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CONTABILIDADE DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS AULA 2 Profª Paula Pontes de Campos Rasera CONVERSA INICIAL O objetivo desta aula é apresentar a estrutura conceitual do arrendamento mercantil desde a ótica do arrendatário até a visão do arrendador. Entre outros assuntos, discorreremos sobre a última norma internacional publicada, IFRS 16 (CPC 06 R2), referente ao processo de contabilização das duas classificações de arrendamento mercantil: financeiro e operacional. A legislação brasileira, por meio da Lei 6099/74, alterada pela Lei 7132/83, define o arrendamento mercantil da seguinte forma: Considera-se arrendamento mercantil, para os efeitos desta Lei, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora, segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta. Anteriormente à publicação da IFRS 16 (CPC 06 R2), diversas críticas foram colocadas pela contabilização do arrendamento mercantil, em específico aquele operacional, pois não apresentava disposições ao registro no balanço patrimonial da empresa arrendatária. Com o advento da nova norma, esta situação foi alterada conduzindo ao mesmo tratamento de contabilização ao arrendamento operacional e financeiro. Iniciaremos por arrendamentos mercantis na visão do arrendatário, discorrendo sobre os conceitos e avaliações. Em seguida, versaremos sobre a tomada de decisão em arrendamento mercantil, bem como suas características e impactos fiscais e operacionais nas empresas. Após, retomaremos o tópico arrendamentos mercantis, porém na visão do arrendador mediante suas análises para a operação de leasing. Explicaremos a superveniência e insuficiência de depreciação e, por fim, abordaremos os tópicos das mudanças à vista: o IFRS 16 – arrendamentos. CONTEXTUALIZANDO O arrendamento mercantil tem sido objeto de estudo, reflexão e análise na literatura contábil e financeira. Um dos pontos mais controversos é responder à questão: quais os efeitos do arrendamento mercantil e do financiamento da dívida na estrutura de capital das empresas? Durante as discussões que serão abordadas nesta aula, desenvolveremos aprendizado sobre as operações de leasing (arrendamento mercantil) e habilidades cognitivas para a decisão desta 3 questão dicotômica financeira entre a imobilização do ativo por meio da aquisição ou direito de uso do bem pela operação de arrendamento mercantil. Vamos tratar de diversos aspectos do arrendamento mercantil, iniciando pela particularidade contratual entre três partes (arrendador, arrendatário e fornecedor), daremos enfoque à visão do arrendatário e à visão do arrendatário, discutiremos os pontos essenciais da tomada de decisão neste tipo de operação e outros aspectos importantes operacionais, contábeis e normativos. Diante disso, sugerimos a reflexão sobre os seguintes pontos no decorrer do texto: quais são os diferenciais relevantes que tornam a operação de arrendamento atraente sob a ótica do arrendatário e do arrendador? Quais riscos são reduzidos em uma companhia aérea que possui em sua frota aeronaves arrendadas? Qual a relação entre o leasing e a flexibilidade operacional? A seguir, daremos início aos nossos estudos para responder a todas essas questões. TEMA 1 – ARRENDAMENTOS MERCANTIS NA VISÃO DO ARRENDATÁRIO O arrendamento mercantil, também conhecido como leasing, é uma operação de financiamento que viabiliza o acesso do empresário (arrendatário) a bens de uso necessário ao funcionamento de sua empresa, sem ter que adquiri-los imediatamente. Esta operação é representada por um contrato no qual uma empresa (arrendadora) cede a terceiros (arrendatários) o direito de usar bens de sua propriedade durante um período determinado, o que pode ser visto como uma forma especial de financiamento. Estes bens de uso podem ser imóveis, automóveis, máquinas, equipamentos etc. Essencialmente, nessa modalidade, o arrendatário escolhe o bem conforme suas necessidades e, ao celebrar o contrato de arrendamento mercantil, solicita a compra à arrendadora. Assim, a propriedade do bem é da sociedade arrendadora, enquanto o uso, da empresa arrendatária. Ao final do prazo estabelecido contratualmente, a arrendatária pode solicitar uma prorrogação, devolver o bem à arrendadora ou adquiri-lo pelo preço determinado no contrato de arrendamento. Essas operações são classificadas em leasing financeiro e leasing operacional. A primeira operação tem como característica essencial o financiamento, com a possibilidade de transferência do bem para o arrendatário no final do prazo do contrato, ao passo que a característica da segunda operação 4 é a locação do bem e a devolução deste à arrendadora ao final do prazo contratado, possibilitando que o bem seja novamente arrendado. Ademais, no leasing operacional, as contraprestações da locação não podem ultrapassar 75% do valor do bem, sendo de responsabilidade da arrendadora todas as despesas de manutenção. As operações de arrendamento mercantil são avaliadas por ambas as partes, arrendatário e arrendador. O arrendatário determinará se o arrendamento de um ativo é menos oneroso do que a aquisição, ao passo que o arrendador avaliará se os pagamentos pelo arrendamento proporcionam um retorno esperado sobre o capital investido no ativo arrendado. Nesse contexto, apesar da existência de um grau de incerteza sobre as decisões de arrendamento versus aquisição, podemos considerar a avaliação efetiva de um arrendamento por meio de uma simples análise, conforme sequência descrita a seguir: A tomada de decisão da empresa pela aquisição de um imóvel ou equipamento ocorre por meio de procedimentos regulares do orçamento de capital. O enfoque da análise de arrendamento não está relacionado à decisão em adquirir ou não o ativo em questão, mas, sim, à obtenção do uso da máquina por meio de arrendamento ou compra. Desse modo, entende-se que para o arrendatário, a decisão de arrendamento é apenas uma decisão de financiamento. No entanto, se o custo efetivo do capital obtido pelo arrendamento for substancialmente menor do que o custo da dívida, significa que