfavorável para a atividade portuária. No período de estiagem, a lâmina d’água mínima está mais distante da margem que a situação anterior, sendo necessário aumentar o número de pontes para realizar a conexão terra-água (ver Figura 7). Outro cuidado é analisar a velocidade da corrente do rio na época de cheia, precisamente no local onde será instalado o flutuante, para evitar seu posicionamento em uma área de altas velocidades, fato que dificulta a manobra das embarcações durante o processo de atracação e solicita maiores esforços do sistema de fundeio. Atendidas estas condições, são projetadas três pontes com dimensões que permitam que no período de estiagem a declividade atenda às condições mínimas de trafegabilidade de veículos e pessoas, ou seja, evitando que seja superior a 12%. Muitas vezes, para evitar mais tramos de pontes e respeitar a declividade de 12%, o projetista cria um deck superior no flutuante principal de atracação, conhecido como tijupá (ver Figuras 5 e 8). Ressalta-se que ainda assim deve-se tomar o cuidado para garantir que o flutuante não seja um obstáculo no canal do rio no período de águas baixas, por isso esta solução somente deve ser aplicada para rios de largura considerável, como ocorre no rio Madeira, Solimões, Amazonas e Negro. Na Figura 8 observa-se a estrutura da IP4 de Manicoré, cujo flutuante desta IP4 tem tijupá. Figura 7 - Representação esquemática das IP4 com 3 pontes 5 Figura 8 - IP4 de Manicoré-AM O sistema de fundeio é o mesmo da solução anterior, porém, devido a quantidade de tramos de pontes, há o acréscimo de flutuantes intermediários e, consequentemente, aumenta-se o grau de dificuldade da operação, exigindo-se maior acurácia dos operadores para evitar que o sistema seja desalinhado. 3.3. IP4 Composta por Rampa em Concreto Perpendicular ao Fluxo do Rio Nas situações em que a área de vocação portuária não fica exatamente na calha principal do rio, mas em um paraná, ou até em locais que se assemelham há uma enseada ou há um lago, onde as condições de velocidade, transporte de sedimentos e detritos praticamente não ocorrem, é possível adotar esta solução. Neste caso, a conexão terra-água é realizada por uma rampa em concreto e uma pequena ponte metálica que deve deslizar sobre esta estrutura, acompanhando as variações do nível d’água (ver Figura 9). Figura 9 - Representação esquemática da IP4 com rampa em concreto perpendicular ao fluxo do rio. Na Figura 10 consta registro fotográfico da IP4 do Município de Tapauá-AM. Figura 10 - IP4 de Tapauá – AM A rampa em concreto também é construída com declividade de 12%. Entretanto, todas as vezes que esta solução foi adotada, houve dificuldade em cumprir o cronograma da obra, pois não é em todo o período de estiagem que o NA atinge o mínimo estabelecido em projeto. O sistema de fundeio desta solução não pode ser provido apenas de poitas submersas. É necessário ancorar os cabos em terra, em estruturas denominadas de mortos, conforme esquematizado na Figura 11. Figura 11 - Esquema de fundeio para IP4 de rampa em concreto perpendicular ao fluxo do rio. 3.4. IP4 Composta por Rampa em Concreto Longitudinal ao Fluxo do Rio Há rios cujas calhas são muito estreitas e qualquer uma das soluções citadas anteriormente passa a ser um problema para a navegação, pois noperíodo de estiagem as rampas ou pontes metálicas ficam posicionadas exatamente no meio do canal de navegação. Eis que se cria um obstáculo no meio do rio, pois a estrutura de conexão terra-água passa a impedir a navegação. A partir daí adotou-se projetar rampas em concreto longitudinais ao sistema de contenção, conforme esquematizado na Figura 12 e retratado na Figura 14 pela IP4 implantada no Município de Guajará. 