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Parasitologia Letícia Iglesias Jejesky Med 106 1 Ascaridíase Causada pelo verme Ascaris lumbricoides que é principalmente prevalente em países de clima tropical e subtropical. Classificação taxonômica Filo: Nematoda (verme cilíndrico de tubo digestivo completo e com ciclo monoxênico; é considerado um parasito exclusivamente humano pela maioria dos autores) Classe: Secermentea Ordem: Ascaridida Família: Ascarididae Espécie: Ascaris lumbricoides (maior verme estudado em parasitologia; semelhante à minhoca) Ascaris lumbricoides Causador da doença denominada ascaridíase – também pode ser chamada de ascaríase ou ascaridiose. Nome popular: lombriga Morfologia Vermes longos, robustos (tegumento firme, sendo capazes de suportar tensões e pressões impostas pelo organismo do hospedeiro), cilíndricos e com extremidades afiladas Fases evolutivas: Macho, fêmea, ovo e larvas (se desenvolvem no interior dos ovos em condições especiais). Machos podem atingir até 20 – 30 centímetros de comprimento. Fêmeas podem atingir 40 – 50 centímetros de comprimento. O macho tem como característica especial a zona final do corpo espiralada, essa conformação anatômica serve para que o macho se prenda ao corpo da fêmea e realize a cópula. A robustez do verme é uma característica que traz problemas quando esses vermes exercem ação mecânica. Na extremidade posterior do corpo tem cauda e na extremidade anterior tem a boca. A boca possui três lábios musculosos que vão servir para que o verme se prenda na parede do intestino delgado. Essa fixação do verme traz ação traumática, eventualmente pode alcançar o conjuntivo e provocar sangramentos, mas em geral, não são tão importantes e não encontramos sangue nas fezes na ascaridíase. Ovo apresenta casca mamilada ou mamilonada, dotada de protuberâncias externas arredondadas que dirige para diagnóstico clínico. Essas protuberâncias garantem a retenção de umidade por parte do ovo para que haja desenvolvimento das larvas. As larvas se desenvolvem no ovo somente quando ele atinge o solo. Esse ovo dura por mais de um ano com a larva viva dentro dele. Apenas quando o ovo está presente no solo a larva se desenvolve e passa por três estágios: Larva de primeiro estágio (L1) – não infectante Larva de segundo estagio (L2) – não infectante Larva de terceiro estágio (L3) – infectante Quando o ovo contendo L3 é ingerido pelo ser humano, ovo eclode no intestino e libera a larva infectante. Os adultos podem provocar obstrução intestinal – ação mecânica obstrutiva. Parasitologia Letícia Iglesias Jejesky Med 106 2 Nos ovos inférteis não há desenvolvimento embrionário, não foram fertilizados, estão também presentes no exame parasitológico de fezes. De toda maneira, encontrando os ovos mamilados ou os ovos inférteis o diagnóstico é de ascaridíase. O diagnóstico se dá por exame parasitológico de fezes. A: Ovo embrionado B: Ovo larvado (cerca de 3 semanas após eliminação no solo) C: Ovo infértil Importância Ocorre em quase todos os países – geohelminto (passagem obrigatória pelo solo em seu ciclo biológico – tem preferência por clima tropical e subtropical); ou seja, para ascaridíase não há autoinfecção direta interna ou autoinfecção direta externa, pois, os ovos precisam passar pelo solo. Entretanto, se o indivíduo elimina ovos esses ovos passam três até quatro semanas no solo se desenvolvendo o mesmo indivíduo ingere os ovos isso é uma autoinfecção INDIRETA externa. Frequência depende das condições climáticas, ambientais (solo aerado, defecação no solo e áreas sombreadas) e desenvolvimento da população. Os grupos de principal risco são as crianças, elas geralmente têm cargas parasitárias mais altas, em geral. Segundo a OMS, mais de 1 bilhão de pessoas estão infectadas Ciclo biológico de Ascaris lumbricoides Os ovos embrionados são liberados