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OS PROBLEMAS SOCIAIS EM O PRIMO BASÍLIO- EÇA DE QUEIROZ

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
OS PROBLEMAS SOCIAIS EM ‘’O PRIMO BASÍLIO- EÇA DE QUEIROZ’’
 Jean Henrique Thiesen¹
RESUMO: José Maria de Eça de Queiroz publicou diversos livros na sua carreira como escritor, dentre eles estão as famosas obras ‘’O Crime do Padre Amaro’’, ‘’Os Maias’’ e a obra que aqui será estudada ‘’O Primo Basílio’’. Essa obra, que foi publicada em 1878, gira em torno de críticas as camadas da burguesia portuguesa, revelando os piores traços dessa camada da sociedade de forma extremamente detalhista, derivado do seu estilo realista. O registro dessas características da burguesia, presente no livro, será o objeto de estudo desse artigo, traçando um paralelo sobre como a burguesia moldava e influenciava toda a sociedade burguesa do século XIX.
UNITERMOS: Sociedade; burguesia; realismo; naturalismo
INTRODUÇÃO
O objetivo geral desta análise é verificar e compreender alguns aspectos da sociedade presente em ‘’O Primo Basílio’’ romance escrito por um dos mais importantes escritores portugueses, Eça de Queiroz (1845-1900). A época de publicação da obra, trazia valores extremados no individual, a sociedade burguesa do século XIX era amplamente retratada nos romances, mas Eça quebrou um paradigma ao utilizar o realismo/naturalismo para adentrar no que a burguesia mais produzia, que consistia na subversão de gênero e classe social. Trataremos nesse estudo de ter um olhar crítico para quais eram essas subversões e como essa sociedade burguesa se comportava perante outras classes sociais. Analisaremos também o realismo nessa obra naturalista. Verificaremos que a partir de uma leitura completa e profunda de toda a obra, as formas em que o naturalismo de Eça se encaixava no realismo, retratando a sociedade burguesa portuguesa do século XIX. Como instrumento teórico, utilizaremos de alguns artigos que tratam de todas essas características do romance naturalista-realista, que abordam a obra citada de Eça. 
Para iniciarmos essa análise, desse aspecto tão específico e representativo na obra de Eça, precisamos primeiro situar o tempo em que a obra era escrita, tendo em vista que toda análise de um ponto de vista sociológico, ainda mais quando se trata do realismo, representa a sociedade naquela determinada época, cultura. Iniciaremos a dando ênfase as mulheres na obra e em um segundo momento, trataremos da descrição da sociedade burguesa dó século XIX.
 Já no início do livro, em seu primeiro capítulo verificamos uma crescente do que viria a ser o realismo extremamente detalhista do autor, desde personagens secundários, até os locais mais usados pelos personagens centrais da obra. Um dos fatores sociais revelado no primeiro capítulo consiste em como os casamentos aconteciam na época e em como as classes sociais eram descritas, na visão dos burgueses. Nesses aspectos descritivos acho importante explicitar em como o realismo e o naturalismo fazem contrastes frequentes nessa obra, tendo em vista o caráter mais realista que foca no ser humano, o ser biológico e sexual e seu caráter e o naturalismo mais presente nas criticas sociais, ou seja, não podemos analisar um, sem abrir mão do outro, tendo em vista as características complementares dessas vertentes literárias. Para falarmos um pouco dos aspectos sociais do texto, ‘’invocamos’’ o materialismo de Marx e Engels, quando afirmam ‘’(..) que os indivíduos são dependentes, portanto, das condições materiais de sua produção ‘’ (MARX E ENGELS, 1976.p.19). Nesse trecho citado, podemos verificar que toda a ação, mesmo de um personagem fictício, passa pelo seu lugar na sociedade e a sociedade em Primo Basílio é, como já dito no início, uma sociedade burguesa com bases fundadas no individual. Essa base individualista é revelada logo no começo do livro, onde o Primo Basílio é citado secundariamente, revelando que ficara pobre e teve de vir ao Brasil para, de alguma forma, voltar a ter um bom status social, deixando assim, Luísa inconsolável em Portugal. 
