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MÓDULO 24 - EMERGÊNCIAS Júlia Loureiro TUTORIA 6 1. TOXEMIA GRAVÍDICA ▪ A toxemia da gravidez é uma condição médica grave que pode ocorrer nas últimas semanas da gravidez. ▪ O termo toxemia não é bem adequado e vem do tempo em que se pensava que essa condição fosse causada por substâncias tóxicas (venenosas) no sangue. ▪ É mais correto chamar a doença de pré- eclâmpsia, antes da fase convulsiva, e eclâmpsia, mais tarde. 2. DOENÇA HIPERTENSIVA ESPECÍFICA DA GESTAÇÃO (DHEG) ▪ A doença hipertensiva específica da gestação (DHEG) é uma das complicações mais frequentes da gravidez. ▪ Embora a evolução seja favorável nas pacientes com formas leves da doença, as formas graves (com eclâmpsia e síndrome HELLP*) constituem importante causa de morbimortalidade e perinatal. ▪ A ocorrência de DHEG é um fator preditor de eventos cardiovasculares futuros na mulher e também repercussões fetais na origem da doença cardiovascular do adulto. ❖ Epidemiologia ▪ As doenças hipertensivas complicam até 10% das gestações. ▪ A prevalência da pré-eclâmpsia) é de 5 a 8%. ▪ Há grande variedade nos dados da literatura, o que se deve à falta de consenso sobre os critérios diagnósticos. ▪ Em nulíparas, varia de 3 a 7% e em multíparas, de 0,8 a 5%. ▪ Em gestações múltiplas foi observada a incidência de 18%. ▪ Em pacientes com antecedente de DHEG em gestações pregressas, foi observada a recorrência em 14 a 39%. ▪ O aumento da prevalência de obesidade, tem sido relacionada ou aumento da prevalência de DHEG. ❖ Morbimortalidade materna e fetal ▪ Segundo a OMS, a hipertensão é responsável por 14% dos óbitos maternos no mundo. ▪ No Brasil, a hipertensão arterial é a principal causa de morte durante o ciclo gravídico- puerperal, em 22,5% dos casos. ▪ As formas graves determinam mais mortes maternas em mulheres com menos de 30 anos. ▪ A morbidade grave associada à pré- eclâmpsia e à eclâmpsia, que pode determinar a morte, inclui insuficiência renal, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca, edema agudo de pulmão, coagulopatia e insuficiência hepática. ▪ As complicações fetais e neonatais resultam da hipoperfusão placentária e da frequente necessidade de parto prematuro - restrição do crescimento e oligoâmnio, parto prematuro espontâneo ou induzido. ▪ 12% e 25% dos casos de restrição do crescimento fetal e pequenos para a idade gestacional, bem como entre 15% e 20% dos partos prematuros, são atribuíveis à pré- eclâmpsia. ❖ Fatores de risco ▪ Nuliparidade: a maioria dos casos (75%) ocorre em mulheres nulíparas. o A DHEG é mais comumente observada em pacientes com hipertensão arterial pré-gravídica ou quando há troca de parceiro. ▪ Idade materna: maior distribuição de casos de DHEG nos extremos reprodutivos da vida da mulher, ou seja, abaixo dos 18 e acima dos 40 anos. ▪ História familiar de DHEG: predisposição hereditária. ▪ Obesidade: quanto maior o índice de massa corporal (IMC) pré-gestacional, maior o risco de DHEG. ▪ Gestação múltipla: o risco aumenta com o número de fetos, a incidência de DHEG é de até 30% na gestação múltipla e ainda tende a ocorrer mais em idades gestacionais mais precoces. http://www.abc.med.br/p/gravidez/329460/quais+as+diferencas+entre+pre+eclampsia+e+eclampsia.htm http://www.abc.med.br/p/gravidez/329460/quais+as+diferencas+entre+pre+eclampsia+e+eclampsia.htm http://www.abc.med.br/p/gravidez/329460/quais+as+diferencas+entre+pre+eclampsia+e+eclampsia.htm Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar ▪ Doença trofoblástica gestacional: a DHEG está presente com maior frequência nos casos de doença trofoblástica gestacional e está associada a idades gestacionais precoces, sendo a única situação em que a DHEG pode se manifestar antes de 20 semanas. o Na presença de feto hidrópico, como na aloimuniza-ção Rh, a incidência de DHEG é de aproximadamente 50%. ▪ DHEG em gestação pregressa: a incidência de DHEG e das formas graves da doença, é maior nas mulheres que desenvolveram DHEG em gestação anterior. o A morbidade perinatal é maior e nesse caso, gestantes com história prévia de DHEG merecem atenção especial em nova gestação. o A gravidade da pré-eclâmpsia afeta fortemente esse risco, quando maior a gravidade da DHEG anterior, maior o risco de ocorrer em uma nova gestação. ▪ Hipertensão arterial sistêmica prévia à gestação: a hipertensão arterial essencial favorece a instalação da DHEG. ▪ Diabetes mellitus prévio à gestação: a incidência de DHEG em pacientes com diabetes pré-gestacional é de 20% e pode ser maior, quanto maior a duração do diabetes e quanto maior o comprometimento vascular e/ou renal. o Esse aumento de risco é relacionado a doença renal ou vascular subjacente, aumento da concentração plasmática de insulina e/ou da resistência à insulina e metabolismo lipídico anormal. ▪ Doença renal: o risco depende do grau de redução da taxa de filtração glomerular e da presença ou ausência de hipertensão arterial 0 cerca de 40% a 60% das gestantes com doença renal crônica avançada (estágios 3, 4 e 5) desenvolveram pré-eclâmpsia. ▪ Doenças do colágeno: especialmente, o lúpus eritematoso sistêmico. ▪ Trombofilias (síndrome dos anticorpos antifosfolípides): estudos mais recentes não conseguiram comprovar relação com as trombofilias hereditárias ou com a síndrome antifos-folípide (trombofilia adquirida) e a DHEG. ▪ Nível socioeconômico desfavorável: não há evidências de que a pré-eclâmpsia leve apresente correlação com o nível socioeconômico, mas a eclâmpsia e a síndrome HELLP são mais frequentes nas camadas socioeconômicas menos favorecidas. o A falta de assistência pré-natal ou assistência precária impedem o reconhecimento dos fatores de risco e propiciam a evolução das formas leves para formas mais graves de DHEG. o Estresse biopsicossocial, pré-natal deficiente). ❖ Etiologias – teorias ▪ A etiologia da DHEG permanece desconhecida, o que impede que se atue na prevenção do seu desenvolvimento (prevenção primária). ▪ Existem muitas teorias aceitas. Deficiência da invasão trofoblástica: ▪ A presença da DHEG, mesmo em situações nas quais não exista feto (como nas moléstias trofoblásticas gestacionais), e o fato de a retirada da placenta iniciar o processo de resolução da doença, com melhora dos sintomas, sugere que a placenta tenha papel de destaque na patogênese. ▪ No primeiro trimestre, ocorre a primeira onda de invasão do trofoblasto, que atinge os vasos da decídua. ▪ A placentação normal completa-se com a invasão da camada muscular média das artérias espiraladas do endométrio pelo sinciciotrofoblasto até aproximadamente o final da 20ª semana, diminuindo a resistência vascular e aumentando o fluxo sanguíneo placentário. ▪ A placenta é um órgão extremamente vascularizado, que permite as trocas materno-fetais. ▪ Embora a segunda onda tenha sido mais valorizada, é pouco provável que a primeira ondaseja normal, considerando-se as alterações nos vasos deciduais. ▪ Na DHEG, ocorre invasão inadequada do trofoblasto intravascular, impedindo as mudanças fisiológicas normais, Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar principalmente das artérias miometriais, o que resulta na diminuição do fluxo uteroplacentário, levando à diminuição da oxigenação fetal. ▪ As artérias espiraladas não modificadas pela invasão deficiente do trofoblasto intravascular mantêm a camada muscular média com diâmetro menor e alta resistência. o Implantação placentária normal mostra a proliferação dos trofoblastos extravilosos a partir de uma vilosidade-tronco, eles invadem as decíduas e se estendem para dentro das paredes da arteríola espiralada a fim de substituir o endotélio e a parede muscular para criar um vaso dilatado de baixa resistência. o Na pré-eclâmpsia, há implantação defeituosa caracterizada por invasão incompleta da parede arteriolar espiralada por trofoblastos extravilosos, isso resulta em um vaso de pequeno calibre com alta resistência ao fluxo. ▪ Também podem surgir alterações ateromatosas na parede dos vasos. o Ocorre dano endotelial, insudação dos constituintes plasmáticos nas paredes vasculares, proliferação das células miointimais e necrose medial, com deposição de lipídeos nas células miointimais e, em seguida, dentro dos macrófagos. ▪ O resultado final é a redução do fluxo sanguíneo no espaço interviloso, com alteração na perfusão placentária – resultando em ativação endotelial seguida de: o Vasoespasmo (responsável pela ocorrência de hipertensão arterial, oligúria e convulsões). o Aumento da permeabilidade capilar (responsável pela ocorrência de edema, proteinúria e hemoconcentração). o