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Tecnica da peticao

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Técnica da petição. Diz respeito à estrutura de qualquer petição. Toda petição deverá preencher seguintes requisitos:
a) endereçamento;
b) preâmbulo;
c) exposição dos fatos e do direito;
d) pedido ou requerimento;
e) fecho.
O endereçamento. Determinada a competência conforme as regras jurídicas aplicáveis ao caso, tomando-se por base os dados do problema, deverá ela constar do endereçamento, disposto no alto da petição inicial:
a) Inicia-se com a saudação ao juiz, designada pelos pronomes de tratamento “Excelentíssimo Senhor”. É habitual também constar o tratamento “doutor”, destinado genericamente a todos os bacharéis em Direito.
b) após, identifica-se o órgão competente em todas as suas especificações:
Juiz de Direito (na peça, o órgão deve ser identificado com letra maiúscula)
Se a demanda tiver de ser processada na primeira instância da Justiça Estadual
Juiz Federal
Se a demanda tiver de ser processada na primeira instância da Justiça Federal
Desembargador Presidente
Se a demanda tiver de ser processada na segunda instância na Justiça Estadual
Desembargador Federal Presidente
Se a demanda tiver de ser processada na segunda instância na Justiça Federal
Ministro Presidente
Se a demanda tiver de ser processada nos Tribunais Superiores (Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça Tribunal Superior de Trabalho, Superior Tribunal Militar, Tribunal Superior Eleitoral).
Justiça Estadual
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ...
Justiça Federal
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ... VARA CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE ... na prática civil e empresarial, costumamos escrever: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ... VARA CÍVEL DA JUSTIÇA FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO PAULO
Tribunal de Justiça
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE ...
Tribunal Regional Federal
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR FEDERAL PRESIDENTE DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA ... REGIÃO
Superior Tribunal de Justiça
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Supremo Tribunal Federal
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO COLENDO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Princípio da personalidade da pena (artigo 5.º, XLV da Constituição Federal). A pena não pode passar da pessoa do condenado. Somente ele é que será submetido a uma sanção penal. Diz-se, portanto, que a pena é personalíssima.
Princípio da insignificância. Há divergência a respeito do status constitucional deste princípio. Porém, trata-se, de qualquer modo, de princípio implícito, que aduz sobre a atipicidade das condutas que lesam de forma ínfima ou desprezível o bem jurídico tutelado. A doutrina aponta para a atipicidade material.
Aplica-se o princípio da insignificância, por exemplo, nos crimes de furto (subtração de uma melancia), porte de drogas para consumo pessoal (ínfima quantidade de droga), descaminho (valor desprezível do tributo a ser pago) e lesão corporal (uma alfinetada no dedo da vítima, que faz escorrer uma única gota de sangue).
Não se aplica o princípio da insignificância a casos de transmissão clandestina de sinal de internet via radiofrequência, que caracteriza o fato típico previsto no artigo 183 da Lei 9.472/1997 (Súmula 606 do Superior Tribunal de Justiça); aos crimes contra a Administração Pública (Súmula 599 do Superior Tribunal de Justiça, e aos crimes ou contravenções penais praticadas contra a mulher no âmbito das relações domésticas (Súmula 589 do Superior Tribunal de Justiça).
Princípio da dignidade da pessoa humana (artigo 1.º, III da Constituição Federal). Este princípio foi analisado anteriormente, e também se irradia no processo penal. Entendemos, inclusive, ser o processo penal em si um instrumento material do princípio em comento, uma vez que garante ao acusado um tratamento digno por parte do Estado, que só poderá exercer o seu poder/dever de punir após trilhar o caminho processual definido em lei.
Exemplo: A Súmula Vinculante 11 do Supremo Tribunal Federal impõe uma restrição ao uso de algemas, que somente pode se dar em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, devendo ser a excepcionalidade justificada por escrito. O uso de algemas fora destas situações representa uma ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana, e pode redundar em responsabilidade disciplinar, civil e penal ao agente público infrator, sem prejuízo de responsabilidade civil do Estado. Além disso, torna viciada a prisão.