Podemos destacar aspectos sociais da mulher nessa obra de Eça. Diversos estudos foram feitos acerca do gênero específico em Primo Basílio e não é por menos. Diversificadas camadas de personagens femininos aparecem na obra e tem, cada qual, sua própria profundidade e personalidade, dando uma importância e construindo uma visão sobre como as mulheres da época eram tratadas e vistas e além disso, entramos pouco a pouco na mente de algumas personagens, por meio do naturalismo presente na obra, conhecendo o íntimo do pensamento da mulher na sociedade burguesa e toda a sua sexualidade e personalidade suprimida. Luísa e seus contrastes de amizade e o problema em ‘’não ter problemas no casamento’’. Revelam como eram as relações impostas por famílias e pela sociedade, sobre esse aspecto destacamos: 
Toda essa gama de informações condiz com a proposta realista de Eça de Queirós de associar à arte literária a função de transformação social, mediante a denúncia e a crítica acerca da esfera burguesa e suas atuações retrógradas e limitadoras, especialmente no que se refere à condição da mulher, como indivíduo e como leitora, no século XIX. (MICHELLE, 2010, p. 9)
Faz-se importante destacar esse aspecto específico da obra, pois as mulheres são muito presentes e intensas em Primo Basílio e denota como na época a sociedade burguesa era extremamente machista. Para conceituar e reforçar essa imagem da sociedade machista e do casamento forçado, vejamos o seguinte trecho de Primo Basílio:
(...) acreditarás, que há tempos pra cá, se não estou em casa às quatro horas, não espera, põe-se à mesa, janta, deixa-me os restos! E depois desleixado, enxovalhado, sempre a cuspir nas esteiras... O quarto dele- Nós temos dois quartos, como tu sabes – é um chiqueiro! (1878, p. 27)
Verificamos nesse trecho a infelicidade de Leopoldina com seu cônjuge, não só uma infelicidade, mas a forma desdenhosa com qual ela a tratava. Tais atitudes são repetidas durante o livro, reforçando o aspecto machista da sociedade da época e Eça de Queiroz, não poupava detalhes sobre tal características. Outra personagem que sofre variavelmente com os intentos machista é a Leopoldina ou ‘’Pão e Queijo’’. A fama de Leopoldina é revelada assim: ‘’Está claro que é! -Exclamou Jorge- Toda essa gente aí pela rua abaixo sabe quem ela é! Sabem-lhe os amantes, sabem-lhe os sítios. É a Pão e queijo! Todo mundo conhece a Pão e queijo! (QUEIRÓS. 1878, pg .43). Nesse primeiro capítulo em específico, fica mais aparente o tratamento dos homens diante da mulher, que no caso é a Luísa, vejamos o que diz MORALES 
Em O Primo Basílio, três elementos poderiam ajudar a estabelecer uma análise tendo em vista a teoria schopenhauriana: primeiramente, Luísa e Jorge não têm filhos, apesar do imenso anseio de ambos21; em segundo lugar, Jorge adota em relação à esposa uma atitude muitas vezes paternal, repreendendo-a, determinando ele próprio como deveriam ser os cuidados da casa, contratando as empregadas, cuidando devotamente da esposa quando está enferma, prometendo-lhe levá-la para passear, dormindo com a mão entre as dela para afastar seus pesadelos, decidindo com quem Luísa deve ou não se relacionar, interditando as amizades que a seu parecer não lhe convém, e, quando ausente, incumbindo Sebastião da tarefa de vigiá-la e orientá-la – dado que irrita Luísa, que considera, exasperada, o absurdo da situação. Em vários momentos, ao longo do enredo, Jorge e Sebastião discorrem entre si ou aos demais sobre a personalidade supostamente ingênua e algo tola de Luísa, destacando sua falta de sagacidade e configurando-a de maneira infantilizada. (MORALES. 2010, pg. 18).
Ignorando a análise schopenhauriana, podemos verificar nesse trecho que Luísa não era nem levada a sério, nem como mulher adulta e tratada apenas como uma criança sem malícia. Luísa foi construída de forma irônica por Eça, para reproduzir, quase alegoricamente, a inércia e falta de amparo intelectualdas mulheres do século XIX. Luísa é cercada por pessoas que demonstram malícia, desde as empregadas que notam e a vigiam, e o próprio marido, que como vimos, acha ela infantil. Esse tratamento infantil de Jorge para Luísa pode ser explicado por Freud.
Uma das obras inspiradoras para O Primo Basílio é Madame Bovary de Gustav Flaubert, podemos notar essa inspiração logo no primeiro contato com a Luísa que era leitora da obra e tinha como livro de cabeceira. Essa representação do livro dentro da própria obra é uma evidente construção da personagem Luísa, tendo em consideração em como as mulheres são construídas em Madame Bovary. Eça utiliza desses cenários para fundamentar a sua escrita realista. 