Ativação da coagulação (responsável pela plaquetopenia). Fatores imunológicos: ▪ A falta de tolerância entre os tecidos maternos e fetais é responsável pela resposta inflamatória exacerbada que impede a placentação adequada. ▪ Os possíveis mecanismos incluem o excesso de carga antigênica fetal, a ausência de anticorpos bloqueadores que teriam um efeito protetor contra a imunidade celular materna, a ativação de polimorfonucleares e do complemento, além da liberação de citocinas citotóxicas e interleucinas. ▪ O desequilíbrio entre a quantidade dos dois tipos de linfóci-tos T, com predomínio dos linfócitos T helper 2 (Th2) em relação aos linfócitos T helper 1 (Th1 produtores de citocinas) pode favorecer a instalação da DHEG15. ▪ Explica o fato de essa doença ser mais comum na nulípara do que na multípara. ▪ Quando há troca de parceiro, sua incidência aumenta - a exposição prévia a um mesmo antígeno paterno tem efeito protetor e um antígeno diferente apresente efeito contrário. Lesão endotelial e alterações inflamatórias: ▪ Embora a pré-eclâmpsia pareça se originar na placenta, o tecido mais afetado é o endotélio vascular. ▪ A prevenção da coagulação sanguínea (impede a formação de trombos), o controle do tônus vascular (produz substâncias vasoativas que podem ser vasodilatadoras ou vasoconstritoras) e a mediação de trocas Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar entre os espaços intra e extravascular (facilitando ou regulando a passagem de determinadas substâncias) são funções de endotélio, que se encontram alteradas na DHEG. ▪ Na lesão endotelial, a produção de substâncias vasodilatadoras (prostaciclina e óxido nítrico) diminui, resultando em aumento da vasoconstrição e aumento da resistência placentária – isso faz com que o endotélio responda aumentando a liberação de citocinas e prostaglandinas pró- inflamatórias pela placenta, entrando em estresse oxidativo (com produção de ânion superóxido), resultando em aumento na permeabilidade capilar. ▪ Além de a célula endotelial perder suas funções normais, passa a expressar novas funções, produzindo substâncias vasoconstritoras, como endotelina e fatores pró-coagulantes (fator ativador XII e fator tecidual). ▪ As lesões ateromatosas vasculares também podem ser resultado do estresse oxidativo. ▪ A mudança na permeabilidade vascular endotelial é a responsável pelo extravasamento de proteínas sanguíneas para o terceiro espaço (mecanismo responsável pelo aparecimento de proteinúria). ▪ A pressão coloidosmótica do capilar fica diminuída, o que promove também a diminuição do retorno do líquido extravasado, levando a perda de líquido para o terceiro espaço (edema) e hemoconcentração. Predisposição genética: ▪ Envolvimento genético na DHEG - filhas de mães com pré-eclâmpsia têm maior incidência da doença. ▪ O mecanismo exato da herança ainda é desconhecido. Fatores nutricionais ▪ Além das causas incontroláveis, fatores ambientais podem aumentar a chance da instalação da DHEG. Estresse: ▪ Estudos demonstram que o risco relativo de DHEG é maior em situações de estresse. ▪ O estresse é importante fator no aumento isolado da pressão arterial e interfere no sistema imunológico, facilitando a deposição de imunocomplexos, dificultando a placentação normal. Fatores ligados à angiogênese: ▪ Diversos estudos identificaram níveis altos de sFlt1 (soluble FMS-like tyrosine kinase 1) na placenta e no soro de pacientes com pré-eclâmpsia. ▪ O sFlt1 é uma proteína solúvel que exerce atividade anti-angiogênica ligando-se aos fatores angiogênicos (VEGF – vascular endotelial growth factor e PlGF – placental growth factor), impedindo sua atividade biológica. ▪ Os fatores angiogênicos (VEGF e PlGF) ligam-se aos receptores Flt1 na membrana endotelial, permitindo sua sinalização para o desenvolvimento da homeostase vascular na gestação normal. ▪ Nas pacientes com pré-eclâmpsia, a forma solúvel sFlt1 liga-se aos angiogênicos circulantes, não permitindo sua sinalização a partir dos receptores de membrana. ▪ O VEGF e o PlGF são potentes estimuladores da expansão vascular. ▪ Estudos apontam que mulheres com pré- eclâmpsia apresentam níveis mais elevados de sFlt1 e endoglina solúvel (s-Eng) e mais baixos de PlGF e VEGF. ▪ Os níveis circulantes de sFlt1 e PlGF mostram-se alterados várias semanas antes do aparecimento da doença clínica e correlacionam-se com a gravidade da doença. ▪ Redman e Staff16 propõem dois estágios na fisiopatologia da pré-eclâmpsia, o primeiro sendo a placentação inadequada e o segundo a in-flamação ligada à ativação do sistema endotelial; o elo entre esses estágios seria o predomínio dos fatores antiangiogêni-cos sobre os angiogênicos.Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar ❖ Fisiopatologia ▪ Apesar de a hipertensão arterial ser a manifestação mais frequente da DHEG, o fator de importância primária não é o aumento da pressão, mas a redução da perfusão tecidual, secundária ao vasoespasmo arteriolar e à lesão endotelial, que elevam a resistência periférica total e a pressão arterial. ▪ Na DHEG ocorrem alterações em todos os órgãos maternos. Vasoespasmo: ▪ A ativação endotelial causa constrição vascular com maior resistência e subsequente hipertensão. ▪ Com o menor fluxo sanguíneo por causa da má distribuição, a isquemia dos tecidos adjacentes levaria à necrose, à hemorragia e a outras lesões de órgão-alvo características da síndrome. Ativação da célula endotelial: ▪ Fatores desconhecidos, provavelmente de origem placentária, são secretados para dentro da circulação materna, provocando ativação e disfunção do endotélio vascular. ▪ As células endoteliais lesionadas ou ativadas podem produzir menos óxido nítrico e secretar substâncias que promovem a coagulação, bem como aumentam a sensibilidade aos vasopressores. Alterações cardiovasculares: ▪ A pressão arterial é o resultado do débito cardíaco e da resistência periférica total. ▪ Gestação normal - apesar de o débito cardíaco elevar-se em aproximadamente 50% durante a gestação normal, pelo aumento correspondente do volume plasmático, o nível da pressão arterial normalmente não se eleva, chegando até a diminuir na primeira metade da gestação. o Esse fato ocorre porque a resistência periférica total se reduz em consequência do desvio do fluxo sanguíneo sistêmico para a placenta, que funciona como um shunt arteriovenoso, e também à ação de várias substâncias vasodilatadoras, como prostaciclina, prostaglandina E e óxido nítrico. ▪ Na DHEG, o volume plasmático é menor em comparação com a gestação normal, pois com a lesão endotelial ocorre aumento da permeabilidade capilar, havendo extravasamento do plasma para o meio extravascular, o que dá origem ao edema e à hemoconcentração. o Com o aumento da viscosidade sanguínea surge fenômenos trombóticos. o Em decorrência do vasoespasmo generalizado, a resistência periférica total torna-se elevada, com consequente isquemia em todos os órgãos. o O débito cardíaco pode estar aumentado, normal ou diminuído, a depender da gravidade. ▪ O aumento da resistência periférica total é o principal responsável pela elevação da pressão arterial na DHEG. ▪ Existem evidências consideráveis de estreitamento ar-teriolar na DHEG, e as alterações no calibre das arteríolas da retina se correlacionam diretamente com a gravidade e os achados de biópsia renal. ▪ Os níveis plasmáticos de endotelina, vasoconstritor produzido pelas células endoteliais, encontram-se elevados na pré- eclâmpsia. ▪ Uma possível explicação para o vasoespasmo presente na DHEG seria a resposta exacerbada a agentes Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar vasopressores, em comparação com a gestante normal. ▪ As diferenças mais marcantes ocorrem com a angiotensina II. ▪ A gestante normal, comparada à não gestante, é refratária aos efeitos pressóricos da angiotensina II, enquanto a pré- eclâmptica perde essa refratariedade e é altamente sensível à angiotensina II. ▪ Hiper-reatividade vascular presente na DHEG, sendo que a sensibilidade à infusão de angiotensina II se encontra elevada semanas antes do aparecimento da hipertensão arterial. ▪ Mulheres predispostas a desenvolver DHEG torna-se progressivamente sensíveis ao efeito da angiotensina II a partir de 18 semanas. Prostaglandinas: ▪ Há desequilíbrio entre prostaglandinas vasodilatadoras (prostaciclinas) e vasoconstritoras (tromboxano A2 – TXA2), com predomínio destas últimas na circulação uteroplacentária. ▪ A lesão endotelial promove a diminuição da prostaciclinas, potente vasodilatador e antiagregante plaquetário. ▪ O TXA2 liberado pelas plaquetas ativadas, é um importante vasoconstritor