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O movimento da Arteterapia_ a liberdade do corpo, da arte e do ser FIM

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INSTITUTO SEDES SAPIENTIAE 
PÓS GRADUAÇÃO EM ARTETERAPIA 
 
 
 
RENATA DE OLIVEIRA MENEZES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O MOVIMENTO DA ARTETERAPIA 
A LIBERDADE DO CORPO, DA ARTE E DO SER. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2018 
 
 
RENATA DE OLIVEIRA MENEZES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O MOVIMENTO DA ARTETERAPIA 
A LIBERDADE DO CORPO, DA ARTE E DO SER. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Projeto de Pesquisa apresentado ao 
Curso de Pós Graduação do Instituto 
Sedes Sapientiae como requisito 
parcial para obtenção do título de 
especialista em Arteterapia. 
Orientador(a): 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2018 
 
 
RENATA DE OLIVEIRA MENEZES 
 
 
 
 
 
 
O MOVIMENTO DA ARTETERAPIA 
A LIBERDADE DO CORPO, DA ARTE E DO SER. 
 
 
 
 
 
Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Pós 
Graduação do Instituto Sedes Sapientiae como requisito parcial 
para obtenção do título de especialista em Arteterapia. 
 
 
Aprovado em _______ de ___________________ de ______ 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
___________________________________ 
 
PROF. 
INSTITUTO SEDES SAPIENTIAE 
 
ORIENTADOR 
 
___________________________________ 
 
PROF. 
INSTITUTO SEDES SAPIENTIAE 
 
___________________________________ 
 
PROF. 
INSTITUTO SEDES SAPIENTIAE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradeço à todas circunstâncias da 
vida que me trouxeram até aqui, para 
esta realização profissional e 
pessoal. Agradeço, igualmente, aos 
familiares, amigos e professores que 
apoiaram esta jornada e estiveram ao 
meu lado durante estes anos de 
descobertas. 
 
Dedico este trabalho a mim mesma. 
Às minhas conquistas, minha entrega 
e a confiança que adquiri em ser 
quem sou. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“E era bom. “Não entender” era tão vasto 
que ultrapassa qualquer entender - entender 
era sempre limitado. Mas não entender não 
tinha fronteiras e levava ao infinito, ao Deus. 
Não era um não entender como um simples 
de espírito. O bom era ter uma inteligência e 
não entender. Era uma benção estranha 
como a de ter loucura sem ser doida. Era 
um desinteresse manso em relação às 
coisas ditas do intelecto, uma doçura de 
estupidez. 
 
Mas de vez em quando vinha a inquietação 
insuportável: queria entender o bastante 
para pelo menos ter mais consciência 
daquilo que ela não entendia. Embora no 
fundo não quisesse compreender. Sabia 
que aquilo era impossível. E todas as vezes 
que pensara que se compreenderá era por 
ter compreendido errado. Compreender era 
sempre um erro - preferia a largueza tão 
ampla e livre e sem erros que era não 
entender. Era ruim, mas pelo menos se 
sabia que se estava em plena condição 
humana. 
 
No entanto às vezes adivinhar eram 
manchas cósmicas que substituirão o 
entender.” 
 
Clarice Lispector 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
Este trabalho visa expor a função e a importância da Arteterapia ​como meio 
de caminhar em si mesmo para encontrar quem se é. A união entre artes plásticas 
unidas à prática corporal é o caminho que escolhi para esta investigação por 
considerá-lo uma das expressões conscientes ou não de quem sou. 
 
A partir de uma revisão bibliográfica defenderei a liberdade de criar e se 
movimentar como forma de ser e estar no mundo e como objeto de observação para 
a desconstrução e construção da individualidade. O resultado será uma conclusão 
bibliográfica a fim de compreender que a Arteterapia é uma imprescindível 
ferramenta para reestruturação do indivíduo, transformação pessoal e 
autoconhecimento. 
 
Palavras-chaves​​: arteterapia, autoconhecimento, corpo, movimento, estética, 
arte, abstrato. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE FIGURAS 
 
Figura 1:. 64 
Figura 2:. 65 
Figura 3:. 66 
Figura 4:. 67 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Anexo A:. 68 
Anexo B:. 68 
Anexo C:. 69 
Anexo D:. 69 
Anexo E:. 70 
Anexo F:. 70 
Anexo G:. 71 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO 
 1.1. Justificativa​ ​​………..…………………………………………………………….… 11 
 1.2. Objetivos​ ​​…………..…………………………………………………………….… 12 
 
2. O MOVIMENTO DA ARTETERAPIA 
 2.1.​ ​​Definindo a Arteterapia ……..………………………………………………….… 13 
 2.2. Pioneiras da Arteterapia: história e caminhos ……...……………………….… 15 
 ​2.2.1. Margareth Naumburg: o resultado como foco ………....​…………….… 16 
2.2.2. Edith Kramer: o processo como foco …………..……....​…………….… 17 
2.2.3. Janie Rhyne e a unificação dos conceitos: processo e resultado em 
foco …………...​…………..……………………………………………………………...… 19 
2.2.4. Selma Ciornai: Arteterapia no Brasil ​………..………………………...… 20 
 2.3. Intersecções com linguagens expressivas … .……………………………...… 23 
 
3. O MOVIMENTO DO CORPO-CARNE-MUNDO 
 ​​3.1. Corpo ….……..……………………………………………………………………. 25 
 3.2. Carne ….……..……………………………………………………………………. 25 
 3.3. Mundo ….……..…………………………………………………………………… 27 
 3.4. Pensamento ….……..……………..……………………………………………… 29 
 3.5. Espontaneidade, liberdade na dança ….……..……………..……………….… 32 
 3.6. A coragem de dançar ….……..……..…………………………………………… 33 
 3.7. A estética do movimento ….……..……..……………………………………….. 34 
 
4. O MOVIMENTO DA IMAGEM-SÍMBOLO-FORMA 
 ​​ 4.1. Imagem ….……..……..…………………………………………………………... 36 
 4.2. Símbolo ….……..……..…………………………………………………………... 37 
 4.3. Forma …....……..……..…………………………………………………………... 38 
 4.4. Abstração ……....……..…………………………………………………………... 40 
 4.5. Espontaneidade, liberdade na arte …………………………………………….. 44 
 4.6. A coragem de criar ....……..……………………………………....……………... 45 
 
5. O MOVIMENTO PARA A CONCLUSÃO 
 5.1. Estética da arte ....……..……………………………………....………………... 48 
 ​​ 5.2. A busca da autenticidade da forma própria na Arteterapia ​..………………... 49 
 5.3. O uso do corpo e da música na Arteterapia: intersecções a contínua 
expansão do ser ​……………………………………………..…………....……………... 52 
 5.4. O movimento de finalização e o desencontro com minha forma ………….... 58 
 
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 
 ANEXOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
1. Justificativa 
 
O interesse para estudar o movimento e o ato de criar como ferramenta de 
autoconhecimento e libertação do indivíduo que somos surgiu, principalmente, no 
final do curso após participar de diversas vivênciasem Arteterapia nas quais 
aproximei-me de quem sou: meu corpo, minha história, meus ideais, iniciando um 
processo de empoderamento sobre quem sou, quem posso e quem quero ser. 
Após dois anos envolvida com artes através da pós-graduação e da 
maternidade, conquistei a liberdade em me expressar corporalmente e transformar 
essa expressão, esse movimento, essa energia em arte plástica. Os movimentos, as 
intenções e as emoções do momento tornaram-se quadros na parede de minha sala. 
Foram momentos de conexão e liberdade. Perder-me no tempo, no espaço e me 
permitir a entrega de energias, sensibilidades, emoções e pensamento ao universo 
que estava ali ao meu redor e ao universo que há dentro de mim. 
Não foi somente o fazer arte que me trouxe o autoconhecimento, mas 
também a observação de como a arte era realizada e o que surgiu como resultado. 
Iniciei o processo artístico com uma ideia na cabeça, arrumei o espaço, os pincéis, 
as tintas, uma música de fundo. Escolhi uma cor, fiz um traço. Começou a tocar 
outra música. Outro traço. Mistura tinta, lava pincel e percebi que não estava dando 
certo, não estava fluindo. Desisto, guardo tudo, deixa pra outro dia. 
O outro dia logo chega. Outra música, outros sentimentos, outras 
necessidades, porém tudo da mesma forma: iniciei com a mesma ideia na cabeça, 
arrumei um espaço, os pincéis, as tintas, uma música de fundo. Escolhi uma cor, fiz 
um traço. Começou a tocar outra música. Outro traço. Misturei tintas e deixei o pincel 
lá no copo. Escolhi uma cor, peguei o pote de tal cor e passei o dedo. Na cor, na 
tela. Ainda não estava certo. Peguei o mesmo pote, mais um dedo. Mais um. A mão 
inteira no pote, na cor, na tela. Fluiu. A cor, a música de fundo tão presente, as 
emoções, as sensações, a energia de tal momento de tal dia ilustrados agora aqui, 
ao meu lado para me lembrar de me entregar a mim mesma (figura 01 e 02). 
A ideia de trabalhar o corpo neste trabalho é feito, portanto, com a intenção 
de liberar os movimentos de possíveis amarras, entender este corpo como corpo 
vibrátil, que sente, que quando em contato com outro ser mobiliza afetos, 
expande-se em sua expressão mais individual e busca espaço para expressar-se 
como vivo, real e ativo. 
O espaço encontrado é na tela, na argila, no tecido ou na linha: a arte se 
torna resultado de uma expressão do movimento e da liberdade. Nesta minha 
experiência encontrei-me com a tela, com o contato direto com a tinta guache que 
traduziu-se em formas inicialmente abstratas que se moldaram no decorrer da 
experiência criando formas familiares, transformando a ideia inicial; ou seja, 
libertei-me da necessidade de uma estética agradável para conseguir uma conexão 
 
