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SÍNDROMES NEUROLÓGICAS DE CÃES E GATOS NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 Sumário Unidade 1: História da Medicina Veterinária .......................................................... 4 Seção 1.1: Introdução à história ................................................................................. 4 Seção 1.2: A importância do veterinário neurologista................................................. 5 Seção 1.3: Neurologia veterinária .............................................................................. 7 Unidade 2: Neurologista Veterinário – Neurologista para Cães e Gatos ............. 9 Seção 2.1: Neurologista veterinário – Tudo que você precisa saber, identificando problemas neurológicos em cães e gatos .................................................................. 9 Seção 2.2: Os desafios da neurologia veterinária .................................................... 12 Seção 2.3: Neurologia .............................................................................................. 14 Seção 2.4: Os problemas neurológicos mais comuns em pets ................................ 16 Seção 2.5: Doenças contagiosas que atingem o sistema nervoso ........................... 18 Unidade 3: Doenças Neurológicas ....................................................................... 20 Seção 3.1: Veterinários explicam Síndrome da Disfunção Cognitiva ....................... 20 Seção 3.2: As doenças neurológicas em cães e entenda como ela os afetam ........ 22 Seção 3.3: Veterinária alerta para as doenças neurológicas entre cães e gatos ...... 25 Unidade 4: Avaliação Neurológica, Diagnóstica e Terapêutica de Cães e Gatos com Síndrome Tremor ........................................................................................... 27 Seção 4.1: Introdução .............................................................................................. 27 Seção 4.2: Tipos de tremores .................................................................................. 28 Seção 4.3: Classificações dos tremores ................................................................... 29 Seção 4.4: Fisiopatogenia do tremor ........................................................................ 30 Seção 4.5: Doenças que causam sindrome tremor .................................................. 33 Referências............................................................................................................. 45 4 Unidade 1: História da Medicina Veterinária Seção 1.1: Introdução à história O exercício da cura dos animais confunde-se com o início da civilização humana e sua antiguidade pode ser identificada a partir do próprio processo de domesticação dos animais. Encontrado no Egito em 1890 o “Papiro de Kahoun”, descreve fatos relacionados aos tratamentos e cura de animais, ocorridos há 4000 anos a.C, e indica, inclusive, procedimentos de diagnóstico, prognóstico, sintomas e tratamento de doenças de diversas espécies animais. Os códigos de ESHN UNNA (1900 AC) e de HAMMURABI (1700 AC), que tiveram origem na Babilônia, capital da antiga Mesopotâmia, tinham referencias aos “Médicos dos Animais”. No continente europeu, os primeiros registros sobre essa prática foram encontrados na Grécia, no século VI a.C., no qual havia cidades que reservavam cargos públicos para os que praticavam a cura dos animais e lhes davam o nome de hipiatras. A Medicina Veterinária moderna teve origem em 1762, com a criação da primeira escola de medicina veterinária na França, fundada por Claude Bourgelat, seguido por Maison Alfort, nos arredores de Paris, em 1765. Depois disso, muitas outras se espelharam e o curso se espalhou por todo o mundo. Até o final do século XVIII, surgiram 20 estabelecimentos de ensino veterinário pela Europa. No Brasil, foi o imperador Dom Pedro II que, ao visitar a Escola Veterinária de Alfort, em 1875, decidiu criar uma também, por meio do Decreto 8.319 de 20 de outubro de 1910, assinado pelo então presidente Nilo Peçanha. Esse documento tornou obrigatório o ensino da Medicina Veterinária. No mesmo ano, na cidade do Rio de Janeiro, houve a criação da Escola Superior de Agricultura e Veterinária e a Escola de Veterinária do Exército. No início, o foco eram os bovinos que frequentemente sofriam com anaplasmose e babesiose. Depois, veio a clinica de pequenos animais e a saúde pública, com a campanha contra o mormo, doença que atacava os cavalos e os soldados. Os primeiros profissionais terminaram a graduação em 1917. O primeiro diploma legal a regulamentar a Medicina Veterinária veio com o Decreto 23.133 de 9 de setembro de 1933 e por isso, atualmente, 9 de setembro é o dia do médico veterinário. A medicina veterinária vem evoluindo muito pelo mundo todo, com 5 descobertas de novos tratamentos, enfermidades e com foco maior, a cada dia, sobre a saúde dos animais de produção, de companhia e dos humanos (saúde pública). O profissional da área cuida da saúde animal, aplicando antibióticos e outros fármacos. Além disso, trabalha com acessórios para treinamento e atua, direta ou indiretamente, na saúde de toda população humana do país, pois previne, nos animais, doenças que poderiam afetar o homem (zoonoses). Seção 1.2: A importância do veterinário neurologista Mais sensíveis do que os seres humanos, os animais possuem um sistema nervoso central complexo e, muitas vezes, uma lesão pode trazer grandes problemas à saúde dos bichinhos. Dessa forma, o veterinário neurologista é o profissional responsável por diagnosticar e cuidar das doenças e alterações neurológicas dos pets. Saiba mais sobre essa especialidade. O que é neurologia veterinária? A neurologia veterinária é uma área de conhecimento da medicina veterinária que engloba o estudo, diagnóstico de patologias, tratamento e, eventualmente, cura do sistema nervoso central dos animais, que é formado pelos seguintes elementos: cérebro, cerebelo, tronco encefálico, medula espinhal e sistema nervoso periférico. Hoje, boa parte dos diagnósticos neurológicos de um pet pode ser feita a partir de exames de imagem específicos, que, com toda a tecnologia existente, apresentam, dia após dia, resultados mais precisos e fáceis de serem interpretados pelos veterinários neurologistas. Quais as principais doenças do sistema neurológico? Todas as doenças do sistema nervoso veterinário são relacionadas ao sistema periférico e podem ser classificadas em três tipos: neuropatias, miopatias e juncinopatias. Apesar de serem associadas ao mesmo conjunto, elas podem ser localizadas em diferentes regiões e terem causas distintas, como traumas, infecções, neoplasias e problemas vasculares, metabólicos ou hereditários. NeuropatiasEsse tipo de doença está diretamente ligado a problemas no funcionamento dos nervos, podendo causar, por exemplo, paralisia facial idiopática. Juncinopatias As doenças conhecidas como juncinopatias afetam o sistema neuromuscular, ou seja, na junção dos nervos e músculos. As patologias dessa categoria podem ainda 6 ser subdivididas em pré-sinápticas (botulismo, paralisia causada por carrapato e envenenamento por serpentes) e pós-sinápticas (miastenia gravis e intoxicação por pesticidas). Miopatias As miopatias, por sua vez, são doenças caracterizadas por afecções e lesões nas fibras musculares, tendo como principais causas inflamações, disfunções metabólicas ou hereditariedade. Quais os sintomas mais comuns em função de alterações neurológicas? Diferentes dos seres humanos, os animais não falam, torna-se fundamental, portanto, observar alguns sinais para descobrir uma doença. Dos sintomas mais silenciosos e discretos aos mais chamativos e estranhos, pode configurar uma alteração neurológica quando um animal apresentar: Agressividade; Convulsões, que podem ser diferentes das humanas; Fraqueza ou paralisia dos membros; Falta de equilíbrio; Falta de apetite associada a letargia; Tremores; Insônia; Problemas respiratórios; Surdez; Cegueira; Dores; Intolerância a exercícios físicos; Latidos/miados em alto som e frequência; Rouquidão; Permanecer no mesmo lugar por muito tempo; Bater/tropeçar nos móveis ou paredes; Andar em círculos atrás do próprio rabo. A importância de um hospital veterinário 24h Ao apresentar qualquer um dos sintomas listados, seu pet pode estar em uma emergência neurológica, e emergências não têm hora para acontecer. É muito importante, portanto, poder contar com um hospital 24 horas que ofereça suporte para 7 atendimento completo, desde consultas e exames à medicação, internação e cirurgias. Seção 1.3: Neurologia veterinária O profissional especializado em neurologia acompanha a saúde do sistema nervoso central e periférico dos cães e gatos. As alterações neurológicas em cães são as mais variadas, abrangendo desde a epilepsia idiopática (quadro primário sem causa conhecida) até neoplasias (tumores) cerebrais. Outros exemplos de quadros de alteração neurológica são: convulsões focais, hérnias de disco intervertebral, neoplasias não centrais, meningites, encefalites, mielites, AVCs, vestibulopatias. As manifestações clínicas são as mais variáveis, desde incoordenação, fraqueza nas patas, dificuldades de se locomover, cabeça pendente para o lado, andar compulsivo e em círculos, vocalização (latidos repetidos sem motivo específico aparente), convulsões, pouca responsividade a estímulos. Além disso, com o avanço da idade de nossos pacientes, é cada vez mais comum o quadro de disfunção cognitiva, no qual o cão idoso começa a apresentar comportamentos alterados, e que com o acompanhamento do neurologista as alterações podem ser amenizadas. Infelizmente, em boa parte dos quadros, os sintomas de doenças neurológicas são muito semelhantes, e então para a identificação da real causa e localização correta da porção nervosa acometida é necessário um especialista que realize um exame clínico completo, e assim possa direcionar os exames complementares necessários a serem associados. Em casos de alterações neurológicas, sempre procure um neurologista, pois o diagnóstico precoce sempre favorece a evolução positiva no tratamento. Especialidades: Acupuntura Veterinária; Cardiologia Veterinária; Clínica de Felinos; Clínica de animais exóticos e silvestres; Dermatologia Veterinária; Endocrinologia Veterinária; Fisioterapia e Reabilitação Veterinárias; 8 Gastroenterologia Veterinária; Geriatria Veterinária; Hematologia Veterinária; Homeopatia Veterinária; Internação e Terapia intensiva; Nefrologia Veterinária; Neurologia Veterinária; Nutrição Clínica Veterinária; Odontologia Veterinária; Oftalmologia Veterinária; Oncologia Veterinária; Ortopedia Veterinária; Ozonioterapia Veterinária; Pediatria e Neonatologia Veterinária; Reprodução. 