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Projeto de Iniciação à Docência em Química no Ensino Médio II Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Luciana Borin de Oliveira Revisão Textual: Aline Gonçalves Reflexões sobre Atualidades e o Ensino Médio Reflexões sobre Atualidades e o Ensino Médio • Refletir sobre a docência no Ensino Médio, o mundo do trabalho e o Exame Nacional do Ensino Médio. OBJETIVO DE APRENDIZADO • Introdução; • Qual Química deve ser Ensinada: A do Cotidiano ou para a Cidadania? • Usando Trabalhos para a Reflexão Acerca do Trabalho Docente; • O Mundo do Trabalho e o Enem. UNIDADE Reflexões sobre Atualidades e o Ensino Médio Introdução Atualmente, há disciplinas nas escolas de Ensino Médio que envolvem uma varie- dade de cálculos e intrincadas argumentações, e são consideradas, pelos alunos, dis- ciplinas “pesadas, duras” e desmotivantes. Em geral, os alunos não veem ligação com sua vida cotidiana ou qualquer interesse prático imediato. Comparando essa situação com os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), notamos que os últimos vêm em sentido oposto, afirmando que “a educação deve cumprir um papel triplo na socie- dade, fazendo o entrelaçamento entre os seguintes aspectos: econômico, científico e cultural” (BRASIL, 1999). Segundo o trabalho de Carvalho (2007), a disciplina de Química é uma das que não se apresentam com bom entendimento pelos alunos, pois a consideram muito abstrata, não se correlacionando com seu dia a dia, mostrando-se, aparentemente para ele, inútil. Enquanto o professor não o fizer pensar e entender a ligação da dis- ciplina de Química com a diversidade de substâncias que fazem parte do dia a dia do aluno, este ficará com uma impressão negativa dessa importante ciência. Assim, o professor, ao solicitar que o aluno observe as ligações existentes entre variados pro- dutos de utilização doméstica, industrial ou hospitalar, fará o aluno perceber a gama enorme de possibilidades de interesse prático de materiais ou substâncias advindos da Química. Assim procedem variadas operações e processos, por exemplo, da filtra- ção do café, da catação dos grãos de feijão impróprios para o consumo, da produção da emulsão na maionese e em sua respectiva separação em duas fases quando está muito velha, a extração dos princípios ativos de uma planta na infusão de um chá, na coagulação de proteínas no cozimento de ovos, entre outras operações e processos domésticos dentro de uma cozinha. É interesse do estudo da Química no Ensino Médio proporcionar aos alunos o entendimento das transformações químicas que ocorrem no universo real, seja ele o conjunto de operações e processos químicos de uma cozinha, as transformações bioquímicas em seres vivos, inclusive as dos seres humanos, a produção de alimentos nos cultivos da agricultura ou as transformações químicas na produção de materiais na indústria. Essa visão ampla e integrada da Química cria um interesse maior pelo assunto da disciplina, muitas vezes invocando uma vocação recôndita e latente no âmago estudantil, abrindo portas e janelas profissionais. Outrossim, ao construir conhecimentos em Química e relacionar com seu meio ambiente e cotidiano, os discentes poderão ser capazes de julgar por si mesmos as transformações materiais que ocorrem durante seus afazeres prosaicos, baseando-se não somente em seu aprendizado escolar, mas também na internet, televisão, rádio, revistas e jornais, tornando-se, assim, pessoas integradas ao mundo enquanto indivíduos e cidadãos (BRASIL, 1999). Há uma corrente, entre os educadores, que pensa que a Química gera uma relação de amor ou de ódio à primeira vista com os alunos, de forma que os primeiros con- tatos com a Química na escola é que definirão se o aluno possuirá ou não afinidade com ela. Contudo, podemos imaginar que a evolução do interesse e da paixão ou 8 9 repulsa para qualquer ser humano por um assunto didático não é linear, tampouco previsível. O bom emaranhamento entre os conteúdos teóricos e as experiências didáticas apresentados em salas de aula e/ou laboratórios é de fundamental impor- tância na cativação do interesse do aluno. Contudo, esse interesse pode acontecer nos primeiros contatos ou não. Há muitos exemplos de ex-estudantes que se tor- naram excelentes profissionais da Química que vieram a se interessar pelo assunto tardiamente em suas carreiras. Assim como há a situação oposta, em que pessoas interessadas em Química se voltaram a outra carreira por um objetivo diferente e um prazer maior em exercer sua profissão. Contudo, o ensino da Química no Ensino Médio não é voltado somente para atrair profissionais para a área, mas para dar a preparação aos alunos para o convívio em sociedade, formando pensadores críticos e criativos, isso faz parte das funções da escola. Certamente, um cidadão com bons conhecimentos de Química não vai se arriscar em situações que envolvam perigo, por exemplo, tentar abrir uma pilha alcalina por qualquer motivo. Entretanto, um ensino de boa qualidade é regido, sobremaneira, a custos do tra- balho árduo do grupo de professores que atuam na área dentro da escola. Faz-se mister que estejam motivados a ensinar e a entender o processo de construção do conhecimento por parte dos estudantes e deve haver o compromisso desses profes- sores com todo o processo educacional. É evidente que as boas condições para a execução de um bom trabalho é condição precípua, além de uma remuneração ade- quada pelo professorado. São várias condições básicas que favorecem o desenvolvi- mento de boas práticas pedagógicas de ensino-aprendizagem, com uso de recursos didáticos avançados. Todavia, na maioria das escolas públicas, o ensino de Química não incorpora gran- des preocupações pela criação de uma mentalidade científica no estudante, de