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A presente aula terá como objetivo verificar algumas questões históricas, visto que, para melhor compreensão ao estudo da execução penal no Brasil, faz-se necessário verificar que, antigamente, o direito era exercido através da lei do talião, ou seja, “olho por olho, dente por dente”, onde, nesta época, as prisões serviam para trancar escravos, prisioneiros de guerra e os transgressores em geral, não com intuito ressocializador, mas vingativo. Ainda, será objeto de análise a compreensão dos princípios da personalidade, da individualidade e da humanização do preso. Para tanto, será necessário trazer o conceito de preso, bem como verificar sua identificação legal. No que tange aos estabelecimentos penais, nesta aula, serão mostrados os seus tipos e para quem é destinado. 1. Aprender sobre a evolução da execução penal pelo mundo, o processo histórico do sistema prisional brasileiro, a essência da lei de execução penal, como também sobre princípios da personalidade, da individualidade e da humanização; 2. Conhecer sobre o preso definitivo e o preso provisório, a identificação penal do preso, os estabelecimentos penais no Brasil e sobre o excesso e o desvio. Nos primórdios da civilização (na Era Antiga), para o exercício do Direito era adotada a lei de talião, que foi a primeira lei penal com base na moral vingativa, onde para as soluções dos conflitos utilizava-se a regra: “Olho por olho, dente por dente”. O encarceramento não era uma forma de pena, pois a privação de liberdade não era tida como sanção penal. Os cárceres (calabouços) serviam para preservar o encarcerado até a execução da pena (morte, marcação de ferro em brasa e mutilações). Na organização social em clãs e grupos, os transgressores eram banidos do seio social e eram denominados “bandidos”. Com o desenvolvimento econômico, cultural e social das sociedades europeias, na Idade Média, pode se dizer que surgiram alguns avanços no sistema prisional da época, pois começou a ser desenvolvida a estrutura da punição por encarceramento como modalidade Execução Penal Aula 1: O surgimento e a estrutura da lei de execução penal e o seu tratamento com o preso definitivo ou provisório Introdução Objetivos A evolução da execução penal pelo mundo de pena privativa de liberdade. Ainda, na Europa, também nesse período, a Igreja retoma o Direito Romano, uma vez que já tinha seus Tribunais e sua Justiça. Foi a partir do Direito Romano que a Igreja desenvolveu locais para cumprimento da pena, onde os transgressores dos códigos religiosos vigentes na época eram encarcerados. Nesses locais, sempre procurou tratar os “penitentes” dentro dos princípios cristãos para que os condenados pudessem se sentir estimulados a ter espírito de penitência, ou seja, voltar-se sobre si mesmo, com atitude de arrependimento, para reconhecer sua conduta inadequada socialmente (seu pecado) e dispor-se a não reincidir. Eram impostos aos condenados “atos de penitência”, tais como oração e martirização do corpo. Esses locais eram chamados de “Penitenciários”. Em razão do desenvolvimento da sociedade industrial, ocorrido na Era Moderna, o Estado passou a implantar normas e legislações de proteção ao patrimônio. A partir desse momento, a punição por encarceramento começa a ser preponderante para preservar e proteger a sociedade dos delinquentes. Por esse motivo foram construídas as “Casas Correcionais”, que posteriormente foram transformadas em prisão. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a criação das Organizações das Nações Unidas (ONU), surgem em vários países legislações tratando da execução penal, pois os fatos horrendos, sobretudo, ligados aos nazistas, ocorridos durante os conflitos, fez eclodir apelos aos direitos humanos. Sendo assim, ocorreu uma redefinição da legislação penal em âmbito mundial focando em questões relevantes às relações humanas exigidas, sobretudo, pela Declaração Universal dos Direitos do Homem elaborada pela ONU em 1948. Autor: freepik/freepik.com Em razão da chegada da Família Imperial ao Brasil, o Estado brasileiro implantou a legislação da punição por encarceramento em 1824. O Código de Leis Portuguesas