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ANEMIA MEGALOBLÁSTICA AUTOR: PEDRO V.F. MEDRADO - É uma forma de anemia carencial, são mais sintomáticos - Ácido fólico e a vitamina B12 são nutrientes lipossolúveis essencial na formação da tímidina que compõe o DNA. · É mais comum encontrar por deficiência da vitaB12 do que por B9. - O folato (vitamina B9) participa como coenzima em diversas reações envolvendo radicais metálicos e na síntese de purinas - Vitamina B12 é produzida por bactérias no tubo digestivo de animais (bactérias da flora intestinal simbióticas) e são encontradas em alimento de origem animal - O folato é encontrado em vegetais frescos, fígado e frutas - Estoque corporal de vitamina B12 é de 3000mcg, isso permite que nos privemos de tal por um determinado tempo. - O estoque corporal de vitamina B9 é de 5-10 mg, embora a absorção é maior do que a B12 em determinadas situações. - Participam da formação do tubo neural e do desenvolvimento de tecidos, a despeito do tecido hematopoiético. · Ácido fólico antes da gestação FISIOPATOLOGIA - A necessidade diária de vitamina B12 é pequena, cerca de 1-2mcg/dia · Gestante 3mcg/dia · Lactante 2,5mcg/dia · Temos uma produção comensal dessa vitamina, além de atuar como uma coenzima ou cofator nos processos metabólicos. - Absorção da vitamina B12 (cianocobalamina) · Estímulos olfatórios e estimulo da fome · Estímulos -> Receptores estimulam a proteína R (hepatocorrina) presente nas glândulas salivares (“água na boca”) · A heptocorrina também pode ser produzida por células parietais do fundo e corpo gástrico. · Essas proteínas R produzidas pelas glândulas salivares vão se ligar a cianocobalamina, garantindo a integridade dessa estrutura lipossolúvel no pH ácido do estômago, para que não seja absorvida. · O Fe é absorvido no intestino proximal, enquanto que a vitamina B12 somente no intestino distal, e durante todo o trajeto, essa vitamina precisa ser “preservada”. · A cianocobalamina chega a primeira porção do duodeno (transição para um pH básico), desfazendo as ligações entre a cianocobalamina e a hepatocorrina, ficando tal livre no lúmen intestinal. · Essa cianocobalamina não pode ficar disperso pelo lúmen, então se liga ao Fator Intrínseco (FI) produzido pelas células parietais do estômago, que o segue até o íleo distal. · No íleo distal, o FI interage com um receptor da borda escovada do epitélio intestinal chamado cubilina, que garante a entrada da cianocobalamina na célula epitelial. · Essa vitamina, atravessa a célula epitelial até atingir o soro e circulação sanguínea, e para isso precisa de uma proteína transportadora, que é a Transcobalamina. · A transcobalamina é a transportadora da vitamina B12 na circulação sanguínea. · Há duas transcobalamina, a tipo I e a tipo II · Transcobalamina tipo I se liga a cianocobalamina com forças de ligações fortes, de modo dificulta sua distribuição da B12 aos tecidos e sua metabolização. · Transcobalamina tipo II se liga com baixas forças de ligação e adesão, e baixa avidez, e tem a tendência de liberar com facilidade a B12 aos tecidos. - As dosagens de vitamina são feitas associada a uma proteína ligadora – então a dosagem é majoritariamente da transcobalamina tipo I. · A Transcobalamina tipo I carreia cerca de 80% da B12 · A que mais carreia é a que menos oferta B12 aos tecidos, o que não importa do ponto de vista prático, pois não permite a ação intracelular dessa vitamina. · A Transcobalamina tipo II carreia cerca de 20% da B12 · Erro de dosagem – exemplo: Paciente com quadro clínico muito sugestivo de anemia megaloblástica, com