forma a ter aplicação em atividades profissionais para as quais o indivíduo possa se dedicar, quer seja na produção de conhecimento (ensino ou pesquisa), quer seja na produção de bens e serviços, pois o ensino de Química é de caráter meramente informativo. Esse cenário requer ações urgentes, pois o atual estado é desanimador e precisa de uma enorme dedicação e esforço dos alunos para que, junto aos professores, possam alcançar o conhecimento. Qual Química deve ser Ensinada: A do Cotidiano ou para a Cidadania? Segundo Flôr e Cassiani (2016), é possível, então, pensar em ensinar Química tendo como enfoque o cotidiano dos estudantes e suas inter-relações com a ciência e a tecnologia. Essa é a conhecida abordagem CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade), que ensina a Química além do aprendizado da mera apreensão e utilização de sua linguagem. Por um lado, o entendimento da linguagem da Química leva o estudante a uma nova forma de pensar o Universo, por outro lado, o conhecimento dessa lin- guagem tem como consequência o posicionamento de como fazê-lo. Ao considerar 9 UNIDADE Reflexões sobre Atualidades e o Ensino Médio os problemas desse lugar, os liames são tecidos e os vínculos e as articulações entre o dia a dia e a Química são criados. Nessa articulação entre o ensino de Química e o dia a dia dos estudantes, pode- mos ter dificuldades em definir o que é esse cotidiano. Uma definição foi dada por Pelissari (1995): [...] é o lugar da vida prenhe de possibilidades e com características co- muns a todos os homens. Nesse sentido, não há quem esteja apartado de um viver cotidiano, que já se apresente constituído historicamente e do qual os homens se apropriam ao nascer através da socialização. A apropriação do mundo faz-se através do cotidiano vivido. O cotidiano não pode ser separado das vivências do aluno, mas totalmente ela- borado por meio delas. Também, não se pode imaginar que ele seja herdado unica- mente pela história pregressa do aluno, pois, deste modo, é como se ele não pudesse mudar sua própria vida. Mikhail Bakhtin discorre a respeito da forma com que a ilusão de um ser acabado imobiliza o aluno: Se eu mesmo sou um ser acabado e se o acontecimento éalgo acabado, não posso viver nem agir: para viver devo estar inacabado, aberto para mim mesmo – pelo menos no que constitui o essencial da minha vida – devo ser para mim mesmo um valor ainda por vir, devo não coincidir com minha própria atualidade. (BAKHTIN apud BRAIT, 1999, p. 284) Essa forma inacabada do ser é inerente a ele e tem consequência em suas ações. Por exemplo, quando se ensina Química, é frequente a utilização do cotidiano dos alunos em livros didáticos interpretando esse cotidiano como se fosse algo pronto, es- tático, sem que necessitasse da participação dos próprios alunos para sua construção. Nesse sentido, algumas aulas de Química seguem as mesmas e repetitivas atividades: observar rótulos de produtos de limpeza e de higiene pessoal, tais como água sani- tária, detergentes, sabonetes, álcool em gel, entre outros produtos. Entende-se que o cotidiano é um bem comum e não algo pessoal, construído a partir de uma vida. O aluno pode, por exemplo, passar o dia todo borrifando agrotóxicos em uma plantação de laranjeiras e nunca ser induzido a olhar o rótulo do produto, ou procu- rar na internet pela sua toxicidade e consequências de uso contínuo. Outros podem residir em condomínios construídos sobre aterros sanitários e não têm ideia do risco que estão correndo, já que o “cotidiano” do livro de Química não vai muito além do rótulo da água sanitária. Mesmo nesse último não é apresentado em rótulos o perigo de tentar remover bolores de paredes caiadas enegrecidas pela umidade com água sanitária. A reação que ocorre desprende o gás cloro, que é altamente tóxico e pode matar pessoas. Sem contar as famílias que, em noites muito frias, recorrem ao carvão dentro de uma latinha ou até na própria churrasqueira portátil acesos dentro do quarto fechado. Isto é cotidiano e não simplesmente um comportamento extre- mamente comum a todas as pessoas. Logo, pode haver grupos que não fazem interações com rótulos de águas sani- tárias ou outros produtos domésticos e cujo cotidiano esteja longe disso. Para estes, 10 11 as questões apresentadas pelos livros podem não ter interesse imediato ou qualquer forma de interesse. Todavia, a forma como são conduzidas as lições é que tem im- portância suprema, pois a criação de interesse do aluno em algo que não lhe inte- ressa é uma habilidade suprema do profissional do ensino, sejam os que compõem os livros didáticos, sejam os que estão em salas de aula. O aprender é uma forma de ampliação do mundo e de conhecer algumas de suas intricadas relações entre suas partes. A “prisão de mentes” é assaz nociva e, obviamente, limitante. Podemos citar o estudo de Lutfi (1988), que conecta o cotidiano e o ensino de Quí- mica no Ensino Médio. O trabalho foi construído em aulas de Química Orgânica no Ensino Médio, entre 1974 e 1981, em São Paulo, Capital. Após o desenvolvimento do trabalho, inferiu-se que as vivências dos alunos no Ensino Médio acabam por influenciar a maneira de atuar quando alguns desses alunos tornam-se professores. Isso parece óbvio e não é difícil concordar com essa visão, já que, se o aluno não possui experiências diferentes das comuns, acaba, por tradição, seguindo a forma clássica de lecionar e, por vezes, tem dificuldade em aceitar novas metodologias de ensino. Ele não consegue adquirir o hábito de duvidar e de perguntar, mas, como afirma Lutfi (1988), se ele conseguir duvidar, “já é um grande passo”. Ele relata que os materiais provenientes dos EUA para o ensino de Química continuam até hoje sendo utilizados nas escolas brasileiras e que tais materiais não levam em