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COSMOVISÃO BÍBLICO-CRISTÃ COSMOVISÃO BÍBLICO-CRISTÃ São Paulo | 2014 CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO FUNDADO EM 1915 — W W W.UNASP.EDU.BR S939c SUÁREZ, Adolfo S. Cosmovisão Bíblico-Cristã. /Adolfo S. Suárez. São Paulo: Delinea; Centro Universitário Adventista de São Paulo, 2014. 78 p. il. Curso de Tecnologia em Processos Gerenciais ISBN 978-85-69315-02-5 1. Comunicação. 2. Processo da comunicação. 3. Habilidades comunicacionais. 4. Coerência textual. I. Curso de Tecnologia em Processos Gerenciais. II. Título. CDU 113/119:22 ADMINISTRAÇÃO DA ENTIDADE MANTENEDORA (IAE) Diretor-Presidente Domingos José de Souza Diretor Administrativo Élnio Álvares de Freitas Diretor Secretário Emmanuel Oliveira Guimarães ADMINISTRAÇÃO GERAL DO UNASP Reitor Euler Pereira Bahia Pró-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Tânia Denise Kuntze Pró-Reitora de Graduação Sílvia Cristina de Oliveira Quadros Pró-Reitor Administrativo Élnio Álvares de Freitas Secretário Geral Marcelo Franca Alves CAMPUS VIRTUAL Diretor Geral Valcenir do Vale Costa Coordenadora de Projetos Andressa Jackeline de Oliveira Mario e Paiva Coordenador do Curso Demetrius Saraiva Gomes Designer Educacional Erling Walter Quiaper Simeon Conteudista Adolfo S. Suárez PRODUÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO DELINEA TECNOLOGIA EDUCACIONAL Diretoria Executiva Charlie Anderson Olsen Larissa Kleis Pereira Margarete Lazzaris Kleis Supervisora de Conteúdo Renata Oltramari Supervisora de Mídias Didáticas Denise Meinhardt Supervisora de LMS Rafaela Comarella Coordenação de Conteúdo Simone Dias Coordenação de Design Gráfico Cassiana Mendonça Pottmaier Projeto Gráfico Cassiana Mendonça Pottmaier Fernando Andrade Designer Educacional Simone Regina Dias Revisão Gramatical Eloisa M. Seemann Simone Regina Dias Diagramação Nara Azevedo SUMÁRIO CAPÍTULO 1 – COMPREENDENDO O MUNDO ....................................... 8 1.1 Cosmovisões: compreendendo a realidade que nos cerca ................................... 10 1.2 Por que precisamos de uma Cosmovisão? ........................................................... 15 CAPÍTULO 2 – A BÍBLIA: FONTE DE INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE ............................................................................... 24 2.1 A Bíblia como revelação de Deus ........................................................................ 26 2.2 Fique tranquilo: podemos confiar na Bíblia! ....................................................... 34 CAPÍTULO 3 – DEUS: FONTE DA VIDA ............................................... 42 3.1 A existência de Deus ........................................................................................... 44 3.2 Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo .......................................................... 49 CAPÍTULO 4 – COSMOVISÃO NA PRÁTICA ......................................... 61 4.1 Como me relacionar com Deus? .......................................................................... 63 4.2 Como estudar a Bíblia? ....................................................................................... 68 6C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã CONHEÇA A DISCIPLINA Querido(a) estudante, todos nós cultivamos uma visão de mundo, um modo específico de viver e de encarar os diversos aspectos que compõem o nosso dia a dia. É essa visão de mundo que nos ajuda a responder, por exemplo, alguns dilemas próprios de seres pensantes: • É correto mentir para salvar uma pessoa? • Contar a verdade é mais importante do que salvar vidas? • Pode-se roubar para ajudar outros? • Tudo o que há neste universo é apenas o que enxergamos com os nossos olhos? • O que acontece com o ser humano após a morte? As respostas a essas e outras perguntas fundamentais são condicionadas pela Cosmovisão que adotamos, nossa visão de mundo. Certamente, en- tão, é muito importante estudar esse assunto, independente de nossa for- mação profissional, porque constantemente nos deparamos com questões como essas, e uma resposta adequada a elas nos ajudará a viver de modo consistente e coerente. Dito isto, seja bem-vindo à disciplina Cosmovisão Bíblico-Cristã (CBC), a qual conduzirá você por reflexões que lhe permitirão compreender e analisar melhor a realidade da vida. Como parte de nosso estudo, vamos nos deparar com temas como a diversidade de cosmovisões, existência de Deus, a vida de Jesus Cristo e a confiabilidade da Bíblia. Desejamos que esta jornada seja uma rica experiência acadêmica e exis- tencial, e que ao final dela você compreenda melhor aquilo que é a essên- cia da vida: nossa capacidade de escolher adequadamente qual visão de mundo vamos assumir a fim de não apenas existir, mas viver. Bons estudos! 7C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã EMENTA A existência de Deus e sua revelação através da Bíblia, Jesus Cristo e da natureza. CAPÍTULO 1 COMPREENDENDO O MUNDO Objetivo Compreender o significado e natureza das principais Cosmovisões, bem como sua necessidade e utilidade. 9C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã NOSSO TEMA Neste capítulo, você conhecerá e compreenderá as principais Cosmovi- sões que nos ajudam a interpretar a realidade que nos cerca. Este conhe-cimento é importante para entender nosso próprio modo de viver, e as consequências de fazer escolhas, influenciado por esta ou aquela ideologia. Além disso, o outro aspecto importante de nosso estudo consistirá em re- fletir sobre a necessidade e utilidade dessas Cosmovisões; responderemos a perguntas do tipo: de que modo as Cosmovisões são imprescindíveis na minha vida? Qual a utilidade delas pessoalmente? Faz diferença adotar uma ou outra Cosmovisão? Não é melhor ficar neutro, não adotando nenhuma delas? 10C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã TÓPICOS DE ESTUDO Neste capítulo, vamos tratar basicamente de dois temas correlatos: as di- versas Cosmovisões, e sua utilidade em nossa vida diária. Vamos adiante?! 1.1 Cosmovisões: compreendendo a realidade que nos cerca O filósofo Norman Geisler e o escritor Peter Bocchino (2003, p. 85-86) contam a seguinte estória. Dois homens caminhavam por uma floresta quando subitamente se depararam com uma esfera de vidro sobre o tapete de limo verde. Não havia nenhum outro som além do barulho dos passos deles, e certamente não havia sinal da presença de outras pessoas. Mas am- bos percebiam que a dedução mais óbvia da evidência da esfera era que alguém a colocara ali. Um desses homens era um cientista cético, treinado na concepção moderna das origens, e o outro era um leigo. O leigo questionou: E se essa esfera fosse maior, talvez de três metros de diâmetro, você ainda diria que alguém a colocou aqui? Naturalmente, o cientista concordou que uma esfera maior não afe- taria seu julgamento. Ele continuaria acreditando que alguém a co- locara ali. - Bem, o que aconteceria se a esfera fosse enorme – uns dois quilô- metros de diâmetro? – indagou o leigo. O amigo cientista cético respondeu não somente que alguém a teria posto ali, mas também que se faria uma investigação para descobrir o que levou esse alguém a fazer isso. O leigo então se aventurou a mais uma pergunta: O que aconteceria se a esfera fosse tão grande quanto o universo? Ainda assim ela precisaria de uma causa? Alguém a teria