implantado no Brasil (Ordenações Filipinas do Reino) decretava a colônia como local de moradia para os “degredados”. A pena era aplicada às pessoas que transgredissem a ordem vigente. Foi a Constituição do Império de 1824 que implantou a punição em “Casas de Correção”. Esses locais eram destinados à “correção” da mendicância e da vadiagem. O processo histórico do sistema prisional brasileiro http://pos.estacio.webaula.com.br/cursos/ATU180/aula1/img/01execucaoPenal.jpg As pessoas, independentes de sua idade ou sexo, que fossem flagradas perambulando nas ruas ou cometessem atos considerados e julgados ilícitos seriam recolhidas às “Casas de Correção”. Os pobres, criminosos e os loucos que perambulavam pelas ruas e praças no Rio de Janeiro deveriam ser enclausurados e afastados da cidade “civilizada”. Como não havia prisões suficientes para acolher tanta gente, o Império cuidou de criar um asilo de mendigos inspirados nos presídios europeus. Em 1879, Dom Pedro II inaugurou o “Asylo da Mendicidade”, onde hoje funciona a Escola São Francisco de Assis, situado na Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro. Com o surgimento da República e a entrada em vigor do Código Penal de 1890, foi implantada como punição a pena por prisão em novas modalidades: prisão celular, reclusão com trabalho obrigatório, prisão disciplinar, interdição, suspensão e perda do emprego público. A Primeira Constituição da República (1891) legislou sobre a Justiça Federal e não atingiu o Direito Penal, mas incluiu o processo penal, tendo como resultado uma variedade de princípios e orientações processualistas. Em 1924, com a criação do Conselho Penitenciário, o Brasil passou a dar os primeiros passos para a humanização da pena privativa de liberdade, visto que existiam ações para regulamentar o benefício de livramento condicional e a homogeneização da execução da pena no país. A Constituição de 1934 inaugurou a inclusão da competência da União em legislar sobre as Normas Gerais de Regime Penitenciário. Foi criada a Inspetoria Geral Penitenciária que tinha a competência de aplicar os recursos financeiros provenientes da venda do selo penitenciário em todo o país. Tais recursos deveriam ser aplicados na instalação, conservação e manutenção dos estabelecimentos penais, nas assistências penais, na administração geral penitenciária e na prevenção e repressão criminal. Ainda definindo o rumo da organização dos serviços penitenciários no Brasil, em 1935, foi aprovado o Código Penitenciário da República com o objetivo de organizar o sistema penitenciário. A fase processualista do Direito brasileiro teve início com a entrada em vigor da Constituição de 1937, pois foi dado aos Estados brasileiros autonomia para legislar em matérias que não estavam previstas anteriormente, tais como os dispositivos específicos sobre o regime penitenciário. Pena privativa de liberdade Normas gerais de regime penitenciário A divisão das ações do Direito Penal e do Direito Processual Foi, então, a partir desse período que ocorreu a divisão das ações do Direito Penal e do Direito Processual. Em 1940, foi promulgado o Código Penal Brasileiro e, em 1941, foi promulgado o Código de Processo Penal. No ordenamento jurídico brasileiro, a legislação penal vigente é formada por uma tríade de regras que se complementam, assegurando o pleno Estado Democrático de Direito. Esta tríade é composta: Pelo Código Penal (CP) Pelo Código de Processo Penal (CPP) Pela Lei de Execução Penal. (Lei nº 7.210/1984 - LEP). Em síntese, o Código Penal, de conteúdo substancialmente material, tipifica os crimes, cuida das penas, tendo, porém, a necessidade para sua aplicação a existência de um rito, que é tratado pelo Código de Processo Penal, que cuida de cada etapa (fase processual) até a definição da sentença (de conteúdo absolutório ou condenatório).