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Tópicos Avançados em Economia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Andreia Marques Duarte Revisão Textual: Prof. Esp. Claudio Pereira do Nascimento Economia Doméstica • Introdução; • O Orçamento Doméstico; • Consumo e Poupança; • Como Fazer um Orçamento Doméstico? • Pequenas Atitudes para Diminuir suas Despesas. • Apresentar o conceito de Economia Doméstica demonstrando qual sua importância na atualidade; • Apresentar também o papel do orçamento doméstico equilibrado entre consumo e poupança para o bem-estar da família e da sociedade; • Apresentar dicas para elaboração de um planejamento fi nanceiro efi ciente. OBJETIVO DE APRENDIZADO Economia Doméstica Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Economia Doméstica Introdução O termo Economia Doméstica vem do grego Oikonomia que quer dizer “aquele (a) que administra o lar” e pode ser entendido como a Ciência cujo domínio envolve o cuidado da casa e da família. Não é apenas um conjunto de conhecimentos de ordem prática no qual as donas de casa devem possuir para executarem suas tarefas. A Economia Doméstica existe desde 1909 e passou a ter papel importante na sociedade, ao auxiliar famílias e lares a desenvolver um senso de ética e responsabilidade com a despesa familiar e com o planejamento e uso equilibrado dos recursos. A Economia Doméstica lida com conhecimentos teóricos e práticos que se rela- cionam com a esfera da reprodução social dos seres humanos, principalmente no que tange à questão da socialização, aos cuidados com higiene, saúde, habitação e alimentação. É um campo de conhecimento basicamente relacionado às funções da família, que busca a eficácia das tarefas cotidianas da casa e objetiva a melhoria da qualidade de vida daqueles que a integram. A família aqui é vista como uma instituição que precisa de orientação, princi- palmente, nos dias atuais em que há uma rápida e profunda transformação das relações no âmbito familiar e social. Muitas pessoas acreditam que se a instituição familiar falir, a sociedade como um todo pode falir também, tamanha a sua impor- tância para a sociedade e para a economia, haja vista que os lares são na maioria das vezes a principal influência ética na formação das pessoas. Portanto, a administração dos recursos adquiridos com o trabalho dos responsá- veis pelo provimento do sustento da família e da casa é muito importante, seja este responsável homem ou mulher. Ou seja, a preocupação com a família, a solução racional de seus problemas, a preocupação com a educação dos indivíduos para que tenham uma vida melhor e equilíbrio em suas rotinas e práticas financeiras são os temas considerados mais relevantes para a Economia Doméstica. A Economia Doméstica é ainda considerada uma ciência porque pressupõe o conhecimento de nutrição, higiene, noções de administração e finanças do lar, uti- lizando muitos dos princípios básicos aplicados na Economia em geral, tais como a questão da divisão do trabalho e o consumo coletivo. Trata também de muitos dos serviços que são oferecidos em complemento à atividade doméstica tais como os serviços oferecidos em hotéis, restaurantes, salões de beleza, lavanderias, etc., que contribuem significativamente para simplificar o dia a dia e o trabalho em casa ou fora dela. O tema da Economia Doméstica tem-se alastrado pelo mundo inteiro, com grande destaque para países como Portugal, Espanha, França e Irlanda, tornando- -se conhecida especialmente pela propagação do aperfeiçoamento humano. Em nível universitário, a Economia Doméstica visa educar, orientar, pesquisar e enten- der os conhecimentos aplicados para uma vida saudável e agradável, melhorando 8 9 as condições de vida no âmbito da família e aumentando o potencial de realização humano em prol de uma sociedade mais evoluída. Tendo em vista que o funcionamento econômico está presente em todos os momentos da vida dos seres humanos, o estudo da Economia Doméstica ganha especial