uma anemia macrocítica, e a dosagem de B12 normal. · Duas coisas podem ocorrer: erro pré-analítico do laboratório, OU: · Excesso de Transcobalamina tipo I (inativo aos tecidos) e deficiência da Transcobalamina tipo II (ativo aos tecidos), o efeito biológico da B12 deficitário o que justificaria o quadro clínico, e o excesso de Transcobalamina I eleva a dosagem a B12. · Uma hipovitaminose laboratorial não significa em uma hipovitaminose intracelular (transcobalamina tipo II), se não tem sintomatologia. - Metionina sintase – executa a função de conversão da homocisteína em metionina · Tanto a deficiência de vitamina B12, quanto vitamina B9, terei uma incapacidade de converter a homocisteína em metionina – Homocisteinemia. - Vitamina B6 (piridoxina) – conversão da homocisteína em cisteína · Deficiência da vitamina B6, terei uma Homocisteinemia, junto com a deficiência de B9 e B12, são importantes causa de hiperhomocisteinemia. - Ácido fólico · Necessidade diária de 50mcg na criança e 400mcg no adulto · Quantidade mínima recomendada na dieta de adulto de 400mcg/dia, gestante 800mcg/dia e lactente 600mcg/dia - Absorção intestinal do ácido fólico · É muito mais simples de absorção, que se dá no intestino proximal, na área próxima à absorção do Fe (próximo do duodeno). · Folato poliglutamato adquirido na dieta (legumes) é transformado em monômeros que serão absorvidos pelos receptores carreadores de folato. · A enzima folato desconjugase realiza a clivagem do complexo folato poliglutamato. - Ciclo das pentoses – metionina · Coenzimas – Folato e Vitamina B12 · Deficiência de vitamina B6 (piridoxina) pode gerar a anemia sideroblástica, com duas apresentações micro ou macrocística (síndrome mielodisplásica). · Vitamina B12 – reações mitocondriais de produção de energia intracelular · Deficiência da B12 pode gerar um aumento do ácido metilmalônico – algo que não acontece com a deficiência de ácido fólico ou vitamina B6, é algo específico da B12. - Ciclo celular · Fase G1 – multiplicação da maquinaria celular, fuso mitótico e toda estrutura responsável pela preparação da divisão da célula. · Aumento de tamanho – macrocitose · Fase S – multiplicação do conteúdo genético da célula · Interrupção pela ausência das bases nitrogenadas – não consegue completar a fase de divisão pré-mitose. · Vias de sinalização pró-apoptótica – morte celular – hematopoiese extracelular/intracelular (se comporta como uma anemia hemolítica) ou eritropoiese ineficaz (assim dito pelo professor). - Caracteristicamente – Megaloblastose e tetraploidia (hipersegmentação nuclear, ou pleocariocitose ou desvio à direita) QUADRO CLÍNICO - Adinamia, queda de cabelo, unhas quebradiças, perda de memória, predisposição a infecções, demência - Neuropatia: parestesia de pés, pernas e troncos, distúrbios motores, redução da sensibilidade vibratória, marcha atáxica, dor na língua (déficit vitamina B12) · Não estão diretamente relacionados com a gravidade da anemia, não há uma linearidade · Degeneração combinada subaguda da medula espinhal · Desmineralização do SNC, especialmente nos cornos medulares, a destacar o corno posterior, mas posso ter do corno anterior e lateral. · Carência de metionina pelo bloqueio da reação de homocisteína-metionina via vitamina B12 - Pacientes com hiperhomocisteinemia possuem um estado pró-trombótico - Discreta visceromegalia – esplenomegalia - Língua “careca” - Defeitos no tubo neural - Citopenias com megaloblastose e pleocariócitos. - Esfregaço · Hipersegmentação ou pleocariocitose ou desvio à direita – pelo menos 1 neutrófilo mais 6 ou mais segmentos, ou 