colocado ali? Claro que não – retrucou o cético – O universo simplesmente está aí! C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 11 O QUE É UMA COSMOVISÃO? O que fez a diferença entre a suspeita do leigo e a certeza do cientista cético não foi necessariamente o título acadêmico; a diferença está na Cosmovisão de cada um. Mas, afinal, o que é uma Cosmovisão? É uma espécie de “lente” intelectual através da qual nós vemos a realidade. É um sistema filosófico que procura explicar como os fatos da realidade se relacionam e se ajustam uns aos outros. É um conjunto detalhado de crenças combinadas de formaconsistente ou coerente (EVANS, 2004). Para James Sire (1988), Cosmovisão é um conjunto de pressuposições que temos sobre a constituição básica do nosso mundo. Estas pressuposições podem ser verdadeiras, parcialmente verdadeiras ou totalmente falsas; enquanto que nossa percepção delas pode ser consciente ou inconsciente, e podemos sustentá-las de forma consistente ou inconsistente. A Cosmovisão encontra-se tão enraizada nas pessoas que é possível que dois ou mais grupos cheguem a conclusões diferentes observando o mes- mo fenômeno. Vamos a um exemplo. Os cosmólogos que não acreditam na existência de Deus afirmam que ou o cosmos veio do nada por meio do nada, ou sempre existiu. Entretanto – acreditando-se ou não em Deus – não é preciso ser gênio para qualquer pessoa concluir que é impossível ao nada produzir algo. Portanto, a única alternativa plausível para cosmó- logos que não acreditam em Deus é crer que o universo deve ter existido sempre. Todavia, como já afirmamos, não é razoável crer que a matéria é eterna. Então, considerando que o princípio científico da causalidade afirma que tudo que tem um começo deve ter uma causa: Seria razoável procurar fora da natureza o Real Originador deste Universo? Um cosmólogo que não acredita em Deus responderia: “Não!”; um cosmólogo que acredita em Deus responderia: “Sim!”. Mas o que fez a diferença nestas respostas antagônicas a um mesmo fenô- meno? Um cosmólogo não crê em Deus (Cosmovisão Ateísta), enquan- to o outro crê em Deus (Cosmovisão Bíblico-Cristã). Neste caso, como você percebeu, o embate não é entre a fé e a razão ou entre a ciência e a religião, e sim entre crer ou não crer em Deus. E na base das crenças está uma Cosmovisão. C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 12 AS PRINCIPAIS COSMOVISÕES A fim de facilitar a compreensão, mencionaremos inicialmente as prin- cipais Cosmovisões, tendo como referência os tipos de discursos acerca de Deus (SILVA, 2004, p. 18). Mais à frente, esta compreensão será am- pliada. As principais Cosmovisões e seu discurso acerca de Deus: • Teísmo – Existe um Deus e este se comunica com os homens atra- vés de uma autorrevelação de si mesmo. • Ateísmo – Negação absoluta da existência de Deus. • Panteísmo – Deus fez tudo, logo, as coisas que existem são “pe- daços” de si que assumiram outras formas e características. Portan- to, tudo é Deus. • Panenteísmo – Deus, por sua onipresença, está em todas as coisas, mas não se identifica pessoalmente com nada do que criou. Embora esteja presente na flor, Deus não é a flor. • Deísmo – Existe um ser supremo, sua natureza, porém, fica bem indeterminada, ele nada tem a ver com a pessoa descrita nas gran- des religiões ocidentais. Ele está numa outra dimensão e nada tem a ver atualmente com as coisas que ocorrem neste nosso mundo físico material. • Politeísmo – Crença em vários deuses. Atribui-se ao filósofo Sócrates a seguinte frase: “Uma vida não exami- nada não vale a pena ser vivida”. De fato, a vida não consiste apenas em alimentar-se, trabalhar e divertir-se. É necessário reflexão para certificar- -nos de que tudo que fazemos é adequado, e não correr o risco de passar por esta vida como seres que apenas existem, mas que não vivem com responsabilidade. REFLETINDO... Agora, convidamos você a refletir: Em quais áreas de sua vida você precisa repensar sua maneira de agir? Por quê? Qual é a sua Cosmo- visão? Tem você vivido de modo coerente com ela? Por que é essa sua Cosmovisão, e não outra? C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 13 CAMPOS DE ATUAÇÃO DE UMA COSMOVISÃO Considerando – como já vimos – que a Cosmovisão é uma espécie de “lente” intelectual através da qual nós vemos a realidade, e considerando que a realidade tem diversos componentes, então a Cosmovisão é uma plataforma a partir da qual entendemos tudo o que nos rodeia, sejam situações concretas (como educação de filhos, alimentação, postura ética etc.) ou aspectos de natureza abstrata (existência de Deus, liberdade hu- mana, vida após a morte etc.). Ou seja, uma Cosmovisão não se limita a elaborar um discurso sobre Deus; ela fornece, acima de tudo, sentido a tudo o que pensamos e vivenciamos. De acordo com o professor Mark Blocher (2014, p. 3-4), as Cosmovisões opinam e tomam partido sobre os seguintes temas fundamentais, apre- sentando detalhes e justificativas para cada um deles: • Teologia – tem a ver com uma posição sobre a existência e a natureza de Deus; • Cosmologia – toda Cosmovisão precisa explicar a origem e a natureza do Universo; • Antropologia – a Cosmovisão deve esclarecer a identidade e o valor dos seres humanos; • Epistemologia – a natureza e a justificativa para o conhecimen- to e a verdade também devem ser explicados pela Cosmovisão; • Axiologia – a identidade e a natureza dos valores é outro campo de atuação da Cosmovisão; • História – a Cosmovisão precisa explicar o padrão e a importân- cia dos eventos históricos; • Destino – finalmente, a Cosmovisão deve esclarecer o que acon- tece às pessoas após a morte. IDENTIFICANDO AS COSMOVISÕES Para identificar uma Cosmovisão, é necessário fazer algumas perguntas fundamentais (SIRE, 2004, p. 22-23). Vejamos. C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 14 • Qual é a realidade primordial ou o que é realmente verda- deiro? A resposta pode ser: Deus, ou deus, ou deuses, ou o cos- mo natural, ou eu mesmo. • Qual é a natureza da realidade externa, isto é, do mundo ao nosso redor? Esta pergunta revela se entendemos o mundo como criado e dependente, ou não criado e autônomo; como matéria ou como espírito; como obra de Deus ou como sendo o próprio Deus etc. • O que é o ser humano? O ser humano pode ser uma máquina complexa, um deus adormecido, uma criatura como as outras, um gorila evoluído ou um filho de Deus. • O que acontece quando uma pessoa morre? A pessoa reencar- na, o espírito fica vagando, a pessoa passa para uma existência obscura num mundo desconhecido, ou a pessoa simplesmente dorme. • Como é possível conhecer alguma coisa? Conhecemos e pen- samos porque nosso cérebro evoluiu ao longo de bilhões de anos, ou porque fomos criados com a capacidade de raciocínio. • Como sabemos o que é certo e errado? O certo e errado são determinados pela escolha humana, não há certo e errado; a no- ção de certo e errado é imposta pela cultura, ou o certo e errado estão baseados numa noção de verdade absoluta. • Qual o significado da história humana? É compreender o pro- pósito dos deuses, é preparar um paraíso aqui na Terra via comu- nismo ou socialismo, ou é preparar um povo para habitar numa Nova Terra. • Quem está no comando deste mundo? Deus, ou os seres hu- manos, ou a natureza, ou ninguém. • Somos livres ou determinados? Somos plenamente livres para fazer o que queremos e não daremos conta disso a ninguém; ou não somos livres; ou temos uma liberdade relativa. As respostas às perguntas citadas são condicionadas pela Cosmovisão que cada pessoa adota. C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 15 PESQUISE! Cosmovisão é um assunto amplo, e que merece um estudo amplo, de diversas perspectivas. Aprofunde seu conhecimento com esta ênfase: Cosmovisão da perspectiva histórico-teológica: “Introdução à Cos- movisão reformada: anotações quase aleatórias”. Assista a um pequeno vídeo (apenas quatro minutos) que respon- de à pergunta “O que é Cosmovisão?”; explicação do psicólogo e teólogo Walter McAlister. 