relevância nos dias atuais em que a família é considerada a provedora do cuidado, criação e formação necessários ao bem-estar das pessoas na sociedade. Facilitar o planejamento e execução das despesas de todos os membros familiares para que possam fazer planos e viver de maneira confortável e segura hoje e no futuro constitui o principal objetivo da Economia Doméstica. O Economista Doméstico é o responsável por planejar e supervisionar progra- mas sociais nas áreas da saúde, educação, alimentação, economia familiar e direi- tos do consumidor. É também papel do Economista Doméstico colaborar com o desenvolvimento das cooperativas de apoio às famílias de baixa renda, orientando quanto ao planejamento dos gastos e da poupança e ainda fomentando a adesão às fontes alternativas de renda. Na questão da administração do lar, o trabalho do Economista Doméstico en- volve a orientação no sentido de racionalizar os gastos com a limpeza de casa, com a alimentação, com o vestuário e diversas outras despesas que fazem parte do orçamento familiar. Na área da Alimentação, o profissional pode se dedicar a dar ideias que apri- morem os serviços de restaurantes, de merenda escolar e serviços de “buffet”. É ele quem orienta sobre a melhor maneira de aproveitar os alimentos reduzindo desperdícios e garantindo a qualidade do que é consumido. Cabe ao economista doméstico definir os métodos de manipulação dos produtos alimentícios, a melhor forma de armazenamento e conserva, conferindo os critérios nutritivos, de higie- ne, validade e o peso dos produtos e criar cardápios nutritivos e balanceados a um custo mínimo. Em serviços hospitalares e hotéis, o economista doméstico pode atuar na or- ganização do almoxarifado, apoiando a materialização de cozinhas experimentais, lavanderias e refeitórios coletivos. No aspecto Vestuário, o profissional nessa área pode colaborar na indústria da moda, artesanato, lavanderia e tinturaria. Seu traba- lho é importante, principalmente nas áreas da Saúde onde pode exercer atividades junto a creches, jardim da infância, escola maternal, hospitais geriátricos e centros de reabilitação e cuidados com crianças e idosos. Nas indústrias de equipamentos e eletrodomésticosem geral, o economista do- méstico pode colaborar no planejamento e na criação de produtos funcionais que atendam melhor as necessidades dos consumidores, educando, também, o con- sumidor para o uso eficiente do equipamento eletrodoméstico. Já nas indústrias, o papel do Economista Doméstico é interpretar as necessidades do consumidor e contribuir para o aperfeiçoamento dos produtos. 9 UNIDADE Economia Doméstica [...] Cabe ao Economista Doméstico informar sobre aspectos relativos à natureza técnica e científica dos princípios de alimentação, higiene e saú- de, vestuário e habitação, assim como despertar a consciência crítica des- sas famílias sobre os aspectos políticos, econômicos e sociais embutidos na forma como esses conteúdos são tratados no contexto da sociedade moderna globalizada. [...] (OLIVEIRA, 2006, 82) A atuação do Economista Doméstico é ainda maior no meio rural onde as fa- mílias são mais carentes de orientação e onde as atividades do profissional se desenvolvem no sentido de levar até eles noções de higiene, administração do lar e utilização dos recursos agrícolas disponíveis. O Economista Doméstico constitui também elemento de consulta em assuntos de Economia Doméstica em Bancos, Caixas Econômicas, prestando os devidos esclarecimentos para a aquisição da casa própria, compra de móveis e equipamentos domésticos (OLIVEIRA, 2006, p. 83). O que foi apresentado sobre Economia Doméstica serviu até aqui para demons- trar que esse campo do conhecimento pode ser empregado profissionalmente tan- to em função dos afazeres do lar quanto pode ser desenvolvido dentro da comuni- dade em sentido amplo. O Orçamento Doméstico Ao nos referirmos ao orçamento doméstico, lembramos sobre uma série de dicas, conselhos e ferramentas elaborados por consultores