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1 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S 2 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S 3 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Núcleo de Educação a Distância GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO Diagramação: Gildenor Silva Fonseca PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira. O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para a formação de profissionais capazes de se destacar no mercado de trabalho. O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem. 4 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Prezado(a) Pós-Graduando(a), Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional! Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confiança em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as suas expectativas. A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma nação soberana, democrática, crítica, reflexiva, acolhedora e integra- dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a ascensão social e econômica da população de um país. Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida- de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos. Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas pessoais e profissionais. Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi- ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver um novo perfil profissional, objetivando o aprimoramento para sua atu- ação no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe- rior e se qualificar ainda mais para o magistério nos demais níveis de ensino. E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a) nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial. Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos conhecimentos. Um abraço, Grupo Prominas - Educação e Tecnologia 5 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S 6 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo- sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve- rança, disciplina e organização. Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua preparação nessa jornada rumo ao sucesso profissional. Todo conteúdo foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho. Estude bastante e um grande abraço! Professores: Milena Barbosa De Melo Silvia Cristina Da Silva 7 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc- nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela conhecimento. Cada uma dessas tags, é focada especificadamente em partes importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in- formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao seu sucesso profisisional. 8 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Esta unidade analisará os aspectos contemporâneos da so- ciologia da educação. Especificamente, foram enfocadas nos aspec- tos relacionados com a crise da modernidade, polaridade indivíduo vs. sociedade, racionalidade individualista, as noções de habitus e campo e o construtivismo fenomenológico. Trata-se de uma pesquisa desen- volvida pelo método hipotético-dedutivo, cuja hipótese está relaciona- da com a aplicação da sociologia no ambiente educacional. Torna-se importante compreender o funcionamento desta área procedimental, pois entende-se que a educação é um setor extremamente importante para a sociedade, pois confere suporte ao desenvolvimento da socie- dade. Justifica-se por causa da sua real e persistente relevância, dado que o contexto social, econômico e político depende da aprendiza- gem. Os resultados revelam que a educação se apresenta como fator de crescimento ao País. Educação. Desenvolvimento. Sociedade. Sociologia. 9 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S CAPÍTULO 01 CRISE DA MODERNIDADE Apresentação do Módulo ______________________________________ 10 11 26 Crise da modernidade, pós-empirismo e a realidade como cons- trução _________________________________________________________ Recapitulando ________________________________________________ CAPÍTULO 02 INDIVÍDUO E ORDEM SOCIAL Recapitulando _________________________________________________ Indivíduo vs. sociedade ________________________________________ 46 30 CAPÍTULO 03 ASPECTOS DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO Contexto, Tradução e Controvérsia _____________________________ Racionalidade individualista _____________________________________ Fechando a Unidade ____________________________________________ Conflito e Consenso _____________________________________________ Considerações Finais ____________________________________________ Recapitulando __________________________________________________ Referências _____________________________________________________ 49 55 68 60 72 65 73 10 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Nesta unidade será possível compreender um pouco mais dos aspectos que estão relacionados com a sociologia da educação, nome- adamente, crise da modernidade, construtivismo estrutural, as questões relacionadas com a crítica da polaridade indivíduo vs. sociedade, as- pectos da dimensão simbólica da ordem social, o construtivismo feno- menológico e, por fim, os limites da racionalidade individualista, conflito e consenso. Sendo assim, no primeiro capítulo será possível analisar todos os elementos que giram em torno da crise da modernidade, como é o caso da evolução histórica da sociedade, os aspectos valorativos que podem ser observados no sistema social e, por fim, como a sociedade se adequa aos novos aspectos. Em seguida, no segundo capítulo será possível compreender um pouco do construtivismo fenomenológico e as questões relaciona- das com o construtivismo estrutural e o funcionamento da ordem social. Por fim, não menos importante, será possível compreender como ocorre a racionalidade individualista a partir de uma análise pri- mária do que seria racionalidade e quais os efeitos que podem ocorrer na sociedade. Como consequência da compreensão dos limites que a racionalidade individualista apresenta, surgirá as questões relacionadas com o conflito e consenso no âmbito da sociologia da educação. Bons estudos! 11 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S CRISE DA MODERNIDADE, PÓS-EMPIRISMO E A REALIDADE COMO CONSTRUÇÃO Com o objetivo de compreender um pouco mais sobre as ne-cessidades e os desafios que a sociedade apresentava, identifica-se a sociologia, que se torna como uma alternativa viável para identificar soluções adequadas para os problemas que a sociedade apresenta. CRISE DA MODERNIDADE Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S 12 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Figura 1. Problemas da sociedade e sociologia Fonte: Autora (2021) baseada Nery (2007, p. 09) O que deve ser levado em consideração é que, em virtude dos problemas que surgem no ambiente da sociedade, não se pode deixar de pensar numa resposta adequada, onde todas as necessidades e desafios devem ser amparados para os problemas não se perpetuarem. A sociologia é a parte das ciências humanas que estuda o com- portamento humano em função do meio e os processos que interligam os indivíduos em associações, grupos e instituições. Enquanto o indiví- duo na sua singularidade é estudado pela psicologia, a sociologia tem uma base teórico-metodológica voltada para o estudo dos fenômenos sociais, tentando explicá-los e analisando os seres humanos em suas relações de interdependência. Compreender as diferentes sociedades e culturas é um dos objetivos da sociologia. (FNDE, sem data, online). 13 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Em termos políticos, a sociologia clássica deve ser entendida à luz da hegemonia do discurso liberal. Durante a maior parte do século XIX, século que sucedeu às revoluções democráticas nos Estados Uni- dos e na França, o liberalismo e a teoria liberal estiveram em evidência nos debates intelectuais a respeito da política. Até os adversários do liberalismo se definiam em relação a este, seja como progressistas que iam além do liberalismo, seja como conservadores que lhe opunham resistência. No final do século, porém, a maior parte dos intelectuais concordava com o fracasso da teoria liberal, na política e na economia, tanto para explicar as mudanças nas práticas sociais quanto para pro- por critérios que as regulassem. Nesses debates do fin de siècle, a po- sição dos sociólogos clássicos se caracterizava por sua concordância com a opinião de que os acontecimentos sociais haviam suplantado o liberalismo clássico, ao mesmo tempo que insistia na necessidade de rever aquela tradição política (SEIDMAN, 1983, p. 278). Os movimentos reformadores da segunda metade do século XIX tentaram restabelecer, no tecido social, um pouco de solidez e se- gurança. Muitos reformadores provinham das elites burguesas e sua in- tenção era, principalmente, salvaguardar a ordem: muitas vezes faziam uso da ideia de nação no sentido de um coletivo de pessoas que com- partilham uma mesma história e desenvolvem uma identidade social comum. Um aspecto de importância equivalente foi a autoafirmação da classe operária como um corpo coletivo capaz de definir e representar seus próprios interesses. O socialismo, os sindicatos e os partidos tra- balhistas nasceram dessa tentativa de desenvolver respostas planeja- das à mudança social por parte de um novo coletivo, a classe operária. Além de seus objetivos econômicos e políticos, o movimento operário também criou uma nova identidade social, a de operário industrial, que lutava por um lugar ao sol na sociedade ou entre as forças políticas do futuro da humanidade. 