o custo de capital utilizado na decisão do orçamento de capital teria que ser recalculado e, provavelmente, projetos antes não autorizados pudessem ser aprovados. Os recursos para obtenção do uso do ativo podem ser obtidos a partir do fluxo de caixa gerado internamente, por empréstimos ou pela venda de outros patrimônios. Alternativamente, o ativo pode ser arrendado. Devido à contabilização prevista para as operações de arrendamento, o leasing possui o mesmo efeito na estrutura de capital como empréstimo. As contraprestações pagas periodicamente em uma operação de arrendamento também são efetuadas na operação de financiamento, sendo que o risco de inadimplência no cumprimento de tais obrigações em ambas as operações pode resultar em um processo de falência. Em caso de limite pré-fixado pela empresa para sua estrutura de capital, uma 5 vez estabelecido o valor do leasing, este valor será transferido do orçamento previsto para o financiamento da dívida. Assim, a comparação adequada ao arrendamento mercantil é o financiamento por dívida. Por conseguinte, a análise deve comparar o custo do arrendamento com o custo do financiamento da dívida, independentemente da maneira em que a compra do ativo é financiada realmente. Igualmente, o ativo pode ser adquirido com a disponibilidadeem caixa ou com a disponibilidade pela emissão de novas ações. Contudo, visto que o arrendamento possui o mesmo efeito na estrutura de capital que o financiamento da dívida, a verificação apropriada para fins de avaliação de custos deve ser realizada com o financiamento da dívida. Outro ponto a considerar na visão do arrendatário é o mecanismo de geração da receita. Ora, a geração de receita nas empresas ocorre mediante o emprego de bens físicos, sejam tangíveis ou intangíveis, e não pela propriedade destes. Portanto, é oportuno que a avaliação seja realizada pela operação de arrendamento que financia o uso, sem a necessidade de financiar a compra desse ativo. Ademais, as despesas de depreciação e aluguel se verificam somente com o uso dos bens na geração de produtos e/ou serviços. Nesse contexto, observa-se como risco adicional da imobilização de bens tangíveis a provável obsolescência antecipada. Este seria outro motivo para considerar a operação de leasing, uma vez que os ajustes ao prazo para produção de receitas são realizados conforme avaliações de marketing, e não sob a vida útil do ativo. Devido a tais arranjos contratuais, a operação de arrendamento conduz a riscos menores, e consequentemente a custos esperados inferiores, como custo de capital. Igualmente, há uma vantagem financeira devido à aceleração automática da conversão do valor do bem em despesa, isto é, a transformação da despesa de depreciação em despesa de aluguel. Do mesmo modo, há uma vantagem fiscal, pois em consequência dos prazos menores contratados em relação à vida útil e ao fluxo de caixa do projeto, a despesa se mantém adequadamente vinculada à receita. Ainda nessa perspectiva, pode-se observar que a operação de arrendamento realiza o financiamento do ativo pelo seu valor total, incluindo as despesas necessárias ao seu funcionamento, enquanto na operação de financiamento de dívida, geralmente os bancos realizam o empréstimo limitando 6 a uma porcentagem do valor do bem. Por fim, as condições de pagamento são condizentes à utilização do bem, e não aos recursos disponibilizados pelo arrendador, otimizando a gestão de tesouraria das empresas arrendatárias. Como contabilização do arrendamento mercantil, o arrendatário deve reconhecer o ativo de direito de uso e o passivo de arrendamento na data de início do contrato. Para a mensuração inicial do valor de arrendamento, nesta data de início, o arrendatário deve mensurar o ativo de direito de uso ao custo, o qual deve compreender: (i) o valor da mensuração inicial do passivo de arrendamento; (ii) pagamentos de arrendamento efetuados até a data de início, menos incentivos de arrendamento recebidos; (iii) custos diretos iniciais incorridos pelo arrendatário; e (iv) a estimativa de custos a serem incorridos pelo arrendatário na desmontagem e remoção do ativo subjacente. Ao passo que, no passivo, o arrendatário deve mensurar o arrendamento ao valor presente dos pagamentos do arrendamento que não são efetuados nessa data de início. Em relação aos pagamentos efetuados pelo arrendamento, estes devem ser descontados usando a taxa de juros implícita no arrendamento. Se essa taxa não puder ser determinada imediatamente, o arrendatário deve utilizar a taxa incremental sobre empréstimo do arrendatário. Serão incluídos para a mensuração do passivo de arrendamento os seguintes pagamentos ainda não efetuados até a data do início: pagamentos fixos menos incentivos; pagamentos variáveis que dependem de índice e/ou taxa; garantias de valores residuais; o preço de exercício da opção de compra; e multas por opção de rescindir o arrendamento. Na mensuração subsequente do ativo, o arrendatário deve mensurá-lo aplicando o método de custo: menos qualquer depreciação acumulada e quaisquer perdas acumuladas por redução ao valor recuperável; e corrigido por qualquer remensuração do passivo de arrendamento. Em caso de transferência da propriedade do ativo subjacente ao fim do arrendamento ou no exercício da opção de compra, a depreciação do ativo deverá ser efetuada pelo arrendatário desde a data de início até o fim de sua vida útil. De outro modo, a depreciação deverá ser mensurada desde a data de início até a primeira ocorrência, o fim da vida útil do ativo ou o fim do prazo de arrendamento. Já na mensuração subsequente do passivo de arrendamento, o arrendatário deve mensurá-lo: aumentando o valor contábil para refletir os juros; 7 reduzindo o valor contábil para refletir os pagamentos do arrendamento efetuados; e remensurando o valor contábil para refletir qualquer reavaliação, sejam modificações do arrendamento ou para refletir pagamentos fixos na essência revisados. Em relação aos juros sobre o passivo de arrendamento em cada período, estes correspondem ao valor da taxa de juros periódica constante sobre o saldo remanescente