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Fisioterapia nas Doenças Desmielinizantes Prof. Dra. Maria Luiza Rangel Síndrome de Guillain Barrè Esclerose Múltipla Síndrome de Guillain Barrè SGB - Definição É uma polineuropatia desmielinizante inflamatória aguda que causa lesões difusas dos nervos periféricos ocasionando a perda da mielina, caracterizada por distúrbios tanto sensoriais quanto motores. Etiologia • A causa exata do distúrbio não é conhecida. De modo geral, manifesta-se após uma infecção respiratória ou gastrointestinal leves. Os sinais da infecção geralmente desaparecem antes que se iniciem os sinais da SGB. • Em torno de 80% dos pacientes, os sintomas começam entre 5 dias até 3 semanas após um caso de infecção (vírus, bactéria) de via aérea superior ou gastrointestinal. – A infecção por Campylobacter jejuni a mais frequente delas (32%), seguida por citomegalovírus (13%), vírus Epstein Barr (10%) e outras infecções virais, tais como hepatites por vírus tipo A, B e C, influenza e HIV. Outros fatores precipitantes de menor importância são cirurgia, imunização e gravidez – Dengue??? Zika???? Covid19???? Manifestações Clínicas da SGB • Fraqueza muscular progressiva que geralmente tem início em MMII; • Parestesia - pode estar associda a lombalgia aguda • Dor neurogênica, articular e muscular; • Perda dos reflexos profundos • Em alguns casos, alterações do controle vesical e intestinal; *Paralisia Simétrica Ascendente → Seu progresso é simétrico, ascendente (distal para proximal, MMII para MMSS) podendo comprometer todos os grupos musculares (membros inferiores, membros superiores, tronco, face e respiratórios) Fatores de risco para mau prognóstico • Em geral o prognóstico é bom, com recuperação total ou parcial (sequelas motoras são frequentes, principalmente relacionadas a marcha) • Fatores associados a pior prognóstico – idade acima dos 50 anos – diarréia precedente – início abrupto de fraqueza grave (menos de 7 dias) – necessidade de VM – amplitude do potencial da neurocondução motora inferior a 20% do limite normal • O prognóstico motor é melhor nas crianças, pois necessitam menos de suporte ventilatório e recuperam-se com maior rapidez • Recorrência do episódio pode ser observada em até 3% dos casos Exames Complementares ➢ Liquido Céfaloraquidiano (LCR) - proteinorraquia acompanhada por poucas células mononucleares é o achado laboratorial característico ➢ A Eletroneuromiografia (ENMG) indica desmielinização. • os marcos eletrofisiológicos de desmielinização incluem latências distais prolongadas, lentificação de velocidade de condução, dispersão temporal, bloqueio de condução e latências da onda-F prolongadas, todos estes parâmetros geralmente simétricos e multifocais. ➢ O ECG pode, em alguns casos, evidenciar anormalidades (disfunções autonômicas). Tratamento Medicamentoso • Imunoglobulina humana intravenosa (IgIV) – terapia imunomoduladora com a uso de anticorpos para atuar diminuindo o ataque imunológico ao Sistema Nervoso Periférico; • Plasmaferese – procedimento para “retirada” de elementos nocivos (auto-anticorpos neste caso) do plasma sanguíneo. Fisioterapia FASE AGUDA (inicial) Fraqueza rapidamente progressiva, simétrica, ascendente e demais perturbações clínicas (dura em média 4 semanas). Após 4 semanas em geral atinge-se um platô (90 -94% dos casos - período de nadir) • Fase de progressão e platô: prevenir de complicações respiratórias, reduzir dor, prevenir complicações osteomioarticulares (manter integridade) • Mudança de decúbito • Movimentação passiva das articulações Fisioterapia FASE DE RECUPERAÇÃO De duração variável . Sintomas mais estáveis (posssibilidade de arritmias cardiacas, HAS e alterações gástricas). Após alguns meses os sintomas regridem lentamente. • Recuperar força muscular e ADM, função cardiorespiratória Manutenção do alinhamento postural (controle de tronco) e da ADM das articulações. • Fortalecimento da musculatura e mobilidade ativa. • Treino de ortostase e marcha - orteses leves objetivando favorecer a deambulação na presença de fraqueza distal persistente. • Havendo deficiência motora importante objetivar o maior grau de independência possível na locomoção e nas AVD`s. Kahn, 2012 Fisioterapia FASE DE RECUPERAÇÃO Alongamentos Músculos biarticulares tendem a maior rigidez Cinesioterapia ativo-assistida, ativa e resistida Praxia Global (movimentos amplos, de grandes grupos musculares) Treino de Praxia Fina (encaixes, jogos, habilidades manipulativas) Treino de Ortostatismo e Marcha Kahn, 2012 Alongamentos e mobilizações ativas sempre que possivel. Importante também como forma de orientação domiciliar Possibilidades Marcha e equilibrio Recomendações para fortalecimento muscular • Evitar sobrecarga muscular • Programas de exercícios inicialmente não fatigantes • A medida que os músculos adquirem força antigravitacional (TMM =3) se pode utilizar exercícios de fortalecimento e carga • A sobrecarga em músculos com neuropatia periférica pode levar a um enfraquecimento paradoxal • Músculos biarticulares podem ficar enrijecidos, sendo benéfico o alongamento Kahn, 2012 Esclerose Múltipla E.M. Definição • Doença inflamatória desmielinizante do Sistema Nervoso Central, de causa desconhecida. • Como indicado pelo nome da doença, a principal característica é o surgimento de diversos sintomas neurológicos ao longo do tempo e espaço, causado por múltiplas lesões desmielinizantes no SNC R. Yamasaki and J.