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Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS TEORIA E PRÁTICA DA NEUROPSICOPEDAGOGIA Autora: Cláudia Regina Pinto Michelli 616.89 M623t Michelli, Cláudia Regina Pinto Teoria e prática da neuropsicopedagogia / Cláudia Regina Pinto Michelli. Indaial : Uniasselvi, 2012. 98 p. : il Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830- 602-1 1. Neuropsicopedagogia. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Profa. Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Profª. Cristiane Lisandra Danna Revisão Gramatical: Profª. Iara de Oliveira Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci Copyright © Editora UNIASSELVI 2012 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Professora Cláudia R. P. Michelli, Licenciada em Normal Superior Séries Iniciais do Ensino Fundamental pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSEL- VI). Especialista em Psicopedagogia pelo Instituto Catari- nense de Pós-Graduação (ICPG). Atuou durante cinco anos em atendimentos com crianças com difi culdades na aprendi- zagem. É Mestre em Educação pela Universidade Regional de Blumenau (FURB). Atua em prática escolar desde 1996. É tutora da UNIASSELVI-POS, responsável pelos cursos de Psicopedagogia e Neuropsicopedagogia e áreas fi ns de cursos voltados à educação. Tem como campo de investi- gação e discussão acadêmica a história de vida do alu- no, a prática pedadagógica e o contexto escolar como apoio necessário para entendimento dos processos de aprendizagem e não aprendizagem do sujeito. Cláudia Regina Pinto Michelli Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 Diálogo entre Educação e Saúde ....................................... 9 CAPÍTULO 2 O Laudo e sua Contribuição para a Educação ................ 31 CAPÍTULO 3 Os Encaminhamentos ........................................................... 57 CAPÍTULO 4 Implicações dos Laudos para o Contexto Educacional . 77 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): Observe a imagem do Pequeno Príncipe de Exupéry. Ele rega sua rosa e cuida dela com carinho e atenção. A água para a rosa é necessária, pois precisa para se manter viva. Porém, o que assegura sua vida é o investimento do Pequeno Príncipe em querer estar ao seu lado, acompanhando seu desenvolvimento. As crianças com quem lidamos diariamente não são rosas, mas precisam de investimento. O que seria essencial para elas? Você já se perguntou sobre isso? Veja como é importante saber sobre ela e sobre o contexto em que vive! A cada dia, mais e mais crianças são diagnosticadas com algum tipo de distúrbio, transtorno ou dificuldade de aprendizagem. Mas, o que será que elas querem dizer com isso? Você já se perguntou? Por que elas não aprendem? O que é aprender para cada uma delas? Qual o significado do laudo médico que estará dizendo sobre a não aprendizagem da criança que convive no contexto escolar do qual você faz parte? Como significar esse documento neste contexto? Acreditamos que muitas respostas para a não aprendizagem de nossas crianças podem ser respondidas a partir do entendimento de sua história e em conjunto com a prática metodológica adequada para cada situação específica. Neste caderno de estudos, você terá acesso a uma discussão que tem como eixo norteador a consideração da criança como sujeito social ativo e participativo no contexto escolar. A partir das neurociências e do entendimento do sujeito biológico, buscamos encontrar esse sujeito social, as raízes de seu processo de aprendizagem ou não aprendizagem escolar. A neuropsicopedagogia tecerá esse entendimento em consonância com os discursos de profissionais da saúde e da educação. Assim, o presente caderno de estudos está dividido em quatro capítulos: no primeiro buscamos um diálogo entre a saúde e a educação e uma breve construção histórica em torno do entendimento dessa relação. No segundo capítulo, trataremos de discutir sobre a importância do laudo, do diagnóstico médico em torno desse sujeito que supostamente não aprende na escola ou que está apresentando dificuldades no processo de aprender. O capítulo subsequente discute a prática pedagógica pós laudo, ou seja, após o diagnóstico do profissional da saúde é preciso pensar numa forma de intervir na aprendizagem desse sujeito. Assim, você compreenderá que o laudo é o alicerce, mas que a prática é o caminho. No último capítulo, faremos uma análise da demanda por laudos e sobre o papel da família e da escola frente as questões elencadas e discutir a prática pedagógica pós-laudo. Bons estudos! A autora. CAPÍTULO 1 Diálogo entre Educação e Saúde A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Apresentar a correlação entre a saúde e a educação. Conhecer os aspectos da neurologia relacionados ao processo de aprendizagem do sujeito. Compreender a importância das especializações da medicina como uma ferramenta de auxílio para o professor na sala de aula. 10 Teoria e prática da neuropsicopedagogia 11 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1 ContextualiZação Caro(a) leitor(a), neste primeiro capítulo, pretendemos desenvolver uma compreensão entre a indissociabilidade da educação e da saúde, pois não há como separarmos essas áreas. Precisamos entender o processo educativo e a promoção da saúde como o fi o condutor da prática neuropsicopedagógica. Para compreender sobre a crescente demanda de problemas que afetam as crianças em sala de aula e sua aprendizagem, necessitamos manter uma postura vigilante em torno daquilo que, neste momento histórico em que vivemos, remete- nos a refl exões urgentes: as crianças, as difi culdades, transtornos e distúrbios de aprendizagem, bem como as altas habilidades. A saúde e a educação caminham lado a lado no sentido de promover, prevenir e participar da vida social/coletiva e individual dos sujeitos. E é neste contexto que há de se compreender a caminhada desses dois termos e a necessidade da sua inter-relação. A Indissociabilidade entre Educação e Saúde Prezado(a) leitor(a), para iniciarmos a discussão em torno da indissociabilidade entre os termos educação e saúde, precisamos, inicialmente, compreender a defi nição de ambos. Podemos iniciar essa refl exão a partir do conceito de saúde apresentado pela Organização Mundial de Saúde, publicado a partir da Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde (1978) o qual defi ne o termo como o “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade.” (DECLARAÇÃO DE ALMA-ATA, 1978). Porém, necessitamos pensar a saúde, esclarecendo que a questão do “bem-estar” precisa ser pensada dentro da legitimação das crenças, valores e subjetividade, além da imersão na cultura em que o sujeito está inserido. O ritmo, estilo de vida e demais situações ou fatores se agregam à compreensão de seu signifi cado. É muito importante que o(a) professor(a) ou profi ssional que atua com crianças, adolescentes e adultos, conheça o contexto em que estará atuando). 12 Teoria e prática da neuropsicopedagogia A educação também aqui precisa ser defi nida. e então, partimos da ideia de Alvaro Vieira Pinto (2000), argumentando ser a educação um processo, um fato existencial e social e um fenômeno cultural. Além disso, relaciona-se com a economia e a antropologia de uma sociedade. Está sempre dirigida para algo, é um processoexponencial, precisa de movimento. É inacabado e, por essa razão, tem potencial criador. Envoltos nisso, precisamos entendê-la também como contraditória, pois é dessa forma que se recria, retoma, inova. A saúde e a educação refl etem-se no âmbito educacional num movimento histórico. Não pretendemos apresentar aqui uma sequenciação de datas e períodos. Entendemos a história de forma não linear, num revisitamento entre diferentes, complexos e contraditórios períodos vividos em nosso país. Visite o site da Organização Mundial de Saúde e acesse a biblioteca. Lá você encontrará muitas informações sobre esse assunto, inclusive às modifi cações históricas que foram ocorrendo e legislações. Site: <http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/ area/11/biblioteca.html>. Quando falamos em saúde e em educação, certamente direcionamo-nos a alguém. Nesse caso, a atenção à infância. E para melhor compreendê-la precisamos signifi cá-la: Os signifi cados atribuídos à infância são o resultado de um processo de construção social, dependem de um conjunto de possibilidades que se conjugam em determinado momento da história, são organizados socialmente e sustentados por discursos nem sempre homogêneos e em perene transformação. Tais signifi cados não resultam, como querem alguns, de um processo de evolução, nem estão acima e à parte de divisões sociais, sexuais, raciais, étnicas... São modelados no interior de relações de poder e representam interesses manifestos da Igreja, do Estado, da Sociedade Civil... Implicam intervenções da fi lantropia, da religião, da medicina, da psicologia, do serviço social, das famílias, da pedagogia, da mídia... Contudo, esses signifi cados não são estáveis, nem únicos e as linguagens que usamos, ao mudar constantemente, são indicativos da fl uidez e da mutabilidade a que estão sujeitos. (BUJES, 2003, p. 24-25). Em