Princípio do devido processo legal (artigo 5.º, LIV, da Constituição Federal). As regras processuais devem ser conhecidas antes e obedecidas com rigor. Este princípio se desdobra em devido processo legislativo (respeito aos trâmites previstos para a criação de um instrumento normativo, tal como quórum e espécie normativa) e devido processo penal (observância ao regramento processual, que deve ser conhecido de antemão pelas partes e seguido à risca).
Exemplo: princípio do devido processo legal (artigo 5.º, LIV, da Constituição Federal). As regras processuais devem ser conhecidas antes e obedecidas com rigor. Este princípio se desdobra em devido processo legislativo (respeito aos trâmites previstos para a criação de um instrumento normativo, tal como quórum e espécie normativa) e devido processo penal (observância ao regramento processual, que deve ser conhecido de antemão pelas partes e seguido à risca).
Princípio do contraditório (artigo 5.º, LV, da Constituição Federal). É a obrigatoriedade no tocante à ciência dos atos processuais realizados e à possibilidade de que sejam oferecidos argumentos para impugná-los. Existe o contraditório real, que ocorre durante a prática do ato processual, e o contraditório diferido (postergado ou adiado), que se dá após a realização do ato.
Exemplo: Durante a oitiva das testemunhas, em audiência, é realizado o contraditório real, já que as partes podem formular perguntas a ela, durante o ato processual.
Já na interceptação telefônica, regida pela Lei 9.296/1996, acontece o contraditório diferido, uma vez que o indiciado ou o acusado somente tomará conhecimento do ato processual após a sua realização, podendo, a partir de então, impugnar o que entender pertinente.
Princípio da ampla defesa (artigo 5.º, LV, da Constituição Federal). O acusado possui todos os meios e recursos previstos em lei para provar sua inocência. Contempla a autodefesa, realizada pelo próprio acusado, quando de seu interrogatório, e a defesa técnica, empreendida por profissional habilitado, seja advogado constituído, público, dativo ou ad hoc. A Súmula 522 do Superior Tribunal de Justiça limita a aplicação deste princípio, ao firmar posição no sentido de que “A conduta de se atribuir falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa”. Cumpre destacar o julgamento das ADPFs 395 e 444: não foi recepcionada a expressão “interrogatório”, constante no artigo 260 do Código de Processo Penal. Sendo assim, se mostra incompatível a condução coercitiva de investigados ou de réus para interrogatório, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de ilicitude das provas obtidas, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. A decisão não desconstitui interrogatórios realizados até a data do julgamento, mesmo que os interrogados tenham sido coercitivamente conduzidos para tal ato.
Exemplo:
Se ao menos uma pergunta formulada pelo acusado for indeferida de modo impertinente pelo juiz, haverá cerceamento de defesa, o que caracteriza ofensa ao exercício da ampla defesa (defesa técnica).
No inquérito policial predomina que não se aplica o princípio do contraditório e da ampla defesa.
A Lei 13.245/2016 ampliou a participação do advogado na investigação criminal, mas não consagrou a aplicação destes princípios na fase administrativa.
Princípioda presunção do estado de inocência (artigo 5.º, LVII, da Constituição Federal e artigo 8.º, n. 2, Pacto de San Jose da Costa Rica). Aqui, utilizando uma metáfora, se formos considerar o processo como um jogo, é possível afirmar que a defesa leva a vantagem do empate. Isto quer dizer que se nada for provado contra o acusado, a solução é a absolvição. Deste modo, até que seja prolatada sentença condenatória transitada em julgado, nenhuma culpa poderá ser imputada ao acusado, que mantém o status de portador de bons antecedentes.
Exemplo
Ao final do processo, a existência de meros indícios não autoriza a prolação de sentença condenatória, em função do princípio da presunção do estado de inocência.