nas fezes humanas no solo ocorre o desenvolvimento do ovo (L1 – L2 – L3) ingestão do ovo com L3 pelo ser humano eclosão da L3 no intestino delgado e pode realizar migração e invasão pela mucosa, mas principalmente migram para o ceco no ceco, invadem a mucosa e caem na corrente circulatória (essa invasão na corrente sanguínea também pode se dar no intestino delgado) as L3 via sistema porta-hepático chegam ao fígado e causam lesões hepáticas (sintomas hepáticos são brandos) migram até o coração direito pulmões (nos pulmões as L3 se desenvolvem em L3 – L4 – L5) a L5 está ambientada ao organismo e requer menos quantidade de oxigênio; ela perfura alvéolos pulmonares e se arrasta até vias aéreas superiores (lesões pulmonares, irritação do parênquima pulmonar – pneumonite e tosse) migração da L5 para a faringe deglutida pelo hospedeiro e chegam ao duodeno, onde originam adultos adultos se instalam no jejuno e no íleo após cerca de 30 dias dessa instalação, machos e fêmeas estão maduros, copulam e ovos são eliminados nas fezes. Porque ovo eliminado diretamente das fezes não é infectante para ascaridíase? Ele não possui a larva infectante. A passagem das larvas pelos pulmões se chama ciclo pulmonar ou ciclo de Looss. Paciente apresenta tosse antes de ter sintomalogia intestinal. O ciclo de Looss determina um conjunto sintomatológico: febre e tosse. Muitas vezes, durante acessos de tosses o paciente elimina larvas pela boca). A febre é ocasionada pela resposta imunológica e a tosse pela ação irritativa das larvas. A tríade sintomatológica febre, tosse e eosinofilia sanguínea caracteriza a síndrome de Loeffler. Parasitologia Letícia Iglesias Jejesky Med 106 3 Habitat Intestino delgado humano (jejuno e íleo) – mas podem atingir duodeno e ter localização ectópica (colédocos, ductos pancreáticos, narinas, seios da face). Ciclo Biológico Monoxênico Até 300.000 ovos não embrionados/fêmea/dia Maturação dos ovos no solo: depende da temperatura, umidade e oxigenação adequados. Fase Pulmonar: Ciclo de Looss – o ciclo pulmonar é conhecido como ciclo de Loss, ele tem consequências para o hospedeiro. Transmissão Ingestão de água e alimentos contaminados com ovos contendo larva infectante (L3) Poeira e insetos: veiculação mecânica Depósito subungueal – abaixo das unhas; hábitos ruins de higiene, quem lida com solo ou que eventualmente manuseia material contaminado com ovos. Patogenia 1. Larvas Infecções maciças: lesões hepáticas e pulmonares Em crianças – Síndrome de Loeffler Febre, tosse e eosinofilia sanguínea acentuada. Clinicamente, há discretos sinais de bronquite A fase larvária vai dirigir para a fase aguda da doença. Elas produzem lesões hepáticas (brandas) e pulmonares (são as mais importantes). Muitas larvas fazem com que lesões pulmonares sejam muito evidentes (pela ação tóxica, traumática e irritativa). Em crianças, principalmente em decorrência do ciclo pulmonar e das ações das larvas, acontece a Síndrome de Loeffler, que se caracteriza por febre baixa e duradoura, tosse produtiva (muco, catarro e possível eliminação de larvas) e taxa de eosinófilos alta. 2. Vermes adultos Infecções médias (cerca de 40 no intestino) ou maciças (100 ou mais) Ação tóxica: edema (redução da peristalse, menor capacidade de absorção, distensão abdominal) e urticária (manchas vermelhas pelo corpo pruriginosas ou não) Ação espoliadora (verme se nutre basicamente de glicose e usufruem de proteínas, vitaminas A, C e B12, carotenoides e sais minerais – causa anemia, perda de peso, desnutrição) Ação mecânica: irritação na parede (pela presença física do parasita – causas crises de dor abdominal, cólicas intermitentes, quadros diarreicos) e obstrução intestinal (essa ação mecânica obstrutiva pode levar à óbito, principalmente em criançacom menos de dois anos de idade). Localização ectópica: apêndice cecal, vesícula