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TEORIA E PRÁTICA DA NEUROPSICOPEDAGOGIA - Uniasselvi

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Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
TEORIA E PRÁTICA DA 
NEUROPSICOPEDAGOGIA
Autora: Cláudia Regina Pinto Michelli
 
616.89
M623t Michelli, Cláudia Regina Pinto
 Teoria e prática da neuropsicopedagogia /
 Cláudia Regina Pinto Michelli. Indaial : Uniasselvi, 2012.
 98 p. : il 
 Inclui bibliografia. 
 ISBN 978-85-7830- 602-1
 1. Neuropsicopedagogia.
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller
 Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
 Profa. Jociane Stolf
Revisão de Conteúdo: Profª. Cristiane Lisandra Danna
Revisão Gramatical: Profª. Iara de Oliveira
Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci
Copyright © Editora UNIASSELVI 2012
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Professora Cláudia R. P. Michelli, Licenciada em 
Normal Superior Séries Iniciais do Ensino Fundamental 
pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSEL-
VI). Especialista em Psicopedagogia pelo Instituto Catari-
nense de Pós-Graduação (ICPG). Atuou durante cinco anos 
em atendimentos com crianças com difi culdades na aprendi-
zagem. É Mestre em Educação pela Universidade Regional 
de Blumenau (FURB). Atua em prática escolar desde 1996. 
É tutora da UNIASSELVI-POS, responsável pelos cursos de 
Psicopedagogia e Neuropsicopedagogia e áreas fi ns de 
cursos voltados à educação. Tem como campo de investi-
gação e discussão acadêmica a história de vida do alu-
no, a prática pedadagógica e o contexto escolar como 
apoio necessário para entendimento dos processos de 
aprendizagem e não aprendizagem do sujeito.
Cláudia Regina Pinto Michelli
Sumário
APRESENTAÇÃO ......................................................................7
CAPÍTULO 1
Diálogo entre Educação e Saúde ....................................... 9
CAPÍTULO 2
O Laudo e sua Contribuição para a Educação ................ 31
CAPÍTULO 3
Os Encaminhamentos ........................................................... 57
CAPÍTULO 4
Implicações dos Laudos para o Contexto Educacional . 77
APRESENTAÇÃO
Caro(a) pós-graduando(a):
Observe a imagem do Pequeno 
Príncipe de Exupéry. Ele rega sua 
rosa e cuida dela com carinho e 
atenção. A água para a rosa é 
necessária, pois precisa para se 
manter viva. Porém, o que assegura 
sua vida é o investimento do Pequeno 
Príncipe em querer estar ao seu lado, 
acompanhando seu desenvolvimento.
As crianças com quem lidamos 
diariamente não são rosas, mas 
precisam de investimento. O que seria essencial para elas? Você já se perguntou 
sobre isso? Veja como é importante saber sobre ela e sobre o contexto em que 
vive!
A cada dia, mais e mais crianças são diagnosticadas com algum tipo de 
distúrbio, transtorno ou dificuldade de aprendizagem. Mas, o que será que elas 
querem dizer com isso? Você já se perguntou? Por que elas não aprendem? O 
que é aprender para cada uma delas?
Qual o significado do laudo médico que estará dizendo sobre a não 
aprendizagem da criança que convive no contexto escolar do qual você faz parte? 
Como significar esse documento neste contexto?
Acreditamos que muitas respostas para a não aprendizagem de nossas 
crianças podem ser respondidas a partir do entendimento de sua história e em 
conjunto com a prática metodológica adequada para cada situação específica.
Neste caderno de estudos, você terá acesso a uma discussão que 
tem como eixo norteador a consideração da criança como sujeito social 
ativo e participativo no contexto escolar. A partir das neurociências e do 
entendimento do sujeito biológico, buscamos encontrar esse sujeito social, 
as raízes de seu processo de aprendizagem ou não aprendizagem escolar. 
A neuropsicopedagogia tecerá esse entendimento em consonância com os 
discursos de profissionais da saúde e da educação. 
Assim, o presente caderno de estudos está dividido em quatro capítulos: 
no primeiro buscamos um diálogo entre a saúde e a educação e uma breve 
construção histórica em torno do entendimento dessa relação.
No segundo capítulo, trataremos de discutir sobre a importância do laudo, 
do diagnóstico médico em torno desse sujeito que supostamente não aprende na 
escola ou que está apresentando dificuldades no processo de aprender.
O capítulo subsequente discute a prática pedagógica pós laudo, ou seja, 
após o diagnóstico do profissional da saúde é preciso pensar numa forma de 
intervir na aprendizagem desse sujeito. Assim, você compreenderá que o laudo é 
o alicerce, mas que a prática é o caminho.
No último capítulo, faremos uma análise da demanda por laudos e sobre o 
papel da família e da escola frente as questões elencadas e discutir a prática 
pedagógica pós-laudo.
Bons estudos!
A autora. 
CAPÍTULO 1
Diálogo entre Educação e Saúde
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
  Apresentar a correlação entre a saúde e a educação. 
  Conhecer os aspectos da neurologia relacionados ao processo de 
aprendizagem do sujeito. 
  Compreender a importância das especializações da medicina como uma 
ferramenta de auxílio para o professor na sala de aula.
10
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
11
DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1
ContextualiZação
Caro(a) leitor(a), neste primeiro capítulo, pretendemos desenvolver uma 
compreensão entre a indissociabilidade da educação e da saúde, pois não há 
como separarmos essas áreas. Precisamos entender o processo educativo e a 
promoção da saúde como o fi o condutor da prática neuropsicopedagógica.
Para compreender sobre a crescente demanda de problemas que afetam as 
crianças em sala de aula e sua aprendizagem, necessitamos manter uma postura 
vigilante em torno daquilo que, neste momento histórico em que vivemos, remete-
nos a refl exões urgentes: as crianças, as difi culdades, transtornos e distúrbios de 
aprendizagem, bem como as altas habilidades.
A saúde e a educação caminham lado a lado no sentido de promover, prevenir 
e participar da vida social/coletiva e individual dos sujeitos. E é neste contexto que 
há de se compreender a caminhada desses dois termos e a necessidade da sua 
inter-relação. 
A Indissociabilidade entre Educação 
e Saúde
Prezado(a) leitor(a), para iniciarmos a discussão em torno da 
indissociabilidade entre os termos educação e saúde, precisamos, inicialmente, 
compreender a defi nição de ambos.
Podemos iniciar essa refl exão a partir do conceito de saúde apresentado pela 
Organização Mundial de Saúde, publicado a partir da Conferência Internacional 
sobre Cuidados Primários de Saúde (1978) o qual defi ne o termo como o “estado 
de completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência 
de doença ou enfermidade.” (DECLARAÇÃO DE ALMA-ATA, 1978). Porém, 
necessitamos pensar a saúde, esclarecendo que a questão do “bem-estar” precisa 
ser pensada dentro da legitimação das crenças, valores e subjetividade, além 
da imersão na cultura em que o sujeito está inserido. O ritmo, estilo de vida e 
demais situações ou fatores se agregam à compreensão de seu signifi cado.
É muito importante que o(a) professor(a) ou profi ssional que 
atua com crianças, adolescentes e adultos, conheça o contexto em 
que estará atuando).
12
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
A educação também aqui precisa ser defi nida. e então, partimos da ideia 
de Alvaro Vieira Pinto (2000), argumentando ser a educação um processo, um 
fato existencial e social e um fenômeno cultural. Além disso, relaciona-se com a 
economia e a antropologia de uma sociedade. Está sempre dirigida para algo, é 
um processoexponencial, precisa de movimento. É inacabado e, por essa razão, 
tem potencial criador. Envoltos nisso, precisamos entendê-la também como 
contraditória, pois é dessa forma que se recria, retoma, inova.
A saúde e a educação refl etem-se no âmbito educacional num movimento 
histórico. Não pretendemos apresentar aqui uma sequenciação de datas e 
períodos. Entendemos a história de forma não linear, num revisitamento entre 
diferentes, complexos e contraditórios períodos vividos em nosso país.
Visite o site da Organização Mundial de Saúde e acesse a 
biblioteca. Lá você encontrará muitas informações sobre esse 
assunto, inclusive às modifi cações históricas que foram ocorrendo 
e legislações. Site: <http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/
area/11/biblioteca.html>.
Quando falamos em saúde e em educação, certamente direcionamo-nos 
a alguém. Nesse caso, a atenção à infância. E para melhor compreendê-la 
precisamos signifi cá-la:
Os signifi cados atribuídos à infância são o resultado de um 
processo de construção social, dependem de um conjunto de 
possibilidades que se conjugam em determinado momento 
da história, são organizados socialmente e sustentados 
por discursos nem sempre homogêneos e em perene 
transformação. Tais signifi cados não resultam, como querem 
alguns, de um processo de evolução, nem estão acima e à 
parte de divisões sociais, sexuais, raciais, étnicas... São 
modelados no interior de relações de poder e representam 
interesses manifestos da Igreja, do Estado, da Sociedade 
Civil... Implicam intervenções da fi lantropia, da religião, da 
medicina, da psicologia, do serviço social, das famílias, da 
pedagogia, da mídia... Contudo, esses signifi cados não são 
estáveis, nem únicos e as linguagens que usamos, ao mudar 
constantemente, são indicativos da fl uidez e da mutabilidade a 
que estão sujeitos. (BUJES, 2003, p. 24-25).