9 Unidade 2: Neurologista Veterinário – Neurologista para Cães e Gatos Seção 2.1: Neurologista veterinário – Tudo que você precisa saber, identificando problemas neurológicos em cães e gatos A neurologia veterinária é uma especialidade que trata os problemas relacionados ao sistema nervoso do animal. Tal sistema engloba não apenas os nervos do animal como também o cérebro e a medula espinhal, sendo eles responsáveis por enviar os comandos do cérebro ao músculo. Quando ocorre alguma lesão é possível que o cão ou gato sofra com problemas neurológicos, tendo a sua movimentação dificultada. Mas é importante ressaltar que essa não é a única causa de problemas neurológicos, eles também podem ser ocasionados por inflamações, distúrbios metabólicos, problemas vasculares e outros. Apesar de dificilmente esse sistema se regenerar, com o apoio de um neurologista veterinário a chance de sucesso aumenta. Tal especialidade é muito importante dentro da medicina veterinária porque cerca de 10% dos casos de pets de pequenos portes que são atendidos em clínicas, apresentam algum problema neurológico. O que faz um neurologista veterinário O neurologista veterinário é um profissional que se especializou para tratar questões relacionadas ao sistema nervoso de cães e gatos. Ele possui o conhecimento necessário para realizar exames e detectar quais são as possíveis causas de problemas neurológicos que os pets possam enfrentar. Além disso, é capaz de indicar um tratamento adequado, proporcionando uma recuperação dos danos e melhorando a qualidade de vida do animal. Entretanto, para identificar os problemas, ele deve estar atento a todos os sinais que o pet dá. Sintomas que indicam algum problema no sistema nervoso: Paralisia Convulções Perda de Equilibrio Alteração do comportamento Epilepsia 10 Dores na coluna Dificuldade de locomoção Distúrbios do sono Andar em círculos Andar arrastando as patas Quedas Tremores Surdez Intolerância a exercícios físicos Paralisia dos membros Cegueira súbita Dificuldade para respirar Claudicação (andar manco) Agressividade Latir ou miar compulsivamente Exames feitos pelo neurologista veterinário Para identificar o que está ocasionando o problema, existem exames feitos pelo neurologista veterinário que auxiliam no diagnóstico. A escolha de qual será realizado cabe ao profissional após fazer uma avaliação prévia do animal em um exame clínico e identificar alguns sintomas. Podem ser realizados exames como: Eletroneuromiografia (ENMG) O eletroneuromiografia, ENMG, avalia o função dos nervos periféricos e músculos, auxiliando na investigação das lesões. Ele permite identificar os distúrbios do sistema nervoso, sua localização e características. Análise de Liquor ou liquidocefaloraquidiano (LCR) Esse é o líquido que protege o cérebro e se altera que o sistema nervoso tem alguma modificação. Ele utiliza uma avaliação microbiológica, bioquímica e citológica para auxiliar no diagnóstico, sendo bastante usado para detectar meningites e tumores. Mielografia A mielografia é bastante usado quando não se tem acesso a exames mais modernos de imagem e permite identificar lesões na região da medula espinhal. Ele é feito por meio de contraste com o uso de tomografia ou raio- X. 11 Tomografia Computadorizada (TC) A tomografia computadorizada é feita com anestésicos para que o pet fique imóvel enquanto são feitas as imagens. Ele permite avaliar toda a estrutura óssea do cão ou gato e também os seus órgãos. Ressonância Magnética (RM) A ressonância magnéticapermite visualizar toda a parte interna do animal, avaliando alterações químicas, físicas e comportamento das moléculas. Doenças – Tipos de doenças tratadas pelo veterinário neurologista A neurologia veterinária é uma especialidade bastante ampla porque sua atuação não se limita a poucas doenças. São diversos os casos que podem ser identificados e tratados por essa especialidade. Dentre os casos tratados pela neurologia veterinária podemos citar: afecções do cérebro, afecções do ouvido interno, afecções da medula espinhal, afecções das vértebras, afecções dos músculos e dos nervos e afecções neuromusculares. Miastenia Gravis Essa doença faz com que os músculos fiquem enfraquecidos, resultante da transmissão dos impulsos nervosos de maneira anormal. Ela pode ser congênita ou adquirida. Epilepsia A epilepsia ocorre devido a impulsos anormais do cérebro que inibem os movimentos. Ela pode ter origem hereditária (epilepsia idiopática) ou ser resultante de algum trauma (epilepsia secundária). Traumas na medula espinhal Ele costuma ser resultado de um trauma ou acidente que o animal sofreu, podendo ocasionar a paralisia temporária ou permanente. Encefalopatia hepática A encefalopatia hepática é resultado da degeneração do cérebro resultante da insuficiência hepática. O cão com essa doença pode sofrer convulsões, paralisia facial, fraqueza e tremores. Mielopatia degenerativa Ela está associada a deterioração dos nervos da medula espinhal, afetando principalmente as patas traseiras e gerando dificuldade de locomoção. Ela costuma ser mais frequente em cães com maior idade. 12 Síndrome de Disfunção Cognitiva Essa doença faz com que o animal fique desorientado, andando em círculos e deixando de responder aos comandos. Ela costuma ser mais frequente em cães e gatos senis. Seção 2.2: Os desafios da neurologia veterinária O sistema nervoso dos pequenos animais é composto por tecidos delicados que são responsáveis pela coordenação dos músculos, movimentação de órgãos e geração de estímulos corporais diversos. O problema é que, por serem muito sensíveis, podem acabar sofrendo lesões e causar complicações. E é por isso que a área da neurologia veterinária surgiu. A neurologia veterinária é uma especialidade responsável por solucionar as complicações devido a falha no sistema nervoso de cães e gatos. Por tanto, deve compreender os caminhos para encontrar as diferentes patologias e amenizar as consequências geradas por tais problemas. Apesar de estar em crescimento, essa é uma área que enfrenta ainda alguns desafios, principalmente no que diz respeito das neuropatias. Tendo isso em mente, neste artigo vamos falar um pouco dessa área, principais doenças neurológicas e quais são as ferramentas mais indicadas para diagnosticá-las. O que é neurologia veterinária? A neurologia veterinária é uma área que engloba as avaliações e tratamentos de problemas que envolvem todo o sistema nervoso central, que é composto por medula espinhal, cérebro, cerebelo, sistema nervoso periférico (nervos, fibras motoras e sensitivas) e tronco encefálico. Além disso, também trata de alterações como a hérnia de disco e epilepsia em pequenos animais, por exemplo. De modo geral, o sistema nervoso de cães e gatos é complexo e delicado. No entanto, uma parte significativa das doenças e problemas nesses animais podem ser tratadas e melhoradas de maneira significativa. Principalmente quando do diagnóstico é feito de maneira precoce. Já que, com isso, o tratamento pode ser iniciado imediatamente. No entanto, as disfunções neurológicas também podem ser responsáveis por provocar sequelas permanentes nos animais que não tiverem o atendimento adequado de maneira rápida. 