1.2 Por que precisamos de uma Cosmovisão? A COSMOVISÃO É IMPORTANTE DEMAIS PARA SER IGNORADA Norman Geisler e Frank Turek (2006, p. 13) sintetizam as cinco per- guntas mais importantes com as quais nos deparamos ao longo de nossa existência: Pergunta A que se refere a pergunta? De onde viemos? Origem da vida Quem somos? Nossa identidade Por que estamos aqui? Propósito da vida Como devemos viver? Moralidade a ser adotada Para onde vamos? Nosso destino Quadro 1 – Perguntas sobre a existência humana. Fonte: Geisler e Turek (2006,p. 13). Como você já deve ter notado, a resposta a essas perguntas depende ex- clusivamente da Cosmovisão que adotamos. Por isso podemos afirmar com convicção: uma vida inteligente requer uma Cosmovisão consciente e coerente, que nos conduza a uma vida, na medida do possível, realizada e feliz. https://teologiabrasileira.com.br/introducao-a-cosmovisao-reformada-anotacoes-quase-aleatorias-2/ https://teologiabrasileira.com.br/introducao-a-cosmovisao-reformada-anotacoes-quase-aleatorias-2/ https://www.youtube.com/watch?v=O1nQ533D1J4 C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 16 TODOS NÓS ACREDITAMOS EM ALGUMA COISA Além do mais, precisamos de uma Cosmovisão porque todos nós acredi- tamos em alguma coisa; todos nós tomamos partido em relação a tudo o que ocorre conosco e ao nosso redor. A esta altura, é oportuno perguntar: por que as pessoas acreditam naquilo em que acreditam? Esta é uma per- gunta importante e intrigante. O escritor James Sire (2000) demonstra que, embora haja uma significa- tiva diversidade de respostas, todas elas se enquadram numa das seguin- tes categorias ou razões, conforme o quadro a seguir. Razões sociológicas Razões psicológicas Razões filosóficas Razões religiosas Fa to res qu e i nfl ue nc iam Pais Amigos Sociedade Cultura Conforto Tranquilidade Significado Propósito Esperança Identidade Uniformidade Coerência Inteireza (melhor explicação de todas as provas) Escrituras Pastor/Padre Guru Rabino Líder religioso Igreja Quadro 2 – Razões. Fonte: Sire (2000, p. 93-101). O quadro apresentado evidencia que todos temos fundamentos específi- cos para as nossas crenças; podemos não ter consciência de qual seja esse fundamento (Cosmovisão), mas, mesmo assim, ele existe. Sua identifica- ção tornará nossa vida mais segura e feliz. Afinal, é bom saber por que vivemos da forma que vivemos. C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 17 A IMPORTÂNCIA DA COSMOVISÃO A Cosmovisão é importante porque influencia a existência como um todo, determinando os valores que cada um adota na vida. Na prática, nós usamos a nossa Cosmovisão – a nossa visão de mundo e os nossos paradigmas – a toda hora, todos os dias. Considere estas perguntas: • É correto mentir para salvar uma pessoa? • Contar a verdade é mais importante do que salvar vidas? • Pode-se roubar para ajudar outros? • Tudo o que há neste universo é apenas o que enxergamos com os nossos olhos? • O que acontece com o ser humano após a morte? Obviamente, suas respostas a essas perguntas dependerão da sua Cosmo- visão. Como se pode perceber, a adoção de uma Cosmovisão é decisiva para o estilo de vida que vamos assumir. Entretanto, saiba também que a Cosmovisão que nós adotamos influencia não apenas nossa vida espi- ritual; sua influência não se limita apenas ao que cremos ou não cremos no sentido de crenças religiosas. Todos os aspectos de nossa vida são afetados por ela. Por exemplo, considere o que acontece com a questão da adoração: os teístas acreditam que o ser humano foi criado por Deus com o propósito de ter comunhão eternamente com Ele e adorá-lo. Os panteístas creem que se as pessoas tiverem comunhão intensa com Deus, podem perder toda sua identidade individual. Os ateus nem cogitam em viver uma vida de comunhão com Deus. Considere outro exemplo no que se refere aos estudos: os teístas creem que estudar e aprender faz parte do processo de se tornar útil à sociedade, à Igreja, a Deus; estudar é também uma maneira de entender melhor os desígnios de Deus para a vida. O panteísta pode encarar o estudo como uma maneira de fortalecer a divindade que existe em cada pessoa. O ateu pode encarar os estudos como a melhor maneira de superar os outros, já que não é necessário amar a ninguém com amor fraternal. Além do impacto intelectual, afetando nossos pressupostos científicos e tudo o que se refere ao conhecimento, a Cosmovisão afeta nossos pres- C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 18 supostos morais, nossos valores, nossa ética. Creio eu que aqui reside a maior bênção ou desgraça de uma Cosmovisão. Aqui é onde você deve tomar o máximo cuidado, como ser inteligente que é, questionando-se periodicamente como sua Cosmovisão e a Cosmovisão de seus amigos, livros que você lê, filmes que você assiste e músicas que escuta estão im- pactando em sua maneira de encarar os valores morais. REFLETINDO... Agora, vamos refletir: vale a pena acreditar em Deus? Por quê? O que “ganho” acreditando em Deus? Nos últimos vinte anos, o nú- mero de pessoas que se considera sem religião aumentou 70%, passando de 4,7% para 8%. É verdade que entre os anos 2000 e 2010 esse aumento foi bem menos expressivo: de 7,4% para 8%. De qualquer maneira, de acordo com o Censo de 2010 do IBGE, são 15,3 milhões de brasileiros que se consideram sem religião. O que esses números revelam? Você acha que religião e religiosidade ca- minham para o fim? Por quê? C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 19 QUADRO PANORÂMICO A seguir, observe e analise um quadro panorâmico com as seis mais importantes cosmovisões e seu impacto em diferentes aspectos da vida, adaptado a partir das informações fornecidas por Geisler (2002) e Geisler e Bocchino (2003). Teísmo Ateísmo Deísmo Panenteísmo Panteísmo Politeísmo Deus Um, infinito e pessoal Nenhum Um, infinito e pessoal Um, potencialmente infinito, realmente finito Um, infinito, impessoal ou pessoal Múltiplo finito e pessoal Mundo Criado ex nihilo, finito Eterno (material) Finito ou eterno Criado ex matéria e ex Deo, eterno Criado ex Deo, imaterial Criado ex materia, eterno Milagre Possível e real Impossível Pode ser possível, mas não real Impossível Impossível Possível e real Natureza humana Corpo mortal e espírito imortal Corpo mortal, não há espírito Corpo mortal, “alma” imortal Corpo mortal, “alma” imortal (alguns) Corpo mortal, “alma” imortal Corpo mortal, “alma” imortal Destino humano Ressurreição para recompensa ou julgamento Aniquilação Recompensa ou julgamento da alma Na memória de Deus Reencarnação unindo-se a Deus Recompensa e julgamento divinos Origem do Mal Livre-arbítrio Ignorância humana Livre-arbítrio e ou ignorância Aspecto necessário de Deus Ilusão Em lutas entre deuses Verdade Absoluta Relativa; não há