do passivo de arrendamento, sendo que o arrendatário deve reconhecê-los no resultado, salvo se já incluídos em outro ativo. Retomando a questão sobre as principais vantagens do arrendamento mercantil para uma empresa arrendatária, em síntese podemos considerar que a operação de leasing: possibilita a renovação cíclica dos equipamentos em uso pela arrendatária, atendendo às mudanças econômicas, ao mercado e às exigências de novas tecnologias; reduz o risco da empresa arrendatária, abstendo-se dos custos e das dificuldades do processo de imobilização; proporciona flexibilidade operacional e dinamismo aos recursos financeiros da empresa arrendatária, permitindo que estes sejam disponibilizados para outros investimentos e/ou gestão do capital de giro; possibilita benefício fiscal para as empresas arrendatárias em lucro real, em consequência da dedução das contraprestações do contrato de arrendamento para efeitos de cálculo da provisão para o imposto de renda. Embora a operação de arrendamento mercantil apresente todas essas vantagens ao arrendatário, é importante considerar o leasing como uma opção de financiamento além de outras à disposição das empresas arrendatárias, que requerem sempre uma análise criteriosa de suas condições de utilização. Analisaremos essa questão com mais profundidade no próximo tema, sobre a tomada de decisão em arrendamento mercantil. TEMA 2 – TOMADA DE DECISÃO EM ARRENDAMENTO MERCANTIL Um dos pontos relevantes para a tomada de decisão em arrendamento mercantil são os cálculos a realizar para a conferência e validação da operação. No leasing financeiro, o valor residual garantido (VRG) atende aos requisitos 8 necessários para determinar todos os ativos financeiros envolvidos nessa operação. Para determinar o valor residual garantido (VRG), utiliza-se o cálculo do valor residual ótimo (VRO) a fim de verificar os impactos fiscais na arrendadora. Isto é, caso VRG VRO, significa que existem impactos fiscais na arrendadora, ocasionando custos na operação de arrendamento ao cliente. Detalhadamente, podemos explicar que a recuperação do preço à vista numa operação de arrendamento ocorre devido ao recebimento das contraprestações e do preço de opção de compra, mensurado pelo valor residual garantido (VRG). Portanto, uma vez encontrada alguma diferença entre o valor residual ótimo (VRO) e o valor residual garantido (VRG), isso indica que a recuperação será inferior ou superior ao valor do bem arrendado. Na circunstância em que o valor residual garantido (VRG) estiver acima do valor residual ótimo (VRO), a recuperação do valor do bem pelas contraprestações será menor. Por conseguinte, o pagamento do imposto de renda será diferido pela arrendadora, ao passo que, para a arrendatária,o ganho fiscal será menor devido à redução na despesa, exigindo, assim, menor taxa de juros à arrendadora. Em contraponto, se o valor residual garantido (VRG) estiver abaixo do valor residual ótimo (VRO), o resultado da recuperação do valor do bem será maior pelas contraprestações. O efeito disto para a arrendadora será o aumento do imposto renda pela antecipação do lucro, resultando na cobrança de taxas maiores à arrendatária. Na perspectiva da arrendatária, devido à antecipação de despesas, ocorrerá um ganho fiscal. Nesse contexto, a tomada de decisão se verificará ao comparar o custo financeiro do arrendamento com a economia fiscal esperada. Por meio da aplicação da fórmula a seguir, apresentam-se os elementos necessários para o cálculo, conforme as questões discutidas acima. 𝑉𝑅𝑂 = 1 − 𝑛 (0,7 × 𝑡) Em que: VRO = valor residual ótimo; n = prazo do leasing; t = vida útil, conforme regulamento do imposto de renda (RIR/2018); 0,7 x t = prazo de aceleração da depreciação. 9 As circunstâncias determinadas para a aceleração da depreciação que representam as decisões mencionadas são: a) a diferença entre a percentagem do valor das contraprestações vencidas em relação ao valor total das contraprestações e a percentagem do prazo decorrido em relação ao prazo total do contrato devem ser menores ou iguais a 10%; ( 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑝𝑟𝑒𝑠𝑡𝑎çõ𝑒𝑠 𝑣𝑒𝑛𝑐𝑖𝑑𝑎𝑠 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑝𝑟𝑒𝑠𝑡𝑎çõ𝑒𝑠 ) − ( 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑑𝑒𝑐𝑜𝑟𝑟𝑖𝑑𝑜 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑡𝑜 ) ≤ 10% b) a arrendatária seja pessoa jurídica, além de que o prazo da operação seja maior ou igual a 40% do prazo de vida útil do bem. Prazo total do contrato ≥ 40% Prazo de vida útil do bem Para a tomada de decisão da arrendadora sobre realizar uma operação de arrendamento mercantil, pode ser utilizado o conceito de spread, uma vez que, nesse contexto, a posição da arrendadora é de um intermediário financeiro clássico. Lembrando que o cálculo do spread se obtém pela diferença entre a taxa de rentabilidade efetiva da operação ativa e a taxa de custo efetivo da operação passiva. No entanto, a taxa ativa não é demonstrada na operação de arrendamento mercantil, sendo apenas um conceito, e, de igual modo, o retorno do ativo não está absolutamente associado à devolução do recurso. Portanto, a tomada dessa decisão financeira no mercado de leasing é feita pelo cálculo do valor presente da margem da seguinte forma: 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑃𝑟𝑒𝑠𝑒𝑛𝑡𝑒𝑚𝑎𝑟𝑔𝑒𝑚 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐹𝑢𝑡𝑢𝑟𝑜𝑚𝑎𝑟𝑔𝑒𝑚 − 𝑇𝑎𝑥𝑎𝑐𝑎𝑝𝑡𝑎çã𝑜 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐹𝑢𝑡𝑢𝑟𝑜𝑚𝑎𝑟𝑔𝑒𝑚 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐹𝑢𝑡𝑢𝑟𝑜𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 − 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐹𝑢𝑡𝑢𝑟𝑜𝑝𝑎𝑔𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 Em que: o valor presente da margem (VPM) é definido pelo valor futuro da margem (VPF) descontado à taxa de captação (custo de oportunidade); e o valor futuro da margem (VPF) corresponde à diferença entre o valor futuro do fluxo de recebimentos (VFR) originado pelo arrendamento e o valor futuro do fluxo de pagamentos (VFP) oriundo da captação dos recursos. 