Buscar

HANSENÍASE

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 9 páginas

Prévia do material em texto

1 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV 
 
OBJETIVOS 
1- Descrever a hanseníase considerado o ciclo 
evolutivo, história da doença, tratamento, 
complicações e sequelas. 
2- Relacionar o padrão de resposta imunológica e 
os padrões da doença. (Th1 e Th2) 
REFERÊNCIAS 
• Clínica Médica da USP. Vol 7. 2 ed. 
 
• Ministério da Saúde; Guia prático sobre a 
hanseníase, 2017 
 
• Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em 
Saúde. Boletim Epidemiológico – Hanseníase, 
2021 
 
• Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. 
Boletim epidemiológico - Hanseníase em Minas 
Gerais, 2021 
 
• Organização Mundial da Saúde. Diretrizes para o 
diagnóstico, tratamento e prevenção da 
hanseníase, 2019. 
 
• FOSS, N. T. Aspectos imunológicos da 
hanseníase. Medicina (Ribeirão Preto), [S. l.], v. 
30, n. 3, p. 335-339, 1997. 
CONCEITO 
A hanseníase é doença infectocontagiosa, de 
evolução lenta, transmissível e de caráter crônico, 
que acomete principalmente os nervos periféricos 
e a pele (sinais e sintomas dermatoneurológicos). 
Pode gerar incapacidades físicas e deformidades 
se não for tratada na fase inicial. 
É considerada uma doença com potencial 
incapacitante quando não tratada, então é de 
notificação compulsória e, mesmo sendo tratável, 
gera um impacto psicossocial, pelos preconceitos 
O curso da doença é lento, podendo levar anos 
até que haja manifestação clínica, sendo por isso 
considerada uma doença infecciosa crônica. 
Quando ocorre a manifestação clínica, há o 
aparecimento de sinais e sintomas 
dermatoneurológicos, que são lesões na pele e 
nos nervos periféricos. 
Se não tratada na forma inicial, a doença quase 
sempre evolui, torna-se transmissível e pode atingir 
pessoas de qualquer sexo ou idade, inclusive 
crianças e idosos. 
A hanseníase é considerada doença tropical 
negligenciada por persistir endêmica, quase 
exclusivamente em populações em condição de 
pobreza nos países em desenvolvimento, mesmo 
após a introdução de tratamento eficaz e gratuito 
há mais de 3 décadas. 
BREVE HISTÓRICO 
A hanseníase é conhecida desde os tempos 
bíblicos, existindo relatos da doença em tomo de 
600 a.C. na China, na Índia e no Egito. 
Acredita-se que tenha sido introduzida na Europa, 
trazida da Índia, pelas tropas de Alexandre, o 
Grande, em 300 a.C. e, nas Américas, durante o 
processo de colonização e tráfico de escravos 
africanos. 
A denominação hanseníase é uma homenagem 
ao médico norueguês Gerhard Armauer Hansen, 
que identificou, em 1873, o bacilo Mycobacterium 
leprae como o causador da doença. 
No Brasil, os primeiros casos foram notificados no 
final do século XVII, na cidade do Rio de Janeiro. 
A principal estratégia adotada para a profilaxia 
da hanseníase no passado foi o isolamento 
compulsório do doente em leprosários, instituído 
no Brasil em 1923. Com a introdução da sulfona na 
década de 1940 e sua adoção na terapêutica da 
hanseníase por constatar-se eficaz, o isolamento 
deixou de ser obrigatório, mas somente foi extinto 
oficialmente em 1962. 
Obs: Em virtude do alto estigma associado à 
doença, em 29 de março de 1995, pela Lei Federal 
“ISSO PEGA?” 
Problema 06: 
 