considera- ção os diferentes países em que foram utilizados. Em qualquer modernização reflexa, deve-se, em primeiro lugar, observar a adap- tabilidade da inovação. No caso de materiais didáticos ou de metodologias, há de se considerar a existência de interesses de classes sociais, pois, ao se aplicar o material sem levar em conta essas diferenças, pode-se cair no erro de se utilizar um material que serve mais a uma classe do que a outra e acaba por tratar como se fosse um só problema a educação nas mais diversas regiões do mundo. Isso é importante para nos mostrar que a classe dirigente de países pobres sempre escolhe os mes- mos tipos de materiais para o que deve ser ensinado a seus filhos conforme o que é ensinado à classe dirigente de países ricos. Essa é uma cilada que faz aumentar a desigualdade social, uma vez que materiais inadequados destinados à classe mais pobre intensifica a discrepância em relação aos mais ricos para os quais os materiais foram escolhidos adequadamente. Consequentemente, quanto mais se debate o ensino de Química no Ensino Médio, mais é possível notar que é preciso observar a não neutralidade da educação enquanto instituição e, evidentemente, a da Química em particular também. A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação, 1996), assim como os Parâme- tros Curriculares Nacionais (PCN) para o Ensino Médio, ressalta que esse nível de ensino não deve servir única e exclusivamente para a preparação de alunos para os exames vestibulares para o ingresso em instituições de Ensino Superior. Isso inclui a disciplina de Química, o que ressalta haver interesse de que os estudantes venham a contemplar com mais atenção o mundo que os cerca em seus respectivos coti- dianos e que venham a ter uma preparação maior para a construção individual de suas cidadanias. Embora assim seja o adequado, os exames admissionais continuam 11 UNIDADE Reflexões sobre Atualidades e o Ensino Médio existindo na construção clássica, mesmo após a implantação do Enem, com suas questões mais elaboradas, mas ainda avaliando conteúdos apenas, desligados da vivência estudantil. Por conseguinte, é possível observar, de acordo com Lutfi (1988), “que as classes dominantes sabem o que lhes convêm, uma vez que as escolas que seus filhos fre- quentam continuam, muitas vezes, perpetuando currículos que reforçam a manuten- ção do status quo”. Tal afirmação é reforçada na frase: “Currículo é uma questão de saber, poder e identidade” (SILVA, 1999, p. 148). Porém, reconhecemos também que as mudanças na legislação já surtem efeito e vêm aos poucos alterando esse quadro. Uma identidade mais crítica vem permeando exames como o Enem e mesmo alguns vestibulares, levando a mudanças na edu- cação. E, de qualquer forma, é necessário perceber que não são os currículos que devem ser pautados nesses exames, porém, o movimento precisa se dar no sentido contrário: exames pautados nos currículos. As políticas públicas de inclusão social, como a reserva de “cotas” nas universidades públicas, também trazem em seu bojo o estímulo à mudança. Isso porque, tendo em vista que são temas polêmicos, aceleram as discussões a respeito da necessidade de mudanças na educação básica. O artigo de Lutfi (1988) foi interessante nesse sentido, pois tentou observar algu- mas substâncias com as quais, em geral, temos familiaridade, incluindo os alunos, mas que nem sempre nos atentamos aos detalhes de natureza química. Ao colocar seus estudantes a par da natureza química dessas substâncias, foi possível realizar também a ligação desses produtos de natureza química com os interesses econômi- cos e consequências sociais de sua utilização que são envolvidos no processo de pro- dução, armazenamento e consumo. Por meio de leitura e estudo de rótulos, textos e de visitas a supermercados e indústrias com o intuito de estabelecer as conexões entre os citados interesses do produtor. Assim, algumas questões complexas acerca do cotidiano dos alunos foram respondidas, com completo envolvimento de concei- tos de Química e abrindo as cortinas dos intrincados interesses de uma sociedade capitalista de consumo. Para exemplificar, em uma das etapas estudou-se a legislação de alimentos. Lutfi (1988) discorre acerca da proibição, por lei, de uso de aditivos alimentares tóxicos e de valor nutritivo baixo. Todavia, no caso da margarina, levanta-se a questão de se a lei é realmenteaplicada, pois o processo é iniciado com gordura vegetal hi- drogenada (que é uma forma de gordura trans, extremamente prejudicial ao bom funcionamento do coração, pois é o tipo de gordura que mais forma placas que entopem as artérias). Essa gordura é uma massa branca e receberá de 7 a 9 aditivos para ficar parecida com a manteiga, pois é aromatizada com diacetila; é colorida com betacaroteno (o pigmento que dá cor à cenoura); é tratada com BHA e BHT para não rancificar; é engomada para não endurecer e por aí segue até ficar parecida com manteiga. Toda legislação é decorrente dessa é falha, pois está baseada em premissas falsas. O que nela se omite astutamente, é que os aditivos químicos só têm sentido em um sistema econômico que tenha como objetivo a reprodução e a acumulação de capital (LUTFI, 1988, p. 41). 