 
real com o que queria expressar e assim as cores e formas fluíram para o resultado 
final no qual é possível sentir a presença do meu eu nesta totalidade do quadro. 
A Arteterapia se insere nesse tema por ter sido, pessoalmente, o ponto inicial 
que gerou esta possibilidade de me entregar ao momento e aos sentimentos 
presentes. O curso tornou-se um processo de entrar em contato com quem sou, o 
que penso e o que sinto sem usar de escapismos, mas com coragem de olhar em 
meus olhos, encarar-me. 
Do lado mais teórico, a Arteterapia auxilia este processo ao proporcionar o 
resgate da flexibilidade do corpo, bem como das interações psicológicas, emocionais 
e sensoriais do indivíduo; a busca da sincronicidade e da ressonância entre o corpo 
físico, o corpo de memórias e a requalificação do potencial do ser humano a partir do 
autoconhecimento, da expansão da consciência e da capacidade imaginativa. 
 
.​1.2. Objetivos 
 
A vivência desta experiência de entrega me fez refletir a potencialidade da 
Arteterapia para o autoconhecimento pleno, sendo um caminho de desconstrução de 
ideias e conceitos que adquirimos no decorrer da vida advindos de diversas formas e 
lugares. O objetivo deste trabalho é, portanto, refletir sobre a possibilidade desta 
desconstrução e busca pelos verdadeiros princípios através das vivências em 
Arteterapia, discorrendo sobre a libertação dos movimentos do corpo físico assim 
como a iniciativa de se fazer arte livre de preocupações estéticas para, por fim, 
conciliar a unicidade do sujeito com a criação de uma estética autêntica. 
Com o intuito de apresentar uma reflexão válida busquei referenciais teóricos 
das áreas de Arteterapia, Psicologia, Arte Educação e Artes Visuais, Filosofia, entre 
outros e os unifiquei conforme a leitura de um se complementava com outra. Por fim, 
compactei as ideias em três capítulos: 
No primeiro capítulo dediquei-me a apresentar e definir a Arteterapia 
baseando-me em livros indicados no decorrer do curso, comentando sobre o 
surgimento desta àrea de atuação, sua chegada ao Brasil e a ligação que há entre 
as diversas modalidade das artes com o papel terapêutico. 
O segundo capítulo incentivou um estudo a mais nas áreas de Psicologia e 
Filosofia por observar o corpo como passível de influências externas, sendo o 
mesmo uma expressão de quem nos tornamos a partir destas interferências. Os 
movimentos que realizamos no dia-a-dia e/ou em um momento de expressão 
corporal transparece o que somos, o que sentimos em determinado momento e 
trago a reflexão sobre a quebra destas interferências para que o corpo seja livre em 
sua expressão, assim como assinalo a importância de nos conhecermos para 
compreender as motivações de nossos movimentos. 
A partir da explicação quanto aos nossos movimentos para a liberdade 
caminho ao terceiro capítulo refletindo sobre a expressão dos pensamentos, 
emoções e memórias nas artes, considerando igualmente o movimento da 
 
 
construção e desconstrução de ideias e conceitos adquiridos externa, cultural e 
socialmente, demonstrado a partir da limitação da forma. Busco, portanto, a 
liberdade desta forma e encontro a arte abstrata como caminho para se chegar a 
criação de uma forma que externalize a expressão única de cada indivíduo. 
Para concluir, considero o trabalho bibliográfico realizado e pontuo sobre a 
coragem de permitir-se movimentar, abrir, descobrir e reconstruir quem se é dentro 
do ateliê terapêutico ao comprovar que a Arteterapia favorece o processo de 
individualização do ser humano ao proporcionar tal movimento e a criação artística 
como meio de autoconhecimento, levando o indivíduo a encontrar e respeitar sua 
estética e suas particularidades. 
O estudo e as experiências pessoais comprovaram que os objetivos do 
trabalho foram atendidos. Verificou-se através da leitura que a potência da 
Arteterapia unida ao contato com o corpo favorece o autoconhecimento, que a arte 
abstrata é um meio de tornar-se sem formas definidas para que o indivíduo encontre 
a melhor forma que o expresse. 
 
2.​​ ​O MOVIMENTO DA ARTETERAPIA 
 
A Arteterapia veio até mim durante uma busca sobre a expressão infantil 
através das artes plásticas e suas possibilidades de significações por, durante o 
trabalho como professora de educação infantil, perceber nos desenhos a expressão 
de vivências e sensibilidades das crianças. Com o intuito deconseguir desmistificar 
o que havia por trás dos traços dos desenhos, iniciei a pós-graduação no Instituto 
Sedes Sapientiae e fui descobrindo, ao longo dos dois anos de curso, das vivências 
arteterapêuticas, das leituras e dos estágios, o que é, por fim, a Arteterapia. 
Considero importante, porém, ainda ser conduzida por minhas mestras para 
definir e explanar o que é Arteterapia e, para isto, uso dos primeiros livros por elas 
indicados: a série do “Percursos em Arteterapia”, organizado por Selma Ciornai, 
sendo três livros no total visando, além da comemoração dos 15 anos de percurso 
da formação de arteterapeutas no Instituto, a divulgação da atuação do profissional 
assim como experiências práticas e as teorias que o fundamentam. 
 
2.1. Definindo a Arteterapia 
 
Aos ouvirmos o termo “Arteterapia” nos vem à mente o ato de empregar 
recursos artísticos em contextos terapêuticos, porém esta é uma definição ampla por 
não contemplar que o fazer artístico possui potencial de cura a partir do momento 
em que o indivíduo é acompanhado pelo arteterapeuta e com ele cria uma relação 
que contribui com a ampliação da consciência e do autoconhecimento, possibilitando 
mudanças na vida interna e externa. 
A palavra “arte” remete às diversas linguagens artísticas, contudo 
“arteterapia” está relacionado ao “trabalho de profissionais que utilizam 
 
 
preponderantemente as artes plásticas como recurso terapêutico” (CIORNAI, p. 08​, 
vl. 62​), o uso das diferentes linguagens artísticas ficou associado ao termo “terapias 
expressivas” ou “artes em terapia”. 
A Arteterapia não é um despretensioso encontro dos conhecimentos de 
teorias e práticas da arte com a psicologia. Para se tornar um arteterapeuta, 
portanto, 
“não basta ser psicólogo e “gostar de arte” ou ser 
artista/arte-educador e “gostar de trabalhar com pessoas co dificuldades 
especiais” (...). A formação em arteterapia, além das matérias de arte e 
psicologia necessárias, compreende também um corpo teórico e 
metodológico próprios, que abrange conhecimentos da história da arteterapia 
e dos autores pioneiros e contemporâneos de maior proeminência na área, 
conhecimento dos processos psicológicos gerados tanto no decorrer da 
atividade artística como na observação de trabalhos de arte, conhecimento 
das relações entre processos criativos, terapêuticos e de cura, conhecimento 
das propriedades terapêuticas dos diferentes materiais e técnicas, 
conhecimento dos fundamentos teóricos e metodológicos da abordagem, 
estudo de pesquisas e trabalhos já realizados por arteterapeutas em diversos 
campos de atuação, vivência pessoal e prática supervisionada por 
profissionais com experiência na área”. (CIORNAI, 2004, p. 08​, vl. 62​; grifos 
do autor). 
 
A formação em Arteterapia no Brasil é uma área de especialização, ou seja, 
um complemento para cada profissional inserir as teorias e práticas aprendidas 
durante o curso na sua área da habilitação profissional (seja na psiquiatria, 
psicoterapia, psicopedagogia, fonoaudiologia, arte-educação, entre outros). Esta 
formação possui uma ampla abertura de campos de atuação e pode ser 
desenvolvida em diversos contextos terapêuticos como decorrência das prévias 
orientações teóricas do arteterapeuta, assim como das práticas em aulas e das 
práticas supervisionadas. 
A Arteterapia possui princípios básicos mas há, também, uma flexibilidade 
que permite sua inserção nas distintas maneiras de lidar com o outro, adequando-se 
nos diversos contextos profissionais. A Associação Americana de Arteterapia 
exemplifica nos textos abaixo este discurso que diz respeito ao trabalho do 
arteterapeuta, e, em seguida, quanto aos indivíduos que buscam esta forma 
alternativa de terapia: 
“Arteterapeutas são profissionais com treinamento tanto em arte 
como em terapia. Têm conhecimento sobre desenvolvimento humano, teorias 
psicológicas, prática clínica, tradições espirituais, multiculturais e artísticas e 
sobre o potencial curativo da arte. Utilizam a arte em tratamentos, avaliações 
e pesquisas, oferecendo consultoria a profissionais de áreas afins. 
Arteterapeutas trabalham com pessoas de todas as idades, indivíduos, 
casais, famílias, grupos e comunidades. Oferecem seus serviços 
individualmente e como parte de equipes profissionais, em contextos que 
incluem saúde mental, reabilitação, instituições médicas, legais, centros de 
recuperação, programas comunitários, escolas, instituições sociais, 
empresas, ateliês, e prática privada.” (AATA, 2003) 
 