na realização de um planejamento financeiro a partir da organização ordenada das rendas e despesas que compõem as previsões de consumo e poupança de uma família. Trata-se de uma maneira de controle entre as rendas e despesas aplicadas pelas famílias com o objetivo de compor um modelo de comportamento dos indivídu- os que podem inclusive se organizar por meio de aplicativos, gráficos e índices para medir a situação econômica, detalhar a renda e os possíveis gastos realizados no cotidiano. Esses gastos podem ser organizados por categorias, como por exemplo: alimen- tação, moradia, transporte, saúde, educação, previdência, lazer e outros gastos inesperados e, a partir disso, indica o quanto (porcentagem de acordo com a renda) deve ser gasto em cada item e quanto deve ser poupado e/ou investido, com o intuito de assegurar um orçamento mais equilibrado e “saudável”. O primeiro economista que explorou o orçamento como ponto de partida para o estudo da família foi o economista e estatístico alemão Friedrich Engels, que na década de cinquenta do século XIX criou leis para o entendimento do orçamento familiar, sendo a mais conhecida delas a que foi intitulada como “Lei de Engels”, retratando que à medida em que a renda aumenta, diminui a proporção da renda que é gasta com alimentos. 10 11 Friederich Engels foi um teórico revolucionário alemão que junto com Karl Marx fundou o chamado socialismo científi co ou marxismo. Ele foi coautor de diversas obras com Marx, sendo que a mais conhecida é o Manifesto Comunista. Também ajudou a publicar, após a morte de Marx, os dois últimos volumes de O Capital, principal obra de seu amigo e colaborador. Ex pl or Engels demonstrou que existe uma estreita relação entre a questão do orçamen- to e do consumo. Sua lei é baseada na constatação de que existe uma relação entre os rendimentos das famílias e as respectivas estruturas de consumo, ou seja, de acordo com a Lei de Engels, quanto menor for o rendimento de uma família, maior tenderá a ser a proporção dos rendimentos gastos em alimentação e menor será a proporção dos gastos em saúde, cultura, lazer, habitação, entre outros. A explicação para esse fenômeno está no fato de que uma vez que as necessi- dades básicas com comida, por exemplo, forem satisfeitas, a necessidade por esse tipo de bem cai drasticamente, pois os aumentos dos rendimentos não originarão aumentos proporcionais no consumo dos bens de primeira necessidade, ao con- trário, uma vez satisfeita essa necessidade e com a renda que sobra, a tendência é aumentar a proporção da renda gasta com cultura, lazer, etc. Logo, através do mapeamento do orçamento familiar é possível identificar a ne- cessidade de consumo dos agentes, ordenados por suas respectivas classes sociais. Nesse caso, o orçamento doméstico é fundamental para o entendimento da mobi- lidade social e de muitos eventos que acontecem na esfera individual, uma vez que o processo de urbanização das sociedades modernas e o aumento da renda alterou o comportamento de consumo dos indivíduos. Max Weber, intelectual, jurista e economista alemão, considerado um dos funda- dores da Sociologia Moderna, traçou um paralelo entre orçamento doméstico e as classes sociais, considerando o avanço do sistema capitalista e a modernização do processo produtivo. Para ele, a partir da adoção de métodos estatísticos aplicados nas pesquisas domiciliares (conduzidos pelos institutos de pesquisa), seria possível aferir de maneira mais próxima à realidade e em âmbito público a constituição do orçamento familiar em critérios monetários com classificação por faixa de renda, idade, gênero, etc. Max Weber é considerado um dos fundadores do estudo moderno da sociologia, mas sua infl uência também pode ser sentida na economia, na fi losofi a, no direito, na ciência política e na administração. Grande parte de seu trabalho como pensador e estudioso foi reservado para o estudo do capitalismo e do chamado processo de racionalização e desencantamento do