absolutos Absoluta Relativa Relativa a este mundo Relativa Ética Absoluta; baseada em Deus Relativa; baseada na humanidade Absoluta; baseada na natureza Relativa; baseada num Deus mutável Relativa; baseada em manifestações menores de Deus Relativa; baseada em deuses História: natureza e objetivo Linear, proposital, determinada por Deus Caótica, sem objetivo, eterna Linear, proposital, eterna Linear, proposital, eterna Circular, ilusória, eterna Linear ou circular, proposital, eterna Quadro 3 – Cosmovisões. Fonte: Geisler (2002, p. 193); Geisler e Bocchino (2003, p. 68). C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 20 MATERIAL COMPLEMENTAR Para complementar e aprofundar a temática deste capítulo, sugerimos que, além de conferir os materiais citados nas Referências, você leia os seguintes artigos: - “Jerusalém e Atenas: duas Cosmovisões, duas escolas de pensa- mento”, de Fernando Aranda Fraga. O autor analisa a Cosmovisão Grega e a Cristã, e diz por que a Cristã é superior. Disponível em: <https://dialogue.adventist.org/pt/1727/jerusalem-e-atenas-duas- -cosmovisoes-duas-escolas-de-pensamento> - “Quem é você? O senso de identidade em uma perspectiva Cris- tã”, da autoria de John Wesley Taylor VI e John Wesley Taylor V. Os autores descrevem as características da identidade que se funda- menta na Cosmovisão Bíblico-Cristã. Disponível em: <https://dia- logue.adventist.org/pt/1740/quem-e-voce-o-senso-de-identida- de-em-uma-perspectiva-crista> A IMPORTÂNCIA DA COSMOVISÃO BÍBLICO-CRISTÃ Ao concluir este capítulo, é importante destacar que, embora demons- tremos respeitopor toda e qualquer Cosmovisão, a abordagem aqui é da perspectiva Teísta, especificamente a Cosmovisão Bíblico-Cristã. Por quê? Blocher (2014, p. 5) explica que há três fortes razões para isso. 1. A Cosmovisão Bíblico-Cristã reúne numa única proposta ele- mentos de valorização do ser humano, que não são observados em outra Cosmovisão. Mediante esses elementos, abre-se uma espécie de estrada ampla, marcada pela coerência e consistência, que dá pleno sentido ao nosso viver. 2. A Cosmovisão Bíblico-Cristã tem propostas práticas, e não ape- nas teóricas, que dizem respeito ao nosso dia a dia. Essas propos- tas já são “testadas” há mais de dois mil anos, e têm dado certo. O “quadro teórico” desta Cosmovisão contempla a história da Criação, Queda e Redenção, e isso dá um outro olhar a tudo o que acontece conosco. 3. A partir do “quadro teórico” mencionado anteriormente - Cria- ção, Queda e Redenção – a Cosmovisão Bíblico-Cristã fornece ferramentas adequadas para discernir a verdade do erro. Essas ferramentas ficam evidentes na autorrevelação de Deus, a Bíblia Sagrada. https://dialogue.adventist.org/pt/1727/jerusalem-e-atenas-duas-cosmovisoes-duas-escolas-de-pensament https://dialogue.adventist.org/pt/1727/jerusalem-e-atenas-duas-cosmovisoes-duas-escolas-de-pensament https://dialogue.adventist.org/pt/1740/quem-e-voce-o-senso-de-identidade-em-uma-perspectiva-crista https://dialogue.adventist.org/pt/1740/quem-e-voce-o-senso-de-identidade-em-uma-perspectiva-crista https://dialogue.adventist.org/pt/1740/quem-e-voce-o-senso-de-identidade-em-uma-perspectiva-crista 21C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã APLICANDO A TEORIA NA PRÁTICA Como já foi mencionado, a Cosmovisão influencia cada aspecto da vida. Por causa disso, é bom ter consciência clara de qual é a nossa Cosmovi- são. Para ajudá-lo nisso, seja descobrindo-a ou reafirmando-a, você pre- cisa responder às perguntas formuladas a seguir. Com base nas informações apresentadas neste capítulo, minha Cosmovisão é... Em poucas palavras, ela pode ser assim descrita... Acho que o ponto forte dela é... Penso que seu ponto frágil seja... Para minha vida pessoal, o maior desafio desta Cosmovisão é... 22C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã SÍNTESE Estes foram os tópicos mais importantes tratados no capítulo 1: • a Cosmovisão é uma espécie de “lente” intelectual através da qual nós vemos e explicamos a realidade, tudo o que nos rodeia; • todos temos uma Cosmovisão, uma “visão de mundo”; • a Cosmovisão determina nossa maneira de encarar tudo na vida. Na prática, nós usamos a nossa Cosmovisão – a nossa visão de mundo e os nossos paradigmas – a toda hora, todos os dias; • as principais Cosmovisões são: Teísmo, Ateísmo, Panteísmo, Pa- nenteísmo, Deísmo e Politeísmo; • a Cosmovisão opina e toma partido nos seguintes temas fun- damentais: Teologia, Cosmologia, Antropologia, Epistemologia, Axiologia, História, Destino; • a Cosmovisão Bíblico-Cristã é importante porque: reúne numa única proposta elementos de valorização do ser humano; tem propostas teórico-práticas; fornece ferramentas adequadas para discernir a verdade do erro. 23C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã REFERÊNCIAS BLOCHER, M. Cosmovisão: uma introdução. Disponível em: <http:// www.mackenzie.com.br/fileadmin/Decanato_Academico/grupo_pro- fessores_cristaos/intro-cosmovisao_blocher.pdf>. EVANS, C. S. Dicionário de apologética e filosofia da religião. São Paulo: Vida, 2004. GEISLER, N. L. Enciclopédia de apologética. São Paulo: Vida, 2002. ______; BOCCHINO, P. Fundamentos inabaláveis. São Paulo: Vida Nova, 2003. ______; TUREK, F. Não tenho fé suficiente para ser ateu. São Paulo: Vida, 2006. SILVA, R. P. E por falar em Deus: uma análise acadêmica da fenome- nologia da fé. Material não publicado. São Paulo: Engenheiro Coelho, 2004. SIRE, J. W. Why should anyone believe anything at alI? In: CARSON, D. A. Telling the truth. Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 2000. ______. O Universo ao lado: a vida examinada. Um catálogo elemen- tar de Cosmovisões. São Paulo: Hagnos, 2004. ______. The Universe next door: A basic worldview catalog. Updated & Expanded edition. Downers Grove, Illinois: InterVarsity Press, 1988. http://www.mackenzie.com.br/fileadmin/Decanato_Academico/grupo_professores_cristaos/intro-cosmovisao_blocher.pdf http://www.mackenzie.com.br/fileadmin/Decanato_Academico/grupo_professores_cristaos/intro-cosmovisao_blocher.pdf http://www.mackenzie.com.br/fileadmin/Decanato_Academico/grupo_professores_cristaos/intro-cosmovisao_blocher.pdf CAPÍTULO 2 A BÍBLIA: FONTE DE INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE Objetivo Compreender que a Bíblia é a revelação de Deus aos seres humanos; ao mesmo tempo, entender as razões de sua confiabilidade. 25C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã NOSSO TEMA Neste capítulo, você vai compreender a Bíblia como revelação de Deus; isto quer dizer que a Escritura (outro nome dado à Bíblia) é um meio pelo qual podemos conhecê-Lo, dentro dos limites daquilo que é revelado. Esta revelação, ao mesmo tempo que nos possibilita conhecer melhor a Deus, permite que conheçamos melhor a nós mesmos. O outro tópico que você vai estudar é a confiabilidade da Bíblia: pode- mos confiar naquilo que está escrito nela? O que ela diz se cumpre? Estas e outras perguntas serão respondidas ao longo de nosso estudo. Ao final das considerações, deverá ficar claro que as Escrituras Sagradas, tanto o Antigo quanto o Novo Testamento, são a Palavra divina escrita, oferecida por inspiração divina mediante homens que falaram e escreveram ao serem movidos pelo Espírito Santo. Esta Palavra é instrumento que Deus usou para transmitir aos seres humanos o conhe- cimento necessário para a salvação. 