Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Carolina Ferreira FARMACOLOGIA FARMACOCINÉTICA -Estuda o que o organismo faz c/ o fármaco -Existem 4 propriedades farmacocinéticas que determinam o início, a intensidade e a duração da ação dor fármaco: 1)Absorção: permite a entrada do fármaco (direta ou indiretamente) no plasma 2)Distribuição: o fármaco vai poder reversivelmente, sair da circulação sanguínea e distribuir-se nos líquidos intersticial e intracelular 3)Biotransformação: o fármaco é biotransformado no fígado ou em outros tecidos 4)Eliminação: o fármaco e seus metabólitos são eliminados do organismo na urina, na bile ou nas fezes VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DE FÁRMACOS - A via de administração é determinada pelas propriedades do fármaco e pelos objetivos terapêuticos - As vias principais de administração de fármacos são: ENTERAL: -É chamada também de administração pela boca - É o modo + seguro, comum, conveniente e econômico de administrar os fármacos -O fármaco pode ser deglutido ou pode ser colocado sob a língua (sublingual) ou entre a bochecha e a gengiva (bucal), facilitando a absorção direta na circulação sanguínea. 1. Oral: *Os fármacos orais são facilmente autoadministrados *A toxicidade e/ou a dosagem excessiva podem ser neutralizadas c/ antídotos como: o carvão ativado *O baixo pH do estômago inativa alguns fármacos *Existem algumas formas de administração desse fármaco como: a)Preparações revestidas (entéricas): esse revestimento é um envoltório químico que protege o fármaco do ácido gástrico, liberando-o, porém, no intestino (- ácido), onde o envoltório vai se dissolver e ocorre a liberação do fármaco. Ex: omeprazol b)Preparações de liberação prolongada: têm revestimentos ou ingredientes especiais que controlam a liberação do fármaco, permitindo, assim, uma absorção + lenta e uma duração de ação + longa. Podem ser administrados c/ < frequência são vantajosas p/ fármacos que meia- vida curta 2. Sublingual e bucal: Carolina Ferreira FARMACOLOGIA *A colocação do fármaco sob a língua permite que ele se difunda na rede capilar *A administração sublingual tem várias vantagens como: facilidade de administração, absorção rápida, ultrapassagem do ambiente gastrintestinal (GI) hostil e capacidade de evitar a biotransformação de primeira passagem PARENTERAL: - Essa via introduz o fármaco diretamente na circulação sistêmica -Ela é usada p/ fármacos que são pouco absorvidos no trato GI (TGI) (heparina) e p/ os que são instáveis no TGI (insulina) -É utilizada p/ paciente que estão impossibilitados de tomar a medicação oral ou quando é necessário um início rápido de ação -Possuem > biodisponibilidade e não estão sujeitas à biotransformação de 1 passagem ou ao meio GI agressivo -Asseguram o melhor controle sobre a dose real de fármaco administrada ao organismo -São vias irreversíveis e podem causar dor, medo, lesões teciduais e infecções -As três principais vias de administração parenteral são: 1. Intravenosa (IV): *É útil p/ fármacos que não são absorvidos por via oral como: o bloqueador neuromuscular rocurônio *Permite um efeito rápido e um alto grau de controle sobre a quantidade de fármaco administrada *É vantajosa p/ fármacos que podem causar irritação quando administrados por outras vias, pois fármaco se dilui no sangue rapidamente *Pode causar: infecção e precipitação dos constituintes do sangue o que leva a hemólise 2. Intramuscular (IM): *Os fármacos administrados por essa via podem estar em soluções aquosas, pois são absorvidas rapidamente *Podem ser administrados também por meio de preparações especializadas de depósito, que são absorvidas lentamente *À medida que o veículo se difunde p/ fora do músculo, o fármaco precipita-se no local da injeção *O fármaco se dissolve lentamente o que fornece uma [ ] sustentada durante um período de tempo prolongado *Exemplos: o haloperidol e o depósito de medroxiprogesterona 3. Subcutânea (SC): *Essa via de administração oferece absorção por difusão simples e é + lenta do que a via IV *Esta via não deve ser usada com fármacos que causam irritação tissular, porque pode ocorrer dor intensa e necrose *Exemplos: insulina e heparina. Carolina Ferreira FARMACOLOGIA OUTRAS: 1. Inalação oral: *Os efeitos desses fármacos são quase tão rápidos como os da injeção IV em bólus * Esta via é particularmente eficaz e conveniente p/ pacientes c/ problemas respiratórios, pois o fármaco é administrado diretamente no local de ação *Exemplos: broncodilatadores, como o salbutamol, e os corticosteroides, como a fluticasona. 2. Inalação nasal: *Esta via envolve a administração de fármacos diretamente dentro do nariz *Exemplos: os descongestionantes nasais, como a oximetazolina, e o corticosteroide anti-inflamatório furoato de mometasona 3. Intratecal e intraventricular: *São fármacos introduzidos diretamente no líquido cerebrospinal, pois barreira hematencefálica retarda ou impede a entrada dos fármacos no SNC *Exemplo: a anfotericina B intratecal é usada no tratamento da meningite criptocócica (ver Cap. 42). 