10 Considerando fluxos de caixa únicos ao final do prazo da operação (prazos iguais na captação e na operação ativa de leasing): 𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑐𝑎𝑝𝑡𝑎çã𝑜 = 25% 𝑎. 𝑎. → 1,88% 𝑎. 𝑚. 𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑎𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎çã𝑜 = 38% 𝑎. 𝑎. → 2,72% 𝑎. 𝑚. 𝑃𝑟𝑎𝑧𝑜 = 2 𝑎𝑛𝑜𝑠 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑎 𝑜𝑝𝑒𝑟𝑎çã𝑜 / 𝑐𝑎𝑝𝑡𝑎çã𝑜 = 𝑅$ 20.000,00 Para efetuar o cálculo, relembremos a fórmula de valor presente e futuro: Valor presente (PV = Present Value) 𝑃𝑉 = 𝐹𝑉 (1 + 𝑖)𝑛 Valor futuro (FV = Future Value) 𝐹𝑉 = 𝑃𝑉 × (1 + 𝑖)𝑛 Em que, FV = valor futuro; PV = valor presente; n = número de períodos de capitalização; i = taxa de juros. Assim, aplicaremos a fórmula do valor futuro para calcular o valor futuro do ativo, como também o valor futuro da captação: 𝐹𝑉 = 𝑃𝑉 × (1 + 𝑖)𝑛 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑓𝑢𝑡𝑢𝑟𝑜 𝑑𝑜 𝑎𝑡𝑖𝑣𝑜 = 20.000 × (1,38)2 = 38.088 𝐹𝑉 = 𝑃𝑉 × (1 + 𝑖)𝑛 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑓𝑢𝑡𝑢𝑟𝑜 𝑑𝑎 𝑐𝑎𝑝𝑡𝑎çã𝑜 = 20.000 × (1,25)2 = 31.250 Uma vez calculado o valor futuro do ativo (R$ 38.088) e o valor futuro da captação (R$ 31.250), procede-se ao cálculo do valor futuro da margem para encontrar o valor presente da margem: 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐹𝑢𝑡𝑢𝑟𝑜𝑚𝑎𝑟𝑔𝑒𝑚 = 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐹𝑢𝑡𝑢𝑟𝑜𝑟𝑒𝑐𝑒𝑏𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 − 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐹𝑢𝑡𝑢𝑟𝑜𝑝𝑎𝑔𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐹𝑢𝑡𝑢𝑟𝑜𝑚𝑎𝑟𝑔𝑒𝑚 = 38.088 − 31.250 = 𝟔. 𝟖𝟑𝟖 Para encontrar o valor presente da margem, calcula-se por meio do valor futuro da margem (R$ 6.838) descontado à taxa de captação (1,25): 11 𝑃𝑉 = 𝐹𝑉 (1 + 𝑖)𝑛 = 6.838 (1 + 0,25)2 = 6.838 (1,25)2 = 6.838 1,5625 = 𝟒. 𝟑𝟕𝟔, 𝟑𝟐 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑃𝑟𝑒𝑠𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑎 𝑀𝑎𝑟𝑔𝑒𝑚 = 𝟒. 𝟑𝟕𝟔, 𝟑𝟐 R$ 4.376,32 é a margem (lucro) a valor presente da arrendadora referente ao pagamento do arrendamento como valor único no prazo de dois anos. 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐹𝑢𝑡𝑢𝑟𝑜 𝑑𝑜 𝐴𝑡𝑖𝑣𝑜 = 20.000 × (1,38)2 = 38.088 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝐹𝑢𝑡𝑢𝑟𝑜 𝑑𝑎 𝐶𝑎𝑝𝑡𝑎çã𝑜 = 20.000 × (1,25)2 = 31.250 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑃𝑟𝑒𝑠𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑎 𝑀𝑎𝑟𝑔𝑒𝑚 = (38.088 − 31.250) ÷ (1,25)2 = 4.376 O próximo exemplo considera o arrendamento também em dois anos, mas a arrendadora recebe o pagamento em mensalidades, em contraprestações de 24 meses. Segue o cálculo para encontrar o valor futuro de cada prestação: 𝑃𝑀𝑇 = 𝑃𝑉 [ (1 + 𝑖)𝑛 × 𝑖 (1 + 𝑖)𝑛 − 1 ] Em que, PMT (payment) = pagamento periódico; PV = valor presente; n = número de períodos de capitalização; i = taxa de juros. 𝑃𝑀𝑇 = 20.000 × [ (1 + 0,0272)24 × 0,0272 (1 + 0,0272)24 − 1 ] = 20.000 × [ (1,0272)24 × 0,0272 (1,0272)24 − 1 ] = 20.000 × [ 1,9042 × 0,0272 1,9042 − 1 ] = 20.000 × [ 0,0518 0,9042 ] = 20.000 × 0,0573 = 𝟏. 𝟏𝟒𝟔, 𝟎𝟎 𝑽𝒂𝒍𝒐𝒓 𝑷𝒓𝒆𝒔𝒕𝒂çõ𝒆𝒔 𝑭𝒖𝒕𝒖𝒓𝒂𝒔 𝒅𝒐 𝑨𝒕𝒊𝒗𝒐 = 𝑹$ 𝟏. 𝟏𝟒𝟔, 𝟎𝟎 O próximo passo é calcular o valor presente das prestações, uma vez que se conhece o valor futuro. Assim, aplica-se a fórmula do pagamento periódico: 𝑃𝑀𝑇 = 𝑃𝑉 [ (1 + 𝑖)𝑛 × 𝑖 (1 + 𝑖)𝑛 − 1 ] 1.146,00 = 𝑃𝑉 × [ (1 + 0,0188)24 × 0,0188 (1 + 0,0188)24 − 1 ] = 𝑃𝑉 × [ (1,0188)24 × 0,0188 (1,0188)24 − 1 ] = 𝑃𝑉 × [ 1,5636 × 0,0188 1,5636 − 1 ] = 𝑃𝑉 × [ 0,0293 0,5636 ] = 𝑃𝑉 × [0,0520] 12 𝑃𝑉 = [ 1.146 0,052 ] = 𝟐𝟐. 𝟎𝟑𝟖, 𝟒𝟔 𝑽𝒂𝒍𝒐𝒓 𝑷𝒓𝒆𝒔𝒆𝒏𝒕𝒆 𝒅𝒂𝒔 𝑷𝒓𝒆𝒔𝒕𝒂çõ𝒆𝒔 = 𝑹$ 𝟐𝟐. 𝟎𝟑𝟖, 𝟒𝟔 𝑉𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑃𝑟𝑒𝑠𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑎 𝑀𝑎𝑟𝑔𝑒𝑚 = (𝑅$ 22.038,46 − 𝑅$ 20.000,00) 𝑽𝒂𝒍𝒐𝒓 𝑷𝒓𝒆𝒔𝒆𝒏𝒕𝒆 𝒅𝒂 𝑴𝒂𝒓𝒈𝒆𝒎 = 𝑹$ 𝟐. 𝟎𝟑𝟖, 𝟒𝟔 O resultado de R$ 2.038,46 é a margem (lucro) a valor presente da arrendadora referente ao pagamento do arrendamento em 24 contraprestações. Logo, pode-se concluir que em ambos os exemplos, prazo único de 2 anos e/ou contraprestações de 24 meses, o spread calculado da operação de arrendamento mercantil nas condições acima concedidas (taxa de aplicação, taxa de captação e prazo) teve resultado positivo para a arrendadora. Dessa maneira, sob a visão da arrendadora, a tomada de decisão será realizada mediante o cálculo de valor presente demonstrado nos exemplos. Para avaliação sob a perspectiva da arrendatária, a tomada de decisão abrange questões como a aquisição à vista do bem, emissão de títulos, contrair financiamento de dívida ou realizar a operação de arrendamento mercantil. Considerando o valor do dinheiro no tempo, as inferências a serem feitas neste tipo de decisão financeira referem-se à imobilização do bem por sua aquisiçãoe o tratamento fiscal diferenciado para a operação de arrendamento. Um dos modelos que compara a operação de arrendamento com o valor do ativo no momento da aquisição denomina-se Modelo MDB, elaborado por Myers, Dill e Bautista (1976). Esse modelo, inspirado na dualidade arrendar versus comprar/financiar, utiliza o valor presente do custo do financiamento aplicado ao fluxo de caixa da operação de arrendamento, comparando ao valor do bem no ato da compra. 𝑁𝑃𝑉 = 𝐴0 − ∑ 𝐿𝑡(1 − 𝑇) + 𝐷𝑡(𝑇) (1 + 𝑟)𝑡 − 𝑁 𝑡=1 ∑ 𝑅𝑡 (1 + 𝑟)𝑡 𝑁 𝑡=1 Em que: NPV = valor presente líquido da operação de leasing; A0 = valor do ativo no momento inicial; L0 = contraprestação no momento t; T = alíquota do IR; 13 Dt = depreciação no momento t; r = custo da dívida alternativa após IR; Rt = pagamento do valor residual; t = prazo de arrendamento. Nessa equação, observa-se que o fluxo diferencial ou fluxo incremental (diferença matemática entre o fluxo de compra e o fluxo de leasing), representado pelo NPV (valor presente líquido da operação de leasing), se define como a diferença entre os fluxos esperados do bem arrendado e a opção pela compra à vista do bem. A seleção entre duas opções de valores líquidos uniformes pode ser efetuada por meio da análise incremental (ou diferencial), dado que nessa análise calcula-se a diferença entre os valores uniformes líquidos das opções apresentadas. Caso o resultado