 
2 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV 
 n° 9.010, tornou-se obrigatório o uso da 
terminologia hanseníase em substituição ao termo 
lepra. 
EPIDEMIOLOGIA 
MUNDIAL 
Em 2019, foram reportados à Organização 
Mundial da Saúde (OMS) 202.185 casos novos da 
doença no mundo. Desses, 29.939 (93%) 
ocorreram na região das Américas e 27.864 foram 
notificados no Brasil. 
Diante desse cenário, o Brasil é classificado como 
um país de alta carga para a doença, ocupando 
o segundo lugar na relação de países com maior 
número de casos no mundo, atrás apenas da 
Índia. 
NACIONAL 
Entre os anos de 2015 e 2019, foram 
diagnosticados no Brasil 137.385 casos novos de 
hanseníase. 
Destes, 75.987 ocorreram no sexo masculino 
(55,3%). 
A maior frequência foi observada em pardos, com 
58,7%, seguido dos brancos, que representaram 
24,3%. 
Na variável escolaridade, houve predomínio dos 
casos novos de hanseníase em indivíduos com 
ensino fundamental incompleto (42,2%) no Brasil. 
Dados preliminares de 2020 mostram que o Brasil 
diagnosticou 13.807 casos novos de hanseníase, 
sendo 672 (4,9% em menores de 15 anos). 
MINAS GERAIS 
No período de 2016 a 2020, foram notificados 
5.044 casos novos de Hanseníase no estado de 
Minas Gerais. 
Quando comparamos 2020 com o ano de 2019, a 
queda no número de casos foi de 
aproximadamente 37%. Como um dos principais 
fatores para essa queda, provavelmente está a 
pandemia de Covid-19, que trouxe a necessidade 
de priorização das atividades das equipes de 
saúde e redução das atividades presenciais 
devido a necessidade de distanciamento social. 
Entre os 5.044 casos notificados no período de 
2016 a 2020, a maior parte (2.833 casos novos) 
ocorreram no sexo masculino (56,2%). O restante 
dos casos (2.211 casos novos), foram registrados 
no sexo feminino, que corresponde a 43,8% 
Com relação à escolaridade, observamos que a 
maior proporção de casos ocorre entre pacientes 
que possuem de 1ª a 4ª série do ensino 
fundamental incompleto, seguido pela 5ª a 8ª série 
do ensino fundamental incompleta. 
AGENTE ETIOLÓGICO 
O Mycobacterium leprae é um bacilo álcool-
ácido resistente (BAAR), fracamente gram-
positivo. Além disso, é um parasito 
intracitoplasmático de macrófagos e apresenta 
trofismo pelas células de schwann. 
É uma bactéria que possui uma alta infectividade, 
mas baixa virulência e patogenicidade. 
Após a invasão orgânica, esse bacilo vai entrar em 
incubação em cerca de 2 a 5 anos. 
TRANSMISSÃO 
O homem é considerado a única fonte de 
infecção da hanseníase, o único reservatório 
natural, então para ser transmitido deve haver 
contato direto com pessoas doentes. 
O que se acredita é que o bacilo é transmitido 
principalmente pelo ar (eliminado em grande 
quantidade pelas vias aéreas superiores: 185000 
bacilos em 10 min de fala), e essa transmissão 
ocorre principalmente após contatos íntimos e 
prolongados com o portador (50% do contágio em 
países endêmicos acontece com pessoas que 
convivem intimamente com portadores). 
M. leprae tem alta infectividade e baixa 
patogenicidade, ou seja, infecta muitas pessoas, 
mas apenas poucas adoecem por tratar-se de 
bacilo pouco tóxico. 
Profissionais de saúde envolvidos nos cuidados da 
pessoa com hanseníase não apresentam maior 
risco de infecção. 
 