4. Tópica: *É usada quando se deseja um efeito local do fármaco *Exemplo: o clotrimazol em pomada é aplicado diretamente na pele p/ o tratamento de infecções por fungos. 5. Transdérmica: * Esta via de administraçãoproporciona efeitos sistêmicos pela aplicação do fármaco na pele por meio de um adesivo cutâneo *Essa via é usada c/ + frequência p/ a oferta prolongada de fármacos *Ex: o antiemético escopolamina e os adesivos de nicotina usados p/ facilitar a interrupção do hábito de fumar 6. Retal: *A vantagem adicional da via retal é evitar a destruição do fármaco no ambiente GI *A absorção retal é errática e incompleta, e vários fármacos irritam a mucosa retal. ABSORÇÃO DE FÁRMACOS -Definição: é a transferência de um fármaco do seu local de administração p/ corrente sanguínea -A velocidade e a eficiência da absorção dependem do ambiente onde o Carolina Ferreira FARMACOLOGIA fármaco é absorvido, das suas características químicas e da via de administração MECANISMOS DE ABSORÇÃO DE FÁRMACOS A PARTIR DO TG: - Dependendo das propriedades químicas, os fármacos podem ser absorvidos do TGI por: a) Difusão passiva: *O fármaco se move da região de concentração alta p/ a de concentração baixa *Não envolve transportador, não é saturável e apresenta baixa especificidade estrutural *A maioria dos fármacos é absorvida por esse mecanismo *Os fármacos hidrossolúveis atravessam as membranas celulares através de canais ou poros aquosos, e os lipossolúveis movem-se facilmente através da maioria das membranas biológicas, devido à sua solubilidade na bicamada lipídica. b) Difusão facilitada: *Alguns fármacos podem entrar na célula por meio de proteínas transportadora elas facilitam a passagem de moléculas grandes *Essas proteínas transportadoras sofrem alterações conformacionais o que permite a passagem de fármacos p/ o interior da célula, movendo-os de áreas de ↑ concentração para áreas de ↓ concentração *Não requer energia, pode ser saturado e pode ser inibido por compostos que competem pelo transportador. c) Transporte ativo: * Esta forma de entrada de fármacos envolve transportadores proteicos específicos que atravessam a membrana * O transporte ativo dependente de energia é movido pela hidrólise de trifosfato de adenosina * Ele é capaz de mover fármacos contra um gradiente de concentração *Esse processo é saturável * Os sistemas de transporte ativo são seletivos e podem ser inibidos competitivamente por outras substâncias cotransportadas d) Endocitose e exocitose: *Esses processos são usados p/ transportar fármacos excepcionalmente grandes através da membrana celular *A endocitose envolve o envolvimento de moléculas do fármaco pela membrana e seu transporte p/ o interior da célula pela compressão da vesícula cheia de fármaco *A exocitose é p/ secretar substâncias para fora por um processo similar ao da formação de vesículas Carolina Ferreira FARMACOLOGIA FATORES QUE INFLUENCIAM A ABSORÇÃO: -Existem os seguintes efeitos: 1. Efeito do pH na absorção de fármacos: * A maioria dos fármacos é ácido fraco ou base fraca *Fármacos ácidos liberam um próton (H+), causando a formação de um ânion (A–) *As bases fracas (BH+) também podem liberar um H+ *A forma protonada dos fármacos básicos, em geral, é carregada, e a perda do próton produz a base (B) não ionizada *Um fármaco atravessa a membrana + facilmente se estiver não ionizado * Assim, p/ os ácidos fracos, a forma HA não ionizada consegue permear através das membranas, mas o A– não consegue *P/ a base fraca, a forma não ionizada, B, consegue penetrar através das membranas celulares, mas a BH+ protonada não consegue 2. Fluxo de sangue no local de absorção: *Os intestinos recebem um fluxo de sangue muito > do que o estômago *A absorção no intestino é favorecida ante a do estômago 3. Área ou superfície disponível para absorção: *Devido a uma superfície rica em bordas em escova que contém microvilosidades o intestino tem uma superfície > que a do estômago *A absorção de fármacos pelo intestino é mais eficiente 4. Tempo de contato com a superfície de absorção: *Quando um fármaco desloca de forma muito rápida ao longo do trato gastro intestinal ele não é bem absorvido *Mas se ocorre um retardo no seu transporte ele é bem absorvido *A presença de alimento no estômago dilui o fármaco e retarda o esvaziamento gástrico, por isso quando um fármaco é ingerido c/ o alimento é absorvido + lentamente 5. Expressão da glicoproteína P: *A glicoproteína P é uma proteína transportadora transmembrana responsável pelo transporte de várias moléculas, incluindo fármacos, através da membrana celular *Ela é expressa em tecidos