Pode se tornar curioso o fato de Eça abordar tanto o feminino na obra, tendo em vista que na época específica, os leitores eram majoritariamente os próprios burgueses, aos quais tinham atitudes criticadas na obra e também o fato que os estudos, não eram ‘’coisas de mulher’’ naquela sociedade. A trangressão das personagens de Eça são antepostas com o intuito do choque do leitor. Essa dualidade que Eça produziu no enredo, tornando as personalidades dos personagens tão abertas para interpretaçções denota que qualquer caminho tomado, descreva mais o leitor do que o próprio personagem. Podemos ver mais sobre ambiguidade na obra, na fala de Alvaro Machado:
Ora, d’ O Primo Basílio a Os Maias, Eça evoluiu precisamente nesse sentido de, como dizia Machado de Assis, não „substituir o principal pelo acessório‟, no sentido machadiano do termo, a obediência, digamos arbitrária, a estritos códigos das escolas literárias, como, na altura, a do Realismo. Mas, fá- lo, de certo modo, como o próprio Machado de Assis, através duma estética da ambigüidade em que, precisamente, o „acessório‟ se confunde a cada passo com o„principal‟ num processo de pluridiscursividade que projeta o Eça da fase final, sobretudo com Os Maias para uma modernidade de que ele próprio não tinha consciência. (MACHADO. 1995, pg. 49)
Essa ambiguidade descrita por Alvaro está presente em quase todos os personagens da obra, revelando a inteligência na construção dos personagens.
 Levando em consideração que, os romances naturalistas são carregados de críticas sociais, mas ao mesmo tempo, precisam atrair e atiçar o público, essa dualidade passa a ser explicada por esse fato. Mas Eça não fora poupado de críticas por utilizar do naturalismo para descrever a sociedade da época, vejamos: 
O Primo Basílio (1878) consternou o público, suscitando escândalo quando de sua recepção pela crítica literária da época. O mais notório entre eles, como vimos anteriormente, teve lugar no mesmo ano: o autonomeado Eleazar (em realidade, Machado de Assis), em um jornal católico, O Cruzeiro, discutia a relevância de um jovem autor aparentemente talentoso quanto ao uso da língua como Eça de Queirós deixar-se influenciar por modismos “indecorosos” tais como o Naturalismo. (MORALES. 2010, pg. 22)
Faz-se importante essa citação pois, revela como a sociedade burguesa não recepcionou bem certas descrições na obra. A obra causou uma repercussão enorme na sociedade 
A conclusão ou a resposta para a pergunta ‘’quais problemas sociais identificamos na obra Primo Basílio?’’ passa pela sociedade burguesa machista e intrinsecamente ligada ao capital financeiro. Eça, ao retratar personagens femininas durante a obra, caracterizando, descrevendo e dando personalidades fortes, choca essa sociedade. A representatividade das empregadas em alguns capítulos demonstra a importância da crítica social que o realismo detinha nas suas obras, todos os traços e atitudes davam a importância as camadas sociais que sequer apareciam em romances de cavalaria, onde tudo era idealizado e fantasioso e girava em torno de um nobre que não tinha defeitos. O Primo Basílio rompe com esse idealismo e aplica o realismo e o naturalismo na descrição exata do que eram as camadas sociais do século XIX. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FRAZÃO, Dilva. Biografia de Eça de Queiroz. Ebiografia, 2022. Disponível em: https://www.ebiografia.com/eca_queiroz/. Acesso em: 10 de Nov. 2022.
MENEZES, Lucianne Michelle de. LEITURA E SOCIEDADE: um estudo de O primo Basílio, de Eça de Queirós. 2010. 121 f. Dissertação (Mestrado em Letras) - Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2010.
MORALES, Carolina Regina (Catálogo USP). Em busca do paraíso vazio: a transgressão feminina em O Primo Basílio de Eça de Queirós. São Paulo, 2010
Revista Urutágua - revista acadêmica multidisciplinar Departamento de Ciências Sociais Universidade Estadual de Maringá (UEM) Av. Colombo, 5790 - Campus Universitário 87020-900 - Maringá/PR - Brasil
¹ Acadêmico em Licenciatura em Letras/Português – Fundação Universidade Federal de Rondônia- UNIR- Campus Vilhena

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