Em diferentes momentos da história, houve, também, diferentes 
preocupações em torno da infância, da criança e de sua educação. Certamente, 
caro(a) leitor(a), você já tenha ouvido falar em Philippe Ariès (1981), que tornou-
se pioneiro em discutir a história social da criança e da família. Este autor é uma 
13
DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1
referência na discussão por construir uma compreensão da infância como um 
acontecimento caracteristicamente moderno. Ele fala de como vai sendo tecida a 
compreensão da infância e defi ne isso como o sentimento da infância. Nesse caso, 
o “[...] sentimento da infância não signifi ca o mesmo que afeição pelas crianças: 
corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que 
distingue essencialmente a criança do adulto.” (ARIÈS, 1981, p. 99).
Talvez você esteja se perguntando sobre a relação entre a saúde, a educação 
e a história da infância e da criança. Saiba que é a partir disso que conseguiremos 
tecer entendimentos em torno da saúde e da educação.
Fazendo um recorte histórico, podemos afi rmar, por meio de Kuhlmann 
Jr. (1998), que, a partir do fi nal do século XVIII, com a infl uência do médico-
higienismo, houve uma preocupação com questões de saúde e educação. O 
médico-higienismo, por exemplo, foi um movimento que ocorreu tendo em vista 
a eliminação de doenças na população. Esse trabalho era desenvolvido por 
médicos que também visitavam escolas com esse intuito defi nido.
Nessa época, iniciavam-se estudos em torno de doenças e micro-organismos. 
Porém, assuntos como a prevenção de doenças e resultados em torno de 
descobertas, tornaram-se mais frequentes a partir de Louis Pasteur (século XIX) e 
demais cientistas, os quais preocuparam-se com o campo da epidemiologia e, como 
consequência, atribuíram à medicina e à higiene uma autoridade incontestável. 
Com base nesses estudos e nas crescentes descobertas em torno de doenças e 
prevenção, os médicos e a medicina foram ganhando espaço e um papel importante, 
senão decisivo nas discussões em torno da criança.
Louis Pasteur era francês. Desenvolveu vacinas importantes e 
pesquisas na área da saúde pública. Consolidou estudos em torno 
da fermentação láctea e até hoje se usa o termo “pasteurização”, 
provindo de seu nome Pasteur. Mais informações podem ser obtidas 
no site: <http://www.pasteur.saude.sp.gov.br/historia_02.htm>.
 
A partir do século XX, muitas modifi cações ocorreram no campo da 
medicina e refl etiram-se no campo da educação. Essas modifi cações 
poderão ser acompanhadas de forma mais dinâmica se você 
assistir, através do link abaixo, um fi lme clássico chamado: “Políticas 
de Saúde no Brasil”. (http://www.youtube.com/watch?v=cSwIL_
JW8X8&feature=endscreen&NR=1).
14
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
Figura 1 – Documentário Políticas de Saúde no Brasil
Fonte: Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br>. Acesso em: 02 out. 2012.
Sinopse: 
TAPAJÓS, Renato. Política de Saúde no Brasil. São Paulo: 
Tapiri Cinematográfi ca, 2006.
Renato Tapajós é considerado um dos maiores nomes do 
cinema político do país. No documentário Política de Saúde no 
Brasil, ele coloca recortes históricos e socioeconômicos de todo o 
século XX. Tapajós disse em entrevista: “Procuro intercalar diálogos 
e representações: um passo além do simples depoimento”. 
No início do longa-metragem, percebe-se um entusiasmo do 
povo em relação ao ano novo de 1900: Mostrando um contingente 
de pessoas em festa conotando a esperança de um ano próspero 
e feliz. Há muito regozijo e clima de folia. Paradoxalmente, em tom 
jornalístico, surge a fi gura de um menino que traz sempre novas 
notícias de epidemias ou doenças, as quais acabam de acometer o 
Brasil – em especial nas grandes capitais- como a febre amarela, 
cólera, varíola e malária. 
Em algumas cenas, aborda os operários trabalhando 
em condições insalubres nas fábricas onde são explorados e 
maltratados. Nesse contexto, é revelado que até o início do século 
15
DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1
XX a população pobre só dispunha de atendimento fi lantrópico, nos 
hospitais de caridade mantidos pelas igrejas. 
Pelo descaso com a saúde no Brasil e muitas epidemias a 
assolá-lo, as notícias se espalhavam e estrangeiros ou visitantes 
não mais queriam entrar no país. Assim, são tomadas, pelo governo, 
algumas medidas sanitárias de saúde, com o intuito de melhorar a 
visão do Brasil no exterior. 
O médico sanitarista Osvaldo Cruz recorreu a técnicas 
para eliminar o mosquito transmissor da febre amarela, doença 
em alta, utilizando a dedetização dos lugares mais propícios ao 
desenvolvimento do mosquito. No ano de 1904, é decretada a vacina 
obrigatória das massas populares para combater a febre amarela. 
Mais tarde, o médico Emilio Ribas reside com doentes de febre 
amarela com o objetivo de provar que a doença não é transmitida 
pelo contato e convívio humano e, por meio de seu sistema de 
saneamento básico diminui as epidemias no porto da cidade de 
Santos. 
No ano de 1917, ano da Revolução Russa, começa a 
haver greves dos operários, motivados pelas ideologias marxistas 
e anarquistas. No próximo ano, existe uma forte gripe espanhola 
no Brasil, que mata milhares de cidadãos. Na década de 1920, 
os grevistas fazem acordos com os seus patrões voltam para as 
indústrias, a sua revolta foi tão extrema que dominaram a cidade, 
fazendo com que o governador abandonasse o estado de São Paulo. 
A partir disso é criada a lei que regulariza a aposentadoria, no ano 
de 1923: o trabalhador teria que contribuir durante 30 anos e depois 
poderia usufruir de uma aposentadoria e assistência médica.
Quase no fi nal das décadas de 20 e começo da de 30, a Coluna 
Prestes percorreu o interior do Brasil e queria implantar uma série de 
reformas, segundo as ideias positivistas vigente na época. A Coluna 
não tem sucesso, desfaz-se e Getúlio toma posse da presidência, 
assumindo uma política que parecia favorecer os pobres e menos 
favorecidos. É considerado pelo povo o “Pai dos pobres”. Getúlio cria 
os IAPs, um tipo de assistência médica. Em 1935, é desenvolvidoo sistema de saúde chamado de SESP, fi nanciado pelos Estados 
Unidos, que tinha interesse na borracha presente na Amazônia. 
Dessa maneira, a assistência médica poderia chegar a diversos 
lugares carentes e isolados do Brasil, nessa região. 
16
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
A saúde pública foi sucateada durante mais de 50 anos e essa 
intensifi cada na Ditadura Militar. Movimentos populares levam à 
criação do SUS- Sistema Único de Saúde- e sua implantação na 
década de 80, o qual, apesar de sua mazela e inefi ciência devido 
à falta de estrutura e investimento, segundo o IBGE, atende quase 
100% da população Brasileira. Os movimentos sociais ainda esperam 
que haja uma humanização maior e maior atenção e demanda de 
recursos fi nanceiros para melhorar o seu atendimento.
Fonte: Disponível em: <http://pt.scribd.com>. 
Acesso em: 02 out. 2012.
Caro(a) leitor(a), foi precisamente a partir de 1920 que se fi rmou a convicção 
“[...] de que medidas de política sanitária seriam inefi cazes se não abrangessem 
a introjeção, nos sujeitos sociais, de hábitos higiênicos, por meio da educação”. 
(CARVALHO, 2003, p. 305). Além disso, o mesmo autor afi rma que foi a partir da 
compreensão de agentes políticos da época (a partir de 1920) sobre os problemas 
de saúde pública (certamente havia interesses políticos), que se apresentavam 
de forma crescente, que se pôde pensar na reforma dos serviços públicos, da 
participação política. A modernização do país aconteceria dessa forma. Por essa 
razão, a saúde e a educação se confi guravam como questões indissociáveis. Há 
de se considerar a saúde e a educação nesta relação, pois uma promove a outra.
A busca por atendimento à saúde não foi algo conquistado de forma fácil 
e ainda não é. Todos nós temos essa consciência. Mas, foi a partir de muitos 
movimentos, interesses e investimentos políticos que a história em torno da saúde 
foi sendo tecida em nosso país, assim como a associação dela com a educação.
Para melhor elucidar esses movimentos, caro(a) leitor(a), faremos um recorte 
histórico nos preocupando apenas com o movimento entre saúde e educação ou 
os primeiros indícios dessa relação. Ressaltamos que esse movimento certamente 
teria relação com outros acontecimentos históricos, pois não há como fazer 
história numa linearidade e sucessão de datas apenas. Mas, por uma questão 
didática e para especifi car a questão saúde e educação, trataremos agora de 
utilizar um resumo de um trabalho de Patrícia Carla Silva do Vale Zucoloto (2007), 
intitulado: “O Médico Higienista na Escola: As origens históricas da medicalização 
do fracasso escolar”. O referido trabalho é parte da sua dissertação de mestrado 
em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano do Instituto de Psicologia 
da Universidade de São Paulo e consta na íntegra no link: <www.revistasusp.sibi.
usp.br/pdf/rbcdh/v17n1/13.pdf>.