por todo o organismo, incluindo fígado, rins, placenta, intestinos e capilares cerebrais *Essa proteína bombeia fármacos p/ fora das células *Nas áreas de expressão elevada da glicoproteína P ↓ a absorção de fármacos *Ela também está associada com a resistência a vários fármacos BIODISPONIBILIDADE Carolina Ferreira FARMACOLOGIA -Definição:representa a taxa e a extensão com que um fármaco administrado alcança a circulação sistêmica -Por exemplo, se 100 mg de um fármaco são administrados por via oral, e 70 mg desse fármaco são absorvidos inalteradamente, a sua biodisponibilidade é de 0,7, ou 70% -Relaciona-se à quantidade absorvida e à velocidade do processo de absorção do fármaco liberado a partir da forma farmacêutica administrada. Está também relacionada à eficácia clínica do medicamento. 1. Determinação de biodisponibilidade: * A biodisponibilidade é determinada pela comparação dos níveis plasmáticos do fármaco depois de uma via de administraçãoparticular *Na administração IV, 100% do fármaco entra na circulação rapidamente 2. Fatores que influenciam a biodisponibilidade: *Existem fatores como: a. Biotransformação hepática de primeira passagem: *Quando um fármaco é absorvido a partir do TGI, primeiro ele entra na circulação portal antes de entrar na circulação sistêmica *Definição: ocorre quando o fármaco é rapidamente biotransformado no fígado ou na parede intestinal durante essa passagem inicial, a quantidade de fármaco inalterado que tem acesso à circulação sistêmica diminui b. Solubilidade do fármaco: *Fármacos muito hidrofílicos são pouco absorvidos, pois são impossibilitados de atravessarem as membranas celulares que são ricas em lipídios *Os fármacos extremamente lipofílicos também são pouco absorvidos devido a serem insolúveis nos líquidos aquosos do organismo o que faz c/ que não tenham acesso a célula *P/ que um fármaco seja bem absorvido, ele deve ser basicamente lipofílico, mas ter alguma solubilidade em soluções aquosas c. Instabilidade química: *Alguns fármacos, como a benzilpenicilina, são instáveis no pH gástrico *Outros, como a insulina, são destruídos no TGI pelas enzimas digestivas. d. Natureza da formulação do fármaco: *A absorção do fármaco pode ser alterada por fatores que promovem a forma que o fármaco será aplicado ao organismo.Por exemplo:o tamanho da partícula, o tipo de sal, o polimorfismo cristalino, o revestimento entérico e a presença de excipientes BIOEQUIVALÊNCIA Carolina Ferreira FARMACOLOGIA - Duas formulações de fármacos são bioequivalentes se elas apresentam biodisponibilidades comparáveis e tempos similares para alcançar o pico de concentração plasmática. EQUIVALÊNCIA TERAPÊUTICA -Duas formulações são terapeuticamente equivalentes se elas apresentam a mesma dosagem, contêm a mesma substância ativa e são indicadas pela mesma via de administração, com perfis clínicos e de segurança similares. DISTRIBUIÇÃO DE FÁRMACOS -Definição: é o processo pelo qual um fármaco reversivelmente abandona o leito vascular e entra no líquido extracelular e, então, nas células dos tecidos -P/ fármacos administrados por via IV onde não existe absorção, a fase inicial representa a fase de distribuição, na qual o fármaco rapidamente sai da circulação e entra nos tecidos -A passagem do fármaco dos seguintes fatores FLUXO SANGUINEO: -A taxa de fluxo de sangue p/ os capilares dos tecidos varia amplamente -O fluxo de sangue p/ os órgãos ricos em vasos (cérebro, fígado e rins) é > do que p/ os músculos esqueléticos -O fluxo do sangue é ainda < p/ o tecido adiposo, a pele e as vísceras PERMEABILIDADE CAPILAR: -É determinada pela estrutura capilar e pela natureza química do fármaco LIGAÇÃO DE FÁRMACOS A PROTEINAS PLASMATICAS E TECIDOS 1. Ligação a proteínas plasmáticas: A ligação reversível às proteínas plasmáticas fixa os fármacos de forma não difusível e retarda sua transferência para fora do compartimento vascular. A albumina é a principal proteína ligadora e pode atuar como uma reserva de fármaco (à medida que a concentração do fármaco livre diminui, devido à eliminação, o fármaco ligado se dissocia da proteína). Isso mantém a concentração de fármaco livre como uma fração constante do fármaco total no plasma. 