3 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV 
 Soluções de continuidade na pele eventualmente 
podem ser porta de entrada da infecção. 
Secreções orgânicas como leite, esperma, suor e 
secreção vaginal podem eliminar bacilos, mas 
não possuem importância na disseminação da 
hanseníase. 
O período de incubação varia de 2-40 anos, mas 
em geral é de 2-5 anos, isso ocorre porque a 
reprodução do bacilo é binária simples a cada 14 
dias, demorando mais pra que a carga bacilar 
cause manifestações clínicas. 
O tempo de transmissibilidade é determinado pelo 
início da doença até a primeira dose de 
rifampicina. 
FISIOPATOLOGIA 
Após a infecção, o bacilo vai ser fagocitado por 
macrófagos e vai haver a apresentação às células 
T em associação com complexo de 
histocompatibilidade principal (MHC) classes I e II. 
Nesta etapa, há interação entre o macrófago e 
os linfócitos T, capazes de reconhecer o 
antígeno através de receptores de superfície, 
desencadeando a resposta imune celular. 
A partir daí, vai haver diferentes padrões de 
reações de reposta do hospedeiro que vai definir 
a forma de apresentação da hanseníase. 
Padrão Th1: O hospedeiro vai desenvolver uma 
resposta imune celular efetiva, com formação de 
granulomas e lise bacilar associado a produção 
de citocinas (IL-2, IFN-γ e TNF- α),responsáveis 
pela manutenção da resposta imune celular. 
Padrão Th2: é meio que o oposto do que 
acontece no Th1. Então, não vai haver uma 
resposta celular efetiva e nem a formação de 
granulomas, havendo a multiplicação intracelular 
dos bacilos em macrófagos, associadas à 
liberação de citocinas supressoras de macrófagos 
(IL-4, IL-10). 
A M. leprae pode apresentar mecanismos de 
escape à oxidação intramacrofágica, pela 
produção dos antígenos PGL1 e LAM 
(lipoarabinomanana), com função supressora da 
ativação de macrófagos, proporcionando 
condições para que o bacilo fique protegido no 
citoplasma desta célula, multiplicando-se e 
formando globias (Células de Virchow) 
Além disso, o modo de resposta que esse 
hospedeiro vai agir ao patógeno, está controlado 
por alguns fatores próprios desse hospedeiro como 
alguns fatores do sistema HLA e alguns 
polimorfismos gênicos. 
Há uma maior associação da presença do HLA-
DR3 na formação da forma tuberculoide e a 
presença do HLA- DQ1 e a ocorrência da forma 
virchowiana 
RESPOSTA IMUNOLÓGICA TH1 E TH2 
Linfócitos T CD4+ são subdivididos em Th1 e Th2, 
com atividades imunorreguladoras específicas, 
que são mediadas pelas citocinas. 
Th1: produz as citocinas IL-2, IFN-γ e TNF-β, 
responsáveis pela manutenção da resposta imune 
celular. 
IL-2: ativa receptores dos linfócitos CD4+, 
estimulando a formação de clones celulares, 
responsáveis pela manutenção da produção de 
citocinas e, paralelamente, estimulam células NK, 
com ação de potencializar uma maior produção 
de IFN-γ. 
IFN-γ: age sobre macrófagos, estimulando a 
fagocitose e os mecanismos de ativação celular, 
levando a maior produção de TNF-α, que 
incrementa a ativação macrofágica. 
Th2: produz as citocinas IL-4, IL-5, IL-6, IL-8 e IL-10. IL-
4 e IL-10, que são supressoras da atividade 
macrofágica. 
IL-4: estimula linfócitos B, que se tornam produtores 
de imunoglobinas, e mastócitos, que passam a 
produzir mais IL-4, incrementando a resposta 
supressora macrofágica. 
Assim, dependendo da subpopulação de células 
T em atividade, durante o processo inflamatório, 
haverá predominância de mecanismos de 
defesa ou de disseminação da doença, 
RESUMINDO 
A infecção ocorre e 90% das pessoas se curam. 
 