e agregante plaquetário. ▪ O aumento da relação TXA2/prostaciclinas favorece o aumento da sensibilidade à infusão da angiotensina II, ou seja, a vasoconstrição. Alterações da coagulação: ▪ A coagulação intravascular disseminada pode ocorrer na pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia, se manifesta com consumo de fibrinogênio e plaquetas, a ponto de causar sangramentos. ▪ Indicadores de coagulação intravascular disseminada: plaquetopenia, o aumento dos produtos de degradação da fibrina e do fibrinogênio, a diminuição de antitrombina III e a redução da relação fração coagulante/fração antigênica do fator VIII. ▪ É provável que a lesão vascular secundária ao vasoespasmo seja a responsável direta pela coagulação intravascular disseminada. Alterações renais: ▪ Na gestação normal, o fluxo plasmático renal e a filtração glomerular encontram-se aumentados e em consequência da hemodiluição, os níveis séricos de ureia, creatinina e ácido úrico diminuem. ▪ Na DHEG, a perfusão renal cai e determina reduções no fluxo plasmático renal e na filtração glomerular, consequentemente, os níveis de ureia e creatinina podem aumentar. ▪ A concentração plasmática de ácido úrico eleva-se e está diretamente relacionada à gravidade da doença. ▪ Na pré-eclâmpsia grave, o vasoespasmo intenso, promove a lesão tubular; contudo, a pressão de enchimento ventricular permanece normal. ▪ Alterações anatomopatológicas glomerulares, tubulares e arteriolares estão presentes na DHEG, sendo a lesão glomerular a mais característica. ▪ A presença de proteinúria significativa está, na maioria das vezes, relacionada a esse tipo de lesão, que é a responsável pelo aumento da permeabilidade a proteínas. ▪ Há intensa tumefação das células endoteliais do glomérulo, com vacuolização e acúmulo de lipídios, a ponto de ocluírem o lúmen dos capilares, com deposição de material fibrinoide denso entre a lâmina basal e as células endoteliais - denominado endoteliose glomerulocapilar. ▪ A endoteliose glomerular é uma lesão reversível que desaparece após a gravidez, cerca de 5 a 10 semanas após o parto. Alteraçõeshepáticas: ▪ Lesões hepáticas podem ser observadas em mulheres com pré-eclâmpsia grave e eclâmpsia e são secundárias ao vasoespasmo intenso. ▪ Em geral, ocorrem dois tipos de lesões: inicialmente, hemorragias periportais e, posteriormente, sinais de necrose, constituindo a necrose hemorrágica periportal. Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar ▪ A elevação dos níveis séricos das transaminases é o reflexo de tais lesões. ▪ O sangramento intenso pode se estender até a cápsula de Glisson, formando o hematoma subcapsular, que pode evoluir com ruptura e hemorragia intraperitoneal, geralmente fatal. Alterações pulmonares: ▪ Na eclâmpsia, tanto o edema pulmonar como a broncopneumonia aspirativa são causas de insuficiência respiratória grave e estão implicados em até 60% dos casos de óbito materno. ▪ Em virtude de o território vascular estar diminuído pelo vasoespasmo, a infusão de soluções cristaloides ou coloides sem monitorização cuidadosa pode causar congestão e edema pulmonar, com insuficiência respiratória. ▪ As convulsões, o uso indevido de drogas depressoras do sistema nervoso central (benzodiazepínicos, clorpromazina, prometazina), as obstruções de vias aéreas e a aspiração de secreções nasofaríngeas e gástricas reduzem a ventilação pulmonar, agravam a hipóxia tecidual, própria do vasoespasmo e propiciam a instalação da broncopneumonia aspirativa. Alterações cerebrais: ▪ A hipertensão grave leva à vasoconstrição reflexa, com consequente queda do fluxo cerebral, edema citotóxico e eventuais áreas de infarto cerebral. ▪ A eclâmpsia representa uma forma de encefalopatia hipertensiva na qual elevações abruptas da pressão arterial levariam à quebra dos mecanismos de autorregulação da circulação cerebral, com hiperperfusão, disrupção dos capilares, extravasamento de plasma e eritrócitos, com edema vasogênico. ▪ A encefalopatia hipertensiva da eclâmpsia é tipicamente observada nas porções posteriores do cérebro, recebendo o nome de “encefalopatia posterior reversível”, e essas lesões podem ser observadas em RM da maioria das pacientes com eclâmpsia. ▪ A hemorragia cerebral, secundária à ruptura de artérias pela gravidade da hipertensão arterial, é a responsável pela maioria das mortes. Alterações uteroplacentárias: ▪ O fluxo uteroplacentário encontra-se diminuído na DHEG, caracterizando o quadro de insuficiência placentária, responsável pelos resultados perinatais adversos. ▪ O comprometimento da circulação uteroplacentária, com aumento da resistência, pode ser evidenciado pela Dopplervelocimetria de artérias uterinas e de artéria umbilical. ▪ A invasão trofoblástica deficiente nas artérias espiraladas diminui o fluxo interviloso, e a vasoconstrição das arteríolas vilosas determina elevação da resistência vascular fetoplacentária, o que repercute na Dopplervelocimetria umbilical com o achado de resistência vascular aumentada, diástole zero ou reversa. ▪ Além das alterações de fluxo sanguíneo, a hipercontratilidade, a hipertonia uterina e o descolamento prematuro de placenta também podem estar presentes nas formas graves de DHEG. ❖ Formas clínicas ▪ A DHEG compreende o conjunto das alterações pressóricas observadas na gestação. ▪ Ela é caracterizada pela presença de hipertensão arterial, edema e/ou proteinúria a partir de 20 semanas de gestação, em pacientes previamente normotensas. ▪ Hipertensão arterial: pressão arterial sistólica é igual ou superior a 140 mmHg e/ou a pressão arterial diastólica é igual ou superior a 90 mmHg. ▪ Proteinúria patológica é a presença de 300 mg (0,3 g/L) ou mais de proteínas excretadas na urina durante 24 horas. o A identificação de proteinúria por meio de fita reagente (1+) em amostra isolada de urina é recurso propedêutico importante por fornecer resultado imediato – mas, não dispensa confirmação quantitativa em volume de 24 horas. Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar o Recentemente, tem sido proposta a determinação da proteinúria pela “relação proteína/creatinina em amostra isolada de urina” – a proteinúria é significativa quando a relação é igual ou superior a 0,3. ▪ Edema generalizado constitui sinal de alerta para possível desenvolvimento de DHEG, pincipalmente, se inchaço de mãos e face e aumento súbito de peso (> 1 kg/semana). Classificação: ▪ Pré-eclâmpsia: desenvolvimento de hipertensão arterial, com proteinúria e/ou edema de mãos e face que ocorre após 20 semanas. ▪ Eclâmpsia é a ocorrência de convulsões tônico-clônicas generalizadas em gestante com pré-eclâmpsia. o A eclâmpsia é consequência de uma pré- eclâmpsia grave, com repercussões graves em sistema nervoso central. ▪ Hipertensão crônica: hipertensão arterial persistente anterior à gravidez ou anterior a 20 semanas e que se mantém após o puerpério. ▪ Pré-eclâmpsia ou eclâmpsia associada à hipertensão arterial crônica - superajuntada: aparecimento de pré- eclâmpsia ou eclâmpsia em paciente com antecedente de hipertensão arterial crônica. ▪ Hipertensão transitória: elevação dos níveis pressóricos no final da gestação ou no início do puerpério (24 horas de pós-parto), sem proteinúria e que retorna aos valores normais em até 10 dias após o parto. o Alguns autores não utilizam o termo hipertensão transitória, porque considera- se que corresponde à fase não proteinúrica da pré-eclâmpsia ou que se trata de recorrência de hipertensão arterial que esteve abrandada no período intermediário da gestação. o A hipertensão transitória tende a recorrer em gestações posteriores (cerca de 80% dos casos). ▪ Doença hipertensiva não classificável: as informações obtidas não são suficientes para a classificação. ▪ A mais recente diretriz do ACOG admite o diagnóstico de pré-eclâmpsia na ausência de proteinúria na presença de trombocitopenia, alteração das enzimas hepáticas, insuficiência renal, edema pulmonar ou sintomas visuais e cerebrais (cefaleia, amaurose, escotomas, fosfenas). ▪ A presença ou não de proteinúria não é um fenômeno estanque: muitas pacientes sem proteinúria passam a apresentá-la na evolução da doença e outras, com proteinúria significativa, deixam de apresentá-la com a estabilização da doença proporcionada pela internação e pelo tratamento. ▪ Sintomas como cefaleia e distúrbios visuais podem antecipar o agravamento da hipertensão arterial e o surgimento das convulsões. ▪ Na iminênciade eclâmpsia, destaca-se a tríade cefaleia, dor epigástrica e alterações visuais. ▪ A síndrome HELLP representa um agravamento da pré-eclâmpsia, com hemólise, elevação de enzimas hepáticas e plaquetopenia. ▪ Todas as formas descritas podem surgir na gestante com hipertensão arterial crônica, ou seja, com doença hipertensiva anterior à gravidez, a qual é considerada não complicada quando as funções renal e cardíaca são normais e quando não há lesão de órgãos-alvo instalada antes da gravidez. ▪ A hipertensão arterial crônica é considerada complicada diante da presença de proteinúria e do aumento dos níveis sanguíneos de ácido úrico, caracterizando a instalação da DHEG, ou quando já existir lesão de órgãos--alvo prévia à gestação (cardíaca ou renal). Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Pré-eclâmpsia precoce ou tardia: ▪ Considerando a idade gestacional em que ocorre a manifestação clínica da pré- eclâmpsia, ela é classificada em precoce (< 34 semanas) e tardia (≥ 34 semanas). ▪ A pré-eclâmpsia de início precoce está associada com Doppler anormal da artéria uterina, fetos com restrição de crescimento e resultados maternos e neonatais desfavoráveis. ▪ A pré-eclâmpsia de início tardio se associa com índice de resistência uterina normal ou discretamente aumentado, baixa taxa de comprometimento fetal e resultados perinatais mais favoráveis. Pré-eclâmpsia com indicadores de gravidade: ▪ Pré-eclâmpsia com sinais de gravidade é identificada pela presença de pelo menos uma das situações abaixo: o Pressão arterial ≥ 160 mmHg e/ou 110 mmHg, confirmada em duas medidas, com intervalo de 10 a 15 min. o Proteinúria ≥ 2g em urina de 24 horas. o Sintomas de iminência de eclâmpsia: ➢ Sistema nervoso central (cefaleia, obnubilação, torpor, alteração de comportamento). ➢ Sistema visual (escotoma, fosfena, fotofobia, turvação/embaçamento). ➢ Alterações gástricas (dor epigástrica ou no hipocôndrio direito, náusea, vômito). o Eclâmpsia: manifestação de crise convulsiva e/ou coma, na ausência de outras condições neurológicas que possam explicar a convulsão. o Síndrome HELLP: ➢ Presença de hemólise (esquizócitos em esfregaço de sangue periférico, anemia, bilirrubina total acima de 1,2 mg%, haptoglobina ≤ 0,3 g/L ou desidrogenase lática maior que 600 UI/L). ➢ Aumento da concentração de enzimas hepáticas (TGO ou TGP maior que 70 UI/L e/ou desidrogenase lática maior que 600 UI/L). Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar ➢ Trombocitopenia (contagem de plaquetas inferior a 100.000 por mm3). o Oligúria: diurese inferior a 500 mL em 24 horas. o Cianose. o Edema agudo de pulmão. o Restrição de crescimento fetal. ▪ Em 2013, o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas retirou do diagnóstico de pré-eclâmpsia com sinais de gravidade a proteinúria maciça (5g/24 horas), a presença de oligúria e a restrição de crescimento fetal. Eclâmpsia: ▪ A eclâmpsia caracteriza-se pelo aparecimento de convulsões tonicoclônicas generalizadas, excluindo-se aquelas de outras causas ou alterações do sistema nervoso central (SNC), em gestantes com sinais e sintomas de pré-eclâmpsia. ▪ Pode-se manifestar durante a gestação, o parto ou o puerpério. ▪ A eclâmpsia constitui a principal causa de morte materna e perinatal. ▪ Outras manifestações clínicas de insuficiência de diversos órgãos são comuns na eclâmpsia: oligúria ou anúria, insuficiência respiratória, cianose, icterícia e sangramentos. ▪ Pode haver aumento do tônus e da frequência das contrações uterinas e diminuição da frequência dos batimentos cardíacos fetais. ▪ Essas alterações em geral acontecem durante as convulsões ou imediatamente depois delas e desaparecem após alguns minutos desde que a hipoxemia materna seja corrigida. ❖ Abordagem propedêutica + Diagnóstico ▪ A maioria das gestantes na fase inicial da pré-eclâmpsia é assintomática. ▪ A rotina propedêutica cuidadosa, com ênfase na anamnese e no exame físico, é fundamental para o diagnóstico precoce. ▪ O diagnóstico de DHEG deve ser presumido nas gestantes com hipertensão arterial, edema e/ou proteinúria significativa após 20 semanas de gestação, especialmente, no último trimestre da gravidez. ▪ Quando essas manifestações surgem em idades gestacionais precoces, possui relação direta com os piores resultados maternos e perinatais, devendo alertar para a presença de hipertensão arterial prévia à gestação, trombofilias ou doença renal preexistente. ▪ As gestantes com risco para o desenvolvimento de DHEG devem ser submetidas a consultas mais frequentes de pré-natal, controle mais apurado do ganho ponderal, medida da pressão arterial, pesquisa de proteinúria e dosagem sérica de ácido úrico e ureia/creatinina. ▪ No caso de mulheres com antecedentes de hipertensão arterial crônica, diabetes ou colagenoses, é prudente a solicitação desses exames laboratoriais já na primeira consulta de pré-natal para futuras comparações. ▪ O diagnóstico diferencial de DHEG e hipertensão arterial crônica nem sempre é fácil, sobretudo quando a gestante se apresenta para a primeira consulta de pré- natal após 20 semanas de gravidez. ▪ Hipertensão arterial: o Na gravidez normal ocorre queda da pressão arterial no segundo trimestre, em Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar razão da redução da resistência periférica total. o O diagnóstico de hipertensão arterial é feito diante de níveis de pressão arterial sistólica ≥ 140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica ≥ 90 mmHg. o Devem ser realizadas pelo menos duas medidas de pressão arterial. o A paciente deve permanecer sentada por pelo menos 5 min antes da medida da pressão arterial e o braço em que será feita a medição deve ficar na altura do coração, devendo-se utilizar sempre o mesmo braço nas medidas subsequentes. o O manguito para a aferição da pressão arterial deve ser de tamanho adequado. o Se tiver a largura habitual (12 cm), pode superestimar a pressão arterial em pacientes obesas e subestimar se a circunferência do braço for menor do que 23 cm. ▪ Edema: o O edema leve de mãos, face e membros inferiores é comum na gravidez normal, principalmente no final dela. o É consideradopatológico o edema depressível e generalizado, associado a hipertensão arterial e ganho exagerado de peso (> 1.000 g/semana) e quando não desapare-ce com o repouso. ▪ Proteinúria: o A proteinúria é considerada significativa quando igual ou superior a 300 mg em urina 24 horas, na relação proteína/ creatinina > 0,3 em amostra isolada ou na fita indicadora (> 1+). o A pesquisa de proteinúria por meio de fita indicadora em amostra de urina isolada é útil para a confirmação momentânea do diagnóstico de DHEG, porém não afasta a necessidade de realizar relação proteína/creatinina ou urina de 24 horas (padrão-ouro). ▪ Ácido úrico: o Sua elevação ocorre precocemente na DHEG e pode estar relacionada à queda da filtração glomerular ou a alterações de reabsorção e excreção tubular. o Os níveis de hi-peruricemia correlacionam-se com o grau de hemoconcentração, gravidade da endoteliose glomerular, gravidade da doença hipertensiva e recém-nascidos de baixo peso. o Ainda que não seja oficialmente considerada um critério diagnóstico, a presença de nível sérico de ácido úrico superior a 6 mg/dL (em gestante com valores anteriormente normais, sem lesão renal prévia e sem uso de diuréticos) é altamente sugestiva da presença de DHEG. Outros exames complementares: ▪ Diagnóstico das síndromes hipertensivas em suas formas graves e de suas complicações. ▪ Hemograma: a plaquetopenia é mais frequente nas pacientes com quadro clínico mais grave de DHEG e de início mais precoce. o A plaquetopenia isolada pode estar pre- sente na gravidez normal (em geral, com níveis superiores a 100.000 plaquetas/mm3). ▪ Ureia e creatinina: na DHEG grave, a queda da filtração glomerular acarreta elevação dos níveis de ureia e creatinina - níveis superiores a 1,1 mg/dL são indicativos de maior repercussão renal da doença. ▪ Pesquisa de colagenoses: a pesquisa de colagenoses deve ser realizada nas formas graves de DHEG e de instalação precoce. o Diante da suspeita clínica de lúpus eritematoso sistêmico (LES), o resultado negativo da pesquisa de anticorpos antinucleares no soro materno exclui esse diagnóstico em 90% dos casos. Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar o Quando a pesquisa de anticorpos antinucleares for positiva, preconiza-se a identificação do autoanticorpo (anti- DNA, anti-SM, anti-RNP, anti-Ro, anti- La, anti-Sc170 e anti-Jo). o Marcadores de LES, síndrome de Sjögren, doença mista do tecido conjuntivo. ▪ Pesquisa de esquizócitos: em alguns casos graves de DHEG ocorre anemia microangiopática e, consequentemente, reticulocitose, hemoglobinemia e hemoglobinúria - surgem alterações morfológicas das hemácias, esquizocitose e equinocitose. ▪ Bilirrubinas e enzimas hepáticas: entre os sinais de hemólise, destacam-se a icterícia e/ou o aumento de bilirrubinas séricas maior ou igual a 1,2 mg% associados ao aumento de DHL (> 600 UI/L). ▪ Pesquisa de trombofilias: as trombofilias adquiridas (síndrome antifosfolípide – SAF) podem estar associadas à DHEG grave e de instalação precoce, e sugere-se a pesquisa dos anticorpos anticardiolipina, anticoagu- lante lúpico e anticorpos antibeta-2- glicoproteína 1 nessas pacientes. ▪ Outros diagnósticos de hipertensão arterial secundária: na presença de hipertensão arterial grave e de difícil con- trole, deve-se suspeitar de outras causas secundárias como feocromocitoma e hipertensão renovascular. ▪ Tomografia/ressonância magnética cerebral: está indicado nos casos de eclâmpsia em que as convulsões são reincidentes ou na presença de sinais localizatórios de lesão neurológica. ❖ Predição ▪ Os fatores de risco para a DHEG devem ser utilizados para predizer a ocorrência da doença, e melhorar a eficiência do rastreamento das pacientes com maior risco. ▪ A combinação do PIGF (marcador bioquímico), de fatores maternos, pressão arterial média e índice de pulsatilidade da artéria uterina (marcador biofísico), aferidos entre 11 e 14 semanas de gestação, apresentam taxa de detecção de 100% para a pré-eclâmpsia precoce (< 32 semanas). Dopplervelocimetria da artéria uterina: ▪ A invasão trofoblástica defeituosa das artérias espiraladas, resulta em menor perfusão placentária e maior resistência da artéria uterina. ▪ A maior velocimetria da artéria uterina, determinada pela ultrassonografia (US) com Doppler, no primeiro ou segundo trimestres, deve fornecer evidência indireta deste processo - teste preditivo para pré-eclâmpsia ❖ Prevenção ▪ Em virtude do desconhecimento da etiologia da DHEG, não é possível impedir que a doença se instale por meio da prevenção primária. ▪ A prevenção secundária tem por objetivo detectar a doença precocemente enquanto ela é assintomática e realizar tratamento precoce pode impedi-la de progredir. ▪ A prevenção terciária refere-se aos cuidados clínicos que previnem a deterioração adicional ou reduzem as complicações depois que a doença já é sintomática. Administração de aspirina (baixa dose): ▪ Há evidências convincentes de que a aspirina (150 mg diariamente) na hora de deitar para dormir, antes da 16ª semana de gestação reduz o risco de pré-eclâmpsia pré- termo em mais de 60% e o risco de pré- eclâmpsia precoce em mais de 80%, quando administrada a gestantes de alto risco. ▪ O ácido acetilsalicílico inibe a síntese do tromboxano A2 plaquetário, com efeitos mínimos sobre a produção de prostaciclina vascular. ▪ O mesmo efeito não parece estar presente em mulheres com hipertensão arterial crônica. ▪ Deve-se iniciar, a administração de aspirina antes da 16ª semana de gestação (a partir de 12 semanas, são desconhecidos efeitos sobre o feto) e se interromper entre a 34ª e a 36ª semana (risco de maior taxa de sangramento em procedimentos cirúrgicos). Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Otávio Barcelos Destacar Suplementação de cálcio: ▪ O aconselhamento dietético de gestantes deve promover a ingestão adequada de cálcio por meio de alimentos disponíveis ricos em cálcio. ▪ O esquema de suplementação de cálcio sugerido é de 1,5g a 2g diariamente, com a dose total dividida em três doses, de preferência no horário das refeições. ▪ O ferro e o cálcio devem ser administrados com horas de intervalo. ▪ A OMS recomenda a suplementação de cálcio, em áreas onde a ingestão dietética de cálcio é baixa, durante a gestação (doses de 1,5g a 2g de cálcio elementar por dia), para a prevenção de pré-eclâmpsia em todas as mulheres, mas especialmente naquelas com alto risco de desenvolver pré-eclâmpsia. ❖ Tratamento ▪ O tratamento adequado da pré-eclâmpsia visa a diminuir a incidência de complicações maternas. ▪ O foco do controle clínico é a prevenção da morbimortalidade materna e fetal, por meio do tratamento da emergência hipertensiva, da prevenção da crise convulsiva (iminência de eclâmpsia) ou de sua recorrência (eclâmpsia) e da avaliaçãodo feto. ▪ No seguimento clínico, deve-se manter vigilância sobre o controle da pressão arterial, os sinais e sintomas que evidenciam a iminência de eclâmpsia e os exames laboratoriais que indicam síndrome HELLP. ▪ São objetivos do tratamento: prevenção de hipoxia, tratamento de hipertensão arterial grave, prevenção de convulsões recorrentes (sulfato de magnésio) e avaliação do momento da resolução da gestação. Medidas não farmacológicas: ▪ Repouso: recomenda-se repouso para as pacientes portadoras de DHEG. o O repouso em decúbito lateral esquerdo promove o aumento do fluxo plasmático renal, intensifica a natriurese e, consequentemente, diminui os níveis de pressão arterial e melhora ainda o fluxo uteroplacentário. o Recomendam-se o afastamento das atividades profissionais, a redução dos afazeres domésticos e o repouso em decúbito lateral esquerdo por pelo menos 1 hora no período da manhã e da tarde (ou 2 horas depois do almoço). o Para os casos graves, o repouso no leito é feito com a paciente internada. ▪ Redução da atividade física: pode melhorar o fluxo sanguíneo uteroplacentário e prevenir a exacerbação da hipertensão. ▪ Dieta hipossódica: dieta hipossódica contendo 2 a 3 g de sal/dia, a redução da oferta de sal acarreta queda dos níveis séricos de sódio, com diminuição da reatividade vascular e queda da pres-são arterial. o Recomenda-se reduzir o sal adicionado aos alimentos, evitando o uso de saleiro à mesa e o consumo de alimentos industrializados (conservas, frios, embutidos, temperos e molhos prontos). Terapêutica farmacológica: ▪ Sedação: o As gestantes portadoras de DHEG apresentam resposta vascular lábil perante as alterações emocionais. o Para diminuir as oscilações pressóricas, recomenda-se a sedação. o Nas formas leves, em gestantes acompanhadas em regime ambulatorial, pode-se, eventualmente, optar pela sedação com benzodiazepínicos – diazepam (5 a 10 mg por via oral a cada 12 horas). o Nas formas graves, para gestantes internadas, prefere-se a levomepromazina na dose de 3 mg (3 gotas da solução oral de levomeproma- zina a 4%) a cada 8 horas. ▪ Hipotensores: o tratamento reduz a mortalidade e a morbidade maternas graves, diminuindo o risco de eclâmpsia e acidentes vasculares cerebrais. o A terapêutica medicamentosa da hipertensão promove proteção materna e fetal, reduzindo a progressão para as formas graves e ajudando a evitar a prematuridade. o O tratamento com drogas hipotensoras deve ser iniciado quando as medidas citadas forem insuficientes para diminuir os níveis pressóricos e a pressão arterial diastólica se mantiver maior ou igual a 100 mmHg. o Hipertensão arterial leve (PA sistólica entre 140 e 150 e/ou PA diastólica entre 90 e 100) ou moderada (PA sistólica entre 150 e 159, PA diastólica entre 100 e 109) – pensar nos riscos e benefícios. o Hipertensão arterial grave (PA sistólica ≥ 160 e/ou PA diastólica ≥ 110) - é sempre recomendável, pois reduz o risco de acidente vascular cerebral e outras complicações maternas e fetais graves. o O mais adequado, tanto para a gestante como para o feto, é reduzir os níveis pressóricos em 20 a 30% das medidas diastólicas iniciais. o Os retornos ambulatoriais devem ser mais próximos (semanais ou até a cada 3 a 4 dias, se necessário), para a melhor avaliação da resposta materna e fetal. o Diante de pré-eclâmpsia grave, hipertensão arterial crônica com pré- eclâmpsia sobreposta e pré-eclâmpsia associada à RCF, o controle materno deverá ser realizado com a paciente internada. o O pindolol (betabloqueador não seletivo, com atividade simpatomimética intrínseca) foi muito utilizado, mas saiu do mercado. o A metildopa é a droga de primeira escolha, a dose inicial é de 250 mg por via oral, duas vezes ao dia, com aumento de 250 a 500 mg/dia, até controle pressórico adequado (dose máxima de 2 g/dia). ➢ Essa droga pode provocar hipotensão postural e, eventualmente, aumento sérico das enzimas hepáticas (TGO e TGP). o Como segunda opção, ou em caso de necessidade de outro hipotensor em associação com a metildopa, utilizamos o anlodipino (bloqueador dos canais de cálcio) na dose de 5 a 10 mg/dia por via oral (comprimidos de 5 mg). ➢ Para o controle pressórico, empregam-se as seguintes posologias progressivas: 5 mg/dia, 5 mg a cada 12 horas. ➢ Excepcionalmente, podem ser utilizadas doses maio-res (até no máximo 20 mg/dia, sendo que doses superio-res a 10 mg/dia são off-label). o O nifedipino (bloqueador dos canais de