2. Ligação a proteínas dos tecidos: Vários fármacos se acumulam nos tecidos, levando a concentrações mais elevadas no tecido do que no líquido extracelular e no sangue. Os fármacos podem acumular como resultado da ligação a lipídeos, proteínas ou ácidos nucleicos. Os fármacos também podem ser transportados ativamente aos tecidos. Os reservatórios nos tecidos podem servir de fonte principal de fármaco e prolongar sua ação ou causar toxicidade local Carolina Ferreira FARMACOLOGIA ao fármaco (p. ex., a acroleína, metabólito da ciclofosfamida, pode causar cistite hemorrágica porque se acumula na bexiga.) D. Lipofilicidade A natureza química do fármaco influencia fortemente a sua capacidade de atravessar membranas celulares. Os fármacos lipofílicos se movem 1 0,75 0,5 0,25 0 13 42 Concentração no plasma Injeção do fármaco em bolus 1,5 1,25 Fase de eliminação Fase de distribuição Tempo Figura 1.12 Concentrações do fármaco no soro após uma injeção única do fármaco. Admite-se que o fármaco se distribui e subsequentemente é eliminado. Farmacologia Ilustrada 11 mais facilmente através das membranas biológicas. Esses fármacos se dissolvem nas membranas lipídicas e permeiam toda a superfície celular. O principal fator que influencia a distribuição do fármaco lipofílico é o fluxo de sangue para aquela área. Em contraste, os fármacos hidrofílicos não penetram facilmente nas membranas celulares e devem passar através de junções com fendas. E. Volume de distribuição O volume de distribuição aparente, Vd, é o volume de líquido necessário para conter todo o fármaco do organismo na mesma concentração presente no plasma. O Vd é calculado dividindo-se a dose que alcança a circulação sistêmica pela concentração no plasma no tempo zero (C0): Vd = quantidade de fármaco no organismo C0 Embora o Vd não tenha base física ou fisiológica, pode ser útil para comparar a distribuição de um fármaco com os volumes dos compartimentos de água no organismo. 1. Distribuição no compartimento aquoso do organismo: Logo que o fármaco entra no organismo, ele tem o potencial de distribuir-se em qualquer um dos três compartimentos funcionalmente distintos de água corporal, ou ser sequestrado em um local celular. a. Compartimento plasmático: Se um fármaco tem massa molecular muito alta ou liga-se extensamente às proteínas, ele é muito grande para atravessar as fendas dos capilares e, assim, é efetivamente aprisionado dentro do compartimento plasmático (vascular). Como resultado, ele tem um Vd baixo que se aproxima do volume de plasma, ou cerca de 4 L em um indivíduo com 70 kg. A heparina (ver Cap. 22) tem esse tipo de distribuição. Carolina Ferreira FARMACOLOGIA b. Líquido extracelular: Se um fármaco apresenta baixa massa molecular, mas é hidrofílico, ele pode passar através das fendas endoteliais dos capilares para o líquido intersticial. Contudo, fármacos hidrofílicos não podem se mover através das membranas celulares lipídicas para entrar no líquido intracelular. Por isso, esses fármacos se distribuem em um volume que é a soma do volume de plasma com a água intersticial, os quais, juntos, constituem o líquido extracelular (cerca de 20% da massa corpórea, ou 14 L em uma pessoa com 70 kg). Os antimicrobianos aminoglicosídeos (ver Cap. 39) mostram esse tipo de distribuição. c. Água corporal total: Se um fármaco apresenta baixa massa molecular e é lipofílico, ele pode se mover para o interstício através das fendas e também passar através das membranas celulares para o líquido intracelular. Esses fármacos se distribuem em um volume de cerca de 60% da massa corporal, ou cerca de 42 L em uma pessoa com 70 kg. O etanol tem este Vd. 2. Volume de distribuiçãoaparente: Um fármaco raramente se associa de forma exclusiva a um único compartimento de água corporal. Ao contrário, a maioria dos fármacos se distribui em vários compartimentos, com frequência ligando-se avidamente a componentes Estrutura de capilares no fígado Estrutura de um capilar cerebral Fármaco ionizado Fármacos lipossolúveis Passagem mediada por transportador Processo podal do astrócito Célula endotelial cerebral Membrana basal Permeabilidade de um capilar cerebral Junção estreitada B A C Fármaco Célula endotelial Junção com fenda Membrana basal Nas junções estreitadas, duas células adjacentes fundem de modo que as células são fisicamente unidas e formam uma parede contínua que impede vários fármacos de entrar no cérebro Grandes frestas permitem aos fármacos mover-se entre o sangue e o interstício no fígado Figura 1.13 Corte transversal de capilares hepáticos e cerebrais. 12 Whalen, Finkel & Panavelil celulares – como lipídeos (abundantes em adipócitos e membranas celulares), proteínas (abundantes no plasma e nas células) e ácidos nucleicos (abundantes no núcleo das células). Por essa razão, o volume no qual o fármaco se distribui é denominado volume de Carolina Ferreira FARMACOLOGIA distribuição aparente (Vd). O Vd é uma variável farmacocinética útil para calcular a dose de carga de um fármaco. 