6 Figura 12 - Representação esquemática da IP4 com rampa em concreto longitudinal ao fluxo do rio (vista em planta). Neste arranjo, sobre a rampa em concreto, há uma pequena ponte metálica, um flutuante de acesso e, finalmente, o flutuante principal de atracação. O fundeio também requer a utilização de mortos, para realizar as manobras operacionais. Figura 13 - IP4 de Guajará – AM. 3.5. IP4 Composta por Pontes Flutuantes Recentemente foi inaugurada a IP4 de Santarém- PA, na qual as pontes também são flutuantes e o projetista não utilizou de sistema de fundeio por cabos e poitas para mantê-las alinhadas. Nesta solução há estacas guias, que permitem que todo o sistema acompanhe a variação do nível d’água (ver Figura 14). Figura 14 - IP4 de Santarém – PA, pontes flutuantes guiadas por estacas guias. Ressalva-se que, na altura do Município de Santarém, o Rio Tapajós tem uma variação de NA de apenas 8 m, que é menos da metade da variação do NA dos rios que banham os municípios do Estado do Amazonas. 3.6. IP4 Composta por Trapiche em Concreto Nos empreendimentos localizados em rios com baixa variação de NA ou ainda que sofrem influência do regime de maré, adota-se a solução de trapiches (ver Figura 15), cujo registro consta na Figura 16. Figura 15 - Representação esquemática da IP4 composta por trapiche. Figura 16 - Modelo de IP4 por Trapiche Nesta situação, não há sistema de fundeio realizado por guinchos e poitas para manter o flutuante devidamente posicionado. Há sim estacas guias que direcionam o flutuante para acompanhar o movimento do NA. 4. Desafios Gerais da Construção das IP4 O período de cheia e de estiagem dos rios que compõem o universo da Bacia Amazônica não ocorre simultaneamente. Isto significa que quando o rio Madeira, por exemplo, está iniciando sua ascensão de águas, o rio Juruá ainda está vivendo sua estiagem e o rio Negro está finalizando sua cheia, preparando-se para iniciar seu processo de estiagem (FILIZOLA et al, 2011). Tabela 1 - Resumo do comportamento hidrológico de alguns rios da Bacia Amazônica Rio Meses do Pico de Cheia Meses de Ocorrência do NA Mínimo Solimões Mai – Jul Out - Nov Negro Jun – Jul Jan - Fev Madeira Mar - Abr Set - Out Amazonas Mai - Jun Out - Nov Fonte: Adaptado de MELO,2012 De forma que o planejamento para construir a IP4 em diferentes corpos hídricos é completamente distinto para cada calha de rio. 7 Outra particularidade é que nenhum dos municípios dispõe de insumos para a construção do empreendimento. Todos os insumos chegam aos municípios por meio fluvial partindo das capitais, geralmente Manaus, Belém e Porto Velho. Conforme exposto por Vasconcelos (2005), insumos como rocha para fabricar brita é praticamente inexistente em algumas calhas da Bacia Amazônica. Outro dificultador é que, a depender da calha do rio que receberá a IP4, o transporte por balsas não é realizado ao longo de todo ano. Por exemplo, nos rios Juruá e Purus, cujos rios são extremamente sinuosos e de seção transversal encaixada, apenas é possível navegar utilizando balsas no período de cheia, ou seja, em somente quatro meses do ano. Outro problema enfrentado é que ao chegar aos municípios, não há nenhuma estrutura para descarregar os insumos que serão aplicados na obra em segurança. Quando este descarregamento é realizado no período de cheias, no qual os barrancos estão submersos, consegue-se concluí-lo com dois dias de trabalho intenso. Porém, para aqueles municípios cujo acesso pelo rio permite a navegação em qualquer período do ano, na época de estiagem, são necessários quatro dias de trabalho somente para descarregar cada balsa de capacidade de 1000 t. Ressalta-se que são necessárias, em média, 18 balsas de 1000 t de capacidade para transportar todos os insumos empregados na construção de uma IP4. Vencida a etapa de chegar ao município com os insumos, parte-se para o início das obras na margem do rio, que somente poderá ocorrer com o rio na sua situação de cota mínima, pois é preciso realizar as obras de contenção, terraplenagem e reforço do solo. Tais intervenções de engenharia devem ser desenvolvidas em ritmo intenso para permitir que a cota do terreno sempre esteja acima da cota do nível d’água que já iniciou seu processo de ascensão. Uma vez desrespeitada esta condição, a obra somente pode ser retomada no próximo período de seca, ou seja, após um ano. Como já dito, alguns rios têm limitação de navegação no período de estiagem. Por