cálcio), também pode ser utilizado na dose de 20 a 60 mg/dia por via oral, em apresentação de liberação lenta, em duas a três tomadas ao dia. o Somente associa-se uma nova droga quando se chega à dose máxima das drogas que já estão em uso. o No máximo, associam-se três drogas hipotensoras na dose máxima. o Na eventual necessidade de introdução de uma terceira droga, podem ser utilizados betabloqueadores (metoprolol ou carvedilol) ou ainda hidralazina por via oral. o O uso de atenolol tem sido contraindicado na gravidez e na lactação, por maior ocorrência de restrição de crescimento fetal. o Em gestantes com DHEG, a hemoconcentração e a reatividade vascular aumentadas podem desencadear maior resposta hipotensora – cuidado com hipotensão arterial iatrogênica. o Todos os anti-hipertensivos atravessam a barreira placentária, porém os agentes anti-hipertensivos liberados na gestação são eficazes e possuem perfil de segurança aceitável. o A escolha do agente depende da gravidade da hipertensão e se a indicação é via oral ou intravenosa. Acompanhamento laboratorial: ▪ O diagnóstico de pré-eclâmpsia necessita de acompanhamento com exames laboratoriais para identificar precocemente alterações renais e diagnosticar a síndrome HELLP. ▪ Deve-se colher hemograma (avaliar concentração de hemoglobina e contagem de plaquetas), bilirrubinas totais, função renal (proteinúria de 24 horas ou relação proteína/creatinina, ureia e creatinina) e função hepática (TGO, TGP, desidrogenase láctica). Tratamento das complicações hipertensivas agudas – crises hipertensivas: ▪ As complicações hipertensivas agudas caracterizam-se por pressão arterial muito elevada. ▪ A DHEG apresenta caráter lábil e rapidamente progressivo, e a demora na instituição do tratamento adequado pode levar a complicações maternas e/ou fetais. ▪ O limite entre urgência (sem comprometimento de órgãos-alvo) e emergência (com comprometimento de órgãos-alvo) hipertensiva nessas pacientes nem sempre é claro. ▪ A configuração de emergência hipertensiva na gestação está presente com níveis pressóricos elevados, em geral superiores a 110 mmHg de pressão arterial diastólica (eventualmente, mais baixos), associados a cefaleia, distúrbios visuais, edema agudo de pulmões ou cianose ou, ainda, presença de sinais de insuficiência coronariana ou dissecção de aorta. ▪ O tratamento dessa condição deve ser pronto e cuidadoso, com o objetivo de reduzir em 20 a 30% os níveis pressóricos. ▪ A droga indicada é a hidralazina, utilizando-se 5 mg a cada 15 minutos, pela via intravenosa. o Recomenda-se a diluição da ampola de hidralazina (1 mL = 20 mg) em 19 mL de água destilada, obtendo-se solução de 1 mg/mL. ▪ Se não houver resposta após doses repetidas de hidralazina (até 30 mg no total), utiliza-se o nitroprussiato de sódio (0,25 a 10 μg/kg/min), com monitorização cuidadosa da pressão arterial, evitando-se quedas abruptas e suspendendo a droga assim que for obtido o efeito hipotensor desejado. o O nitroprussiato de sódio é fornecido em frascos de 50 mg, que em solução-padrão são diluídos em 200 mL de soro glicosado a 5% (250 μg/mL).o Deve ser administrado em bomba de infusão contínua, em equipo protegido da luz. o A infusão de 1 mL/h fornece 4 μg/min - cálculo da infusão utilizada: o O início da ação se dá em 30 segundos, e o pico em 2 minutos. o Se necessário, aumenta-se 1 mL/h a cada 10 minutos até obtenção do efeito desejado ou até 10 μg/kg/ min (dose máxima, que não deve exceder 10 minutos de duração, com redução obrigatória para 5 μg/kg/min). o O nitroprussiato deixa de agir 3 minutos após a interrupção da infusão. ▪ Outra alternativa ao uso do nitroprussiato de sódio para os casos de emergência hipertensiva sem resposta à hidralazina (em especial nos quadros de edema agudo pulmonar) é a administração de infusão de nitroglicerina (5 a 100 μg/min em infusão intravenosa contínua). ▪ O uso de nifedipino por via sublingual está proscrito em razão da ocorrência de hipotensões arteriais graves. ▪ As diretrizes da ACOG e do Ministério da Saúde no Brasil indicam a adminis-tração de sulfato de magnésio em todas as pacientes com pré-eclâmpsia com critérios de gravidade. ▪ utilizado preferencialmente segundo o esquema de Prit-chard, e está indicado nas pacientes com DHEG grave com sintomas neurológicos (cefaleia, alterações visuais e náuseas/desconforto epigástrico). Tratamento da Eclâmpsia: ▪ A eclâmpsia é uma emergência obstétrica e necessita de atendimento especializado imediato. ▪ O tratamento visa a manutenção da função cardiorrespiratória e da oxigenação materna, controle da pressão arterial e correção da hipoxemia e da acidose materna. ▪ Medidas gerais: mais importante no início é avaliar o estado geral e simultaneamente garantir a oxigenação materna, proteger a língua com cânula de Guedel e evitar a aspiração. ▪ Contraindica-se o uso de benzodiazepínicos, pois a convulsão é autolimitada, além de favorecer a depressão respiratória e neurológica e promover a diminuição dos reflexos laríngeos, o que facilitaria a aspiração do conteúdo gástrico. ▪ Exames complementares: hemograma, coagulograma, dosagem de ureia, creatinina, sódio, potássio, enzimas hepáticas, ácido úrico, bilirrubinas totais e frações, DHL, gasometria arterial, proteinúria, exame de fundo de olho, eletrocardiograma e tomografia computadorizada (se houver persistência do quadro convulsivo). ▪ Prevenção de novas convulsões: sulfato de magnésio. o Esquema de Pritchard - associa os esquemas intravenoso e intra-muscular. o O sulfato de magnésio exerce sua ação anticonvulsivante ao agir diretamente no córtex cerebral - possui efeito vasodilatador, bloqueia a excitação e promove transmissibilidade elétrica no tecido cerebral. o Com o sulfato de magnésio se observa controle da convulsão logo após a dose de ataque e, entre 1 e 2 horas a partir da primeira administração, a paciente encontra-se consciente. o A vantagem dele sobre os demais anticonvulsivantes é o fato de essa droga, em doses habituais, não produzir depressão do SNC, tanto materno como fetal, ainda que ultrapasse rapidamente a barreira placentária. o Os esquemas exclusivamente intravenosos apresentam maior risco de toxicidade pelo magnésio e a monitorização da magnesemia torna-se imprescindível. o Concentrações plasmáticas superiores a 7 e até 10 mEq/L provocam toxicidade, cujo primeiro sinal na mãe é a perda do reflexo patelar. o Concentrações de 15 mEq/L revelam comprometimento dos músculos envolvidos na respiração e acima de 30 mEq/L podem causar parada cardíaca. o Diante dos efeitos tóxicos da hipermagnesemia, deve ser utilizado o gluconato de cálcio a 10% na dose de 10 mL intravenosos em 3 minutos. ▪ Com a persistência de convulsões, apesar da utilização do sulfato de magnésio, ou nos casos confirmados de hemorragia cerebral, realiza-se a administração de fenitoína na dose de 250 mg (1 ampola diluída em soro fisiológico, 250 mL intravenosos em 10 minutos), e repete-se o esquema a cada 30 minutos até completar 750 mg. o Para a manutenção, usam-se 100 mg por via intravenosa a cada 8 horas enquanto se mantiver a venoclise. o E então, 100 mg por via oral a cada 8 horas, seguindo a orientação do neurologista. ▪ O tratamento hipotensor está indicado diante de pressão arterial diastólica ≥ 110 mmHg, decorridos 20 a 30 min da dose venosa do esquema de ataque com sulfato de magnésio. ▪ Utiliza-se a hidralazina na dose de 5 mg por via intravenosa a cada 15 minutos até o controle da pressão arterial, ou seja, redução de 20 a 30% da pressão arterial diastólica. ▪ Monitorização fetal: com a estabilização materna, deve-se dar início à avaliação da idade gestacional, do peso e da vitalidade fetal. o Bradicardias fetais transitórias com duração de 3 a 5 min são comuns após as convulsões e não indicam que a interrupção imediata da gestação. o Depois do episódio convulsivo, é comum aparecimento de taquicardia fetal com desacelerações transitórias que desaparecem em 20 a 30 min. Tratamento obstétrico: ▪ Desde que haja bom controle do quadro clínico materno e sejam assegurados o crescimento e a vitalidade fetal, opta-se para que o parto ocorra o mais próximo possível do termo da gestação. Pré-eclâmpsia leve: ▪ Acompanhamento ambulatorial semanal para avaliação clínica, proteinúria de fita e de vitalidade fetal. ▪ Estando a vitalidade fetal preservada, aguarda-se o parto até o máximo de 40 semanas, quando se interrompe a gestação, por indução do trabalho de parto. ▪ A internação estará indicada em caso de necessidade de doses crescentes de medicamentos anti-hipertensivos, suspeita de progressão para forma grave ou