5% das células com pelo menos 5 segmentos. · Núcleo em salame – eritropoiese ineficaz ou displasia medular ou megaloblastose · Bastão gigante – betamielócito ou célula de Tempka-Braun – quase que patognomônico da anemia megaloblástica. - Fenômeno da eritropoiese ineficaz ETIOLOGIAS - Déficit de vitamina B12 · Dieta – com menos frequência nos últimos tempos · Absorção · Anemia perniciosa – a mais importante · Senilidade – interfere a produção de FI · Doença do íleo terminal – doença celíaca, espru, enterite regional e ressecção íleal · Drogas – colchicina, colestiramina e neomicina · Síndrome da alça cega – Imerlund-Grasbeck - Doença da tênia do peixe – Dfilobotríase (não é comum no Brasil) - Déficit de ácido fólico · Dieta · Absorção – doenças intestinais, drogas (difenil-hidantoína, primidona, carbamazepina e fenobarbital) · Transporte e metabolismo – drogas que inibem o diidrofolatoredutase (antineoplásicos, sulfas, pirimetamina e trimetoprim) · Aumento das necessidades – anemias hemolíticas, como a anemia falciforme que costumeiramente é feito o ácido fólico de rotina · Erros inatos do metabolismo - Causas de vita B12 baixa · Anemia megaloblástica · Mieloma múltiplo – cerca de 30% tem · HIV · Gravidez · Anticoncepcional oral - Causas de vita B12 alta · Neoplasias mieloproliferativas · Insuficiência renal · Tumor sólido · Hepatopatia alcoólica - Causas de homocisteína alta – causa de trombose tanto venosa quanto arterial · Anemia megaloblástica · Deficiência de piridoxina · Insuficiência renal · Hipovolemia · Hiporiteoidismo · Psoríase · Tumores/doenças neurodegenerativas · Medicações metrotrexate, fenitoína, hidroclorotiazida e levodopa - Causa de aumento do ácido metilmalônico · Anemia megaloblástica · Insuficiência renal · Hipovolemia · Doenças metabólicas congênitas – acidúria metilmalônica · ELA ANEMIA PERNICIOSA (“pernicium – nocivo”) - É a forma mais comum de anemia megaloblástica por carência de vitamina B12 - Descrita pela primeira vez por Thomas Addison em 1855 – doença de alta mortalidade - Prêmio Nobel em Medicina em 1934 – terapia para anemia megaloblástica a base de fígado, redução da taxa de mortalidade. - William B. Castle – descreveu a presença do Fator Intrínseco na fisiopatologia do quadro - Autoanticorpo contra a própria célula parietal (Ag anti-célula parietal) quanto pelo fator intrínseco (Ag anti-FI) · Incapacidade de absorção da vita B12 no íleo distal - A anemia perniciosa tem uma frequência de 0,25-0,5 casos/1000 pessoas na sétima década de vida. · O relato de ocorrência maior em brancos, descendentes de escandinavos e descentes do noroeste europeu. · Aumento após os 40 anos – crescente na população idosa - A anemia perniciosa gera a anemia ferropriva? · Anemia perniciosa gerada a partir de uma gastrite autoimune por alteração do pH (destruição das células parietais) do meio que interfere na absorção do Fe. E anos depois da destruição das células parietais pela gastrite autoimune, temos uma anemia perniciosa por deficiência da absorção da vitamina B12 por perda do Fator Intrínseco. A anemia ferropriva costuma vir 20-30 anos da anemia perniciosa nesses casos de gastrite autoimune, não porque a ferropriva gerou uma perniciosa, mas porque o quadro precede. · Paciente com anemia ferropriva inexplicável deve ser investigado para gastrite autoimune e anemia perniciosa. - Manifestações gerais · Anemia macrocítica · Pode ou não ter uma pancitopenia · Anemia normocítica – não preciso ter uma anemia macrocítica para pensar em anemia megaloblástica · Microangiopatia pseudotrombótica – lise celular causa a