O juiz deve ter cautela ao decretar a prisão processual (flagrante, temporária e preventiva), já que esta ocorre antes do trânsito em julgado de sentença condenatória. Antecipaçãodapenae reafirmar a credibilidade da justiça penal não são argumentos idôneos para fundamentar esta espécie de prisão, com fundamento neste princípio.
Ao julgar o Habeas Corpus nº 126.292, o Supremo Tribunal Federal decidiu sobre a possibilidade de execução de pena após determinação em segundo grau que confirme a condenação. Trata-se de decisão de controle difuso de constitucionalidade, razão pela qual somente se aplica ao caso concreto. A decisão é polêmica, já que colide com o princípio da presunção do estado de inocência.
Princípio da publicidade (artigos 5.º, LX, e 93, IX, da Constituição Federal). É assegurada a publicidade de todos os atos processuais, exceção feita às expressas determinações legais, tal como ocorre na votação do Conselho de Sentença, durante o plenário do Júri, por exemplo.
No inquérito policial o sigilo é resguardado (artigo 20 do Código Processo Penal). Porém, não atinge o advogado do representado (Súmula Vinculante 14 do Supremo Tribunal Federal). Nesta hipótese, caso o acesso ao inquérito policial não seja franqueado ao advogado, caberá impetração de mandado de segurança ou interposição de reclamação.
Nos termos da Lei 13.245/2016, o advogado possui acesso aos autos de todas as espécies de investigação criminal, ainda que sem procuração (exceto quando houver sigilo decretado nos autos). Terá acesso a tudo que estiver documentado e, em princípio, ao que ainda não foi juntado aos autos. Neste último caso, as peças somente não serão exibidas ao advogado caso haja comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências.
Princípio do duplo grau de jurisdição. Não possui previsão expressa no Texto Constitucional, mas decorre da própria previsão de recursos pela Carta Magna, assim como pela criação e divisão de competência dos Tribunais. A decisão ou sentença proferida por um determinado juízo ou órgão está sujeita ao reexame, de acordo com a previsão legal.
Importante
A Constituição Federal, entre os artigos 101 e 126, trata da criação dos Tribunais, bem como da sua repartição de competência. São dispositivos que devem ser verificados no momento em que se busca a fixação do juízo competente, para que após seja consultada a legislação processual.
Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meio ilícito (artigo 5.º, LVI, da Constituição Federal). São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos. A legislação processual penal sofreu sensível modificação neste particular, a partir da vigência da Lei 11.690/2008. A consequência prevista é o desentranhamento da prova ilícita. Também sofrerá esta implicação a prova ilícita por derivação (artigo 157, § 1.º e 2.º, do Código de Processo Penal). Adotou-se a teoria do fruto da árvore envenenada.
Exemplo
Se durante um interrogatório realizado sob tortura o indiciado confessa a prática do crime e aponta o local no qual está escondida a arma – que posteriormente é encontrada e apreendida pela polícia – ambas as provas serão consideradas inválidas: a confissão e a apreensão do instrumento do crime, já que esta última somente ocorreu por conta da colheita da primeira prova obtida de modo ilícito.
Direito ao silêncio (artigo 5.º, LXIII, da Constituição Federal). Este princípio vige tanto na fase policial como na etapa processual. Significa, inicialmente, que o silêncio do indiciado ou do acusado não pode ser considerado em seu prejuízo. Mas não é só. Decorre de uma ideia mais ampla, que aponta para a máxima nemo tenetur se detegere (ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo).
Exemplo
O direito ao silêncio contempla a prerrogativa de não comparecer em audiências, reconstituições ou quaisquer outros atos processuais.
Também abrange a faculdade de não se submeter ao uso do bafômetro.
Importante
Na ação penal pública condicionada, a lei usa as expressões “somente se procede mediante representação” ou “somente se procede mediante requisição do Ministro da Justiça”. Já na ação penal de iniciativa privada é empregada a locução “somente se procede mediante queixa”.