14 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Figura 2. Objetivo da sociologia Fonte: Autora (2021) baseado em FNDE (sem data, online) Os resultados da pesquisa sociológica não são de interesse apenas de sociólogos(as). Cobrindo todas as áreas do convívio humano — desde as relações na família até a organização das grandes empre- sas, o papel da política na sociedade ou o comportamento religioso —, a sociologia pode vir a interessar, em diferentes graus de intensidade, a diversas outras áreas do saber. Entretanto, os maiores interessados na produção e sistematização do conhecimento sociológico atualmente são o Estado, normalmente o principal financiador da pesquisa desta disciplina científica, e a sociedade civil organizada. (FNDE, sem data, online). 15 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S A desigualdade é um fenômeno socioeconômico assentado na integração social, de forma que os desiguais compreendem parte indispensável da sociedade, contudo ocupantes do setor mais baixo. Seu grande teorizador é Karl Marx, que enfatizou a desigualdade entre capital e trabalho. Já a exclusão tem sua base na segregação, confi- gurando-se como fenômeno sociocultural profundamente desenvolvido por Michel Foucault. A estes sistemas de hierarquização somam-se o racismo e o sexismo, figuras híbridas que combinam desigualdade e exclusão. (TENÓRIO, 2010, p.104). Dentro dos problemas que surgem no ambiente social, a bus- ca para as soluções que devem ser aplicadas na sociedade acaba por se fundamentar nos pressupostos teóricos dos intelectuais, conforme apresenta Zuin (sem data, p.67): “Os debates a respeito do papel e da função dos intelectuais na sociedade contemporânea acompanham, via de regra, o curso aberto pelas investiga- ções que procuram decifrar o significado das mudanças políticas e econômi- cas ocorridas na ordem social existente. Toda profunda alteração do sentido da história prenunciada pelos processos de transformação socioeconômica, pelas crises e rupturas da ordem política que revelam um mundo que se desfaz, possibilita o surgimento de novos debates sobre a missão dos inte- lectuais na nova ordem social e política”. (ZUIN, sem data, p.67) Sendo assim, a mudança que deve ser apresentada no am- biente da sociedade depende, tão somente, da maneira como os atores envolvidos no processo se comportam frente aos desafios que surgem. Figura 3. Atores e mudança social Fonte: Autora (2021) baseado em Zuin (sem data, p.67) 16 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Percebe-se, portanto, que o processo de gestão das dificulda- des sociais não é uma tarefa fácil, pois, para além de compreender as diferenças inerentes à condição social, destaca-se a necessidade de se encontrar um denominador comum a ser aplicado para toda a socieda- de que, de acordo com Santos (2008, p.23), “Esse tipo de gestão passou a ser, devido às pressões sociais, uma preocu- pação do Estado, cuja proposta, longe de buscar eliminar esses elementos, corresponde à manutenção da desigualdade dentro de níveis toleráveis, por meio de políticas sociais, e à relativização da exclusão, a partir da distinção entre as formas aceitáveis e aquelas não aceitáveis socialmente. O Esta- do Moderno vive, então, um modelo de regulação social que produz a desi- gualdade e a exclusão, mas procura mantê-las dentro de limites funcionais” (SANTOS, 2008 p.23) Figura 4. Gestão dos problemas sociais Fonte: Autora (2021) baseado em Santos (2008, p.23) Entretanto, de acordo com o que se observa na figura acima e fundamentado nas diretrizes estabelecidas por Santos (2008), a ges- tão dos problemas que surgem na sociedade se apresenta como um sistema que está longe de solucionar os problemas e bem próximo de manter as desigualdades a partir de índices toleráveis. Diante do que se observa, a sociologia surge para enfrentar os desafios a partir das mudanças sociais que surgem a partir das pers- pectivas culturais, sociais, econômicas e políticas, ou seja, parte-se do pressuposto que a partir do momento em que as perspectivas que envolvem o indivíduo se modificam, as necessidades da sociedade se modificam e, portanto, o Estado precisa se adequar às necessidades. A sociologia, portanto, vem apresentar instrumentos reais para compreender osdesafios a partir da identificação dos limites, mas sem- pre dentro da conjuntura de sujeitos sociais. 17 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S A referida questão se materializa quando se compreende que os fatos sociais estão intimamente relacionados com os aspectos que ocorrem na sociedade, seja no âmbito social, políticos e econômico, de maneira que não é possível compreender a sociedade de maneira total sem os elementos ora apresentados, conforme destaca Frederico (2005, online): “Na medida em que não for completada pelas contribuições da outra. Ora a passagem do abstrato ao concreto não se obtém adicionando duas ima- gens parciais. Não se pode obter um conhecimento real dos fatos humanos reunindo resultados parciais e deformantes de uma sociologia coisificante e psicologista com aqueles de uma história política ou bem simplesmente posi- tivista. O conhecimento concreto não é a soma, mas a síntese de abstrações justificadas. No caso a que nos referimos, as abstrações não sendo justifica- das, sua síntese era impossível. Não se trata, pois de reunir os resultados da sociologia e da história, mas de abandonar toda a sociologia e toda história abstratas para chegar a uma ciência concreta dos fatos humanos que não podem chegar senão uma sociologia histórica”. (FREDERICO, 2005, online) A maneira como a sociedade se porta deve ser compreendida a partir dos aspectos apresentados pela reflexão do sujeito, ou seja, a própria sociedade realizará as contribuições necessárias para o desen- volvimento social, conforme destaca Frederico (2005, online): “A historicização da forma levou-o a substituir a vaga consciência coletiva por um novo sujeito, formado pelas condições históricas e sociais. Mas o sujeito, nas ciências humanas em geral, não deve ser concebido em rígida oposição ao objeto, como ocorre nas ciências naturais. O sujeito que observa a sociedade e reflete sobre ela, seja o cientista social ou o artista, faz parte dessa mesma sociedade. A reflexão, portanto, “não se faz do exterior, mas do interior da sociedade». Por outro lado, a reflexão «é em grande medi- da organizada pelas categorias da sociedade», e o objeto estudado «é um elemento constitutivo, e mesmo um dos mais importantes, da estrutura do pensamento”. (FREDERICO, 2005, online) O objetivo de uma sociologia da literatura é, portanto, a busca das homologias, o estudo das estruturas significativas presentes nos grupos sociais - o substrato social que confere unidade à obra literária. O projeto de Goldmann procura transpor para a literatura dois movimen- tos: o estudo da compreensão, isto é, da estrutura significativa imanen- te da obra e a explicação, a inserção dessa estrutura, enquanto elemen- 18 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S to constitutivo e funcional, numa estrutura imediatamente englobante [para] tornar inteligível a gênese da obra que se estuda. (FREDERICO, 2005, online). O período posterior à Segunda Guerra Mundial é caracterizado pela intervenção do Estado na economia visando controlar as crises cíclicas do capitalismo. A nova fase, chamada de “capitalismo de organi- zação”, inaugura um longo ciclo de estabilidade e expansão econômica, produzindo a impressão de uma ordem autorregulada, uma segunda natureza, destinada a se perpetuar. A expressão literária do período é o nouveau roman, que registra a vitória definitiva da reificação, o triunfo acachapante das coisas sobre os homens. (FREDERICO, 2005, online). À medida em que a sociedade vai se aperfeiçoando, as modi- ficações vão surgindo, de maneira que a realidade social vai tomando novos contornos e passando a exigir da sociedade uma nova maneira de se compreender os comportamentos, conforme destaca Frederico (2005, online): “As transformações na sociedade explicariam o surgimento e a caducidade dos modos de se entender a realidade. O nouveau roman, segundo Robbe- -Grillet, é uma tomada de consciência, uma afirmação da impossibilidade de retratar o real seguindo o velho cânon do realismo clássico. Aliás, ele não se preocupa mais com a verossimilhança, e nem com as tentativas de utilizar a literatura para desvendar sentidos exteriores a ela; o foco da narração deve ser a “significação imediata das coisas”. O novo romance, diz, “não exprime, procura. E aquilo que procura é ele mesmo”17. Voltamos aos ensinamentos de Flaubert: “construir alguma coisa a partir do nada, que fica em pé sem ter que se apoiar seja no que for do mundo exterior à obra” (FREDERICO, 2005, online) Quando se observa as transformações no mundo, não apenas no sentido econômico, mas também político e social, destaca-se de for- ma mais real as modificações da sociedade e, portanto, ao invés de se analisar a partir de uma maneira unificada os aspectos da sociedade, destaca-se um sentimento de fragmentariedade, onde aquilo que antes era válido para o mundo dos sentidos, deu lugar ao mundo da