3. Determinação do Vd: Como a depuração do fármaco geralmente é um processo de primeira ordem, pode-se calcular o Vd. A primeira ordem considera que uma fração constante do fármaco é eliminada por unidade de tempo. Este processo pode ser analisado de modo mais fácil lançando-se em um gráfico o log da concentração do fármaco no plasma (Cplasma) em relação ao tempo (Fig. 1.14). A concentração do fármaco no plasma pode ser extrapolada para o tempo zero (o momento da injeção IV) no eixo Y, para determinar C0, que é a concentração que teria sido alcançada se a fase de distribuição tivesse ocorrido instantaneamente. Isso permite o cálculo do Vd da seguinte maneira: Vd = dose C0 Por exemplo, se 10 mg de um fármaco são injetados em um paciente, e a concentração plasmática extrapolada para o tempo zero (C0) é igual a 1 mg/L (do gráfico na Fig. 1.14B), então Vd = 10 mg / 1 mg/L = 10 L. 4. Efeito de Vd na meia-vida (t1/2) do fármaco: O Vd tem influência importante na meia-vida do fármaco, pois a sua eliminação depende da quantidade de fármaco ofertada ao fígado ou aos rins (ou outro órgão onde ocorra a biotransformação) por unidade de tempo. A oferta de fármaco aos órgãos de eliminação depende não só do fluxo sanguíneo, como também da fração de fármaco no plasma. Se o fármaco tem um Vd elevado, a maior parte do fármaco está no espaço extraplasmático e indisponível para os órgãos excretores. Portanto, qualquer fator que aumente o Vd pode aumentar a meia- vida e prolongar a duração de ação do fármaco. (Nota: um valor de Vd excepcionalmente elevado indica considerável sequestro do fármaco em algum tecido ou compartimento do organismo.) DEPURAÇÃO DE FÁRMACOS POR MEIO DA BIOTRANSFORMAÇÃO Logo que o fármaco entra no organismo começa o processo de eliminação. As três principais vias de eliminação são biotransformação hepática, eliminação biliar e eliminação urinária. Juntos, esses processos de eliminação diminuem exponencialmente a concentração no plasma. Ou seja, uma fração constante do fármaco presente é eliminada por unidade de tempo (Fig. 1.14A). A maioria dos fármacos é eliminada de acordo com uma cinética de primeira ordem, embora alguns, como o ácido acetilsalicílico em doses altas, sejam eliminados de acordo com cinética de ordem zero ou não linear. A biotransformação gera produtos com maior polaridade, que facilita a eliminação. A depuração (clearance – CL) estima a quantidade de fármaco depurada do organismo por unidade de tempo. A CL total é uma estimativa composta que reflete todos os Carolina Ferreira FARMACOLOGIA mecanismos de eliminação do fármaco e é calculada pela seguinte equação: onde t½ é a meia-vida de eliminação, Vd é o volume de distribuição aparente, e 0,693 é a constante log natural. A meia-vida do fármaco é usada com frequência para medir a CL do fármaco porque, para vários fármacos, Vd é uma constante. A. Cinética da biotransformação 1. Cinética de primeira ordem: A transformação metabólica dos fármacos é catalisada por enzimas, e a maioria das reações obedece à cinética de Michaelis-Menten: v = velocidade de biotransformação do fármaco = Vmáx [C] Km + [C] Na maioria das situações clínicas, a concentração do fármaco, [C], é muito menor do que a constante de Michaelis, Km, e a equação se reduz para: v = velocidade de biotransformação = Vmáx [C] Km Isto é, a velocidade de biotransformação do fármaco é diretamente proporcional à concentração do fármaco livre, e é observada uma cinética de primeira ordem (Fig. 1.15). Isso indica que uma fração constante do fármaco é biotransformada por unidade de tempo (isto é, a cada meia-vida, a concentração se reduz em 50%). A cinética de primeira ordem também é referida como cinética linear. 2. Cinética de ordem zero: Com poucos fármacos, como o ácido acetilsalicílico, o etanol e a fenitoína, as doses são muito grandes. Por isso, [C] é muito maior do que Km, e a equação de velocidade se torna a seguinte: V = velocidade de biotransformação do fármaco == Vmáx Vmáx [C] [C] A enzima é saturada pela concentração elevada de fármaco livre, e a velocidade da biotransformação permanece constante no tempo. Isso é denominado cinética de ordem zero (também denominado de cinética não linear). Uma quantidade constante de fármaco é biotransformada por unidade de tempo. A velocidade de eliminação é constante e independe da concentração do fármaco. B. Reações da biotransformação de fármacos Os rins não conseguem eliminar os fármacos lipofílicos de modo eficiente, pois estes facilmente atravessam as membranas celulares e são reabsorvidos nos túbulos contorcidos distais. Por isso, os fármacos lipossolúveis sao primeiramente biotransformados no fígado em substâncias mais polares (hidrofílicas), usando dois grupos gerais de reações, denominados fase I e fase II (Fig. 1.16). 100 0 50 0 Carolina Ferreira FARMACOLOGIA Para a maioria dos fármacos, a concentração no plasma é menor do que o Km e a eliminação é de primeira ordem, isto é, proporcional à dose do fármaco Poucos fármacos, como ácido acetilsalicílico, etanol e fenitoína, têm dosagens muito elevadas. Por isso, a concentração do fármaco no plasma é muito maior do que o Km, e as suas biotransformações são de ordem zero, isto é, constante e independente da dose do fármaco Dose dofármaco Velocidade de biotransformação do fármaco Figura 1.15 Efeitos da dose do fármaco na velocidade da sua biotransformação. 