17
DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1
A presente linha do tempo é um recorte histórico trazendo 
proximidades nas datas e refere-se às primeiras interferências do 
Estado Brasileiro em torno da relação entre saúde e educação:
1850 – A partir dessa data houve grande busca pelo controle de 
epidemias no Rio de Janeiro.
1860 – Movimento médico-higienista começa a tomar força nas 
escolas como forma de controle e fi scalização da saúde das crianças.
1865 – Estudos, pesquisas e teses começaram a ser feitas 
por médicos numa área denominada “higiene escolar”. Os estudos 
fi cavam concentrados na Faculdade de Medicina da Bahia e na 
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Tanto os estudos como 
as pesquisas e teses tinham como objetivo discutir: higiene pública 
escolar; o papel do médico na escola; prescrições higiênicas quanto à 
escola; prescrições higiênicas quanto ao local construído; concepção 
de educação e trabalho pedagógico.
1870/1880 – A questão da higiene pública é entendida e defi nida 
com olhar de prevenção de doenças.
1890 – Por volta dessa década, começa-se a pensar numa 
higiene escolar com o intuito de elevar a nação brasileira. Entendendo 
que era preciso zelar pelas crianças e jovens, pois são o futuro de 
nosso país e a força propulsora para o progresso da nação.
1900 – A importância da higiene escolar era vista como forma de 
possibilitar a renovação do caráter, o combate a vícios, transformar 
os interesses individuais em coletivos, incutir deveres para com o 
trabalho e a nação.
1910 – É criado o serviço de Inspeção Médica Escolar da Cidade 
do Rio de Janeiro, sob direção de Morcovo Filho, médico do Instituto 
de Proteção e Assistência a Infância do Rio de Janeiro.
1920/ 1930- Médicos marcam presença nas escolas públicas e 
começam a desenvolver a formação dos profi ssionais da educação. 
Na Bahia, criam-se centros e clínicas de higiene mental escolar.
1939 – É produzido e lançado o primeiro livro sobre problemas 
na aprendizagem escolar, com o título: “A criança problema”, sob 
18
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
autoria de Arthur Ramos, que tinha como formação de base a 
medicina e a antropologia.
1940/ 1950- A partir desse período, disseminaram-se, cada vez 
com mais força, pesquisas, trabalhos e investimentos de pessoas em 
torno da problemática saúde e educação. Havia um olhar em torno 
da indisciplina na escola e do mau comportamento do(a) aluno(a). 
Era entendido esse problema como algo próprio do sujeito (biológico) 
e visto como uma anomalia. Houve, então, uma crescente busca pela 
compreensão desse problema.
1940/1950 – Ainda durante esse período e se estendendo até 
o fi nal da década de 60, muitos trabalhos foram publicados tendo 
como objetivo central: o ensino e a educação dos anormais e débeis 
mentais (na época era assim designado aquele que fugia dos padrões 
de normalidade estipulados no contexto); problemas de adaptação 
e desajuste social; problemas de má conduta e desvio de caráter; 
problemas de desajustes no ambiente escolar; desajustamentos de 
condutas infantis.
1970/1980 - Importante ressaltar que em torno dessas décadas 
houve programas de vacinação das crianças na escola. Atualmente, 
ainda são feitas campanhas de vacinação e divulgadas em meios de 
comunicação para imunizar as pessoas e evitar epidemias. 
A questão do acompanhamento médico em nosso país varia entre 
localidades e atualmente cada uma delas têm suas políticas de funcionamento, 
sempre seguindo as normas e legislações do Ministério da Saúde e demais leis 
que protegem o cidadão. Inclusive, em determinados locais, há acompanhamento 
médico das crianças na escola, sendo feitas triagens com o intuito de buscar 
possíveis problemas que possam ser trabalhados precocemente e, dessa forma, 
proporcionar uma vida mais saudável para essa criança ou, ao menos, oferecer-
lhe tratamento de saúde caso necessite, promovendo, então, qualidade de vida.
Oferecer tratamentos ou, até mesmo, desenvolver campanhas de prevenção de 
doenças sabemos que não é o único meio de promover a saúde. Essa promoção 
é algo que se conquista com o conhecimento, com esclarecimentos em torno 
das situações da vida. E a escola é o palco por excelência onde o saber 
institucionalizado se dá. Estar informado, conversar sobre o assunto, buscar 
conhecimento, questionar, tudo isso faz parte do campo de atuação educacional, 
pois a educação é uma forma de emancipação humana.
19
DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1
Atividade de Estudos: 
1) Caro(a) leitor(a), com esse primeiro item discutido e como forma 
de exercitar a memória dentro dessa construção histórica da 
saúde e da educação, tente conversar com pessoas de diferentes 
faixas etárias sobre a saúde, a vacinação, visita de médicos e 
campanhas dentro do espaço escolar. Veja o que as pessoas têm 
a dizer e faça suas anotações:
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A Inter-Relação entre NeurociÊncia 
e Psicopedagogia: Interpretando o 
SuJeito Aprendente
Quando pensamos sobre o sujeito em seu processo de aprendizagem ou 
sobre a forma como ele aprende ou não aprende, partimos da ideia de que há 
eixos que sustentam a forma como as pessoas constroem a aprendizagem em 
suas vidas. Poderíamos defi nir tais eixos como: biológico e social. Certamente 
eles têm uma carga afetiva, cognitiva e psicológica que assegura e confi gura 
cada pessoa, pois somos construídos pelas experiências que tivemos ao longo de 
nossas vidas.
Sabe-se que mantemos uma carga genética quando nascemos. Chegamos ao 
mundo com bases inscritas a partir daqueles que são nossos pais. Mantemos 
20
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
uma espécie de “estrutura” a partir do DNA. Essa herança é o que resguarda e 
fi siologicamente nos faz únicos. Contudo, podemos afi rmar que o sujeito não pode 
ser defi nido apenas nesse sentido. Precisamos pensar nessa base biológica para 
ser possível todo o restante do nosso desenvolvimento. Ou seja, é necessário ter 
pré-condições para desenvolver-se. Nessa direção, o cultural não está dissociado 
do biológico e pensar sobre o é possível.
O cérebro humano é o ponto de partida dessa discussão. Não nos limitaremos 
a discorrer acerca de sinapses, nem sobre partes específi cas de cada região do 
cérebro. Nossa discussão partirá da neurociência como suporte para compreender 
os processos de aprendizagem do sujeito e fazer disso o embasamento da prática 
psicopedagógica.
Para aprofundar conhecimentos sobre as partes específi cas 
do cérebro e a sua relação com a aprendizagem, sugerimos ler 
o livro: O cérebro e o corpo no aprendizado, escrito por Malcon 
Anderson Tafner e Julianne Fischer e publicado pela editora da 
Uniasselvi no ano de 2004.
Mas, a neurociência, o que seria esse termo? 
Segundo Ésper Cavalheiro (2011), pesquisador da Universidade Federal 
de São Paulo e um dos mais importantes neurocientistas do Brasil, o termo 
neurociência é relativamente recente. Esse termo tentou abarcar todas as divisões 
das pessoas que estudam o sistema nervoso. A neurociência é um ramo da 
biologia. É a biologia interessada na compreensão da função cerebral. A partir da 
neurociência foi possível, com aparelhos específi cos, capturar imagens do cérebro 
em atividade e compreendê-lo em seu funcionamento. Através da neurociência, 
é possível entender as razões fi siológicas relacionadas ao sujeito e possíveis 
lesões que causam ou podem causar problemas no seu desenvolvimento e na 
aprendizagem. É através da neurociência que poderemos compreender como 
se dá o processo de aprendizagem para qualquer pessoa e, então, através 
da contextualização, compreender como o sujeito específi co aprende. Pois a 
estrutura cerebral entre os sujeitos pode ser semelhante, mas os caminhos para a 
aprendizagem consolidar-se é construído de forma singular.
21
DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1
Relacionado a esse assunto e para aprofundar os conhecimentos, 
sugerimos que ouça pesquisadores da área e também o professor 
Ésper Cavalheiro, da Universidade de São Paulo. Convidamos 
você, caro(a) leitor(a), a assistir a um vídeo sobre o cérebro e a 
neurociência que apresenta, com imagens e uma discussão bastante 
didática, esclarecimentos em torno dessa questão. Acesse o link: 
<http://www.youtube.com/watch?v=h9AJbriNqSw&feature=related>.
Jean Piaget (1990) foi um dos pioneiros a discutir sobre a base biológica 
da aprendizagem do sujeito. Para pensarmos sobre essa questão, precisamos 
entender que nosso cérebro se desenvolve a partir da organização, reorganização e 
estabilização (Piaget usava os termos: assimilação, acomodação e equilibração) do 
conhecimento, considerando as experiências vividas. 
Nesse caso, para o autor, a assimilação refere-se a um novo conhecimento 
adquirido, um conhecimento que se consolida através do entendimento da pessoa 
(subjetivo). A acomodação relaciona-se ao assentamento das experiências que já 
vivemos e entendemos e que, por meio da assimilação estão estruturadas, mas 
que, à medida que vivemos outras experiências, acabamos reestruturando-as 
constantemente. Já a equilibração funciona como um mecanismo autorregulador. 
(PIAGET, 1984). Por exemplo, digamos que uma criança está vivendo uma 
determinada experiência (completamente nova ou já vivida noutro momento). 