(CP) Dessa forma, complementando o Código Penale o Código Processual Penal, vem a Lei de Execução Penal (LEP) com objetivo de garantir a eficácia da aplicação penal no caso das sentenças condenatórias. Vencida a fase instrutória (de conhecimento) e julgada procedente a ação penal (total ou parcial), faz-se necessária a execução do título executivo judicial. Em suma, até a condenação do réu, as regras são definidas pelo CP e o CPP. Depois, é a LEP que define, entre outras coisas, como serão os benefícios concedidos aos presos (tríade de regras). A Lei de Execução Penal (LEP) tem como objetivo a efetivação da sentença penal e da reinserção social do condenado ou do internado. É um diploma autônomo que regula o cumprimento das penas impostas aos condenados por sentença penal, estabelecendo a prestação de assistência aos condenados, seus deveres e direitos, a progressão de regime, graça, anistia e indulto. Para a LEP, o apenado é um sujeito social em condições de retorno para a sociedade extramuro prisional; assim, prevê a lei que, durante a etapa de execução da pena, o apenado deve ter assistência integral, inclusive no que se refere à sua condição educacional. Acerca da competência do juiz, esta é tratada no Art. 66 da LEP. Por oportuno, é importante destacar que o juiz da execução penal, de maneira imparcial, deve, durante o desenvolvimento da execução, de ofício, a requerimento das partes ou de outras pessoas legitimadas, cuidar para que o processo siga de forma regular, de modo a ser garantida efetiva participação das partes, com observância do contraditório, do direito de defesa, do direito à prova, tudo com o escopo de que, em um processo justo, seja cumprida a sentença condenatória e possam ser atingidos os fins objetivados pela Lei de Execução Penal. A essência da Lei de Execução Penal Autor: Ekaterina Bolovtsova/pexels.com É importante destacar que a execução penal está sujeita aos princípios e garantias constitucionais, que devem ser observados, tais como: legalidade, jurisdicionalidade, devido processo legal, verdade real, imparcialidade do juiz, igualdade das partes, persuasão racional ou livre convencimento, contraditório e ampla defesa, iniciativa das partes, publicidade, oficialidade e duplo grau de jurisdição. Assinale, ainda, que os três sujeitos principais da relação jurídica na execução penal são: o juiz, o Ministério Público e o condenado. O Ministério Público e o condenado são partes. Como já dito, a sentença penal condenatória transitada em julgado finaliza o processo de conhecimento, transformando-se em título executivo penal; com este título, instaura-se o processo de execução. Assim, para que seja efetivada a execução penal, tem de existir uma sentença criminal que tenha aplicado pena (privativa de liberdade ou não) ou medida de segurança, conforme prevê Art. 1º da LEP. Acerca da expedição da guia de recolhimento, cabe ao juiz da condenação determinar a sua expedição e posterior remessa à Vara de Execução competente. É neste juízo, portanto, onde deverá correr a execução e onde devem ser feitos os pedidos a esta, os quais possam estar relacionados (Art. 107 da LEP). Além disso, ninguém deverá ser recolhido, para cumprimento de pena privativa de liberdade sem a guia expedida pela autoridade judiciária. A guia de recolhimento é um título executivo que viabiliza a execução das penas (Art. 106 LEP). Atenção! A lei de execução penal http://pos.estacio.webaula.com.br/cursos/ATU180/aula1/img/02leiExecucao.jpeg Oportuno se torna dizer que com a última mudança na LEP, trazida pela Lei nº 12.313/2012, a Defensoria Pública foi alçada ao status de órgão de execução, o que significa que, antes de se decidir sobre um processo penal, o juiz terá que ouvir, além do Ministério Público, a defensoria. Pelo princípio da personalidade, também denominado princípio da intranscendência, segundo o qual o processo e a pena, bem como a medida de segurança, não podem ir além da pessoa do autor da infração (Artigo 5º, XLV, da CRFB/88). Pela leitura do Artigo 3º, caput, da LEP, preservam-se todos os direitos do preso. Desse modo, observados os limites jurídicos e constitucionais da pena e da medida de segurança, todos os direitos não atingidos pela sentença criminal permanecem a salvo. Não se pode perder de vista que o preso não só tem deveres a cumprir, mas é sujeito de direitos, que devem ser reconhecidos e amparados pelo Estado, de acordo com o princípio da humanização. É fundamental que se tenha em mente o conhecimento sobre a individualização da pena, que é regra constitucional do Artigo 5º prevista nos incisos XLV e XLVI: XLV: “nenhuma pena passará da pessoa do condenado...”; XLVI: “a lei regulará a individualização da pena...”