diferentes momentos da história, houve, também, diferentes preocupações em torno da infância, da criança e de sua educação. Certamente, caro(a) leitor(a), você já tenha ouvido falar em Philippe Ariès (1981), que tornou- se pioneiro em discutir a história social da criança e da família. Este autor é uma 13 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1 referência na discussão por construir uma compreensão da infância como um acontecimento caracteristicamente moderno. Ele fala de como vai sendo tecida a compreensão da infância e defi ne isso como o sentimento da infância. Nesse caso, o “[...] sentimento da infância não signifi ca o mesmo que afeição pelas crianças: corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto.” (ARIÈS, 1981, p. 99). Talvez você esteja se perguntando sobre a relação entre a saúde, a educação e a história da infância e da criança. Saiba que é a partir disso que conseguiremos tecer entendimentos em torno da saúde e da educação. Fazendo um recorte histórico, podemos afi rmar, por meio de Kuhlmann Jr. (1998), que, a partir do fi nal do século XVIII, com a infl uência do médico- higienismo, houve uma preocupação com questões de saúde e educação. O médico-higienismo, por exemplo, foi um movimento que ocorreu tendo em vista a eliminação de doenças na população. Esse trabalho era desenvolvido por médicos que também visitavam escolas com esse intuito defi nido. Nessa época, iniciavam-se estudos em torno de doenças e micro-organismos. Porém, assuntos como a prevenção de doenças e resultados em torno de descobertas, tornaram-se mais frequentes a partir de Louis Pasteur (século XIX) e demais cientistas, os quais preocuparam-se com o campo da epidemiologia e, como consequência, atribuíram à medicina e à higiene uma autoridade incontestável. Com base nesses estudos e nas crescentes descobertas em torno de doenças e prevenção, os médicos e a medicina foram ganhando espaço e um papel importante, senão decisivo nas discussões em torno da criança. Louis Pasteur era francês. Desenvolveu vacinas importantes e pesquisas na área da saúde pública. Consolidou estudos em torno da fermentação láctea e até hoje se usa o termo “pasteurização”, provindo de seu nome Pasteur. Mais informações podem ser obtidas no site: <http://www.pasteur.saude.sp.gov.br/historia_02.htm>. A partir do século XX, muitas modifi cações ocorreram no campo da medicina e refl etiram-se no campo da educação. Essas modifi cações poderão ser acompanhadas de forma mais dinâmica se você assistir, através do link abaixo, um fi lme clássico chamado: “Políticas de Saúde no Brasil”. (http://www.youtube.com/watch?v=cSwIL_ JW8X8&feature=endscreen&NR=1). 14 Teoria e prática da neuropsicopedagogia Figura 1 – Documentário Políticas de Saúde no Brasil Fonte: Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br>. Acesso em: 02 out. 2012. Sinopse: TAPAJÓS, Renato. Política de Saúde no Brasil. São Paulo: Tapiri Cinematográfi ca, 2006. Renato Tapajós é considerado um dos maiores nomes do cinema político do país. No documentário Política de Saúde no Brasil, ele coloca recortes históricos e socioeconômicos de todo o século XX. Tapajós disse em entrevista: “Procuro intercalar diálogos e representações: um passo além do simples depoimento”. No início do longa-metragem, percebe-se um entusiasmo do povo em relação ao ano novo de 1900: Mostrando um contingente de pessoas em festa conotando a esperança de um ano próspero e feliz. Há muito regozijo e clima de folia. Paradoxalmente, em tom jornalístico, surge a fi gura de um menino que traz sempre novas notícias de epidemias ou doenças, as quais acabam de acometer o Brasil – em especial nas grandes capitais- como a febre amarela, cólera, varíola e malária. Em algumas cenas, aborda os operários trabalhando em condições insalubres nas fábricas onde são explorados e maltratados. Nesse contexto, é revelado que até o início do século 15 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1 XX a população pobre só dispunha de atendimento fi lantrópico, nos hospitais de caridade mantidos pelas igrejas. Pelo descaso com a saúde no Brasil e muitas epidemias a assolá-lo, as notícias se espalhavam e estrangeiros ou visitantes não mais queriam entrar no país. Assim, são tomadas, pelo governo, algumas medidas sanitárias de saúde, com o intuito de melhorar a visão do Brasil no exterior. O médico sanitarista Osvaldo Cruz recorreu a técnicas para eliminar o mosquito transmissor da febre amarela, doença em alta, utilizando a dedetização dos lugares mais propícios ao desenvolvimento do mosquito. No ano de 1904, é decretada a vacina obrigatória das massas populares para combater a febre amarela. Mais tarde, o médico Emilio Ribas reside com doentes de febre amarela com o objetivo de provar que a doença não é transmitida pelo contato e convívio humano e, por meio de seu sistema de saneamento básico diminui as epidemias no porto da cidade de Santos. No ano de 1917, ano da Revolução Russa, começa a haver greves dos operários, motivados pelas ideologias marxistas e anarquistas. No próximo ano, existe uma forte gripe espanhola no Brasil, que mata milhares de cidadãos. Na década de 1920, os grevistas fazem acordos com os seus patrões voltam para as indústrias, a sua revolta foi tão extrema que dominaram a cidade, fazendo com que o governador abandonasse o estado de São Paulo. A partir disso é criada a lei que regulariza a aposentadoria, no ano de 1923: o trabalhador teria que contribuir durante 30 anos e depois poderia usufruir de uma aposentadoria e assistência médica. Quase no fi nal das décadas de 20 e começo da de 30, a Coluna Prestes percorreu o interior do Brasil e queria implantar uma série de reformas, segundo as ideias positivistas vigente na época. A Coluna não tem sucesso, desfaz-se e Getúlio toma posse da presidência, assumindo uma política que parecia favorecer os pobres e menos favorecidos. É considerado pelo povo o “Pai dos pobres”. Getúlio cria os IAPs, um tipo de assistência médica. Em 1935, é desenvolvidoo sistema de saúde chamado de SESP, fi nanciado pelos Estados Unidos, que tinha interesse na borracha presente na Amazônia. Dessa maneira, a assistência médica poderia chegar a diversos lugares carentes e isolados do Brasil, nessa região. 16 Teoria e prática da neuropsicopedagogia A saúde pública foi sucateada durante mais de 50 anos e essa intensifi cada na Ditadura Militar. Movimentos populares levam à criação do SUS- Sistema Único de Saúde- e sua implantação na década de 80, o qual, apesar de sua mazela e inefi ciência devido à falta de estrutura e investimento, segundo o IBGE, atende quase 100% da população Brasileira. Os movimentos sociais ainda esperam que haja uma humanização maior e maior atenção e demanda de recursos fi nanceiros para melhorar o seu atendimento. Fonte: Disponível em: <http://pt.scribd.com>. Acesso em: 02 out. 2012. Caro(a) leitor(a), foi precisamente a partir de 1920 que se fi rmou a convicção “[...] de que medidas de política sanitária seriam inefi cazes se não abrangessem a introjeção, nos sujeitos sociais, de hábitos higiênicos, por meio da educação”. (CARVALHO, 2003, p. 305). Além disso, o mesmo autor afi rma que foi a partir da compreensão de agentes políticos da época (a partir de 1920) sobre os problemas de saúde pública (certamente havia interesses políticos), que se apresentavam de forma crescente, que se pôde pensar na reforma dos serviços públicos, da participação política. A modernização do país aconteceria dessa forma. Por essa razão, a saúde e a educação se confi guravam como questões indissociáveis. Há de se considerar a saúde e a educação nesta relação, pois uma promove a outra. A busca por atendimento à saúde não foi algo conquistado de forma fácil e ainda não é. Todos nós temos essa consciência. Mas, foi a partir de muitos movimentos, interesses e investimentos políticos que a história em torno da saúde foi sendo tecida em nosso país, assim como a associação dela com a educação. Para melhor elucidar esses movimentos, caro(a) leitor(a), faremos um recorte histórico nos preocupando apenas com o movimento entre saúde e educação ou os primeiros indícios dessa relação. Ressaltamos que esse movimento certamente teria relação com outros acontecimentos históricos, pois não há como fazer história numa linearidade e sucessão de datas apenas. Mas, por uma questão didática e para especifi car a questão saúde e educação, trataremos agora de utilizar um resumo de um trabalho de Patrícia Carla Silva do Vale Zucoloto (2007), intitulado: “O Médico Higienista na Escola: As origens históricas da medicalização do fracasso escolar”. O referido trabalho é parte da sua dissertação de mestrado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e consta na íntegra no link: <www.revistasusp.sibi. usp.br/pdf/rbcdh/v17n1/13.pdf>. 17 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1 A presente linha do tempo é um recorte histórico trazendo proximidades nas datas e refere-se às primeiras interferências do Estado Brasileiro em torno da relação entre saúde e educação: 1850 – A partir dessa data houve grande busca pelo controle de epidemias no Rio de Janeiro. 