Através disso, tenta entender (assimilar) o estímulo que está recebendo. Feito 
isso, ela acomoda o novo conhecimento e permanece num estado de equilibração 
dessa experiência. Assim, organiza suas ideias em torno da situação, mantém-se 
em equilíbrio. Importante lembrar que para haver aprendizagem é preciso haver 
“desequilíbrio”, pois o que faz com que o sujeito aprenda (assimile) é justamente 
a busca pelo entendimento através da experiência. Se não houver busca por 
entendimento não há como organizar o conhecimento. 
Essa questão do conhecimento independe de a criança ou o sujeito ter 
alguma difi culdade, transtorno ou distúrbio na aprendizagem ou, até mesmo, 
alguma defi ciência, pois, antes de qualquer “problema” que se possa apresentar, 
todo e qualquer sujeito, dentro de suas limitações, tem capacidade de aprender, 
de organizar o conhecimento.
O ponto chave do processo de aprendizagem a partir de Jean Piaget (1984) 
e para o trabalho prático dentro da neuropsicopedagogia é compreender que é 
destituído de sentido o conhecimento que não se relacione com o interesse do 
educando. Por essa razão, tanto se fala da importância da contextualização para 
22
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
poder promover a materialização de uma prática pedagógica em sala de aula. 
Também por essa razão não há como desenvolver práticas possíveis de serem 
aplicadas sem devidos “ajustes” que façam sentido em meios sociais diferentes, 
pois é preciso primeiro conhecer uma realidade e os sujeitos dela para, então, 
conseguir compreender como esse sujeito vai aprender. 
Conhecer a realidade signifi ca conhecer o(a) aluno(a), sua 
família, sua história, a comunidade em que vive, enfi m, tudo aquilo 
que se relaciona com o sujeito e que é importante de ser considerado 
no seu processo de aprendizagem.
Um passo muito importante para compreender como a criança aprende 
é considerar a motivação e o interesse dela na aprendizagem. Logo abaixo, 
apresentamos uma tirinha do personagem Calvin que elucida a situação:
Fonte: Disponível em: <http://depositodocalvin.blogspot.
com/2010/03/blog-post.html>. Acesso em: 02 out. 2012.
Na tirinha acima vemos que, a princípio, não há motivação do personagem 
“Calvin” para ir à escola. Mas, algo dentro dele o fez levantar e ir a partir do 
questionamento da mãe. Com essa ilustração, queremos apresentar a você, 
caro(a) leitor(a), que a motivação e o interesse, embora pareçam ser externos ao 
sujeito, são um processo que acontece internamente a partir da reestruturação 
do seu conhecimento quando encontram situações ou experiências que confl itam 
com as suas previsões e, de alguma forma, despertam sua atenção. Motivação é 
aquilo que move o sujeito para seguir em busca daquilo que o interessa. (PIAGET, 
1984). Além disso, esta questão está relacionada a aspectos da afetividade. 
Nunca há ação puramente intelectual (sentimentos múltiplos 
intervém, por exemplo: na solução de um problema 
matemático, interesses, valores, impressão de harmonia, 
etc.) Assim como também não há atos que sejam puramente 
pois é preciso primeiro conhecer uma realidade e os sujeitos dela para, então, 
conseguir compreender como esse sujeito vaiaprender. 
23
DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1
afetivos (o amor supõe a compreensão.) Sempre e em todo 
o lugar, nas condutas relacionadas tanto a objetos como a 
pessoas, os dois elementos intervém, porque se implicam um 
ao outro. (PIAGET, 1984, p. 38).
A questão do interesse, como vimos, está relacionada também à afetividade 
para, assim, construir a compreensão das coisas. Isso, de certa forma e 
para qualquer situação, causa desequilíbrio e o que chamados de “confl itos 
cognitivos”. São eles que impulsionam hipóteses a partir de quando o raciocínio 
não é confi rmado. Por essa razão, é importante promover situações em que os 
alunos estejam em confl ito, refl itam para transpor suas limitações cognitivas 
e reorganizar o saber, o conhecimento. Também nesse movimento ocorrem as 
interações sociais, as amizades, a cooperação entre os sujeitos, o meio que 
promove também confl itos, desequilíbrio e, consequentemente, aprendizagem. 
É importante lembrar que em termos de trabalho pedagógico, na construção 
da aprendizagem escolar todo esse movimento se constrói e se conquista a partir 
do momento em que se conhece esse sujeito, seu contexto e sua história. É a 
partir disso que se torna possível a construção da prática educacional porque 
então saberemos sobre o que motiva esse sujeito, o que gera interesse em sua 
vida. Lembre-se daquilo que afi rmamos inicialmente: o sujeito tem uma carga 
biológica e outra social.
Vimos discutindo sobre a forma de conduzir os processos de aprendizagem 
e indicamos caminhos para refl etir sobre o assunto por meio da neurociência. A 
não aprendizagem, quando não considerada como assunto relevante, pode atingir 
o campo emocional da criança, desenvolvendo sentimentos negativos a respeito 
de si, do conteúdo, da escola e daqueles sujeitos envolvidos na situação. Dessa 
gama de relações podem surgir as lacunas de aprendizagem, que necessitam 
ser reconstruídas a partir da intervenção psicopedagógica ou numa abordagem 
pedagógica relacionada à neurociência. Pois, entendendo como o sujeito aprende 
e quais os caminhos percorridos para a aprendizagem, é possível intervir de modo 
efi caz.
Importante lembrar que a psicopedagogia tem como eixo 
norteador de trabalho a busca pela compreensão dos processos de 
aprendizagem e não aprendizagem e a construção dos caminhos que 
levam um sujeito a aprender. Para aprofundar estudos em torno do que 
é de competência da psicopedagogia trabalhar, informações e legislação 
sobre o assunto, convidamos você a visitar a página da Associação 
Brasileira de Psicopedagogia por meio do link: <www.abpp.com.br/>.
24
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
Atividade de Estudos: 
1) Como forma de refl etir sobre o que vimos discutindo e exercitar 
as novas informações adquiridas, tente pensar na sua prática 
profi ssional em uma ou mais situações em que você, conduzindo 
o processo de aprendizagem de crianças ou jovens, conseguiu 
perceber o confl ito e a reorganização do saber desse sujeito.
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Entender o sujeito tendo em vista suas bases biológicas, sua história e 
o contexto, ou seja, os aspectos sociais é determinante para a construção da 
aprendizagem escolar. Além disso, é muito importante poder contar com o suporte 
de algumas especialidades da área da saúde como auxílio neste processo quando 
assim for necessário. Sobre esse assunto trataremos de discutir na próxima seção.
As EspecialiZações da Medicina como 
Aporte do Processo de Ensino e 
AprendiZagem.
Certamente você deve lembrar, caro(a) leitor(a), sobre a construção histórica 
em torno da medicina e a relação dela com a educação, a qual discutimos no 
início deste capítulo. Gostaríamos de reforçar a presença e importância de áreas 
da medicina na educação diante das difi culdades encontradas em torno dos 
processos de aprendizagem.
25
DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1
Áreas da medicina como: psiquiatria, neurologia (neuropediatria), 
otorrinolaringologia, ortopedia, nutrologia são os campos indicados como suporte 
aos processos de aprendizagem. 
Lembre-se, caro(a) leitor(a), de algumas defi nições, segundo o 
dicionário Aurélio (1999):
Psiquiatria: Parte da medicina que trata do estudo e do 
tratamento de doenças mentais.
Neurologia: Ramo da medicina que se ocupa das doenças do 
sistema nervoso em todos os seus aspectos.
Neuropediatria: Ramo da medicina que se ocupa das doenças 
do sistema nervoso em todos os seus aspectos em crianças.
Otorrinolaringologia: Parte da medicina consagrada ao estudo 
e tratamento das doenças do ouvido, do nariz e da garganta.
Ortopedia: Ramo da medicina que se ocupa do tratamento e 
estudo de doenças do esqueleto.
Nutrologia: Ramo da medicina que se ocupa da nutrição em todos 
os seus aspectos: normais, patológicos, clínicos e terapêuticos.
Além disso, sabemos que áreas equivalentes, como a psicologia, fi sioterapia, 
fonoaudiologia, nutricionismo, odontologia, embora não sejam áreas da medicina, 
estão inseridas no campo da saúde, exercem a práxis no resgate desse sujeito e 
atuam como suporte da educação.
Lembre-se, caro(a) leitor(a), conforme o dicionário Aurélio (1999):
Psicologia: Ciência dos fenômenos psíquicos e do 
comportamento. (Profi ssional que atua: psicólogo).
Fisioterapia: Tratamento de doença por meio do exercício e de 
agentes físicos. (Profi ssional que atua: fi sioterapeuta).
26
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
Fonoaudiologia: Estudo da fonação e da audição das 
suas perturbações e tratamento delas. (Profi ssional que atua: 
fonoaudiólogo).
Nutricionismo: Estudo sistemático dos problemas relativos à 
nutrição. (Profi ssional que atua: nutricionista, que planeja dieta de 
acordo com o sujeito e a situação).
Odontologia: ciência que se ocupa da higiene, profi laxia e 
tratamento das doenças dentárias. (Profi ssional que atua: dentista).
Sabe-se que a questão da promoção da saúde também está relacionada a 
políticas públicas. Nesse caso, salientamos os direitos da criança e do adolescente 
garantidos em forma de lei pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA 
(BRASIL, 1990):
Título II
Dos Direitos Fundamentais
Capítulo I
Do Direito à Vida e à Saúde
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida 
e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas 
que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e 
harmonioso, em condições dignas de existência.