13 Felizmente, a área já conta com tecnologia avançada para o diagnóstico com exames de imagens cujos resultados são cada vez mais claros. A seguir, veja quais as principais doenças e como o diagnóstico pode ser feito! Principais doenças do sistema neurológico Pode-se classificar as doenças do sistema nervoso de três formas distintas que são: neuropatias, miopatias e juncinopatias. Todas são doenças do sistema nervoso periférico e localizadas em regiões distintas e com etiologias diferentes. Elas podem ter causas traumáticas, vasculares, neoplásicas, metabólicas , infecciosas ou hereditárias. Neuropatias As neuropatias são doenças que têm origem em problemas de funcionamento dos nervos. Podem também se apresentar de forma focal ou difusa, dependendo do agente causador.Com por exemplo, a paralisia facial idiopática ( lesão no nervo facial). Assim, as neuropatias são desencadeadas a partir de um grupo de nervos de uma mesma região ou de vários nervos de todas as regiões do corpo do paciente, como a polirradiculoneurite aguda idiopática. Juncinopatias Já as juncinopatias são doenças que ocorrem na junção neuromuscular, que é a região na qual ocorre a junção de nervos e músculos. Essa junção é formada por um neurônio pré-sináptico, que com o potencial de ação, ativa a vesícula sináptica para que libere o neurotransmissor. Alguns exemplos de doenças pré-sinápticas são o botulismo, paralisia por carrapato e os acidentes ofídicos. Já as doenças pós-sinápticas podem ser exemplificadas com a miastenia gravis a intoxicação por organofosforados. Miopatias As miopatias são afecções e lesões nas fibras musculares e podem ser classificadas em três grupos: inflamatórias, metabólicas e hereditárias De maneira geral, as neuropatias são as alterações neuromusculares mais comuns, quanto que juncinopatias e miopatias são bem mais raras. Além disso, os agentes causadores também podem ser os mesmos ou diferentes. O desafio de diagnosticar doenças de origem neurológica Na neurologia veterinária, o meio de diagnóstico é diferente e específico para cada etiologia e região do sistema nervoso. No entanto, na prática, os sinais 14 neurológicos são bastante semelhantes. Por isso, a investigação deve sempre partir de um ponto mais abrangente a fim de procurar possíveis causas. A abordagem do paciente com suspeita de alguma alteração neurológica deve se iniciar de forma abrangente, identificando o paciente. Isso porque, algumas doenças são mais comuns em determinadas raças, idade ou sexo. Os exame laboratoriais não são muito úteis para identificar a causa da neuropatia periférica. Por outro lado, a radiografia e a tomografia podem também serem usadas na neurologia veterinária. Apesar de não serem métodos tão sensíveis para avaliar tecidos moles, auxiliam indiretamente na identificação de lesões em tecidos adjacentes ao nervo. Já o ultrassom veterinário é utilizado para a avaliação morfológica de alguns segmentos que fazem parte do plexo braquial e lombossacro mas, para isso, demanda muita experiência do médico veterinário que está utilizando. A ressonância magnética é, então, um dos principais métodos de diagnóstico na neurologia veterinária. Ela é ideal para o diagnóstico de doenças compressivas ou neoplasias do nervo periférico e nas lesões de orelha média e interna. No entanto, é limitado nas demais causas de neuropatias. Nesse contexto, a eletroneuromiografia é uma importante ferramenta tanto para o diagnóstico como para o prognóstico, pois é sensível e precoce. Com ele é possível identificar alterações em nervos periféricos e nos músculos. Na maioria dos casos são necessárias biópsias do tecido muscular e do nervo. Tratamento É importante lembrar que, na maioria dos casos em neurologia veterinária, vai depender do agente causador. Por isso, é essencial utilizar os meios de diagnóstico disponíveis para identificar a causa da neuropatia. Seção 2.3: Neurologia O Neurologista Veterinário é o especialista que trata das doenças de todo o sistema nervoso, seja ele central (cérebro, cerebelo e medula espinhal)ou periférico (gânglios e nervos). Um especialista da área é capacitado para realizar diagnósticos e procedimentos adequados para a cura ou minimização dos quadros adversos, aumentando a chance de recuperação e promovendo o bem-estar e qualidade de vida dos nossos pets. 15 Quando procurar um veterinário neurologista? As alterações neurológicas podem apresentar uma grande quantidade de sintomas. Podem ser divididas em doenças que acometem o sistema nervoso central e doenças que acometem o sistema nervoso periférico. Principais sintomas de alterações no Sistema Nervoso Central Confusão mental. O pet não reconhece o dono de imediato, fica parado contra a parede ou objetos, sem tentar desviar, não localiza a comida, não atende aos chamados, apresenta um olhar confuso ou ausente, reações estereotipadas e mudança comportamental. Convulsões. Contração de um ou mais membros, seguida ou não de contração do corpo inteiro, queda para a lateral, movimentos de pedalar, mastigar e piscar os olhos, acompanhado ou não de urina ou defecação. Nistagmo. Movimentos horizontais, verticais ou rotatórios dos olhos, sem parar. Dificuldade de engolir alimentos. Cegueira central (amaurose). Animal se choca contra objetos ou móveis. Andar não coordenado ou cambaleante. O animal perde o equilíbrio, cai facilmente para os lados ou para trás. Andar em círculos. Tendência a girar ou andar girando para um mesmo lado Desvio lateral da cabeça. Principais sintomas de alterações no Sistema Nervoso Periférico Aqui a Neurologia tem uma congruência muito grande com a Ortopedia. Afinal, muitas vezes, trata-se da mesma região. Entre os sintomas de alterações estão: Tremor de uma ou mais patas ao se levantar ou permanecer em pé. Dificuldade em subir escadas ou em lugares mais altos, como sofá ou banco do carro. Dificuldade em se levantar, tanto com duas ou as quatro patas. Paralisia, impossibilitando o animal de andar com patas traseiras ou as quatro patas. 16 Arrastar uma pata ao andar ou se levantar. Ganidos e gritos sem motivo aparente. Enrijecimento da coluna do pescoço (cervical). Dificuldade para abaixar a cabeça para se alimentar ou beber água. Dificuldade para realizar movimentos laterais com o pescoço. Coluna encurvada. Atrofia muscular. Como evitar problemas neurológicos em pets? Não há uma forma muito clara de se evitar problemas neurológicos em cães, mas é possível estimulá-los e despertar a sua curiosidade. Se possível, não deixe seu pet sozinho por longo tempo. Converse com seu cão. Aparentemente eles podem aprender algumas palavras. Estimule o cérebro do seu pet com jogos, por exemplo, os bongs de petisco. Brinque com seu pet sempre que possível. Se seu pet for um cão, leve-o para passear em lugares diferentes, já que isso estimula a sua curiosidade. Seção 2.4: Os problemas neurológicos mais comuns em pets Epilepsia Essa doença é caracterizada por convulsões recorrentes, que podem ser de origem hereditária ou adquirida – como após acidentes ou doenças como viroses, leucemia felina (em gatos) ou traumas crânio-encefálicos. Durante a convulsão, além dos movimentos involuntários, pode ocorrer micção e defecação, salivação excessiva e até mesmo perda de consciência. Nesse momento, tudo o que se pode fazer é manter o animal em segurança afastando tudo o que pode machucar o pet. Não assopre o focinho, não coloque a mão na língua, nem assopre o focinho. Isso pode resultar em mordidas e ainda piorar o quadro do animal. Mas uma vez que a convulsão aconteça e termine, o mais importante é levar o animal a um veterinário para uma avaliação cuidadosa para se determinar a origem do problema e fazer a indicação da melhor medicação e tratamento para o caso. A.V.E. (Acidente Vascular Encefálico) ou “derrame” 17 Se o seu pet ficar inconsciente e se contorcer no chão, há probabilidade de ser um acidente vascular encefálico. As causas são similares ao A.V.E. em humanos: obstrução dos vasos sanguíneos, resultando em isquemia, ou pela ruptura das paredes dos vasos sanguíneos, ocasionando hemorragia cerebral. Mas, diferentemente do humano, as chances de recuperação com sequelas mínimas ou ausentes são bem grandes. Esse problema ocorre geralmente em cães mais idosos, sendo mais incidente em cães com histórico de hipertensão arterial. As prioridades durante o tratamento de um derrame em pet é minimizar o inchaço no cérebro e maximizar a entrada de oxigênio ao cérebro. Isto será feito por meio de cuidados médicos e medicações. Portanto, ao suspeitar de um A.V.E. leve seu pet imediatamente ao médico veterinário. Síndrome da Disfunção Cognitiva A Síndrome da Disfunção Cognitiva (SDC) é como o Alzheimer nos humanos. Cães e gatos com essa disfunção mostram-se confusos em situações conhecidas: se perdem dentro de sua própria casa, olham fixo no espaço, ficam presos em espaços apertados, vão para a porta errada na hora de sair, andam sem direção e podem até não reconhecer membros da sua família. Também costumam dormir mais durante o dia e ficar acordado à noite, chorar, latir, uivar e arranhar o chão. A principal causa da SDC é a formação de depósitos de substância beta-amiloide em diversas áreas do tecido cerebral. O diagnóstico da SDC é clínico, isto é, não existem exames que confirmem a doença. Por isso é fundamental excluir outras causas de alterações no comportamento do animal, como tumores, doenças degenerativas ou autoimunes, dor, etc. Essa síndrome tem controle e, apesar de não ter cura, pode aumentar muito a qualidade de vida e retardar a progressão da doença. Intoxicações As intoxicações mais comuns em cães e gatos que apresentam manifestações neurológicas, são causadas por ingestão ou contato com inseticidas/pesticidas, como por exemplo o “chumbinho” que tem venda proibida no Brasil. Há tremores musculares generalizados, acompanhados ou não de vômito e diarreia, além de convulsões. O atendimento é emergencial, podendo haver reversão do quadro dependendo da dose ingerida, tamanho do animal e tempo decorrente entre a ingestão do produto e o atendimento. Trauma na medula espinal e/ou crânio-encefálico (TCE) 18 Geralmente esse quadro está associado a situações de múltiplos traumas, como atropelamentos, quedas ou ataques de cães. No trauma da medula espinal geralmente há dificuldade temporária ou permanente em andar com um ou mais membros. Já os sintomas de trauma crânio-encefálico podem variar de acordo com a extensão da lesão, prevalecendo confusão mental, cegueira, convulsões, alterações na marcha e até mesmo coma ou falta parcial ou total de reação a