 
 
“A arteterapia baseia-se na crença de que o processo criativo 
envolvido na atividade artística é terapêutico e enriquecedor da qualidade de 
vida das pessoas. Arteterapia é o uso terapêutico da atividade artística no 
contexto de uma relação profissional por pessoas que experienciam doenças, 
traumas ou dificuldades na vida, assim como por pessoas que buscam 
desenvolvimento pessoal. Por meio do criar em arte e do refletir sobre os 
processos e trabalhos artísticos resultantes, pessoas podem ampliar o 
conhecimento de si e dos outros, aumentar sua auto estima, lidar melhor com 
sintomas, estresse e experiências traumáticas, desenvolver recursos físicos, 
cognitivos e emocionais e desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico.” 
(AATA, 2003) 
 
2.2. Pioneiras da Arteterapia: história e caminhos 
 
O caminho percorrido pela Arteterapia até que a mesma fosse vista como 
profissão e como um conhecimento a ser estudado, aprimorado e apreciado pode-se 
considerar iniciado na Idade Média na qual os seres humanos desenvolveram o uso 
do desenho como forma de “representar, organizar, significar e assenhorear-se do 
mundo em que viviam”, como diz Selma Ciornai (2004, p. 21​, vl. 62​), continuando 
sua fala complementa ao relembrar que recursos expressivos existem desde tempos 
dos quais não houve possibilidade de registro, afinal, ainda assim havia a prática das 
“danças, cantos, tatuagens e pinturas em rituais de cura, de poder e de invocação às 
forças da natureza” (CIORNAI, 2004, p. 21​, vl. 62​), ou seja, temos aqui a defesa de 
que o uso inicial das artes como forma terapêutica atribui-se às antigas civilizações. 
A Arteterapia como profissão e a visão da mesma como uma área peculiar 
quanto o conhecimento que a baseia e a atuação que realiza será concebida após a 
Primeira Guerra Mundial. Para compreender efetivamente este processo da 
validação da Arteterapia, Selma Ciornai nos contextualiza ao explicar que 
 
“Nas últimas décadas do século XIX, sobretudo após a Primeira 
Guerra Mundial, iniciava-se, em paralelo, um movimento importante de 
mudanças, cuja origem encontra-se na “crise da ciência e da verdade” 
(Barbosa, 1979, VII) e na busca por outros parâmetros norteadores e de 
compreensão do ser humano, além da lógica e do pensamento racional. A 
Teoria da Relatividade de Einstein e às demais descobertas da física 
moderna alavancaram e deram fundamento a uma transformação de 
paradigmas que ainda hoje revoluciona a cultura ocidental” (CIORNAI, 2004, 
p. 22​, vl. 62​) 
 
Ciornai segue associando a história da Arteterapia com a Psicologia ao 
relembrar o conceito de inconsciente esclarecidopor Freud e definindo-o como 
aquilo “que influi e pesa nas escolhas humanas, mas não obedece às leis do 
pensamento cartesiano, lógico e racional” (CIORNAI, 2004, p. 22​, vl. 62​). Não 
somente a importância do inconsciente foi descrita, mas também a importância da 
subjetividade e o uso das imagens, sendo elas vindas de sonhos ou transformadas 
 
 
em artes, com um aspecto de auxílio ao diagnóstico e que se tornou um aspecto 
assíduo nas pesquisas e trabalhos de psiquiatras em sua maioria europeus que 
possuíam interesse em estudar a produção artísticas de seus pacientes, como 
ocorreu com Sigmund Freud e Carl Gustav Jung. 
 
Selma Ciornai também realiza uma associação com a História da Arte ao 
notar que 
“os movimentos da arte das duas últimas décadas do século XIX às 
primeiras do século XX, que são caracterizados pelas mesmas 
preocupações. Em vez da percepção acurada e naturalista da realidade, o 
que vem à tona com o Expressionismo é a busca da emoção e da 
subjetividade humana; no Dadaísmo a busca da criança interna e o ​nonsense 
como estratégias de contraposição à lógica social burguesa (...); no Cubismo, 
o reconhecimento de que todo fenômeno pode ser visto de ângulos diversos; 
no Surrealismo (...) e no “teatro do absurdo” a busca do inconsciente, do 
imaginário e da percepção particular da realidade. E, com esses movimentos, 
a aceitação da assimetria, do exagero, da incongruência, da deformação, da 
coexistência de diferentes perspectivas e da multidimensionalidade como 
linguagens artísticas. Todos esses movimentos trazem a proposta de novas 
perspectivas para a compreensão do universo humano.” (CIORNAI, 2004, p. 
22​, vl. 62​) 
 
A necessidade destas novas perspectivas ressoou também na área da 
educação por decorrência de pensadores e educadores como “Piaget, Dewey e 
Montessori - que se dedicaram ao estudo do desenvolvimento infantil concebendo a 
educação como processo de cultivo e incentivo ao desenvolvimento da criança em 
sua totalidade, como ser no mundo” (CIORNAI, 2004, p. 23​, vl. 62​). Porém os 
pioneiros da arte na educação foram Viktor Lowenfeld e Florence Cane por 
defenderem que o currículo escolar carecia de exercícios para a criatividade e para a 
linguagem das artes “como caminho para tornar viável o desenvolvimento integrado 
do conjunto de diversas potencialidades da criança: cognitiva, afetivas, motoras e 
criativas.” (CIORNAI, 2004, p. 23​, vl. 62​). Guiada por estas ideias surgiu, portanto a 
Arte-educação e, sustentada pelas mesmas inquietações e propósitos, surge 
também a Arteterapia. 
 
2.2.1. Margareth Naumburg: o resultado como foco 
 
Margareth Naumburg nasceu em 1890 em Nova York, Estados Unidos, 
cidade na qual chegou a ser reconhecida dentro do meio artístico e literário nas 
décadas de 1920 e 1930 como artista plástica. Formada em psicologia pela 
Universidade de Colúmbia (Estados Unidos) tornou-se educadora após ir à Inglaterra 
realizar estudos na área e, em seguida, foi à Roma onde, através de um curso, 
conheceu o método de Maria Montessori para a educação infantil que veio 
influenciá-la profissionalmente ao voltar para o Estados Unidos chegando a fundar a 
escola Walden com o intuito de defender 
 
 
“a importância da expressão dos conteúdos e motivações 
inconscientes para a educação e o desenvolvimento da personalidade. essa 
escola inovou os currículos escolares tradicionais da época implementando 
atividades livres e a prática da expressão artística espontânea em sua 
metodologia educacional” (CIORNAI, p. 24​, vl. 62​). 
 
Após dez ano como diretora desta escola, Naumburg escreveu ​A criança e o 
mundo (1928) em que “advogava uma nova filosofia educacional com ênfase na 
expressão criativa e imaginativa de cada aluno.” (Ciornai, p. 25​, vl. 62​). Ao não 
deixar de lado seus conhecimentos da psicoterapia, Naumburg entrelaçou tais linhas 
de pensamentos e começou a realizar palestras em instituições de educação, 
psicologia e psiquiatria. 
 
“Em suas palavras: “A convicção de que a expressão livre na arte é 
uma forma simbólica de linguagem nas crianças, básica a toda educação, 
cresceu através dos anos. Concluí que esta expressão espontânea na arte 
poderia ser básica também ao tratamento psicoterápico Naumburg, 1966, 
p.30)” (Ciornai, p. 25​, vl. 62​) 
 
O primeiro livro sobre Arteterapia foi escrito por ela em 1947 sendo uma 
pesquisa sobre o papel da arte no trabalho com crianças que possuíam distúrbios de 
comportamento. Inicialmente foi chamado de “Estudos sobre a expressão ‘livre’ na 
arte de crianças e adolescentes com problemas de comportamento por meio de 
diagnóstico e terapia” e sendo republicado em 1973 com o título de ​Introdução à 
arteterapia​. Em seguida vieram mais três de Margaret Naumburg: ​Arte 
esquizofrênica: seu significado em psicoterapia (1950), ​Arte psiconeurótica: sua 
função em psicoterapia (1935) e ​Arteterapia de orientação analítica: princípios e 
práticas​ (1966). 
A Arteterapia já era um termo utilizado nos Estados Unidos, porém Naumburg 
ficou reconhecida como a “mãe” por ter sido a pioneira em diferenciar a Arteterapia 
“como um campo de conhecimento específico, estabelecendo os fundamentos 
teóricos sólidos para seu desenvolvimento” (CIORNAI, p; 25​, vl. 62​). A Arteterapia, 
porém, também é vista com dois olhares diferentes: há a “arte em terapia” e a “arte 
como terapia”. 
Naumburg é reconhecida como quem liderou a orientação de “arte em 
terapia”, isto é, seu foco se consolidava no conteúdo inconsciente que era expresso 
na arte realizada pelo indivíduo e em como ocorria a 
 
“compreensão do significado simbólico implícito nas imagens 
produzidas, (Naumburg) solicitava e incentivava associações livres do 
paciente buscando promover a obtenção de insights sobre a imagética e o 
conteúdo simbólico dos conflitos inconscientes ali projetados” (CIORNAI, p; 
26​, vl. 62​) 
 