26C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã TÓPICOS DE ESTUDO Dois tópicos serão abordados a seguir. O primeiro, intitulado A Bíblia como revelação de Deus, trata do modo como a Bíblia chegou à huma- nidade. O segundo, Fique tranquilo: podemos confiar na Bíblia!, ex- plora as razões pelas quais devemos crer que este registro sagrado é digno de nossa plena confiança. 2.1 A Bíblia como revelação de Deus Alberto, um jovem cristão, estava se preparando para uma viagem de férias. Seu amigo Gustavo veio buscá-lo, e perguntou-lhe: - Já arrumou suas coisas? Está tudo pronto? - “Quase” – respondeu Alberto. “Só falta pôr mais umas coisinhas na mala”, e começou a ler uma lista: um mapa, uma lâmpada, uma bússola, um espelho, uma cesta de comida, alguns livros de poesia, algumas biografias, uma coletânea de cartas antigas, um livro de cânticos, um livro de histórias, um metro, um prumo, um martelo, uma espada, um capacete... A essa altura, o amigo já estava apavorado: - Mas, meu amigo, o carro já está cheio, não vai dar para você levar tudo isso! - “Acalme-se” – disse Alberto; “está tudo aqui!”, e mos- trou-lhe sua Bíblia. De fato, a Bíblia é a concentração de diversos elementos necessários à vida humana: esperança, guia, verdade, luz, reflexão etc. E por isso é um livro tão extraordinário, que dificilmente conseguimos imaginar a história humana sem esse tesouro imensurável. Mas, por que a Bíblia se tornou imprescindível para nós? O que a torna tão especial? C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 27 UM LIVRO “SOPRADO” POR DEUS Diferentemente de qualquer outro livro na história da humanidade, a Bíblia passou por um impressionante processo de elaboração. Para come- çar, como atesta Lessa (2008, p. 14), “[...] a singularidade das Escrituras baseia-se em sua origem e fonte”. De fato, os autores bíblicos mencionam com frequência que eles próprios não são os originadores das mensagens que falam ou escrevem. “Eles as recebiam das fontes divinas. Através da revelação divina, eles haviam sido habilitados a ‘ver’ estas verdades” (LESSA, 2008, p. 14). Isso pode ser comprovado em textos bíblicos como estes: • “Mas se não quiseres sair, esta é a palavra que me revelou o Se- nhor”(Jeremias 38:21, Bíblia Almeida Revista e Atualizada, ARA). • “Palavra do Senhor que em visão veio a Miquéias...” (Miquéias 1:1, ARA). Um dos textos mais esclarecedores a respeito da origem da Bíblia foi escrito pelo apóstolo Paulo, em 2 Timóteo 3:16: “Toda a Escritura é ins- pirada por Deus...”. A palavra “inspirada” foi traduzida do grego theop- neustos, e significa literalmente “proveniente do fôlego de Deus” (LESSA, 2008, p. 15), como se Deus tivesse “soprado” as ideias que formaram a Palavra. Assim, “Deus ‘inspirou’ a verdade nas mentes dos homens, os quais expressaram estas mesmas verdades em suas próprias palavras, que foram consolidadas nas Escrituras. Portanto, inspiração é o processo através do qual Deus comunica Sua verdade eterna” (LESSA, 2008, p. 15). OS TRÊS FATORES DA INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS O apóstolo Pedro afirma também algo fundamental a respeito da inspi- ração das Escrituras: “Antes de mais nada, saibam que nenhuma profe- cia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos [movidos] pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1:20-21, Bíblia Nova Versão Internacional, NVI). C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 28 A partir das palavras de Pedro, podemos falar dos três fatores ou com- ponentes da inspiração das Escrituras (GEISLER; NIX, 1996, p. 12-13), conforme lemos a seguir. 1. Deus é a causa. O próprio Deus é a Fonte Primordial da inspi- ração da Bíblia. Foi Ele quem escolheu e estimulou os escritores. Primeiro, falou aos profetas e, a seguir, falou aos seres huma- nos através desses profetas escolhidos. As verdades reveladas por Deus foram registradas pelos profetas escritores. De modo que o primeiro e mais importante fator fundamental da doutrina da inspiração bíblica é que Deus é a fonte principal e a causa pri- meira da verdade bíblica. 2. Os profetas são mediadores. Os profetas que escreveram a Bí- blia não eram meros robôs ou autômatos. Eram mais do que apenas secretários que anotaram o que Deus lhes ditava. Eles escreveram de acordo com a consciência que os movia para esta tarefa, mas o fizeram com seus estilos literários e seus vocabu- lários individuais. As personalidades dos escritores bíblicos não foram violentadas por uma intrusão divina. É verdade que a Es- critura que eles produziram é a Palavra de Deus, mas – em certo sentido – também é verdade que é a palavra do homem. Afinal, Deus usou a personalidade de cada um deles para comunicar verdades e conceitos divinos. Podemos dizer, então, que os pro- fetas foram a causa imediata dos textos escritos, mas Deus foi a causa principal. 3. A Escritura é autoridade. Somos informados que a Escritura é “[...] útil para o ensino, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente pre- parado para toda boa obra” (2 Timóteo 3:16, 17). Isto sigifica que a Bíblia é a última palavra no que diz respeito a assuntos doutrinários e éticos. Essa autoridade é decorrente da autoridade do próprio Deus, que se expressa na Bíblia através dos escritos proféticos. Em síntese, a inspiração bíblica consta de três fatores essenciais: (1) Deus, como a causa; (2) os homens de Deus, como mediadores; e (3) as Sagra- das Escrituras, como o produto final da revelação, a autoridade de Deus registrada pelos homens. C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 29 A MENSAGEM DA BÍBLIA A Bíblia é o livro mais conhecido do mundo. Está nas casas mais sim- ples e nos mais belos palácios, nas pequenas igrejas e nos mais suntuosos templos, nas bibliotecas de cidades do interior e nas mais famosas Uni- versidades. Está à disposição de qualquer pessoa. É possível comprá-la por poucos reais, ou pagar uma fortuna por exemplares antigos e raros. Numa boa livraria, você consegue desde as Bíblias mais sofisticadas até as de linguagem mais simples. Se preferir, pode até comprar uma em forma de aplicativo para smartphone, ou mesmo lê-la online pela internet. Que chique, não acha? (SUÁREZ, 2001). Entretanto, mais do que sua versatilidade, o que realmente impressiona nela é sua mensagem, a qual, como diz Philip Comfort (1998, p. 23), lhe confere uma “missão civilizadora”. E qual é a mensagem da Bíblia? “É a história da salvação e, ao longo de ambos os Testamentos, podem ser distinguidos três elementos comuns nessa história reveladora: aquele que traz a salvação, o meio de salvação e os herdeiros da salvação” (COMFORT, 1998, p. 23). De acordo com a mensagem bíblica, quem traz a salvação é Deus Pai; o meio da salvação é Deus Filho – Jesus Cristo; e os herdeiros da salvação são os seres huma- nos, impressionados por Deus Espírito Santo. É sua mensagem central que atribui poder à Bíblia. Por causa disso, [...] suas palavras são entesouradas nos corações de multidões como nenhu- ma outra. Todos aqueles que recebem seus dons de sabedoria e promessas de nova vida e poder eram, em princípio, estranhos à sua mensagem de re- denção, sendo que muitos eram hostis aos seus ensinamentos e exigências espirituais. Em todas as gerações, evidencia-se seu poder de desafiar as pes- soas de todas as raças e nações. Aqueles que apreciam a Bíblia — porque sustenta a esperança futura, dá sentido e poder para o