4 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV 
 Quem não se curar vai apresentar a forma 
indeterminada (todo mundo começa com essa 
forma) e também pode se curar. 
Se ele não se curar, e ele tiver uma má resposta 
Th1, ele vai ter muitos bacilos no corpo e vai 
apresentar a forma virchowiana. Já se ele tiver 
uma boa resposta Th1, ele vai ter poucos bacilos 
no corpo e forma vai ser tuberculóide. 
Se ele apresentar uma forma mediana Th1, ele vai 
apresentar a forma dimorfa 
QUADRO CLÍNICO 
Principais sinais e sintomas: 
• Áreas da pele, ou manchas esbranquiçadas 
(hipocrômicas), acastanhadas ou avermelhadas, 
com alterações de sensibilidade ao calor e/ou 
dolorosa, e/ou ao tato; 
• Formigamentos, choques e câimbras nos braços 
e pernas, que evoluem para dormência – a 
pessoa se queima ou se machuca sem perceber; 
• Pápulas, tubérculos e nódulos (caroços), 
normalmente sem sintomas; 
• Diminuição ou queda de pelos, localizada ou 
difusa, especialmente nas sobrancelhas 
(madarose); 
• Pele infiltrada (avermelhada), com diminuição 
ou ausência de suor no local. 
Sinais e sintomas menos comuns: 
• Dor, choque e/ou espessamento de nervos 
periféricos; 
• Diminuição e/ou perda de sensibilidade nas 
áreas dos nervos afetados, principalmente nos 
olhos, mãos e pés; 
• Diminuição e/ou perda de força nos músculos 
inervados por estes nervos, principalmente nos 
membros superiores e inferiores e, por vezes, 
pálpebras; 
• Edema de mãos e pés com cianose 
(arroxeamento dos dedos) e ressecamento da 
pele; 
• Febre e artralgia, associados a caroços 
dolorosos, de aparecimento súbito; 
• Aparecimento súbito de manchas dormentes 
com dor nos nervos dos cotovelos (ulnares), 
joelhos (fibulares comuns) e tornozelos (tibiais 
posteriores); 
• Entupimento, feridas e ressecamento do nariz; 
• Ressecamento e sensação de areia nos olhos. 
CLASSIFICAÇÃO 
OMS 
O sistema de classificação da Organização 
Mundial da Saúde (OMS) foi projetado para uso 
em situações nas quais há pouca ou nenhuma 
experiência clínica ou suporte laboratorial, sendo 
baseado no número de lesões cutâneas 
presentes. 
O Brasil também utiliza essa classificação. 
Entretanto, alguns pacientes não apresentam 
lesões facilmente visíveis na pele, e podem ter 
lesões apenas nos nervos (hanseníase 
primariamente neural), ou as lesões podem se 
tornar visíveis somente após iniciado o tratamento. 
CLASSIFICAÇÃO DA HANSENÍASE SEGUNDO A 
OMS 
Hanseníase 
paucibacilar (PB) 
Até 5 lesões cutâneas 
(sem bacilos 
detectáveis em 
esfregaços de pele). 
Hanseníase 
multibacilar (MB) 
Mais de 5 lesões 
cutâneas (pode 
apresentar esfregaço 
cutâneo positivo) 
Contar apenas as lesões cutâneas pode levar à 
classificação incorreta de muitos pacientes com 
hanseníase PB em vez de hanseníase MB, levando 
a subtratamento em alguns casos. 
MADRI 
A classificação de Madri classifica a doença em 
quatro subtipos: hanseníase indeterminada e 
tuberculóide - paucibacilares; dimorfa e 
virchowiana - multibacilares. 
Hanseníase Indeterminada (HI): 
Todos os pacientes passam por essa fase no início 
da doença, entretanto, ela pode ser ou não 
perceptível. 
 
5 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV 
 A lesão de pele geralmente é única, mais clara do 
que a pele ao redor (mancha), não é elevada 
(sem alteração de relevo), apresenta bordas mal 
delimitadas, e é seca (“não pega poeira” – uma 
vez que não ocorre sudorese na respectiva área). 
Há perda da sensibilidade (hipoestesia ou 
anestesia) térmica e/ou dolorosa, mas a tátil 
(habilidade de sentir o toque) geralmente é 
preservada. 
A baciloscopia é negativa. 
Essa fase é não transmissível e não incapacitante. 
A maioria das pessoas com HI evolui para cura 
espontânea, enquanto uma pequena parcela 
permanece com a doença crônica e, após cerca 
de 5 anos, dependendo do padrão de resposta 
imunológica predominante, pode evoluir para as 
diferentes formas do espectro da hanseníase. 
 
Hanseníase Tuberculóide (HT): 
É a forma da doença em que o sistema imune da 
pessoa consegue destruir os bacilos 
espontaneamente. 
Mais frequentemente, manifesta-se por uma 
placa (mancha elevada em relação à pele 
adjacente) totalmente anestésica ou por placa 
com bordas elevadas, bem delimitadas e centro 
claro (forma de anel ou círculo). 
Com menor frequência, pode se apresentar como 
um único nervo espessado com perda total de 
sensibilidade no seu território de inervação. 
Nesses casos, a baciloscopia é negativa e a 
biópsia de pele quase sempre não demonstra 
bacilos, e nem confirma sozinha o diagnóstico 
 
Hanseníase Virchowiana (HV): 
É a forma mais contagiosa da doença. 
O paciente virchowiano não apresenta manchas 
visíveis; a pele apresenta-se avermelhada, seca, 
infiltrada, cujos poros apresentam-se dilatados 
(aspecto de “casca de laranja”), poupando 
geralmente couro cabeludo, axilas e o meio da 
coluna lombar (áreas quentes). 
Na evolução da doença, é comum aparecerem 
caroços (pápulas e nódulos) escuros, endurecidos 
e assintomáticos (hansenomas). 
Quando a doença encontra-se em estágio mais 
avançado, pode haver perda parcial a total das 
sobrancelhas (madarose) e também dos cílios, 
além de outros pelos, exceto os do couro 
cabeludo. 
A face costuma ser lisa (sem rugas) devido a 
infiltração, o nariz é congesto, os pés e mãos 
arroxeados e edemaciados, a pele e os olhos 
secos. 
O suor está diminuído ou ausente de forma 
generalizada, porém é mais intenso nas áreas 
ainda poupadas pela doença, como o couro 
cabeludo e as axilas.São comuns as queixas de câimbras e 
formigamentos nas mãos e pés, que entretanto 
apresentam-se aparentemente normais. “Dor nas 
juntas” (articulações) também são comuns. 
Espessamento dos lóbulos das orelhas, joelhos, 
cotovelos ou lesões papulonodulares 
acastanhadas indicam grande carga bacilar. 
Os nervos periféricos e seus ramos superficiais 
estão simetricamente espessados, o que dificulta 
a comparação. 
 