mundo. Mas seus estudos também deram contribuição importante para a economia. Ex pl or Hoje, no Brasil, o IBGE é o principal instituto produtor de dados sobre o or- çamento das famílias e as pesquisas de amostragem têm como objetivo promover políticas públicas e sociais que contribuem para a melhoria da qualidade de vida da 11 UNIDADE Economia Doméstica população. As Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, por exemplo, têm como objetivo “fornecer informações sobre a composição dos orçamentos domésticos, a partir da investigação dos hábitos de consumo, da alocação de gas- tos e da distribuição dos rendimentos, segundo as características dos domicílios e das pessoas”. O IBGE metodologicamente sistematiza as informações do orçamento das fa- mílias via a tabulação de dados sobre rendas e despesas (monetárias), de acordo com os indicadores sobre alimentos e composição alimentar, para assim interpretar (estatisticamente) a qualidade de vida da população brasileira. Os resultados são, normalmente, apresentados em tabelas e classificados por meio da composição fa- miliar, ou seja, casal com filhos, casal sem filhos, casal com filhos e outros parentes, unipessoal (para a condição de solteiros), sem cônjuge e com filhos, dentre outros grupos que estão relacionados à idade, escolaridade, ocupação, rendimento, sexo, cor ou raça e religião. O orçamento doméstico passou a ser, então, empregado como um dispositivo de aferição do padrão de vida e do poder de compra por meio dos indicadores de hábitos de consumo, renda e despesas familiares, obtidos através da atualização da cesta básica de consumo e das informações gerais sobre os domicílios geradas e disponibilizadas por institutos de pesquisa e agências governamentais. Convém destacar as diferenças observadas na acepção dos termos orçamento familiar e orçamento doméstico, pois em muitos casos os termos aparecem como sinônimos, contudo, em uma breve revisão bibliográfica e nas investigações desen- volvidas pelos institutos de pesquisa, o uso do termo orçamento familiar está mais ligado às análises macrossociais, enquanto o orçamento doméstico fica restrito ao âmbito das atividades referentesà economia doméstica e do cotidiano, como por exemplo, as despesas de casa. Não esquecendo também que compõe o orçamento doméstico as situações que marcam a vida de famílias e indivíduos como as emoções, impulsos, sentimentos, memórias e atos de recompensas que também afetam o orçamento (Leite; Brincker, 2017). Ou seja, a constituição do orçamento doméstico não é pautada apenas por ações e decisões racionais dos indivíduos, como também muito motivada pelo con- texto político-econômico, pelos aspectos culturais de moralidade, crenças e valores. Compreender como se constitui o orçamento doméstico no dia a dia dos indivíduos e famílias para além de sua dimensão técnica e econômica é realmente um grande desafio. “Com crise, fiado volta a ganhar força” – reportagem escrita por Márcia de Chiara e publicada em 19 de março de 2017 pelo jornal Estado de São Paulo retrata que: “(...) Em 2016, até meio milhão de famílias começaram a adotar o pagamento fiado para abastecer a dispensa com itens básicos, como alimentos e produtos de higiene e limpeza para driblar o aperto do orçamento doméstico”. A matéria enfatiza os aspectos relacionados à economia doméstica na discussão pública e como o tema se relaciona diretamente com o contexto macrossocial ao demonstrar que práticas econômicas que pareciam já não mais existir no Brasil ganham intensidade em momentos de crise. Ex pl or 12 13 Consumo e Poupança A Economia Doméstica está inserida no núcleo das relações estabelecidas no âmbito da família. Somente a partir da análise de como a família é gerida é que podemos analisar as conexões que envolvem o cuidado e a interdependência entre aqueles que nela vivem. A Economia Doméstica dá origem, portanto, a uma rela- ção de obrigações mútuas e muitas vezes assimétricas entre os integrantes de uma família. Essa