biliar, pâncreas, boca, narinas e ouvido. Adulto no pâncreas pode causas uma pancreatite fatal; na vesícula biliar pode causar a ruptura e óbito instantâneo. Por movimentos retroperistálticos, os vermes podem atingir o estômago, causando ação irritativa, levando o indivíduo a regurgitar. Sintomatologia Desconforto abdominal – cólicas intermitentes; Dor epigástrica e má digestão; Náuseas; Perda de apetite e emagrecimento – competição por vitaminas como B12, A e C; Sensação de coceira no nariz; Irritabilidade; Sono intranquilo – pela noite as cólicas costumas ser frequentes. Ranger de dentes à noite – bruxismo; relacionadas às toxinas e déficit nutricional. Pano (similar ao pano branco) – manchas brancas redondas espalhadas pelo corpo; são causadas pelo déficit de vitamina A e C. Parasitologia Letícia Iglesias Jejesky Med 106 4 Pessoas Hipersensíveis Urticária; Crises de asma brônquica; Convulsões; Crises epileptiformes; Meningites – as larvas podem migrar para o cérebro através da corrente sanguínea (localização ectópica). Não necessariamente a larva vai estar lá, mas as toxinas vão migrar até esses locais. Epidemiologia Helminto mais frequente nas áreas tropicais 30% da população mundial 70 a 90% das crianças de 1 a 10 anos Fatores que interferem na prevalência Grande produção de ovos Viabilidade do ovo infectante – se mantém por até 7 anos no solo Condições precárias de saneamento Temperatura e umidade ambiental elevada Dispersão dos ovos: chuva, vento e insetos Adultos: imunidade adquirida Profilaxia Educação sanitária Construção de fossas – pois o ovo é aeróbio. Lavar as mãos antes de manipular alimentos Tratamento em massa da população Proteção dos alimentos contra insetos Tratamento da Ascaridíase Anti-helmínticos recomendados: A. Piperazina: em uso há cerca de 3 décadas, que produz paralisia muscular flácida do helminto e permite sua expulsão passiva. Recomendada na obstrução intestinal associado a um antiespasmódico. B. Pamoato de pirantel: é um produto sintético, insolúvel na água e pouco absorvível, e se mostra eficaz também contra outros nematoides. C. Levamisol: é um anti-helmíntico de largo espectro, do grupo do mebendazol. D. Mebendazol: composto pouco solúvel, de largo espectro. Cura próxima de 100%. Praticamente sem efeitos colaterais, mas contraindicado em epilépticos. E. Flubendazol: do mesmo grupo que o mebendazol e também de amplo espectro. F. Nitazoxanida: baixa eficiência em caso de altas cargas parasitárias – Anita, não é tão eficiente para ascaridíase. G. Ivermectina: pouco investigada para a ascaridíase. Essas drogas não agem sobre larvas ou adultos fora dos intestinos. Em localizações ectópicas (pancreática, ductos biliares, seios da face, etc) é preciso outros tratamentos ou remoção mecânica – isso acontece em geral quando a carga parasitária é muito alta. Anti-helmíntico precisa ser administrado junto com óleo mineral para favorecer peristalse e eliminação do verme. Observações Se o sujeito é desnutrido e adquire ascaridíase ou adquire nova carga parasitária já estando desnutrido – o verme, por falta de nutrientes, se alimenta de células do intestino, produzindo sangramentos e lesões na parede do intestino – sangue nas fezes – essas situações são raríssimas. Para que haja desenvolvimento da larva infectante dentro do ovo são necessárias altas taxas de oxigênio. O ovo só se torna larvado no solo – por isso é geohelminto. Eosinofilia sanguínea é um marcador para várias parasitoses! – Professor tem falado muito sobre eosinofilia sanguínea, dar bastante atenção. Quando há grande acúmulo de vermes no intestino do paciente, podem ocorrer espasmos e obstruções intestinais, intussuscepção (tem imagem no slide), etc. Larva tem metabolismo aeróbio Adultos tem metabolismo anaeróbico, consumindo mais carboidrato e lipídios.
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