Ademais, não basta verificar o que diz o tipo penal sobre a ação penal. É necessário examinar também o final de cada capítulo e do título. Nos crimes contra a honra, por exemplo, a menção a espécie de ação penal está prevista no artigo 145 do Código Penal.
Já no artigo 182 do Código Penal existe referência aos crimes contra o patrimônio. O artigo 88 da Lei 9.099/1995 determina que os crimes de lesão corporal leve e culposa são de ação penal pública condicionada à representação.
Fique atento à identificação da ação penal, seja na peça prático-profissional, seja nas questões propostas. Isto porque a ação penal num caso concreto pode ter sido aplicada de forma equivocada, o que gera nulidade absoluta, por conta da ilegitimidade de parte.
7. Petição inicial.
A petição inicial da ação penal pública é a denúncia, enquanto que na ação penal de iniciativa privada é a queixa-crime.
Os requisitos de ambas estão previstos no artigo 41 do Código de Processo Penal, que podem ser assim sintetizados:
a) nome e qualificação das partes;
b) descrição do fato criminoso;
c) classificação jurídica do fato;
d) rol de testemunhas (o número máximo varia de acordo com o procedimento adotado).
Além dos requisitos mencionados acima, nos crimes de ação penal de iniciativa privada exige-se que a procuração outorgada pelo querelante possua poderes especiais para a propositura da demanda.
A lei prescreve prazo para o oferecimento da denúncia. A regra é que seja oferecida no prazo de 5 dias, no caso de indiciado preso, ou em 15 dias, se estiver solto (artigo 46 do Código de Processo Penal).
Legislação especial pode impor prazo diferente, tal como ocorre na Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas): o prazo é de 10 dias para oferecimento da inicial, esteja o indiciado preso ou solto.
Se a denúncia não for oferecida no prazo legal, no caso de indiciado preso, é configurado constrangimento ilegal, e a prisão deve ser relaxada. Neste caso, deve ser requerido o relaxamento de prisão em flagrante ao juízo competente. Em caso de indeferimento, pode ser impetrada ordem de habeas corpus.
No caso da queixa-crime, deve ser observado o prazo decadencial de 6 meses, a partir do conhecimento da autoria criminosa. No caso do crime do artigo 236 do Código Penal, é necessário aguardar o trânsito em julgado da sentença que anulou o casamento na esfera cível.
As hipóteses de rejeição estão contidas no artigo 395 do Código de Processo Penal, a seguir elencadas:
a) inicial inepta: falta de clareza na inicial; individualização das condutas não realizada (denúncia genérica) e inclusão de pessoa ou de fato não investigado no inquérito policial;
b) ausência de pressuposto processual (pressupostos de existência do processo e de validade) ou de condição para o exercício da ação penal (condições genéricas e específicas mencionadas anteriormente); e
c) falta de justa causa para a ação penal (imputação de conduta atípica; ocorrência de causa extintiva de punibilidade ou ausência de indícios de autoria e de prova da materialidade).
Importante
Não cabe recurso para impugnar decisão querecebe a inicial. Se houver falta de justa causa ou nulidade, por exemplo, será possível a impetração de habeas corpus, conforme o caso concreto.
Se a inicial for rejeitada, o recurso cabível é o recurso em sentido estrito, em regra (artigo 581, I, do Código de Processo Penal). Exceção: nos Juizados Especiais Criminais deverá ser interposta apelação (artigo 82, Lei 9.099/1995).
Incompetência.
a) Absoluta: todos os atos posteriores no processo são considerados como nulos. O prejuízo é presumido por lei e é insanável. Ex.: incompetência material;
Exemplo
Denúncia que versa sobre crime de moeda falsa, oferecida na Justiça Estadual. É hipótese de incompetência absoluta, uma vez que é competente a Justiça Federal.
b) relativa: somente são anulados os atos decisórios (sentença final: artigo 567 do Código de Processo Penal) e depende da demonstração de prejuízo. Ex.: competência territorial, prevenção e conexão e continência.