dessa diferença demonstre um valor positivo, nulo ou negativo, ele revela que a primeira opção (minuendo) é, respectivamente, melhor, igual ou pior que a segunda (subtraendo). Pode-se escolher como minuendo qualquer uma das opções. Portanto, percebe-se que a finalidade da análise de fluxos incrementais é proporcionar um parâmetro de escolha ao melhor fluxo na ausência de determinada taxa de juros, o que impossibilita o emprego do valor presente. Desse modo, temos: Fluxo diferencial (incremental) = {[opção de leasing] – [opção de compra à vista]} No fluxo diferencial, desconta-se a taxa livre referente aos financiamentos de igual período e os efeitos tributários, conduzindo ao valor presente cada uma das opções. Dessa maneira, caso o valor presente líquido da operação de leasing (NPV) seja > 0, a opção adequada é a operação de arrendamento, visto que o custo a valor presente é inferior ao custo da compra à vista. Por outro lado, se o resultado demonstra que o NPV < 0, a opção apropriada é pela compra do bem. Os somatórios no modelo correspondem ao valor presente do custo do leasing. Logo, caso seja negativo o resultado, não se aceita o leasing. Por último, na opção pela compra do ativo, a tomada de decisão para efetuar a compra por meio de um empréstimo ou à vista, é necessário calcular o custo de oportunidade dos recursos próprios para compará-lo ao custo do empréstimo. Se o resultado indicar que o custo do capital próprio for inferior ao empréstimo após imposto de renda, a opção adequada é pela compra à vista. 14 Em suma, a variável relevante para a tomada de decisão é o efeito fiscal da operação de arrendamento mercantil confrontado à diferença obtida entre a taxa de arrendamento e a taxa do empréstimo. Assim, se o resultado da diferença entre a taxa do arrendamento e a taxa do empréstimo for reduzida, o leasing proporcionará um valor maior à empresa, em consequência dos efeitos fiscais positivos desse tipo de operação. De maneira oposta, se o resultado apresentar diferenças elevadas de taxas, o empréstimo ou financiamento com recursos próprios constituirá maior valor para a empresa. Vamos agora exercitar os conceitos apresentados. Seguem os dados para análise: Valor do bem: R$ 240.000 Taxa leasing = 20% a.a. Taxa empréstimo = 12,5% a.a. Taxa depreciação = 20% a.a. VRG = 40% Alíquota IR = 35% Prazo = 2 anos VRG pago mensalmente Efetuaremos cálculos intermediários para inserção dos valores no modelo MDB. Observe que as taxas indicadas estão no formato anual e deverão ser transformadas para valores mensais. Depreciação (taxa de 20%, 5 anos) = 240.000 60 = 4.000 Ganho fiscal depreciação = 4.000 x 0,35 = 1.400 VRG mensal = 240.000 X 0,40 = 96.000 24 = 4.000 Com o valor da prestação do VRG, podemos calcular o valor presente do valor residual garantido, considerando o período de 24 meses e transformando a taxa anual do leasing em mensal (20% a.a. = 1,531 a.m.). Utilizaremos a fórmula do pagamento periódico ou a HP12C (4.000 PMV, 24n, 1,531 i). 𝑃𝑀𝑇 = 𝑃𝑉 [ (1 + 𝑖)𝑛 × 𝑖 (1 + 𝑖)𝑛 − 1 ] = 4000 = 𝑃𝑉 [ (1 + 0,01531)24 × 0,01531 (1 + 0,01531)24 − 1 ] 4000 = 𝑃𝑉 [ (1,01531)24 × 0,01531 (1,01531)24 − 1 ] = 𝑃𝑉 [ 1,44 × 0,01531 1,44 − 1 ] = 𝑃𝑉 [ 0,022 0,440 ] 4000 = 𝑃𝑉(0,05) 15 𝑃𝑉 = 𝑹$ 𝟖𝟎. 𝟎𝟎𝟎; é 𝑜 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑝𝑟𝑒𝑠𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑜 𝑉𝑅𝐺. 𝐴𝑜 𝑑𝑒𝑑𝑢𝑧𝑖𝑟𝑚𝑜𝑠 𝑒𝑠𝑠𝑒 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑐𝑢𝑠𝑡𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑏𝑒𝑚 𝑹$ 𝟐𝟒𝟎. 𝟎𝟎𝟎, 𝑒𝑛𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎𝑚𝑜𝑠 𝑜 𝑠𝑎𝑙𝑑𝑜 𝑟𝑒𝑓𝑒𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑎𝑜 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑝𝑟𝑒𝑠𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑜 𝑏𝑒𝑚 𝑹$ 𝟏𝟔𝟎. 𝟎𝟎𝟎. Assim, procedemos com o cálculo do valor presente das prestações do mesmo modo demonstrado acima, mas dessa vez para encontrar a prestação HP12C (160.000 PV, 24n, 1,531 i). 𝑃𝑀𝑇 = 𝑃𝑉 [ (1 + 𝑖)𝑛 × 𝑖 (1 + 𝑖)𝑛 − 1 ] = 160.000 [ (1 + 0,01531)24 × 0,01531 (1 + 0,01531)24 − 1 ] 𝑃𝑀𝑇 = 160.000 [ 1,44 × 0,01531 1,44 − 1 ] = 160.000 [ 0,022 0,440 ] 𝑃𝑀𝑇 = 160.000 (0,05) = 𝟖. 𝟎𝟎𝟎 Prestação líquida de imposto de renda = 8.000 x 0,65 = R$ 5.200,00 r = {[(1 + 0,125)1/12 – 1] x 0,65} x 100 = 0,64113% (aqui transforma-se a taxa anual do empréstimo em mensal e líquida de imposto) O fluxo do momento zero é : 0 – (–) 240.000,00 = [+] 240.000,00. Fluxos de 1 a 24: {(–) 5.200,00 + (–) 4.000} – [+] 1.400 = (–) 10.600,00 Agora temos todos os dados para calcular o valor presente líquido da operação e verificar qual é a mais adequada. Podemos prosseguir utilizando a HP12C e efetuar o cálculo rapidamente. VP = [+] 240.000 CF0 (–) 10.600 CFj 24Nj 0,64113 i Analisando o resultado do NPV (Net Present Value), conforme dados fornecidos, pode-se verificar que o valor presente líquido da operação de leasing é > 0. Portanto, a opção adequada a escolher é a operação de arrendamento, visto que o custo a valor presente é inferior ao custo da compra à vista. TEMA 3 – ARRENDAMENTOS MERCANTIS NA VISÃO DO ARRENDADOR Conforme definição presente no CPC 06 (R2), arrendador é a entidade que fornece o direito de usar o ativo subjacente por um período de tempo em troca de contraprestação. Na sua visão, o principal objetivo da operação de NPV = 4.902,40 16 arrendamento é a taxa de retorno esperado sobre o capital investido no leasing e, assim, avaliar a viabilidade econômica da operação. Ademais, a análise do arrendador envolve: a definição do desembolso líquido de caixa – valor do equipamento arrendado menos pagamentos de locação feitos antecipadamente; determinar as periódicas entradas de caixa – série de pagamentos pelo uso do ativo deduzidos impostos sobre o rendimento e quaisquer despesas de manutenção que o arrendador deve suportar; estimar o valor residual após impostos da propriedade do ativo quando a concessão expirar; e determinar se a taxa de retorno do arrendamento excede o custo de oportunidade do capital do arrendador ou, equivalentemente, se o valor presente líquido da operação de arrendamento excede zero. No vencimento