relação, baseada em laços de parentesco e origem, se mantém na maior parte das vezes por meio da circulação cotidiana de dinheiro. Contudo, as trocas ocasionadas no contexto familiar podem ocorrer também sob a forma de trocas de objetos, utensílios, benefícios e, especialmente, por que não dizer?... comida. Assim tanto as formas monetárias quanto aquelas relacio- nadas ao cuidado e ao afeto permitem compreender melhor como as práticas de economia doméstica se relacionam e estão entrelaçadas. Essa relação baseada em laços de parentesco e afetividade se mantém na maior parte das vezes por meio da circulação cotidiana de dinheiro. O dinheiro ‘da casa’ é o que garante o pagamento das despesas permanentes como luz, internet, televisão a cabo, telefone, gás, comida, produtos de limpeza, alguns produtos de higiene pessoal etc. [...] O dinheiro possui significado social e atribuímos a ele não apenas significados quantitativos, mas também qualitativos e, portanto, nem to- das as moedas que compõem o orçamento devem ser vistas pelo aspecto monetário. No caso, “as ajudas” (o cuidado não remunerado) são funda- mentais, representando uma importante moeda para o orçamento. [...] (LEITE; Brincker, 2017) O consumo das famílias verificado em função do status social é a única sal- vaguarda da posição social da família, mais ainda, o êxito social depende dessa adequação das despesas domésticas e do consumo à posição social que se tem ou que se aspira ter. Seria, portanto, uma virtude o equilíbrio das contas pessoais e a poupança de parte dos rendimentos da família para que haja investimentos futuros. Isso obrigaria os indivíduos a equilibrar as despesas e as receitas, isto é, manter um nível de consumo abaixo dos seus rendimentos com o objetivo de reinvestir a diferença para aumentar o consumo no futuro. A poupança deve ser entendida aqui como a diferença entre o dinheiro recebido (receita) e o dinheiro que foi gasto (despesa). Seria uma sobra, portanto. Digamos que uma família receba em um mês R$ 1.000 e a soma de todas as despesas no período tenha sido R$ 900. Então, pode-se dizer que o valor poupado naquele mês é de R$ 100 ou o equivalente a 10% do rendimento mensal. A poupança pode ser criada de várias maneiras: a partir do aumento das receitas; do controle dos gastos; da redução das despesas; do combate aos desperdícios; de rendas extras, e principalmente, com a combinação de todos esses fatores. 13 UNIDADE Economia Doméstica A poupança costuma ser feita pensando no médio e longo prazo, logo, formar uma poupança demanda força de vontade e disciplina. A soma dos valores que a família consegue poupar ao longo do tempo, sejam eles pequenos ou grandes, regulares ou eventuais, vai constituir a reserva de poupança e é muito importante que todos na família se organizem para conquistar essa situação economizando o máximo possível. E o que é melhor: quem tem reserva de poupança não precisa tomar dinheiro emprestado, nem pagar juros, nem financiar a compra de coisas de pequeno valor. Não pagando juros para os outros, pode ter ainda mais sobra de dinheiro para realimentar a poupança. É um efeito virtuoso no comportamento doméstico e familiar. Esse comportamento econômico por parte de determinados estratos sociais está relacionado à necessidade de ascensão social e pressupõe uma atitude “racional” onde os indivíduos passam a equilibrar os gastos e a renda, para investir futuramen- te. Neste ponto, é essencial retomar Max Weber onde ele postula que o avanço do “espírito” do capitalismo moderno, configurado pelo ideal de homem racional. Vale destacar a ‘estranha’ posição das mulheres na posição de administradoras e responsáveis pelo orçamento da casa, já que historicamente o homem foi considera- do provedor, representante e principal responsável pela manutenção dos rendimen- tos da casa e família. Em seu livro “A negociação da intimidade”, a socióloga Zelizer explica como a separação entre a esfera do dinheiro e da intimidade pode provocar