2.2.2. Edith Kramer: o processo como foco 
 
 
 
Edith Kramer se evidenciou por conduzir uma segunda vertente para a 
Arteterapia: aquele no qual o foco central se dá no “valor terapêutico do processo 
criativo e do fazer artístico em si” (CIORNAI, p.. 27​, vl. 62​), ou seja, na “arte em 
terapia”. 
Nascida na Austrália em 1916, Kramer estudou desenhos, escultura e pintura 
sendo influenciada pelo método de ensino de desenvolvimento das artes pela escola 
Bauhaus, escola de artes alemã que a “auxiliou em sua formação e crescimento 
artístico sendo um elemento essencial para a compreensão de Kramer sobre as 
artes visuais. No entanto, seu estilo permaneceu consistentemente representativo. ​A 
expressão pessoal permaneceu subordinada à tarefa de interpretar o sujeito com 
uma compreensão respeitosa.” 1
Kramer, já consolidada como artista e arte-educadora, iniciou na década de 
1930 aulas de artes em Praga para filhos de refugiados, impressionando-se ao 
observar o valor terapêutico das atividades artísticas realizada neste espaço. Em 
1938 emigrou-se para os Estados Unidos onde teve a oportunidade de publicar seus 
livros: ​Arteterapia em uma comunidade de crianças (1958) e ​Arte como terapia comcrianças (1971), e outros artigos condizentes com o valor da arte, da arte-educação 
e da arteterapia voltada à infância. (Ciornai, 2004, vl. 62). 
 
“Combinando sua vivência e os conhecimentos e habilidades em arte 
e arte-educação com seus estudos de psicanálise, Kramer sublinhava a 
importância da arteterapia nos processos de organização e maturação 
psíquica, assim como nos processos sublimatórios e de fortalecimento do 
ego. Como Naumburg, tinha também uma acentuada preocupação social, 
acreditando que o ensino da arte e da expressão livre de estereótipos 
poderiam potencialmente ser agentes promotores da saúde coletiva.” 
(CIORNAI, p. 28, vl. 62) 
 
​Considero importante, ainda, citar a perspectiva de Kramer sobre a 
diferenciação de arteterapia com a psicoterapia, retirando o trecho a seguir do livro 
Percursos em Arteterapia (vl. 62, 2004, vl. 62) no qual Selma Ciornai condensa a 
explicação de Kramer, a partir de seu livro ​Arte como terapia para crianças​ (1971): 
 
“Meu ponto de vista é o de uma educadora e artista que combina 
habilidades profissionais no campo das artes com um conhecimento geral de 
normalidade e patologia em crianças. A fundamentação teórica de minha 
compreensão da patologia infantil é baseada principalmente no pensamento 
analítico freudiano. Porém, a ênfase é na ideia de “arte como terapia” em vez 
de uma psicoterapia que utiliza arte como instrumento. (...) Arteterapia é 
concebida primariamente como um meio de fortalecer o ego, desenvolver o 
senso de identidade e o amadurecimento de forma geral. Sua função básica 
é vista no poder da arte de contribuir para o desenvolvimento de uma 
organização psíquica capaz de funcionar sob pressão sem fragmentar-se ou 
1trecho traduzido livremente retirado do site oficial da Edith Kramer 
 
 
recorrer a medidas defensivas nefastas. Assim concebida, a arteterapia 
torna-se um componente essencial do contexto terapêutico e uma forma de 
terapia, que complementa ou apóia a psicoterapia mas não a substitui (1971, 
p. xii, xiv.)” (CIORNAI, p 28​, vl. 62​) 
 
2.2.3. Janie Rhyne e a unificação dos conceitos: processo e resultado em foco 
 
Janie Rhyne manifestou-se sobre as argumentações quanto ao princípio da 
Arteterapia e trouxe um novo pensar: “a arte como e em terapia”, ou seja, Rhyne 
considerava que “o valor terapêutico da atividade artística está tanto no processo de 
criação quanto nas possíveis reflexões e elaborações posteriores sobre os trabalhos 
realizado” (CIORNAI, p. 29​, vl. 62​). 
Nascida em 1913 na Flórida, Estados Unidos. Em 1935 finalizou seus estudos 
acadêmicos na Universidade do Estado da Flórida, obtendo um diploma de Bacharel 
em Artes com dupla especialização: em arte e ciências sociais. Em seguida 
continuou estudando, de maneira autodidata, sobre pintura, psicologia e relações 
pessoais e sociais, sendo uma fase fundamental para que tenha se tornado 
terapeuta. 
Iniciou 1956 um mestrado interdisciplinar na Universidade da Flórida sobre 
Arte e Antropologia, “desenvolvendo um trabalho em antropologia cultural com 
ênfase na relação entre etnologia e expressão artística.” (CIORNAI, p. 29​, vl. 62​). 
Rhyne recebeu seu diploma de mestrado vinte anos depois e foi, em seguida, viver 
em comunidades de artistas da Espanha e do México, conforme nos conta Selma 
Ciornai, exaltando sua ida também ao Canadá e seu retorno para São Francisco, no 
qual realizou trabalhos em diversos ambientes e, quanto a isso, Rhyne escreveu: 
 
“Ensinei arte em vários contextos - com crianças problemáticas, em 
um hospital da Marinha, em um centro comunitário, no meu próprio estúdio. 
Meu caminho ia e vinha em ziguezague, aparentemente ao sabor dos ventos; 
mas eu estava buscando maneiras de usar recursos artísticos como modo de 
dar um significado maior e melhor ao sentido de viver (Rhyne, 1977, p. 85)” 
(CIORNAI, p.30​, vl. 62​) 
 
Com o intuito de conhecer Fritz Perls, gestalt-terapeuta que tinha “por objetivo 
ajudar às pessoas a descobrir seu “eu mais autêntico”, procurando contribuir para a 
construção de uma “nova era” a partir de transformações individuais e sociais” 
(CIORNAI, p. 30​, vl. 62​), em 1965 Janie Rhyne passou a frequentar a cidade de 
Esalen iniciando um processo intensivo de psicoterapia e treinamento com Perls no 
qual inseriu seus desenhos com o intuito de explorá-los com o olhar terapêutico. O 
interesse na relação da arte com a terapia cresceu como área de estudo e pesquisa 
para Perls que, por sua vez, pediu para que Rhyne realizasse experimentos de arte 
nos grupos que conduzia em Esalen. Janie então passou a trabalhar e estudar com 
Pearls ao mesmo tempo em que, em São Francisco, 
 
 
 
“conduzia grupos de autoconhecimento utilizando a arte a 
abordagem gestáltica. Eram os “Art Experience” ​workshops​. Em suas 
palavras: 
“A Experiência de Arte Gestáltica é dirigida à autodescoberta, ao 
crescimento, ao enriquecimento - todas as coisas desejadas pelos que se 
engajam no desenvolvimento de seu potencial de forma auto-escolhida e 
mais ou menos autodirigida. A experiência de arte gestáltica apresenta o uso 
de materiais artísticos, em ​workshops e/ou grupos de longa duração, 
geralmente numa atmosfera aberta, em que a exploração descompromissada 
tem precedência sobre metas terapêuticas óbvias (Rhyne, 1978)” 
(CIORNAI, p; 31​, vl. 62​; grifos do autor) 
 
Em 1969, em São Francisco, Janie Rhyne e mais dois colegas fundaram o 
Instituto de Gestalt de São Francisco. O espaço utilizava o próprio ateliê de Rhyne e 
por lá trabalhou como professora de terapeutas. Seu primeiro e único livro foi 
publicado em 1973 e intitulado como “​Arte e Gestalt: padrões que convergem​”, 
escrito ao mesmo tempo em que ingressava em seu doutorado em Psicologia pela 
Universidade de Santa Cruz. Ao terminar de escrever tal livro Rhyne não possuía 
conhecimento da Arteterapia como profissão, o que ocorreu após a Associação 
Americana de Arteterapia (AATA) enviar uma carta convidando-a a se unir à 
instituição. 
“Desde então Janie participou ativamente dos congressos anuais da 
AATA e de várias de suas comissões (de educação, de pesquisa etc.), 
publicando vários artigos e resenhas em revistas da área, recebendo 
também, em 1980, o título de membro honorário vitalício da Associação”. 
(CIORNAI, p. 31​, vl. 62​) 
 
​O ano de 1980 também foi o período no qual Rhyne mudou-se para Iowa com 
o intuito principal de ficar perto de sua filha, porém acabou filiando-se à Associação 
Americana de Psicologia na qual foi nomeada para o comitê de Psicologia da Arte, o 
que se tornou um motivo de orgulho pois considerava que no decorrer de muitos 
anos os arteterapeutas eram criticados por psicólogos devido a uma aparente 
ausência de fundamentação teórica quanto aos conhecimentos da psicologia. 
 