do contrato de arrendamento, o proprietário do ativo emuso é o arrendador, de forma que o valor residual do ativo pode ser pleiteado pelo proprietário do bem. Em condições de valores residuais elevados, pode-se entender que seria vantajoso ter a propriedade ao contrário do arrendamento. No entanto, os efeitos de valores residuais esperados elevados (ex.: situação de inflação para determinados equipamentos ou setor imobiliário), provocarão no mercado a concorrência entre empresas de arrendamento mercantil e outras fontes de financiamento, ou mesmo a concorrência entre arrendadoras, exercendo influência para a queda das taxas de leasing até que os potenciais valores residuais sejam totalmente reconhecidos no contrato de arrendamento. Assim, a existência de altos valores residuais provavelmente não resultará em custos substancialmente mais altos para o leasing. Por outro lado, as empresas arrendadoras podem oferecer financiamento de arrendamento a um custo menor do que o financiamento de dívida, pois em caso de inadimplência normalmente possuem um posicionamento mais favorável do que os credores, além de estarem em circunstâncias melhores para dispor de equipamentos recuperados do que bancos ou outros credores. A operação de arrendamento desenvolve a possibilidade de boas práticas de governança corporativa, em consequência do reconhecimento da arrendadora pela gestão do ativo, pois este é de sua propriedade. O processo de arrendamento tende a produzir maior transparência, uma vez que a 17 apropriação da depreciação do bem deixa de ser discricionária e passa a ser no resultado. Ademais, o ajuste de taxas, custo de capital e juros da arrendadora se dá por mecanismos de depreciação acelerada, além de proporcionar vantagens. Além disso, o leasing financeiro permite que o arrendador se proteja contra eventuais riscos residuais, por meio da inserção da cláusula de Valor Residual Garantido, ou VRG. Essa cláusula importa na obrigação assumida pelo arrendatário em garantir ao arrendador um valor residual mínimo na operação. No mercado, a prática é estabelecer o VRG equivalente ao risco residual reconhecido na operação, assim, o arrendador não assume risco residual na operação e o arrendatário é compelido a adquirir o bem. O arrendamento mercantil (leasing) é normatizado pelo Conselho Monetário Nacional e controlado e fiscalizado pelo Banco Central do Brasil (Bacen). A Resolução 2.309/96 (Bacen), em seu 1° artigo, determina que as operações de arrendamento mercantil somente podem ser realizadas por pessoas jurídicas que tenham como objeto principal de sua atividade a prática de operações de arrendamento mercantil, pelos bancos múltiplos com carteira de arrendamento mercantil e pelas instituições financeiras que estejam autorizadas a contratar operações de arrendamento com o próprio vendedor do bem ou com pessoas jurídicas a ele coligadas ou interdependentes. Na Resolução 2.309/96, o arrendamento mercantil também é classificado em duas modalidades: financeiro e operacional. Para a classificação, deve-se observar aspectos como a equivalência entre o valor do arrendamento e o preço de aquisição, a responsabilidade pelas despesas de manutenção do bem arrendado e o preço para o exercício da opção de compra. Ainda, na Lei Federal 6.099/774, que dispôs sobre o tratamento fiscal às operações de arrendamento, o § 2º do art. 2° prescreve que somente farão jus ao tratamento previsto nesta Lei as operações realizadas ou por empresas arrendadoras que fizerem dessa operação o objeto principal de sua atividade ou que centralizarem tais operações em um departamento especializado com escrituração própria. Quanto à contabilização, as companhias abertas arrendadoras ainda não aderiram às normas internacionais contábeis, seguindo as instruções do COSIF conforme a Resolução 2.309/96 do Banco Central e a Lei 6.099/74. A título de exemplificação de divergência, o CPC 06 (R1) estabelece que os ativos em 18 arrendamento mercantil financeiro devem ser reconhecidos nos balanços dos arrendadores e apresentados como conta a receber por valor igual ao investimento líquido no arrendamento mercantil. Os ativos sujeitos a arrendamentos mercantis operacionais devem ser apresentados nos balanços de acordo com a natureza do ativo. Já a Lei 6.099/74 dispõe que os bens, objeto do arrendamento mercantil, devam ser registrados no ativo imobilizado das empresas arrendadoras e depreciados nos prazos estabelecidos de acordo com as regras tributárias. Nesse contexto, pode-se observar o fortalecimento da Lei 6.099/74 em relação às normas contábeis internacionais também na prescrição do art. 61 da Lei 11.941/09: A escrituração de que trata o art. 177 da Lei n° 6.404, de 15 de dezembro de 1976, quando realizada por instituições financeiras e demais entidades autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, inclusive as constituídas na forma de companhia aberta, deve observar as disposições da Lei n° 4.595, de 31 de dezembro de 1964, e os atos normativos dela decorrentes. Diante disso, o Banco Central mantém a contabilização divergente dos padrões contábeis internacionais para as sociedades arrendadoras, em decorrência da escrituração das instituições financeiras e demais entidades autorizadas pelo Bacen a operar. Logo, as sociedades de arrendamento mercantil devem observar as disposições da Lei 4.595/64, que criou o Conselho Monetário Nacional, responsável pela normatização sobre operações de arrendamento mercantil. Tal divergência nos procedimentos de contabilização das operações de arrendamento mercantil certamente provocará assimetrias de evidenciação no balanço e relatórios financeiros das arrendadoras e arrendatárias, visto que ambas as partes seguem prescrições normativas sem convergência. As assimetrias são consideradas discrepâncias de informações entre partes envolvidas em uma negociação, neste caso, a arrendadora e a arrendatária possuem diferentes conhecimentos ou informações sobre a transação envolvida. TEMA 4 – SUPERVENIÊNCIA E INSUFICIÊNCIA DE DEPRECIAÇÃO De acordo com os princípios fundamentais da contabilidade, os procedimentos