isso, o planejamento da obra deve prever que o transporte dos insumos será realizado na cheia e deve-se aguardar meses até que o rio atinja sua condição de vazante para poder dar início a obra civil. Diante destas peculiaridades inerentes à Região Amazônica, não é possível aplicar exatamente o mesmo cronograma de construção, de forma indiscriminada para todas IP4, sem antes estudar minuciosamente sua localização em relação ao centro fornecedor de insumos e as características dos rios que darão acesso à localidade que será contemplada com a IP4. Até este ponto foi explicado os desafios de iniciar a parte civil do empreendimento. Já a parte naval, necessita da infraestrutura de estaleiros para confeccioná-la. Dentre as capitais da Região Norte somente há estaleiros em Manaus-AM e em Belém- PA. Após a conclusão do flutuante de atracação e demais unidades (pontes, poitas, acessórios, etc), todo o conjunto deve ser transportado até o município. Relembrando que para as localidades que têm acesso pelos rios Purus e Juruá, a parte naval somente tem meios de ser transportada no período de cheia. Porém, o desafio não consiste em transportar o flutuante de atracação, mas sim, em mobilizar e transportar os equipamentos imprescindíveis para realizar a conexão terra-água. A infraestrutura mínima deve ser composta por um flutuante de apoio com capacidade mínima de 1000 t, dois empurradores de potência mínima de 600 HP, um guindaste de capacidade mínima de 60 t, uma escavadeira hidráulica sob esteiras, um grupo gerador, duas máquinas de solda e dois maçaricos. Não se pode esquecer da mão de obra qualificada que atua durante todo o delicado, porém pesado, serviço de implantação. A atividade de implantação é menos penosa no período de cheias, pois o grau de dificuldade é atenuado pelo fato dos níveis de terra e água estarem próximos. Considerando que todos os equipamentos, materiais e mão de obra estarão de prontidão na localidade, que não ocorreu nenhum incidente (como a quebra de peças cuja reposição depende do transporte da capital até a erma localidade) serão necessários de 20 a 30 dias de trabalho intenso para realizar a implantação completa do sistema de atracação ao retroporto, completando assim a IP4. 5. Desafios da Operação da IP4 Por se tratar de um elemento novo na Administração Pública, a IP4 ainda não tem uma política que vise sua exploração. Atualmente, as obras foram e vem sendo concluídas, cabendo ao DNIT as prover com uma equipe mínima para garantir: integridade física da estrutura e dos equipamentos, protegendo-os de vandalismo e furtos; limpeza; operação dos guinchos e execução 8 de pequenas atividades de manutenção (trocas de lâmpada, pintura das edificações, consertos de válvulas de descarga). A manutenção desta equipe por IP4 tem um custo anual médio de R$ 1 milhão. Acontece que a ausência de uma política de exploração de IP4 permitiu que o DNIT fosse acompanhando a performance de cadauma, identificando os problemas mais corriqueiros e as dificuldades de operação. Tais observações são enumeradas a seguir e traduzem-se em um caderno de experiências para evitar que se cometam os mesmos erros nos futuros projetos. 5.1. Do Mau Uso dos Armadores e da População Após a conclusão das IP4, os armadores bem como a população tiveram uma significativa melhoria na qualidade de vida. Porém, com o decorrer do tempo, tem-se percebido que algumas questões culturais regionais têm representado um sério obstáculo para as atividades de operação das IP4. Por exemplo, as IP4 providas de tijupá têm sofrido seriamente com a corrosão, pois frequentemente os usuários urinam nos pilares metálicos de sustentação do tijupá, provocando corrosão da estrutura. Muitas vezes os armadores furtam as defensas de pneus do flutuante principal de atracação e instalam no costado de suas embarcações, deixando a IP4 desprotegida do impacto causado durantes as manobras de acostagem. Mais perigoso e danoso, ainda, é quando furtam a fiação elétrica que abastece o flutuante. Ao cair da noite, a IP4 torna-se um obstáculo invisível para as embarcações que se aventuram na navegação noturna, podendo causar acidentes. Alguns armadores, após concluírem o desembarque dos passageiros e das mercadorias, utilizam a IP4 como se fosse seu eterno estacionamento, impedindo que outras embarcações usufruam da estrutura. O incansável diálogo é a única alternativa para solicitar que desatraquem a embarcação da IP4 e permitam que outros armadores a utilizem. 