“Nos quinze anos que se sucederam, (Rhyne) lecionou em várias 
universidades dos Estados Unidos e do Canadá. Seu espírito sagaz e 
inquieto a fazia sempre buscar novas fronteiras. Em 1993, na XXIV 
Conferência Anual da AATA, com 80 anos, apresentou o que antevia como 
novas perspectivas para a Arteterapia, trazendo contribuições dos campos dafilosofia, da psicologia, da história da arte, da biologia, da antropologia e até 
da paleontologia e da cibernética (Lusebrink, 1995)” (CIORNAI, p. 34​, vl. 62​) 
 
2.2.4. Selma Ciornai: Arteterapia no Brasil 
 
Após usar seu nome como citação de outras arteterapeutas indispensáveis 
para a história desta profissão, citarei a história Selma Ciornai pela sua importância 
em conduzir os conhecimentos de Arteterapia para que chegassem ao Brasil, 
 
 
incluindo a idealização, elaboração e concretização da atual Pós-Graduação em 
Arteterapia do Instituto Sedes Sapientiae. 
Selma Ciornai formou-se em Artes Criativas e Sociologia/Antropologia na 
Universidade de Haifa, Israel em 1975, mesmo ano em que deteve do primeiro 
contato com a Arteterapia nesta mesma Universidade ao frequentar um curso do 
programa de pós-graduação em Educação Especial concedido pelo Prof. Peretz 
Hess, que a ensinou os tópicos fundamentais de uma abordagem fenomenológica 
em Arteterapia - sendo que estes tópicos “até hoje norteiam e caracterizam a 
abordagem dos cursos que damos no Sedes” (CIORNAI, p. 10​, vl. 62​). 
Retornou ao Brasil em 1976 e iniciou um trabalho no Rio de Janeiro como 
professora de artes, assim como ministrava aulas de Psicologia da Criatividade na 
Universidade Gama Filho e coordenava trabalhos de Arteterapia no Cape-Leblon 
(centro de atendimento vinculado à Unesco destinado às crianças pré-escolares 
carentes). 
Sua estadia por aqui, porém, foi breve. Logo em 1978 Selma viajou para os 
Estados Unidos para realizar seu mestrado em Arteterapia pela Universidade do 
Estado da Califórnia, formando-se em 1980. Ciornai considerou que os 
conhecimentos adquiridos neste período trouxeram um novo aspecto do trabalho 
arteterapêutico, diferente daquele aprendido com o Prof. Hesse por possuírem uma 
“abordagem psicanalítica com ênfase no aspecto diagnóstico da Arteterapia” 
(CIORNAI, p.10​, vl. 62​). Ainda sim, no mesmo ano de 1978, Ciornai conheceu Janie 
Rhyne no IX Congresso da AATA em Los Angeles. Após alguns contatos, como diz, 
Selma foi para Louisville para estudar com Rhyne cursando seu programa intensivo 
de pós-mestrado durante o verão. 
 
“Em sua forma de pensar e trabalhar em Arteterapia, encontrei um 
prolongamento da abordagem fenomenológica que eu havia aprendido com o 
prof. Hesse, integrada à perspectiva e à metodologia da Gestalt-terapia.” 
(CIORNAI, p.11​, vl. 62​) 
 
Neste curso havia também o aprendizado quanto ao ETC - Expressive 
Therapies Continuum (​Continuum das Terapias Expressivas) - sendo este definido 
como “um modelo de pensamento para a utilização e indicação terapêutica de 
técnicas e materiais em Arteterapia” (CIORNAI, p. 11​, vl. 62​) que é, inclusive, uma 
das principais bases teóricas do atual curso de Pós-Graduação. 
Aproveitando sua estadia no exterior, Selma iniciou seu doutorado em 
Psicologia Clínica no Saybrook Institute, ao mesmo tempo em que também iniciava 
uma formação em Gestalt-terapia no San Francisco Gestalt Institute. Sobre estes 
anos fora do Brasil, ela comenta: 
 
“Nos cinco anos que morei nos Estados Unidos participei também de 
vários congressos e ​workshops intensivos com profissionais de Arteterapia 
(...) o que me mostrou uma oportunidade de conhecer estilos e abordagens 
diversos em Arteterapia (junguiana, transpessoal etc.) que enriqueceram meu 
 
 
conhecimento da área -, e trabalhei por dois anos em atendimento individual, 
familiar, grupal e comunitário em uma clínica dirigida à população latina de 
baixa renda, no qual pude ampliar minha prática como Gestalt-terapeuta e 
arteterapeuta ” (CIORNAI, p.11​, vl. 62​) 
 
1983 foi o ano em que Ciornai volta ao Brasil e recebe o ATR (Arteterapeuta 
Registrada), ou seja, regressou possuindo o título de credenciamento da Associação 
Americana de Arteterapia que a permitiu, através do reconhecimento profissional, 
sua capacitação para o ensino de Arteterapia e para a supervisão também na àrea. 
Com este novo olhar profissional Ciornai ministrava cursos para professores da 
educação especial na Universidade Federal do Rio de Janeiro e o curso de 
expansão “Introdução à Arteterapia” na PUC-SP, fazendo esta ponte aérea com 
frequência durante um ano até 1984 quando, através do convite por Therese 
Tellegen, 
“passei a integrar a equipe docente do curso de especialização em 
Gestalt-terapia do Instituto Sedes Sapientiae, onde trabalhei por mais de dez 
anos - o que me fez decidir ficar em São Paulo. (...) Foi só em 1989 que 
propus à diretoria do Sedes um curso de expansão em arteterapia, 
convidando João Augusto Frayse-Pereira (professor de Psicologia da Arte da 
USP) para dar aulas comigo. 
Então, por solicitação de um grupo de alunas, organizei no semestre 
seguinte um módulo avançado que, em 1990, se transformou no atual curso 
de especialização em Arteterapia ” (CIORNAI, p. 12​, vl. 62​). 
 
O caminho que se segue até o curso ser como é atualmente sucedeu-se pelo 
esforço e união de alunas que vinham ao Sedes em busca de novas informações e 
formações profissionais. A segunda turma da pós-graduação já contava com 
ex-alunas, formadas na primeira turma, para ministrar aulas sobre os conhecimentos 
que haviam pré e pós a formação em Arteterapia. 
 
“Professoras com conhecimento e/ou estudos em andamento em 
outras abordagens, além da Gestalt-terapia (psicanálise, abordagem 
junguiana, dinamica energética do psiquismo, transpessoal etc.), foram 
paulatinamente integrando seus conhecimentos às matérias que passaram a 
ensinar, sem perder, porém, o eixo comum: a base 
fenomenológico-existencial. 
Assim, a equipe de professores foi crescendo, fortalecendo-se e, com 
entusiasmo, contribuindo de maneira decisiva para que o curso tivesse sua 
forma atual, com ramificações e ampliações, mas mantendo seu eixo” 
(CIORNAI, p. 12, vl. 62) 
 
São diversos os profissionais que buscam a Arteterapia como formação - seja 
como complementação, seja como busca de uma nova profissão -, assim como 
também é diverso os locais de atuação do arteterapeuta e com o objetivo de acolher 
tais diferenciados aspectos da profissão, este curso de especialização do Instituto 
Sedes possui a preocupação de uma 
 
 
 
“formação consistente em três áreas: a de ​arte - que inclui tanto 
prática de ateliê como fundamentos da arte-educação, teorias da criatividade 
e história da arte; a ​terapêutica ​​- que inclui a fundamentação filosófica e 
psicológica que dá base ao trabalho do arteterapeuta, como o aprendizado 
da nossa postura, da conduta e do pensar terapêutico; e da ​arteterapia 
propriamente dita, que diz respeito a sua história, a seu corpo teórico e 
metodológico e à prática supervisionada.” (CIORNAI, p. 13, vl. 62, grifos do 
autor) 
 
2.3. Intersecções com linguagens expressivas 
 
A Arteterapia têm inserido em seu meio às linguagens expressivas: o uso do 
corpo, da mente e das artes como meio de expressão. Estes três aspectos são 
estudados, também, por cada área citada: a arte, a psicologia, a própria arteterapia 
como forma de unir e elevar cada maneira de lidar com cada parte do nosso ser. 
 
Eloisa Quadros Fagali em seu artigo “Integrando Trabalhos Plásticose 
Linguagens Expressivas” comenta sobre seu trabalho realizado com diversas 2
formas de manifestação artísticas e defende seus motivos 
 
“(...) Tenho desenvolvido projetos educacionais e terapêuticos que 
enfatizam a utilização das diferentes formas de expressão: musical, visual 
plástica, corporal, literária e psicodramática. À medida que transitamos de 
uma linguagem a outra, descobrimos novos sentidos e novos ângulos da 
realidade. (...) 
Em minhas práticas educacionais e terapêuticas com crianças, 
adolescentes, adultos e instituições, percebo quanto esse transitar pelas 
diferentes expressões artísticas e formas de contato flexibiliza o indivíduo, um 
grupo ou uma instituição, e leva-os a descobrir novos caminhos, novas 
identidades e valores, ampliando sua consciência diante dos conflitos e das 
estagnações.” (CIORNAI, p. 226, vl. 63) 
 
Considero os instrumentos destas linguagens expressivas como sendo a 
música, as artes plásticas, teatrais e a expressão corporal. Concordo com Fagali 
quando comenta sobre o poder de cura de tais manifestações artísticas: cura pela 
capacidade do indivíduo em entrar em contato consigo e revelar suas sensações, 
percepções e sentimentos, construindo um potencial de se libertar dos 
aprisionamentos aos quais nós nos limitamos, da rigidez à qual somos 
condicionados, da superação de tais enrijecimentos buscando as possibilidades de 
seu ser, o encontro pleno consigo, o autoconhecimento. 
 