12 13 Encarar o cotidiano de forma analítica, observando, por exemplo, os aditivos alimentícios sob a visão da Química e refletindo acerca das consequências desses aditivos em nossa saúde, ao meio ambiente, pode ser o caminho de novas propostas de olhar o mundo e os seres vivos que nele habitam. Lutfi (1997) faz considerações a respeito de mudanças necessárias ao ensino de Química no Ensino Médio. Essa forma de encarar o ensino da Química, com a inclusão de consequências ao planeta, pode ser considerada a educação em Química. Acerca da maneira como os conte- údos de Química são muitas vezes ensinados, desconectados da vida dos alunos, é destacado que: se pretendemos ser do nosso tempo, precisamos refletir se seguimos essa sequência formal de conteúdos ou se damos o passo e pegamos tudo o que está embaralhado na vivência com os alimentos, as tintas, os tecidos, as embalagens e neles buscamos as substâncias na mediação entre estru- tura e função. (LUTFI, 1997) Logo, é crucial fazer o enredamento ligando os conteúdos de Química e as vi- vências dos alunos durante as aulas de Química no Ensino Médio. Com a ideia de Paulo Freire “de leitura do mundo”, na qual os alunos podem encontrar um ambiente repleto de conhecimentos, mas que, muitas vezes, a própria escola os ignora, Freire (1988) observa que: Uma das tarefas essenciais da escola, como centro de produção sistemática do conhecimento, é trabalhar criticamente a inteligibilidade das coisas e dos fatos e sua comunicabilidade. É imprescindível portanto que a escola instigue constantemente a curiosidade do educando em vez de “amaciá-la” ou “domesticá-la”. É preciso mostrar ao educando que o uso ingênuo da curiosidade altera a sua capacidade de achar e obstaculiza a exatidão do achado. É preciso por outro lado e, sobretudo, que o educando vá assu- mindo o papel de sujeito da produção de sua inteligência do mundo e não apenas de recebedor da que lhe seja transferida pelo professor. (FREIRE, 1988, p. 124) Podemos perguntar: o que se entende por “assumir seu papel na compreensão de sua inteligência do mundo” em aulas de Química? Tal questão passa primeiro pela apropriação dos símbolos, das equações e da linguagem da Química e, depois, formar uma opinião acerca do que ela trata e de suas consequências para o planeta. É um equilíbrio a ser buscado entre o acesso ao conhecimento científico aos alunos, particularmente, ao conhecimento da Química a ser facilitado pelo professor sem, contudo, transformar esse conhecimento em uma visão fria dos fenômenos e da matéria, como se fosse o único olhar a ser lançado sobre eles. Alguns pesquisadores recomendam a utilização de abordagens CTS (Ciência, Tec- nologia e Sociedade), a fim de articular o cotidiano com o conhecimento em Química. Podemos citar um trabalho de pesquisa em que é feita a análise de conteúdo de uma entrevista a professores de Química no Brasil sobre como trabalham propostas visando 13 UNIDADE Reflexões sobre Atualidades e o Ensino Médio à educação para a cidadania. Nesse trabalho, de Santos e Schnetzler (1997), foi reali- zada uma revisão de literatura sobre o movimento social de ensino CTS e ressaltaram a importância da formação para a cidadania e o desenvolvimento de valores éticos no âmbito da Educação em Química. Entre outros pontos, destacam que: [...] o ensino para o cidadão inclui uma compreensão dos produtos e pro- cessos tecnológicos usados pela sociedade contemporânea, assim como um entendimento dos mecanismos sociais existentes de que o cidadão dispõe, ou que deve lutar para conseguir, a fim de transformar a socieda- de em que está inserido. (SANTOS; SCHNETZLER, 1997, p. 101) Participar da sociedade de forma ativa e atuante, o que envolve a tomada de decisões, o questionamento acerca de possíveis irregularidades e a percepção de si enquanto sujeito ativo nessa sociedade, é o objetivo prioritário da educação cidadã. Pelissari (1995) define que a cidadania é “[...] a maneira através da qual os homens materializam sua relação com outros homens e com a sociedade em que vivem” (Idem, p. 143). Há que se ter consciência da amplidão desse conceito, pois envolve diversas es- feras sociais: política, ética, moral, valorativa e aspectos da vida pública e privada. Santos e Schnetzler (1997) discorrem conceitualmente acerca da cidadania e de seu relacionamento com a educação. Alguns pontos levantados foram a formação da cidadania, que pode ser auxiliada pela educação sem ser o único caminho; a cidada- nia deve ser conquistada diante da impossibilidade de sua transmissão e a educação deve ser o principal agente de desenvolvimento individual, promovendo seu interesse pelos assuntos da comunidade, moldando nesse indivíduo uma postura de compro- metimento com a procura comunitária para resolver os problemas existentes. As questões levantadas apoiam-se em uma característica fundamental no processo educacional, a saber, que o estudante deve ser ativo no processo de sua educação e da formação cidadã. Logo, a mobilização dos estudantes e seu estímulo ao desenvol- vimento de um pensamento crítico em relação aos conteúdos e conceitos químicos que aprendem os conduzem para além do desenvolvimento desse ponto, auxiliando- -os a fazê-lo em uma perspectiva transformadora, que permita agir no mundo e mo- dificar suas vivências. Santos e Schnetzler (1997) lembram que essas mudanças na Educação em Química não são simples nem podem ser feitas de forma superficial: Não basta apenas incluir alguns temas sociais ou dinâmicas de simulação ou debates em sala de aula. Não basta apenas provocar determinadas mudanças no processo atual, mas, sobretudo, é necessário que ele passe por uma mudança radical. É preciso ter claro que ensinar para a cidada- nia significa adotar uma nova maneira de encarar a educação, diferen- temente do que se tem feito atualmente no Ensino Médio de química. (SANTOS; SCHNETZLER, 1997, p. 128). 