1860 – Movimento médico-higienista começa a tomar força nas escolas como forma de controle e fi scalização da saúde das crianças. 1865 – Estudos, pesquisas e teses começaram a ser feitas por médicos numa área denominada “higiene escolar”. Os estudos fi cavam concentrados na Faculdade de Medicina da Bahia e na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Tanto os estudos como as pesquisas e teses tinham como objetivo discutir: higiene pública escolar; o papel do médico na escola; prescrições higiênicas quanto à escola; prescrições higiênicas quanto ao local construído; concepção de educação e trabalho pedagógico. 1870/1880 – A questão da higiene pública é entendida e defi nida com olhar de prevenção de doenças. 1890 – Por volta dessa década, começa-se a pensar numa higiene escolar com o intuito de elevar a nação brasileira. Entendendo que era preciso zelar pelas crianças e jovens, pois são o futuro de nosso país e a força propulsora para o progresso da nação. 1900 – A importância da higiene escolar era vista como forma de possibilitar a renovação do caráter, o combate a vícios, transformar os interesses individuais em coletivos, incutir deveres para com o trabalho e a nação. 1910 – É criado o serviço de Inspeção Médica Escolar da Cidade do Rio de Janeiro, sob direção de Morcovo Filho, médico do Instituto de Proteção e Assistência a Infância do Rio de Janeiro. 1920/ 1930- Médicos marcam presença nas escolas públicas e começam a desenvolver a formação dos profi ssionais da educação. Na Bahia, criam-se centros e clínicas de higiene mental escolar. 1939 – É produzido e lançado o primeiro livro sobre problemas na aprendizagem escolar, com o título: “A criança problema”, sob 18 Teoria e prática da neuropsicopedagogia autoria de Arthur Ramos, que tinha como formação de base a medicina e a antropologia. 1940/ 1950- A partir desse período, disseminaram-se, cada vez com mais força, pesquisas, trabalhos e investimentos de pessoas em torno da problemática saúde e educação. Havia um olhar em torno da indisciplina na escola e do mau comportamento do(a) aluno(a). Era entendido esse problema como algo próprio do sujeito (biológico) e visto como uma anomalia. Houve, então, uma crescente busca pela compreensão desse problema. 1940/1950 – Ainda durante esse período e se estendendo até o fi nal da década de 60, muitos trabalhos foram publicados tendo como objetivo central: o ensino e a educação dos anormais e débeis mentais (na época era assim designado aquele que fugia dos padrões de normalidade estipulados no contexto); problemas de adaptação e desajuste social; problemas de má conduta e desvio de caráter; problemas de desajustes no ambiente escolar; desajustamentos de condutas infantis. 1970/1980 - Importante ressaltar que em torno dessas décadas houve programas de vacinação das crianças na escola. Atualmente, ainda são feitas campanhas de vacinação e divulgadas em meios de comunicação para imunizar as pessoas e evitar epidemias. A questão do acompanhamento médico em nosso país varia entre localidades e atualmente cada uma delas têm suas políticas de funcionamento, sempre seguindo as normas e legislações do Ministério da Saúde e demais leis que protegem o cidadão. Inclusive, em determinados locais, há acompanhamento médico das crianças na escola, sendo feitas triagens com o intuito de buscar possíveis problemas que possam ser trabalhados precocemente e, dessa forma, proporcionar uma vida mais saudável para essa criança ou, ao menos, oferecer- lhe tratamento de saúde caso necessite, promovendo, então, qualidade de vida. Oferecer tratamentos ou, até mesmo, desenvolver campanhas de prevenção de doenças sabemos que não é o único meio de promover a saúde. Essa promoção é algo que se conquista com o conhecimento, com esclarecimentos em torno das situações da vida. E a escola é o palco por excelência onde o saber institucionalizado se dá. Estar informado, conversar sobre o assunto, buscar conhecimento, questionar, tudo isso faz parte do campo de atuação educacional, pois a educação é uma forma de emancipação humana. 19 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1 Atividade de Estudos: 1) Caro(a) leitor(a), com esse primeiro item discutido e como forma de exercitar a memória dentro dessa construção histórica da saúde e da educação, tente conversar com pessoas de diferentes faixas etárias sobre a saúde, a vacinação, visita de médicos e campanhas dentro do espaço escolar. Veja o que as pessoas têm a dizer e faça suas anotações: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ A Inter-Relação entre NeurociÊncia e Psicopedagogia: Interpretando o SuJeito Aprendente Quando pensamos sobre o sujeito em seu processo de aprendizagem ou sobre a forma como ele aprende ou não aprende, partimos da ideia de que há eixos que sustentam a forma como as pessoas constroem a aprendizagem em suas vidas. Poderíamos defi nir tais eixos como: biológico e social. Certamente eles têm uma carga afetiva, cognitiva e psicológica que assegura e confi gura cada pessoa, pois somos construídos pelas experiências que tivemos ao longo de nossas vidas. Sabe-se que mantemos uma carga genética quando nascemos. Chegamos ao mundo com bases inscritas a partir daqueles que são nossos pais. Mantemos 20 Teoria e prática da neuropsicopedagogia uma espécie de “estrutura” a partir do DNA. Essa herança é o que resguarda e fi siologicamente nos faz únicos. Contudo, podemos afi rmar que o sujeito não pode ser defi nido apenas nesse sentido. Precisamos pensar nessa base biológica para ser possível todo o restante do nosso desenvolvimento. Ou seja, é necessário ter pré-condições para desenvolver-se. Nessa direção, o cultural não está dissociado do biológico e pensar sobre o é possível. O cérebro humano é o ponto de partida dessa discussão. Não nos limitaremos a discorrer acerca de sinapses, nem sobre partes específi cas de cada região do cérebro. Nossa discussão partirá da neurociência como suporte para compreender os processos de aprendizagem do sujeito e fazer disso o embasamento da prática psicopedagógica. Para aprofundar conhecimentos sobre as partes específi cas do cérebro e a sua relação com a aprendizagem, sugerimos ler o livro: O cérebro e o corpo no aprendizado, escrito por Malcon Anderson Tafner e Julianne Fischer e publicado pela editora da Uniasselvi no ano de 2004. Mas, a neurociência, o que seria esse termo? Segundo Ésper Cavalheiro (2011), pesquisador da Universidade Federal de São Paulo e um dos mais importantes neurocientistas do Brasil, o termo neurociência é relativamente recente. Esse termo tentou abarcar todas as divisões das pessoas que estudam o sistema nervoso. A neurociência é um ramo da biologia. É a biologia interessada na compreensão da função cerebral. A partir da neurociência foi possível, com aparelhos específi cos, capturar imagens do cérebro em atividade e compreendê-lo em seu funcionamento. Através da neurociência, é possível entender as razões fi siológicas relacionadas ao sujeito e possíveis lesões que causam ou podem causar problemas no seu desenvolvimento e na aprendizagem. É através da neurociência que poderemos compreender como se dá o processo de aprendizagem para qualquer pessoa e, então, através da contextualização, compreender como o sujeito específi co aprende. Pois a estrutura cerebral entre os sujeitos pode ser semelhante, mas os caminhos para a aprendizagem consolidar-se é construído de forma singular. 21 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1 Relacionado a esse assunto e para aprofundar os conhecimentos, sugerimos que ouça pesquisadores da área e também o professor Ésper Cavalheiro, da Universidade de São Paulo. Convidamos você, caro(a) leitor(a), a assistir a um vídeo sobre o cérebro e a neurociência que apresenta, com imagens e uma discussão bastante didática, esclarecimentos em torno dessa questão. Acesse o link: <http://www.youtube.com/watch?v=h9AJbriNqSw&feature=related>. Jean Piaget (1990) foi um dos pioneiros a discutir sobre a base biológica da aprendizagem do sujeito. Para pensarmos sobre essa questão, precisamos entender que nosso cérebro se desenvolve a partir da organização, reorganização e estabilização (Piaget usava os termos: assimilação, acomodação e equilibração) do conhecimento, considerando as experiências vividas. Nesse caso, para o autor, a assimilação refere-se a um novo conhecimento adquirido, um conhecimento que se consolida através do entendimento da pessoa (subjetivo). A acomodação relaciona-se ao assentamento das experiências que já vivemos e entendemos e que, por meio da assimilação estão estruturadas, mas que, à medida que vivemos outras experiências, acabamos reestruturando-as constantemente. Já a equilibração funciona como um mecanismo autorregulador. (PIAGET, 1984). Por exemplo, digamos que uma criança está vivendo uma determinada experiência (completamente nova ou já vivida noutro momento). Através disso, tenta entender (assimilar) o estímulo que está recebendo. Feito isso, ela acomoda o novo conhecimento e permanece num estado de equilibração dessa experiência. Assim, organiza suas ideias em torno da situação, mantém-se em equilíbrio. Importante lembrar que para haver aprendizagem é preciso haver “desequilíbrio”, pois