2publicado no livro “Percursos em Arteterapia” (vol. 63, 2004, p. 219, organização por Selma Ciornai), 
 
 
 
 
A expressão através da arte traz esta possibilidade de entrar em contato 
consigo, pois torna-se um momento de aprofundamento em nosso interior 
favorecendo maior consciência da nossa individualidade e da nossa ligação com o 
mundo exterior. Iraci Saviani discorre sobre esta perspectiva no livro Percursos em 
Arteterapia (vl. 63, 2004), defendendo o trabalho com a arte 
 
“(...) de forma abrangente, abrindo caminhos para o experimento que 
leva a múltiplas possibilidades e à diversidade de materiais, transformando 
elementos internos e externos em atitudes que facilitam o contato com a 
natureza criativa e divina de cada ser” (CiORNAI, p.51, vl.63) 
 
Estar em contato com a criatividade é estar aberto para entrar em contato, 
também, com nossos sentimentos mais profundos, pois os símbolos se materializam 
na arte sendo guiados por nossas sensações, emoções e memórias. Uma vez que 
há o contato, há um novo olhar, uma nova percepção para tais sensações, emoções 
e memórias internalizadas. O pensar criativamente é um processo de desconstrução 
e construção, de dar forma e tornar-se abstrato, de contactar a intuição e a 
subjetividade para encontrar o “eu” legítimo. 
 
Assim vamos caminhando para o entendimento do papel terapêutico da arte: 
utilizando as sensações para criar, para se expressar através de uma multiplicidade 
de recursos artísticos com o propósito de ressignificar o uso de materiais conhecidos 
ou de explorar novos havendo a possibilidade de escolha para fazer o que se quer e 
ser quem se é. 
 
Ana Beatriz Toledo de Almeida, Regina Fiorezzi Chiesa e Walter Müller nos 
questiona: 
“Se em nosso estados mais primitivo e indiferenciado de 
sujeito/objeto somos permeados de sons, imagens e luminosidade, cores e 
formas, cheiros e movimentos e nos impregnamos deles antes mesmo que 
das palavras, não seriam esses mesmos códigos altamente respeitáveis, tão 
profundos e muitíssimo mais primitivos? Não podem eles alcançar esse 
inominado que a palavra trai?” (CIORNAI, p. 84, vl, 63) 
 
Estes três atores observaram que na terapia verbal há “defesas e 
resistências” fazendo tal terapia chegar a um limite racional de nossas questões, não 
havendo, portanto, tamanha profundidade ao eu primitivo e sensitivo para que se 
consiga uma transformação e ressignificação das questões apresentadas, conforme 
Fayga Ostrower confirma: 
 
“Ao criar, o artista não precisa teorizar a respeito de suas vivências, 
traduzir os pensamentos e às emoções em palavras. Ele tem mesmo que 
viver a experiência e incorporá-la em seu ser sensível, conhecê-la por dentro. 
Daí, espontaneamente lhe virá a capacidade de chegar a uma síntese dos 
sentimentos - naquilo que a experiência contém de mais pessoal e universal - 
 
 
de transpor esta síntese de linguagem adequando às formas ao conteúdo” 
(CIORNAI, p. 85, vl, 63) 
 
Com o intuito de viver a essência de ser quem se é, foquei meu trabalho 
nesta libertação dos conceitos concebidos externamente, de forma social e cultural, 
que foram internalizados sem uma pré reflexão sobre se tal conceito se sincroniza 
com os reais ideais do indivíduo. Assim, proponho o estudo do corpo e da arte como 
uma prática de expressão capaz de desconstruir e reconstruir o indivíduo de acordo 
com seu eu verdadeiro, autêntico. 
 
3. O MOVIMENTO DO CORPO-CARNE-MUNDO 
 
3.1. Corpo 
 
“O corpo é o inconsciente visível. É o nosso texto mais concreto, 
nossa mensagem mais primordial, a escritura de argila que somos. É 
também o templo onde outros corpos mais sutis se abrigam” Reich 
 
O corpo é composto por um sistema biológico, um conjunto de complexos 
mecanismos fisiológicos e de hormônios que consistem numa forma física que se 
movimenta pelo espaço. A apreensão do conceito de corpo se focaliza nos termos 
biológicos incluso a anatomia, a antropometria e a fisiologia, ou seja, dividimos o 
indivíduo em partes: músculos, órgãos, ossos, células e químicas que se unem 
neste organismo material. Porém no estudo sobre o corpo, no convívio com o meu, e 
no observar os outros corpos, compreendo que não podemos ignorar que somos, 
também, seres que se movimentam e se expressam - inclusive nas sutilezas dos 
gestos, das dores e incômodos, das sensibilidades do contato. 
A visão fragmentada do ser humano induz a uma medicina atual voltada à 
cura de sintomas e desconsidera o indivíduo como um todo. Esta visão, porém, não 
se sintoniza com a minha. Neste trabalho considero o corpo como um todo no 
sentido de que o corpo é composto por um universo de sensações, de emoções, de 
memórias, consciência e de inconsciência que forma uma totalidade. O corpo 
registra nossas experiências psicológicas, emocionais, sociais e físicas; manifesta 
sensações, emoções por intermédio de movimento, da linguagem verbal e 
não-verbal e nos constitui como ser humano. Tendo isto em vista, o corpo possui 
limites, possibilidades e contornos próprios. 
Em resumo, digo que o corpo é o lar de memórias que vivemos, é o aspecto 
físico de nossa personalidade assim como o movimento dessa personalidade 
caminha em direção à constante evolução da consciência. 
 
3.2. Carne 
A razão, por vezes, me parece ser a faculdade que nossa alma tem 
de nada entender de nosso corpo. Valéry 
 
 
 
O corpo é uma representação material do complexo ser físico, psíquico e 
social que somos, ou seja, por ser carne; é por estas características influenciado e 
modificado. Um machucado físico pode deixar cicatrizes; uma alergia pode surgir a 
partir de somatização, ou seja, ter uma origem emocional na qual não é encontradauma explicação patológica; e o convívio social pode modificar como nos 
relacionamos conosco e com os outros. 
Citando Moshe Feldenkrais, criador do Método Feldenkrais e ​um dos 
inovadores no campo do mecanismo do corpo, da terapia física e da cura, considerei 
observar o ser humano em sua totalidade ao concebê-lo como composto por três 
estruturas: “​o sistema nervoso, que é o núcleo; o corpo - esqueleto, vísceras e 
músculos -, que é o envelope; e o meio ambiente, que é o espaço, a gravidade e a 
sociedade” (Feldenkrais, 2010, p. 32). 
Compreendendo estes itens, Mary Whitehouse, bailarina profissional, 
professora e terapeuta junguiana, desenvolveu o Movimento Autêntico a partir de 
análises pessoais e estudos que envolviam a teoria de Carl Gustav Jung com a 
dança, afirmando em ​ seu artigo “Reflexões sobre uma Metamorfose” (1968)​ que 
 
“Foi importante o dia que me dei conta que não ensinava dança, 
ensinava a pessoas… Indicava a possibilidade de que meu interesse 
principal podia ter haver com o processo e não com os resultados, que não 
era somente pela arte que eu estava buscando e sim por um 
desenvolvimento humano.” 
 
Conforme a citação apresentada e sua constatação em desenvolvermos uma 
consciência cinestésica - uma consciência corporal que desperte nossa consciência 
ao observarmos como e de que maneira nos movemos (lento ou rápido, pesado ou 
leve, entre outros) e nos leve a uma percepção que será transferida ao 
reconhecimento da nossa personalidade e ao uso diário e habitual do nosso corpo. 
Assim, adquirimos uma consciência de que, aquilo que chamamos de corpo é, 
também, meu eu. 
Aqui iremos usar o conceito de corpo-mente de Chaiklin, membro fundadora 
da American Dance Therapy Association (ADTA), que assim o define: 
 
O conceito corpo-mente realiza uma volta completa. Todos os 
elementos e componentes do humano são um conjunto de sistemas 
relacionados. A mente é parte necessária do corpo e o corpo afeta a mente. 
(...) Quando falamos do corpo, nós não estamos apenas descrevendo os 
aspectos funcionais do movimento, mas como nossa psique e emoções são 
afetadas pelo nosso pensamento e como o movimento em si efetua mudança 
neles (p. 5). (FARAH, 2016, p. 544) 
 
Em sua tese de doutorado, Hélia Maria Borges (2009), ensina que que “cada 
corpo constrói sua forma de existir e que a força de sua permanência no mundo 
depende de seus encontros e da possibilidade de manifestar as misturas singulares 
 
 
oriundas desses encontros” (p. 17). Esta afirmação se harmoniza com o presente 
trabalho ao propor refletir sobre o movimento como manifestação do 
“corpo-carne-mundo” e as consequências resultantes de sua inserção numa cultura 
que interfere nos ritmos regulares dos corpos, silenciando as “turbulências intensivas 
necessárias à manutenção da vida, gerando sujeitos apáticos, envergonhados, 
deprimidos que, indiferentes, se tornam impotentes em fabricar-se nos encontros 
com o mundo, erotizando-os” (p. 20). 
 