-i. Kira, 2019 Manifestações Clínicas • Sensoriais: Medula: alterações da sensibilidade profunda (proprioceptiva e vibratória), hiperalgesia, hiperestesia tatil e térmica. Parestesias são os primeiros sinais para muitos pacientes (dormência e formigamento) • Dor – aguda em algum episódio de exacerbação ou crônica (mais de 50% dos pacientes com EM) • Sinal de Romberg • Sinal de Lhermitte (sensação de choque na lombar e MMII quando há flexão do pescoço) Manifestações Clínicas • Motores: espasticidade (mais comum em membros inferiores), hemiparesia, paraparesia ou quadriparesia, hiperreflexia, clonus • Visuais: visão dupla, diminuição da visão, visão borrada,alterações de campo visual e da percepção de cores, dor nos movimentos oculares. • Cerebelar: ataxia axial e apendicular, nistagmo, disartria (fala escandida) • Tronco encefálico: fraqueza da face, tinitus, alteração auditiva, da percepção gustativa,vertigem, neuralgia do trigêmeo Manifestações Clínicas • Vesicais: disfunção urinária (nocturia, incontinencia urinária, bexiga neurogênica), disfunção intestinal (constipação, incontinencia fecal). Podem levar a complicações como infecções urinárias, e falencia renal • Sexuais: perda da libido, alteração sensorial na região genital, diminuição da lubrificação vaginal, disfunção sexual (impotencia). • Cognitivos (lesões no cortex e hipocampo): defict de atenção, lentificação no processamento da informação, disfunção de memória ocorrem em 30- 50% dos pacientes. Alterações de humor (depressão e euforia) (mais de 50%) Manifestações Clínicas • FADIGA – Sintoma muito comum e incapacitante – Agravada pelo gasto energético que o paciente tem para lidar com os demais sintomas com os quais ela tem que lidar (ex. Dor, espasticidade, alteração visual etc) – SensÍvel ao calor – o aumento da temperatura corporal exacerba sintomas como visão borrada e fraqueza dos membros ( sinal de Uhthoff) Tipos de EM • Forma recorrente-remitente (surto/remissão) É a forma mais frequente da EM e caracteriza-se pela ocorrência de surtos e remissões sucessivas, em geral, com boa recuperação neurológica. (80-90% dos casos) • EM normalmente começa como RREM – e se transforma em progressiva secundária 10-20 anos após primeiros sintomas • Forma secundariamente progressiva A doença é inicialmente recorrente-remitente, mas após algum tempo, torna-se progressiva Tipos de EM • Forma primariamente progressiva A doença evolui, desde o início, de maneira lenta e progressiva (10 –20% dos casos). • Forma primária progressiva com surtos A doença é progressiva desde o início, porém evolui com surtos bem caracterizados e, nos intervalos dos surtos há nítida progressão da doença. • As formas progressivas da EM (primária e secundária) envolvem preferencialmente as partes distais do tracto piramidal e do cerebelo, levando a uma deterioração na forma de paraparesia espástica e/ou ataxia cerebelar Etiologia • Causa desconhecida. – A deterioração da mielina é provavelmente mediada pelo sistema imunológico que ataca células da glia como atividade de defesa. • Atividade viral? • Acredita-se que a EM seja uma doença autoimune que afeta o cérebro, a medula espinhal e a visão. • Episódios de inflamação (também chamados de ataques, recorrências ou exacerbações) lesam o revestimento de mielina, causando cicatrizes (também chamadas de placas ou lesões). Tratamento Fisioterapeutico • Por muitos anos a realização de exercícios físicos era controversa na EM, provavelmente pela exacerbação de sintomas e fadiga. • Hoje, sabe-se que o exercício é seguro e que a exacerbação ocasional de sintomas durante o exercício é um fenômeno transitório, normalmente totalmente reversível após 30 minutos de descanso • De fato, o exercício promove neuroproteção, neurorregeneração e neuroplasticidade, reduzindo assim a incapacidade a longo prazo Exacerbação x Pseudo-exacerbação Exacerbação • Sintoma novo ou piora de sintoma pre-existente com duração maior que 24h • Normalmente associado a inflamação e processo desmielinizante do SNC • Separado da ultima exacerbação por no mínimo 30 dias Pseudo-exacerbação • Aumento temporário dos sintomas durando menos do que 24h • Sintomas não associados a inflamação ou dano ao SNC • Possíveis gatilhos: aumento da temperatura corporal, calor e umidade, exercício, estresse, distenção vesical e intestinal • Os sintomas retornam ao estado basal com eliminação ou minimização do gatilho Guideline para intervenção • Todos os exercícios devem ser desafiadores, mas não um fardo • Regra das duas horas: se não foi possivel se recuperar em até 2h, foi exagerado • Pausas mais frequentes podem ser necessárias durante os exercicios • Estratégias de refriamento (ar condicionado, beber agua) • Dificuldades cognitivas incluindo dificuldades de aprendizado, processamento de informações, memoria, atenção devem ser considerados • Alterações de humor, principalmente sintomas de depressão, estão presentes em grande parte dos quadro de EM Orientações gerais para treino de força • Frequência: 2—3 x/semana • Intensidade: 1 – 3 series, 8-15 repetições a 60-80% de 1RM • O treino é melhor tolerado e com menos fadiga se realizado de forma intermitente, alternando grupos musculares de MMSS e MMII • O aumento da resistência 2-5% quando o paciente tiver alcançado 15 repetições de forma consistente com a carga atual • Recomendado o descanso de 2 a 4 minutos entre series. • Priorizar grandes grupos musculares National MS Society | Physical Therapy in MS, 2018
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