o que faz com que o sujeito aprenda (assimile) é justamente a busca pelo entendimento através da experiência. Se não houver busca por entendimento não há como organizar o conhecimento. Essa questão do conhecimento independe de a criança ou o sujeito ter alguma difi culdade, transtorno ou distúrbio na aprendizagem ou, até mesmo, alguma defi ciência, pois, antes de qualquer “problema” que se possa apresentar, todo e qualquer sujeito, dentro de suas limitações, tem capacidade de aprender, de organizar o conhecimento. O ponto chave do processo de aprendizagem a partir de Jean Piaget (1984) e para o trabalho prático dentro da neuropsicopedagogia é compreender que é destituído de sentido o conhecimento que não se relacione com o interesse do educando. Por essa razão, tanto se fala da importância da contextualização para 22 Teoria e prática da neuropsicopedagogia poder promover a materialização de uma prática pedagógica em sala de aula. Também por essa razão não há como desenvolver práticas possíveis de serem aplicadas sem devidos “ajustes” que façam sentido em meios sociais diferentes, pois é preciso primeiro conhecer uma realidade e os sujeitos dela para, então, conseguir compreender como esse sujeito vai aprender. Conhecer a realidade signifi ca conhecer o(a) aluno(a), sua família, sua história, a comunidade em que vive, enfi m, tudo aquilo que se relaciona com o sujeito e que é importante de ser considerado no seu processo de aprendizagem. Um passo muito importante para compreender como a criança aprende é considerar a motivação e o interesse dela na aprendizagem. Logo abaixo, apresentamos uma tirinha do personagem Calvin que elucida a situação: Fonte: Disponível em: <http://depositodocalvin.blogspot. com/2010/03/blog-post.html>. Acesso em: 02 out. 2012. Na tirinha acima vemos que, a princípio, não há motivação do personagem “Calvin” para ir à escola. Mas, algo dentro dele o fez levantar e ir a partir do questionamento da mãe. Com essa ilustração, queremos apresentar a você, caro(a) leitor(a), que a motivação e o interesse, embora pareçam ser externos ao sujeito, são um processo que acontece internamente a partir da reestruturação do seu conhecimento quando encontram situações ou experiências que confl itam com as suas previsões e, de alguma forma, despertam sua atenção. Motivação é aquilo que move o sujeito para seguir em busca daquilo que o interessa. (PIAGET, 1984). Além disso, esta questão está relacionada a aspectos da afetividade. Nunca há ação puramente intelectual (sentimentos múltiplos intervém, por exemplo: na solução de um problema matemático, interesses, valores, impressão de harmonia, etc.) Assim como também não há atos que sejam puramente pois é preciso primeiro conhecer uma realidade e os sujeitos dela para, então, conseguir compreender como esse sujeito vaiaprender. 23 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1 afetivos (o amor supõe a compreensão.) Sempre e em todo o lugar, nas condutas relacionadas tanto a objetos como a pessoas, os dois elementos intervém, porque se implicam um ao outro. (PIAGET, 1984, p. 38). A questão do interesse, como vimos, está relacionada também à afetividade para, assim, construir a compreensão das coisas. Isso, de certa forma e para qualquer situação, causa desequilíbrio e o que chamados de “confl itos cognitivos”. São eles que impulsionam hipóteses a partir de quando o raciocínio não é confi rmado. Por essa razão, é importante promover situações em que os alunos estejam em confl ito, refl itam para transpor suas limitações cognitivas e reorganizar o saber, o conhecimento. Também nesse movimento ocorrem as interações sociais, as amizades, a cooperação entre os sujeitos, o meio que promove também confl itos, desequilíbrio e, consequentemente, aprendizagem. É importante lembrar que em termos de trabalho pedagógico, na construção da aprendizagem escolar todo esse movimento se constrói e se conquista a partir do momento em que se conhece esse sujeito, seu contexto e sua história. É a partir disso que se torna possível a construção da prática educacional porque então saberemos sobre o que motiva esse sujeito, o que gera interesse em sua vida. Lembre-se daquilo que afi rmamos inicialmente: o sujeito tem uma carga biológica e outra social. Vimos discutindo sobre a forma de conduzir os processos de aprendizagem e indicamos caminhos para refl etir sobre o assunto por meio da neurociência. A não aprendizagem, quando não considerada como assunto relevante, pode atingir o campo emocional da criança, desenvolvendo sentimentos negativos a respeito de si, do conteúdo, da escola e daqueles sujeitos envolvidos na situação. Dessa gama de relações podem surgir as lacunas de aprendizagem, que necessitam ser reconstruídas a partir da intervenção psicopedagógica ou numa abordagem pedagógica relacionada à neurociência. Pois, entendendo como o sujeito aprende e quais os caminhos percorridos para a aprendizagem, é possível intervir de modo efi caz. Importante lembrar que a psicopedagogia tem como eixo norteador de trabalho a busca pela compreensão dos processos de aprendizagem e não aprendizagem e a construção dos caminhos que levam um sujeito a aprender. Para aprofundar estudos em torno do que é de competência da psicopedagogia trabalhar, informações e legislação sobre o assunto, convidamos você a visitar a página da Associação Brasileira de Psicopedagogia por meio do link: <www.abpp.com.br/>. 24 Teoria e prática da neuropsicopedagogia Atividade de Estudos: 1) Como forma de refl etir sobre o que vimos discutindo e exercitar as novas informações adquiridas, tente pensar na sua prática profi ssional em uma ou mais situações em que você, conduzindo o processo de aprendizagem de crianças ou jovens, conseguiu perceber o confl ito e a reorganização do saber desse sujeito. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Entender o sujeito tendo em vista suas bases biológicas, sua história e o contexto, ou seja, os aspectos sociais é determinante para a construção da aprendizagem escolar. Além disso, é muito importante poder contar com o suporte de algumas especialidades da área da saúde como auxílio neste processo quando assim for necessário. Sobre esse assunto trataremos de discutir na próxima seção. As EspecialiZações da Medicina como Aporte do Processo de Ensino e AprendiZagem. Certamente você deve lembrar, caro(a) leitor(a), sobre a construção histórica em torno da medicina e a relação dela com a educação, a qual discutimos no início deste capítulo. Gostaríamos de reforçar a presença e importância de áreas da medicina na educação diante das difi culdades encontradas em torno dos processos de aprendizagem. 25 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1 Áreas da medicina como: psiquiatria, neurologia (neuropediatria), otorrinolaringologia, ortopedia, nutrologia são os campos indicados como suporte aos processos de aprendizagem. Lembre-se, caro(a) leitor(a), de algumas defi nições, segundo o dicionário Aurélio (1999): Psiquiatria: Parte da medicina que trata do estudo e do tratamento de doenças mentais. Neurologia: Ramo da medicina que se ocupa das doenças do sistema nervoso em todos os seus aspectos. Neuropediatria: Ramo da medicina que se ocupa das doenças do sistema nervoso em todos os seus aspectos em crianças. Otorrinolaringologia: Parte da medicina consagrada ao estudo e tratamento das doenças do ouvido, do nariz e da garganta. Ortopedia: Ramo da medicina que se ocupa do tratamento e estudo de doenças do esqueleto. Nutrologia: Ramo da medicina que se ocupa da nutrição em todos os seus aspectos: normais, patológicos, clínicos e terapêuticos. Além disso, sabemos que áreas equivalentes, como a psicologia, fi sioterapia, fonoaudiologia, nutricionismo, odontologia, embora não sejam áreas da medicina, estão inseridas no campo da saúde, exercem a práxis no resgate desse sujeito e atuam como suporte da educação. Lembre-se, caro(a) leitor(a), conforme o dicionário Aurélio (1999): Psicologia: Ciência dos fenômenos psíquicos e do comportamento. (Profi ssional que atua: psicólogo). Fisioterapia: Tratamento de doença por meio do exercício e de agentes físicos. (Profi ssional que atua: fi sioterapeuta). 26 Teoria e prática da neuropsicopedagogia Fonoaudiologia: Estudo da fonação e da audição das suas perturbações e tratamento delas. (Profi ssional que atua: fonoaudiólogo). Nutricionismo: Estudo sistemático dos problemas relativos à nutrição. (Profi ssional que atua: nutricionista, que planeja dieta de acordo com o sujeito e a situação). Odontologia: ciência que se ocupa da higiene, profi laxia e tratamento das doenças dentárias. (Profi ssional que atua: dentista). Sabe-se que a questão da promoção da saúde também está relacionada a políticas públicas. Nesse caso, salientamos os direitos da criança e do adolescente garantidos em forma de lei pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (BRASIL, 1990): Título II Dos Direitos Fundamentais Capítulo I Do Direito à Vida e à Saúde Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. Art. 8º É assegurado à gestante, através do Sistema Único de Saúde, o atendimento pré e perinatal. § 1º A gestante será encaminhada aos diferentes níveis de atendimento, segundo critérios médicos específi cos, obedecendo-se aos princípios de regionalização e hierarquização do Sistema. § 2º A parturiente será atendida preferencialmente pelo mesmo médico que a acompanhou na fase pré-natal. § 3º Incumbe ao poder público propiciar apoio alimentar à gestante e à nutriz que dele necessitem. § 4º Incumbe ao poder público proporcionar assistência psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal, inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências do estado puerperal. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência 27 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1 § 5º A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser também prestada a gestantes ou mães que manifesteminteresse em entregar seus fi lhos para adoção. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos fi lhos de mães submetidas a medida privativa de liberdade. Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a: I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos; II - identifi car o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade administrativa competente; III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem como prestar orientação aos pais; IV - fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato; V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à mãe. Art. 11. É assegurado atendimento integral à saúde da criança e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde. (Redação dada pela Lei nº 11.185, de 2005). § 1º A criança e o adolescente portadores de defi ciência receberão atendimento especializado. § 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente àqueles que necessitarem os medicamentos, próteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação. Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcionar condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente. Art. 13. Os casos de suspeita ou confi rmação de maus- tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais. 28 Teoria e prática da neuropsicopedagogia Parág rafo único. As gestantes ou mães que manifestem interesse em entregar seus fi lhos para adoção serão obrigatoriamente encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e odontológica para a prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e alunos. Parágrafo único. É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias. Fique atento(a), caro(a) pós-graduando(a): as leis podem sofrer modifi cações em sua estrutura, mas elas existem para defender o sujeito e também cobrar seus deveres. Mesmo que mude em algum aspecto, elas continuarão exercendo sua função. O ECA (BRASIL, 1990) é um meio de assegurar os direitos a toda e qualquer criança e adolescente que necessite de acompanhamento médico, seja qual for a área da medicina ou saúde. E o papel do(a) professor(a) é muito importante neste caso, pois ele é o agente que intermediará esse atendimento ou fará esta solicitação e/ou encaminhamento junto aos órgãos afi ns. O(A) professor(a), por atuar diretamente com a criança ou o adolescente que possa apresentar algum problema relacionado à saúde e processos de aprendizagem, tem a obrigação de buscar uma solução junto aos órgãos competentes e esta atuação está assegurada em forma de lei. Certamente é necessário que se tenha a consciência de que há diferenças individuais no desenvolvimento intelectual das crianças. Isso não signifi ca ser “mais” ou “menos” inteligente e também não servirá como mecanismo de comparações. As pessoas aprendem de maneiras distintas e a aprendizagem acontece dentro do tempo de cada sujeito. As áreas da medicina e saúde vêm para auxiliar a educação, na medida em que a educação necessite de aporte para construir, reconstruir e ressignifi car a aprendizagem. Algumas Considerações Caro(a) leitor(a), neste capítulo você pode conhecer aspectos sobre a correlação entre a saúde e a educação através de momentos históricos 29 DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1 importantes, bem como os aspectos das neurociências (e neurologia) que estão relacionados à aprendizagem do sujeito. Compreendeu a importância da medicina como uma ferramenta de auxílio para o(a) professor(a) em sala de aula, bem como aparatos legais que asseguram esse processo. Salientamos que a medicina teve e ainda tem um grande peso nas decisões sobre a aprendizagem e a não aprendizagem das crianças na escola. De um lado, ela pensou e, em algumas circunstâncias, ainda pensa a saúde das crianças e jovens tendo em vista a base biológica de seu desenvolvimento com maior peso. Por vezes, a medicina vê que a saúde é uma questão individual e decorrente do organismo (biológico) do sujeito. Mas não podemos deixar de considerar que a saúde também é um problema de políticas públicas e que a aprendizagem e não aprendizagem escolar está relacionada muito fortemente à qualidade de vida do sujeito, seu meio e sua história. ReFerÊncias ARIÈS, Philippe. A História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: LTC, 1981. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8.069, de 13/07/1990. Florianópolis: IOESC, 1990. BUJES, Maria Isabel Edelweiss. Infância e Maquinarias. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Quando a história da Educação é a história da disciplina e da higienização das pessoas. In: FREITAS, Marcos Cezar. (Org.). História Social da Infância no Brasil. São Paulo: Cortez, 2003. CAVALHEIRO, Ésper. O Cérebro e a Neurociência: Programa produzido pela Univesp TV para o curso de extensão Ética Valores e Saúde na Escola, oferecido pela Universidade de São Paulo. 2011. Disponível em: <http://www. youtube.com/watch?v=h9AJbriNqSw&feature=related>. Acesso em: 27 out. 2012. FERREIRA, A. B. H. Dicionário Eletrônico Aurélio Século XXI. [CD-ROM] versão 3.0. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira e Lexikon Informática; 1999. KUHLMANN JÚNIOR, Moysés. Infância e Educação Infantil: Uma abordagem histórica. 2. ed. Porto Alegre: Mediação, 1998. 30 Teoria e prática da neuropsicopedagogia ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Declaração de Alma-Ata. 1978. PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense- Universitária, 1984. ______. Epistemologia Genética. São Paulo: Martins Fontes, 1990. PINTO, Alvaro Vieira. Sete Lições sobre Educação de Adultos. São Paulo: Cortez, 2000. ZUCOLOTO, Patrícia Carla Silva do Vale. O médico higienista na escola: as origens históricas da medicalização do fracasso escolar. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano, São Paulo, v. 1, n. 17, p.136-145, 1 fev. 2007. Semestral. CAPÍTULO 2 O Laudo e sua Contribuição para a Educação A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Discutir a importância legal do laudo. Compreender o laudo e construir a prática pedagógica a partir disso. Descrever o papel dos profi ssionais da educação em relação ao sujeito diagnosticado e o seu contexto social. 32 Teoria e prática da neuropsicopedagogia 33 O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃOCapítulo 2 ContextualiZação Caro(a) leitor(a), neste segundo capítulo, após discutirmos e nos conscientizarmos da importância de compreender a saúde e a educação como indissociáveis, apresentaremos a você a importância do laudo médico em seus aspectos legais e o apoio dos demais profi ssionais que podem auxiliar no processo de aprendizagem da criança quando for necessário. Pretendemos abrir uma discussão e uma refl exão crítica em torno da necessidade dos encaminhamentos e possíveis equívocos que podem surgir caso esse documento não seja interpretado adequadamente. Além disso,buscaremos problematizar algumas questões sobre o consumo de medicamentos no momento histórico em que vivemos. Sabe-se que a partir do laudo apresentado pelo médico ou profi ssional da saúde, é preciso construir uma prática pedagógica que possibilite interação e aprendizagem escolar do sujeito diagnosticado. Em virtude disso, perguntamo- nos: como poderemos pensar sobre isso? Como materializar essa prática? Como criaremos signifi cados em torno do que foi dito ou escrito a partir do diagnóstico, tanto para a vida escolar do(a) aluno(a) quanto para ele(a) como sujeito social? Essas refl exões tecerão este capítulo com o intuito de auxiliá-lo(a), caro(a) leitor(a), em sua caminhada de ensinante e aprendente em diferentes contextos diante da problemática apresentada. Aportes Legais do Laudo e sua Contribuição para a Prática PedagÓgica Transtornos, distúrbios, difi culdades de aprendizagem, “desajustes comportamentais”, sofrimentos alheios, enfi m, muitas vezes, encontramo-nos de mãos atadas diante da dimensão a enfrentar em torno das adversidades da profi ssão nos mais diferentes contextos a atuar. Certamente, ao pensar na profi ssão de professor, há que se compreender que o “ensino” e a “aprendizagem” são um processo, em determinados momentos, de difícil compreensão e apreensão, que não se restringe apenas a processos mentais e individuais, mas sociais e intersubjetivos. 