razão humana, conforme apresenta Cabette (2014, online): “A grande crise surge com o relativismo que provoca um movimento contrá- rio à tradição secular. Movimento este em direção a uma fragmentariedade que se contrapõe a qualquer projeto de unidade. O que valia para o mundo dos sentidos passa a igualmente valer para o mundo da razão humana. Daí ganha relevância a chamada Filosofia da Linguagem (Wittgenstein – “jogos 19 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S de linguagem”), a crítica da linguagem como cristalizadora artificial de um mundo dinâmico (Nietzsche), o apontamento da debilidade da razão huma- na para acessar ao “ser” (Kant). Em resumo, toda uma concepção calcada na crença de que a razão humana não dá conta do mundo, de que não há verdade, não há realidade, há apenas “jogos de linguagem”, nomes (nomina- lismo), categorias mentais, vontade de poder no que tange a eternizar o que é passageiro. Ou seja, o mundo que vemos, sobre o qual falamos é apenas e tão somente um construto de nossas mentes”. (CABETTE, 2014 online) A partir dos novos questionamentos surgidos e, ainda, da pró- pria maneira que se apresenta os pensamentos, surge a crise da mo- dernidade, também conhecida como pensamento pós-moderno, onde a razão passou a se tornar como elemento essencial da construção do pensamento social. Dessa aparente denúncia de uma ilusão secular que, na ver- dade, se constitui em uma tremenda ilusão da filosofia contemporânea, ela sim, totalmente incapaz de se sustentar para além do papel, advém uma série de consequências, dentre as quais a mentalidade revolucio- nária quanto à possibilidade de mudanças radicais da realidade (que sequer existe, não é mesmo?) através, por exemplo, da mera alteração vocabular ou da simples satisfação da vontade humana. Como no títu- lo de um livro de Marshall Berman, “tudo que é sólido se desmancha no ar”. Tudo se torna proteico, indefinido, passível de manipulação ou molde. Se na tradição religiosa o Verbo (palavra) Divino era constitutivo das coisas, agora o verbo (a palavra, o pensamento) humano (novo “deus”) também se torna constitutivo de uma “realidade” fluida. (CA- BETTE, 2014, online). Sendo assim, o pensamento que surge no sistema pós-mo- derno é baseado num cenário a defender as percepções novas, onde aquilo que se encontra no passado, lá deve permanecer, no sentido de dar lugar ao que é novo, o que pode gerar progresso, desenvolvimento, renovação. Ao pensar dessa maneira, o sistema sociológico defenderá os aspectos de que o pensamento tradicional não possui valor e, por isso, deve ser substituído pelo novo. Entretanto, convém destacar que nem sempre o novo é algo melhor do que o antigo, pois em algumas situ- ações o que é novidade pode trazer algum tipo de comprometimento para a sociedade, como é o caso, por exemplo, do uso das redes so- ciais que, quandonão é utilizada com o devido cuidado, pode prejudicar os sujeitos que se utilizam dela. Sobre as questões apresentadas aci- ma, Cabette (2014, online) destaca que: 20 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S “Inobstante a vacuidade dessas concepções, fato é que a mentalidade mo- derna ou pós-moderna (como queiram), vem com ares de novidade e traz consigo exatamente a apologia do “novo” e a demonização do “tradicional” ou meramente do passado. Em meio a um mundo proteico, amorfo e male- ável ao extremo emerge um preconceito que leva a pensar que tudo que é posterior é melhor. Surge então o mito do “progresso”. Diz-se mito, não no sentido explicativo, mas no sentido de “mentira”, de “falsidade”, de “erro”. Porque a apologia do “progresso” linear não corresponde à realidade. Nem sempre o “novo” é melhor que o “anterior”. Nem sempre um progresso efetivo o é em todos os sentidos possíveis, ou seja, sob todos os ângulos. Afirma-se que Theodor Adorno, referindo-se a determinados “progressos” que trazem consigo aspectos altamente negativos e até destrutivos, usou a metáfora do “progresso do estilingue à bomba atômica”. Ora, é inegável que sob o ponto de vista armamentista e tecnológico, a superação do estilingue ou da funda pela arma nuclear é um salto enorme. No entanto, esse salto tecnológico é, ao mesmo tempo, um mal terrível que pode levar o mundo e com ele a hu- manidade a um desate fatal”. (CABETTE, 2014, online) Figura 5. Relativismo difuso da pós-modernidade Fonte: Autora (2021) baseado em Cabette (2014, online) 21 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S No âmbito da pós-modernidade, o mundo pós-moderno se de- para com uma realidade absolutamente fragmentada, onde aquilo que é considerada uma conduta reprovável, se torna aceita em virtude de um sistema que passa a diluir um valor importante para sociedade. De maneira contrária, no pensamento tradicional, havia a consciência de que determinado ato era errado, reprovável, ou seja, o indivíduo tinha uma consciência sobre o que fazia era errado, mesmo assim, decidia por continuar errando. Portanto, observa-se que os elementos apresentados no âmbi- to da pós-modernidade se destacam como um sistema de relativização do certo e do errado e, portanto, considera a conduta como parte natural de um processo social. Nesse sentido, de acordo com Cabette (2014, online): O mundo contemporâneo já não tem como grande mal a “incoerência” ou a “hipocrisia”. A “fragmentariedade” é atualmente a maior patologia social e individual porque ela supera em muito o potencial ponerogênico (do grego “ponerós” – mal) dos males anteriormente citados. (CABETTE, 2014, online) Figura 6. Modernidade e pós-modernidade Fonte: Autora (2021) baseado em Cabette (2014, online) 22 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S O grande problema é que o fragmentado vive em uma situação de compartimentalização e mutação contínua, onde o próprio pensa- mento varia, vaga sem rumo, norte ou prumo. A pessoa fragmentada não percebe a própria fragmentação. O incoerente sabe da sua inco- erência, ele é hipócrita, mas não é inconsciente. Quando tantas ideo- logias revolucionárias embasadas nessa característica supostamente proteica da sociedade e da natureza humana falam em “alienação”, a maior e mais grotesca “alienação” ocorre justamente no seio da menta- lidade pós-moderna ou daquela que põe em crise a modernidade e seu projeto filosófico de 26 séculos. (CABETTE, 2014, online). Diante do que se observa, o sistema de relativização dos as- pectos sociais acaba por gerar uma sensação de alienação dos indiví- duos que assim se comportam, pois acabam por sair da compreensão da realidade social necessária e passam a entender que os comporta- mentos desconexos estão longe de materializar uma postura centrada na concepção de desenvolvimento integral de uma sociedade, ou seja, encontram-se próximos de um sistema individual do ser humano, sem pensar que a prática de um determinado ato pode gerar consequências negativas para a construção de uma sociedade justa e equânime. EXEMPLIFICANDO Um indivíduo frequenta um mosteiro católico, onde entende conseguir paz espiritual, acompanhando os rituais, sorvendo os incen- sos e fazendo preces. Sai dali e vai para uma seita “Nova Era”. Ele descobre que sua namorada está grávida e a leva para abortar a crian- ça. Depois, participa de uma passeata em defesa do direito à vida dos animais. Aliás, é vegetariano por convicção. Ocorre que diversamente do hipócrita, tal pessoa não enxerga em nada disso. Ela não percebe que matar um feto humano sem dó e sensibilizar-se com a morte de um bezerro são coisas excludentes. Ela não percebe que entre os ritos e doutrinas católicos e os cultos de uma seita “New Age” nada há em comum. (CABETTE, 2014, online). 23 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Sendo assim, ao passo que o inconsciente possui um compor- tamento que varia de acordo com seus desejos pessoais, poderá ter uma variação sobre a maneira de pensar e de agir, ou seja, não existirá um padrão de ação específico e, portanto, se perderá o foco que deseja atingir, afinal de contas, o sujeito não estará agindo de acordo com uma percepção de valor, mas talvez, em virtude de uma motivação social que se apresenta o momento. De outra forma, o sujeito incoerente agirá em conformidade com aquilo que se deseja, mas sabendo exatamente que a sua conduta violará valores morais, éticos e religiosos. Sendo assim, ao passo em que a pessoa fragmentada não tem rumo, ou seja, não tem consciência da sua realidade como pessoa que erra, o sujeito incoerente possui essa dinâmica e, portanto, passa a ser considerado como sujeito hipócrita. Figura 7. Alienação e fragmentação Fonte: Autora (2021) baseado em Cabette (2014, online) Como era de se esperar, toda essa arrogância redundou em fracasso e numa ladeira escorregadia degenerou no relativismo, no descrédito da razão humana e na fragmentariedade já descrita. Ora, pretendendo abarcar o todo e não o conseguindo, fracassando frago- rosamente, todo conhecimento passou a ser dividido em partes, tudo 24 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S se fragmenta e se torna relativo. Não há mais visão total possível. Ao pretender dar um passo muito largo o homem quebra as pernas. (CA- BETTE, 2014, online). Numa derrocada final, emerge um jogo de “tudo ou nada”. A pretensão de conhecer a totalidade fracassa e fracassam também as tentativas de conhecimento compartimentado que se conformam como uma miríade de saberes contrastantes