5.2. Posição das Treliças das Pontes Em 2006, foi concluída a IP4 no Município de Parintins – AM. Era a primeira estrutura construída com recursos do DNIT. Seu sistema de conexão terra-água era dotado de uma ponte metálica fixa e outra ponte móvel. O detalhe é que ponte móvel tinha a concepção estrutural com treliças inferiores à mesa de rolagem dos veículos. Isso implica que no período de águas altas, as treliças ficavam posicionadas abaixo da lâmina d’água. Alguns rios Amazônicos são famosos devido à periculosidade da navegação durante o período de águas altas, por transportarem emaranhados de troncos, comumente chamados de toras e galhadas ou, como os ribeirinhos dizem, de “balseiros”, que causam severos prejuízos à navegação. Após o primeiro ciclo de cheias da IP4 de Parintins (ver Figura 17), observou-se que as treliças das pontes agiam como peneiras, retendo todos os balseiros, que, consequentemente, produziam esforços de torção na estrutura das pontes. Em alguns casos, os excessos destes esforços rasgavam o aço dos olhais de ligação. Vivenciada essa experiência, os demais projetos para os quais estava previsto a construção de pontes metálicas, foram dimensionados com as treliças invertidas, ou seja, acima da mesa de rolagem. Figura 17 - IP4 de Parintins-AM tomada por balseiros. Eis que em 2010 foi concluída a IP4 do Município de Humaitá – AM (ver Figura 18), cujas treliças das pontes metálicas são invertidas. Porém, para decepção da equipe, a quantidade de toras e galhadas acumuladas na estrutura da IP4 era tão grande quanto à acumulada em Parintins. 9 Figura 18 - IP4 de Humaitá-AM dominada pelas toras e galhadas. A única evolução obtida do ato de inverter as treliças, é constatada no momento de limpar a estrutura. No caso da IP4 de Parintins, o serviço de remoção de toras e galhadas é mais demorado, pois necessita retirar os detritos que estão emaranhados nas treliças e levá-los até o canal para que o rio se encarregue de conduzi-los. Já na IP4 de Humaitá, por exemplo, o serviço de limpeza depende apenas da desagregação do emaranhado de toras, que a partir deste ponto o rio já as conduz (ver Figura 19). Figura 19 - Ilustração da atividade de limpeza nas IP4 com treliça para baixo (esquerda) e para cima (direita). Como colocado por Hartz et al. (2014), no período de cheias ocorre o arrasto dos troncos de árvores que estavam caídas às margens, fazendo-os flutuar e seguir com a correnteza. Esses materiais, ao depararem com a estrutura de acostagem da IP4, ficam retidos, gerando um esforço extra, não previsto em projeto, ocasionando assim danos à estrutura. Atualmente são 16 IP4 que sofrem seriamente com o problema de toras e galhadas e para evitar maiores danos nas estruturas da IP4, o DNIT tem um contrato de manutenção específico para remove- las, evitando que os grandes acúmulos exerçam esforços exagerados e leve o sistema a um colapso. Em paralelo, há um estudo específico conduzido pelo DNIT para aperfeiçoar os projetos e minimizar a incidência dos balseiros, que está na fase de contratação de um protótipo. Acredita-se que em dois anos, os novos projetos já estejam utilizando-o e o problema seja atenuado. 