34 Teoria e prática da neuropsicopedagogia Para auxiliar o trabalho docente, atualmente há pesquisas, leis e incentivo, auxílio e/ou apoio às crianças que apresentam algumas necessidades especiais ou defi ciência e que, de certa forma, necessitem de adequações em relação aos conteúdos, ao currículo proposto, às instalações locais e procedimentos atitudinais. Certamente o funcionamento disso, na prática, acontecerá com o apoio de políticas públicas locais. Porém vale ressaltar que tais processos são determinados em lei e que nós, professores, quando percebemos a necessidade de encaminhamento das crianças para o atendimento, precisamos buscar nos órgãos competentes o devido apoio. É muito importante, caro(a) leitor(a), conhecer os caminhos que asseguram o sujeito que está precisando de atendimento educacional especializado. Para isso, indicamos como leitura o portal do Governo Federal. Nele há inúmeras leis, decretos e normatizações relacionadas ao assunto. Vá em busca desse conhecimento acessando o link: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_ content&view=article&id=16761&Itemid=1123>. Sabe-se que a partir da Constituição Federal (1988), os direitos (e deveres) de todo e qualquer cidadão foram assegurados. Assim, temos leis específi cas em cada setor (Ministérios) para a efetivação desses direitos e deveres. Queremos, com isso, afi rmar que a Constituição seria o primeiro caminho para buscar a efetivação dos direitos (e deveres), principalmente para o atendimento médico do sujeito que necessite. No caso de este sujeito ser uma criança ou adolescente, se observarmos o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), instituído pela Lei no 8.069, nele consta, em seus direitos fundamentais, orientações de atendimento na área da saúde desde o nascimento, incluindo, se necessário, exames, laudos e/ou diagnósticos, conforme discutimos no capítulo primeiro de nosso caderno de estudos. O Estado e seus Municípios assegurarão o acesso a esses serviços e seu devido funcionamento. Muitas vezes, é a partir do momento em que a criança passa a frequentar Instituições de Educação que são detectados problemas na aprendizagem. Há momentos em que isso ocorre na Educação Infantil e outros apenas no Ensino Fundamental. É papel do professor(a) conversar e orientar os pais quando percebe difi culdades no desenvolvimento das atividades escolares, alterações no 35 O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃOCapítulo 2 comportamento da criança e, então, é dever da família buscar atendimento na área da saúde. Porém, é importante salientar que ao(à) professor(a) não cabe a tarefa de diagnosticar, defi nir ou nominar o problema que o(a) aluno(a) tenha. O(A) professor(a) apenas esclarecerá aos pais sobre a necessidade de a criança ser encaminhada para um profi ssional da saúde, geralmente um médico clínico geral e este reencaminha aos profi ssionais específi cos para tratar e acompanhar a criança em questão. O laudo médico é o documento necessário que assegura atendimento especializado para a criança que apresentar alguma defi ciência e explica em termos médicos o que a criança apresenta como consequência do “não aprender” ou das difi culdades enfrentadas no âmbito escolar, sejam estas de ordem cognitiva/ comportamental sejam de ordem social. É muito importante, conforme Montoya (1996) e Ramozzi-Chiarottino (1994), que criança tenha um diagnóstico precoce, para que, então, seja feita uma intervenção adequada conforme suas necessidades. A questão do laudo do diagnóstico é discutida amplamente num documento chamado: “Documento Subsidiário à Política da Inclusão”. É muito importante tomar conhecimento disso, caro(a) pós- graduando(a). É possível obter o documento na íntegra, acessando o link: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/docsubsidiariopoli ticadeinclusao.pdf>. Com o advento da Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996), Lei no 9.394/96, houve especifi cações sobre o atendimento à educação e suas diferentes faixas etárias, bem como o direcionamento a posteriores documentos, buscando assegurar à criança seu pleno desenvolvimento no âmbito educacional. Assim, a partir da LDB, foram discutidos e elaborados documentos norteadores para o atendimento educacional em escolas e demais Instituições de Educação. Um documento importante para seu conhecimento, caro(a) leitor(a), é o Decreto no 3.298 de 20 de dezembro de 1999. Parte dele, destinada à área da Saúde, descreve sobre os diagnósticos (BRASIL, 1999): Seção I Da Saúde Art. 16. Os órgãos e as entidades da Administração Pública Federal direta e indireta responsáveis pela saúde devem dispensar aos assuntos objeto deste Decreto tratamento prioritário e adequado, viabilizando, sem prejuízo de outras, as seguintes medidas: 36 Teoria e prática da neuropsicopedagogia I - a promoção de ações preventivas, como as referentes ao planejamento familiar, ao aconselhamento genético, ao acompanhamento da gravidez, do parto e do puerpério, à nutrição da mulher e da criança, à identifi cação e ao controle da gestante e do feto de alto risco, à imunização, às doenças do metabolismo e seu diagnóstico, ao encaminhamento precoce de outras doenças causadoras de defi ciência, e à detecção precoce das doenças crônico-degenerativas e a outras potencialmente incapacitantes; § 2º A defi ciência ou incapacidade deve ser diagnosticada e caracterizada por equipe multidisciplinar de saúde, para fi ns de concessão de benefícios e serviços. § 2º Para efeito do disposto neste artigo, toda pessoa que apresente redução funcional devidamente diagnosticada por equipe multiprofi ssional terá direito a benefi ciar-se dos processos de reabilitação necessários para corrigir ou modifi car seu estado físico, mental ou sensorial, quando este constitua obstáculo para sua integração educativa, laboral e social. Art. 20. É considerado parte integrante do processo de reabilitação o provimento de medicamentos que favoreçam a estabilidade clínica e funcional e auxiliem na limitação da incapacidade, na reeducação funcional e no controle das lesões que geram incapacidades. Art. 21. O tratamento e a orientação psicológica serão prestados durante as distintas fases do processo reabilitador, destinados a contribuir para que a pessoa portadora de defi ciência atinja o mais pleno desenvolvimento de sua personalidade. Parágrafo único. O tratamento e os apoios psicológicos serão simultâneos aos tratamentos funcionais e, em todos os casos, serão concedidos desde a comprovação da defi ciência ou do início de um processopatológico que possa originá-la. Art. 22. Durante a reabilitação, será propiciada, se necessária, assistência em saúde mental com a fi nalidade de permitir que a pessoa submetida a esta prestação desenvolva ao máximo suas capacidades. Art. 23. Será fomentada a realização de estudos epidemiológicos e clínicos, com periodicidade e abrangência adequadas, de modo a produzir informações sobre a ocorrência de defi ciências e incapacidades. Diante disso, vemos a importância do amparo da área da saúde, por meio de laudos médicos, para auxiliar na conquista do apoio necessário para o atendimento às crianças que apresentem não apenas as defi ciências comuns que encontramos nas escolas como: defi ciência visual, mental, física, paralisia § 2º A defi ciência ou incapacidade deve ser diagnosticada e caracterizada por equipe multidisciplinar de saúde, para fi ns de concessão de benefícios e serviços. § 2º Para efeito do disposto neste artigo, toda pessoa que apresente redução funcional devidamente diagnosticada por equipe multiprofi ssional terá direito a benefi ciar-se dos processos de reabilitação necessários para corrigir ou modifi car seu estado físico, mental ou sensorial, quando este constitua obstáculo para sua integração educativa, laboral e social. 37 O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃOCapítulo 2 cerebral, surdez, etc., mas, também, os transtornos globais do desenvolvimento como, por exemplo: transtornos do espectro autista, as psicoses infantis, a Síndrome de Asperger, a Síndrome de Kanner e a Síndrome de Rett, distúrbios e difi culdades que interferem no processo de aprendizagem e atingem muitas crianças em diferentes contextos. Sobre os Transtornos Globais do desenvolvimento, assim como sobre defi ciências, difi culdades e distúrbios de aprendizagem, convidamos você, caro(a) leitor(a), a visitar o site da Revista Nova Escola e ler um pouco sobre o assunto. A referida revista traz conteúdos didáticos, de fácil compreensão, e boas indicações de bibliografi as para aprofundamento do assunto. O link de acesso é: <http://revistaescola.abril.com.br/inclusao/educacao-especial/ transtornos-globais-desenvolvimento-tgd-624845.shtml>. É importante salientar que muitos problemas que acompanham as crianças e podem interferir ou difi cultar o seu desenvolvimento escolar não estão caracterizados como problemas de fato. Por exemplo, muitas vezes a forma como fala, a forma como expressa seus pensamentos por conta de expressões culturais e/ou regionais, o jeito como interage com os demais sujeitos, são vistos a partir de preconceitos que são estabelecidos e normalizados no local. Nesse caso, refl etimos fazendo uso do que foi disposto na Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994). Embora muitos acreditem que ela esteja direcionada à