6 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV 
 A baciloscopia revela numerosos bacilos, que 
podem estar agrupados na forma de globias. 
 
 
Hanseníase Dimorfa (HD): 
É a forma mais comum de apresentação da 
doença (mais de 70% dos casos). 
Ocorre, normalmente, após um longo período de 
incubação (cerca de 10 anos ou mais), devido à 
lenta multiplicação do bacilo (que ocorre a cada 
14 dias, em média). 
Caracteriza-se, geralmente, por mostrar várias 
manchas de pele avermelhadas ou 
esbranquiçadas, com bordas elevadas, mal 
delimitadas na periferia, ou por múltiplas lesões 
bem delimitadas semelhantes à lesão 
tuberculóide, porém a borda externa é 
esmaecida (pouco definida). 
Há perda parcial a total da sensibilidade, com 
diminuição de funções autonômicas (sudorese e 
vasorreflexia à histamina). 
É comum haver comprometimento assimétrico de 
nervos periféricos, as vezes visíveis ao exame 
clínico 
A baciloscopia da borda infiltrada das lesões é 
frequentemente positiva, exceto em casos raros 
em que a doença está confinada aos nervos. 
 
 
REAÇÕES HANSÊNICAS 
são complicações inflamatórias agudas que se 
apresentam como emergências médicas, sendo a 
principal causa de morbidade e incapacidade 
neurológica, podendo surgir antes, durante ou 
depois do tratamento poliquimioterápico 
A Reação Tipo 1 ou Reação Reversa caracteriza-
se por exacerbação de lesões preexistentes, por 
meio de hiperestesia, eritema, edema e posterior 
descamação. 
Na evolução, lesões pré-existentes podem ulcerar 
e também podem ser visualizadas novas lesões. 
A neurite é frequente e pode levar a danos neurais 
múltiplos e graves, resultando em deformidades e 
perda de função. 
 
A Reação Tipo 2, também chamada de eritema 
nodoso hansênico (ENH) ocorre nas formas 
Virchowiana e Dimorfa-Virchowiana, com maior 
frequência após o início do tratamento 
(aproximadamente após 6 meses). 
Caracteriza-se por nódulos eritematosos, 
dolorosos, que podem ulcerar e evoluir com 
necrose e acometer todo o tegumento. 
Sintomas sistêmicos como febre, artralgia e fadiga, 
associados ao aumento de provas inflamatórias, 
podem estar presentes. 
 