. Tal regra constitucional é observada em três momentos distintos: 1. O primeiro momento ocorre na cominação da pena, quando esta é elaborada pelo legislador. 2. O segundo momento ocorre quando o julgador aplica a pena no caso concreto. 3. No terceiro momento verifica-se na execução da pena, a cargo do juiz da execução penal. E para nortear a individualização da execução de suas penas, os presos deverão ser classificados e separados de acordo com seus antecedentes e periculosidade, conforme Artigo 5º da LEP: “os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal”. Desse modo, a separação dos presos nos estabelecimentos penais deverá obedecer à seguinte regra: os presos provisórios devem ficar separados dos condenados definitivos, bem como os presos primários devem ser mantidos separados dos reincidentes. O preso é aquele que se encontra recolhido em estabelecimento prisional, cautelarmente ou em razão de sentença penal condenatória com trânsito em julgado. Há duas espécies de preso: Presos definitivos: são aqueles que contam em seu desfavor com sentença penal condenatória transitada em julgado, à qual já não caiba recurso. Princípios da Personalidade, da Individualidade e da Humanização O preso definitivo e o preso provisório Preso provisório (nacional ou estrangeiro): é aquele que foi privado de sua liberdade por força de prisão em flagrante, prisão temporária, prisão preventiva ou por força de sentença condenatória recorrível. Devem, os provisórios, ser mantidos separados dos condenados. É importante ressaltar que os preceitos da Lei de Execução Penal se estendem aos presos provisórios. Em favor do preso provisório, milita o Princípio da Presunção da Inocência (Art. 5º, LVII, CRFB/88), já que inexiste uma formação de culpa concluída, ou seja, uma sentença condenatória transitada em julgado. Pelo mesmo princípio, o preso provisório não tem os seus direitos políticos suspensos, o que só vem a ocorrer com os presos condenados definitivamente. Nos termos do Artigo 5º, LVIII, CRFB/88, a identificação criminal no Brasil encontra amparo constitucional: “o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei”. A Lei nº 9.034/95, no seu Artigo 5º, regulamenta tal hipótese: “A identificação criminal de pessoas envolvidas com a ação praticada por organizações criminosas será realizada independentemente da identificação civil”. É de se verificar, porém, quando cabível, a identificação criminal será realizada pelo processo datiloscópico (coleta de impressões digitais) e fotográfico (Artigo 5º, caput), de maneira a evitar, tanto quanto possível, maior constrangimento ao identificado. Assim, existem três formas de identificação criminal que são permitidas. São elas: Pelo Artigo 3º da Lei nº 12.654/2012, que acrescentou o “Artigo 9º-A” à Lei de Execução Penal, corresponde à submissão compulsória ao fornecimento de material, nos seguintes termos: “Os condenados por crime praticado, dolosamente, com violência de natureza grave contra pessoa, ou por qualquer dos crimes previstos no Artigo 1º da Lei nº 8.072/1990, serão submetidos, obrigatoriamente, à identificação do perfil genético, mediante extração de DNA - ácido desoxirribonucleico, por técnica adequada e indolor”.Então, na fase de execução da pena, já transitada em julgado a sentença penal condenatória, aqueles condenados por crimes dolosos praticados com violência física de natureza grave contra pessoa ou qualquer dos crimes previstos no Artigo 1º da Lei nº 8.072/90 (crime hediondo), serão submetidos a uma nova identificação criminal, agora pelo fornecimento obrigatório de material genético. A Lei nº 12.654/2012 permite que, além do cumprimento da pena de prisão, seja cumprido um novo tipo de pena a cumprir: a pena de identificação biogenética da pessoa, com Atenção! A identificação penal do preso Identificação biogenética repercussões em outras investigações. Não é mansa e pacífica a questão da extração de DNA de forma compulsória no corpo do condenado, ainda que por técnica adequada e