14 Whalen, Finkel & Panavelil 1. Fase I: As reações de fase I convertem fármacos lipofílicos em moléculas mais polares, introduzindo ou desmascarando um grupo funcional polar, como –OH ou –NH2. As reações de fase I em geral envolvem redução, oxidação ou hidrólise. A biotransformação de fase I pode aumentar ou diminuir a atividade farmacológica, ou ainda não ter efeito sobre ela. a. Reações de fase I utilizando o sistema P450: As reações de fase I envolvidas com maior frequência na biotransformação de fármacos são catalisadas pelo sistema citocromo P450 (também denominado oxidases microssomais de função mista). O sistema P450 é importante para a biotransformação de vários compostos endógenos (como esteroides, lipídeos) e para a biotransformação de substânciasexógenas (xenobióticos). O citocromo P450, designado como CYP, é uma superfamília de isoenzimas contendo heme presentes na maioria das células, mas principalmente no fígado e no TGI. 1) Nomenclatura: O nome da família é indicado pelo algarismo arábico que segue a sigla CYP, e a letra maiúscula designa a subfamília; por exemplo, CYP3A (Fig. 1.17). Um segundo algarismo indica a isoenzima específica, como em CYP3A4. 2) Especificidade: Como há vários genes diferentes que codificam múltiplas enzimas, há várias isoformas P450 diferentes. Essas enzimas têm a capacidade de modificar um grande número de substratos estruturalmente distintos. Além disso, um fármaco individual pode ser substrato para mais de uma isoenzima. Quatro isoenzimas são responsáveis pela ampla maioria das reações catalisadas pelo P450: CYP3A4/5, CYP2D6, CYP2C8/9 e CYP1A2 (Fig. 1.17). Quantidades consideráveis de CYP3A4 são encontradas na mucosa intestinal, respondendo pela biotransformação de primeira passagem de fármacos como a clorpromazina e o clonazepam. 3) Variabilidade genética: As enzimas P450 exibem considerável variabilidade genética entre indivíduos e grupos raciais. Variações na atividade de P450 podem alterar a eficácia dos fármacos e o risco de efeitos adversos. A CYP2D6, em particular, revela polimorfismo Carolina Ferreira FARMACOLOGIA genético. Mutações na CYP2D6 resultam em capacidade muito baixa de biotransformar substratos. Algumas pessoas, por exemplo, CYP2D6 19% CYP2C8/9 16% CYP1A2 11% CYP2C19 8% CYP2E1 4% CYP2B6 3% CYP2A6 3%CYP3A4/5 36% Figura 1.17 Contribuição relativa das isoformas de citocromos P450 (CYP) na biotransformação de fármacos. Fármaco (Lipofílico) Fase I Fase II Produtos de conjugação (hidrossolúvel) Oxidação, redução e/ou hidrólise (polar) Alguns fármacos entram diretamente na Fase II de biotransformação O fármaco conjugado geralmente é inativo Após a Fase I, o fármaco pode ser ativado, permanecer inalterado ou, com mais frequência, inativado Figura 1.16 Biotransformação dos fármacos. Farmacologia Ilustrada 15 não obtêm benefício do analgésico opiáceo codeína, porque não têm a enzima CYP2D6 que o ativa. Polimorfismos similares foram caracterizados para a subfamília CYP2C. Por exemplo, o clopidogrel tem a advertência de que os pacientes que são maus biotransformadores pela CYP2C19 têm maior incidência de eventos cardiovasculares (p. ex., choque ou infarto do miocárdio) quando usam esse fármaco. O clopidogrel é um pró-fármaco, e a ativação pela CYP2C19 é necessária para convertê-lo no metabólito ativo. Embora a CYP3A4 exiba uma variabilidade entre indivíduos maior que 10 vezes, nenhum polimorfismo foi identificado para essa isoenzima P450. 4) Indutores: As enzimas dependentes de CYP450 são um alvo importante de interações farmacocinéticas de fármacos. Uma dessas interações é a indução de isoenzimas CYP-específicas. Xenobióticos (substâncias químicas que não são produzidas nem deveriam estar presentes normalmente no organismo, como poluentes ambientais) podem induzir a atividade dessas enzimas. Certos fármacos (p. ex., fenobarbital, rifampicina e carbamazepina) são capazes de aumentar a síntese de uma ou mais isoenzimas CYP. Isso resulta no aumento da biotransformação de fármacos e pode levar a reduções significativas nas concentrações plasmáticas dos fármacos biotransformados por essas isoenzimas CYP, com concomitante redução do efeito farmacológico. Por exemplo, a rifampicina, um fármaco antituberculose (ver Cap. 41), diminui de modo significativo a concentração plasmática dos inibidores de HIV protease, diminuindo, assim, sua capacidade de suprimir a replicação do HIV. A erva-de-são-joão é um fitoterápico amplamente usado e é um Carolina Ferreira FARMACOLOGIA indutor potente da CYP3A4. Várias interações com fármacos são relatadas devido ao uso simultâneo da erva-de-são-joão. A Figura 1.18 lista alguns dos mais importantes indutores para isoenzimas CYP representativas. As consequências do aumento da biotransformação de fármacos incluem 1) menor concentração do fármaco no plasma; 2) menor atividade do fármaco, se o metabólito é inativo; 3) aumento da atividade, se o metabólito é ativo; e 4) redução do efeito terapêutico do fármaco. 