Exemplo
Denúncia que versa sobre crime de dano, oferecida num determinado juízo regional, quando a competência pertence a outro. É hipótese de incompetência relativa.
4. Critérios de fixação da competência.
Para a fixação da competência em matéria penal é necessário que sejam percorridos os seguintes passos:
a) verificar se há foro por prerrogativa de função;
b) determinar a justiça competente;
c) determinar o foro competente;
d) determinar o juízo competente;
e) determinar a vara competente.
Em primeiro lugar, verifica-se se existe foro por prerrogativa de função. Se existir, nenhuma outra providência precisa ser tomada, uma vez que já se chegou ao juízo competente. As hipóteses são as seguintes:
a) Supremo Tribunal Federal: julga crimes praticados pelo Procurador-Geral da República, Advogado Geral da União, Ministro de Estado, Membros do Tribunal de Contas da União, Deputado federal e Senador;
b) Superior Tribunal de Justiça: julga os crimes praticados por governadores, desembargadores, membros do TSE;
c) Justiça comum: julga crimes praticados por juízes (salvo eleitoral), promotores, prefeitos (Súmula 702 do Supremo Tribunal Federal) e presidentes de Câmaras Municipais; e
d) Tribunal Regional Eleitoral: julga crimes eleitorais praticados pelos juízes.
Importante
A competência por prerrogativa de função prevalece sobre o júri, caso haja previsão na Constituição Federal.
Porém, se for estabelecida exclusivamente pela Constituição Estadual, prevalece a do júri (Súmula 721 do Supremo Tribunal Federal).
Cumpre destacar ainda o disposto da Súmula Vinculante 45 do STF: “A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual”.
Se não existir competência originária, passa-se ao critério seguinte, consistente na determinação da justiça competente.
A justiça competente é estabelecida pela Constituição Federal, assim como pela legislação ordinária e por normas de organização interna dos Tribunais. A Constituição Federal determina a seguinte repartição de competência:
a) Justiça Eleitoral (artigos 118 a 121 da Constituição Federal): julga os crimes eleitorais e os que lhe forem conexos;
b) Justiça Militar (artigos 122 a 124 da Constituição Federal): julga os crimes militares, tipificados no Código Penal Militar;
c) Justiça Federal (artigos 108 a 110 da Constituição Federal): crimes políticos; cometidos em detrimento de bens, serviços ou interesse da União, autarquia federal, fundação pública federal ou empresas públicas federais; previstos em tratado ou convenção internacional, quando iniciada a execução no país, o resultado tenha ou devesse ocorrer no estrangeiro ou reciprocamente; causas relativas a direitos humanos; crimes contra organização do trabalho; contra o sistema financeiro ou contra a ordem econômica ou financeira, nos casos estabelecidos em lei; crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves e de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro.
d) Justiça Estadual (artigos 125 e 126 da Constituição Federal): a competência é residual. O que não se encaixar nas outras hipóteses, é de competência estadual.
Determinada qual é a justiça competente, segue-se para o próximo critério, referente à fixação do foro competente.
Foro (ou comarca) é o território no qual a infração penal se consumou ou, em caso de tentativa, no local onde foi praticado o último ato de execução (artigo 70 do Código de Processo Penal). Para se estabelecer o foro, também chamado de comarca competente, devem ser observados os critérios definidos abaixo:
	Hipótese
	Determinação do foro competente
	Início da execução no território nacional e consumação no exterior
	Local onde foi praticado o último ato de execução (artigo 70, § 1.º, do Código de Processo Penal)
	Início da infração no exterior e produção do resultado no Brasil
	Local onde foi produzido, ou deveria ter sido produzido, o resultado.