indolor, com o intuito de obter a identificação do perfil genético do acusado, que servirá como prova de natureza criminal. É bem verdade que, quando não consentida, essa intervenção no corpo do condenado é providência desaprovada na ordem constitucional vigente. Neste sentido entendem nossos Tribunais: AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL - COLETA DE PERFIL GENÉTICO - Artigo 9º-A DA LEP - OBRIGATORIEDADE - IMPOSSIBILIDADE - MANUTENÇÃO DA DECISÃO DO MAGISTRADO 'A QUO' - NECESSIDADE - RECURSO DESPROVIDO. A coleta do perfil genético de sentenciados, mediante extração de DNA é prevista, de forma obrigatória, pelo Artigo 9º-A da LEP, podendo tais dados ser requisitados pelas autoridades policiais no caso de inquéritos instaurados. Não há como compelir indivíduo a fornecer material que entenda lhe ser desfavorável, sob pena de violação da garantia de não autoincriminação e em obediência ao princípio do ‘nemo tenetur se detegere (Agravo em Execução Penal – 10024057931461002 – TJMG). Como se nota, a intervenção no corpo do acusado somente será reconhecida como prova de natureza criminal se a coleta for precedida de seu livre consentimento, pois ele tem a garantia de não produzir prova contra si mesmo, extraída da melhor interpretação do Artigo 5º, LXIII, da CRFB/88 e do Artigo 8, II, “g”, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Em face da violação do direito de liberdade, intimidade, dignidade humana e intangibilidade corporal, é inconstitucional a disposição legal. É interessante dizer que o réu tem o direito de se defender falando ou não. Ele pode chegar ao Tribunal para depoimento e ficar calado (direito de silêncio), ou seja, não é obrigado a fazer nada que faça prova contra ele. No Brasil, não se permite a extração compulsória do DNA nem mesmo para fins de investigação de paternidade, como se verifica em jurisprudência firmada pelo Supremo Tribunal Federal: “INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE - EXAME DE DNA - CONDUÇÃO DO RÉU DEBAIXO DE VARA" Discrepa, a mais não poder, de garantias constitucionais implícitas e explícitas - preservação da dignidade humana, da intimidade, da intangibilidade do corpo humano, do império da lei e da inexecução da específica e direta de obrigação de fazer - provimento judicial que, em ação civil de investigação de paternidade, implique determinação no sentido de o réu ser conduzido ao laboratório, "debaixo de vara", para coleta do material indispensável à feitura do exame DNA. A recusa resolve-se no plano jurídico-instrumental, consideradas a dogmática, a doutrina e a jurisprudência, no que voltadas ao deslinde das questões ligadas à prova dos fatos” (HC 71373/RS. Rel. Min. Marco Aurélio. Julgamento: 10.11.1994. DJ, 11 nov. 1996). Em apreensão de material genético desprendido (por exemplo, material coletado no local do crime pela perícia como vestígio) do corpo do investigado ou réu (saliva, sangue, tecido Coleta de material genético Atenção! humano) será desnecessário o consentimento de quem quer que seja, conforme prevê o Art. 6º, incisos I, II, III e IV, do CPP). A execução penal é uma atividade complexa da qual participam diretamente dois poderes: O Judiciário, por meios das instituições judiciárias. O Executivo, na administração e na manutenção da estrutura física e humana dos estabelecimentos penais. As administrações das instituições prisionais no Brasil, em sua maioria, estão sob a responsabilidade das Secretarias de Segurança Pública, no âmbito estadual, e o gerenciamento das unidades prisionais é normalmente função da segurança pública. A LEP mantém a autonomia das direções das unidades prisionais e a atuação do Juiz da Execução se faz na fiscalização e no cumprimento dos determinantes legais para o cumprimento da pena. A penitenciária destina-se aos presos com pena de reclusão em regime fechado (Artigo 87, LEP). Sob o enfoque de segurança, a penitenciária se define como estabelecimento de segurança máxima. Na penitenciária para as mulheres, apenas mulheres trabalharão na segurança interna, salvo pessoal técnico especializado e, ainda, serão dotados de berçários, onde as condenadas possam cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo, até