Educação Especial, destina-se à Educação para todos, afi rmando que compete aos governos atribuírem “[...] a mais alta prioridade política e fi nanceira ao aprimoramento de seus sistemas educacionais no sentido de se tornarem aptos a incluírem todas as crianças, independentemente de suas diferenças ou difi culdades individuais.” (UNESCO, 1994, item 2). Afi rma-se, ainda, que: • toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem, • toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas. (UNESCO, 1994, item 2). A Declaração de Salamanca foi um dos documentos que trouxe importantes refl exões em torno da Educação. Foi a partir dela que houve a reorganização e a reformulação de documentos, políticas e práticas voltadas ao atendimento 38 Teoria e prática da neuropsicopedagogia especializado às crianças nas escolas e que abarcassem não apenas às crianças com defi ciências, mas a todas as crianças considerando suas especifi cidades. Com a declaração de Salamanca reafi rma-se que a escola é o local em que há diversidade e que nenhuma criança é igual à outra. Que todos têm direito de aprender e aprendem em seu tempo. Neste documento é possível de se entender também que as crianças são mais importantes do que suas diferenças e limitações e não deve ser é isso um elemento gerador de impasses e impedimentos, mas acesso ao conhecimento e troca a partir da diversidade, respeito e alteridade mútuos. A partir desse entendimento, caro(a) leitor(a), e como forma de aprofundar seus conhecimentos em torno da discussão sobre as diferenças individuais, convidamos você a fazer a leitura de um trecho de um importante documento intitulado: Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2007). V – Alunos atendidos pela Educação Especial [...] Em 1994, a Declaração de Salamanca proclama que as escolas regulares com orientação inclusiva constituem os meios mais efi cazes de combater atitudes discriminatórias e que alunos com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, tendo como princípio orientador que “as escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras.” (BRASIL, 2006, p.330). O conceito de necessidades educacionais especiais, que passa a ser amplamente disseminado a partir dessa Declaração, ressalta a interação das características individuais dos alunos com o ambiente educacional e social. No entanto, mesmo com uma perspectiva conceitual que aponte para a organização de sistemas educacionais inclusivos, que garanta o acesso de todos os alunos e os apoios necessários para sua participação e aprendizagem, as políticas implementadas pelos sistemas de ensino não alcançaram esse objetivo. Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial passa a integrar a proposta pedagógica da escola regular, promovendo o atendimento às necessidades educacionais 39 O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃOCapítulo 2 especiais de alunos com defi ciência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Nestes casos e outros, que implicam em transtornos funcionais específi cos, a educação especial atua de forma articulada com o ensino comum, orientando para o atendimento às necessidades educacionais especiais desses alunos. A educação especial direciona suas ações para o atendimento às especifi cidades desses alunos no processo educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla na escola, orienta a organização de redes de apoio, a formação continuada, a identifi cação de recursos, serviços e o desenvolvimento de práticas colaborativas. Os estudos mais recentes no campo da educação especial enfatizam que as defi nições e uso de classifi cações devem ser contextualizados, não se esgotando na mera especifi cação ou categorização atribuída a um quadro de defi ciência, transtorno, distúrbio, síndrome ou aptidão. Considera-se que as pessoas se modifi cam continuamente, transformando o contexto no qual se inserem. Esse dinamismo exige uma atuação pedagógica voltada para alterar a situação de exclusão, reforçando a importância dos ambientes heterogêneos para a promoção da aprendizagem de todos os alunos. A partir dessa conceituação, considera-se pessoa com defi ciência aquela que tem impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental ou sensorial que, em interação com diversas barreiras, podem ter restringida sua participação plena e efetiva na escola e na sociedade. Os alunos com transtornos globais do desenvolvimento são aqueles que apresentam alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil. Alunos com altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual,acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de apresentar grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse. Fonte: Documento n° 555, de 5 de junho de 2007, prorrogada pela Portaria n° 948, de 09 de outubro de 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov. br/seesp/arquivos/txt/revinclusao5.txt>. Acesso em: 14 ago. 2012. 40 Teoria e prática da neuropsicopedagogia É importante salientar que o trabalho pedagógico de sala de aula requer, em vários momentos, adequações para o atendimento ao alunado. Não são as crianças que precisam se adequar à Escola, mas a Escola comprometer-se em atender a diversidade. Por essa razão, fala-se no termo “Inclusão” num sentido maior, pois: Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos os estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos através de um currículo apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recurso e parceria com as comunidades. Na verdade, deveria existir uma continuidade de serviços e apoio proporcional ao contínuo de necessidades especiais encontradas dentro da escola. (UNESCO,1994). Certamente nós, professores, não iremos atingir a todos os alunos a todo o momento em relação ao processo de aprendizagem, mas é nosso papel refl etir sobre o assunto e ter um entendimento de que as classes escolares são heterogêneas e, cada vez mais, faz-se necessário adequar-nos a sistemas de ensino que compreendam e exerçam sua função: construir o conhecimento a partir da diversidade, oferecendo, também, meios diversos de aprender de acordo com a demanda que se apresenta. Para acompanhar os professores frente à demanda existente diante dos problemas de aprendizagem dos alunos, vem a área da saúde atuar como auxiliar, buscando oferecer o diagnóstico e a terapêutica complementar independente do meio utilizado. Mas, precisamos refl etir novamente, conforme já questionado no início deste capítulo, sobre como construir uma prática pedagógica que possibilite interação e aprendizagem escolar desse sujeito diagnosticado. Como poderemos pensar sobre isso? Como materializar essa prática? Como criaremos signifi cados em torno do que foi dito ou escrito a partir do diagnóstico, tanto para a vida escolar do(a) aluno(a) quanto para ele(a) como sujeito? É importante salientar, conforme discutido anteriormente, que o diagnóstico médico ou de profi ssional da saúde assegura atendimento à criança que precise de apoio especializado por apresentar problemas específi cos na aprendizagem. Ele é necessário a partir de leis, esclarecedor em torno do que o sujeito apresenta e decisivo na busca de mais esclarecimentos sobre problemas específi cos que o sujeito apresentou. Sendo assim, ele possibilita a busca por aprofundamento na pesquisa sobre o assunto e na construção de caminhos pedagógicos que incluam e conduzam o sujeito no processo de aprendizagem. 41 O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃOCapítulo 2 Atividade de Estudos: 1) A partir dos questionamentos apresentados anteriormente, convidamos você, caro(a) leitor(a), a buscar, na secretaria de sua escola, um laudo médico de um(a) aluno(a). Faça a leitura dele e escreva nas linhas abaixo o que compreendeu desse laudo e como poderia ser possível o trabalho com esse sujeito no contexto da sala de aula. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Leitura e Produção de SigniFicados: o Laudo para o SuJeito e seu Contexto Educacional Até o momento, caro(a) pós-graduando(a), vimos discutindo sobre a importância do laudo para o trabalho pedagógico. Certamente, o laudo em si e isoladamente não resolverá nossos problemas em sala de aula, pois é a partir dele que será materializada a prática pedagógica de resgate desse sujeito em relação ao processo de ensino e aprendizagem. O laudo é importante e necessário para 42 Teoria e prática da neuropsicopedagogia conquistar o atendimento paralelo (por direito), para um segundo professor em sala de aula (quando necessário) e demais procedimentos técnicos que somente um médico poderá prescrever. Sobre o segundo professor e sobre o apoio legal que assegura atendimento diferenciado neste caso, convidamos você, caro(a) leitor(a), a aprofundar a leitura com a Resolução no 4 de 2 de outubro de 2009. O link de acesso é: <http://peei.mec.gov.br/arquivos/ Resol_4_2009_CNE_CEB.pdf>. Diante disso, é importante saber que, em alguns casos, esse sujeito diagnosticado já perpassou outras instituições. Muitas vezes, diante da própria “difi culdade, distúrbio ou transtorno” que tem, muitas frustrações o acompanham. Por vezes, há grande desmotivação dele e da família. O trabalho pedagógico pós- laudo, nesse caso, tem como eixo norteador uma espécie de reconfi guração do aprender. Para melhor compreender a questão, apresentamos a você, caro(a) leitor(a), o laudo de uma criança que frequentou, no ano de 2008, o 4º ano do ensino fundamental em escola pública no Estado de Santa Catarina. Este aluno frequentou a sala de aula em que eu, professora Cláudia, tive a oportunidade de atuar e aprender a construir a prática. Laudo NeurolÓgico: O menor João dos Santos, 9 anos, apresenta atraso no desenvolvimento neuropsicomotor com transtorno de défi cit de atenção/hiperatividade e transtorno opositor-desafi ador secundários. O mesmo precisa de estimulação global com postura familiar em todos os aspectos, elogiando e recompensando os pontos positivos, com limites claros e objetivos, tendo uma disciplina equilibrada nas situações em que João não as cumpre. A escola se possível deve ter intervenções específi cas como sempre ter a mesma arrumação de carteiras; colocar João perto do(a) professor(a), longe de crianças que o provoquem; começar com tarefas simples e gradualmente mudar para mais complexas; comunicar-se com os pais; favorecer oportunidades para 43 O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃOCapítulo 2 movimentos monitorados; recompensar os esforços e o comportamento bem sucedido. A escola e o(a) professor(a) não devem ser mártires e sim reconhecer seus limites e sua tolerância. Estou à disposição para maiores informações. Doutor Castilho Fernandes CRM 0101 Neuropediatria Observação: O laudo traz pseudônimos, mas o conteúdo é real. O aluno ao qual o laudo se refere passou a frequentar a sala de aula em que atuava a partir da metade do ano. Apresentava baixa tolerância a frustrações, frequentemente batia nos colegas, agredia a todos com palavras e gestos obscenos. Opunha-se a desenvolver os trabalhos apresentados, negava-se a construir sua aprendizagem. Mas, diante da negação, diante do caos, era preciso encontrar um caminho. João era um menino de apenas nove anos que precisava ser aceito, inserido no grupo e trabalhadas suas capacidades, investindo na construção do saber e do fazer. Além disso, precisava saber sobre o seu lugar e o lugar do outro. Entendendo até onde poderia ir e parar, ou seja, precisava aceitar os limites alheiose os seus. Essa reconstrução iniciou com muito diálogo. Foi a partir da palavra que começamos a construir o caminho: Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da relação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e os outros. (BAKHTIN, 2004, p. 113). Essa “ponte”, escrita por Bakhtin (2004), deu-se a partir de uma construção em grupo, pois era preciso muita compreensão deste para ser possível o trabalho. As constantes agressões e demais formas de expressão comportamentais precisavam ser compreendidas pelo grupo para, então, juntos – pois vivemos em sociedade – buscarmos um meio de convívio possível. O laudo não pode criar uma barreira de “pena”, “lamento” ou “exclusão”. Era preciso construir um signifi cado. Estar diagnosticado para nós, naquele momento, apresentava partes ditas pelo médico do “estado” do João, naquela circunstância. Havia elementos que o limitavam, precisávamos descobrir quais eram e ele também precisava 44 Teoria e prática da neuropsicopedagogia entender isso, para tentar controlar-se diante dessas situações. Isso signifi cou para todos a transposição de obstáculos. A partir de conversas coletivas, representações escritas e desenhadas daquilo que cada um do grupo mais se interessava em fazer, conseguimos elaborar uma proposta de projeto. Trabalhamos um projeto sobre cobras e, com muito empenho e compreensão, o grupo, eu e o Henrique produzimos conhecimento. Esse processo não foi fácil, requereu, acima de tudo, muita paciência, sensibilidade, aceitação e regras. Constantemente precisávamos retomar conversas e “combinados” para resolver confl itos. Mas, como sabíamos das razões deles por ter anteriormente já delimitado e deixado tudo claro, era possível continuar caminhando. O primeiro passo para construir a prática pós-laudo é apresentar ao grupo o que ocorre, explicar de forma simples. Deixar claro os limites de cada um, sem comparações entre si. Pois as notas e os conceitos embora sejam os mesmos não são iguais. Cada um a partir da sua história entenderá isso individualmente. O fazer pedagógico é possível em cada contexto com os sujeitos que dele fazem parte. Quando obtivemos esse laudo, não tínhamos ideia do que poderia ser desenvolvido. Tínhamos conhecimento científi co do que isso signifi cava, mas somente isso. Nenhuma prática é construída a partir de receitas. O que é possível de ser feito vem a partir do diálogo com outros professores, com a família e com outros profi ssionais para traçar objetivos, mobilizando pessoas e caminhando. O que não pode acontecer é usar o laudo como limitador de aprendizagens, deixando o(a) aluno(a) no fundo da sala para não “incomodar” e criar uma atmosfera de “piedade”. Por mais limitador que possa parecer um laudo, mesmo assim é possível aprender e conviver. Nosso cérebro tem a chamada “plasticidade”, que é a capacidade de reorganizar-se diante de possíveis limitações. Além disso, dependendo de como conduzirmos as situações, poderemos limitar mais ou possibilitar mais situações de aprendizagem. Sobre a plasticidade cerebral, é importante aprofundar a leitura. Há um artigo, publicado pelo jornal da Universidade do Estado de Campinas (UNICAMP), que elucida o assunto. O link de acesso é: <http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/jornal PDF/ ju371pag04.pdf>. 45 O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃOCapítulo 2 Acreditar no outro seria a palavra de ordem. Depositar tempo neste outro também. Além de possibilitar a “palavra” ao outro, também é preciso permitir-se ouvir. Ouvir o outro e ouvir-se. Para aprender a falar necessitamos ser escutados, para aprender a olhar, necessitamos ser olhados. A capacidade atencional se constrói nessa continuidade e descontinuidade, que abre um espaço entre: espaço atencional. Está aqui o valor do silêncio que nada tem a ver com silenciar-se, mas, muito com escutar e escutar-se. (FERNÁNDEZ, 2012, p. 43.) Figura 2 - Representação através de desenho: Tempo de falar e tempo de ouvir. Momentos especiais construídos em sala durante aquele semestre letivo Fonte: Aluna Carolina de Souza. A construção da prática, parafraseando Alicia Fernández (2012), existirá e se constituirá num espaço e momento únicos, pois lidamos com histórias de vida e circunstâncias próprias de cada local. Esse seria então um ponto importante para transformação e materialização da prática. Não importa o currículo e a quantidade de “saberes” que ele prevê, importa é como será feito para acontecer o processo do “aprender” para todos os alunos e suas diferenças, contemplando o currículo. Para essa experiência, em específi co, sempre mantivemos diálogo sobre os saberes adquiridos, sobre nossas vidas. Num desses momentos, registramos as respostas dos alunos. E o aluno João, quando relatou sobre os seus saberes e sua vida, após o convívio de cinco meses na turma do quarto ano de nossa escola, disse o seguinte: Na escrita do João, fi ca evidente o quanto para ele foi importante aprender “coisas” na sala de aula. Quando ele diz: “aprendi a ser mais inteligente, mais 46 Teoria e prática da neuropsicopedagogia cabeça e mais honesto”, faz-nos acreditar que o trabalho desenvolvido na sala de aula fez a diferença, principalmente para ele na condição de sujeito, como autor de sua história. A sala de aula possibilitou o espaço de autoria, mas foi ele que se tornou autor da mudança da própria história. Como afi rma Fernández (2012, p. 13), “[...] os espaços de autoria iniciam onde há o reconhecimento daquilo que se é e do que se tem sido e construído ao longo da existência.” Acreditar no outro, acreditar que é possível o trabalho pedagógico a partir do laudo médico, como escreveu Alicia Fernández (2012), não tem nenhuma relação com crenças ou ingenuidade. Enquanto acreditamos no outro, permitimos a ele a construção do próprio espaço, da própria história e de sua modifi cação. Atividade de Estudos: 1) A partir dessas refl exões, caro(a) leitor(a), convidamos você a escrever sobre aquilo de que se lembra da sala de aula de algum ano do ensino fundamental, na qual você conviveu com outras crianças que não “aprendiam” ou que apresentavam comportamentos diferentes. Como se dava a aprendizagem neste grupo? O que era feito com essas crianças? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 47 O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃOCapítulo 2 Deixamos como sugestão de leitura para você, caro(a) pós- graduando(a), o livro: “O menino do dedo verde”, de Maurice Druon. Ele pode ser lido dia a dia na sala de aula para os alunos pensarem sobre as diferenças que existem entre as pessoas. Além de estimular o hábito de ler você instiga a refl exão do assunto no grupo. O livro fala de um menino, o Tistu, muito feliz e criado com muito cuidado e atenção pelos pais, que eram donos da maior fábrica de canhões do mundo.
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