estímulos. A rapidez no diagnóstico e na instituição do tratamento podem ser decisivos na recuperação do animal. Portanto, ao menor sinal de trauma, leve seu animal ao veterinário. Seção 2.5: Doenças contagiosas que atingem o sistema nervoso Cinomose A Cinomose é uma doença viral que acomete cães não vacinados principalmente no seu primeiro ano de vida, mas pode atingir animais não imunizados que estejam fragilizados em qualquer idade. Não é uma zoonose, isto é, não é transmitida do animal para o humano – mas pode ser transmitida de um cão para outro por via aérea ou por contato com objetos do portador. A cinomose é uma doença sistêmica que causa falha em diversos órgãos. O cão com essa doença apresenta perda de apetite, febre, diarreia, vômito, dificuldade para respirar, corrimento ocular e, de acordo com o avanço da doença, chega ao sistema neurológico, provocando “tiques nervosos”, convulsões e paralisia. Pode levar o animal afetado ao óbito, com duração variável da doença, entre 1 semana até vários meses. Raiva A raiva é uma zoonose infecciosa bastante conhecida. É transmitida tanto para outros animais quanto para o humano pelo contato coma saliva de um cão doente, através de mordeduras e lambedura de mucosas, não sendo necessário contato direto com a corrente sanguínea. Entre os principais sintomas da raiva estão: confusão mental; desorientação; alucinações; convulsões; dificuldade de deglutição; paralisia motora; espasmos; salivação excessiva; e mudança de comportamento com agressividade na raiva furiosa e depressão na raiva muda, além de salivação excessiva e paralisia. Ainda há o tipo mais raro da doença: a raiva intestinal, em que o pet não apresenta agressividade ou paralisia, mas tem vômitos e cólicas. 19 A raiva apresenta raríssimos casos de cura sendo praticamente letal em 100% dos casos. Para não chegar a esse ponto,vacine seu pet contra a raiva. Meningite Meningite é a inflamação das meninges – que são as três membranas que cobrem e protegem o cérebro e a medula espinhal. A doença também pode resultar de infecções virais, fúngicas ou parasitárias. No entanto, outro tipo de meningite conhecida como meningite responsiva esteróide (SRM) está se tornando cada vez mais comum em raças de cão. Especialistas não têm certeza sobre o que causa essa condição, mas eles acreditam que possa ser uma doença auto-imune. Embora a meningite possa afetar qualquer cão, as raças Pug, Terrier Maltês e o Beagle são mais suscetíveis a ela. Filhotes recém-nascidos também são mais propensos a desenvolver esta condição do que os adultos. Os sintomas mais comuns são perda de coordenação, febre, perda de apetite, agitação e confusão, mudança de comportamento e rigidez nos músculos do pescoço. O diagnóstico é feito com ressonância magnética. O tratamento varia de acordo com a origem do problema. Quanto mais cedo a meningite for diagnosticada maiores são as chances de cura e minimização das sequelas. 20 Unidade 3: Doenças Neurológicas Seção 3.1: Veterinários explicam Síndrome da Disfunção Cognitiva “É o lento e doloroso processo de ir se apagando aos poucos”. Assim, muitos definem a doença que é capaz de, entre muitas coisas, tirar a essencial característica do ser humano: a memória, como é o caso do Alzheimer. Segundo dados disponibilizados pelo Instituto Alzheimer Brasil (IAB), em 2019, estima-se que existam mais de 45 milhões de pessoas vivendo com demências no mundo e que esse número irá dobrar a cada 20 anos. Mas por que um problema humano, como o Alzheimer, se tornou pauta da C&G VF? Simples: ao contrário do que muitos possam imaginar, uma doença similar também pode acometer os cães e é chamada, na literatura, de Síndrome da Disfunção Cognitiva, que, por suas similaridades, ganhou a alcunha popular de Alzheimer canino. De acordo com o médico-veterinário, Roberto Siqueira, especialista em Clínica Médica, pela Universidade de Santo Amaro, especialista em Neurologia Clínica de Pequenos Animais, pelo instituto Fisiocare, especialista em Neurologia Clínica e Intensiva, pelo instituto Israelita de ensino e pesquisa Albert Einstein, e responsável pelo setor de neurologia e ozonioterapia na clínica veterinária ClinicalPets, em São Caetano do Sul – SP, a Síndrome da Disfunção Cognitiva é uma desordem neurodegenerativa progressiva de cães idosos, caracterizada por um declínio da função cognitiva e notada por alterações comportamentais. “O processo de envelhecimento cerebral nos cães se define por alterações, como atrofia cortical, mineralização meníngea, lesões perivasculares, angiopatia amiloide cerebrovascular, perda de neurônios, desmielinização, acúmulo de placas senis, danos oxidativos, entre outras que podem colaborar com o aparecimento dos sintomas de alteração da cognição”, define o profissional. Definição esta que é complementada pela também médica-veterinária Thais de Azevedo Carvalho Neves, pós-graduada em Neurologia de Pequenos Animais, pelo Instituto Bioethicus – Botucatu, e que, atualmente, trabalha com atendimentos em neurologia veterinária na Cidade de Jundiaí, no interior do Estado de São Paulo. A veterinária específica que, “a síndrome ocorre devido a deposição de proteína beta- amilóide dentro e ao redor dos neurônios e acúmulo neuronal de proteína tau”, porém 21 esta última não é frequentemente vista no encéfalo de cães com o problema. “Esses fatores são vistos, também, em humanos com Alzheimer”, destaca Thais. Por isso, com as informações disponibilizadas pelos profissionais, o diagnóstico do problema, para ser realizado, demanda muita observação perante comportamentos dos animais idosos, assim como realização de exame físico e neurológico, além de exames complementares como de sangue e ressonância de crânio. Mas quais seriam os sinais clínicos apresentados pelos animais? Como explica Siqueira, “os principais sinais clínicos são desorientação, mudanças na interação socioambiental, distúrbios do ciclo sono/vigília – como trocar o dia pela noite –, vocalização noturna e andar compulsivo, alteração dos hábitos de higiene – como urinar e/ou defecar em locais não habituais –, apresentar uma diminuição da atividade física, ansiedade e, também, distúrbios do apetite”. Lembrando que, o problema está associado aos animais de idade avançada, que, segundo Thais de Azevedo, representa os cães acima de 9 anos e gatos acima de 12 anos. “Mas é importante observar alterações comportamentais nos animais a partir de 7 anos”, alerta a veterinária. E mesmo que os cães ganhem mais destaque, quando se pesquisa ou comenta sobre a Síndrome, a médica-veterinária relembra que qualquer espécie pode ser acometida pelo problema. O que, segundo Siqueira, está associado ao fato de que, qualquer animal que contenha um encéfalo está predisposto a apresentar alterações cognitivas. “Porém, temos mais estudos científicos comprovando a doença em cães, gatos e roedores”, informa. Ao que se refere às similaridades com o problema em humanos que, caraterizado como uma demência, é uma doença mental, ambas apresentam prejuízo cognitivo, o que pode incluir alterações de memória, desorientação em relação ao tempo e ao espaço, perda de raciocínio, concentração, aprendizado, entraves na realização de tarefas complexas, no julgamento, na linguagem e nas habilidades visuais-espaciais. Podemos tratá-la? Tristemente, assim como no Alzheimer humano, a Síndrome da Disfunção Cognitiva não tem cura. Contudo, algumas medicações, suplementos e dietas (antioxidantes) e ações podem auxiliar no retardo à evolução da síndrome. 22 “O tratamento em cães com essa patologia consiste na utilização de fármacos como Selegilina e Propentofilina, enriquecimento ambiental como atividade física, passeio, agility, natação, brinquedos educativos e interativos para estimular a cognição do animal”, cita o especialista em Neurologia Clínica de Pequenos Animais, complementando que “uma dieta rica em ômegas 3 e 6, Epa e DHA, suplementação calmante, antioxidante e neuroproteção e o carinho da família”, são essenciais da mesma forma. Além dos mais, o profissional destaca o tratamento complementar e integrativo como acupuntura, ozonioterapia, fisioterapia, homeopatia e cromoterapia. De acordo com ele, tais possibilidades “vêm sendo muito utilizados nos últimos anos e cada vez mais são procuradas pelos tutores. Apesar de não ter cura, o objetivo seria retardar a evolução da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente”. Como eu, veterinário, devo contar ao tutor? A hora de apresentar diagnósticos nunca é uma tarefa fácil, o que exige coragem e empatia do profissional para com o tutor do paciente. Por isso, como afirma Thais, o profissional, com calma, deve dizer que é uma síndrome comum a partir de 7 anos e que será preciso observar qualquer alteração de comportamento do animal para melhor tratá-lo e poder realizar o acompanhamento adequado. Vale ressaltar que, após os 7 anos de idade, “para tentar prevenira síndrome, é importante manter a saúde física e mental dos animais, por meio de alimentação saudável, exercícios físicos e mental, como treinamentos de obediência, jogos de memória, estimular a farejar e manter contato com um médico-veterinário a cada 6 meses para avaliação”, indica e finaliza a médica-veterinária. Seção 3.2: As doenças neurológicas em cães e entenda como ela os afetam Para garantir o bem-estar e até aumentar a expectativa de vida do pet, é essencial saber identificá-las e buscar tratamento o mais rápido possível. Espondilomielopatia cervical A espondilomielopatia cervical é uma doença neurológica que atinge a coluna, especialmente dos cães de grande porte. 