situações injustas, ao considerar, por exemplo, o trabalho doméstico como simples expressão do afeto da mulher por sua família, já que a vida íntima não pode ser contaminada pelo “dinheiro” – símbolo da economia racional e da sociedade moderna. No caso exemplificado, o dinheiro do homem tem destino diferente – e mais estimado – do que o dinheiro da mulher, já que é ele quem cumpre uma função social produtiva. A autora mostra que, após a efetivação das mulheres no mercado de trabalho, houve uma prescrição de códigos que buscam misturar padrões femininos e masculinos, entre o tipo tradicional e o moderno de vida; as mulheres precisam conviver com padrões tradicionais (ser mãe, esposa e dona de casas) e modernos (independência e trabalhos). Assim, no mundo em que o sujeito universal é racional, a administração das emoções e das mudanças ocasionadas pelos tempos modernos recai na (re)configuração do papel da mulher, que passa a conviver com a divisão sexual do trabalho tanto no âmbito público quanto no privado, somando-se, assim, duas jornadas diárias de trabalho (LEITE,2016). Ex pl or Desse modo, especialistas e consultores financeiros passaram a enfatizar a im- portância de encorajar as pessoas de todas as classes sociais a fazerem um orça- mento doméstico. Essas fórmulas que sintetizam o comportamento entre poupar e gastar possuem fortes poderes prescritivo na realidade social, criando a compreen- são de como deve ser planejado um orçamento “saudável”. Ou seja, não somente o conteúdo do orçamento começa a ser incorporado pelas famílias, como também a sua forma, constituída de classificações em categorias racionais e preestabelecidas. Vale enfatizar que a expressão “saudável” é utilizada amplamente por economistas e consultores financeiros, fazendo referência direta à ideia de racionalidade ou de equilíbrio entre gastos e renda. 14 15 Como Fazer um Orçamento Doméstico? O orçamento é um dos mais importantes instrumentos de economia doméstica. É um tipo de planejamento no qual se discriminam os valores referentes às des- pesas e receitas previstas para determinado período e serve para fazerprojeções e acompanhamento das contas da casa. Se o seu orçamento revelar que a soma dos gastos previstos está maior do que os ganhos esperados, é preciso fazer ajustes para adequar a situação. Definir quais são as principais necessidades e planejar os gastos considerando a renda disponível é uma forma inteligente de começar a economizar. Quem não controla o quanto gasta corre o risco de gastar mais do que pode, e gastar mais do que se ganha é um grave erro, que pode levar ao endividamento e a sérios proble- mas financeiros. Na sociedade em que vivemos, cada vez mais as famílias comprometem o orça- mento familiar tendo em vista às facilidades de crédito e às inúmeras oportunidades de consumo oferecidas pelo comércio. Com isso, muitas famílias são levadas ao endividamento. As pessoas são impulsionadas a consumir sem avaliar a real neces- sidade de compra e as taxas de juros impostas nas aquisições a prazo, bem como sua real capacidade de pagamento. A principal razão para esse descontrole das finanças pessoais é o fato das famílias gastarem mais do que ganham. Figura 1 – Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) da CNC Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo Fonte: cnc.org.br Estando endividadas, as pessoas têm que pagar juros, sobrando ainda menos dinheiro, ou até mesmo faltando, e dificultando a recuperação da situação finan- ceira. Tomar dinheiro emprestado pode representar uma solução temporária para os problemas financeiros, porém, em geral, cria uma situação de dependência perigosa e difícil de ser superada. Antes que a situação piore, é recomendável procurar o credor (a quem se deve dinheiro) e tentar obter descontos nos encargos e nas taxas, além de negociar prazos mais razoáveis que permitam a quitação da dívida. É muito importante ficar atento às tentações do crédito fácil e às armadilhas do consumo. 