e confusos. Então, em um ato de puro capricho, de birra pueril, vêm as teorias que desprezam com- pletamente a capacidade humana de conhecer. A busca obstinada pela sabedoria, consciente de tratar-se de um trabalho de Sísifo, já não é honrosa o bastante. Se o homem não pode ser divinizado, então acaba animalizado e hoje vemos frequentemente zoólogos apresentarem es- tudos supostamente antropológicos. (CABETTE, 2014, online). A cisão verificada um século atrás entre a organização das prá- ticas sociais, as fronteiras políticas e as modalidades de formação de identidade levaram os sociólogos a defender enfaticamente a necessida- de de uma nova ordem social coesa. Eles não foram muito felizes na pre- visão da forma como isso se daria. A divisão do trabalho social não pro- duziu a “solidariedade orgânica”, ao contrário do que previa Durkheim; apesar do que disse Weber, a legitimidade das formas vigentes de domi- nação permaneceu duvidosa nas sociedades europeias durante a primei- ra metade do século XX. Mas os sociólogos contribuíram para identificar a problemática políticado seu tempo, assim como os recursos sociais e cognitivos disponíveis para superar as discrepâncias entre identidades, práticas e ordens políticas. (WAGNER, sem data, online). Dessa maneira, não se pode deixar de perceber que a socie- dade deve ser compreendida a partir de um conjunto complexo de situ- ações e não de maneira isolada. E, para que isso possa ocorrer, faz-se necessário estruturar diálogos integrais sobre o funcionamento da so- ciedade, no sentido de perceber que a sociedade deve ser compreendi- da de acordo com um quadro social integral. 25 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Figura 8. Compreensão da sociedade Fonte: Autora (2021) baseado em (WAGNER, sem data, online) Isso é importante no sentido de recuperar, integralmente, a prudência no que se refere à prática dos atos da sociedade e, quando se pensa dessa maneira, busca-se algo próximo ao sistema do estrutu- ralismo, mas sempre no sentido de encontrar valores essenciais para a sociedade e, mesmo que de maneira parcial, aplicar na sua integralida- de no sistema social. A sociologia e o pensamento político anteriores raramente fo- ram capazes de trabalhar sem alguma suposição acerca de uma ten- dência para a coesão, a ser obtida por mecanismos de ajuste de valores e normas, ou de alguma hipótese sobre a necessidade da coesão, a ser preservada e imposta por entidades supraindividuais, na qualida- de de guardiãs das coisas comuns, tais como o Estado, um mandado da sociedade ou um discurso universalista sobre princípios morais. Em sua época, também marcada por transformações sociais, os sociólogos clássicos avançaram significativamente na formulação desse problema. (WAGNER, sem data, online). 26 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S TREINOS INÉDITOS QUESTÃO 1 Lei atentamente o trecho abaixo e, em seguida, assinale a alterna- tiva correspondente. “A essa arrogância redundou em fracasso e numa ladeira escorre- gadia degenerou no relativismo, no descrédito da razão humana e na fragmentariedade já descrita. Ora, pretendendo abarcar o todo e não o conseguindo, fracassando fragorosamente, todo conheci- mento passou a ser dividido em partes, tudo se fragmenta e se tor- na relativo. Não há mais visão total possível. Ao pretender dar um passo muito largo o homem quebra as pernas”. (CABETTE, 2014, online). ( ) Certo ( ) Errado QUESTÃO 2 Lei atentamente o trecho abaixo e, em seguida, assinale a alterna- tiva correspondente. “Numa derrocada final, emerge um jogo de “tudo ou nada”. A pre- tensão de conhecer a totalidade fracassa e fracassam também as tentativas de conhecimento compartimentado que se conformam como uma miríade de saberes contrastantes e confusos. Então, em um ato de puro capricho, de birra pueril, vêm as teorias que desprezam completamente a capacidade humana de conhecer”. (CABETTE, 2014, online). ( ) Certo ( ) Errado QUESTÃO 3 Lei atentamente o trecho abaixo e, em seguida, assinale a alterna- tiva correspondente. “A busca obstinada pela sabedoria, consciente de tratar-se de um trabalho de Sísifo, já não é honrosa o bastante. Se o homem não pode ser divinizado, então acaba animalizado e hoje vemos fre- quentemente zoólogos apresentarem estudos supostamente an- tropológicos”. (CABETTE, 2014, online). ( ) Certo ( ) Errado 27 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S QUESTÃO 4 Lei atentamente o trecho abaixo e, em seguida, assinale a alterna- tiva correspondente. “A cisão verificada um século atrás entre a organização das práti- cas sociais, as fronteiras políticas e as modalidades de formação de identidade levaram os sociólogos a defender enfaticamente a necessidade de uma nova ordem social coesa.” (WAGNER, sem data, online). ( ) Certo ( ) Errado QUESTÃO 5 Lei atentamente o trecho abaixo e, em seguida, assinale a alterna- tiva correspondente. “A sociedade deve ser compreendida a partir de um conjunto com- plexo de situações e não de maneira isolada. E, para que isso pos- sa ocorrer, faz-se necessário estruturar diálogos integrais sobre o funcionamento da sociedade, no sentido de perceber que a so- ciedade deve ser compreendida de acordo com um quadro social integral.” ( ) Certo ( ) Errado QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Explique quais são os efeitos sociais que podem surgir com a crise da modernidade. NA MÍDIA OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA EM 2019: LINHAS E CORES Há muitos desafios a serem enfrentados na Educação brasileira em 2019. Posicionado entre os 10 países mais desiguais do mundo, o Brasil possui quase 12 milhões de analfabetos e mais da metade dos adultos entre 25 e 64 anos não concluíram o Ensino Médio. São quase dois milhões de crianças e jovens de 4 a 17 anos fora da escola e 6,8 milhões de crianças de 0 a 3 anos sem vaga em creche. Os dados mostram que há sérios problemas com a alfabetização na idade certa, as crianças e jovens não aprendem o que é esperado, a evasão escolar no ensino médio é grave e não há um projeto estrutura- do para a formação e a carreira docente. Esse cenário crítico é fruto de décadas de descaso, em um país que nunca colocou a Educação entre as prioridades da agenda política nacional. 28 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Fonte: Alessandra Gotti Data: 2019 Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/15432/os-desafios-da-educacao- -brasileira-em-2019-linhas-e-cores?gclid=CjwKCAjw_L6LBhBbEiwA- 4c46urFoByD1hbiWjt32eUUCzo935wFuZyXaKT2D4x8HtDLas2jZ- T0hDjhoC__QQAvD_BwE. Acesso em 20 de outubro de 2021. NA PRÁTICA PODE O COLONIALISMO SERVIR COMO TEORIA DA MODERNIDA- DE? REFLEXÕES DESDE A TEORIA DA MODERNIDADE DE JÜR- GEN HABERMAS Argumentamos que a utilização do colonialismo como teoria da moderni- dade permite a superação da cegueira histórico-sociológica das teorias da modernidade europeia canônicas em seus cinco problemas e pré- -conceitos metodológico-programáticos e epistemológico-políticos ba- silares: (a) a separação purista e simplista entre modernidade europeia como racionalização e universalismo e todo o resto como tradicionalis- mo em geral, essencialista e naturalizado, dogmático, fundamentalista e preso ao seu contexto de emergência; (b) a singularidade absoluta da modernidade europeia como processo civilizacional em relação a todo o resto das sociedades-culturas como tradicionalismo em geral, o que implica na construção de um discurso filosófico-sociológico da modernidade europeia como um processo societal-cultural-civilizacional autorreferencial, auto-subsistente, endógeno e autônomo, enquanto ba- sicamente um esforço de si sobre si mesma, por si mesma, como uma saída de sua menoridade (tradicionalismo) e a conquista de sua maio- ridade-maturidade (modernidade, racionalização e universalismo), sem qualquer contato e dependência com o outro da modernidade; (c) não obstante essa autorreferencialidade, auto-subsistência, endogenia e autonomia relativamente ao outro da modernidade, a correlação, como pedra angular do discurso filosófico-sociológico da modernidade euro- peia, de modernidade-modernização, racionalização, universalismo e/ como gênero humano, o que significa que a modernidade torna-se a condição da crítica, da reflexividade, do enquadramento e da eman- cipação para si mesma e para o outro da modernidade, como a base paradigmática para si e para o outro da modernidade; (d) a separação entre modernidade cultural e modernização econômico-social, a primei- ra como esfera normativa e base ontogenética desta, a segunda como horizonte fundamentalmente instrumental, lógico-técnico, com o que https://novaescola.org.br/conteudo/15432/os-desafios-da-educacao-brasileira-em-2019-linhas-e-cores?gclid=CjwKCAjw_L6LBhBbEiwA4c46urFoByD1hbiWjt32eUUCzo935wFuZyXaKT2D4x8HtDLas2jZT0hDjhoC__QQAvD_BwEhttps://novaescola.org.br/conteudo/15432/os-desafios-da-educacao-brasileira-em-2019-linhas-e-cores?gclid=CjwKCAjw_L6LBhBbEiwA4c46urFoByD1hbiWjt32eUUCzo935wFuZyXaKT2D4x8HtDLas2jZT0hDjhoC__QQAvD_BwE https://novaescola.org.br/conteudo/15432/os-desafios-da-educacao-brasileira-em-2019-linhas-e-cores?gclid=CjwKCAjw_L6LBhBbEiwA4c46urFoByD1hbiWjt32eUUCzo935wFuZyXaKT2D4x8HtDLas2jZT0hDjhoC__QQAvD_BwE https://novaescola.org.br/conteudo/15432/os-desafios-da-educacao-brasileira-em-2019-linhas-e-cores?gclid=CjwKCAjw_L6LBhBbEiwA4c46urFoByD1hbiWjt32eUUCzo935wFuZyXaKT2D4x8HtDLas2jZT0hDjhoC__QQAvD_BwE 