	Incertos os limites territoriais ou quando incerta a jurisdição pelo fato do crime ter sido praticado na divisa
	Prevenção (artigo 70, § 3.º, e artigo 83 do Código de Processo Penal)
	Crime continuado ou permanente
	Prevenção (artigos 71 e 83, Código de Processo Penal)
	Se ignorado o lugar da infração
	Domicílio ou residência do réu (artigo 72, caput, Código de Processo Penal)
	No caso de mais de uma residência
	Prevenção (artigo 72, § 1.º, Código de Processo Penal)
	Se não possuir residência ou for incerto seu paradeiro
	Juiz que primeiro tomar conhecimento do fato (artigo 72, § 2.º, Código de Processo Penal)
	Se ação penal de iniciativa privada personalíssima ou propriamente dita
	Possibilidade de foro de eleição (local do fato ou do domicílio ou residência do réu, artigo 73, Código de Processo Penal)
Importante
1) conforme o artigo 63 da Lei 9.099/1995, a competência dos Juizados Especiais Criminais é determinada pelo lugar em que foi praticada a infração penal.
2) é relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal por prevenção (Súmula 706 do Supremo Tribunal Federal).
Definido o foro competente, se passa ao critério seguinte, relacionado à determinação do juízo e da vara competente.
A comarca pode ser composta por vários juízos e por diversas varas. A fixação do juízo competente se dá normalmente com base em critérios territoriais, estabelecidos por lei estadual ou por norma do Tribunal competente.
Também é importante que se atente para a competência em razão da matéria. A competência do júri consiste no julgamento dos crimes dolosos contra a vida, consumados ou tentados, e os que lhe são conexos. A dos Juizados Especiais Criminais, por sua vez, recai sobre as infrações penais de menor potencial ofensivo, que são as contravenções penais e os crimes cuja pena máxima não ultrapasse o limite de 2 anos.
Já a vara competente geralmente é estabelecida pelo critério da distribuição, que é realizado de modo aleatório. O mesmo critério é estabelecido se a vara contar com 2 ou mais juízes (titular e auxiliar).
. Endereçamentos possíveis.
a) Supremo Tribunal Federal
Excelentíssimo Senhor, Doutor Ministro Presidente do Colendo Supremo Tribunal Federal
b) Superior Tribunal de Justiça
Excelentíssimo Senhor, Doutor Ministro Presidente do Colendo Superior Tribunal de Justiça
c) Tribunal Superior Eleitoral
Excelentíssimo Senhor, Doutor Ministro Presidente do Colendo Tribunal Superior Eleitoral
d) Tribunal Regional Eleitoral
Excelentíssimo Senhor, Doutor Desembargador Presidente do Egrégio Tribunal Regional Eleitoral
e) Juntas Eleitorais
Excelentíssimo Senhor, Doutor Juiz de Direito da ... Junta Eleitoral de ...
f) Superior Tribunal Militar
Excelentíssimo Senhor, Doutor Ministro Presidente do Colendo Superior Tribunal Militar
g) Tribunal de Justiça Militar
Excelentíssimo Senhor, Doutor Desembargador Presidente do Egrégio Tribunal de Justiça Militar do Estado de ...
h) Auditorias Militares
Excelentíssimo Senhor, Doutor Juiz Auditor da ... Auditoria Militar da Justiça Militar de ...
i) Tribunal de Justiça
ExcelentíssimoSenhor, Doutor Desembargador Presidente do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de ...
Ou
Excelentíssimo Senhor, Doutor Desembargador Relator do Acórdão n.º.… da ... Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de ...
j) Vara Criminal (Juiz de Direito)
Excelentíssimo Senhor, Doutor Juiz de Direito da ...Vara Criminal da Comarca de ...
k) Vara das Execuções Criminais (Justiça Estadual ou Justiça Federal)
Excelentíssimo Senhor, Doutor Juiz de Direito da Vara das Execuções Criminais da Comarca de ...