contábeis estabelecidos pela Secretaria da Receita Federal não estão harmonizados em relação à primazia do evento econômico sobre a forma 19 jurídica, em particular ao registro das operações de arrendamento mercantil financeiro que deveriam ocorrer de forma análoga às operações de crédito, por meio do cálculo de valor presente. Nesse cenário, com intuito de reduzir os efeitos dessa prática, de acordo com a Instrução 58/86 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a circular 1.429/89 do Banco Central do Brasil (Bacen), a arrendadora deverá realizar, para cada contrato, o cálculo a valor presente dos fluxos futuros de caixa, utilizando a taxa de retorno determinada, para depois confrontar com o valor contábil calculado da seguinte forma: (+) arrendamentos a receber; (–) rendas a apropriar de arrendamentos a receber; (+) subarrendamentos a receber; (–) rendas a apropriar de subarrendamentos a receber; (+) valores residuais a realizar; (–) valores residuais a balancear; (+) créditos de arrendamentos em liquidação; (–) rendas a apropriar de créditos de arrendamentos em liquidação; (+) bens arrendados; (–) valor a recuperar; (+) valor residual antecipado; (–) depreciação acumulada de bens arrendados; (+) bens não de uso próprio; (+) perdas em arrendamentos a amortizar; (–) amortização acumulada do diferido em perdas em arrendamentos a amortizar; (=) valor contábil. Se for demonstrado um resultado superior comovalor presente para cada contrato em relação ao valor contábil, produzindo um ganho, o pressuposto é de que o ativo e o patrimônio líquido da arrendadora foram subavaliados pela Secretaria da Receita Federal. Nesse sentido, o resultado de tal comparação será contabilizado da seguinte forma: D – superveniência de depreciação; C – rendas de arrendamentos. 20 Em contraposição, se o resultado demonstrar um valor inferior como valor presente de cada contrato em relação ao valor contábil, significando uma perda, o pressuposto é de que o ativo e o patrimônio líquido da arrendadora foram superavaliados pela Secretaria da Receita Federal. Assim, o lançamento contábil desse resultado deverá seguir conforme: D – despesas de arrendamento; C – insuficiência de depreciação. TEMA 5 – MUDANÇAS À VISTA: O IFRS 16 – ARRENDAMENTOS O IFRS 16 (CPC 06 R2), com vigência desde 1° de janeiro de 2019, apresenta definições fundamentais para um íntegro entendimento dessa norma. Arrendamento mercantil (leasing) é “um contrato, ou parte do contrato, que transfere o direito de usar um ativo (ativo subjacente) por um período de tempo em troca de contraprestação” (IFRS, 2019). Arrendador é “a entidade que fornece o direito de usar o ativo subjacente por um período de tempo em troca de contraprestação” e o arrendatário define-se como quem “obtém o direito de usar o ativo subjacente por um período de tempo em troca de contraprestação” (IFRS, 2019). Ao final desse período de tempo pelo uso do ativo, o arrendatário tem a opção de adquirir, devolver ou prorrogar o contrato do ativo. A norma internacional anterior ao IFRS 16, o IAS 17 (CPC 06 R1) indica duas classificações para as operações de arrendamento mercantil, o financeiro e o operacional. A definição de arrendamento mercantil financeiro no IAS 17 representa “aquele em que há transferência substancial dos riscos e benefícios inerentes à propriedade de um ativo. O título de propriedade pode ou não vir a ser transferido” (IFRS, 2019), ao passo que o arrendamento mercantil operacional refere-se a um contrato de aluguel de ativo, “diferente de um arrendamento mercantil financeiro” (IFRS, 2019). Segundo o IAS 17 (CPC 06 R1), o controle do bem pertence ao arrendatário em ambos os casos, porém somente no caso de arrendamento financeiro, o valor do bem arrendado deve ser registrado no ativo imobilizado e a contrapartida no passivo. No entanto, no arrendamento operacional, o arrendatário pode gerenciar o resultado da empresa, postergando o reconhecimento das despesas inerentes à operação e preservando constante seu índice de endividamento, visto que não haverá alterações no valor de seu passivo. 21 Com a vigência da nova norma IFRS 16 (CPC 06 R2), os dois modelos de contabilização do arrendamento entre as duas classificações terminam para a arrendatária. Isto é, todos os arrendamentos, sejam financeiros ou operacionais, serão reconhecidos no balanço patrimonial do arrendatário, havendo registro no ativo pelo uso do bem e registro no passivo para pagamentos futuros – exceção feita somente para contratos com prazo menor que 12 meses ou valor do bem arrendado menor que US$ 5.000,00. As obrigações futuras referentes aos pagamentos do bem arrendado devem ser registradas no passivo pelo valor presente dos pagamentos do arrendamento não efetuados na data da mensuração. Conforme a norma, “os pagamentos do arrendamento devem ser descontados, utilizando a taxa de juros implícita no arrendamento, se essa taxa puder ser determinada imediatamente” (IFRS, 2019). O valor do ativo deve ser registrado pelo valor da mensuração inicial do passivo de arrendamento, os pagamentos de arrendamento devem ser efetuados até a data de mensuração e os custos diretos iniciais devem ser incorridos pelo arrendatário, assim como a estimativa dos gastos necessários para a remoção ou restauração do bem arrendado ao término do contrato. Na Figura 1 estão reportadas as alterações no balanço patrimonial com o IFRS 16 (CPC 06 – R2) em comparação à norma anterior IAS 17 (CPC 06 – R1): Figura 1 – O que mudou com IFRS 16 (CPC 06 – R2) Além das mudanças na posição patrimonial das empresas arrendatárias, haverá mudanças na forma de contabilizar os resultados do exercício. Segundo o IFRS 16 (CPC 06 R2), “o arrendatário deve apresentar despesas de juros sobre o passivo de arrendamento separadamente do encargo de depreciação para o 22 ativo de direito de uso” (IFRS, 2019). A norma também apresenta orientação para divulgação das informações sobre os arrendamentos em curso nas notas explicativas ou seção separada das demonstrações financeiras do arrendatário. Na Figura 2 estão reportadas as alterações no demonstrativo