29 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S temos a purificação e a santificação da modernidade cultural e a con- denação da modernização econômico-social como a única culpada das patologias psicossociais modernas; e, em tudo isso, (e) o silenciamen- to sobre e o apagamento do colonialismo enquanto parte constitutiva, dinâmica e consequência do processo de modernidade-modernização ocidental como um todo. Fonte: Leno Francisco Danner; Agemir Bavaresco; Fernando Danner. Data: 2019 Disponível em: http://seer.ucp.br/seer/index.php/synesis/article/view/1434. Acesso em 20 de outubro de 2021. PARA SABER MAIS Filme sobre o assunto: Sociedade dos poetas mortos Acesse os links: https://youtu.be/xPRen0Us3p8. Acesso em: 13/07/2021 e https://youtu.be/_voyf-ExUC0. Acesso em: 13/07/2021 http://seer.ucp.br/seer/index.php/synesis/article/view/1434 30 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S INDIVÍDUO VS. SOCIEDADE A partir dos estudos desenvolvidos no ambiente da sociologia, compreende-se que a sociedade é um tipo de agrupamento de pessoas que desenvolvem entre si várias relações, podendo ser de cunho eco- nômico, social, cultural ou político. No ambiente social, os indivíduos são convidados imperativamente a praticar atividades que os permitem estar inseridos adequadamente no contexto social. Nesse sentido, compreende-se que aquele sujeito que não se encontra em plena harmonização com os demais indivíduos da socieda- de, favorecerá ao isolamento social e, consequentemente, será respon- sável pelas consequências da sua omissão social. Nesse sentido, Mello (sem data, online) destaca que: INDIVÍDUO & ORDEM SOCIAL Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S 31 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S “Basicamente buscou-se compreender que todas as relações sociais estão conectadas, formando um todo social, que chamamos de sociedade. A pas- sagem de uma sociedade rural para uma sociedade urbana, com a formação de grandes cidades, abriu novos espaços de sociabilidade, em que convive- ram pessoas diferentes e estranhas umas às outras, com objetivos e motiva- ções distintas. Esses novos espaços substituíram os espaços tradicionais de relações. Essa transição é essencial para compreender a sociologia. O rápi- do processo de urbanização provocou a degradação do espaço urbano ante- rior, do meio ambiente, e a destruição dos valores tradicionais. As indústrias atraíram as populações rurais para as cidades”. (MELLO, sem data online) O exercício da convivência plena em sociedade apresenta a necessidade da existência de relações interpessoais, mas não uma ação qualquer, apenas aquela que se determina como essencial para a construção plena do sistema da ordem social e isso inclui direitos e deveres. A sociedade, tal como passou a ser compreendida no início do século XIX, pressupunha um grupo relativamente autônomo de pessoas que ocupavam um território comum, sendo, de certa forma, constituin- tes de uma cultura comum. Além disso, predominava a ideia de que as pessoas compartilhavam uma identidade. As relações sociais, não só referentes às pessoas, mas, inclusive, às instituições (família, escola, religião, política, economia, mídia), moldavam as diversas sociedades. Assim, havendo uma enorme conexão entre essas relações, a mudança em uma acarretaria numa transformação em outra. (MELLO, sem data, online). Sendo assim, a sociedade compreende-se como um sistema dinâmico, ou seja, capaz de apresentar mudanças sistemáticas em um pequeno espaço de tempo, onde os indivíduos precisam estar em cons- tante predisposição para se adequar às novidades que a sociedade apresenta, conforme destaca Mello (sem data, online): “A sociedade é entendida, portanto, como algo dinâmico, em permanente processo de mudança, já que as relações e instituições sociais acabam por dar continuidade à própria vida social. Torna-se claro, ademais, que existe uma profunda e inevitável relação entre os indivíduos e a sociedade. As Ciên- cias Sociais lidaram com essa relação de diferentes modos, ora enfatizando a prevalência da sociedade sobre os indivíduos, ora considerando certa auto- nomia nas ações individuais. Para o antropólogo Ralph Linton, por exemplo, a sociedade, em vez do indivíduo, é a unidade principal, aquela onde os se- res humanos vivem como membros de grupos mais ou menos organizados” (MELLO, sem data, online). 32 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Figura 9. O indivíduo na sociedade Fonte: Autora (2021) baseado em Mello (sem data, online) De acordo com o que se apresenta, o ato de participar das ati- vidades sociais é condição essencial para solidificar a experiência em sociedade e, ainda, para que se compreenda de maneira integral toda a conduta da sociedade. Nesse sentido, Soldan e Rasia (2015, p.62) destacam que: “O ato social dinâmico é pré-condição da consciência (espíritu), que se en- gendra na experiência social das interações e somente é possível através da linguagem, ou gesto vocal, socialmente convencionalizada. Sendo assim, tendo como seu ponto de partida o social (sociedad), Mead (1953) explica que “a conduta de um indivíduo somente pode ser compreendida em termos da conduta de todo grupo social do qual é membro” aparecendo aqui a in- ternalização do outro generalizado (persona). Percebemos que Mead (1953) propõe para a psicologia social um conductismo social, ou behaviorismo social, em oposição às análises behavioristas comportamentais da época”. (SOLDAN; RASIA, 2015, p.62). 33 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Não sou obrigado a falar a língua de meu país, nem a usar as moedas legais, mas é impossível agir de outro modo. Se tentasse es- capar a essa necessidade, minha tentativa seria um completo fracasso. Se eu for um industrial, nada me proíbe de utilizar máquinas e equipa- mentos do século XIX, mas se fizer isso, com certeza vou me arruinar, pois não poderei competir com os que usam máquinas mais modernas. Mesmo quando posso libertar-me e desobedecer, sempre serei obriga- do a lutar contra tais regras. A resistência que elas impõem são a prova de sua força, mesmo quando as pessoas conseguem finalmente ven- cê-las. Todos os inovadores, inclusive os bem-sucedidos, tiveram que lutar contra oposições desse tipo. (DURKHEIM, 1973, p.08). A referida questão se confirma ao perceber que o processo de interação social é responsável pela construção da identidade do indiví- duo e de toda a coletividade e que os aspectos individuais que o sujeito apresenta, acaba por influenciar diretamente na maneira de vida do su- jeito coletivo, conforme destaca Strauss (1999, p.26). “Portanto, é na interação (que possui certa estrutura, é datada temporalmen- te, e que permite os indivíduos a troca), é que se desenvolvem as identidades pessoais e coletivas que estão entrelaçadas e se constituem reciprocamente. De acordo com Strauss (1999), “as interações acontecem entre indivíduos, mas os indivíduos também representam (em termos sociológicos)coletivida- des diferentes e muitas vezes múltiplas que se estão expressando por meio das interações” (STRAUSS, 1999, p.26) 34 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Figura 10. Indivíduo, interação e sociedade Fonte: Autora (2021) baseado em Strauss (1999, p.26) A problemática da relação indivíduo e sociedade é essencial na modernidade e é tratada frequentemente em termos de um antago- nismo entre os dois pólos da questão. No entanto, conforme indicações de Ellias (1994), não se pode considerar tal tema como se fosse uma questão de fato, no sentido de referir-se ao indivíduo enquanto unidade que se opõe à sociedade, ou seja, em uma dimensão ontológica, mas consiste em examiná-la enquanto realidade histórica e, assim, em seu caráter ético. Desta forma, podemos afirmar que essa questão foi pro- duzida na modernidade e diz respeito ao fato de que somente o homem moderno se reconhece como indivíduo. Nesse sentido, se pensa como autônomo em relação a qualquer instância exterior a ele próprio, toma a si mesmo como fonte e sede absoluta de todos os sentidos de sua exis- 35 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S tência, desconhece qualquer dependência de laços sociais. Neste con- texto, as referências coletivas constituem um problema, surgindo daí a questão de saber a natureza, as possibilidades e limites da relação indivíduo e sociedade. (SOLDAN; RASIA, 2015, p.62). Sendo assim, ao passo em que os indivíduos inseridos em de- terminado contexto social se relacionam entre si, acabam por criar um comportamento coletivo. Algumas vezes, por se tratar de diferentes pes- soas, os comportamentos podem ser distintos e, assim, a maneira como se manifestam em sociedade representa um tipo de identidade política, cultural e econômica, podendo influenciar a sociedade em que se en- contram inseridos, conforme apresenta Soldan e Rasia (2015, p.67): “Em síntese, compreendemos que os indivíduos (que transitam por diversos grupos, estão em interação, significando (a partir dos símbolos compartilha- dos pelos grupos) e nomeando. Desse modo os indivíduos orientam a ação do grupo, as suas ações, a si mesmos, as ações dos outros e aos outros. Por fazerem parte de diferentes grupos ao mesmo tempo e estarem em constan- te interação (que por vezes é conflituosa) os indivíduos assumem diferen- tes papéis, máscaras e representam. Conscientes