Art. 8º É assegurado à gestante, através do Sistema Único de 
Saúde, o atendimento pré e perinatal. 
§ 1º A gestante será encaminhada aos diferentes níveis 
de atendimento, segundo critérios médicos específi cos, 
obedecendo-se aos princípios de regionalização e 
hierarquização do Sistema.
§ 2º A parturiente será atendida preferencialmente pelo mesmo 
médico que a acompanhou na fase pré-natal.
§ 3º Incumbe ao poder público propiciar apoio alimentar à 
gestante e à nutriz que dele necessitem.
§ 4º Incumbe ao poder público proporcionar assistência 
psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal, 
inclusive como forma de prevenir ou minorar as consequências 
do estado puerperal. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência
27
DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1
§ 5º A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser 
também prestada a gestantes ou mães que manifesteminteresse em entregar seus fi lhos para adoção. (Incluído pela 
Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores 
propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno, 
inclusive aos fi lhos de mães submetidas a medida privativa de 
liberdade.
Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à 
saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a:
I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de 
prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
II - identifi car o recém-nascido mediante o registro de sua 
impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, 
sem prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade 
administrativa competente;
III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica 
de anormalidades no metabolismo do recém-nascido, bem 
como prestar orientação aos pais;
IV - fornecer declaração de nascimento onde constem 
necessariamente as intercorrências do parto e do 
desenvolvimento do neonato;
V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a 
permanência junto à mãe.
Art. 11. É assegurado atendimento integral à saúde da criança 
e do adolescente, por intermédio do Sistema Único de Saúde, 
garantido o acesso universal e igualitário às ações e serviços 
para promoção, proteção e recuperação da saúde. (Redação 
dada pela Lei nº 11.185, de 2005).
§ 1º A criança e o adolescente portadores de defi ciência 
receberão atendimento especializado.
§ 2º Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente àqueles 
que necessitarem os medicamentos, próteses e outros recursos 
relativos ao tratamento, habilitação ou reabilitação.
Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão 
proporcionar condições para a permanência em tempo integral 
de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de 
criança ou adolescente.
Art. 13. Os casos de suspeita ou confi rmação de maus-
tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente 
comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, 
sem prejuízo de outras providências legais. 
28
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
Parág rafo único. As gestantes ou mães que manifestem 
interesse em entregar seus fi lhos para adoção serão 
obrigatoriamente encaminhadas à Justiça da Infância e da 
Juventude. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)Vigência
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas 
de assistência médica e odontológica para a prevenção das 
enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, 
e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e 
alunos.
Parágrafo único. É obrigatória a vacinação das crianças nos 
casos recomendados pelas autoridades sanitárias.
Fique atento(a), caro(a) pós-graduando(a): as leis podem sofrer 
modifi cações em sua estrutura, mas elas existem para defender o 
sujeito e também cobrar seus deveres. Mesmo que mude em algum 
aspecto, elas continuarão exercendo sua função.
O ECA (BRASIL, 1990) é um meio de assegurar os direitos a toda e qualquer 
criança e adolescente que necessite de acompanhamento médico, seja qual for 
a área da medicina ou saúde. E o papel do(a) professor(a) é muito importante 
neste caso, pois ele é o agente que intermediará esse atendimento ou fará esta 
solicitação e/ou encaminhamento junto aos órgãos afi ns. O(A) professor(a), por 
atuar diretamente com a criança ou o adolescente que possa apresentar algum 
problema relacionado à saúde e processos de aprendizagem, tem a obrigação 
de buscar uma solução junto aos órgãos competentes e esta atuação está 
assegurada em forma de lei.
Certamente é necessário que se tenha a consciência de que há diferenças 
individuais no desenvolvimento intelectual das crianças. Isso não signifi ca 
ser “mais” ou “menos” inteligente e também não servirá como mecanismo de 
comparações. As pessoas aprendem de maneiras distintas e a aprendizagem 
acontece dentro do tempo de cada sujeito. As áreas da medicina e saúde vêm 
para auxiliar a educação, na medida em que a educação necessite de aporte para 
construir, reconstruir e ressignifi car a aprendizagem. 
Algumas Considerações
Caro(a) leitor(a), neste capítulo você pode conhecer aspectos sobre 
a correlação entre a saúde e a educação através de momentos históricos 
29
DIÁLOGO ENTRE EDUCAÇÃO E SAÚDECapítulo 1
importantes, bem como os aspectos das neurociências (e neurologia) que estão 
relacionados à aprendizagem do sujeito. Compreendeu a importância da medicina 
como uma ferramenta de auxílio para o(a) professor(a) em sala de aula, bem 
como aparatos legais que asseguram esse processo.
Salientamos que a medicina teve e ainda tem um grande peso nas decisões 
sobre a aprendizagem e a não aprendizagem das crianças na escola. De um lado, 
ela pensou e, em algumas circunstâncias, ainda pensa a saúde das crianças e 
jovens tendo em vista a base biológica de seu desenvolvimento com maior peso. 
Por vezes, a medicina vê que a saúde é uma questão individual e decorrente do 
organismo (biológico) do sujeito. Mas não podemos deixar de considerar que a 
saúde também é um problema de políticas públicas e que a aprendizagem e não 
aprendizagem escolar está relacionada muito fortemente à qualidade de vida do 
sujeito, seu meio e sua história.
ReFerÊncias
ARIÈS, Philippe. A História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: 
LTC, 1981.
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei nº 8.069, de 13/07/1990. 
Florianópolis: IOESC, 1990.
BUJES, Maria Isabel Edelweiss. Infância e Maquinarias. Rio de Janeiro: DP&A, 
2003.
CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Quando a história da Educação é a história 
da disciplina e da higienização das pessoas. In: FREITAS, Marcos Cezar. (Org.). 
História Social da Infância no Brasil. São Paulo: Cortez, 2003.
CAVALHEIRO, Ésper. O Cérebro e a Neurociência: Programa produzido 
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oferecido pela Universidade de São Paulo. 2011. Disponível em: <http://www.
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2012.
FERREIRA, A. B. H. Dicionário Eletrônico Aurélio Século XXI. [CD-ROM] 
versão 3.0. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira e Lexikon Informática; 1999.
KUHLMANN JÚNIOR, Moysés. Infância e Educação Infantil: Uma abordagem 
histórica. 2. ed. Porto Alegre: Mediação, 1998.
30
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Declaração de Alma-Ata. 1978.
PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense-
Universitária, 1984.
______. Epistemologia Genética. São Paulo: Martins Fontes, 1990.
PINTO, Alvaro Vieira. Sete Lições sobre Educação de Adultos. São Paulo: 
Cortez, 2000.
ZUCOLOTO, Patrícia Carla Silva do Vale. O médico higienista na escola: as 
origens históricas da medicalização do fracasso escolar. Revista Brasileira de 
Crescimento e Desenvolvimento Humano, São Paulo, v. 1, n. 17, p.136-145, 1 
fev. 2007. Semestral.
CAPÍTULO 2
O Laudo e sua Contribuição 
para a Educação
A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
  Discutir a importância legal do laudo. 
  Compreender o laudo e construir a prática pedagógica a partir disso.
  Descrever o papel dos profi ssionais da educação em relação ao sujeito 
diagnosticado e o seu contexto social. 
32
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
33
O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃOCapítulo 2
ContextualiZação
Caro(a) leitor(a), neste segundo capítulo, após discutirmos e nos 
conscientizarmos da importância de compreender a saúde e a educação como 
indissociáveis, apresentaremos a você a importância do laudo médico em 
seus aspectos legais e o apoio dos demais profi ssionais que podem auxiliar no 
processo de aprendizagem da criança quando for necessário.
Pretendemos abrir uma discussão e uma refl exão crítica em torno da 
necessidade dos encaminhamentos e possíveis equívocos que podem surgir caso 
esse documento não seja interpretado adequadamente. Além disso,buscaremos 
problematizar algumas questões sobre o consumo de medicamentos no momento 
histórico em que vivemos.
Sabe-se que a partir do laudo apresentado pelo médico ou profi ssional da 
saúde, é preciso construir uma prática pedagógica que possibilite interação e 
aprendizagem escolar do sujeito diagnosticado. Em virtude disso, perguntamo-
nos: como poderemos pensar sobre isso? Como materializar essa prática? Como 
criaremos signifi cados em torno do que foi dito ou escrito a partir do diagnóstico, 
tanto para a vida escolar do(a) aluno(a) quanto para ele(a) como sujeito social?
Essas refl exões tecerão este capítulo com o intuito de auxiliá-lo(a), caro(a) 
leitor(a), em sua caminhada de ensinante e aprendente em diferentes contextos 
diante da problemática apresentada.
Aportes Legais do Laudo e sua 
Contribuição para a Prática 
PedagÓgica
Transtornos, distúrbios, difi culdades de aprendizagem, “desajustes 
comportamentais”, sofrimentos alheios, enfi m, muitas vezes, encontramo-nos 
de mãos atadas diante da dimensão a enfrentar em torno das adversidades da 
profi ssão nos mais diferentes contextos a atuar.
Certamente, ao pensar na profi ssão de professor, há que se compreender 
que o “ensino” e a “aprendizagem” são um processo, em determinados momentos, 
de difícil compreensão e apreensão, que não se restringe apenas a processos 
mentais e individuais, mas sociais e intersubjetivos.