3.3. Mundo 
“Os sentidos, as experiências que se dão por meio das sensações, 
dos órgãos perceptivos, impregnam o sentido de cada coisa no mundo. 
Esses sentidos estão sempre mergulhados na forma como os objetos e suas 
implicações são apropriados por cada cultura e relativos a cada momento 
histórico (...) assim, como diz Dastur (2001): “o corpo de carne se abre à 
carne universal do mundo”. (BORGES, 2009, p. 35) 
 
Para adentrar a concepção do corpo no mundo precisamos compreender que 
nosso corpo é impregnado do conjunto de forças do coletivo. Mas o corpo não é 
apenas receptáculo. O corpo, por sua vez, acaba exteriorizando as forças do 
coletivo. Refletindo sobre este corpo ativo, produtivo e manifestante, precisamos nos 
aproximar do momento histórico e político no qual está inserido. 
Peter Pelbart defende que, na sociedade vigente, nossos corpos, inteligência, 
imaginação estão sendo constantementes interferidos pelos saberes e poderes da 
ciência, do Estado, do capital e da mídia. Nesse sentido, Hélia Maria Borges observa 
que nossas vidas privadas e nosso inconsciente 
 
“vão sendo invadidos, produzindo como efeito um esvaziamento da 
capacidade humana de crítica, inventiva, intuitiva (...) (por uma) política 
exercida como um fluxo contínuo que expropria a vida em sua qualidade de 
existente, esvaziando, a todo mundo, as referências subjetivas conquistadas” 
(BORGES, p. 36). 
 
A conscientização ​de nossa autonomia e identidade contraria o fluxo 
dominante e há de ser feita a partir da apropriação do nosso ser interior - estarmos 
em controle de quem somos nos diversos aspectos: biologicamente, 
ideologicamente, emocionalmente, sensorialmente. 
Assim entendemos que os mecanismos do biopoder, via práticas individuais 
disciplinares e via práticas do corpo coletivo de controle populacional de saúde e 
doenças através de estatísticas e estudos epidemiológicos, de intervenções 
biomédicas na população pela medicalização, atua por dois caminhos: a negação da 
diferença das formas particulares de ser e existir suscita reações, em nosso ver, 
prejudiciais à coletividade. 
 
Mais precisamente, eu diria isto: a disciplina tenta reger a 
multiplicidade dos homens na medida em que essa multiplicidade pode e 
 
 
deve redundar em corpos individuais que devem ser vigiados, treinados, 
utilizados, eventualmente punidos. E, depois, a nova tecnologia que se 
instala se dirige à multiplicidade dos homens, não na medida em que eles se 
resumem em corpos, mas na medida em que ela forma, ao contrário, uma 
massa global, afetada por processos de conjunto que são próprios da vida, 
que são processos como o nascimento, a morte, a produção, a doença etc. 
(FOUCAULT, 1999, p. 291). 
 
A ignorância e a negação do ser como indivíduo acarreta em prejuízos à 
comunidade ao nos depararmos com uma dificuldade em aceitar o outro em suas 
particularidades, sendo causa de atos de racismo, homofobia, machismo, 
feminicídio, xenofobia, entre outros crimes de ódio que, de acordo com um estudo 3
da Universidade Estadual da Califórnia, em San Bernardino, houve um aumento de 
cerca de 5% de tais crimes entre 2015 e 2016 somente nos Estados Unidos (ver 
quadro 01, anexo). No Brasil a ONG SaferNet disponibiliza dados decorrentes de 
crimes de ódio via internet através de denúncias diretas, parcerias com iniciativas 
privadas, autoridades policiais e judiciais e suporte governamental. A partir destes 
dados vemos o aumento de denúncias por ano, de 2007 até 2017, havendo uma 
estagnação entre 2016 e 2017 (quadro 02). Quanto ao crimes cometidos fora das 
redes sociais temos os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) 
que esclarecem uma baixa no número de homicídios entre 2013 e 2015, conforme 
mostra quadro 03. Porém, entre 2015 e 2016 observamos um aumento no número 
de mortes violentas intencionais (quadro 04), bem como, no número de homicídios 
de mulheres (quadro 05) e de pessoas de cor preto-parda (quadro 06). Os dados 
quanto ao homicídio de pessoas de cor não preto-parda (quadro 07) confirma a 
existência de crimes de conotação racista ao mostrar que,neste ítem, não houve 
aumento, mas uma leve baixa dos homicídios. 
Retomando as relações do biopoder, agora no aspecto individual, 
consideramos o aumento de apatias, estados depressivos, de pânico, crises de 
ansiedades, anorexias, bulimias, entre outras psicopatologias ao se impossibilitar e 
ameaçar a manifestação singular do ser humano. A Organização Mundial de Saúde 
publicou em 2017 dados referentes aos brasileiros quanto suas questões 
psicológicas e constatou que 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de 
ansiedade e a depressão afeta 5,8% da população. No cenário mundial, conta-se 
322 milhões de pessoas com depressão, sendo 4,4% da população e 18% a mais do 
que há dez anos. Quanto à ansiedade são 264 milhões de pessoas que apresentam 
este transtorno, uma média de 3,6%, o que representa uma alta de 15% em 
comparação à 2015. A depressão, segundo a OMS, é a principal causa de mortes 
decorrentes de suicídio, sendo estes cerca de 800 mil casos por ano. 
Considerando que há causas para tal aumento da violência e sendo uma 
delas a limitação da visão do ser humano como ser individual, constatamos a 
3 ​São entendidos como crimes de ódio todos os crimes contra as pessoas motivados pelo pelo facto 
de a vítima pertencer a determinada raça, etnia, cor, origem nacional ou territorial, sexo, orientação 
sexual, identidade de género, religião, ideologia, condição social, física ou mental. 
 
 
necessidade da busca por tal individualidade para que, como resultado, se tenha o 
autoconhecimento e respeito consigo e com o próximo. 
 A tentativa de evadir-se de quem somos, por esta ignorância e negação de 
nossa personalidade, está em contato com a culpa da impossibilidade de sermos 
outro além deste que aprendemos a ser. Ao inibir nossas manifestações singulares 
para adentrarmos ao modelo que esperam que sejamos fortalecemos as forças de 
controle biopolíticas do Estado e nos enfraquecemos ao incitar uma busca e 
devoção à um princípio científico e estético, tomado por modelos de saúde e beleza 
pós-moderna inconcebíveis de tornar real, impedindo o reconhecimento de si e 
tornando irrisório a potência dos fenômenos individuais do corpo e da consciência. 
Para que seja possível o retorno da individualidade do ser vemos a 
necessidade da auto empatia, de solidarizar-se consigo mesmo, visando que não há 
como escapar e ignorar quem se é, no entanto, há como empenhar-se e apropriar-se 
de si. 
“Se na nudez, sentimos vergonha é porque não podemos esconder o 
que gostaríamos de subtrair ao olhar, porque o impulso irrefreável de fugir de 
si mesmo encontra seu paralelo na impossibilidade, igualmente certa, de 
evadir-se.” (AGAMBEN, 2008, p. 107). 
 
É esta individuação que pretendemos retomar através da ação de voltar à si e 
da reflexão sobre quem se é, fortalecendo o autoconhecimento, criando barreiras 
para que este esvaziamento da nossa individualidade não se avance e, por fim, 
possamos desconstruir e reconsiderar o que já foi internalizado, além de externalizar 
as múltiplas expressões que somos capaz de revelar. 
 
3.4. Pensamento 
 
Ao iniciar esta busca por métodos de resistência aos controles exercidos 
pelas estratégias do biopoder sobre os corpos, procuro compreender o corpo como 
movimento de início para apropriação de si e encontrar novos desvios para alcançar 
seu objetivo. 
Eugenio Barba (1995), a​utor, pesquisador e diretor de teatro Italiano, discorre 
sobre a ideia de ​corpo dilatado ​apoiando-se na apuração das múltiplas 
possibilidades do existir através das experimentações sensoriais que são 
convocadas para desestabilizar o conhecido provocando intensidade no corpo, 
dilatando-o. Esse procedimento é o aquecimento para se chegar, no que Barba 
chama, ao ​corpo-pensamento sendo resultado do deslocamento, do estranhamento 
e da ruptura de sentidos. 
O corpo dilatado só é possível ao se conseguir um pensamento dilatado, pois 
como já esclarecemos o corpo também é pensamento e o pensamento é movimento 
que se expressa no movimento do corpo. Sendo assim “As ações físicas não estão 
separadas das ações mentais e a forma de se movimentar no espaço irá revelar as 
forças que atravessam este corpo-pensamento.” (BORGES, 2009). 
 
 
A dilatação corpo e pensamento ocorre a partir de um trabalho laborioso de 
desconstrução das organizações subjetivas e materiais do corpo, trazendo à tona a 
assimetria e aleatoriedade da vida autêntica, orgânica. Para destruir os 
automatismos do corpo e abri-lo para novos sentidos é necessário estar presente no 
ato da criação, trabalhar sobre as repetições involuntárias decorrentes das 
obsessões e fixações culturais e buscar novas percepções através das oposições e 
da diferenciação. 
No intuito de refletir acerca destas percepções utilizamos como referência 
Antoine Marie Joseph Artaud (1995), artista teatral cujo pensamento propõe uma 
regeneração dos corpos esvaziados de sua própria potência e incitando uma 
intensidade feroz capaz de aguçar a sensibilidade dos corpos. Ele apresenta a 
quebra da intenção lógica e discursiva da linguagem verbal por haver a 
racionalidade antes da fala, e a substitui com gestos, ruídos e mímicas para 
sustentar e nutrir este novo corpo, novo pensar. 
Esta sensibilidade será capaz de afetar inicialmente o corpo pela base 
orgânica das emoções e pela materialidade das ideias ao reduzir ao máximo a 
intenção lógica e discursiva do corpo, pois é ela quem assegura sua transparência 
racional ao encobrir o corpo pela remissão do sentido. O sentido oculta o que 
constitui o âmago do corpo, o grito que a lógica do sentido ainda não calou 
totalmente. Aquilo que, em todo corpo, ainda resta de gesto oprimido . 4
O corpo neste trabalho é capaz de agir de duas maneiras: abraçar as 
experiências e a transformação ou encontrar resistência pela racionalidade do 
pensamento-corpo, daquele pensamento que está enraizado e que em seu 
movimento característico se envolve com o comunitário a partir da própria existência. 
Há a resistência, portanto, em se abrir às forças criativas que concede potência à a 
vida, assim como no viver coletivo ao ir em contramão às forças do biopoder. 
 