constroem e reconstroem suas identidades, pautando-se nos símbolos construídos e mobilizados den- tro dos diversos grupos dos quais fazem parte, demonstrando assim o cará- ter coletivo da identidade e permanente da socialização”. (SOLDAN; RASIA, 2015, p.67). Figura 11. Indivíduo, interação e coletividade Fonte: Autora (2021) baseado SOLDAN; RASIA (2015, p.67) 36 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Os homens tornam a realidade inteligível a partir das represen- tações sociais, e é também a partir dessas que eles se agrupam, levan- do em conta que “cada grupo possui um universo de opinião particular”. Ao organizar, traduzir, simbolizar, moldar, reproduzir e socializar esses conhecimentos, a função da representação social, segundo Moscovici, é a de elaborar os comportamentos e a comunicação entre os indiví- duos, ou seja, nas palavras do próprio teórico “possuem uma função constitutiva da realidade”. (MOSCOVICI, 2012, p.27). Os homens tornam a realidade inteligível a partir das represen- tações sociais, e é também a partir dessas que eles se agrupam, levan- do em conta que “cada grupo possui um universo de opinião particular. Ao organizar, traduzir, simbolizar, moldar, reproduzir e socializar esses conhecimentos, a função da representação social, segundo Moscovici, é a de elaborar os comportamentos e a comunicação entre os indiví- duos, ou seja, nas palavras do próprio teórico “possuem uma função constitutiva da realidade.” (MOSCOVICI, 2012, p.32). Sendo assim, compreendendo que o indivíduo é um ser social que, a partir de suas práticas sociais, torna-se capaz de dinamizar a própria sociedade, observa-se que a estrutura do Estado (povo, poder e território) depende das atividades desempenhadas pelo indivíduo, ou seja, o tipo de poder (governo) vai depender do tipo de indivíduo que compõe aquela sociedade. “Estabelece uma dinâmica própria dentro do contexto social que é capaz de O Estado, o governo com suas funções e seus poderes, torna-se, assim, o centro de interesse do homem que raciocina” (SOLDAN, RASIA (2015, p.68) A visão dicotômica entre indivíduo e sociedade é fundamental nas Ciências Sociais, e faz parte dos primórdios do desenvolvimento da Sociologia, que surgiu em meio a um crescente processo de indus- trialização iniciado ainda no século XVIII e que levou ao surgimento de inúmeros problemas sociais no início do século seguinte, quando sur- 37 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S giu a disciplina. Podemos dizer que as transformações ocorreram pela transição de uma realidade rural para um ambiente urbano e industrial. O advento de estruturas sociais mais complexas fez com que os homens se vissem na necessidade de compreendê-las. Brota uma nova ciência que, partindo do instrumental das ciências naturais e exa- tas, tenta explicar a realidade, estudando sistematicamente o comporta- mento social dos grupos e as interações humanas. (MELLO, sem data, online). Nesse contexto, a relação entre os indivíduos e a sociedade passa a ter uma visão diferenciada, pois o tipo de que vida que o in- divíduo passa a ter influenciará no tipo da realidade social, conforme destaca Mello (sem data, online): “A visão dicotômica entre indivíduo e sociedade é fundamental nas Ciências Sociais, e faz parte dos primórdios do desenvolvimento da Sociologia, que surgiu em meio a um crescente processo de industrialização iniciado ainda no século XVIII e que levou ao surgimento de inúmeros problemas sociais no início do século seguinte, quando surgiu a disciplina. Podemos dizer que as transformações ocorreram pela transição de uma realidade rural para um ambiente urbano e industrial. O advento de estruturas sociais mais comple- xas fez com que os homens se vissem na necessidade de compreendê-las. Brota uma nova ciência que, partindo do instrumental das ciências naturais e exatas, tenta explicar a realidade, estudando sistematicamente o compor- tamento social dos grupos e as interações humanas”. (MELLO, sem data online) E, a partir desta perspectiva, destaca-se o surgimento de algu- mas teorias específicas, que servem para direcionar os aspectos que estão relacionados com o indivíduo e a sociedade, como é o caso de Durkheim e Weber. Dessa maneira, na perspectiva de Durkheim, en- quanto há a prioridade no processo de análise dos fenômenos sociais como parte essencial do processo que influencia as ações, ou seja, elementos externos influenciariam as ações dos indivíduos. Entretanto, a partir da percepção de Weber, as interações sociais influenciam dire- tamente os preceitos observados no âmbito social. “Enquanto Emile Durkheim priorizou a sociedade na análise dos fenôme- nos sociais, considerando-a externa aos indivíduos e determinadora de suas ações, Max Weber entendia ser preponderante o papel dos atores sociais e as suas ações. Weber entendia a sociedade como o conjunto das interações sociais. A “ação social”, objeto de estudo weberiano, toma este significado quando seu sentido é orientado pelo conjunto de pessoas que constituem a sociedade”. (MELLO, sem data, online) 38 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Na perspectiva sociológica de Émile Durkheim, a existência de uma sociedade e a coesão social que assegura sua continuidade só se tornapossível quando os indivíduos se adaptam ao processo de so- cialização, ou seja, quando são capazes de assimilar valores, hábitos e costumes que definem a maneira de ser e de agir característicos do grupo social a qual pertencem. (CANCIAN, sem data, online). Figura 12. Sociedade e socialização Fonte: Autora (2021) baseado em Cancian (sem data, online) A consciência coletiva constitui o “conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade, formando um sistema determinado com vida própria”. A consciência co- letiva é capaz de coagir ou constranger os indivíduos a se comportarem de acordo com as regras de conduta prevalecentes. A consciência co- letiva habita as mentes individuais e serve para orientar a conduta de cada um de nós. Mas a consciência coletiva está acima dos indivíduos e é externa a eles. Com base neste pressuposto teórico, Durkheim chama atenção para o fato de que os fenômenos individuais devem ser expli- cados a partir da coletividade e não o contrário. (CANCIAN, sem data, online). 39 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Na perspectiva de Max Weber, as ações dos indivíduos devem ser consideradas a partir de uma percepção interior e exterior e só as- sim, será possível compreender o próprio funcionamento da sociedade. Sendo assim, questões relacionadas com história, política, cultura, eco- nomia e emoções são capazes de influenciar diretamente o comporta- mento do indivíduo no sistema social. Nesse sentido, Bastos e Gomes (2012, online) destacam que: “O método compreensivo defendido por Weber, consiste que as ações de um indivíduo contêm não só o aspecto exterior dessas mesmas ações, mas também o aspecto sentimental, social e histórico de toda sociedade. Weber propôs uma sociologia que possa compreender e assim explicar melhor de- terminados fragmentos da realidade social. As ações dos indivíduos na so- ciedade são inúmeras, tanto no passado, presente e futuro. A racionalidade dos indivíduos os capacita a exercer a própria vontade, assim os indivíduos “dão vida” à sociedade através da participação nas instituições sociais como a família, a escola, o partido político, igreja etc.”. (BASTOS, GOMES, 2012, online) A sociologia de Weber nos faz pensar que embora estejamos obrigados a agir conforme um pacote de regras que regulam a nossa vida é preciso considerar que essas regras foram criadas por indivíduos como nós, e que elas estão aí para serem mudadas, educar no sentido da racionalização passou a ser fundamental para o estado, porque ele precisa de um direito racional e de uma burocracia montada em moldes racionais. (BASTOS, GOMES, 2012, online). Figura 13. Weber e sociologia Fonte: Autora (2021) baseado em BASTOS, GOMES (2012, online) 40 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Para Weber a sociedade capitalista moderna precisa de um maior grau de racionalização para sustentar a ação dos indivíduos, ne- cessitando estabelecer regras a serem obedecidas. A racionalidade dos indivíduos os capacita a fazer a própria vontade. Para compreender o capitalismo precisaríamos fazer um estudo mais aprofundado do pas- sado comparando várias sociedades e outras civilizações. Compreen- demos também que o capitalismo moderno estabeleceu novas formas de ações para os homens, com instituições de leis e princípios burocrá- ticos. O capitalismo reduzia tudo, inclusive a educação, à mera busca por riquezas material e estrutural. Weber, por sua vez, defendia que para todas as disciplinas tanto as ciências naturais como as ciências da cultura o conhecimento é uma conquista que nunca termina. (BASTOS, GOMES, 2012 online) Esta dualidade de posicionamentos gera o que a sociologia define como polaridade e, de acordo com Bastos e Gomes (2012), pen- sar de maneira polarizada seria reduzir ambas as estratégias, visto que consideraria apenas uma via de realização de atos sociais. Entretanto, existem modelos que pensam na harmonização, ou seja, na coordenação dos modelos apresentados, de maneira que se considera a possibilidade de uma influência mútua entre ambas as teo- rias e, assim, os problemas que surgem com o reducionismo estariam