15 UNIDADE Economia Doméstica Adquirir educação financeira não é apenas aprender a investir e a ganhar di- nheiro. É importante também aprender a controlar ansiedades, evitar desperdícios, resistir às tentações e planejar o uso do dinheiro. Quando alguém deseja fazer um planejamento para melhorar a situação financeira da família, o primeiro passo é avaliar como andam os ganhos (as receitas) e as despesas (os gastos) da casa. Abaixo elencamos algumas dicas que podem ser úteis para a elaboração do or- çamento doméstico. Importante! · Comece anotando os ganhos com os quais pode contar, sejam eles provenientes de salários, benefícios concedidos pela empresa (por exemplo, vale-alimentação, vale transporte etc.), auxílios do governo (como o Bolsa Família), aposentadoria ou pensão, vendas de artesanato, serviços prestados, comissões etc. · Depois, faça uma lista das despesas. Considere duas categorias: as despesas fixas e as despesas variáveis. As fixas são aquelas pagas todos os meses, com valores iguais ou parecidos, como o aluguel ou a prestação da casa, a mensalidade da escola etc. As despesas variáveis são aquelas cujos valores sofrem alterações por diferentes motivos. Exemplos disso são as compras no mercado, na padaria, a conta do telefone, a conta da energia, os gastos com transporte etc. Além dessas, há também as chamadas despesas eventuais, que ocorrem de vez em quando, sem regularidade. Neste grupo estão os consertos em casa, a compra de roupas, material escolar, remédios, dentista e gastos com outros produtos. Sem esquecer as despesas anuais, como impostos, a matrícula na escola, viagens e outras. · Crie classificações de acordo com a sua realidade e mantenha controles simples que ajudem você nessa tarefa. A partir daí, não se esqueça de incluir outro importante grupo no orçamento, o da poupança. Proponha-se a poupar uma parte de tudo o que ganhar e faça o possível para atingir seus objetivos. Importante! Como sugestão, veja um modelo de ficha que você poderá reproduzir em um ca- derno ou bloco para ajudá-lo a fazer seu próprio orçamento e controlar os ganhos e as despesas da família. À medida que for utilizando, adapte-o às suas necessidades. Figura 2 16 17 Após fazer um levantamento dos principais gastos da família, divida-os em gru- pos. Por exemplo: moradia, alimentação, educação, transporte, saúde, vestuário, lazer. O que sobrar, coloque em um grupo chamado de diversos. Mas não deixe de anotar nada. Não despreze os gastos menores. Algumas pequenas despesas passam despercebidas, mas podem pesar no conjunto. Após conhecer os gastos, procure fazer projeções, isto é, registre quais os valores você imagina que irá gastar no próximo mês, considerando todas as despesas previstas. Uma vez por semana, ou por mês, reúna todas as anotações, classifique-as (iden- tifique a que grupo pertencem) e compare-os. Ou seja, avalie se os valores gastos em cada grupo do orçamento foram compatíveis com os que haviam sido previstos. Não se preocupe se no começo houver diferenças ou se alguns itens forem esquecidos na hora de fazer o orçamento. O importante é manter o controle e procurar limitar os gastos aos valores planejados. Pequenas Atitudes para Diminuir suas Despesas Em Casa • Abra a porta da geladeira e do freezer somente quando houver necessidade e por um curto período de tempo, lembrando ainda de efetuar o descongela- mento e a limpeza destes sempre que necessário. • No inverno gradue em temperatura menor a geladeira e o freezer evitando acú- mulo de gelo e o consumo desnecessário de energia. • Observe se a borracha da geladeira está em boas condições, substituindo a res- secada e evitando o aumento no consumo de energia. • Acumule a maior quantidade possível de roupas para passar de uma só vez. Evite banhos demorados e regule o chuveiro conforme a estação. • Desligue o aparelho de televisão quando ninguém estiver assistindo. • Procure comprar lâmpadas econômicas, pois o consumo é inferior aos outros tipos disponíveis no mercado. • Apague as lâmpadas em cômodos que não estejam sendo usados. • Ao pintar paredes, procure fazê-lo com cores claras, favorecendo uma maior iluminação do ambiente. • Abra sempre cortinas e janelas, utilizando o máximo de iluminação natural possível. • Procure usar equipamentos como máquina de lavar e secadora em sua capaci- dade máxima evitando, porém, sobrecarregá-las. • Use a secadora de roupas apenas em dias chuvosos ou úmidos. 