restrição de crescimento fetal em gestação com menos de 37 semanas. ▪ Diante do comprometimento da vitalidade fetal, realiza-se o parto terapêutico. ▪ Controle do crescimento e da vitalidade fetal: o Crescimento fetal: medida a cada consulta da altura uterina e ultrassonografia obstétrica mensal. o Função placentária: avaliada pela Dopplervelocimetria de artérias umbilicais (na 20ª e na 26ª semana) e artérias uterinas. o Resposta hemodinâmica fetal: diante de anormalidades na Dopplervelocimetria das artérias umbilicais, analisa-se a resposta hemodinâmica fetal à hipoxia, o que inclui a avaliação da artéria cerebral média e do ducto venoso. o Atividades biofísicas fetais (cardiotocografia, movimentos respiratórios, movimentos corporais e tônus muscular fetais) juntamente com a Dopplervelocimetria. Pré-eclâmpsia grave ou hipertensão arterial crônica com DHEG sobreposta: ▪ Nas formas graves, a paciente deve ser internada na enfermaria de gestação de alto risco. ▪ A gravidez pode ser seguida até que se observe alguma anormalidade que indique sua interrupção ou até que se atinja a idade gestacional de 37 semanas. ▪ Avalia-se o crescimento fetal por meio da ultrassonografia obstétrica a cada 15 dias. ▪ Na presença de alterações da Dopplervelocimetria ou em caso de instabilidade clínica materna, a avaliação da vitalidade fetal deve ser diária. ▪ A interrupção da gestação está indicada diante de controle materno ineficaz ou de alterações da vitalidade. ▪ Idade gestacional inferior a 24 semanas - a conduta expectante está associada com alta mortalidade perinatal e morbimortalidade materna, indicando a resolução da gestação. ▪ Idade gestacional igual ou superior a 24 semanas e inferior a 34 semanas - tentar prolongar a gestação até 34 semanas. ▪ Administrar corticoide para a maturação pulmonar fetal. ▪ Administrar sulfato de magnésio (esquema de Zuspan) para neuroproteção fetal, antes da resolução da gestação, durante pelo menos 4 horas e sem ultrapassar 48 horas, quando a idade gestacional for inferior a 32 semanas. ▪ A resolução da gestaçãoestá indicada nas seguintes situações: o Síndrome HELLP. o Eclâmpsia. o Descolamento prematuro de placenta. o Hipertensão grave refratária a tratamento. o Edema agudo de pulmão. o Trabalho de parto prematuro. o Rotura prematura de membranas. ▪ O término da gestação pode ser imediato ou mediato. ▪ Imediato: na iminência de eclampsia: o Mau controle pressórico (em uso de três drogas hipotensoras em dose máxima). o Diástole reversa nas artérias umbilicais. o Índice de pulsatilidade para veias do ducto venoso ≥ 1,5. o Perfil biofísico fetal ≤ 6 (se igual a 6, requer repetição do exame em 6 horas e, se mantido, está indicada a interrupção da gestação). o Desacelerações tardias de repetição na cardiotocografia. o Oligoâmnio grave (índice do líquido amniótico – ILA – < 3,0 cm). ▪ Mediato: após uso de corticosteroide antenatal: o Índice de pulsatilidade para veias do ducto venoso > 1,0 e < 1,5. o Oligoâmnio (ILA entre 3,0 e 5,0 cm). ▪ Na iminência de eclâmpsia, realiza-se o mesmo tratamento da eclâmpsia, com sulfato de magnésio (esquema de Pritchard). Eclâmpsia: ▪ Nos casos de fetos vivos e inviáveis, na forma não complicada da eclâmpsia, opta-se pela conduta obstétrica conservadora (eclâmpsia intercorrente) - a gestante, após receber as medidas terapêuticas, permanece internada, sob vigilância contínua até a 34 semanas. ▪ A interrupção da gestação é antecipada caso ocorra evolução materna desfavorável ou sofrimento fetal. ▪ Quando se opta pelo parto (feto vivo e viável), deve-se aguardar de 2 a 3 horas após a dose de ataque do sulfato de magnésio. Parto terapêutico: ▪ O parto terapêutico, quando indicado, pode ser realizado por meio de indução do trabalho de parto e ao se iniciarem as contrações, administra-se o sulfato de magnésio (esquema de Pritchard) para a profilaxia da convulsão no parto e ele é mantido por até 24 horas depois do parto. ▪ Após o parto, nos casos leves, a paciente é mantida sem drogas hipotensoras e realizam- se controles da pressão arterial nas primeiras 72 horas após o parto. ▪ Quando necessário, diante de pressão arterial diastólica > 100 mmHg, reintroduz- se a medicação anterior. ▪ Nas pacientes com formas graves, sugere-se a manutenção da medicação, com ajustes, até estabilização pressórica da paciente. ▪ Em caso de DHEG sobreposta, não são retiradas as drogas. ▪ No pós-parto de pacientes com síndrome hipertensiva habitualmente ocorre queda dos níveis pressóricos nas primeiras 24 a 48 horas, podendo haver posterior elevação da pressão a partir do terceiro dia até o sétimo dia pós-parto (associada à reabsorção do líquido retido no espaço extravascular, com aumento da volemia). ▪ Após o parto, se necessário, pode-se lançar mão de medicamentos contraindicados na gravidez, como IECA e BRA, sem prejuízo da lactação. ❖ Complicações Complicações maternas ▪ Eclâmpsia (convulsões) e síndrome HELLP. ▪ Descolamento prematuro de placenta (DPP), coagulação intravascular disseminada (CIVD), hemorragia cerebral, edema pulmonar, insuficiência hepática e insuficiência renal aguda. ▪ Descolamento prematuro de placenta: o O descolamento prematuro da placenta pode envolver qualquer grau de separação placentária, desde poucos milímetros até o completo rompimento. o A separação pode ser aguda ou crônica. o Resulta em sangramento para a decídua basal, atrás da placenta (retroplacentário). o O descolamento prematuro da placenta pode provocar sangramento claro ou escuro exteriorizado pela cérvice (hemorragia externa). o O sangue pode também permanecer atrás da placenta (hemorragia oculta). o A gravidade dos sinais e sintomas depende do grau de separação da placenta e da perda sanguínea. o O útero pode ficar dolorido, sensível e irritável à palpação. o Geralmente, indica-se cesariana imediata se descolamento prematuro da placenta. ▪ AVE – hemorragia cerebral: o A hemorragia intracraniana pode ocorrer como complicações da paciente com pré- eclampsia, eclampsia e síndrome hellp e aumenta muito o risco de morte materna. o 62,2% dos casos ocorreram após o parto. o Está mais relacionada com a pressão arterial sistólica - importância de rígido controle de pressão arterial sistólica, principalmente em puérperas que tiveram alguma forma de pré-eclampsia durante a gestação com queixa de cefaleia e PA acima de 160 mmHg. ▪ Insuficiência renal aguda (IRA): o O diagnóstico de IRA na gravidez é feito em gestantes com oligúria (< 25 ml/hora) e creatinina sérica maior que 1,2 mg%. o A IRA na pré-eclampsia pode ser decorrente de uma lesão parenquimatosa renal decorrente da endoteliose glomerular, de níveis pressóricos muito altos ou de uma hipovolemia prolongada. o Pode também ser de causa pré-renal devido a uma insuficiência cardíaca congestiva ou de um estado hipovolêmico. o Na gestante hipovolêmica com oligúria de causa pré-renal, seu rim vai tentar manter a volemia, assim sua urina vai estar bem concentrada, mostrando densidade urinária e osmolaridade altas, retenção de sódio, levando uma menor fração de excreção de sódio e uma menor concentração de sódio na urina. o A relação entre a concentração de creatinina e ureia entre a urina e plasma vai estar maior na oliguria pré-renal. o Na gestante com lesão renal instalada e com função renal comprometida, a urina não vai apresentar osmolaridade e densidade tão aumentada, a fração de excreção de sódio vai ser maior e a urina tipo I pode mostrar cilindros granulosos turvos e marrons. o A diferenciação entre oligúria de origem pré-renal e renal é importante para definir o tratamento. o A Insuficiência renal, independentemente da causa, pode estar associada a acidose metabólica, hipercalemia, anemia e excesso de volume ou hipertensão. ▪ Edema pulmonar: o A gestante com pré-eclampsia grave apresenta alguns fatores que favorecem a instalação de edema agudo de pulmão. o Pode ocorrer diminuição da pressão coloidosmótica plasmática por diminuição de albumina sérica. o Pode apresentar aumento de pressão venocapilar pulmonar por insuficiência cardíaca congestiva particularmente nas gestantes hipertensas crônicas de longa data com aumento exagerado da pós-carga e nas gestantes hipertensas obesas. o Extravasamento da albumina para o intestício pulmonar devido a lesão endotelial com consequente aumento da pressão coloidosmótica intersticial pulmonar. o O diagnóstico de edema agudo de pulmão é clinico por queixas de dispneia grave associada a hipoxemia e ao aparecimento de infiltrado difuso na radiografia pulmonar. o O tratamento do edema agudo de pulmão envolve dar suporte ventilatória adequado para