5) Inibidores: A inibição da atividade das isoenzimas CYP é uma fonte importante de interações de fármacos que leva a efeitos adversos graves. A forma mais comum de inibição é pela competição pela mesma isoenzima. Alguns fármacos, contudo, são capazes de inibir reações das quais nem são substratos (p. ex., cetoconazol), provocando interações. Numerosos fármacos são capazes de inibir uma ou mais vias de biotransformação CYP-dependente da varfarina. Por exemplo, o omeprazol é um inibidor importante de três das isoenzimas CYP responsáveis pela biotransformação da varfarina. Se os dois fármacos são tomados juntos, a concentração plasmática de varfarina aumenta, levando ao aumento do efeito anticoagulante e do risco de sangramentos. (Nota: os inibidores CYP mais importantes são eritromicina, cetoconazol e ritonavir, pois inibem várias isoenzimas CYP.) Substâncias naturais também podem inibir a biotransformação de fármacos inibindo a CYP3A4. Por exemplo, o suco de toranja (grapefruit) inibe a CYP3A4 e leva a concentrações mais altas e/ou maior potencial de efeitos tóxicos de fármacos, tais como Isoenzima CYP2C9/10 Isoenzima CYP2D6 Isoenzima CYP3A4/5 SUBSTRATOS COMUNSI NDUTORES SUBSTRATOS COMUNSI NDUTORES SUBSTRATOS COMUNSI NDUTORES Varfarina Fenitoína Ibuprofeno Tolbutamida Fenobarbital Rifampicina Desipramina Imipramina Haloperidol Propanolol Nenhum* Carbamazepina Ciclosporina Eritromicina Nifedipino Verapamil Carbamazepina Dexametasona Fenobarbital Fenitoína Rifampicina Figura 1.18 Algumas isoenzimas citocromo P450 representativas. CYP, citocromo P. *Diferentemente da maioria das outras enzimas CYP450, a CYP2D6 não é muito suscetível à indução enzimática. 16 Whalen, Finkel & Panavelil nifedipina, claritromicina e sinvastatina, que são biotransformados por esse sistema. b. Reações de fase I que não envolvem o sistema P450: Essas reações incluem a oxidação de aminas (p. ex., oxidação de catecolaminas ou histamina), a desidrogenação do álcool (p. ex., Carolina Ferreira FARMACOLOGIA oxidação do etanol), as esterases (p. ex., biotransformação do ácido acetilsalicílico no fígado) e a hidrólise (p. ex., procaína). 2. Fase II: Esta fase consiste em reações de conjugação. Se o metabólito resultante da fase I é suficientemente polar, ele pode ser excretado pelos rins. Contudo, vários metabólitos de fase I continuam muito lipofílicos para serem excretados. Uma reação subsequente de conjugação com um substrato endógeno – como ácido glicurônico, ácido sulfúrico, ácido acético ou aminoácido – produz um composto polar em geral mais hidrossolúvel e terapeuticamente inativo. Uma exceção notável é o glicuronídeo-6-morfina, que é mais potente do que a morfina. A glicuronidação é a reação de conjugação mais comum e mais importante. (Nota: os fármacos que possuem um grupo –OH, –NH2 ou –COOH podem entrar diretamente na fase II e ser conjugados sem uma reação de fase I prévia.) O fármaco conjugado altamente polar é então excretado pelos rins ou pela bile. VI. DEPURAÇÃO DE FÁRMACOS PELOS RINS Os fármacos devem ser suficientemente polares para serem eliminados do organismo. A saída do fármaco do organismo ocorre por numerosas vias, sendo a eliminação na urina por meio dos rins a mais importante. Pacientes com disfunção renal podem ser incapazes de excretaros fármacos, ficando sujeitos ao risco de acumulá-los e apresentar efeitos adversos. A. Eliminação renal dos fármacos A eliminação de fármacos pelos rins na urina envolve os processos de filtração glomerular, secreção tubular ativa e reabsorção tubular passiva. 1. Filtração glomerular: Os fármacos chegam aos rins pelas artérias renais, que se dividem para formar o plexo capilar glomerular. O fármaco livre (não ligado à albumina) difunde-se através das fendas capilares para o espaço de Bowman como parte do filtrado glomerular (Fig. 1.19). A velocidade de filtração glomerular (VFG) em geral é de 125 mL/min, mas pode diminuir significativamente na doença renal. A lipossolubilidade e o pH não influenciam a passagem dos fármacos para o filtrado glomerular. Contudo, variações na VFG e a ligação dos fármacos às proteínas afetam esse processo. 