14 15 Usando Trabalhos para a Reflexão Acerca do Trabalho Docente Ao se refletir sobre a docência no Ensino Médio, nada mais interessante do que pesqui- sar utilizando as ferramentas de buscas dispo- níveis na internet acerca do que se publica so- bre o assunto. Os textos trazidos a seguir apresentam refle- xões das mais variadas sobre a docência e suas atribuições, seus objetivos e suas demandas: Em sua pesquisa, “A docência no Ensino Médio: uma reflexão sobre os paradigmas ino- vadores”, 2018, Baleche, Martinelli e Behrens trazem uma reflexão que objetiva contribuir para a formação docente a partir do estudo das influências da conjuntura paradigmática na atuação dos professores do Ensino Médio. Considera-se como elemento problematizador a transição paradigmática na qual a docência revela-se entre o paradigma dominante e o emergente. Percebe-se forte presença das abordagens conservadoras na prática educacio- nal. O estudo e a reflexão sobre a realidade vivenciada pelas autoras permitem inferir que é crucial aos professores conhecer as bases teóricas que permeiam o contexto da chamada crise paradigmática, a fim de se apropriarem dessas discussões e refletirem sobre suas opções metodológicas, em um permanenteprocesso formativo. Leia a pesquisa na íntegra, disponível em: https://bit.ly/3jw4mMt Figura 2 – Criando experiencias Fonte: Getty Images Figura 1 – Papel do professor Fonte: Getty Images 15 UNIDADE Reflexões sobre Atualidades e o Ensino Médio Segundo Alves et al., 2012, em sua pesquisa “Formação docente: reflexão e didática por um ensino de química atrativo”, o ensino de Química está no centro das preocupações de muitos pesquisadores e estudiosos da educação, pois, apesar de sua importância, tem sido considerado, por muitos alunos como complicado, de difícil aprendizagem, enfadonho, por isso mesmo desinteressante. Muitos não conseguem tornar o ensino interessante e buscam soluções em procedimentos didáticos, acreditando que estes trarão a resposta. Esse traba- lho tem como objetivo analisar a importância da reflexão e dos saberes didáticos para a for- mação docente tendo como foco um ensino atrativo e produtor de conhecimento. Trata-se de uma pesquisa de campo, com o uso de entrevista e observação. Os resultados revelam que o exercício da reflexão aliado aos saberes didáticos oferece uma experiência formadora indispensável à construção individual dos saberes profissionais. Leia a pesquisa na íntegra, disponível em: https://bit.ly/2YMuY3J Figura 3 – O despertar do prazer da química Fonte: Getty Images Segundo Grimes, Rausch e Santos, em seu artigo “Desafios da atuação docente no Ensino Médio na contemporaneidade: reflexões a partir dos dizeres de um professor de Biologia”, 2016, ensinar é uma tarefa de enorme complexidade, que requer grande pre- paro e competência. A atuação docente no Ensino Médio perpassa por grandes desafios na contemporaneidade. Desse modo, estabelecemos como objetivo desta pesquisa ana- lisar os dizeres de um professor de Biologia sobre os desafios de sua atuação docente no Ensino Médio, em uma escola pública de Blumenau-SC. Como resultados, percebemos desafios relacionados à formação continuada, abordagem social adequada na escola, pa- pel essencial da mediação e da aprendizagem, uso dos recursos didáticos e estratégias de ensino nas aulas, utilização das tecnologias e seus avanços, necessidade de motivação de professores e estudantes e os sonhos de um docente para um futuro melhor na educação. Figura 4 – O prazer de desvendar a biologia Fonte: Getty Images 16 17 Segundo Krawczyk (2011), em seu artigo “Reflexão sobre alguns desafios do Ensino Mé- dio no Brasil hoje”, a proposta é desenvolver algumas ideias que possam contribuir para o debate sobre o Ensino Médio no Brasil, a partir das condições existentes nas instituições, das políticas educacionais em curso e dos desafios colocados pela realidade social, econômica e política. Discutem-se aqui a importância política, social e econômica da expansão e obri- gatoriedade do Ensino Médio, o caráter cultural da escola e sua relação com a chamada “sociedade do conhecimento”, o papel do Ensino Médio para a juventude, as novas de- mandas para os docentes, entre outros. Leia o artigo na íntegra, disponível em: https://bit.ly/2QFV04l Figura 5 – Refl etindo e avaliando Fonte: Pixabay Segundo Silva e Goi (2017), em seu artigo “Reflexões sobre a prática docente”, o estágio de docência buscou observar e problematizar o ambiente escolar baseando-se em cinco eixos analisados, que são: observação da prática pedagógica, formação inicial e continu- ada, gestão escolar, livro didático e infraestrutura da escola. Nesse trabalho, analisam- -se os dois primeiros eixos supracitados. E os dados são discutidos e analisados a partir dos questionários elaborados sobre os eixos referentes à prática pedagógica e formação inicial e continuada dos docentes observados. Com base nas observações, sinaliza-se a relevância das metodologias de ensino e articulações em sala de aula. Leia o artigo na íntegra, disponível em: https://bit.ly/2GdWhhc Figura 6 – Analisando a prática docente Fonte: Pixabay 17 UNIDADE Reflexões sobre Atualidades e o Ensino Médio A pesquisa “A constituição de saberes pedagógicos no contexto das práticas do- centes de bacharéis: indicativos para reflexão”, de Meira, Santos e Leite, inscreve-se no contexto dos saberes docentes, com ênfase nos saberes pedagógicos de profissionais bacharéis. A questão da pesquisa buscou compreender a constituição dos saberes pedagó- gicos construídos por bacharéis no trabalho cotidiano com estudantes de cursos técnicos integrados ao Ensino Médio. As fontes de constituição dos saberes dos professores possibi- litam que eles produzam conhecimentos, normas de conduta, formas de ser, de aprender e de fazer, por meio de experiências com outros atores sociais, desenvolvendo e ampliando seus processos identitários profissionais como trajetórias não lineares. Leia o artigo na íntegra, disponível em: https://bit.ly/3m8Z1wy Figura 7 – Reflexão dos saberes pedagógicos Fonte: Pixabay Em seu texto “Ensino de inglês e formação de professores: reflexões sobre o con- texto brasileiro”, Menezes (2017) tece reflexões acerca da urgência de que a forma- ção de professores de língua inglesa