17 UNIDADE Economia Doméstica • Feche a torneira quando estiver escovando os dentes ou se barbeando. • Ao lavar louca, procure não deixar a torneira aberta. • Procure lavar as calcadas somente com agua reaproveitada. No Supermercado • Antes de ir ao supermercado, verifique os produtos que você realmente está precisando e faça uma lista. Procure comprar somente os produtos da lista. • Efetue pesquisa de preços e fique atento às promoções. • Verifique a qualidade e quantidade do produto ofertado e faça comparações com outros produtos semelhantes. • Experimente produtos de marcas diferentes, pois assim é possível encontrar produtos bons por preços menores. • Acompanhe os gastos com material de limpeza na sua residência, se não for você quem realiza a tarefa, ensine a melhor maneira de utilizar os produtos. Em Bancos • Evite manter mais de uma conta corrente, pois assim você terá menos gastos com tarifas bancárias e melhor controle do seu dinheiro. • Evite usar o limite do cheque especial, pois as taxas de juros cobrados pe- los bancos são altas e com isso sua dívida poderá dobrar em curto espaço de tempo. • Não se entusiasme com as ofertas de crédito fácil oferecidas pelos bancos. Cartão de Crédito • Nos dias atuais, o gasto com cartão de crédito está integrado à vida cotidiana das pessoas, mas vale salientar que seu uso desenfreado poderá levá-lo ao descontrole financeiro. • Evite parcelar a fatura do cartão de crédito, só faça isso em caso de extrema necessidade, pois os juros cobrados sobre o saldo devedor são altíssimos. • Controle os gastos de sua fatura para não estouraro orçamento do mês, evi- tando, assim, descontrole financeiro. • Pague sempre o valor integral nunca o valor mínimo. • Pague sempre no dia do vencimento e nunca atrase. 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Para além da “racionalidade” : as transações econômicas e emocionais do orçamento doméstico E. S; BRINCKER, T. Para além da “racionalidade”: as transações econômicas e emocionais do orçamento doméstico. Anais do 18º Congresso Brasileiro de Sociologia (SBS). Brasília, DF, 2017 “Desconstruindo os dispositivos dos mercados – aportes da Sociologia Econômica” LEITE, Eliane S. 41º Encontro Anual da Anpocs Mesa-redonda: “Desconstruindo os dispositivos dos mercados – aportes da Sociologia Econômica” Um esboço teórico-analítico: do orçamento doméstico como dispositivo de prescrição às racionalidades. (2017) Casas e economia cotidiana MOTTA, E. Casas e economia cotidiana. In: Rute Imanishi Rodrigues. (Org.). Vida social e política nas favelas: pesquisas de campo no Complexo do Alemão. 1. ed. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, 2016, p.197-214 Aprenda a Cuidar do Seu Dinheiro PERETTI, Luiz Carlos. Aprenda a Cuidar do Seu Dinheiro. 3. ed. Dois Vizinhos. Curitiba: Impressul, 2008. 19 UNIDADE Economia Doméstica Referências EWALD, Luis Carlos. Sobrou dinheiro. Lições de Economia Doméstica. 14. ed. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil. 2008. FARINHAS, Altemir Carlos. Dinheiro? Pra que dinheiro? Entre gastar e pou- par. 1. ed. Curitiba: Inverso, 2008. LEITE, E. S. Entre a economia e a crítica feminista da “racionalidade”: um esboço dos cursos de economia doméstica no Brasil. Política & Sociedade (Online), v. 15, p. 254-81, 2016. MARQUES, Nerina Aires Coelho Marques. Reflexões sobre economia domésti- ca: origens e caminhos. In: OIKOS – Revista Brasileira de Economia Domés- tica, v. 8, n. 1, p. 46-53, 1993. ISSN 0101-5273. 20
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