7 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV 
 
 
DIAGNÓSTICO 
O diagnóstico de hanseníase é essencialmente 
clínico e epidemiológico, sendo realizado por 
meio da análise da história, das condições de vida 
do indivíduo e do exame dermatoneurológico. 
Diante da suspeita de hanseníase, o exame deve 
incluir avaliação dermatológica de todo o corpo 
na busca de lesões de pele, além da sua 
caracterização. 
Além disso, deve ser realizado um exame 
neurológico avaliando função, força e palpação 
de nervos (avaliar alterações de tamanho e/ou 
sensibilidade e presença de espessamentos) 
Um exame sensorial de lesões de pele também 
deve ser realizado (avaliar sensibilidade térmica, 
seguida da dolorosa e, por fim, da tátil) 
O diagnóstico é estabelecido definitivamente 
quando pelo menos uma das características a 
seguir encontra-se presente, com ou sem história 
epidemiológica: 
• Lesão(ões) e/ou área(s) da pele com alteração 
de sensibilidade; 
• Acometimento de nervo(s) periférico(s), com ou 
sem espessamento, associado a alterações 
sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas; 
• Baciloscopia positiva de esfregaço intradérmico 
EXAME HISTOPATOLÓGICO (BIÓPSIA DE PELE) 
Realizado a partir de material da biópsia coletada 
de lesão cutânea ou fragmento de nervo. 
A interpretação desses achados deverá ser 
realizada de acordo com o quadro clínico do 
paciente 
Hanseníase indeterminada: encontra-se, na 
maioria dos casos, um infiltrado inflamatório que 
não confirma o diagnóstico de hanseníase. A 
procura de bacilos (BAAR) é quase sempre 
negativa. 
Hanseníase tuberculoide: encontra-se um 
granuloma do tipo tuberculóide (ou epitelióide) 
que destrói pequenos ramos neurais, agride a 
epiderme e outros anexos da pele. A procura de 
bacilos (BAAR) é negativa 
Hanseníase virchowiana: infiltrado histiocitário 
xantomizado ou macrofágico e a pesquisa de 
bacilos mostra incontáveis bacilos dispersos e 
organizados em grumos (globias). 
Hanseníase dimorfa: infiltrado linfo-histiocitário, 
que varia desde inespecífico até com a formação 
de granulomas tuberculóides; a baciloscopia da 
biópsia é frequentemente positiva, sobretudo nos 
nervos dérmicos e nos músculos lisos dos pelos 
Obs: Resultados negativos para baciloscopia da 
biópsia NÃO excluem o diagnóstico clínico da 
hanseníase. 
BACILOSCOPIA DE RASPADO INTRADÉRMICO 
Consiste na pesquisa de BAAR no esfregaço da 
linfa coletada de áreas suspeitas. 
Na ausência de lesões cutâneas, a baciloscopia 
pode ser coletada dos lóbulos das orelhas, dos 
cotovelos ou dos joelhos. 
Paciente paucibacilar (hanseníase indeterminada 
ou tuberculóide): baciloscopia é negativa. 
Obs: Caso seja positiva, reclassificar o doente 
como MB. 
Paciente multibacilar (hanseníase dimorfa e 
virchowiana) : baciloscopia normalmente é 
positiva. 
Obs: Caso seja negativa, levar em consideração o 
quadro clínico para o diagnóstico e classificação 
desse doente. 
PROVA DA HISTAMINA 
A prova de histamina exógena consiste numa 
prova funcional para avaliar a resposta 
vasorreflexa à droga, indicando integridade e 
viabilidade do sistema nervoso autonômico de 
 
8 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV 
 dilatar os vasos cutâneos superficiais, o que resulta 
no eritema. 
Como resposta ao difosfato de histamina 1,5%, em 
áreas normais, são esperados três sinais típicos que 
caracterizam a tríplice reação de Lewis: 
1. Sinal da punctura: lesões puntiformes 
avermelhadas que surgem quase que imediato 
(até 15 segundos) à escarificação por agulha de 
insulina dentro da gota aplicada sobre a área 
hipocrômica; 
2. Eritema reflexo: eritema que atinge de 2 a 8cm 
ao redor da área com limites fenestrados 
percebido a partir de 30 a 60 segundos após a 
escarificação; 
3. Pápula: caracteriza-se por lesão intumecida 
lenticular que surge após 2 a 3 minutos no local da 
punctura/escarificação. 
 
A prova de histamina endógena também permite 
avaliar a função vascular por meio da liberação 
de histamina endógena que consiste em traçar 
uma reta na pele do paciente utilizando-se de um 
instrumento rombo (tampa de caneta 
esferográfica, cotonete, chave, etc). Deve-se 
ficar atento às mesmas fases descritas acima, 
esperando-se um eritema reflexo linear e 
homogêneo de 0,5 a 1cm de largura junto ao 
traço. Nas lesões de hanseníase, esse eritema não 
acontece internamente e as manchas se tornam 
mais definidas em contraste ao eritema externo 
intenso. 
 