“um corpo que resiste a ser despossuído em sua carne, invadido em 
sua vitalidade pelos processos de purificação é, assim, é capaz de se 
contrapor às formações de poder contemporâneas.” (BORGES, 2009, p. 53) 
 
A criatividade se contrapõe às forças do poder atual por este, cotidianamente, 
utilizar da economia das forças na relação entre energia usada e resultado obtido, 
sendo o extracotidiano, o abrir-se para processos criativos e de autoconhecimento, 
estar em presença ((BARBA, 1995) e torna-se uma obra de arte (Foucault 
1984/2004) é uma ação vista como excesso, como desperdício de energia. 
O coletivo é o território que se constrói o corpo-pensamento, onde pode-se 
experimentar a excitabilidade, a sensibilidade corpórea de seu ser, se dirigindo 
novamente em contraposição a produção estética moderna que se desapropria dos 
corpos e suas singularidades resultando numa anestesia da experiência sensível do 
4 Artaud esteve fortemente ligado ao teatro (​foi um poeta, ator, escritor, dramaturgo, roteirista ediretor),e por isso sua escrita está direcionada ao corpo e à linguagem. No entanto assumo a 
liberdade em utilizar sua fala substituindo o termo “palavra” por “corpo”. 
 
 
corpo que podemos observar no “espaço, no tempo, nos modos de ver e ser visto, 
na circulação e reprodução dos corpos e das populações.” (BORGES, 2009). A 
resistência é uma característica do modo de se permitir concentrar a sensibilidade e 
“poder então resgatar uma capacidade crítica em relação ao modo como vivemos, 
como sentimos, como nos aproximamos do outro.” (BORGES, 2009). 
A desconstrução do que já está internalizado advém pelas zonas de 
indiscernibilidade, pela capacidade de elaboração de se ver como indivíduo, e 
favorece o nascimento de novos olhares distintos pela possibilidade que surgiu na 
aptidão e perseverança em sustentar o próprio paradoxo da existência. 
A partir de então iremos pensar o corpo em seus movimentos e na liberação 
das articulações nas quais experiências paradoxais de consistência e ​inconsistência 
expõem o impossível, o irreal e utópico como parte da realidade e como ato de 
criação. Há então a manifestação da metamorfose e do infinito considerando que o 
olhar e o pensamento não possuem uma origem ou uma finalidade em si, somente 
movimentação contínua que decorre para que os “órgãos deixam de funcionar como 
organismos e nas suas misturas e trocas de valência transmutam-se.” (BORGES, 
162). 
A pergunta que fazemos agora é: como encontrar movimento quando se está 
estagnado? Consideramos que o corpo está sempre em movimento mesmo quando 
automático e também, ser possível sair da imobilização e ir para um movimento de 
transformação no qual o corpo será explorado em seus detalhes, articulação por 
articulação, pensamento por pensamento, iniciando-se com uma imagem fixa e sua 
densidade, que se desloca desde o interior, passando a explorar o tridimensional 
com um movimento imperceptível e que alcança a profundidade da imagem-corpo. 
Há, então, o início do trabalho com o movimento a partir da pesquisa do corpo em 
seus deslocamentos e ritmos. 
 Neste contexto, julgamos essencial a busca por áreas distintas do 
conhecimento como “filosofia, fisiologia, anatomia, arte, entre outros, tornam-se 
ferramentas para dar consistência e sustentar a retransmissão não apenas das 
vivências corporais, mas visando à inscrição de um corpo-pensamento” (BORGES, 
2009). 
Paul Valéry, em seu livro Degas Dança Desenho, expõe que o contato com a 
intimidade do corpo 
“captura, por vezes, pela sutileza de seus meios ou pela audácia da 
execução, algumas presas muito preciosas: estados muito complexos ou 
muito efêmeros, valores irracionais, sensações em estados nascente, 
ressonâncias, correspondências, pressentimentos de uma profundidade 
instável. (VALÉRY, 2003, p. 147). 
 
O exercício com o pensamento-corpo é um ato de desconstruir e construir 
enquanto se atua. O agir é tido como beneficiado pela potência dinâmica do 
espaço-tempo em detrimento da lógica: ou seja, o corpo não possui mais uma 
origem em si, mas é um ​continuum ​fazer-se, processo e impermanência. É isto que 
 
 
queremos enfatizar aqui: o corpo é cheio de possibilidades e ansiamos pela 
recuperação destas que se tornaram atrofiadas após repetições mecanizadas. 
 
3.5. Espontaneidade e liberdade na ​​Dança 
 
“Na constatação de que um corpo são muitos corpos, a dança 
realizada a partir da conscientização do movimento não se ajusta a padrões 
preestabelecidos; busca em cada corpo seu próprio modo de dançar; 
conjuga-se com uma operação que significa sair da via expressiva ou 
mimética característica de uma certa leitura da dança para um fazer estético 
pautado na sensação, no estiramento da sensação. O caminho utilizado é o 
movimento, estar atento aos micromovimentos dos corpos nas dobras nas 
contraturas, nas tensões nos intervalos, alongando através do espaço e do 
tempo, através do ritmo vivido nos deslocamentos do corpo, na expansão e 
no recolhimento.” Hélia Borges 
 
O movimento é aqui definido como produtor de novos mundos possíveis. O 
conjunto de movimentos provoca o transparecer da dimensão do ser humano que 
ultrapassa o adequado, o racional: cria-se a dança. 
O estar entregue ao movimento, ao fluxo natural e ao ritmo do corpo é dito por 
Helen Maria como o “vazio da expressão”: Neste sentido, o processo que antecede 
aos símbolos, que exterioriza o conteúdo e o torna presente para ser criado. Na arte 
pictórica temos a fala de Borges refletindo sobre o pensamento de Bacon para 
ilustrar tal processo ao considerar que “não é a representação figurativa que produz 
a sensação, mas o traço (que) coloca em evidência a ideia do traço como portador 
de uma zona de ​indiscernibilidade​”​ ​(BORGES, p. 24. grifos do autor). 
A zona de ​indiscernibilidade consiste na ideia de estarmos inseridos no 
mundo e dele fazermos parte ativamente e presencialmente através de experiências 
sensoriais que ignoram a lógica proporcionando um amplo espaço para o sentir, que 
liberta as emoções para que estas fluam e assim possamos apreender os estados 
de imersão e intensidade dos seres naturais do mundo através da arte. 
A arte pictórica, segundo Bacon, permite através do traço do pincel o acesso 
à zona de intensidades presentes no movimento e no ritmo a serem impressos na 
tela. Assim também Borges pensa na dança, mais especificamente a dança 
contemporânea por ser uma manifestação projetada no espaço através do gesto 
dançado em uma busca de novos arranjos espontâneos, uma vez que o sentido 
antecipado, a coreografia lógica, perdeu seu lugar. 
“É precisamente este o contexto que nos aproxima desta noção de 
inconsciente, corpo coletivo, tomada na sua materialidade.” (BORGES, p.25). 
 
“Compor com o corpo um novo campo de imagens para novos 
sentidos, deixando que o caos inscreva sua presença no movimento. 
Desamparar o corpo de seus conhecidos; livrá-lo de seus organismos” 
(ARTAUD, 1983; DELEUZE, 1997). 
 
 
 
“Eis o que nos aproxima desta noção de inconsciente, corpo coletivo, 
tomada na sua materialidade invisível.” (BORGES, p. 25) 
 
3.6. A coragem de dançar 
 
“​Criem uma dança. Mas, se não der, pelo menos percam a 
compostura elegantemente - e com mais frequência”. ​Wayne McGregor 
 
Karina de Almeida defende em sua tese de Pós-Graduação em Artes que a 
cultura corporal é a compreensão dos movimentos que marcam nossos corpos em 
seus aspectos biológicos, genéticos ou cotidianos (posturas, hábitos, etc.), enquanto 
a cultura da dança vem a ser sua presença no cotidiano como manifestação social 
ou inserida num ritual na qual os corpos se movimentam de formas particulares de 
seu determinado grupo, tribo ou região. A união dos elementos técnicos e poéticos 
do dançar se mantém criativo quando pensamos no corpo como um processo 
constante de criação, desconstrução, intensificação e libertação desse próprio corpo, 
transcendendo a dualidade objetivo/subjetivo. 
 
“Esvaziar-se, desfazer-se dos modelos estabelecidos, desafiar-se a 
entrar nas frestas quase inacessíveis dos clichês, deixar que o corpo esteja 
verdadeiramente num espaço de experimentação, tudo

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