tenha a escola de ensino regular como espaço formador de fato. Para isso, discutiremos o papel do ensino de línguas estrangeiras no currículo escolar e como o gradativo desprestígio dessas línguas contribuiu para que as escolas fossem vistas como ineficazes para o ensino e aprendizado de línguas. Em seguida, abordaremos a questão da inserção do ensino de línguas em um contexto edu- cacional complexo, que precisa de maior atenção para a formação de professores. Por fim, abordaremos o papel do estágio curricular nessa formação. Nas considerações finais, refor- çamos que a parceria estreita entre a universidade e a escola na formação de professores é essencial para a melhoria da qualidade do ensino de inglês em escolas regulares. Leia o texto na íntegra, disponível em: https://bit.ly/31J6mLh 18 19 Figura 8 – Refl exões e observações Fonte: Pixabay “O estudo do cotidiano escolar na educação profissional: reflexão sobre lutas de clas- ses”, de Casado, Paias e Rodrigues (2019), tem ganhado cada vez mais a atenção da acade- mia como fonte de se entender e compreender o ambiente escolar e suas idiossincrasias. Faz-se natural, então, que pesquisadores, seja individualmente ou em grupos de pesquisa, se interessem em elaborar pesquisas sobre o assunto nos diferentes tipos de ambiente esco- lares que a sociedade apresenta. No presente artigo foram apresentados os principais con- ceitos relacionados ao estudo do cotidiano escolar e que estejam relacionados à educação profissional no Brasil. Como conclusão inicial, observa-se que a educação profissional não possui muitos estudos relacionados na academia, considerando as recentes mudanças na Base Nacional Comum Curricular que alterou significativamente o Ensino Médio e inseriu de vez a educação profissional na vida escolar de milhões de alunos, e percebe-se que compre- ender o cotidiano escolar dessa modalidade é condição indispensável para contribuir com o debate e busca pela qualidade no ensino. Leia o artigo na íntegra, disponível em: https://bit.ly/351QQMP Figura 9 – Novos panoramas Fonte: Pixabay 19 UNIDADE Refl exões sobre Atualidades e o Ensino Médio No artigo “Reflexões acerca do docente como impulsionador das posturas mentais, psicológicas, emocionais e cognitivas no discente”, de Souza e Uggioni, a construção de uma pessoa autônoma no processo de aprender a tornará mais independente no processo de viver, mas é fundamental transformar a prática pedagógica em uma prática mediadora ao mesmo tempo consciente e competente, para que isso não se transforme em uma ação individualista. O trabalho tem por premissa socializar a pesquisa e o estágio desenvolvidos durante o Es- tágio Supervisionado no Ensino Médio. A sequência de ensino foi desenvolvida a partir da aplicabilidade de funções exponenciais na medição do tempo de existência das coisas pela periodicidade da vida atômica e por atividade lúdica de dobradurade papel pelo meio (2x), lei de formação da função exponencial, diferenças entre os gráficos da função linear e da função exponencial e introdução à ideia de função exponencial. Foram realizados atividades e diálogos referentes às propriedades da potência envolvendo: raízes, frações, expoentes negativos e redução a uma só potência. Durante o processo de ensino foram realizadas duas atividades avaliativas e uma atividade de recuperação. Durante a observação, os discentes apresentaram posturas preocupantes quanto ao processo de aprender e viver, tais como: a falta de foco, desídia, hiperatividade, uso excessivo do celular em sala de aula, a trans- versalidade dos temas fundamentados em achismos e a ausência de referenciais éticos e moralmente corretos pela docência e gestores. Diante das constatações, foi gerada uma introspecta frustração que impulsionou um sentimento altruístico e desejoso de mudanças nas posturas e nos pensamentos das pessoas e do ambiente escolar. Segundo estudos, não é a família que ajuda a escola na educação dos filhos, e sim o contrário; reflexiono que o professor de Matemática leciona uma matéria exata num ambiente humano, logo, além de trazer entendimento matemático aos assuntos do plano de ensino, deverá atentar para o mundo humano e estudantil que o cerca, proporcionando libertação em suas ações peda- gógicas ao invés de aprisionamento cognitivo, emocional e psicológico. Leia o artigo na íntegra, disponível em: https://bit.ly/3bb0n5b Figura 10 – O encaminhar de novas posturas Fonte: Pixabay 20 21 O presente artigo “Formação continuada e saberes para a docência no ensino médio integrado”, de Lopes (2019), buscou apreender as contribuições da formação e saberes do- centes no Ensino Médio integrado à educação profissional técnica. Para tanto, realizou-se uma pesquisa de cunho bibliográfico para uma visão mais clara do objeto investigado. À luz do que apontam os autores utilizados no referencial teórico, conclui-se que o contexto escolar é um ambiente fértil para formação continuada de professores do Ensino Médio integrado à educação profissional técnica, para tanto, nela deve-se dar protagonismo ao professor e ser contemplados saberes capazes de desenvolver a competência científico- -reflexiva, buscando uma prática pedagógica integradora. Leia o artigo na íntegra, disponível em: https://bit.ly/3hFUmjc Figura 11 – Em busca de formação continua Fonte: Pixabay Em sua dissertação “Orientação profissional no ensino médio: uma proposta de abor- dagem na perspectiva da pedagogia histórico-crítica”, Santos (2020) teve como obje- tivo identificar como estudantes no Ensino Médio de uma Escola Estadual do interior pau- lista constroem sua formação profissional por meio de uma abordagem fundamentada no método da Pedagogia Histórico-Crítica, caracterizada em cincos momentos: Prática Social Inicial; Problematização; Instrumentalização; Catarse