23 Essa síndrome consiste na compressão da medula espinal cervical, que é causada pela má-formação ou pela falta de articulação das vértebras cervicais e dos tecidos brandos adjacentes. Ela costuma afetar os cães entre 4 e 10 anos de idade. Apesar de poder afetar qualquer cão de grande porte, existem algumas raças que parecem ter predisposição a desenvolver a síndrome, como o Doberman e o Dog Alemão. Dificilmente a doença é identificada nos estágios iniciais, sendo diagnosticada com mais frequência apenas após o surgimento de sinais neurológicos mais avançados, como: Incoordenação de membros pélvicos; paralisia parcial ou completa de membros pélvicos; dificuldades na locomoção. Epilepsia A epilepsia canina é uma doença neurológica que, aparentemente, tem fundo genético e é passada de geração em geração. Essa doença causa crises de convulsões repetitivas em intervalos regulares no cachorro afetado. A primeira ocorrência costuma acontecer entre 6 meses e 3 anos de idade do pet. Basicamente, as convulsões são provocadas quando há uma descarga elétrica anormal no cérebro do cão, o que leva o animal à inconsciência e causa uma série de contrações musculares involuntárias. Além disso, alguns sintomas podem indicar que a crise epiléptica está prestes a ocorrer, como salivação excessiva, vômitos, comportamento anormal e movimentos estereotipados. Nestes caso, o ideal é procurar um veterinário 24 horas para garantir que seu pet não terá sequelas, nem consequências mais graves. Síndrome vestibular idiopática Essa síndrome ocorre quando existe alguma falha no funcionamento do sistema vestibular do cão. Esse sistema é responsável por garantir o equilíbrio e a orientação espacial do animal, evitando quedas, vertigens e perdas de equilíbrio. Dizemos que a síndrome vestibular é idiopática quando a causa da doença não é identificada e os sintomas aparecem repentinamente, sendo muito comum a sua ocorrência em cães idosos. Nesses casos, ela pode desaparecer rapidamente ou durar muito tempo. Alguns dos sintomas ligados à doença são: 24 tontura, náusea e vertigem; desorientação; falta de equilíbrio; estrabismo; cabeça torcida ou inclinada; deslocamento em círculos; movimentos involuntários dos olhos (nistagmo). Hidrocefalia Finalizando nossa lista de doenças neurológicas em cães, vamos falar de um mal conhecido como hidrocefalia. Resumidamente, essa doença é resultado do acúmulo excessivo de líquido cefalorraquidiano no sistema ventricular, o que gera uma dilatação anormal que pode afetar um ou os dois lados do cérebro. A hidrocefalia pode ser adquirida ao longo da vida do pet, devido a pancadas, infecções e tumores, ou pode ser congênita. As seguintes raças têm predisposição a apresentar a doença: Yorkshire; Chihuahua; Maltês; Poodle. Além disso, é comum que os cãezinhos afetados apresentem os sintomas abaixo: cabeça inchada e crânio deformado; baixo aprendizado; sonolência, agressividade; deficiência visual ou auditiva; olhos saltados; andar cambaleante; convulsões. Agora você já conhece alguns tipos de doenças neurológicas em cães e seus efeitos. 25 Lembre-se de que o tutor tem um papel fundamental no diagnóstico de tais síndromes e, por isso, deve coletar o máximo de informações e sintomas para, em seguida, buscar a ajuda de um neurologista veterinário. Afinal, somente um profissional especializado nessa área poderá indicar o tratamento adequado, garantido mais qualidade de vida ao pet. Seção 3.3: Veterinária alerta para as doenças neurológicas entre cães e gatos Raça, idade e porte são indiferentes para um problema entre os pets que passa, por muitas vezes, despercebido. A doença neurológica tem sintomas e causas variáveis, mas ela é recorrente e, na maioria das vezes, recebe um diagnóstico errado, como alerta a veterinária Cássia Carvalho, da Baruff Veterinária e Pet Shop. Não se conhece a frequência das doenças neurológicas de acordo com as regiões geográficas do País, conforme denuncia a pesquisa “Doenças do sistema nervoso central em cães”, da Universidade Federal de Campo Grande. Mas o estudo mais conhecido no País revela que entre 2006 e 2013, o Hospital Universitário de Santa Maria teve 1.184 casos registrados. “É um número alto. Em média, nos meus atendimentos na clínica e quando tive experiência no hospital veterinário em Curitiba, encontramos 1 caso para cada 6 atendimentos, ou seja, quase 10% dos animais atendidos têm características que podem ser uma doença neurológica”, reforça Cássia, especialista em neurologia animal. Para a veterinária, o número de atendimentos é considerado alto e o mais preocupante é que os sintomas pode ser confundidos com outras doenças. A especialista ressalta que animais em qualquer idade podem apresentar doenças neurológicas decorrente de algumas anomalias congênitas, ou seja, quando o animal já nasce com um problema. Outra forma é algumas doenças ser adquiridas ainda filhotinhos por vírus, bactérias ou mesmo deficiências nutricionais. “Por isso a importância de saber identificar quando é neurológico e quando não é, para poder fazer um tratamento certo e melhorar a qualidade de vida do animal”, explica . Os donos de pets devem ficar atentos a alguns sintomas e buscar o quanto antes uma avaliação profissional com um médico veterinário. Animais que estejam com dor ao caminhar, arrastam a patinha, apresentam fraqueza e até paralisias em algum movimento podem estar com alguma problema neurológico. Outros sintomas 26 como convulsões, andar em círculos, alteração de comportamento, desmaios e tremores, também podem estar associados a distúrbios neurológicos. “ Os sintomas variam de acordo com a localização da lesão. Vale ressaltar também que algumas doenças são mais comum se manifestarem em animais jovens, como a epilepsia idiopática, que normalmente se manifesta até os 6 anos de idade”, destaca Cássia. Principais doenças neurológicas em Pets A médica veterinária Cássia Carvalho,da Baruff Veterinária e Pet Shop, destaca as quatro doenças neurológicas mais comum em animais. São elas: Hérnias de disco – As doenças do disco intervertebral são bem comuns em cães, principalmente nas raças Dachshund e Bulldog Francês, mas qualquer animal pode ter. Ocorre uma degeneração do disco, causando uma compressão na medula espinhal. A causa é multifatorial, como predisposição genética, idade e estilo de vida do animal. Epilepsia – É uma doença que afeta o cérebro e causa crises epilépticas recorrentes (convulsão). É comum em cães e gatos. As causas podem ser diversas, como um tumor ou alguma infecção, como também Idiopática (predisposição genética). Doenças virais – Como a Cinomose nos cães e a FELV (Feline leukemia vírus, conhecida como leucemia felina) nos gatos. São doenças transmitidas por vírus, que podem causar lesões neurológicas graves e na maioria dos casos, fatais. Ambas doenças podem ser prevenidas por vacinas. Vestibulopatias – São lesões no sistema vestibular (responsável pelo equilíbrio do corpo). São bem comuns em cães e gatos, muitas vezes secundárioa lesão na orelha, como otites e tumores. Para todos os caso o ideal é o diagnóstico correto para o início do tratamento adequado e antecipado, de forma a evitar sequelas e permitir uma qualidade de vida melhor ao animal. 27 Unidade 4: Avaliação Neurológica, Diagnóstica e Terapêutica de Cães e Gatos com Síndrome Tremor Seção 4.1: Introdução Dos distúrbios do movimento, o tremor é o mais comum em humanos (BAGLEY, 1991; VIEIRA, 2005) e também é uma anormalidade muito comum em cães (BAGLEY, 2004a) sendo em ambas as espécies resultante de uma variedade de doenças (BAGLEY, 1991; VIEIRA, 2005). Tremores se definem por movimentos oscilatórios rítmicos que podem decorrer de contrações alternadas de grupos musculares opostos ou de contrações simultâneas de músculos agonistas e antagonistas (MATTOS, 1998). Eletromiograficamente o tremor é caracterizado pela explosão rítmica da atividade do neurônio motor, no qual ocorre em grupos musculares opostos (BAGLEY, 1991). A contração de músculos com funções opostas dá ao tremor uma natureza bifásica. Essa característica bifásica diferencia o tremor de outras anormalidades do movimento (BAGLEY, 1991; BAGLEY, 2004a). Os tremores seriam uma forma amena de tétano e são caracterizados mais por uma agitação involuntária dos membros do que do que por violentas contrações (CHRISMAN, 1985). Geralmente durante o sono ocorre o desaparecimento do sinal de tremor, e o tremor tende a aumenta em situações de ansiedade (BAGLEY, 2004a; VIEIRA, 2005). Tremor pode ser resultado de lesões em diferentes áreas do corpo, no qual incluem os núcleos basais e outros componentes do sistema extrapiramidal, cerebelo, corpos celulares neuronais difusos envolvidos no mecanismo reflexo segmentar ou supra-espinhal, componentes mecânicos dos membros ou o caminho de ligação entre essas áreas. Muitos dos componentes dos neurônios centrais exercem funções motoras coordenadas (BAGLEY, 1991). Na rotina da prática clínica muita dificuldade é encontrada na abordagem, entendimento, classificação e diagnóstico dos pacientes apresentados com tremores. Dessa forma, esse trabalho tem como objetivo realizar um estudo em cães e gatos admitidos com desordens neurológicas e síndrome tremor; aspectos neurológicos, diagnósticos, terapêuticos foram avaliados e apresentados. 