5.3. Operação de Sistemas de Atracação Composto por Rampa de Concreto Após a conclusão da IP4 em rampa, iniciaram-se as dificuldades no momento de fazer com que a estrutura de atracação deslizasse suavemente sobre a rampa, acompanhando a variação do nível d’água. Esperava-se que o flap (chapa de aço responsável em conectar a ponte metálica com a rampa em concreto) deslizasse sobre a rampa (ver Figura 20). Entretanto, ao controlar os guinchos recolhendo os cabos de terra, todo o sistema emperrava e raspava na rampa de concreto, desgastando-a. Mesmo a existência de trilhos guia na rampa e roldanas no início das pontes não auxiliram no movimento, pois o problema estava sendo ocasionado pelo flap que produz força de resistência ao deslocamento do sistema. Figura 20 - Destaque para o flap da IP4 de Urucará – AM O operador da IP4 de Urucará – AM desenvolveu o dispositivo da Figura 21, o qual é encaixado na extremidade final do flap e permite que ele deslize sobre a rampa facilitando as operações de soltar ou reter o cabo. Figura 21 - Dispositivo desenvolvido pelo operador da IP4 para facilitar a operação. 10 5.4. Necessidade de Fingers No decorrer destes 10 anos, o Programa de construção de IP4 pode ser dividido em dois grandes momentos: uma primeira injeção de investimentos em 2005 e a segunda em 2009. Os projetos desenvolvidos em 2009 já trouxeram algumas inovações com relação aos anteriores, pois mostraram-se preocupados em atender as lanchas que fazem exclusivamente transporte de passageiros. Nesta segunda leva de projetos, os flutuantes foram dotados de fingers (ver Figura 22), cuja altura do costado permite dar nível compatível com as lanchas facilitando o embarque e desembarque de passageiros que utilizam este transporte. Figura 22 - Fingers. Porém, com pouco tempo de operação, os olhais de ligação entre o costado dos fingers e o costado do flutuante principal começaram a romper (ver Figura 23). Além disso, o espaço vazio entre eles tornou-se propicio para acumular lixo e vegetais (conforme registrado na Figura 24), dificultando as atividades operacionais da IP4. Figura 23 - Olhais de ligação do finger rompido. Figura 24 - Lixos e vegetais se acumulando na área dos fingers. Desde então, os novos projetos não são mais dotados de fingers, e sim de um rebaixamento do convés para dar nível de acesso aos passageiros que utilizam as lanchas em segurança, conforme registrado na Figura 25. Figura 25 - Exemplo de flutuante com rebaixamento do convés. 5.5. Deposição de Sedimentos Ouve-se muito falar do alto transporte de sedimentos em alguns rios Amazônicos e os estudos do aporte de transporte de sedimentos realizados até o momento dão mais ênfase aos rios Solimões, Madeira e Amazonas. Mas a real noção desta problemática surgiu quando foram implantadas as IP4 da calha do rio Juruá. Nesta calha foram construídas IP4 nos Municípios de Guajará, Ipixuna, Eirunepé, Itamarati e Carauari. Dos cinco empreendimentos, apenas Eirunepé foi construído utilizando-se pontes metálicas. Para os demais utilizou-se rampa de concreto longitudinal ao fluxo dorio. Durante o período de cheia, toda a rampa é tomada por uma montanha de sedimentos e à medida que o NA inicia seu processo de declínio, os barrancos de sedimentos impedem que o sistema de atracação continue deslizando sobre a rampa em concreto. Na figura 26 retrata a ponte da IP4 de Guajará atolada na lama sobre a rampa de concreto. 11 Figura 26 - Ponte metálica da IP4 de Guajará atolada no sedimento depositado sobre a rampa. Ainda exemplificando esta problemática, na Figura 27 tem-se registro da IP4 de Ipixuna com as obras de acostagem desacopladas da rampa de concreto para possibilitar a remoção dos sedimentos depositados sobre a rampa. Figura 27 - Rampa da IP4 de Ipixuna dominada por sedimentos e sistema naval desacoplado (período de cheia). À medida que o NA do rio Juruá declina, tem-se a real situação da quantidade de sedimentos sobre a rampa, conforme registrado na Figura 28. Figura 28 - Continuidade do serviço de remoção de sedimentos da IP4 de Ipixuna estendendo-se pelo período de estiagem. Caso o operador não tenha experiência e mantenha o sistema todo atracado, a estrutura passa a ser submetida a esforços para os quais não foi dimensionada, dando início ao seu colapso. Acontece que o rio Juruá por ser um rio estreito tem um tempo de base do hidrograma muito curto. A situação se agrava para os municípios localizados mais na cabeceira, que é o caso de Guajará. O fenômeno do repiquete (como os ribeirinhos denominam o processo abrupto de subida das águas) é