presente e correlacio- na um passado mal vivido com a graça perdoadora de Deus — não estariam experimentando tais recompensas interiores se as Escrituras não fossem aceitas por eles como a verdade autoritária e divinamente revelada. Para o crente, a Escritura é a Palavra de Deus dada na forma objetiva das verdades proposicionais por meio de profetas e apóstolos divinamente inspirados, e o Espírito Santo é o Doador da fé mediante essa Palavra (COMFORT, 1998, p. 45-46). C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 30 REFLETINDO... Ao longo da história, a Bíblia tem sido um dos livros mais persegui- dos, mas ela resiste a tudo e a todos, e atualmente é o livro mais traduzido e vendido. Por que você acha que a Escritura tem sido preservada de destruição por parte daqueles que sempre se colo- caram contra ela? Haveria uma proteção divina sobre ela? Como? DIVISÃO E CONTEÚDO GERAL DOS LIVROS DA BÍBLIA Você sabia que a palavra Bíblia significa livro? Pois é, o vocábulo Bíblia [...] entrou para as línguas modernas por intermédio do francês, passando primeiro pelo latim biblia, com origem no grego biblos. Originariamente, era o nome que se dava à casca de um papiro do século XI a.C. Por volta do sé- culo II d.C., os cristãos usavam a palavra para designar seus escritos sagrados (GEISLER; NIX, 1996, p. 6). Você deve ter notado que geralmente nos referimos à Bíblia como tendo duas partes ou Testamentos: Antigo e Novo. A palavra testamento, que seria mais bem traduzida por ‘aliança’, é tradução de palavras hebraicas e gregas que significam ‘pacto’ ou ‘acordo’ celebrado entre duas partes (‘aliança’). Portanto, no caso da Bíblia, temos o contrato an- tigo, celebrado entre Deus e seu povo, os judeus, e o pacto novo, celebrado entre Deus e os cristãos. (GEISLER; NIX, 1996, p. 6). O quadro seguinte, adaptado de Merkh e França (2008), é uma visão panorâmica dos livros da Bíblia. É muito útil para a compreensão geral da Palavra de Deus. Primeiramente, o Antigo Testamento (AT). Livros da Lei (ou Pentateuco) Livro Resumo em verso Gênesis Em Gênesis tudo começou, e Abraão Deus abençoou. Êxodo Com Êxodo vem redenção, e leis para santificação. Levítico Como viver na presença de Deus? Levítico dá leis aos judeus. Números Em Números o povo anda, por não crer no que Deus manda. Deuteronômio Deuteronômio diz aos judeus: “Lembrem-se da aliança com Deus”. C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 31 Livros Históricos Josué Em Josué a vitória vem, cada tribo sua terra tem. Juízes Em Juízes o povo esqueceu a lei, e o homem se tornou seu próprio rei. Rute Rute mostra uma história bonita: Amor fiel de uma moabita. 1 e 2 Samuel Samuel fala do inícioda monarquia, e como se é infeliz quando Deus não guia. 1 e 2 Reis Reis descrevem o reino dividido, e cada país, no exílio, cativo. 1 e 2 Crônicas Crônicas conta a mesma história, enfatizando a Templo e sua glória. Esdras Esdras fala em restauração: Primeiro do templo, depois da nação. Neemias O muro Neemias edificou, e o pacto com Deus renovou. Ester Ester revela o Protetor, que guarda o Seu povo como Salvador. Livros Poéticos Jó A dor em Jó dúvida produz, até que de Deus surge a luz. Salmos Os Salmos cantam meditações, gratidão, louvor e lamentações. Provérbios Provérbios dá o segredo da alegria: “O temor do Senhor” é a sabedoria. Eclesiastes “Somente Deus transforma a vaidade”, Eclesiastes afirma em verdade. Cantares O amor real, descrito em Cantares, deve estar em todos os lares. Livros dos Profetas Maiores Isaías Depois de dura condenação, Isaías vê grande salvação. Jeremias Em Jeremias rendição e o recado de Deus à nação Lamentações Lamentações é o choro pela cidade, destruída por sua iniquidade. Ezequiel Em Ezequiel, o povo exilado vai algum dia ser restaurado. Daniel Daniel aponta ao Deus Soberano, controlando reis e tempo em Seu plano. C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 32 Livros dos Profetas Menores Oséias Oséias demonstra amor real, por Israel de um Deus leal. Joel Como grilos e secas causam temor, Joel vê castigo no Dia do Senhor. Amós Amós previne a calamidade, mandada por Deus contra a falsidade. Obadias Em Obadias o julgamento é dado: O fim de Edom está declarado. Jonas Depois da primeira e segunda comissão, Jonas se curva à divina compaixão. Miquéias Miquéias exorta a sua comunidade à troca do mal por equidade. Naum Naum proclama a execução, Nínive morre sem compaixão. Habacuque Habacuque ora em submissão, e prova pela fé que Deus tem razão. Sofonias Em Sofonias, condenação termina em restauração. Ageu A obra do Templo começa de novo, quando Ageu reprova seu povo. Zacarias “Completem o Templo para o Messias”, é a mensagem de Zacarias. Malaquias De Malaquias vem interrogação, pois culpa de novo tem a nação. Quadro 4 – Antigo Testamento. Fonte: adaptado de Merkh e França (2008). E a seguir, a visão sobre o Novo Testamento. Os Evangelhos Livro Resumo em Verso Mateus O Messias em Mateus é rejeitado, Rei sem o reino, como foi profetizado. Marcos Cristo em Marcos é o Servo humilhado, que deu a vida para eu ser libertado. Lucas Em Lucas Jesus é o Filho nascido, que busca e salva o homem perdido. João João aponta o Cordeiro de Deus, que tira o pecado de gentios e judeus. Livro Histórico Atos Em Atos o Espírito espalha salvação, dos judeus aos povos de toda nação. C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 33 Cartas de Paulo Romanos Estando eu perdido no pecado, Romanos me mostra como ser justificado. 1 Coríntios A primeira aos Coríntios traz admoestação contra impureza, desordem e divisão. 2 Coríntios A segunda aos Coríntios defende a posição do apóstolo escolhido após a ressurreição. Gálatas Gálatas proclama liberdade do pecado pela graça, nunca lei, como outros têm pensado. Efésios “Andar de modo digno da vossa vocação”: Efésios exalta nossa alta posição. Filipenses Filipenses louva a fé que nos faz regozijar, mas exige humildade para com todos demonstrar. Colosenses Colossenses mostra Cristo na Sua primazia e combate o começo duma nova heresia. 1Tessalonicenses Os Tessalonicenses, na epístola primeira, são motivados a mostrar santidade verdadeira. 2 Tessalonicenses Tessalonicenses, a segunda carta escrita, o Dia do Senhor e consequências explica. 1 Timóteo A primeira a Timóteo exige ordem boa, na Igreja e nos Ministros, para nada ser à toa. 2 Timóteo A segunda a Timóteo dá o grito da guerra: “Proclama o Cristo em toda a terra”. Tito Tito foi escrito para dar às igrejas novas um padrão de bons pastores, doutrina e obras. Filemom Filemom perdeu um inútil escravo, mas todos ganharam quando ele foi salvo. Hebreus Cristo é supremo no livro de Hebreus, como Rei, Sacerdote e Filho de Deus. Cartas Gerais Tiago Tiago descreve uma fé genuína, que ouve e age, não fica na surdina. 1 Pedro A primeira de Pedro consola os crentes que sofrem por Cristo mesmo inocentes. 2 Pedro A segunda de Pedro chama a atenção: Os falsos mestres merecem perdição. 1 João Amor, segurança e comunhão, são os temas da primeira carta de João. 2 João O amor verdadeiro, na segunda de João, rejeita a mentira, abraça o irmão. 3 João A terceira de João condena o egoísmo, e louva a bondade e o altruísmo. Judas Em Judas a batalha pela fé preciosa é dos crentes com doutrina valiosa. Livro Profético Apocalipse Apocalipse traz julgamento e salvação, e tudo renovado numa nova criação. Quadro 5 – Novo Testamento. Fonte: adaptado de Merkh e França (2008). C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 34 PESQUISE! A Bíblia é um livro singular, único; e diversas características ressal-tam isso; leia a esse respeito no artigo “A Bíblia: Como pode ela ser única?”, escrito pelo teólogo Peter van Bemmelen. 