e Prática Social Final. No percurso de delineamento de uma concepção histórica e crítica, os estudantes realizaram os estudos so- bre o tema do trabalho, visitaram fábricas, participaram de grupos de conversas com traba- lhadores e estudantes universitários, com viés no método Materialista Histórico e Dialético que se caracteriza pelo movimento do pensamento. Leia a dissertação na íntegra, disponível em: https://bit.ly/3gRxaNW Figura 12 – Orientação profi ssional, apresentação de saberes Fonte: Pixabay 21 UNIDADE Reflexões sobre Atualidades e o Ensino Médio Segundo Jesus et al. (2019), em seu artigo “Escola da sociedade contemporânea: reflexões sobre as suas novas funções”, as aulas do componente curricular de Sociologia, no Ensino Mé- dio noturno, do Instituto Estadual de Educação Irmão Getúlio (IG), Vacaria, motivaram debates e apontamentos a partir de referenciais teóricos e questões levantadas pela turma, contribuindo para a construção de uma análise reflexiva acerca da escola da sociedade contemporânea e as suas novas funções. Face ao descompasso no atual sistema educacional, buscou-se a análise da identidade da instituição escolar, a fim de compreender os motivos de sua hipertrofia, objeto de manifestações de diferentes segmentos da sociedade. Os apontamentos subsidiaram a constru- ção e consolidação do projeto “A escola da sociedade contemporânea: reflexões sobre as novas funções”, com o objetivo de apresentar os dados levantados em seminário dirigido à comunida- de escolar Irmão Getúlio, com a participação de gestores, professores e alunos dos primeiros, se- gundos e terceiros anos do Ensino Médio noturno e Ensino Médio diurno, na modalidade regular e Magistério. Os argumentos discorrem sobre a ambiguidade entre a ciência e os desafios da instituição escolar no século XXI, frente aos novos papéis sociais atribuídos à escola. Leia o artigo na íntegra, disponível em: https://bit.ly/31IQZlU Figura 13 – Novas funções entre velhos pensamentos Fonte: Pixabay Como docentes, temos a responsabilidade de atualização constante e mais, ainda, devemos ter subsídios para posicionamento e ações junto aos estudantes, da forma como são avaliados nos artigos: • A docência no Ensino Médio: uma reflexão sobre os paradigmas inovadores; • Formação docente: reflexão e didática por um ensino de química atrativo; • Desafios da atuação docente no Ensino Médio na contemporaneidade: reflexões a partir dos dizeres de um professor de biologia; • Reflexão sobre alguns desafios do Ensino Médio no Brasil hoje; • Reflexões sobre a prática docente; • A constituição de saberes pedagógicos no contexto das práticas docentes de bacharéis: indicativos para reflexão; • Ensino de inglês e formação de professores: reflexões sobre o contexto brasileiro; • O estudo do cotidiano escolar na educação profissional: reflexão sobre lutas de classes; 22 23 • Reflexões acerca do docente como impulsionador das posturas mentais, psico- lógicas, emocionais e cognitivas no discente; • Formação continuada e saberes para a docência no Ensino Médio integrado; • Orientação profissional no Ensino Médio: uma proposta de abordagem na perspectiva da pedagogia histórico-crítica; • Escola da sociedade contemporânea: reflexões sobre as suas novas funções. Trazem essa reflexão sobre o momento em que a sociedade vive, as necessidades dos estudantes, as aflições e preocupações dos docentes e a busca incessante da aproximação do estudo e da realidade para aproximação e incentivo dos jovens a buscar e permanecer no contexto da escola, da educação. Cabe ressaltar, ainda, que estamos em um momento de franco crescimento da educação a distância, e o Ensino Médio também está na linha de implementação dessa ferramenta. Esse novo panorama de educação a distância permeia a formação dos docentes, conforme apresentado a seguir: Em seu artigo “Educação a distância: uma realidade na formação docente inicial”, Silva (2019) apresenta a educação brasileira na perspectiva da globalização, incorporou a utilização de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) em diversos setores. Atualmente, encontram-se recursos tecnológicos utilizados na gestão dos sistemas de ensino, no gerencia- mento de aprendizagens e nas ações de muitos professores em sala de aula. Como objetivo geral, propõe-se compreender o papel da modalidade na formação docente inicial em relação aos processos de democratização do acesso ao Ensino Superior. A fim de alcançar essa meta, estabeleceram-se como objetivos específicos: conceituar a educação a distância, relacionar a modalidade com a qualificação profissional dos aspirantes ao magistério e identificar a im- portância da tutoria em cursos de licenciatura na modalidade EaD. Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa, exploratória e bibliográfica a respeito do tema, a fim de sistematizar conhecimentos que possam contribuir com futuras reflexões a respeito da EaD. Leia o artigo na íntegra, disponível em: https://bit.ly/2YQQMvs Figura 14 – Eterno aprender Fonte: Getty Images 23 UNIDADEReflexões sobre Atualidades e o Ensino Médio E chega aos discentes conforme apresentado em “A educação a distância no ensino médio”, de Netto (2019), onde sabe-se que o Ensino Médio é a etapa de conclusão do Ensino Básico, sendo assim, ele se torna um elo entre o Ensino Fundamental e o Ensino Superior. Hoje, algumas instituições de ensino oferecem essa modalidade em EaD simultaneamente com o ensino profissional. No entanto, existem regras que precisam ser seguidas e que estão inseridas na LDBN e fixadas pelo Conselho de Educação. O ensino a distância no Ensino Médio é um tema que tem levantado muitas discussões, para tanto, o presente trabalho tem como objetivo verificar como está ocorrendo a implantação do ensino a distância no Ensino Médio e