34
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
Para auxiliar o trabalho docente, atualmente há pesquisas, leis e incentivo, 
auxílio e/ou apoio às crianças que apresentam algumas necessidades especiais 
ou defi ciência e que, de certa forma, necessitem de adequações em relação 
aos conteúdos, ao currículo proposto, às instalações locais e procedimentos 
atitudinais. Certamente o funcionamento disso, na prática, acontecerá com o 
apoio de políticas públicas locais. Porém vale ressaltar que tais processos são 
determinados em lei e que nós, professores, quando percebemos a necessidade 
de encaminhamento das crianças para o atendimento, precisamos buscar nos 
órgãos competentes o devido apoio.
É muito importante, caro(a) leitor(a), conhecer os caminhos 
que asseguram o sujeito que está precisando de atendimento 
educacional especializado. Para isso, indicamos como leitura o portal 
do Governo Federal. Nele há inúmeras leis, decretos e normatizações 
relacionadas ao assunto. Vá em busca desse conhecimento 
acessando o link: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_
content&view=article&id=16761&Itemid=1123>. 
Sabe-se que a partir da Constituição Federal (1988), os direitos (e deveres) 
de todo e qualquer cidadão foram assegurados. Assim, temos leis específi cas em 
cada setor (Ministérios) para a efetivação desses direitos e deveres. Queremos, 
com isso, afi rmar que a Constituição seria o primeiro caminho para buscar a 
efetivação dos direitos (e deveres), principalmente para o atendimento médico do 
sujeito que necessite. 
No caso de este sujeito ser uma criança ou adolescente, se observarmos 
o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), instituído pela Lei no 
8.069, nele consta, em seus direitos fundamentais, orientações de atendimento 
na área da saúde desde o nascimento, incluindo, se necessário, exames, laudos 
e/ou diagnósticos, conforme discutimos no capítulo primeiro de nosso caderno de 
estudos. O Estado e seus Municípios assegurarão o acesso a esses serviços e 
seu devido funcionamento.
Muitas vezes, é a partir do momento em que a criança passa a frequentar 
Instituições de Educação que são detectados problemas na aprendizagem. Há 
momentos em que isso ocorre na Educação Infantil e outros apenas no Ensino 
Fundamental.
É papel do professor(a) conversar e orientar os pais quando percebe 
difi culdades no desenvolvimento das atividades escolares, alterações no 
35
O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃOCapítulo 2
comportamento da criança e, então, é dever da família buscar atendimento na 
área da saúde. Porém, é importante salientar que ao(à) professor(a) não cabe 
a tarefa de diagnosticar, defi nir ou nominar o problema que o(a) aluno(a) tenha. 
O(A) professor(a) apenas esclarecerá aos pais sobre a necessidade de a criança 
ser encaminhada para um profi ssional da saúde, geralmente um médico clínico 
geral e este reencaminha aos profi ssionais específi cos para tratar e acompanhar 
a criança em questão.
O laudo médico é o documento necessário que assegura atendimento 
especializado para a criança que apresentar alguma defi ciência e explica em 
termos médicos o que a criança apresenta como consequência do “não aprender” 
ou das difi culdades enfrentadas no âmbito escolar, sejam estas de ordem cognitiva/
comportamental sejam de ordem social. É muito importante, conforme Montoya 
(1996) e Ramozzi-Chiarottino (1994), que criança tenha um diagnóstico precoce, 
para que, então, seja feita uma intervenção adequada conforme suas necessidades. 
A questão do laudo do diagnóstico é discutida amplamente 
num documento chamado: “Documento Subsidiário à Política da 
Inclusão”. É muito importante tomar conhecimento disso, caro(a) pós-
graduando(a). É possível obter o documento na íntegra, acessando 
o link: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/docsubsidiariopoli
ticadeinclusao.pdf>.
Com o advento da Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996), Lei no 9.394/96, 
houve especifi cações sobre o atendimento à educação e suas diferentes faixas 
etárias, bem como o direcionamento a posteriores documentos, buscando 
assegurar à criança seu pleno desenvolvimento no âmbito educacional. Assim, 
a partir da LDB, foram discutidos e elaborados documentos norteadores para o 
atendimento educacional em escolas e demais Instituições de Educação. Um 
documento importante para seu conhecimento, caro(a) leitor(a), é o Decreto 
no 3.298 de 20 de dezembro de 1999. Parte dele, destinada à área da Saúde, 
descreve sobre os diagnósticos (BRASIL, 1999):
Seção I
Da Saúde
Art. 16. Os órgãos e as entidades da Administração Pública 
Federal direta e indireta responsáveis pela saúde devem 
dispensar aos assuntos objeto deste Decreto tratamento 
prioritário e adequado, viabilizando, sem prejuízo de outras, as 
seguintes medidas:
36
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
I - a promoção de ações preventivas, como as referentes 
ao planejamento familiar, ao aconselhamento genético, ao 
acompanhamento da gravidez, do parto e do puerpério, à 
nutrição da mulher e da criança, à identifi cação e ao controle 
da gestante e do feto de alto risco, à imunização, às doenças 
do metabolismo e seu diagnóstico, ao encaminhamento 
precoce de outras doenças causadoras de defi ciência, e à 
detecção precoce das doenças crônico-degenerativas e a 
outras potencialmente incapacitantes;
§ 2º A defi ciência ou incapacidade deve ser diagnosticada e 
caracterizada por equipe multidisciplinar de saúde, para fi ns 
de concessão de benefícios e serviços.
§ 2º Para efeito do disposto neste artigo, toda pessoa que 
apresente redução funcional devidamente diagnosticada 
por equipe multiprofi ssional terá direito a benefi ciar-se 
dos processos de reabilitação necessários para corrigir ou 
modifi car seu estado físico, mental ou sensorial, quando este 
constitua obstáculo para sua integração educativa, laboral e 
social.
Art. 20. É considerado parte integrante do processo de 
reabilitação o provimento de medicamentos que favoreçam 
a estabilidade clínica e funcional e auxiliem na limitação da 
incapacidade, na reeducação funcional e no controle das 
lesões que geram incapacidades. 
Art. 21. O tratamento e a orientação psicológica serão 
prestados durante as distintas fases do processo reabilitador, 
destinados a contribuir para que a pessoa portadora de 
defi ciência atinja o mais pleno desenvolvimento de sua 
personalidade.
Parágrafo único. O tratamento e os apoios psicológicos serão 
simultâneos aos tratamentos funcionais e, em todos os casos, 
serão concedidos desde a comprovação da defi ciência ou do 
início de um processopatológico que possa originá-la.
Art. 22. Durante a reabilitação, será propiciada, se necessária, 
assistência em saúde mental com a fi nalidade de permitir que 
a pessoa submetida a esta prestação desenvolva ao máximo 
suas capacidades.
Art. 23. Será fomentada a realização de estudos 
epidemiológicos e clínicos, com periodicidade e abrangência 
adequadas, de modo a produzir informações sobre a 
ocorrência de defi ciências e incapacidades.
Diante disso, vemos a importância do amparo da área da saúde, por meio 
de laudos médicos, para auxiliar na conquista do apoio necessário para o 
atendimento às crianças que apresentem não apenas as defi ciências comuns 
que encontramos nas escolas como: defi ciência visual, mental, física, paralisia 
§ 2º A defi ciência 
ou incapacidade 
deve ser 
diagnosticada 
e caracterizada 
por equipe 
multidisciplinar 
de saúde, para 
fi ns de concessão 
de benefícios e 
serviços.
§ 2º Para efeito 
do disposto 
neste artigo, 
toda pessoa 
que apresente 
redução funcional 
devidamente 
diagnosticada 
por equipe 
multiprofi ssional 
terá direito a 
benefi ciar-se 
dos processos 
de reabilitação 
necessários 
para corrigir ou 
modifi car seu 
estado físico, 
mental ou 
sensorial, quando 
este constitua 
obstáculo para 
sua integração 
educativa, laboral 
e social.
37
O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃOCapítulo 2
cerebral, surdez, etc., mas, também, os transtornos globais do desenvolvimento 
como, por exemplo: transtornos do espectro autista, as psicoses infantis, a 
Síndrome de Asperger, a Síndrome de Kanner e a Síndrome de Rett, distúrbios 
e difi culdades que interferem no processo de aprendizagem e atingem muitas 
crianças em diferentes contextos. 
Sobre os Transtornos Globais do desenvolvimento, assim 
como sobre defi ciências, difi culdades e distúrbios de aprendizagem, 
convidamos você, caro(a) leitor(a), a visitar o site da Revista Nova 
Escola e ler um pouco sobre o assunto. A referida revista traz 
conteúdos didáticos, de fácil compreensão, e boas indicações de 
bibliografi as para aprofundamento do assunto. O link de acesso é: 
<http://revistaescola.abril.com.br/inclusao/educacao-especial/
transtornos-globais-desenvolvimento-tgd-624845.shtml>.