2.2 Fique tranquilo: podemos confiar na Bíblia! Embora algumas pessoas possam duvidar da veracidade da Palavra de Deus, Ela é suficientemente confiável a ponto de satisfazer a curiosidade de qualquer pesquisador sincero. Saiba que duas obras técnicas que atestam a confiabilidade da Bíblia são: ARCHER JR., Gleason L. Merece confiança o Antigo Testamento? São Paulo: Vida Nova, 2000; e Merece confiança o Novo Testamento?, do mesmo autor e editora. Veja a seguir alguns testes nos quais a Bíblia passa tranquilamente (BENEDICTO, 2000, p. 47-48): • Teste da autenticidade: a Bíblia reivindica ser a Palavra de Deus. Isso é facilmente comprovado quando notamos que os profetas do AT empregam 130 vezes a expressão “veio a mim a Palavra do Senhor” e centenas de vezes a expressão “assim diz o Senhor”. Acima de tudo, é Deus quem dá à Bíblia o status de “Palavra de Deus”; • Teste da relevância: a mensagem da Bíblia é indispensável, ne- cessária. Mostra nossa origem e nosso destino. Apresenta a res- posta para os nossos anseios; • Teste da coerência: a Bíblia é coerente em suas páginas. É har- moniosa mesmo tendo sido escrita por cerca de 40 escritores num espaço de 1.600 anos. Assim sendo, temos de admitir a existência de um único Autor dirigindo seus muitos escritores; • Teste da veracidade: a Bíblia não mente quando apresenta fatos históricos ou doutrinários, ou mesmo quando relata um milagre https://esperanca.com.br/espiritualidade/a-biblia-como-pode-ela-ser-unica/ https://esperanca.com.br/espiritualidade/a-biblia-como-pode-ela-ser-unica/ https://esperanca.com.br/espiritualidade/a-biblia-como-pode-ela-ser-unica/ C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 35 ou parábola. Ela é sempre verdadeira, conforme têm demons- trado os últimos achados arqueológicos. Para estudos a respeito, consultar SILVA, Rodrigo P. Um desconhecido Galileu. Enge- nheiro Coelho, SP: Imprensa Universitária Adventista, 2001; e McDOWELL, Josh. Ele andou entre nós. São Paulo: Candeia, 1998; • Teste da sobrevivência: devemos convir que a Bíblia tem uma proteção especial, pois nenhum livro foi tão analisado, discuti- do, ridicularizado, maltratado e perseguido quanto ela. Todavia, ela está intacta em pleno século 21; • Teste do conhecimento: a Bíblia prediz o futuro de maneira sem errar, pois Seu Autor conhece o passado, presente e futuro; • Teste do reconhecimento: Jesus, os apóstolos e os pais da Igreja validaram a Bíblia, aceitando-a como a Palavra de Deus; • Teste do poder: a Bíblia tem o poder de operar mudanças. Ou- tros livros informam, mas ela transforma. Nela, as pessoas en- contram ajuda do Céu para vencer uma vida de pecado e derro- ta. A melhor prova da confiabilidade da Bíblia é o fato de ela ter transformado milhões de pessoas. REFLETINDO... Considerando que a Bíblia é um livro que foi escrito dentro de um contexto, e que guarda um significado específico, você considera correto uma pessoa interpretar a Bíblia com um simples “eu acho”?Por quê? Por que, algumas vezes, se dá tanto crédito ao conheci- mento científico e tão pouco crédito à Bíblia? BENEFÍCIOS INTELECTUAIS DO ESTUDO DA BÍBLIA Como afirma James Braga (1989, p. 7), “[...] um dos maiores privilégios que Deus concedeu a Seus filhos é a oportunidade de estudar a Sua Pa- lavra”, justamente porque nela encontramos as orientações que Ele nos oferece para um viver seguro, correto e de acordo com a Sua vontade. Acima de tudo, a Bíblia é o mapa que nos mostra o caminho que conduz à vida eterna. C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 36 Todavia, o benefício do estudo da Bíblia não se limita ao âmbito reli- gioso ou espiritual. A escritora Ellen White (2003, p. 124) afirma que “[...] como meio para o preparo intelectual, a Bíblia é mais eficiente do que qualquer outro livro, ou todos os livros reunidos”. Esta afirmação é surpreendente! É possível que alguém pense: “Não tenho dúvida da im- portância da Bíblia para a minha vida espiritual. Mas, como ela pode me ajudar na minha cognição, na minha inteligência?”. De acordo com Ellen White (2003, p. 124), a contribuição intelectual da Bíblia se fundamenta em três características da Escritura: “[...] a gran- deza de seus temas, a nobre simplicidade de suas declarações, a beleza de suas imagens”. Quando analisamos essa declaração, percebemos a rique- za oculta numa declaração tão despretensiosa. Vamos pensar em cada um desses itens. Quanto à grandeza dos temas da Bíblia, podemos afirmar que se exige esforço intelectual complexo na sistematização de seus assuntos: conhe- cimento (informação), compreensão (entendimento), aplicação (prática), análise (diferenciação das partes), síntese (esquematização), avaliação (juízo de valor). Como exemplo, podemos citar o esforço necessário para a compreensão de temas amplos, grandiosos, como a luta entre o bem e o mal; neste caso, não basta apenas dominar a informação do que significa a luta entre o bem e o mal, pois sua compreensão exige síntese e, inclusive, avaliação. Além disso, nossa mente se expande diante da variedade dos temas bíbli- cos – polifonia, enquanto que livros “acadêmicos” abordam apenas um tópico - monofonia (MARKS, 1998). Mais ainda: em livros comuns, as ideias são encontradas entre o texto; na Bíblia, somos levados a um con- texto mais amplo, e este exercício, por ser complexo e desafiador, torna-se um estimulador da inteligência. No que diz respeito à simplicidade das declarações bíblicas, imagine a singeleza e ao mesmo tempo a profundidade escondida em versos como “o Senhor é o meu Pastor, nada me faltará”. Ou “o reino dos céus é se- melhante ao fermento”. Ou, ainda, “posso todas as coisas naquEle que me fortalece”. Ao mesmo tempo em que essas afirmações sugerem coisas facilmente compreensíveis, como o cuidado de Deus por nós ou a ma- neira como Deus trabalha em nossa vida, é também verdade que elas nos C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 37 colocam diante de temas profundos: por que às vezes, aparentemente, Deus cuida de uns e não de outros? Por que Deus alcança rapidamente o coração de uns, enquanto que outros demoram tanto a se entregar a Ele? Finalmente, outra característica da Escritura que contribui para o de- senvolvimento de nosso intelecto é a beleza das suas imagens. Não há dúvidas de que as diversas metáforas e parábolas da Bíblia de certo modo nos levam ao mundo do “faz de conta”, do imaginário, possibilitando criatividade, liberdade e maior aplicabilidade. Por outro lado, os temas profundos e espirituais ficam mais compreensíveis e concretos pelas ima- gens que a Bíblia apresenta, assim como ajudam a fixar o conhecimento. UM LIVRO SINGULAR A Bíblia é um livro singular, e essa unicidade aponta para a sua origem divina. A singularidade da Escritura pode ser verificada em pelo menos quatro aspectos (WILKINSON; BOA, 2000, p. VIII-V), abordados a seguir. • Primeiro, ela é singular em sua produção. Sendo um só livro, é, contudo, formada de vários livros. Além disso, não é meramen- te uma coleção de histórias, cartas ou poesias. É uma perfeita unidade, progressiva e harmoniosa, girando sempre em torno de um assunto