Ou
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da Vara das Execuções Criminais da Subseção Judiciária de ...
l) Vara do Júri (1.ª Fase do Procedimento do Júri)
Excelentíssimo Senhor, Doutor Juiz de Direito da ...Vara do Júri da Comarca de ...
m) Tribunal do Júri (2.ª Fase do Procedimento do Júri)
Excelentíssimo Senhor, Doutor Juiz Presidente do Egrégio ...Tribunal do Júri da Comarca de ...
n) Juizado Especial Criminal
Excelentíssimo Senhor, Doutor Juiz de Direito do ... Juizado Especial Criminal da Comarca de ...
o) Delegado de Polícia (Polícia Civil ou Polícia Federal)
Ilustríssimo Senhor, Doutor Delegado de Polícia Titular do .... Distrito Policial da Comarca de ...
Ou
Ilustríssimo Senhor, Doutor Delegado de Polícia Federal da Superintendência da Polícia Federal do Estado de ...
p) Tribunal Regional Federal
Excelentíssimo Senhor Doutor Desembargador Federal Presidente do Egrégio Tribunal Regional Federal da ...ª Região.
Ou
Excelentíssimo Senhor, Doutor Desembargador Federal Relator do Acórdão nº ... da ... Turma do Egrégio Tribunal Regional Federal da ...ª Região...
q) Vara Criminal Federal (Juiz Federal)
Excelentíssimo Senhor, Doutor Juiz Federal da ... Vara Criminal Federal da Subseção Judiciária de ...
r) Juizado Especial de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
Excelentíssimo Senhor, Doutor Juiz de Direito do ... Juizado Especial de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Comarca de...
5. Prisão temporária.
A prisão temporária está disciplinada na Lei 7.960/1989. É a única prisão processual prevista fora do Código de Processo Penal.
Ela só pode ser decretada durante o inquérito policial. Não pode ser decretada de ofício. Ela é decretada mediante representação da autoridade policial ou requerimento do Ministério Público (artigo 2.º, caput, da Lei 7.960/1989).
A prisão temporária tem prazo máximo de 5 dias, prorrogáveis por igual período. Nos crimes hediondos esse prazo é de até 30 dias, também prorrogáveis por igual período.
A prorrogação da prisão temporária deverá ser decretada pelo magistrado por decisão fundamentada, pois é restrita a casos de extrema e comprovada necessidade.
É necessário que estejam presentes os três requisitos obrigatórios, que são cumulativos, e ao menos um dos requisitos alternativos
Prisão em flagrante delito.
O juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, poderá, de modo fundamentado, relaxar a prisão ilegal, conceder liberdade provisória ou ainda converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão.
Importante
Esta previsão reforça a ideia de que a prisão cautelar constitui medida excepcional. Isto porque o juiz somente decretará a prisão preventiva se a imposição das medidas cautelares se mostrar insuficiente ou inadequada, além da necessidade de preenchimento dos requisitos previstos em lei. Com isto, a aplicação das medidas cautelares precede à decretação da prisão.
A prisão em flagrante pode ser realizada por qualquer do povo, e deve ser realizada pela autoridade policial e seus agentes (artigo 301, Código de Processo Penal).
São modalidades de prisão em flagrante (artigo 302, Código de Processo Penal):
O agente está cometendo a infração penal
O agente acaba de cometer a infração penal
O agente é perseguido, logo após a infração penal, em situação que faça presumir ser autor da infração (impróprio)
O agente é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
No flagrante impróprio, a perseguição deve ser contínua, admitindo-se apenas pequenas interrupções – não se pode perder o paradeiro do infrator.
4. Procedimentos comuns.
Dentre os procedimentos comuns, a fixação do rito ao caso concreto se dá de acordo com o máximo da pena prevista em abstrato, conforme as seguintes regras:
Ordinário
Pena máxima prevista em abstrato maior ou igual a 4 anos.
Sumário
Pena máxima prevista em abstrato superior a 2 e inferior a 4 anos.
Sumaríssimo
Infrações penais de menor potencial ofensivo (contravenções penais e crimes cuja pena máxima prevista em abstrato não ultrapasse 2 anos).