solucionados, conforme destacam Bastos e Gomes (2012, online): “Ambas as estratégias reducionistas, como vemos, trabalham com uma pers- pectiva unidirecional da influência de um polo sobre o outro. Há, no entanto, várias tentativas de conciliação dos dois modelos, assumindo que eles se influenciam mutuamente: a estrutura social é produzida pelo homem e o pro- duz. A síntese encontrada reconhece que a estrutura social é uma objetiva- ção da atividade humana, mas que afeta o indivíduo como um fator externo, que o limita e o restringe. No entanto, introduz problemas adicionais para a compreensão de como sociedade e indivíduos se relacionam. A circularida- de embutida nessa combinação das duas estratégias reducionistas cria, por exemplo, o problema de como explicar ou compreender os processos de mudança, quer das sociedades em suas múltiplas coletividades, quer dos indivíduos. (BASTOS, GOMES, 2012, online) 41 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Contudo, existem posicionamentos críticos acerca da possibi- lidade de coexistência entre as teorias, pois a harmonização entre as teorias não possibilita integração e crescimento, visto que os problemas conceituais do indivíduo e da sociedade continuarão a existir. “Critica-se, portanto, essa estratégia que afirma a coexistência ou a concilia- ção, articulando os dois reducionismos simultaneamente, na expectativa de que, assim o fazendo, o problema da relação indivíduo-coletividade fica so- lucionado. Tal solução, no nosso entendimento, gera um paradoxo por des- considerar os problemas conceituais e a diferença na condição ontológica existente entre os conceitos de indivíduo e de sociedade que estão na base dessa falsa antinomia; em outras palavras, traz um falso dilema que nasce da pouca atenção que dedicamos aos conceitos e às formas que utilizamos no campo científico”. O problema está no discernimento da condição ontológica de indivíduo e sociedade. Seriam elas condições comuns ou diferenciadas? Na realidade, o indivíduo é mais do que aquilo que a sociedade determina, e a sociedade é mais do que aquilo que o indivíduo cria. O não esclarecimento da extensão desses dois conceitos limita a compreensão de como eles se articulam efetivamente. A seguir, a tensão indivíduo-sociedade será analisa- da em um contexto específico, a relação indivíduo-organização. (BASTOS, GOMES, 2012, online) Há polaridades muito conhecidas e referenciadas. Ao se discu- tir a relação entre indivíduo e ambiente, aparece a tensão construtor/ati- vo versus construído/passivo. Ao examinar a constituição do sujeito ao longo do ciclo de vida, deparamo-nos com a tensão do inato versus ad- quirido, ou de natureza versus cultura. Ao considerarmos a singularida- de do indivíduo, vemo-nos diante do dilema estrutura versus processo, ou estrutura versus ação. Ao analisarmos a questão de ajustamento, do bem-estar e da saúde, enfrentamos a tensão do conceito e dos limites entre normal versus patológico. Ao tratarmos dos processos de investi- gação, temos que enfrentar o dilema qualitativo versus quantitativo ou, mais abrangentemente, ciências naturais versus ciências sociais, decor- rendo daí outras polaridades como positivismo versus não positivismo, dialética versus hermenêutica, e assim por diante. Ao pensarmos sobre o conjunto diversificado de práticas profissionais, nós nos deparamos com a categorização de práticas individualizantes versus práticas cole- tivas ou, ainda, de práticas remediativas versus práticas preventivas. Tal dilema, na realidade, se ancora em outro maior: na relação entre parte 42 Q U E ST Õ E SSO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S e todo, singular e plural, indivíduo e sociedade, e nos diversos níveis e planos em que as pessoas se agrupam. Assim, trata-se de uma tensão que atravessa a discussão das relações das pessoas com seus vários grupos de inserção: família, grupos de amigos, grupos de trabalho, or- ganizações etc. (BASTOS, GOMES, 2012, online). Sabendo desta polarização observada entre os aspectos do indivíduo e da coletividade, destaca-se que é um fenômeno bastante complexo, visto ser necessário compreender a partir de níveis que se apresentam de maneira específica, de acordo com o estabelecido por Bastos e Gomes (2012, online): “a) um objeto que faz parte de um sistema de totalidades parciais e pode ser compreendido ele mesmo como um sistema, também incorporando tota- lidades parciais de nível hierárquico inferior, b) um objeto que não pode ser explicado por modelos lineares de determinação, (c) um objeto que pode, metodologicamente, ser apreendido em múltiplos níveis de existência, dado que opera em distintos níveis da realidade, e (d) um objeto que é multiface- tado, alvo de diversas miradas, fonte de múltiplos discursos, extravasando os recortes disciplinares da ciência, ou, como o mesmo autor sintetiza a se- guir: um objeto complexo é sintético, não linear, múltiplo, plural e emergente. (BASTOS, GOMES, 2012, online) Nesse sentido, tendo como pressuposto essencial a compre- ensão da necessidade de se pensar na relação entre os dois modelos, de maneira linear, considera-se a recomendação de Bastos e Gomes (2012, online): “Recomenda-se cautela ao lidar com relações lineares e facilmente identifi- cáveis entre esses dois complexos fenômenos, em quaisquer das direções em que tais relações sejam estabelecidas. Primeiro, porque estaríamos in- correndo em um erro categórico, ao reificarmos o conceito de sociedade/ organização; segundo, porque estaríamos deixando de capturar a natureza eminentemente processual, dinâmica e fluida dessa rede de relações, que articula pessoas, suas ações mediadas por artefatos físicos e simbólicos e os produtos dessas ações, uma rede em que as ações e cognições, indivi- duais e coletivas, em espiral e recursivamente, vão construindo (criando or- dem) e dissolvendo (criando desordem) relações, entendimentos recíprocos, explicações e significados compartilhados. Talvez o grande desafio à com- preensão de estruturações complexas como as relações entre indivíduos e sociedade/ organizações esteja no desenvolvimento de estratégias metodo- lógicas para explorar e intervir nos processos que articulam pessoas, grupos e organizações”. (BASTOS, GOMES, 2012, online) 43 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S As polaridades que demarcam o nosso campo de pesquisa e profissão requerem maiores estudos. Apesar de problema tão central para a compreensão de qualquer fenômeno psicológico, psicossocial, psicossociológico ou sociológico, maior clareza de como lidar com a polaridade indivíduo-coletividade possui implicações nítidas para quais- quer práticas, tanto no nível dos indivíduos como no dos grupos, das or- ganizações e da sociedade. O inadequado tratamento dessas tensões pode levar a entendimentos e explicações que nos aprisionem no redu- cionismo de ambos os lados, especialmente quando tratamos o coletivo como coisa, com existência independente das ações humanas que as concretizam. Isso é muito claro, por exemplo, no caso das organiza- ções e mesmo quando se utiliza o conceito de cultura. Estamos aqui diante do reducionismo ao qual se referiu Elias (1994), de transformar processos em estados, isto é, no primeiro passo para que tais estados sejam tomados como coisas, como substantivos e, portanto, passem a integrar o nosso discurso explicativo dos fenômenos psicológicos e psicossociais. (BASTOS, GOMES, 2012, online). - O construtivismo fenomenológico Ainda na perspectiva de tentar compreender o comportamento no sentido de extrair a realidade social, percebe-se o construtivismo fenomenológico. Iniciando a compreensão do construtivismo fenome- nológico, convém destacar que construtivismo é uma acepção filosófica que faz parte da construção das relações entre o indivíduo pensante e o objeto definido. E, para entender melhor esta teoria, convém destacar que se entende a fenomenologia como um conjunto de pressupostos capazes de analisar a consciência do indivíduo a partir de um fenômeno especí- fico. Sendo assim, o objeto principal da fenomenologia seria, portanto, as experiências humanas e não as coisas que estão na vida daquele indivíduo. A fenomenologia se caracteriza, principalmente, por estudar os fenômenos em sua essência pura, seja a essência da percepção, da consciência ou outras. Mas também a fenomenologia é uma filosofia que substitui as essências na existência e não pensa que se possa compreender o homem e o mundo de outra forma senão a partir de sua ‘faticidade’. É o ensaio de uma descrição direta de nossa experiência tal como ela é. (TRIVINOS, 1987, p. 34). 