28 Seção 4.2: Tipos de tremores Em humanos são definidos basicamente duas categorias de tremores: o normal ou fisiológico e o anormal ou patológico. O tremor fisiológico é um fenômeno normal, que ocorre em todos os grupos musculares, pode estar presente em certas fases do sono, e que não constitui nenhum problema clínico (VIEIRA, 2005). O tremor fisiológico ocorre na frequência de 8-13 Hz e uma das explicações seria o reflexo balistocardiograma (BAGLEY, 1991; MATTOS, 1998). O reflexo balistocardiograma é a vibração passiva dos tecidos do corpo produzida pela atividade mecânica do coração (MATTOS, 1998). Esse movimento geralmente não é percebido, podendo, no entanto, ser exacerbado e agora passível de observação por condições como: medo e ansiedade, distúrbios metabólicos (hipoglicemia e hipertireoidismo), exercício físico, fadiga, uso de certas drogas ou consumo de estimulantes, ou ainda no contexto de doenças metabólicas como hipertireoidismo, hiperglicemia/hipoglicemia (MATTOS, 1998; VIEIRA, 2005). Ocorre nessas condições um aumento do débito cardíaco, o que levaria a amplificação desse tipo de tremor (MATTOS, 1998). Essa variação do tremor fisiológico é denominada de tremor fisiológico exagerado ou exacerbado, e possui alta frequência, baixa amplitude e é reversível. O controle desses tremores está na correção dos fatores que o iniciaram (VIEIRA, 2005). O tremor patológico é aquele que impede que o paciente exerça suas funções normais (BAGLEY, 1991). Algumas hipóteses sugerem que o tremor patológico ocorra devido o desbalanço de neurotransmissores como: dopamina; acetilcolina e do ácido aminobutÍrico (BAGLEY, 1991). Existem diferenças entre as espécies, assim como nas áreas anatômicas dentro do sistema nervoso e suas respectivas funções, que quando alterada pode resultar em tremor. Um exemplo disso são lesões dos núcleos basais e substancia cinzenta que comumente pode causar síndrome tremor em humanos e outros primatas e que normalmente não causam tremores em cães (BAGLEY, 1991; BAGLEY, 2004a) Dependendo do tipo do tremor, o receptor tremorgênico pode ser de origem na musculatura periférica ou no sistema nervoso central (BAGLEY, 1991; SANDERS; BAGLEY, 2003; BAGLEY, 2004a). 29 As tentativas para classificar os distúrbios tremores em animais não foram bem sucedidas, já que em seres humanos essa classificação é baseada na etiologia, na lesão anatômica, alterações de neurotransmissores e na clínica da síndrome. Em animais é difícil associar essas classificações, já que há pouca informação sobre a etiologia e patogenia da síndrome tremores (BAGLEY, 1991; SANDERS; BAGLEY, 2003). Seção 4.3: Classificações dos tremores No que se refere à classificação de tremores em humanos, há uma classificação fenomenológica de Jankovick, que divide os tremores em 3 grupos: tremor de repouso, tremor de intenção, tremor de ação e miscelânea (MATTOS, 1998). O tremor de repouso é aquele que aparece quando a parte afetada do corpo está relaxada ou fora da ação da gravidade, e cessa com o ato de se mover a parte afetada voluntariamente (MATTOS, 1998). A principal doença que leva ao tremor de repouso nos humanos é a doença de Parkinson e que até o momento não tem nenhuma relação a qualquer doença em cães (BAGLEY, 1991). Já em equinos existe uma doença chamada Encefalomalacia Nigropalidal Equina, que é uma doença análoga à doença de Parkinson dos humanos (BANGLEY, 1991). Tremores de intenção são aqueles que ocorrem quando o doente tem a intenção de se mover de forma orientada (BAGLEY, 1991). Esse tipo de tremor é mais pronunciado quando o movimento é iniciado e, é um importante sinal de doença cerebelar (LORENZ; COATES; KENT, 2011). Tremor de ação, em comparação com o tremor de intenção, ocorre quando alguma parte do corpo está em uma determinada posição e pode se acentuar com a necessidade de um movimento mais preciso (BAGLEY, 1991). Vários tipos de tremores de ação ocorrem nos humanos, mas em cães e gatos doenças similares são pouco descritas (BAGLEY, 1991; BAGLEY, 2004a; SANDERS; BAGLEY, 2003). 30 Podemos classificar os tremores nos pequenos animais principalmente pela sua apresentação clínica, isto é, se ele é focal ou generalizada (Figura 01.) (BAGLEY, 1991). Figura 01. Classificação etiológica dos tremores em cães. Fonte: adaptado BAGLEY, 1991. Seção 4.4: Fisiopatogenia do tremor Tremor Fisiológico Várias hipóteses são propostas para explicar os tremores fisiológicos. Tradicionalmente acredita-se que a vibração passiva dos tecidos do corpo é produzida por um mecanismo de origem cardíaca, mecanismo esse já abordado no item 2 (BAGLEY; 2004a; SANDERS; BAGLEY, 2003). O tremor fisiológico não costuma ser observado a olho nu. Em algumas situações esse tremor é amplificado e visível, como na fadiga muscular, hipoglicemia, 31 hipertireoidismo, uso de alguns medicamentos como agonistas alfa-adrenérgicos e antidepressivos, ou no uso de estimulantes como a cafeína ou até mesmo na extensão dos membros (BORGES; FERRAZ, 2006). Existem três possíveis componentes envolvidos nos tremores fisiológicos, um componente mecânico que é o reflexo balistocardiogama, outro componente seria a ativação do sistema nervoso simpático, e um terceiro componente seria a sincronização dos neurônios motores pelo cérebro amplificando o tremor (SANDERS; BAGLEY, 2003). Talvez o maior significado para essas vibrações sejam descargasespontâneas de grupos de neurônios motores, e a ressonância natural das fibras musculares (BAGLEY, 2004a; SANDERS; BAGLEY, 2003). O tremor fisiológico pode ocorrer durante o repouso ou durante a postura antigravitacional (SANDERS; BAGLEY, 2003). Alguns tremores anormais, especialmente os de origem metabólica dos tremores de ação, como a hipoglicemia e feocomocitoma, acredita-se que são exacerbações dos tremores fisiológicos (BAGLEY, 2004a). Tremor Cerebelar O cerebelo exerce a função de controlar os movimentos após eles se iniciarem, ele também auxilia com a regulação da postura, propriocepção inconsciente e no tônus muscular (BAGLEY, 2004a; BREAZILE, 1996). O cerebelo é dividido em dois hemisférios laterais que são responsáveis principalmente pelos movimentos dos membros, uma porção média ou verme cerebelar, responsável pela regulação da postura e do tônus muscular, e um porção ventral (lobo flocculonodular), que é responsável principalmente pela manutenção do equilíbrio, coordenação da cabeça e pelo movimento dos olhos (funções vestibulares) (BAGLEY, 2004a). O córtex cerebelar é formado por três camadas: uma camada molecular externa, uma camada de células de Purkinje mais central e uma camada de células granulares mais internas (Figura. 02) (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004; BREAZILE, 1996). Figura 02. As três camadas da substancia cinzenta do cerebelo e a substância branca. Hematoxilina eosina. Pequeno aumento. 32 Fonte: JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004. O córtex cerebelar exerce predominantemente influência inibitória sobre os três núcleos emparelhados da matéria branca subcortical (fastigial, interpósito e denteado), que são responsáveis pelo controle, sem ser responsável pela iniciação dos movimentos da cabeça e dos movimentos dos membros (BAGLEY, 2004a). As informações aferentes e eferentes são transmitidas para ou pelo cerebelo através de três pares de pedúnculos cerebelares inerentes ao tronco cerebral (BAGLEY, 2004; BREAZILE, 1996). Disfunção em qualquer área do cerebelo geralmente geram sinais que incluem anormalidades na taxa, no intervalo, direção e força dos movimentos motores. Nas disfunções que afetam apenas o cerebelo não se nota sinais de fraqueza ou paralisia (BAGLEY, 2004a; SANDERS; BAGLEY, 2003). Os tremores causados por doenças cerebelares são mais evidentes quando o animal tenta fazer um movimento com um objetivo orientado, classificando-se assim como tremor de intenção (BAGLEY, 2004a). Esse tipo de tremor que implica uma lesão dos hemisférios cerebelares, tornase mais óbvio quando o animal tenta abaixar a cabeça para comer ou beber (BAGLEY, 2004a). 33 Tremores de intenção podem envolver a cabeça ou todo o corpo, e pode ainda estar acompanhado de outros sinais de disfunção cerebelar como ataxia e dismetria/hipermetria (BAGLEY, 2004a) Tremor de Neuropatias Periféricas Neuropatias periféricas como a desmielinização podem levar a tremores (SANDERS; BAGLEY, 2003). Esse tipo de transtorno tem um início insidioso e pode ser de etiologias hereditárias, congênita, metabólicas, tóxicas e inflamatórias (SANDERS; BAGLEY, 2003). Um tema pertinente à geração de tremores ou movimentos involuntários, é que houvesse espontânea descarga neuronal ou axonial tanto no sistema nervoso central e ou no sistema nervoso periférico. Esse aumento da excitabilidade pode ser causado por qualquer desordem que interfira com a normal mielinização, na função dos canais iônicos, na concentração de eletrólitos (especialmente potássio, cálcio e sódio) e de neurotransmissores (BAGLEY, 2004a). Desordens hereditárias, inflamatórias podem afetar algum desses parâmetros e levar a tremores, ou qualquer outro movimento involuntário (BAGLEY, 2004a). Seção 4.5: Doenças que causam sindrome tremor Desordens da Mielinização Aqui o termo desmielinização será usado para definir doenças do sistema nervoso central no qual ocorre uma insuficiência congênita da síntese da mielina (HOERLEIN, 1978). Nesse grupo de doenças temos a hipomielinicação e a desmielinização. A hipomielinização ocorre quando o axônio no sistema nervoso central possui uma fina camada de mielina. Quando esse axônio se encontra com uma camada anormal de mielina é chamado de desmielinização; ainda