os seis meses de idade (Artigo 83, § 2º, LEP). Autor: JCFUL/pixabay.com Os estabelecimentos penais no Brasil Os estabelecimentos penais no Brasil http://pos.estacio.webaula.com.br/cursos/ATU180/aula1/img/10estabelecimentoPenal.jpg Os tipos de estabelecimentos penais destinados ao condenado, ao internado e ao preso provisório são: 1. Penitenciária: Destinada ao condenado à reclusão, a ser cumprida em regime fechado; 2. Colônia agrícola, industrial ou similar: Reservada para a execução da pena de reclusão ou detenção em regime semiaberto (Artigo 91 e 92 LEP); 3. Casa do albergado: Prevista para colher os condenados à pena privativa de liberdade em regime aberto e à pena de limitação de fim de semana (Artigo 93 LEP); 4. Centro de observação: Onde serão realizados os exames gerais e criminológicos; 5. Hospital de custódia e tratamento psiquiátrico: Se destina aos doentes mentais, aos portadores de desenvolvimento mental incompleto ou retardado e aos que manifestam perturbação das faculdades mentais; 6. Cadeia pública: Para onde devem ser remetidos os presos provisórios (prisão em flagrante, prisão temporária ou prisão preventiva) (Artigo 87 e ss. LEP). A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto (Artigo 33, caput, CP). É importante, também, dizer que não se pode modificar o regime inicial de cumprimento da pena pelo juízo da execução, sob pena de violação da coisa julgada (Artigo 5º, XXXVI, CRFB/88). Regime fechado A execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média; Regime semiaberto A execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar. Regime aberto A execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado. Na aplicação dos regimes da pena privativa de liberdade, o regime fechado estará previsto para os seguintes casos: Pena de reclusão Regime fechado condenados a 8 anos ou mais; reincidentes; cumprir a pena em penitenciária; sem trabalho externo; sujeitos a penas disciplinares (RDD). Para reclusão em regime semiaberto, os casos previstos são: primários com pena maior do que 4 e menor do que 8 anos; pode frequentar cursos fora do estabelecimento prisional; reincidentes com pena até 4 anos de reclusão ou detenção; direito a saídas temporárias; regime possível para detento que tenha cumprido 1/6 da pena em regime fechado; cumprimento em colônia agrícola; direito a trabalho externo. Para reclusão em regime aberto, os casos previstos são: para presos que vêm do regime semiaberto; presos com pena inferior a 4 anos; cumprimento em casa de albergado; possíveis o trabalho e o estudo fora; recolhe-se à noite e dias de repouso. Existem penas que devem ser cumpridas inicialmente em regime fechado. É o caso dos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e crimes hediondos (Artigo 2º, §1º, da Lei nº 8.072/1990). A Lei nº 11.464/2007 deu nova redação ao § 1º, Artigo 2º, da Lei nº 8.072/90, que passou a determinar que a pena decorrente de condenação por tais crimes será cumprida inicialmenteem regime fechado, extinguindo o regime integralmente fechado. Em reforço, a mesma lei passou a permitir expressamente a “progressão de regime” no cumprimento de pena decorrente da prática de crime hediondo ou assemelhado. Sempre que na execução da pena ou medida de segurança se constatar algo que vá além do decidido na sentença ou acórdão submetido à execução, de maneira que seja sempre prejudicial ao executado, haverá “excesso”. Regime semiaberto Regime aberto Atenção! Sobre o excesso Pela melhor doutrina, ocorre excesso de execução “quando o sentenciado é submetido a tratamento mais rigoroso do que o fixado na sentença ou determinado pela lei” (Haroldo Caetano da Silva, Manual de execução penal). Como exemplo de excesso, seguem os mais comuns: 1. Submeter o executado a regime mais rigoroso do que aquele a que tem direito em razão do fixado na sentença ou em decisão que concedeu progressão; 2. Manter em cadeia pública ou estabelecimento inadequado aquele a quem se impôs medida de segurança; 3. Submeter o executado a sanção administrativa além do fixado em lei. A ocorrência de “desvio” é a mudança do curso normal da execução. O “desvio” distingue-se do “excesso” na