44 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Figura 14. Aspectos da fenomenologia Fonte: Autora (2021) baseado em Vasconcelos (2015, online) Sendo assim, pensar no construtivismo fenomenológico é uma maneira de que as realidades concretas surgem de maneira pensada e diretamente relacionada com os fenômenos sociais. Da fenomenologia, Bourdieu rejeita o descritivismo, que con- sidera apenas como uma etapa do processo de investigação. Mas ab- sorve o rompimento com o senso comum, com as pré-noções, com as doutrinas, com os modos de apreender o mundo. Bourdieu segue a fenomenologia ao abandonar a “atitude natural” e mesmo a atitude in- telectual ante o objeto, ao assumir uma “atitude fenomenológica”, que entende o objeto como um todo e a ele integra a reflexão sobre a atitu- de, tanto dos agentes quanto dos pesquisadores. Absorve igualmente da fenomenologia o processo de construção do fato social como objeto e a ideia de que são os agentes sociais que constroem a realidade social, embora sustente que o princípio desta constituição é estrutural (BOURDIEU, 2001:209) 45 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Desse modo, compreende-se que o conhecimento epistemoló- gico não é fruto apenas do conhecimento sistêmico, mas também por meio de processos de sínteses projetivas. A relação da epistemologia pode interferir com a realidade, sendo que o fato epistemológico interpõe na correlação de forças na produção do saber epistemológico. Portanto, nascem de relações complexas de proporcionalidades a construção e a fenomenalidade. Todo conhecimento surge de fatos fenomenológicos, ou seja, realidades concretas, sendo o resultado final o objeto construí- do, como realidade fenomenológica pensada. Entretanto, a razão como sujeito cognoscente dirige a realidade, o fato fenomenológico, em uma relação dialética, surgindo o pensamento como análise científica produ- zida. (VASCONCELOS, 2015, online). 46 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S TREINOS INÉDITOS QUESTÃO 1 Leia atentamente o trecho abaixo e assinale a alternativa corres- pondente. “Recomenda-se cautela ao lidar com relações lineares e facilmente identificáveis entre esses dois complexos fenômenos, em quais- quer das direções em que tais relações sejam estabelecidas. Pri- meiro, porque estaríamos incorrendo em um erro categórico, ao reificarmos o conceito de sociedade/organização; segundo, por- que estaríamos deixando de capturar a natureza eminentemente processual, dinâmica e fluida dessa rede de relações, que articula pessoas, suas ações mediadas por artefatos físicos e simbólicos e os produtos dessas ações, umarede em que as ações e cognições, individuais e coletivas, em espiral e recursivamente, vão construin- do (criando ordem) e dissolvendo (criando desordem) relações, entendimentos recíprocos, explicações e significados comparti- lhados. Talvez o grande desafio à compreensão de estruturações complexas como as relações entre indivíduos e sociedade/organi- zações esteja no desenvolvimento de estratégias metodológicas para explorar e intervir nos processos que articulam pessoas, gru- pos e organizações”. (BASTOS, GOMES, 2012, online). ( ) Certo ( ) Errado QUESTÃO 2 Assinale a alternativa que indica qual a consequência que surge com o tratamento inadequado das polaridades na sociologia. a) Reducionismo b) Abstracionismo c) Casuísmo d) Ateísmo e) Negacionismo QUESTÃO 3 Leia atentamente o trecho abaixo e assinale a alternativa corres- pondente. “As polaridades que demarcam o nosso campo de pesquisa e pro- fissão requerem maiores estudos. Apesar de problema tão central para a compreensão de qualquer fenômeno psicológico, psicosso- cial, psicossociológico ou sociológico, maior clareza de como lidar com a polaridade indivíduo-coletividade possui implicações níti- 47 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S das para quaisquer práticas, tanto no nível dos indivíduos como no dos grupos, das organizações e da sociedade”. ( ) Certo ( ) Errado QUESTÃO 4 Leia atentamento o trecho abaixo e assinale a alternativa corres- pondente. “A fenomenologia se caracteriza, principalmente, por estudar os fenômenos em sua essência pura, seja a essência da percepção, da consciência ou outras. Mas também a fenomenologia é uma fi- losofia que substitui as essências na existência e não pensa que se possa compreender o homem e o mundo de outra forma senão a partir de sua ‘faticidade’. É o ensaio de uma descrição direta de nossa experiência tal como ela é”. (TRIVINOS, 1987, p.34). ( ) Certo ( ) Errado QUESTÃO 5 Leia atentamento o trecho abaixo e assinale a alternativa corres- pondente. “Da fenomenologia, Bourdieu não rejeita o descritivismo, que con- sidera apenas como uma etapa do processo de investigação. Mas absorve o rompimento com o senso comum, com as pré-noções, com as doutrinas, com os modos de apreender o mundo.” (BOUR- DIEU, 2001:209). ( ) Certo ( ) Errado QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE Explique se a razão do sujeito cognoscente dirige a realidade. NA MÍDIA O QUE É POLARIZAÇÃO E POR QUE É PREJUDICIAL À DEMOCRA- CIA? Apesar de ser um fenômeno muito falado hoje em dia, o melhor modo para começarmos a entender a polarização é olhar para trás. Na verda- de, bem para trás, em nosso passado como espécie. Como qualquer outro animal, o corpo do ser humano se modificou ao longo do tempo com um objetivo claro, apesar de inconsciente: adap- 48 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S tar-se às circunstâncias e ao ambiente para sobreviver o maior tempo possível e passar seus genes a seus descendentes. Para cumprir essa missão, algumas atitudes eram úteis e outras, nem tanto. Por exemplo, escalar uma montanha trazia riscos de se ferir e morrer; por isso, nosso cérebro desenvolveu o medo de altura, que tenta nos impedir de correr esses riscos. Fonte: Luiz Andreassa Data: 2020 Leia a notícia na íntegra: https://www.politize.com.br/o-que-e-polariza- cao/?https://www.politize.com.br/&gclid=CjwKCAiA7dKMBhBCEiwAO_ crFKlY4R4dQztWep3JjziDNjNXq4-gDBPVcBK0PCEhAWEsa6K7nWt- shhoCHoEQAvD_BwE. Acesso em 17 de novembro de 2021. NA PRÁTICA CULTURA, CIVILIZAÇÃO E INDIVÍDUO: MARCUSE, ELIAS E O COM- PARTILHAMENTO DA PSICANÁLISE FREUDIANA Neste ensaio procuramos estabelecer algumas afinidades temáticas entre Herbert Marcuse e Norbert Elias no que diz respeito à relação entre cultura e civilização, bem como buscar algumas aproximações teóricas que permitam avançar na superação da dicotomia indivíduo e sociedade, ainda presentes nas teorias sociológicas e psicológicas contemporâneas. Por isso, nos dois pensadores interessa-nos explorar o entendimento sobre os processos sociais que constituem os indivídu- os e modelam suas condutas, bem como os modos como respondem à problemática das restrições e dos controles que a vida em sociedade impõe às pulsões. Se entre Marcuse e Elias se registram divergências, também se encontram convergências decorrentes da partilha de uma mesma fonte teórica – a psicanálise freudiana. Fonte: Mirian Jorge Warde; Abel Silva Jorge. Data: 2019 Leia na íntegra: https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/ view/2175-795X.2019.e65087 Acesso em: 20 de outubro de 2021 PARA SABER MAIS Filme sobre o assunto: A onda Acesse os links: https://youtu.be/-ZwT6HEEwSM Acesso em: 13/07/2021 https://youtu.be/r6pEgm98mUQ Acesso em: 13/07/2021 https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/2175-795X.2019.e65087 https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/2175-795X.2019.e65087 https://youtu.be/r6pEgm98mUQ 49 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S CONTEXTO, TRADUÇÃO E CONTROVÉRSIA O processo de desenvolvimento de uma sociedade decorre do nível de produção educacional que possui, ou seja, incutir na população uma educação de qualidade beneficiará a sociedade em larga escala. Sendo assim, observa-se que quanto mais educada for uma socieda- de, maior será o seu processo de desenvolvimento social, conforme se apresenta na Figura 15, apresentada abaixo. ASPECTOS DA SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S 50 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Figura 15. Desenvolvimento social e educação Fonte: Autora (2021) baseado em Durkheim (1973) Relacionando tais questões com a sociologia, observa-se que a educação serviria como base fundamental para direcionar os profis- sionais da educação, no sentido de construir novos contornos no pro- cesso educacional, inclusive afastando-se de práticas tendenciosas. Diante do que se observa, o processo educacional se constrói a partir de um contexto social e, em decorrência deste processo, obser- va-se que tanto o homem é produto de uma sociedade quanto também a sociedade é um produto do homem. A própria Sociologia surgiu no intento de se compreender a forma como as relações sociais se configuravam. Isso eclodiu especial- mente com a instauração do sistema capitalista e seu desenvolvimento a partir das revoluções industriais, que modificaram drasticamente as estruturas dessas relações. Isso nos faz acreditar que a importância da sociologia para a profissão docente se dá justamente na possibilidade de oferecer recursos para que esses educadores possam instrumen- talizar-se desse repertório para desenvolver análises da sociedade e desse modo ajudá-los a compreender o próprio lugar da educação na sociedade e também compreender as relações das instituições educa- cionais com as demais instituições que constituem a sociedade, bem como família, igreja, trabalho etc. (SCOTTÁ, 2012, online). 51 Q U E ST Õ E S SO C IO LÓ G IC A S C O N TE M P O R Â N E A S - G R U P O P R O M IN A S Transpondo essa discussão teórica para o campo da Socio- logia da Educação, é preciso reconhecer o esforço de Bourdieu para evitar tanto o objetivismo quanto o subjetivismo na análise dos fenô- menos educacionais. O ator da Sociologia da Educação de Bourdieu não é nem o indivíduo isolado, consciente, reflexivo, nem o sujeito de- terminado, mecanicamente submetido às condições objetivas em que ele age. Em primeiro lugar, contrapondo-se ao subjetivismo, Bourdieu nega, da forma mais radical possível, o caráter autônomo do sujeito individual. Cada