muito mais perceptível neste rio que nos demais. Por exemplo, na IP4 de Guajará, temos registro que em menos de 24 h o NA se eleva dois metros e depois desce 2,20 m e continua seu processo de declínio com mais alguns eventos de repiquetes. Estes rápidos eventos são um problema para as atividades de operação da IP4, pois o operador responsável ao encerrar suas atividades às 18 h confere as forças aplicadas aos cabos e o alinhamento do sistema de acostagem. Se durante a madrugada ocorre uma onda de cheia (repiquete) elevando o NA abruptamente cerca de dois metros, não há ninguém para soltar os guinchos e folgar o sistema de fundeio. Ao amanhecer, o operador ao se deparar com a situação, procura soltar os cabos para dar a folga necessária para o fundeio. Mas, a onda já está se dizimando e por volta do meio dia o NA está inferior ao NA de antes de ocorrer o repiquete, e é exatamente quando a ponte metálica atola no sedimento depositado sobre a rampa de concreto. Deste ponto em diante iniciam-se os problemas na estrutura, pois parte dela tem a tendência natural de flutuar acompanhando as águas do rio e a outra parte está presa na lama. Os esforços conduzem a danos, principalmente nas áreas dos olhais, conforme mostra a Figura 29. Figura 29 - Costado do flutuante de acesso da IP4 de Guajará rasgado no local de fixação do olhal. Diante de tantos problemas observados nestas estruturas ao longo dos municípios na calha do rio 12 Juruá e, devido à indisponibilidade de recursos para realizar intervenções pesadas, foram dadas pequenas e baratas soluções pontuais. Como em todas as IP4 foi constatado que a primeira peça a encalhar era a ponte, imaginou-se que esta deveria manter-se hasteada e apenas ser posicionada sobre a rampa de concreto quando houvesse embarcações necessitando utilizar as instalações. Assim, projetou-se e instalou-se duas hastes com talhas com capacidade de 10 t cada, para suspender a primeira peça do sistema (ver Figura 30). Figura 30 - Detalhe da talha instalada no flutuante de acesso para suspender a ponte metálica que desliza sobre a rampa de concreto. Assim, evita-se que o sistema de acostagem fique atolado na lama. Entretanto, o sedimento ainda continua sobre a rampa de concreto. Para auxiliar na sua remoção foi instalada uma pequena draga com capacidade de sucção de 100 m³/h e potência de pico de 24 HP para, gradativamente, remover o sedimento depositado na rampa (ver Figura 31). Então, procurou-se aperfeiçoar o processo de operação. À medida que o flutuante desce acompanhando o processo de declínio do NA, o operador munido de uma vara graduada e posicionado sobre o flutuante de passagem, a introduz em sucessivos pontos para ter uma ideia do depósito de sedimentos sobre a rampa. Isso permite que ele identifique a necessidade de acionar a draga e remova camadas de sedimentos sob a rampa impedindo que todo o sistema emperre. Esta foi a maneira como se projetou o funcionamento das soluções pontuais, mas, na prática, no dia a dia das IP4 da calha do rio Juruá, a partir do momento que se inicia o declínio das águas, todos os dias o operador necessita dragar. É uma atividade constante. Figura 31 - À esquerda detalhe da draga. À direita destaque para seu abrigo de proteção sobre o flutuante. Estas intervenções são paliativas, não resolvem o problema, apenas amenizam a situação. E em todas as IP4, mesmo com a instalação de draga, ainda é preciso recorrer ao auxílio de retroescavadeiras para remoção dos sedimentos sobre a rampa de concreto. Bem, conforme dito antes, o contraexemplo das IP4 situadas na calha do rio Juruá, que foi construída utilizando duas pontes metálicas (ver Figura 32). Figura 32 - IP4 em Eirunepé – AM na calha do Juruá. Devido às características do rio Juruá, na qual o projetista, atento para que o flutuante não se torne um obstáculo à navegação, posicionou o sistema de acostagem esconso à margem e ao fluxo da correnteza do rio (ver Figura 33). Figura 33 - Sistema de acostagem da IP4 de Eirunepé esconso ao sentido do fluxo do rio. Nesta IP4 não há registro de problemas com