e uma pessoa: salvação em Jesus. E, diferenciando- -se abismalmente de qualquer outro livro, a Bíblia foi escrita em aproximadamente 1500 anos, em três idiomas diferentes, em três continentes diferentes e por autores fantasticamente diversos, dentre os quais um construtor de tendas, um médico, dois car- pinteiros, dois pescadores, alguns reis, um oficial da nobreza etc. • Segundo, ela é singular em sua preservação. Provavelmente seja o livro mais perseguido de toda a história do mundo. De fato, muitos tentaram proibi-la e destruí-la; mas seus esforços foram vãos. Ela é uma bigorna que tem esmiuçado muitos martelos. • Terceiro, ela é singular em suas proclamações. Na época de sua escrita, mais de um quarto de seu conteúdo era profético, a maior parte tendo já se cumprido com espantosa precisão. Seus temas abrangem desde o Céu até o inferno, do Bem ao mal, do Criador à criatura, do passado ao futuro, passando pelo presente. C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã 38 • Finalmente, ela é singular pelo seu resultado. Como nenhum outro livro, a Bíblia influenciou e influencia profundamente a cultura, o pensamento e história do mundo, modelando a arte, a música, a moralidade, a oratória, a lei, a política, a filosofia e a literatura. Além de influenciar pessoas, é claro. Diante de um livro tão especial – dádiva do Céu à Terra – o que podemos fazer? Temos apenas uma alternativa adequada: estudá-la, amá-la e seguir seus preceitos. MATERIAL COMPLEMENTAR A respeito da importância da leitura diária da Bíblia, sugerimos que consulte o artigo “Experimente o poder da Palavra de Deus” do teólogo adventista Ulrich Frikart. https://dialogue.adventist.org/pt/516/experimente-o-poder-da-palavra-de-deus 39C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã APLICANDO A TEORIA NA PRÁTICA Em seu valioso livro Bible Study Methods, Richard Warren (2006) apresenta doze métodos bastante práticos para o estudo da Bíblia, os quais podem servir de mapas para tornar a “viagem” pela Bíblia mais significativa e prazerosa. Confira, a seguir, uma síntese de três deles, que você pode usar em sua leitura pessoal da Bíblia. 1. Método devocional. Consiste em selecionar uma porção pequena da Bíblia, e depois meditar em oração até que Deus nos mostre a maneira correta de aplicar a verdade nela contida à nossa própria vida. A seguir, essa aplicação pessoal deve ser escrita a fim de torná-la clara e concreta. Finalmente, é importante memorizar um verso-chave que sintetize o es- tudo feito. 2. Método temático. O leitor deve selecionar um tema bíblico, e então pensar em quatro ou cinco perguntas que gostaria de ter respondidas sobre o tema, as quais podem incluir: O quê? Por quê? Quando? Como? Onde? Quem? Por exemplo: O que significa a expressão “até duas mil e trezentas tardes e manhã e o Santuário será purificado”? Por que a maioria dos mandamentos começa com a expressão “não”? Quando os pais devem começar a educar seus filhos nos caminhos do Senhor? Como podemos desenvolver o hábito de estudar a Bíblia? Onde começou a con- versão de Saulo? Quem escreveu o livro de Hebreus? A seguir, estudam-se todas as referências bíblicas que podem ser encontradas, sumarizando e registrando as respostas. Para este método, as ferramentas necessárias são uma Bíblia de estudo e uma boa concordância bíblica. 3. Método de estudo de palavras. Este é um método fascinante, e re- quer diversas ferramentas específicas para sua realização, como uma boa Bíblia de estudos, diversas traduções da Bíblia, concordância, dicionário e enciclopédia da Bíblia. Tendo na mão algumas palavras fundamentais da Bíblia, o leitor precisa descobrir quantas vezes ela aparece nas Escri- turas e como ela é usada. O objetivo principal é compreender o signifi- cado original para então determinar qual o sentido na passagem ondese encontra. 40C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã SÍNTESE Estas foram as principais ideias apresentadas no capítulo 2: • Deus inspirou a verdade nas mentes dos homens, os quais ex- pressaram estas mesmas verdades em suas próprias palavras, que foram consolidadas nas Escrituras. Portanto, inspiração é o pro- cesso através do qual Deus comunica Sua verdade eterna; • a inspiração bíblica consta de três fatores essenciais: Deus, como a Causa; os homens de Deus, como mediadores; e as Sagradas Escrituras, como o produto final da revelação, a autoridade de Deus registrada pelos homens; • a mensagem da Bíblia é a história da salvação; • a Bíblia é confiável, pois passa em diversos “testes”: autentici- dade, relevância, coerência, veracidade, sobrevivência, conheci- mento, reconhecimento e poder; • a contribuição intelectual da Bíblia se fundamenta em três ca- racterísticas: a grandeza de seus temas, a nobre simplicidade de suas declarações, e a beleza de suas imagens; • a Bíblia é um livro singular em sua produção, preservação, pro- clamação e resultado. 41C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã REFERÊNCIAS BENEDICTO, M. de. De bem com Jesus. Tatuí, SP: Casa Publicado- ra Brasileira, 2000. BRAGA, J. Como estudar a Bíblia. Deerfield, Florida: Vida, 1989. COMFORT, P. W. A origem da Bíblia. Rio de Janeiro: Casa Publica- dora das Assembleias de Deus, 1998. GEISLER, N.; NIX, W. Introdução bíblica: como a Bíblia chegou até nós. São Paulo: Vida, 1996. LESSA, R. (Ed.). Nisto cremos: as 28 crenças fundamentais da Igreja Adventista do Sétimo Dia. 8. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2008. MARKS, S. Ruptura da mente: excelência profissional através da leitu- ra e estudo de pérolas - a estratégia revolucionária do alto desempenho pessoal no terceiro milênio. Ijuí, RS: [s. n.], 1998. MERKH, D.; FRANÇA, P. 101 ideias criativas para professores. São Paulo: Hagnos, 2008. SUÁREZ, A. S. A escolha certa. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasilei- ra, 2001. WARREN, R. Bible Study Methods. Grand Rapids, MI: Zondervan, 2006. WHITE, E. G. Educação. 9. ed. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasilei- ra, 2003. WILKINSON, B.; BOA, K. Descobrindo a Bíblia. São Paulo: Can- deia, 2000. 42C o s m o v i s ã o B í b l i c o - C r i s t ã CONHECENDO O AUTOR Adolfo Semo Suarez é Doutor e Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Pós-Doutor em Teologia pela Es- cola Superior de Teologia (EST), em São Leopoldo, RS. É aluno de Pós- Doutorado em Teologia e Filosofia Cristã na Andrews University, Mi- chigan, United States. Bacharel em Teologia e Licenciado em Pedagogia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). Professor Titular na Faculdade de Teologia do Unasp, atuando na Graduação e na Pós-Graduação. É Coordenador de Graduação da Faculdade Adventista de Teologia do Unasp. É visiting professor do programa Master in Leader- ship, da Andrews University. w w w . d e l i n e a . c o m . b r 9 788569 315025 ISBN 978-85-69315-02-5 UNIDADE 1 Compreendendo o mundo 1.1 Cosmovisões: compreendendo a realidade que nos cerca 1.2 Por que precisamos de uma Cosmovisão? UNIDADE 2 A Bíblia: fonte de interpretação da realidade 2.1 A Bíblia como revelação de Deus 2.2 Fique tranquilo: podemos confiar na Bíblia! UNIDADE 3 Deus: fonte da vida 3.1 A existência de Deus 3.2 Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo UNIDADE 4 Cosmovisão na prática 4.1 Como me relacionar com Deus? 4.2 Como estudar a Bíblia?
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