na desmielinização o axônio pode se encontrar totalmente sem a camada de mielina (BAGLEY, 2004a). Várias raças de cães podem ser afetadas com esse grupo de doença de caráter congênita que incluem Chow Chow, Dálmata, Springer Spaniel, Samoieda, Bernese Mountain dog e Weimaraner (BAGLEY, 2004a; VIOTT et al., 2007). Os animais afetados por essa doença apresentam tremores a partir da primeira semana de vida (CHRISMAN, 1985; HOERLEIN, 1978; VIOTT et al., 2007) e tremores 34 por todo o corpo, que cessam durante o sono (BAGLEY, 2004a; CHRISMAN, 1985; VIOTT et al., 2007). Além do comprometimento da locomoção, esses tremores nos animais afetados dificultam a sucção do leite, o que pode levar a baixo desenvolvimento corporal ou até mesmo ao óbito do animal por inanição (VIOTT et al., 2007). Alguns animais ao se locomoverem aparentam estarem saltando (BAGLEY, 2004a; VIOTT et al., 2007). Tremor nessa classe de doença é classificado como tremor de ação, já que aumentam durante a excitação e durante a movimentação, e sessam durante o sono (BAGLEY, 2004a; CHRISMAN, 1985; VIOTT et al., 2007). A mielinização anormal do sistema nervoso central pode afetar a condução do impulso nervoso e causar tremor. É possível ainda que promoção dos tremores sejam pela condução alterada do impulso ou descarga espontânea dos axônios não mielinizados devido a um aumento da concentração de potássio extracelular. O grau de tremor vai variar com o grau da desordem na mielina (BAGLEY, 2004a). A causa dessa doença de caráter congênito é desconhecida, mas acredita-se que seja um defeito genético na formação da mielina (BAGLEY, 2004a; VIOTT et al., 2007). Para diagnóstico clínico presuntivo deve-se levar em consideração a idade, a raça, e ainda descartar outras causas de tremores (BAGLEY, 2004a). O diagnóstico definitivo é apenas obtido com o exame histopatológico (Figura 03) (BAGLEY, 2004a). Figura 03. Hipomielinização acentuada da substancia branca, contrastando com a mielinização normal do nervo craniano. Fonte: VIOTT et al., 2007. 35 Não há tratamento específico para esse grupo de enfermidades, e a melhora ocorre com a idade, os tremores podem se resolverem quando o animal se torna adulto quando a bainha de mielina adquire espessura normal (BAGLEY, 2004a). Pode utilizar o diazepam na dose de 0,5 a 2,0 mg via oral, a cada 8 horas, como tentativa de diminuir os tremores (CHRISMAN, 1985). Doenças Cerebelares O cerebelo é único, tanto estruturalmente como funcionalmente dentro do sistema nervoso central, sendo responsável pela eficiência da função motora (SANDERS; BAGLEY, 2003). Degeneração Cortical Cerebelar Degeneração cortical cerebelar também é chamada de abiotrofia cerebelar, é geralmente uma doença hereditária nos cães (BAGLEY, 2004a). Esse grupo de doenças especificamente refere-se à degeneração da população de células neuronais no córtex cerebelar após o nascimento (DEFOREST; EGER; BASRUR, 1978; SANDERS; BAGLEY, 2003). A abiotrofia é um processo pelo qual a célula após se desenvolver normalmente começa degenerar devido um defeito celular intrínseco necessário para a continuação da vida do neurônio. Muitas dessas doenças podem resultar de anomalias subjacentes do metabolismo celular ou da função celular e são considerados hereditários em algumas raças (BAGLEY, 2004a; DEFOREST; EGER; BASRUR, 1978). Os núcleos cerebelares profundos e os campos de terminais das projeções cerebelares podem ser afetados. Muitas dessas doenças são transmitidas geneticamente,a maioria supostamente são autossômicas recessivas, mas a etiologia desse grupo de doença é desconhecida (SANDERS; BAGLEY, 2003; TATALICK; MARKS; BASZLER, 1993). A falta de um componente metabólico que seja necessário para a sobrevivência das células pode estar envolvido. Alguns dessas abiotrofias podem representar uma morte celular programada inapropriada (apoptose) (DEFOREST; EGER; BASRUR, 1978; SANDERS; BAGLEY, 2003). Animais da raça Coton de Tulear apresentaram degeneração das células granulares, e foi suspeitado que seria um processo autoimune transmitido geneticamente (SANDERS; BAGLEY, 2003). 36 Células de Purkinje é a população de células mais comumente afetadas nos casos de abiotrofia cerebelar (Figuras 04 e 05) (SANDERS; BAGLEY, 2003; TATALICK; MARKS; BASZLER, 1993). Figura 04. Seção normal do cerebelo. Camada molecular (M). Células de Purkinje (P). Camada Granular (G). Hematoxilina eosina. Fonte: SANDERS; BAGLEY, 2003. De qualquer modo células granulares, células do núcleo medular, e neurônios motores na medula espinhal também podem ser afetados (SANDERS; BAGLEY, 2003). O inicio e a taxa de progressão dos sinais clínicos varia com a raça afetada. A maioria das raças tem um inicio de sinais clínicos quando o animal começa a andar ou um pouco mais tarde (BAGLEY, 2004a; SANDERS; BAGLEY, 2003). O curso da doença pode ser rápido, ou lentamente progressivo (por vários anos). Em certos casos, os sinais clínicos do animal pode se estabilizar (SANDERS; BAGLEY, 2003). Em casos de degeneração cerebelar, o animal pode apresentar sinais clínicos como, ataxia, tremor de intenção, nistagmo, pobre resposta a ameaça com a visão normal, opistótono, anormalidades do comportamento e depressão (BAGLEY, 2004a; DEFOREST; EGER; BASRUR, 1978; SANDERS; BAGLEY, 2003). Exame neurológico não é eficaz para o diagnóstico ante morte, de qualquer forma várias raças apresentam grosseiras anormalidades estruturais do cerebelo 37 como hipoplasia, que pode ser observável no exame de ressonância magnética (SANDERS; BAGLEY, 2003). O diagnóstico definitivo é feito apenas após a morte do paciente, após a examinação do tecido nervoso pelo exame histopatológico (BAGLEY, 2004a). Para esse grupo de doença não há nenhum tratamento efetivo (BAGLEY, 2004a; SANDERS; BAGLEY, 2003). Malformação Cerebelar A má formação do cerebelo é visto apenas eventualmente (BAGLEY, 2004a). Síndromes de hipoplasia cerebelar foram descritas em várias raças de cães. (KORNEGAY, 1986). Acredita-se que haja uma condição geneticamente transmissível de hipoplasia cerebelar. Esta condição foi relatada em raças como Chow Chow, Boston terrier, Airedale terrier, Setter irlandês, Fox terrier, e Bull terrier (SANDERS; BAGLEY, 2003). As más formações relatadas variam desde a completa ausência do cerebelo ou ausência de uma parte do cerebelo (agenesia); pode ocorrer também um desenvolvimento anormal do cerebelo com nenhuma diferenciação dos tecidos (aplasia); e ainda pode ocorrer o desenvolvimento anormal do cerebelo com alguma diferenciação dos tecidos (hipoplasia) (SANDERS; BAGLEY, 2003; BAGLEY, 2004a). Hipoplasia cerebelar tem sido associado com a ocorrência de infecção ou com exposição tóxica durante o estágio crítico de desenvolvimento do cerebelo durante a vida uterina (BAGLEY, 2004a). Com o intuito de se descobrir a causa etiológica destas malformações em cães, foi realizado testes de reação em cadeia da polimerase (PCR) em vários cães que apresentavam malformações, detectou-se que para várias malformações cerebelares antes consideradas idiopáticas, era secundaria a um envolvimento pelo parvovírus (LIM et al., 2008). Infecção perinatal com parvovírus canino pode resultar na destruição da camada germinativa externa do cerebelo no animal durante o seu desenvolvimento (CIZINAUSKAS; JAGGY, 2010). Não se sabe exatamente quando a infecção tenha ocorrido, mas é provável que nesse tipo de comprometimento do cerebelo, a infecção tenha ocorrido por via transplantaria, e não após o nascimento (CIZINAUSKAS; JAGGY; 2010). 38 Nas causadas tanto por infecções ou hereditária que levam a uma hipoplasia cerebelar, o cerebelo é grosseiramente normal ou possui um tamanho simetricamente menor que o tamanho normal (CIZINAUSKAS; JAGGY; 2010; KORNEGAY; 1986). Na microscopia, geralmente se observa uma redução do número de células de Purkinje ou uma distorção da arquitetura da cortical cerebelar, ou ambas podem estar presentes (KORNEGAY; 1986). Alguns cães que apresentaram hipoplasia ou aplasia cerebelar possuíam um envolvimento principalmente no verme cerebelar, e com as partes restantes do cerebelo relativamente normal Na macroscopia (Figura 06), assim como na microscopia, desses casos não são evidenciados sinal de degeneração cerebelar (KORNEGAY, 1986). Na agenesia do verme cerebelar, na maioria das vezes está associado à hidrocefalia, estenose do aqueduto e ausência do corpo caloso (CIZINAUSKAS; JAGGY; 2010). Figura 6. Cerebelo sem o verme cerebelar. Fonte: LIM et al., 2008. Doenças Metabólicas Hipocalcemia 39 Os sinais clínicos de hipocalcemia incluem fraqueza, tetania e tremores. Ocorre uma espontânea despolarização do músculo que pode se manifestar com fasciculação, muscular, rigidez, câimbras e espasmos (BAGLEY, 2004a). A hipocalcemia pode ter origem de transtornos da glândula paratireoide, como remoção cirúrgica na retirada de tumores da tireoide, ou hipotireoidismo, podendo também estar associada à lactação (tetania puerperal) que é a apresentação mais comum em cães, já o hipoparatireoidismo primário é raro (BAGLEY, 2004a; CHRISMAN, 1985; HOERLEIN, 1978; OLIVER; LORENZ, 1983). Além de causas como o hipoparatireoidismo, tetania puerperal, ainda pode ocorrer por causa de intoxicação por etilenoglicol (MCKELVEY; POST, 1983). O nível baixo de cálcio sérico resulta em uma despolarização excessiva da membrana neuronal, causada pela diminuição do limiar de despolarização neuronal e muscular alterando o fluxo de sódio e o potencial da membrana (BAGLEY, 2004a; CHRISMAN, 1985). O diagnóstico é confirmado ao encontrar níveis séricos de sódio menores de 7mg/dl na análise bioquímica (BAGLEY, 2004a; CHRISMAN, 1985). O tratamento para essa enfermidade é a suplementação de cálcio intravenosa se o animal estiver apresentando sinais clínicos, administrando glutamato de sódio a 10%, na dose de 0,5–1,5 ml/kg, de forma lenta e cessando a administração, se ocorrer bradicardia (BAGLEY, 2004a; CHRISMAN, 1985; MCKELVEY; POST, 1983). Para manutenção em longo prazo deve-se fazer administração de cálcio via oral, acompanhado da suplementação de vitamina D (BAGLEY, 2004a). Intoxicação A apresentação de tremores pode ocorrer em vários tipos de intoxicação, incluindo, intoxicação por organofosforado, hexaclorofeno, brometalina (BAGLEY, 2004a; YAMAYA et al., 2004). Várias drogas terapêuticas também podem causar tremor como efeito colateral, pela possível alteração na função do sistema extrapiramidal e no desbalanço dos níveis normais de neurotransmissores. Alguns exemplos são: fentanil, droperidol, epinefrina (adrenalina), isoproterenol e flurouracil (BAGLEY, 2004a). O mecanismo para a intoxicação de cães pode ser, por ingestão acidental, contato dermatológico, e de forma iatrogênica, como na administração de fármacos (SANDERS; BAGLEY, 2003). 