REAÇÃO DE MITSUDA 
Não é diagnóstico 
Avalia a capacidade do indivíduo em elaborar 
uma resposta imune aos antígenos do bacilo. 
É uma intradermorreação tardia à inoculação de 
solução de bacilos mortos pelo calor. 
A leitura é feita no 28º dia e é considerada positiva 
se o diâmetro for maior que 5mm. 
É negativa na forma virchowiana e positiva na 
tuberculoide. 
Na forma dismorfa pode ser positiva se tender à 
tuberculoide e negativa se tender à virchowiana. 
Indivíduos não expostos à hanseníase podem 
apresentar Mitsuda positivo 
TRATAMENTO 
O MS da saúde passou recomendar que, a 
partir de setembro de 2020, todos os novos 
casos de PB e MB passassem a iniciar esquema 
único de tratamento com 3 drogas (rifampicina, 
clofazimina e dapsona). 
Em 2021,O MS da saúde implementou de fato 
a ampliação do uso da clofazimina para o 
tratamento da hanseníase paucibacilar. 
Desse modo, a partir de 1 de julho de 2021, a 
associação dos fármacos rifampicina + dapsona + 
clofazimina, na apresentação de blísteres para 
tratamento da hanseníase, passou a ser 
denominada “Poliquimioterapia Única – PQT-U”, 
adulto ou infantil, sendo recomendada para o 
tratamento de todos os casos novos de 
hanseníase, tanto paucibacilares quanto 
multibacilares, com diferença apenas na duração 
do tratamento. 
 
 
9 MÓDULO I: FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO 
ANA LUIZA A. PAIVA - TXXV 
 Pacientes com hanseníase com resistência à 
rifampicina: claritromicina, minociclina ou uma 
quinolona (ofloxacina, levofloxacina ou 
moxifloxacina), além de clofazimina diariamente 
por 6 meses, seguidos por clofazimina mais um dos 
medicamentos de segunda linha diariamente por 
mais 18 meses. 
Obs: No caso de resistência à rifampicina e 
ofloxacina, uma quinolona não deve ser 
escolhida; portanto, o esquema recomendado é 
claritromicina, minociclina e clofazimina por 6 
meses, seguido por claritromicina ou minociclina 
mais clofazimina por mais 18 meses 
(recomendação condicional, baseada na 
opinião de especialistas; nenhuma evidência 
recuperada). 
 
TRATAMENTO DOS EPISÓDIOS REACIONAIS 
Episódios reacionais hansênicos não 
contraindicam o início da PQT, não implicam na 
interrupção e nem indicam necessidade de 
reinício da PQT. 
Entretanto, após 5 anos do término do tratamento, 
caso ocorra a apresentação de episódio 
reacional, deve-se pesquisar recidiva ou 
reinfecção e manter a busca de focos ativos intra-
domiciliares. 
Reação hansênica do tipo 1: prednisona 1 
mg/kg/dia via oral ou dexametasona 0,15 
mg/kg/dia 
Em caso de neuralgia, associar antidepressivo 
tricíclico em dose baixa (amitriptilina 25 mg por 
dia), associado a clorpromazina 5 gotas (5 mg) 
duas vezes ao dia, ou a carbamazepina 200 a 400 
mg por dia. 
Reação hansênica tipo 2: iniciar talidomida 100 a 
400 mg/dia via oral, de acordo com a gravidade 
do caso. 
Associar prednisona 1 mg/kg/dia via oral em 
casos de comprometimento dos nervos periféricos 
ou de outros órgãos que não a pele ou se houver 
ulcerações extensas. 
Para neuralgia, utilizar o mesmo esquema 
antiálgico da reação tipo 1. 
PREVENÇÃO DA HANSENÍASE 
A principal forma de prevenir as deficiências e as 
incapacidades físicas, é o diagnóstico precoce. 
A prevenção e o tratamento das incapacidades 
físicas são realizados pelas unidades de saúde, 
mediante utilização de técnicas simples 
(educação em saúde, exercícios preventivos...) 
As medidas de controle da hanseníase incluem o 
manejo clínico dos casos ativos e também o 
manejo dos contatos, ou seja, tratar quem tem a 
doença e examinar os contactantes próximos. 
Fora das áreas endêmicas, nenhum tratamento 
profilático é recomendado. Em áreas endêmicas, 
as diretrizes da OMS recomendam a profilaxia 
(com rifampicina em dose única) para adultos e 
crianças ≥ 2 anos. 
PREVENÇAO DA HANSENÍASE POR USO DE 
IMUNOPROFILAXIA 
A vacinação com BCG é parcialmente protetora 
para hanseníase; uma única dose parece ser 50% 
protetora, e 2 doses aumentam ainda mais a 
proteção. 
• A eficácia da revacinação BCG (segunda dose 
de BCG após uma dose ao nascer) não é clara, 
uma vez que dois grandes ensaios sobre a 
revacinação com BCG mostraram resultados 
conflitantes.

Continue navegando