deposição de sedimentos na estrutura de acostagem. Entretanto, além de sofrer com a imensa quantidade de toras e galhadas (ver Figura 13 34) no período de cheias, no primeiro período de estiagem, verificou-se que o leito do rio estava tomado por toras e galhadas, e embora houvesse lâmina d’água, parte do flutuante assentou sobre o emaranhado de madeira (ver Figura 35). Figura 34 - Serviço de remoção de toras e galhadas da IP4 de Eirunepé no período de cheia. Figura 35 - Flutuante da IP4 de Eirunepé assentado sobre o leito repleto de troncos. Em resumo, para a calha do rio Juruá, qualquer das soluções de projeto até então implantadas para a IP4, vai gerar problemas sérios nas atividades de operação. Ao que se indaga se as premissas iniciais adotadas na concepção de projeto, como por exemplo, admitir que a IP4 opere 100% do ano com uma declividade máxima de 12%, deva ser aplicável em todas as IP4. Caso não tivesse que partir destas premissas, poderia considerar que em algumas calhas a IP4 pudesse ficar um período de 30 dias consecutivos sem operação, correspondente ao tempo de águas mínimas. Tal admissão, permitiria implantar o sistema de atracação perpendicular ao fluxo do rio e com tramos de pontes mais curtos. Diante das problemáticas apresentadas, tem-se consciência que a operação das IP4 nos rios Amazônicos continua sendo um desafio para a engenharia, pois os rios têm características intrínsecas do seu processo de formação e a criação de estruturas para reter completamente o material sobrenadante, como toras e galhadas e sedimentos, representaria o investimento da construção da própria IP4. Neste momento há estudos específicos que visam minimizar o problema, mas ainda não há uma solução que seja financeiramente exequível para eliminar o problema completamente. 6. Conclusão Após contextualização sobre o surgimento da IP4 no cenário da Região Norte do Brasil, seguido da tipificação dos projetos que foram implementados ao longo destes 10 anos, mostrando as peculiaridades das operações de cada IP4 no contexto dos diferentes corpos hídricos que compõem a Bacia Amazônica, acredita-se que, agora, o leitor tem a real noção do desafio que é projetar, construir e operar as IP4. Mesmo com osproblemas e desafios relatados neste artigo, a implantação de uma IP4 nos ermos e longínquos municípios, em substituição às instalações rudimentares de outrora, ou, na ausência dessas, aos próprios barrancos dos rios, trouxe para a população ribeirinha benefícios até então não ofertados, como: Conforto, segurança e celeridade na operação de embarque e desembarque de passageiros e cargas; Regularidade na oferta de transporte, facilitando o abastecimento local com gêneros de primeira necessidade e atraindo turistas; Ordenamento do transporte fluvial, evitando que as embarcações parem ao longo da orla da cidade de forma desordenada, facilitando as ações de controle das instituições competentes; Desenvolvimento da região: proporcionando acesso à política agrícola, de saúde, segurança, educação e cultura, contribuindo para fixação das populações interiores em seus municípios. Não é intensão deste trabalho esgotar o assunto inerente às IP4, mas apenas divulgar e partilhar as peculiaridades de cada solução de projeto implementado, com destaque para as questões operacionais, visando o aprimoramento dos futuros projetos. 14 7. Referências Bibliográficas CARVALHO, J.A.L. Terras caídas e conseqüências sociais: Costa do Miracauera, Paraná da Trindade, Município de Itacoatiara-AM. Dissertação (Mestrado no Programa de Pós-Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia do Instituto de Ciências Humanas e Letras) - Universidade Federal do Amazonas. Manaus, 142p, 2006. DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – Processo Administrativo nº 50601.000037/2010-17 – Relatórios do Contrato SR-01080/2010-00 celebrado com o Consórcio PRI- SÓLIDO, para a Execução de Serviços de Gerenciamento das Obras de Construção de vinte e um Terminais Hidroviários do Estado do Amazonas. 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