É importante salientar que muitos problemas que acompanham as 
crianças e podem interferir ou difi cultar o seu desenvolvimento escolar 
não estão caracterizados como problemas de fato. Por exemplo, muitas 
vezes a forma como fala, a forma como expressa seus pensamentos por 
conta de expressões culturais e/ou regionais, o jeito como interage com os 
demais sujeitos, são vistos a partir de preconceitos que são estabelecidos 
e normalizados no local. Nesse caso, refl etimos fazendo uso do que foi 
disposto na Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994). Embora muitos 
acreditem que ela esteja direcionada à Educação Especial, destina-se à 
Educação para todos, afi rmando que compete aos governos atribuírem “[...] a 
mais alta prioridade política e fi nanceira ao aprimoramento de seus sistemas 
educacionais no sentido de se tornarem aptos a incluírem todas as crianças, 
independentemente de suas diferenças ou difi culdades individuais.” (UNESCO, 
1994, item 2). Afi rma-se, ainda, que: 
• toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a 
oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem,
• toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de 
aprendizagem que são únicas. (UNESCO, 1994, item 2).
A Declaração de Salamanca foi um dos documentos que trouxe importantes 
refl exões em torno da Educação. Foi a partir dela que houve a reorganização 
e a reformulação de documentos, políticas e práticas voltadas ao atendimento 
38
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
especializado às crianças nas escolas e que abarcassem não apenas às 
crianças com defi ciências, mas a todas as crianças considerando suas 
especifi cidades. Com a declaração de Salamanca reafi rma-se que a escola é o 
local em que há diversidade e que nenhuma criança é igual à outra. Que todos 
têm direito de aprender e aprendem em seu tempo. Neste documento é possível 
de se entender também que as crianças são mais importantes do que suas 
diferenças e limitações e não deve ser é isso um elemento gerador de impasses 
e impedimentos, mas acesso ao conhecimento e troca a partir da diversidade, 
respeito e alteridade mútuos.
A partir desse entendimento, caro(a) leitor(a), e como forma de aprofundar 
seus conhecimentos em torno da discussão sobre as diferenças individuais, 
convidamos você a fazer a leitura de um trecho de um importante documento 
intitulado: 
Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva 
da Educação Inclusiva (BRASIL, 2007). 
V – Alunos atendidos pela Educação Especial
[...]
Em 1994, a Declaração de Salamanca proclama que as escolas 
regulares com orientação inclusiva constituem os meios mais 
efi cazes de combater atitudes discriminatórias e que alunos com 
necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola 
regular, tendo como princípio orientador que “as escolas deveriam 
acomodar todas as crianças independentemente de suas condições 
físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras.” 
(BRASIL, 2006, p.330). O conceito de necessidades educacionais 
especiais, que passa a ser amplamente disseminado a partir dessa 
Declaração, ressalta a interação das características individuais dos 
alunos com o ambiente educacional e social. No entanto, mesmo 
com uma perspectiva conceitual que aponte para a organização 
de sistemas educacionais inclusivos, que garanta o acesso de 
todos os alunos e os apoios necessários para sua participação e 
aprendizagem, as políticas implementadas pelos sistemas de ensino 
não alcançaram esse objetivo. 
Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial 
passa a integrar a proposta pedagógica da escola regular, 
promovendo o atendimento às necessidades educacionais 
39
O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃOCapítulo 2
especiais de alunos com defi ciência, transtornos globais de 
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Nestes 
casos e outros, que implicam em transtornos funcionais 
específi cos, a educação especial atua de forma articulada com o 
ensino comum, orientando para o atendimento às necessidades 
educacionais especiais desses alunos. 
A educação especial direciona suas ações para o atendimento às 
especifi cidades desses alunos no processo educacional e, no âmbito de 
uma atuação mais ampla na escola, orienta a organização de redes de 
apoio, a formação continuada, a identifi cação de recursos, serviços e o 
desenvolvimento de práticas colaborativas. 
Os estudos mais recentes no campo da educação especial 
enfatizam que as defi nições e uso de classifi cações devem ser 
contextualizados, não se esgotando na mera especifi cação ou 
categorização atribuída a um quadro de defi ciência, transtorno, 
distúrbio, síndrome ou aptidão. Considera-se que as pessoas se 
modifi cam continuamente, transformando o contexto no qual se 
inserem. Esse dinamismo exige uma atuação pedagógica voltada 
para alterar a situação de exclusão, reforçando a importância dos 
ambientes heterogêneos para a promoção da aprendizagem de 
todos os alunos. 
A partir dessa conceituação, considera-se pessoa com 
defi ciência aquela que tem impedimentos de longo prazo, de 
natureza física, mental ou sensorial que, em interação com diversas 
barreiras, podem ter restringida sua participação plena e efetiva 
na escola e na sociedade. Os alunos com transtornos globais 
do desenvolvimento são aqueles que apresentam alterações 
qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, 
um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado 
e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com autismo, 
síndromes do espectro do autismo e psicose infantil. Alunos 
com altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado 
em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: 
intelectual,acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de 
apresentar grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e 
realização de tarefas em áreas de seu interesse.
Fonte: Documento n° 555, de 5 de junho de 2007, prorrogada pela Portaria 
n° 948, de 09 de outubro de 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.
br/seesp/arquivos/txt/revinclusao5.txt>. Acesso em: 14 ago. 2012.
40
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
É importante salientar que o trabalho pedagógico de sala de aula requer, 
em vários momentos, adequações para o atendimento ao alunado. Não são as 
crianças que precisam se adequar à Escola, mas a Escola comprometer-se em 
atender a diversidade. Por essa razão, fala-se no termo “Inclusão” num sentido 
maior, pois:
Escolas inclusivas devem reconhecer e responder às 
necessidades diversas de seus alunos, acomodando ambos 
os estilos e ritmos de aprendizagem e assegurando uma 
educação de qualidade a todos através de um currículo 
apropriado, arranjos organizacionais, estratégias de 
ensino, uso de recurso e parceria com as comunidades. Na 
verdade, deveria existir uma continuidade de serviços e 
apoio proporcional ao contínuo de necessidades especiais 
encontradas dentro da escola. (UNESCO,1994).
Certamente nós, professores, não iremos atingir a todos os alunos a todo 
o momento em relação ao processo de aprendizagem, mas é nosso papel 
refl etir sobre o assunto e ter um entendimento de que as classes escolares são 
heterogêneas e, cada vez mais, faz-se necessário adequar-nos a sistemas de 
ensino que compreendam e exerçam sua função: construir o conhecimento a 
partir da diversidade, oferecendo, também, meios diversos de aprender de acordo 
com a demanda que se apresenta.
Para acompanhar os professores frente à demanda existente diante dos 
problemas de aprendizagem dos alunos, vem a área da saúde atuar como auxiliar, 
buscando oferecer o diagnóstico e a terapêutica complementar independente do 
meio utilizado. Mas, precisamos refl etir novamente, conforme já questionado no início 
deste capítulo, sobre como construir uma prática pedagógica que possibilite interação 
e aprendizagem escolar desse sujeito diagnosticado. Como poderemos pensar sobre 
isso? Como materializar essa prática? Como criaremos signifi cados em torno do 
que foi dito ou escrito a partir do diagnóstico, tanto para a vida escolar do(a) 
aluno(a) quanto para ele(a) como sujeito?
É importante salientar, conforme discutido anteriormente, que o diagnóstico 
médico ou de profi ssional da saúde assegura atendimento à criança que precise 
de apoio especializado por apresentar problemas específi cos na aprendizagem. 
Ele é necessário a partir de leis, esclarecedor em torno do que o sujeito apresenta 
e decisivo na busca de mais esclarecimentos sobre problemas específi cos que o 
sujeito apresentou. Sendo assim, ele possibilita a busca por aprofundamento na 
pesquisa sobre o assunto e na construção de caminhos pedagógicos que incluam 
e conduzam o sujeito no processo de aprendizagem.
41
O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃOCapítulo 2
Atividade de Estudos: 
1) A partir dos questionamentos apresentados anteriormente, 
convidamos você, caro(a) leitor(a), a buscar, na secretaria de 
sua escola, um laudo médico de um(a) aluno(a). Faça a leitura 
dele e escreva nas linhas abaixo o que compreendeu desse 
laudo e como poderia ser possível o trabalho com esse sujeito no 
contexto da sala de aula.
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Leitura e Produção de SigniFicados: 
o Laudo para o SuJeito e seu 
Contexto Educacional
Até o momento, caro(a) pós-graduando(a), vimos discutindo sobre a 
importância do laudo para o trabalho pedagógico. Certamente, o laudo em si e 
isoladamente não resolverá nossos problemas em sala de aula, pois é a partir dele 
que será materializada a prática pedagógica de resgate desse sujeito em relação 
ao processo de ensino e aprendizagem. O laudo é importante e necessário para 
42
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
conquistar o atendimento paralelo (por direito), para um segundo professor em 
sala de aula (quando necessário) e demais procedimentos técnicos que somente 
um médico poderá prescrever.
Sobre o segundo professor e sobre o apoio legal que assegura 
atendimento diferenciado neste caso, convidamos você, caro(a) 
leitor(a), a aprofundar a leitura com a Resolução no 4 de 2 de outubro 
de 2009. O link de acesso é: <http://peei.mec.gov.br/arquivos/
Resol_4_2009_CNE_CEB.pdf>.
Diante disso, é importante saber que, em alguns casos, esse sujeito 
diagnosticado já perpassou outras instituições. Muitas vezes, diante da própria 
“difi culdade, distúrbio ou transtorno” que tem, muitas frustrações o acompanham. 
Por vezes, há grande desmotivação dele e da família. O trabalho pedagógico pós-
laudo, nesse caso, tem como eixo norteador uma espécie de reconfi guração do 
aprender.