angiopatia, e o estado trombótico pela elevação da homocisteína. · Neuropatia periférica – mãos e pés, ascendente, se formigamento · Cuidado com as reposições combinadas de ácido fólico e vitamina B12, pois o ácido fólico tende a acelerar o metabolismo celular, vai faltar B12 por esgotamento e aumento de metabólicos como o ácido metilmalônico. Então, embora eu melhore a anemia, eu pioro o quadro neurológico, tanto pelo esgotamento da B12, quanto pelo acúmulo de ácido metilmalônico que causa desmielinização e piora dos sintomas neurológicos. · Se você tiver um paciente, e precisar dar ácido fólico, antes de tudo garanta a boa absorção de vitamina B12. · Neuropatia óptica · Manifestações neuropsiquiátricas · Disfunções autoimunes · Condições autoimunes associadas – Tireoidite de Hashimoto, Doença de Graves, Hipoparatireoidismo primário, Doença de Addison e demais. - Na deficiência da vitaB12 terei a elevação do MMA e da homocisteína, na deficiência do ácido fólico (vitaB9) terei a elevação apenas da homocisteína. Exames - Laboratório · Anemia macrocítica, leucopenia e plaquetopenia · Aumento do DHL (eritropoiese ineficaz) – é uma enzima intracelular, um marcador de hemólise, embora não seja uma anemia hemolítica (regenerativa ou hiperproliferativa), mas eleva pelo fenômeno da eritropoiese ineficaz. · Anemias regenerativas – desvio à esquerda, contagem de reticulócitos (>100.000) · Anemias aregenerativas – a megaloblástica não é regenerativa, se estiver na dúvida se é uma hemolítica ou megaloblástica, usa o reticulócito para diferencial. · Embora nem todo paciente com anemia hemolítica é regenerativa (tem reticulocitose), se ele tiver uma anemia ferropriva associado (ou anemias carenciais concomitante ao quadro hemolítico), o reticulócito é baixo, pois é incapaz de responder a lise celular. Todavia, por definição seja regenerativa. · Outra situação e reticulócito não alto em anemia hemolítica é o hiperesplenismo. · 1/3 de todas as anemias hemolíticas não se flagra o estado hiperproliferativo. · Aumento das bilirrubinas · Aumento da homocisteína e ácido metil-malônico – def vita B12 · Aumento da homocisteína – def vita B12 e ácido fólico Tratamento - Reposição da vitamina B12 e/ou ácido fólico - Anemia perniciosa qual o tratamento de escolha IM ou VO? · Embora a vitaB12 IM seja a posologia e a prescrição mais realizada para as hipovitaminoses B12, a vitamina B12 IM NÃO É superior a VO e virse-versa. · Tanto IM quanto VO, consigo tratar do mesmo modo, não importa. · Embora o FI seja imprescindível para absorção da vita B12, ele não é a única via, pois cerca de 1% das absorções da vitaB12 ocorre independente do FI (absorção independente de FI). · O comprimido disponível no mercado de vitaB12 é de 5000 mcg, 1% disso corresponde a 50 mcg, considerando a necessidade diária de vitaB12 em um indivíduo de 1-2mcg/dia. Mesmo 20x essa necessidade, ainda assim o comprimido atinge seu objetivo. - Em que situação a reposição de vitamina B12 IM é obrigatória? · Em uma única situação – nos pacientes com sintomas neurológicos, pelo simples fato da reposição por vitaB12 IM levar a um pico sérico de vitamina mais rápido do que a formulação VO. - Última dica – atualmente temos uma apresentação via SL, a Dozemast que é um metabólito da vita B12 chamado mecobalamina uma formulação de absorção direta na circulação sanguínea. · Não há estudos que compare a SL versus IM, mas muito provavelmente a apresentação SL vai suplantar a necessidade de vitamina parenteral, inclusiva em paciente com sintoma neurológico.
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