evitar a hipoxemia, restringir administração de volume, retirar excesso de volemia, reduzir a hipertensão arterial grave e evitar antiinflamatórios. ▪ Coagulopatia – coagulação intravascular disseminada: o A CIVD clinicamente manifesta é muito grave e caracterizada clinicamente por um sangramento difuso de múltiplos órgãos, microtrombos em pequenos vasos e trombos em vasos de médio e grosso calibre. o Isso leva ao consumo dos fatores de coagulação e anti-coagulação, levando a um profuso e incontrolável sangramento e geralmente a morte. o A piora isolada de exames de laboratório que avaliam a coagulação pode indicar a a interrupção da gestação. o O tratamento da CIDV envolve a retirada/correção do fator causal, correção do volume intravascular, repor os componentes da sangue ou coagulação e reavaliações clinicas/laboratoriais. o Transfusão de plaquetas quando associado a plaquetopenia, plasma fresco quando alteração importante de fibrinogênio e tempo de protrombina e fibrinogênio ou crioprecipitadoquando o fibrinogênio estiver muito baixo. o A indicação de administração de heparina fica reservada para quando o componente de trombose for predominante. ▪ Hematoma e rotura hepática: o Rotura hepática espontânea na gestação é uma condição rara e pode ser potencialmente fatal. o Geralmente está associada à pré- eclâmpsia grave e HELLP síndrome. o Os sinais e sintomas clínicos mais comumente associados a essa complicação são dor intensa epigástrica ou em quadrante superior direito, hipertensão, vômitos e sinais de choque hipovolêmico. o Entretanto seu diagnóstico é frequentemente feito apenas após laparotomia de urgência ou durante o parto cesariano. o Não há consenso sobre a melhor abordagem terapêutica na condução dessa grave complicação. Complicações fetais ▪ As complicações perinatais incluem prematuridade, restrição do crescimento fetal (RCF), sofrimento fetal e morte perinatal. ▪ Restrição de crescimento intrauterino: o A restrição de crescimento intrauterino ocorre quando o feto não atinge o tamanho esperado ou determinado pelo seu potencial genético, sendo identificada clinicamente quando o peso fetal está abaixo do percentil 10 para a idade gestacional. o Está relacionado ao aumento da morbidade e mortalidade perinatal. o Em algumas situações é difícil diferenciar fetos com restrição de crescimento intra-uterino (RCIU) de fetos PIG saudáveis. o O crescimento celular fetal em três fases consecutivas: ➢ Hiperplasia: presente nas primeiras 16 semanas e que se caracteriza por aumento do número de células. ➢ Hiperplasia e hipertrofia celular: presente entre a 16ª e 32ª semanas. ➢ Hipertrofia: presente após a 32ª semana caracterizada principalmente pela deposição de gordura resultante do metabolismo do glicogênio. 3. SÍNDROME HELLP ❖ Definição ▪ A síndrome HELLP é considerada uma forma grave de pré-eclâmpsia, em que a disfunção endotelial se manifesta principalmente pela ativação da coagulação e pela disfunção hepática, detectadas por meio de exames laboratoriais, sendo possível se apresentar clinicamente com pressão arterial normal e/ou sem proteinúria. ▪ Caracteriza-se por um conjunto de sinais e sintomas associados a hemólise (H – hemolysis), elevação das enzimas hepáticas (EL – elevated liver enzymes) e plaquetopenia (LP – low platelet count). ▪ A síndrome não é incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), sendo possível incluir essa situação como pré- eclâmpsia grave. ❖ Epidemiologia ▪ Ocorre em cerca de 1 a cada 1.000 gestações e em cerca de 10 a 20% das pacientes com pré-eclâmpsia grave. ▪ Geralmente ocorre em brancas, multíparas e em grávidas com mais de 35 anos. ▪ As variações na frequência podem ser decorrentes de diferentes critérios que incluem a possibilidade de ser parcial, ou seja, com a presença de apenas um ou dois dos critérios de definição. ▪ A mortalidade é muito maior que na pré- eclâmpsia isolada, variando de 0 a 24%, geralmente ocorrendo por rotura hepática, falência renal, CIVD, edema pulmonar, trombose de carótida e AVE. ▪ A síndrome HELLP apresenta recorrência de 3 a 27%. ▪ A morte perinatal ocorre por prematuridade, crescimento intrauterino restrito ou Descolamento Prematuro de Placenta (DPP). ❖ Fisiopatologia ▪ Sua fisiopatologia consiste em uma disfunção endotelial exacerbada que resulta em intenso espasmo no território arteriolar, hemólise, isquemia perilobular hepática com liberação de enzimas e ativação do sistema de coagulação. ▪ A progressão desses danos leva à grave insuficiência hepática e renal associadas a coagulação intravascular disseminada (CIVD). Hemólise ▪ A vasoconstrição presente na doença instalada danifica o endotélio vascular, formando uma matriz de fibrina que prejudica a dinâmica da circulação das hemácias na microcirculação. ▪ Estas sofrem modificações estruturais, e emergem na circulação formas anômalas tais como esquizócitos e equinócitos, identificadas no esfregaço de sangue periférico e indicativas de anemia hemolítica microangiopática, um marco da síndrome. o Esquizócito (célula capacete ou fragmentada): apresenta forma discoide alterada, com duas ou três espículas nas extremidades. o Equinócito: apresenta várias espículas em sua superfície. ▪ O aumento da destruição de eritrócitos é responsável pela hiperbilirrubinemia não conjugada, daí o aparecimento de icterícia. ▪ No entanto, a icterícia só é observada quando o nível de bilirrubina ultrapassa 3 mg/dL. ▪ Além disso, quando há apenas hemólise, a hiperbilirrubinemia em geral é leve. ▪ Valores elevados de bilirrubina sugerem disfunção hepática, com aumento da bilirrubina conjugada. ▪ Como as hemácias possuem grande quantidade de DHL, a hemólise promove a elevação da atividade dessa enzima no soro. Elevação das enzimas hepáticas ▪ A alteração enzimática hepática deve-se à lesão de hepatócitos por obstrução dos sinusoides com fibrina. ▪ As dificuldades circulatórias levam a congestão e distensão da cápsula de Glisson (causa da dor em hipocôndrio direito), podendo ocorrer necrose periportal, focos hemorrágicos difusos ou confluentes com capacidade de formação de hematomas de grandes proporções que podem se manter restritos em posição subcapsular ou romper para a cavidade, gerando hemorragias catastróficas e usualmente fatais. ▪ Em decorrência da necrose das células hepáticas, ocorre a elevação das enzimas TGO e TGP. o A TGP é um teste mais sensível que a TGO para indicar lesão hepática. ▪ Além disso, no comprometimento hepático, pode haver elevação da DHL, embora em níveis inferiores aos da TGO e da TGP. Plaquetopenia ▪ As lesões endoteliais ativam as plaquetas, induzindo sua agregação, formação de trombos e liberação de aminas vasoativas que agravam o vasoespasmo. ▪ O consumo exacerbado das plaquetas não consegue ser compensado pela medula óssea, resultando, assim, em plaquetopenia. ▪ A ativação da coagulação também pode progredir para a instalação de CIVD e quadros hemorrágicos de difícil controle. ❖ Quadro clínico e diagnóstico ▪ A expressão clínica da síndrome pode ser discreta, muitas vezes se confundindo com sintomas comuns da gravidez. ▪ De maneira geral, as pacientes se apresentam com queixas de mal-estar pouco definido, náuseas, cefaleia, icterícia, alterações visuais e dor epigástrica e/ou em hipocôndrio direito. ▪ Muitas pacientes não apresentam hipertensão arterial nem proteinúria, fazendo com que a hipótese de pré- eclâmpsia seja descartada. ▪ Por outro lado, pacientes com quadro típico de pré-eclâmpsia ou mesmo eclâmpsia apresentam frequentemente alterações laboratoriais típicas da síndrome HELLP. ▪ Obs.: todas as gestantes com idade gestacional > 20 semanas que procuram assistência com queixa de dor em hipocôndrio direito, eventualmente associada com vômitos, devem ser consideradas para diagnóstico de síndrome HELLP e devidamente investigadas. Critérios diagnósticos ▪ A confirmação diagnóstica é laboratorial. ▪ Os parâmetros laboratoriais adotados para a definição diagnóstica seguem os critérios clássicos sugeridos por Sibai et al. (1986). ▪ A trombocitopenia é a principal e mais precoce modificação laboratorial. ▪ O comprometimento hepático se mostra inicialmente com a elevação das enzimas, mas clinicamente chama a atenção a presença de icterícia. ▪ A pesquisa laboratorial de plaquetopenia, hemólise e alterações hepáticas deve ser recomendada para todas as pacientes com pré-eclâmpsia. ❖ Complicações ▪ As principais complicações encontradas em pacientes com síndrome HELLP são: oligúria, necessidade de hemotransfusão, hemorragia, insuficiência renal aguda, edema
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