medida em que se revela favorável qualitativamente ao executado, enquanto aquele lhe será danoso. Dentre outras várias hipóteses, também haverá desvio, por exemplo, se for concedido ao executado o benefício da permissão de saída sem estrita observância das regras ditadas pelo Artigo 120 da LEP. De igual forma, também ocorrerá desvio no caso de concessão de saída temporária fora das hipóteses elencadas no Artigo 122 da LEP, ou por prazo superior a 7 dias, ou, ainda que observado esse limite, se for renovado o benefício por mais vezes durante o ano do que autoriza o Artigo 124 da LEP. Ademais, assevera o ilustre jurista Julio Fabbrini Mirabete que: A Lei de Execução penal, impedindo o excesso ou o desvio da execução que possa comprometer a dignidade e a humanidade da execução, torna expressa a extensão de direitos constitucionais aos presos e internos. Para saber mais sobre a Lei de Execução Penal, acesse e leia os textos indicados: Lei de Execução Penal nº 7.210/1984 Clique aqui [http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm] Estudo de caso [../downloads/estudo_de_caso_01.pdf] Sobre o desvio Aprenda mais Exercícios de fixação Questão 1 - No Brasil Imperial, com a finalidade de corrigir a mendicância e a vadiagem, para onde eram destinadas as pessoas que perambulavam pelas ruas? http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm http://pos.estacio.webaula.com.br/cursos/ATU180/downloads/estudo_de_caso_01.pdf Calabouço Casas de correção Albergue Hospício Porão de navio Questão 2 - Após analisar cada uma das questões abaixo, verifique se elas são verdadeiras ou falsas: I. Na Antiguidade, o encarceramento já era um forma de pena, pois a prisão privativa de liberdade era tida como sanção penal. II. Na Idade Média, surgiram alguns avanços no sistema prisional, pois o encarceramento passou a ter caráter de pena. III. Apesar do desenvolvimento da sociedade industrial, na Era Moderna, não surgiram normas e legislações de proteção ao patrimônio. IV. Foi a pArtigor do Direito Romano que a Igreja desenvolveu locais para cumprimento da pena, as denominadas penitenciárias. V. A redefinição da legislação penal em âmbito mundial surgiu após a Primeira Guerra Mundial, baseando-se na Declaração Universal dos Direitos do Homem. F-V-V-F-F F-V-F-F-V V-F-V-V-V F-V-F-V-F V-V-V-F-V Questão 3 - Após analisar cada uma das questões abaixo, verifique se elas são verdadeiras ou falsas: I. Foi com a Constituição da República de 1891 que se implantou no Brasil as Casas de Correção destinadas à correção de mendicância e da vadiagem. II. A primeira Constituição da República de 1891 não legislou sobre a Justiça Federal. III. A fase processualista do Direito brasileiro teve início com a entrada em vigor da Constituição de 1937. IV. Pode-se dizer que, no ordenamento jurídico brasileiro, a legislação penal é composta pela tríade de regras que é composta pelo CP, CPP e a LEP. V. Em 1935 foi aprovado o Código Penitenciário da República com objetivo de organizar o sistema penitenciário. V-F-F-V-V F-F-F-V-F F-F-V-V-V V-V-F-V-F V-F-V-F-V Questão 4 - Quanto a assistência à saúde do preso, analise as afirmações abaixo e assinale a alternativa correta. I. A assistência à saúde do preso e do internado de caráter preventivo e curativo compreenderá exclusivamente o atendimento médico e farmacêutico. II. Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência médica necessária, esta será prestada em outro local, mediante autorização da direção do estabelecimento. III. Será assegurado acompanhamento médico à mulher, principalmente no pré-natal e no pós-pArtigo, extensivo ao recém-nascido. Apenas a afirmação I está incorreta Apenas a afirmação II está incorreta Apenas a afirmação III está incorreta As afirmações II e III estão incorretas As afirmações II e III estão incorretas Questão 5 - A assistência ao egresso consiste. Na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade e na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação, em estabelecimento adequado, pelo prazo de 1 (um) mês. Na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade e na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação, em estabelecimento