Importante
Agravantes e atenuantes não são consideradas no momento de fixação do procedimento ao caso concreto.
Porém, caso haja menção a causa geral/especial de aumento/diminuição de pena, deverá incidir neste momento. Se a causa for de aumento, aumenta-se o máximo possível, para que se tenha a pena máxima. Por outro lado, se for de diminuição, diminui-se o mínimo possível, pelo mesmo motivo.
Dica
Os artigos 395 a 397 do Código de Processo Penal se aplicam a todos os procedimentos penais de primeiro grau, inclusive àqueles que estão previstos fora do Código, em leis especiais (artigo 394, § 4.º, Código de Processo Penal). Embora haja menção ao artigo 398 do Código de Processo Penal, este foi revogado (Lei 11.719/2008).
Procedimento ordinário
Procedimento sumário
7. Procedimento sumaríssimo.
O procedimento sumaríssimo é aplicável às infrações penais de menor potencial ofensivo, cuja competência para julgamento é do Juizado Especial Criminal.
Para crimes desta natureza, devem ser observadas duas fases distintas:
a) fase preliminar;
b) fase processual. É nesta etapa que se aplica o procedimento sumaríssimo.
A fase preliminar se inicia com a lavratura do termo circunstanciado. Na hipótese de flagrante delito, se o autor do fato comparecer imediatamente ao Juizado, ou se assinar o termo de compromisso de que irá comparecer em data a ser designada, não será imposta prisão, e nem será exigida fiança.
Nesta audiência haverá uma tentativa de conciliação. Duas são as hipóteses:
a) composição civil: é o acordo celebrado entre a vítima e o autor do fato, com a finalidade de alcançar a reparação do dano causado pela prática da infração penal. Caso haja acordo, será homologado, passando a ter natureza de título executivo judicial. No caso de infração penal de ação penal pública condicionada ou de iniciativa privada, ocorre renúncia ao direito de representação ou de queixa, respectivamente, extinguindo-se a punibilidade.
b) transação penal: é o acordo entre o autor do fato e o Ministério Público. O órgão acusador deixa de propor ação penal, caso o autor do fato se comprometa a pagar multa ou prestar uma das espécies de pena alternativa. Somente poderá ser oferecida se houver indícios de autoria e prova da materialidade. A sua aceitação não gera maus antecedentes, reincidência ou confissão. Se a proposta não for oferecida pelo promotor de justiça, o juiz, entendendo que seja o caso, deverá encaminhar os autos ao Procurador Geral (aplicação analógica do artigo 28, Código de Processo Penal).
Importante
Dispõe a Súmula Vinculante 35 do Supremo Tribunal Federal: A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial.
8. Procedimento do júri.
Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, consumados ou tentados, e os que lhe são conexos (artigo 5.º, XXXVIII, Constituição Federal e artigo 78, I, Código de Processo Penal).
De acordo com a Súmula 721 do Supremo Tribunal Federal, a competência atribuída ao Tribunal do Júri prevalecesobre o foro por prerrogativa de função estatuído exclusivamente pela Constituição Estadual.
Devem ser observados os princípios constitucionais já explicados anteriormente (capítulo 1 – Princípios Constitucionais do Direito Penal e do Processo Penal).
O rito do júri é escalonado, dividido em duas fases:
a) primeira fase (juízo de acusação): se inicia com o oferecimento da denúncia e se encerra com a decisão de impronúncia, desclassificação ou absolvição sumária, ou com a preclusão da decisão de pronúncia. Nesta fase, verifica-se a admissibilidade da tese acusatória;
b) segunda fase: decorrente da decisão de pronúncia, na qual se fará o juízo de mérito, tem início com a petição prevista no artigo 422 do Código de Processo Penal, e se finda com o julgamento da causa pelo Tribunal do Júri.
Verifique na próxima página as principais etapas da primeira fase do procedimento do júri:

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