de resultado com o IFRS 16 (CPC 06 – R2) em comparação à norma IAS 17 (CPC 06 – R1): Figura 2 – O que mudou com IFRS 16 (CPC 06 – R2) O escopo da norma IFRS 16 é aumentar a transparência e representação fidedigna das informações contábeis. Percebe-se que as alterações implementadas por essa norma foram maiores às arrendatárias, a começar pela identificação e separação dos componentes de leasing daqueles que não são. Será necessário ainda que o arrendador disponibilize mais informações ao arrendatário, além da definição do prazo de arrendamento (pelo período não cancelável) e a taxa de desconto para reconhecer o passivo a valor presente. As métricas financeiras utilizadas para análise do desempenho da empresa (EBTDA, ROE, ROIC, ROA) sofrerão um impacto considerável pelas mudanças aplicadas. Por conseguinte, os usuários deverão realizar novas estimativas para adequar as condições contratuais e práticas empresariais. Outro desafio a considerar é a subjetividade da norma em relação à mensuração e reconhecimento dos arrendamentos. Por outro lado, a IFRS 16 representa um passo importante para a contabilidade, pois reconhece as operações de arrendamento de acordo com a estrutura conceitual do IASB, ao reportar os eventos econômicos nas demonstrações contábeis. No entanto, ainda que decorrentes de disposições 23 normativas, existem divergências relevantes entre a contabilização do arrendador e arrendatário. Se bem analisarmos, a mesma transação é reconhecida de formas diferentes para as partes envolvidas na operação, causando inconsistência e a impossibilidade na verificação do fato econômico. A Figura 3 reporta um quadro comparativo nos prazos de contratos de arrendamento mercantil e tratamento contábil para cada uma das partes e cada tipo de operação. Figura 3 – Quadro comparativo Fonte: ABEL, 2019. TROCANDO IDEIAS Estamos chegando ao final desta aula. Que tal trocarmos ideias com os colegas sobre os principais aspectos tratados? Para consolidar os conhecimentos adquiridos, vamos realizar uma atividade de fórum. Você deverá articular os conceitos aprendidos sobre os tópicos de arrendamento mercantil, com o intuito de diferenciar a operação de leasing na visão do arrendatário e na visão do arrendador. Reflita: quais são os benefícios da operação de leasing para o arrendatário e para o arrendador? Cite pelo menos três vantagens. Para responder a esse questionamento, inclua sua resposta na plataforma AVA, com base nos temas estudados nesta aula. Essa atividade auxiliará na fixação dos conteúdos estudados. 24 NA PRÁTICA Nesta atividade de cunho prático, o tema de discussão é a superveniência e insuficiência de depreciação, o qual discutimos no Tema 4 desta aula. Com base no texto referente ao tema 4, vamos exercitar na prática a questão da superveniência e insuficiência da depreciação. Calcule o valor doajuste a valor presente da carteira de arrendamentos da empresa Alfa, considerando os dados contábeis a seguir: I. Arrendamentos a receber – R$ 20.000,00 II. Rendas a apropriar de arrendamentos – R$ 20.000,00 III. Bens arrendados – R$ 17.000,00 IV. Depreciação acumulada – R$ 500,00 V. Valor presente da carteira de arrendamento: R$ 15.000,00 O ajuste a realizar é de superveniência ou insuficiência? E qual será o valor do ajuste? Resolução Para efetuar o cálculo a valor presente dos fluxos futuros de caixa de cada contrato, utiliza-se a taxa de retorno estabelecida e se efetua a comparação com o valor contábil. Conforme Instrução 58/86 da CVM e Circular 1429/89 do BCB, procede-se da seguinte forma para apuração do valor contábil e sucessiva contabilização: (+) Arrendamento a receber R$ 20.000,00 (–) Rendas a apropriar de arrendamentos a receber R$ 20.000,00 (+) Bens arrendados R$ 17.000,00 (–) Depreciação acumulada de bens arrendados R$ 500,00 = Valor contábil R$ 16.500,00 Valor presente da carteira de arrendamento R$ 15.000,00 Neste caso, observa-se que o valor presente da carteira de arrendamento é inferior ao valor contábil apurado, significando perda. Isso corresponde a uma superavaliação do ativo e do patrimônio líquido da arrendadora. Assim, o ajuste a realizar é de insuficiência no valor de R$ 1.500,00. D – despesas de arrendamento: R$ 1.500,00 C – insuficiência de depreciação: R$ 1.500,00 25 FINALIZANDO Esta aula nos auxiliou a adentrar ao mundo financeiro e contábil das operações de arrendamento mercantil em suas duas classificações, financeiro e operacional, e compreender a visão de ambas as partes envolvidas, o arrendatário e arrendador. Ainda, discutimos alguns tópicos fundamentais para a tomada de decisão em arrendamentos mercantis, demonstrando, por meio de equações a valor presente e do modelo MDB, qual melhor tomada de decisão a escolher para cada operação. Assim, nos três primeiros temas desta aula, foram apresentadas as perspectivas do arrendatário e do arrendador para a efetiva execução da operação de leasing, validando por meio da análise quantitativa sobre os aspectos fundamentais da tomada de decisão nas operações de arrendamento mercantil. Nos dois últimos temas, o enfoque esteve na prática contábil e normativa com o novo dispositivo da norma internacional. No tema 4, foi apresentada a prática contábil para minimizar os efeitos dos procedimentos requeridos pela Receita Federal. E, no último tema, apresentamos a norma internacional IFRS 16 (CPC 06 R2), colocando as diferenças com o IAS 17 (CPC 06 R1). 26 REFERÊNCIAS 2019: o que muda com a implementação do IFRS 16 – CPC 06 (R2). ABEL, 2019. Disponível em: <http://www.leasingabel.com.br/wp- content/uploads/2018/12/info_abel_205_v19.pdf>. Acesso em: 28 set. 2019. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br/>. Acesso em: 28 set. 2019. INTERNATIONAL financial reporting standards. IFRS 16 Leases. IFRS, 2019. Disponível em: <https://www.ifrs.org/-/media/project/leases/ifrs/published- documents/ifrs16-effects-analysis.pdf>. Acesso em: 28 set. 2019. MYERS, S. C.; DILL, D. A.; BAUTISTA, A. J. Valuation of financial lease contracts. The Journal of Finance, 31(3), 799-819, 1976.
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