40 Metaldeído e estriquinina geralmente causam tetania e convulsões, mas podem gerar tremores nos animais intoxicados (BAGLEY, 2004a). Ingestão de alimentos mofados contendo a micotoxina penitrem A, que é produzida por espécies de Penicillium sp., podem causar sinais clínicos como ataxia, olhar distante que deve ser possivelmente devido a alucinações, e tremores (SANDERS; BAGLEY, 2003). Intoxicações porivermectina geralmente leva a sinais clínicos como, ataxia generalizada, fraqueza, incoordenação, miose e tremores (BAGLEY, 2004a). Outras “toxinas” que estimulam o sistema nervoso também podem gerar tremores, nesse grupo incluem o chocolate, anfetaminas e cafeína (BAGLEY, 2004a) Intoxicações por estriquinina, macadamia e teobromina (chocolate) são menos comum na intoxicação de cães, mas podem levar a tremores (SANDERS; BAGLEY, 2003). Para a maioria das substancias tóxicas não é conhecido o mecanismo de ação, mas as toxinas podem agir diminuindo o limiar para que haja a estimulação, ou estimular diretamente os músculos e nervos, resultando em tremor (SANDERS; BAGLEY, 2003; BAGLEY, 2004a;). Nos casos de intoxicação outros sinais clínicos são aparentes além de tremores, como ataxia e convulsões (SANDERS; BAGLEY, 2003). Para o diagnóstico de intoxicação a melhor forma é o histórico de exposição. Testes específicos de sangue são possíveis para alguns casos (BAGLEY, 2004a; PITTMAN; BRAINARD; SWINDELLS, 2012). O tratamento pode ser específico para algumas intoxicações, e o prognóstico variável dependendo do agente intoxicante (SANDERS; BAGLEY, 2003). Intoxicação por Organofosforado Intoxicação por organofosforado potencializa o efeito da acetilcolina na junção neuromuscular e em outras sinapses, isso ocorre, pois o organofosforado inibe a ação da enzima acetilcolinesterase, levando assim a um aumento da concentração de acetilcolina nas junções neuromusculares e por consequência elevando a estimulação desses receptores (BAGLEY, 2004a). Para intoxicação com organofosforado a concentração sérica de colinesterase ativa estando menor que 25% do valor normal pode auxiliar na confirmação do diagnóstico (BAGLEY, 2004a; PITTMAN; BRAINARD; SWINDELLS, 2012). 41 No tratamento da intoxicação por organosfosforados, incluem pralidoxima na dose de 20mg/kg por via intramuscular a cada 12 horas, para reativar a colinesterase, essa medicação deve ser usada até no máximo 24 horas após o contato com o agente intoxicante, pois pode não ter efeito após esse período (BAGLEY, 2004a; PITTMAN; BRAINARD; SWINDELLS, 2012). Pode se usar difenidramina na dose de 1-2 mg-kg, por via oral, a cada 8-12 horas, no intuito de reduzir a fasciculação muscular (BAGLEY, 2004a; PITTMAN; BRAINARD; SWINDELLS, 2012). Pode ainda administrar sulfato de atropina na dose de 0,2-0,4 mg/kg em casos de intoxicação aguda para diminuir os sinais autônomos muscarinico, mas não diminui os tremores musculares provocados pela estimulação excessiva dos receptores nicotínicos. Esse tratamento com atropina só deve ser usado quando houver bradicardia, pois a atropina pode levar a parada respiratória (BAGLEY, 2004a; PITTMAN; BRAINARD; SWINDELLS, 2012). Intoxicação por Ivermectina Na intoxicação por ivermectina, os sinais em animais com leve intoxicação incluem salivação, vômito, tremores, midríase, bradicardia, confusão e ataxia. Nas intoxicaçãos mais severas os animais afetados podem apresentar convulsões e entrar em coma necessitando de ventilação artificial (BAGLEY, 2004b). Collies e outras raças de cães similares são sensíveis aos efeitos tóxicos da ivermectina, provavelmente devido a alterações no transporte celular (alterações na P-glicoproteína derivado da mutação no gene MDR1), podendo essas raças desenvolver sinais clínicos com doses abaixo de 0,1 mg/kg, sendo que a dose normal é entre 0,05-0,6 mg-kg (BAGLEY, 2004b; SANDERS; BAGLEY, 2003). Acredita-se que a ivermectina pode ser um GABA agonista que se liga ao receptor GABA pós-sináptico (BAGLEY, 2004b). Dessa forma, a ivermectina atua como que aumentando o efeito do acido gama-aminobutírico (GABA) no sistema nervoso central (BAGLEY, 2004a). Normalmente o neurotransmissor inibitório, GABA, é encontrado no sistema nervoso dos mamíferos (cerebelo, córtex cerebral, sistema límbico, sistema extrapiramidal, e numa camada horizontal da retina), já nos invertebrados atua na periferia (SANDERS; BAGLEY, 2003). 42 A penetração da ivermectina no sistema nervoso é pobre nos mamíferos, a menos que seja administrada uma alta dosagem, ou administrado em animais com mutação do gene MDR1 (BAGLEY, 2004b). O tratamento consiste em dar suporte ao paciente, e há casos que a ventilação mecânica é necessária. A utilização de drogas adicionais é controversa. A utilização de fisostigmina pode reverter temporariamente o coma por aproximadamente 30 a 90 minutos. Pricrotoxina foi usado em um cão na tentativa de reverter o coma, e melhorou o estado de consciência, mas causou convulsões (BAGLEY, 2004b). Nos cães que desenvolvem tremores por essa intoxicação, pode-se usar diazepam e fenobarbital, mas como ambas as drogas agem nos receptores GABA, o nível de consciência pode piorar (BAGLEY, 2004b). Tremores Idiopático dos Cães Adultos (Síndrome do Cão Tremedor – Cão Branco Tremedor) Essa doença bem reconhecida, e uma desordem bastante comum de tremores em cães (SANDERS; BAGLEY, 2003). A Síndrome do cão tremedor geralmente são manifestações de tremores que afetam a cabeça e o corpo, podendo causar uma total incapacidade de funções básicas, como a alimentação e locomoção dependendo da severidade das manifestações (HÜNNING et al., 2010). Esta doença primeiramente foi denominada como Síndrome do Cão Branco Tremedor, pois os primeiros relatos dessa doença foram em cães brancos de raças como Maltês, West Higland White Terrier e Poodle (HÜNNING et al., 2010). O termo Síndrome do Cão Branco Tremedor é enganoso, pois cerca de metade dos cães com a Síndrome de Tremores Idiopáticos não têm pelagem branca, e a maioria dos cães afetados por essa síndrome são jovens, possuindo menos de 5 anos de idade e, a maioria possui peso inferior a 15 kg (SANDERS; BAGLEY, 2003). Como ocorre também em cães de outras cores passou a ser chamada de Síndrome do Cão Tremedor, ou Síndrome do Tremor Responsiva a Esteróide, ou Ainda Síndrome de Tremores Idiopáticos (HÜNNING et al., 2010). Quando os sinais clínicos começam a aparecer os proprietários podem interpretar esses tremores como uma reação ao medo ou ao frio. Somente quando os tremores se tornam mais persistente é que geralmente os proprietários procuram o veterinário para uma avaliação (BAGLEY, 2004a). 43 Os tremores nessa síndrome pioram com o movimento e diminuem com o repouso, e podem cessar durante o sono (BAGLEY, 2004a; HÜNNING et al., 2010). Além dos tremores, outros sinais clínicos podem estar presentes e podem sugerir um problema difuso do sistema nervoso central como: déficit de ameaça, hipermetria, nistagmo, déficit de propriocepção e convulsões (BAGLEY, 2004a). Esses cães podem ainda apresentar inclinação da cabeça (head tilt), paralisia, paraparesia, tetraparesia, ataxia, e ainda apresentarem ocasionalmente temperatura retal elevada (SANDERS; BAGLEY, 2003). A síndrome do cão tremedor é geralmente associada com um grau leve de encefalite. O exame histológico de cães afetados revelou uma meningoencefalomielite não supurativa leve em alguns cães e nem todos os cães afetados analisados histologicamente apresentaram alterações no sistema nervoso central (BAGLEY, 2004a). O diagnóstico deve ser realizado com base na exclusão de outras doenças que causam tremores, e com base na resposta ao tratamento com corticosteroides (HÜNNING et al., 2010). Essa enfermidade pode ser descaracterizada de outras causas inflamatórias pelo exame do Liquido Encéfalo Raquidiano, que pode demonstrar uma leve a moderada pleocitose linfocítica, mas que também pode se apresentar normal (SANDERS; BAGLEY, 2003). No exame histológico pode apresentar, infiltrado perivasculares ou em todo o sistema nervoso central, especialmente no cerebelo (SANDERS; BAGLEY, 2003). Acredita-se que essa doença seja um transtorno imunomediado do metabolismo de neurotransmissor no sistema nervoso central,
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