a visão de professores de escolas públicas no RS em relação a essa modalidade de ensino. A pesquisa foi realizada no contexto escolar, com cinco professores que atuam no Ensino Médio, em diferentes redes (municipal, estadual e particular). Os resultados apontam que, na visão dos professores, a reforma do Ensino Médio é importante, tem bons objetivos, mas apresenta aspectos negativos em relação ao processo ensino-aprendizagem e à realidade dos alunos; que as escolas estão despreparadas quanto à infraestrutura e tecnologia para a implementação dessa reforma e do ensino a distância; que a realidade de muitos alunos não condiz com o que é esperado nesse novo Ensino Médio; que a maioria dos professores não se sente preparada para essa nova modalidade de ensino, e que educação a distância exige muito preparo e planejamento do professor, e uma constante busca por aperfeiçoamento. Por ser um tema complexo, sugere-se que novas pesquisas sejam realizadas. Leia o artigo na íntegra, disponível em: https://bit.ly/34QiiwA Figura 15 – Novas formas de ensino Fonte: Getty Images Essa discussão é interessante e abre muitas ramificações no momento em que estamos discutindo ainda as aberturas de itinerários formativos da nova legislação, adequações a esse panorama e, paralelamente, novas atribuições, como educação a distância. São reflexões que estão longe ainda de chegar a respostas definitivas e cabe à classe docente essa busca incessante de discutir em grupos e apresentar estu- dos de caso para o entendimento desses paradigmas. 24 25 O Mundo do Trabalho e o Enem O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) faz parte da visão de políticas pú- blicas de democratização do Ensino Superior no Brasil, agindo como indicativo de qualidade da educação e ferramenta de acesso ao Ensino Superior. Em sua concepção, o Enem foi criado em 1998 para acompanhar o aprendizado dos estudantes do Ensino Médio; em 2004, passou também a ser utilizado como ferramenta de classificação para o Prouni (Programa Universidade para Todos); em 2009, tornou-se parte do processo de seleção para o Sisu (Sistema de Seleção Uni- ficada); e em 2015 passou também a ser utilizado como parametrizador do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil). O Enem tornou-se um dispositivo com discursos políticos, pedagógicos e de mí- dia com efeitos de posicionamento e abertura de oportunidades para um futuro da educação e dos educandos. Dado o tamanho e as diferenças que o Brasil apresenta em todo seu território, pode-se afirmar que há um perfil de estudante bem alternado ingressando no Ensino Superior, dado por vários fatores, acesso à tecnologia, a idade ao iniciar a graduação, situação familiar, situação profissional, amparo financeiro pela família e a busca de realização pessoal na escolha do curso. Ao se pensar em melhoria constante e contínua, é preciso pensar o ensino-apren- dizagem para um estudante que demanda mais atenção e preparo dos docentes para mantê-los focados nos estudos. Nesses tempos de modernidades a tecnologias facilitadas e disponível para todos, existem muitos atrativos além da sala de aula e formas tradicionais de ensino. O cená- rio que se apresenta é exigente para os docentes e gestores das universidades. 25 UNIDADE Reflexões sobre Atualidades e o Ensino Médio Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura A formação da consciência história dos jovens no ensino médio: reflexões de um projeto promissor ANDRADE, J. A. et al. A formação da consciência história dos jovens no ensino médio: reflexões de um projeto promissor. Educação Básica Revista, v. 4, n. 1, p. 223-232, 2018. Tecnologias Sociais e Educação CTS: reflexões sobre uma prática no ensino médio federal CORRÊA, R. F.; VON LINSINGEN, I. Tecnologias Sociais e Educação CTS: reflexões sobre uma prática no ensino médio federal. VII Esocite (simpósio). Universidade de Brasília, Brasília-DF, 2017. Educação brasileira: reflexões e perspectivas KUPPER, A. Educação brasileira: reflexões e perspectivas. Revista Terra & Cultura: Cadernos de Ensino e Pesquisa, v. 20, n. 39, p. 50-60, 2020. Ensino médio no Brasil: mudanças, propostas e reflexões PEREIRA, D. W.; MARCONDES, O. M. Ensino médio no Brasil: mudanças, propostas e reflexões. Brazilian Journal of Development, v. 5, n. 7, p. 7.944-7.960, 2019. 26 27 Referências BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: do ensino médio. Brasília: Ministério da Educação, 1999. BRAIT, B. A natureza dialógica da linguagem: formas e graus de representação dessa dimensão constitutiva. In: FARACO, C. A.; TEZZA, C.; CASTRO, G. (org.). Diálogos com Bakhtin. 4. ed. Curitiba: Editora UFPR, 2007. v.1. p. 61-80. CARVALHO, H. W. P. et al. 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Educação para a convivência com o Semi-Árido Brasileiro: re- flexões teórico-práticas. Juazeiro: Selo Editorial RESAB, 2004. MENEZES, A. C. S.; ARAUJO, L. M. Currículo, contextualização e complexidade: espaço de interlocução de diferentes saberes. 2013. Disponível em: <https://pt.slideshare. net/euzebioraimundodasilva/artigo-lucinanacelia>. Acesso em: 30/05/2019. PELISSARI, M. A.; SANDOVAL, S. A. M. A condição cidadã: valores éticos na individualidade. Piracicaba: UNIMEP, 1995. PIRES, T. Educaçãoprofissional: a necessária integração curricular. 2013. Dispo- nível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/37-4.pdf>. Acesso em: 12/2018. RODRIGUES, P. C. R. Multiculturalismo: a diversidade cultural na escola. Disserta- ção de mestrado. Escola Superior de Educação João de Deus. Lisboa, 2013. SACRISTÁN, J. C. O currículo uma reflexão sobre a prática. Porto Alegre: Artmed, 2000. SANTOS, W. L.; SCHNETZLER, R. P. Educação em Química: compromisso com a cidadania. Ijuí: Ed. 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