2. Secreção tubular proximal: Os fármacos que não foram transferidos para o filtrado glomerular saem dos glomérulos através das arteríolas eferentes, que se dividem formando um plexo capilar ao redor do lúmen no túbulo proximal. A secreção ocorre primariamente nos túbulos proximais por dois mecanismos de transporte ativo que exigem energia: um para ânions (p. ex., formas desprotonadas de ácidos fracos) e outro para cátions (p. ex., formas protonadas de bases fracas). Cada um desses sistemas de transporte apresenta baixa especificidade e pode transportar vários compostos. Assim, pode ocorrer competição entre fármacos pelos transportadores em cada um dos sistemas. (Nota: prematuros e recém-nascidos não têm esse mecanismo secretor tubular 1 Carolina Ferreira FARMACOLOGIA 2 3 Túbulo proximal Cápsula de Bowman Alça de Henle Túbulo distal Túbulo coletor O fármaco livre entra no filtrado glomerular Secreção ativa do fármaco Na urina: fármaco ionizado insolúvel em lipídeos Reabsorção passiva de fármacos não ionizados e lipossolúveis, que foram concentrados no interior do lúmen em concentração maior do que a do espaço perivascular Figura 1.19 Eliminação de fármacos pelos rins. Farmacologia Ilustrada 17 completamente desenvolvido e, assim, podem reter certos fármacos no filtrado glomerular.) 3. Reabsorção tubular distal: Enquanto o fármaco se desloca em direção ao túbulo contorcido distal, sua concentração aumenta e excede à do espaço perivascular. O fármaco, se for neutro, pode difundir-se para fora do lúmen, retornando à circulação sistêmica. A manipulação do pH da urina, para aumentar a fração ionizada do fármaco no lúmen, pode ser feita para minimizar a retrodifusão e, assim, aumentar a depuração de um fármaco indesejável. Como regra geral, ácidos fracos podem ser eliminados alcalinizando a urina, ao passo que a eliminação de bases fracas pode ser aumentada por acidificação da urina. Esse processo é denominado prisão iônica. Por exemplo, um paciente apresentando dose excessiva de fenobarbital (um ácido fraco) pode receber bicarbonato, que alcaliniza a urina e mantém o fármaco ionizado, diminuindo, assim, a sua reabsorção. 4. Papel da biotransformação de fármacos: A maioria dos fármacos é lipossolúvel e, sem modificação química, se difundiria para fora do lúmen tubular renal quando a sua concentração no filtrado se tornasse maior do que a do espaço perivascular. Para minimizar essa reabsorção, os fármacos são modificados basicamente no fígado em substâncias mais polares por meio das reações de fase I e fase II (descritas anteriormente). Os conjugados polares ou ionizados são incapazes de difundir para fora do lumen renal (Fig. 1.20). VII. DEPURAÇÃO POR OUTRAS VIAS A depuração de fármacos pode ocorrer também por intestinos, bile, pulmões, leite, entre outros. Os fármacos que não são absorvidos após administração oral ou fármacos que são secretados diretamente para os intestinos ou na bile são eliminados com as fezes. Os pulmões estão envolvidos primariamente na eliminação dos gases anestésicos (p. ex., isoflurano). A eliminação de fármacos no leite pode expor a criança lactente aos medicamentos e/ou seus Carolina Ferreira FARMACOLOGIA metabólitos ingeridos pela mãe, e é uma fonte potencial de efeitos indesejados na criança. A excreção da maioria dos fármacos no suor, na saliva, nas lágrimas, nos pelos e na pele ocorre em pequena extensão. A depuração corporal total e a meia-vida do fármaco são variáveis importantes da sua depuração, sendo usadas para otimizar o tratamento medicamentoso e minimizar a toxicidade. A. Depuração corporal total A depuração corporal total (sistêmica), CLtotal, é a soma de todas as depurações dos órgãos biotransformadores e eliminadores. Os rins, frequentemente, são os principais órgãos de eliminação. O fígado também contribui na depuração dos fármacos por meio da biotransformação e/ou excreção na bile. A depuração total é calculada usando-se a seguinte equação: CLtotal = CLhepática + CLrenal + CLpulmonar + CLoutras em que CLhepática + CLrenal geralmente são as mais importantes. B. Situações clínicas que alteram a meia-vida do fármaco Quando o paciente apresenta uma anormalidade que altera a meia-vida do fármaco, são necessários ajustes na dosagem. Pacientes que podem apresentar aumento da meia-vida de fármacos são aqueles que têm 1) Túbulo proximal Alça de Henle Túbulo distal Fármaco Metabólito ionizado ou polar Biotransformação de Fase I e II Fármaco Fármaco Reabsorção passiva de fármaco não ionizado, lipossolúvel Figura 1.20 Efeito da biotransformação de fármacos na reabsorção no túbulo distal. 18 Whalen, Finkel & Panavelil diminuição do fluxo de sangue renal ou hepático (p. ex., choque cardiogênico, insuficiência cardíaca ou hemorragia); 2) diminuição na capacidade de extrair o fármaco do plasma (p. ex., doença renal); e 3) diminuição da biotransformação (p. ex., quando outros fármacos concomitantes inibem a biotransformação, ou na insuficiência hepática, como na cirrose). Nesses pacientes, pode ser necessário diminuir a dosagem ou aumentar o tempo entre as dosificações. Em contraste, a meia-vida de um fármaco pode ser reduzida aumentando o fluxo sanguíneo hepático, diminuindo a ligação às proteínas ou aumentando a biotransformação. Isso pode exigir dosagens maiores ou dosificações mais frequentes.
Compartilhar