adequado, pelo prazo de 2 (dois) meses. Na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade e na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação, em estabelecimento adequado, pelo prazo de 3 (três) meses. Na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade e na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação, em estabelecimento adequado, pelo prazo de 6 (seis) meses. Na orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade e na concessão, se necessário, de alojamento e alimentação, em estabelecimento adequado, pelo prazo de 1 (um) ano. Questão 6 - Os presos provisórios devem ficar separados dos condenados definitivos e os presos provisórios separados dos reincidentes. Essa previsão encontra-se no Artigo 5º da LEP, que tem como princípio norteador o... Da oficialidade Da imparcialidade do juiz Da individualização da pena Da publicidade Da legalidade Questão 7 - Assinale, dentre as alternativas abaixo, qual reflete o resultado de sua análise: I. Quanto à identificação penal do preso, hoje existem 3 formas: processo datiloscópico (coleta de impressão digitais), fotográfico e perfil genético (DNA). II. Os presos provisórios serão submetidos à identificação criminal por meio de coleta de perfil genético (DNA). III. Ao condenado em crime doloso, com violência ou grave ameaça contra pessoa, ou por qualquer crime previsto na Lei nº 8.072/90 (Crime Hediondo), obrigatoriamente, será coletado o seu perfil genético. IV. A Lei nº 12.654//2012 prevê a submissão compulsória do condenado por crimes violentos à coleta de seu perfil genético (DNA). Entretanto, há divergências acerca da obrigatoriedade e um dos pontos a favor do preso é a garantia de não se produzir prova contra si mesmo. V. O material genético desprendido do corpo recolhido pela perícia no local do crime, como sangue, cabelo e saliva não necessitará de consentimento para que sirva de prova criminal. V-V-F-F-V V-F-V-V-V F-F-V-V-F F-V-V-V-V V-V-F-V-F Questão 8 - Qual o tipo de estabelecimento penal previsto para os presos provisórios? Colônia agrícola, industrial ou similar Penitenciária Hospital de custódia Cadeia pública Casa do albergado Questão 9 - Na aplicação dos regimes da pena privativa de liberdade, o regime semiaberto estará previsto para os seguintes casos: Reincidente com pena até 4 anos de reclusão ou detenção. Condenados a 8 anos ou mais. Presos com pena inferior a 4 anos. Sujeitos a penas disciplinares do RDD. Cumprimento em casa de albergado. Questão 10 -Analise as assertivas abaixo como verdadeiras (V) ou falsas (F): I. Nos crimeshediondos as penas devem ser cumpridas integralmente em regime fechado. II. Permite-se a progressão de regime no cumprimento de pena decorrente da prática de crime hediondo ou assemelhado. III. Sempre que na execução da pena se constatar algo que vá além do decidido na sentença, haverá “desvio”. Nesta aula, você: Compreendeu as evoluções históricas da Lei de Execução Penal; Compreendeu princípios da personalidade, da individualidade e da humanização do preso. Na próxima aula, você estudará os seguintes assuntos: Controle disciplinar e os direitos e deveres dos presos, a função da pena e sua progressividade; Controle disciplinar do apenado. JÚNIOR, Miguel Reale. Instituições de Direito Penal – Parte Geral. Rio de Janeiro. Forense, 2003. MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. Ed. Saraiva. 2014. MARQUES, José Frederico. Tratado de direito penal. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 17 Ed. v. 1. São Paulo: Atlas, 2001. MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. 9ª Edição. São Paulo: Atlas. NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 2007. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2003. IV. Haverá “desvio” quando ocorrer mudança no curso normal da execução. V. O “desvio” distingue-se do “excesso” na medida em que se revela favorável qualitativamente ao executado. O “excesso” é danoso, por exemplo, ao submeter o executado a regime mais rigoroso do que aquele a que tem direito em razão da sentença. V-V-F-F-V V-F-F-V-V F-V-F-V-V F-V-V-V-F F-V-F-F-F Síntese Próxima aula Referências
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