Para melhor compreender a questão, apresentamos a você, caro(a) 
leitor(a), o laudo de uma criança que frequentou, no ano de 2008, o 4º ano do 
ensino fundamental em escola pública no Estado de Santa Catarina. Este aluno 
frequentou a sala de aula em que eu, professora Cláudia, tive a oportunidade de 
atuar e aprender a construir a prática.
Laudo NeurolÓgico:
O menor João dos Santos, 9 anos, apresenta atraso no desenvolvimento 
neuropsicomotor com transtorno de défi cit de atenção/hiperatividade e transtorno 
opositor-desafi ador secundários.
O mesmo precisa de estimulação global com postura familiar em todos os 
aspectos, elogiando e recompensando os pontos positivos, com limites claros e 
objetivos, tendo uma disciplina equilibrada nas situações em que João não as 
cumpre.
A escola se possível deve ter intervenções específi cas como sempre ter a 
mesma arrumação de carteiras; colocar João perto do(a) professor(a), longe de 
crianças que o provoquem; começar com tarefas simples e gradualmente mudar 
para mais complexas; comunicar-se com os pais; favorecer oportunidades para 
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O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃOCapítulo 2
movimentos monitorados; recompensar os esforços e o comportamento bem 
sucedido. A escola e o(a) professor(a) não devem ser mártires e sim reconhecer 
seus limites e sua tolerância.
Estou à disposição para maiores informações.
Doutor Castilho Fernandes
CRM 0101
Neuropediatria
Observação: O laudo traz pseudônimos, mas o conteúdo é real.
O aluno ao qual o laudo se refere passou a frequentar a sala de aula em 
que atuava a partir da metade do ano. Apresentava baixa tolerância a frustrações, 
frequentemente batia nos colegas, agredia a todos com palavras e gestos 
obscenos. Opunha-se a desenvolver os trabalhos apresentados, negava-se a 
construir sua aprendizagem. Mas, diante da negação, diante do caos, era preciso 
encontrar um caminho. João era um menino de apenas nove anos que precisava 
ser aceito, inserido no grupo e trabalhadas suas capacidades, investindo na 
construção do saber e do fazer. Além disso, precisava saber sobre o seu lugar e o 
lugar do outro. Entendendo até onde poderia ir e parar, ou seja, precisava aceitar 
os limites alheiose os seus.
Essa reconstrução iniciou com muito diálogo. Foi a partir da palavra que 
começamos a construir o caminho:
Na realidade, toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto 
pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. 
Ela constitui justamente o produto da relação do locutor e do ouvinte. Toda 
palavra serve de expressão a um em relação ao outro, isto é, em última análise, 
em relação à coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim e 
os outros. (BAKHTIN, 2004, p. 113).
Essa “ponte”, escrita por Bakhtin (2004), deu-se a partir de uma construção 
em grupo, pois era preciso muita compreensão deste para ser possível o trabalho. 
As constantes agressões e demais formas de expressão comportamentais 
precisavam ser compreendidas pelo grupo para, então, juntos – pois vivemos 
em sociedade – buscarmos um meio de convívio possível. O laudo não pode 
criar uma barreira de “pena”, “lamento” ou “exclusão”. Era preciso construir um 
signifi cado. Estar diagnosticado para nós, naquele momento, apresentava partes 
ditas pelo médico do “estado” do João, naquela circunstância. Havia elementos 
que o limitavam, precisávamos descobrir quais eram e ele também precisava 
44
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
entender isso, para tentar controlar-se diante dessas situações. Isso signifi cou 
para todos a transposição de obstáculos.
A partir de conversas coletivas, representações escritas e desenhadas daquilo 
que cada um do grupo mais se interessava em fazer, conseguimos elaborar uma 
proposta de projeto. Trabalhamos um projeto sobre cobras e, com muito empenho 
e compreensão, o grupo, eu e o Henrique produzimos conhecimento. 
Esse processo não foi fácil, requereu, acima de tudo, muita paciência, 
sensibilidade, aceitação e regras. Constantemente precisávamos retomar 
conversas e “combinados” para resolver confl itos. Mas, como sabíamos das 
razões deles por ter anteriormente já delimitado e deixado tudo claro, era possível 
continuar caminhando.
O primeiro passo para construir a prática pós-laudo é apresentar ao grupo 
o que ocorre, explicar de forma simples. Deixar claro os limites de cada um, sem 
comparações entre si. Pois as notas e os conceitos embora sejam os mesmos 
não são iguais. Cada um a partir da sua história entenderá isso individualmente.
O fazer pedagógico é possível em cada contexto com os sujeitos que dele 
fazem parte. Quando obtivemos esse laudo, não tínhamos ideia do que poderia 
ser desenvolvido. Tínhamos conhecimento científi co do que isso signifi cava, 
mas somente isso. Nenhuma prática é construída a partir de receitas. O que 
é possível de ser feito vem a partir do diálogo com outros professores, com a 
família e com outros profi ssionais para traçar objetivos, mobilizando pessoas 
e caminhando.
O que não pode acontecer é usar o laudo como limitador de aprendizagens, 
deixando o(a) aluno(a) no fundo da sala para não “incomodar” e criar uma 
atmosfera de “piedade”. Por mais limitador que possa parecer um laudo, mesmo 
assim é possível aprender e conviver. Nosso cérebro tem a chamada “plasticidade”, 
que é a capacidade de reorganizar-se diante de possíveis limitações. Além disso, 
dependendo de como conduzirmos as situações, poderemos limitar mais ou 
possibilitar mais situações de aprendizagem.
Sobre a plasticidade cerebral, é importante aprofundar a leitura. 
Há um artigo, publicado pelo jornal da Universidade do Estado de 
Campinas (UNICAMP), que elucida o assunto. O link de acesso 
é: <http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/jornal PDF/
ju371pag04.pdf>.
45
O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃOCapítulo 2
Acreditar no outro seria a palavra de ordem. Depositar tempo neste outro 
também. Além de possibilitar a “palavra” ao outro, também é preciso permitir-se 
ouvir. Ouvir o outro e ouvir-se. 
Para aprender a falar necessitamos ser escutados, para 
aprender a olhar, necessitamos ser olhados. A capacidade 
atencional se constrói nessa continuidade e descontinuidade, 
que abre um espaço entre: espaço atencional. Está aqui o 
valor do silêncio que nada tem a ver com silenciar-se, mas, 
muito com escutar e escutar-se. (FERNÁNDEZ, 2012, p. 43.)
Figura 2 - Representação através de desenho: Tempo de falar e tempo de ouvir. 
Momentos especiais construídos em sala durante aquele semestre letivo
Fonte: Aluna Carolina de Souza.
 
A construção da prática, parafraseando Alicia Fernández (2012), existirá e se 
constituirá num espaço e momento únicos, pois lidamos com histórias de vida e 
circunstâncias próprias de cada local. Esse seria então um ponto importante para 
transformação e materialização da prática. Não importa o currículo e a quantidade 
de “saberes” que ele prevê, importa é como será feito para acontecer o processo 
do “aprender” para todos os alunos e suas diferenças, contemplando o currículo.
Para essa experiência, em específi co, sempre mantivemos diálogo sobre 
os saberes adquiridos, sobre nossas vidas. Num desses momentos, registramos 
as respostas dos alunos. E o aluno João, quando relatou sobre os seus saberes 
e sua vida, após o convívio de cinco meses na turma do quarto ano de nossa 
escola, disse o seguinte:
Na escrita do João, fi ca evidente o quanto para ele foi importante aprender 
“coisas” na sala de aula. Quando ele diz: “aprendi a ser mais inteligente, mais 
46
Teoria e prática da neuropsicopedagogia
cabeça e mais honesto”, faz-nos acreditar que o trabalho desenvolvido na sala de 
aula fez a diferença, principalmente para ele na condição de sujeito, como autor 
de sua história. A sala de aula possibilitou o espaço de autoria, mas foi ele que se 
tornou autor da mudança da própria história. Como afi rma Fernández (2012, p. 
13), “[...] os espaços de autoria iniciam onde há o reconhecimento daquilo que se 
é e do que se tem sido e construído ao longo da existência.”
Acreditar no outro, acreditar que é possível o trabalho pedagógico a partir 
do laudo médico, como escreveu Alicia Fernández (2012), não tem nenhuma 
relação com crenças ou ingenuidade. Enquanto acreditamos no outro, 
permitimos a ele a construção do próprio espaço, da própria história e de sua 
modifi cação.
Atividade de Estudos: 
1) A partir dessas refl exões, caro(a) leitor(a), convidamos você 
a escrever sobre aquilo de que se lembra da sala de aula de 
algum ano do ensino fundamental, na qual você conviveu com 
outras crianças que não “aprendiam” ou que apresentavam 
comportamentos diferentes. Como se dava a aprendizagem 
neste grupo? O que era feito com essas crianças?
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O LAUDO E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃOCapítulo 2
Deixamos como sugestão de leitura para você, caro(a) pós-
graduando(a), o livro: “O menino do dedo verde”, de Maurice Druon. Ele 
pode ser lido dia a dia na sala de aula para os alunos pensarem sobre 
as diferenças que existem entre as pessoas. Além de estimular o hábito 
de ler você instiga a refl exão do assunto no grupo.
O livro fala de um menino, o Tistu, muito feliz e criado com muito 
cuidado e atenção pelos pais, que eram donos da maior fábrica de 
canhões do mundo.

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