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[60 _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ A:....::c:::ONSELH AM EN TO PsrCO Ll'.>G !CO C EN TR AD O N A P y ~ A nexo III O P lan tãq P sico ló g ico está aí p ara isso! -. -~ N ão conheço quase ninguém : nessa classe ... Eles m e cham aram para entrar naquele grupo. Estou aprendendo um m ontão de coisas novas. Será que eu topo? M as é tanta m atéria para estudar! Se eu tirar notas baLxas, não sei com o vai ser lá em casa! A prender coisas novas ... N ovos am igos ... A m pliar horizontes é sem pre bom . N os m om entos de dificuldade, com o se sente falta. disso! E ntão é preciso pedir ajuda. O Plantão Psicológico está aí para isso! Q uerendo, apareça ( ... e cresça 1) . '/ ; f->',~ .~ j}w A -~ 9 PL A N T Ã O PSICO LÓ G ICO EM H O SPITA L PSIQ U U \.TR IC O ,:.-.-~-- -,.,, . ., -'a . • ,•J r\J"V\Í'\['(j\i ,_·- ~ Vlalcer Ca1,ce//,1 ],iniur A ntes de nos aprofundarm os na experiência do plantão ;:isicológico no h,ispi- ·tal psiquiátrico, con$idero im portante salientar que este breve trabalho nãn tem _-a pretensão de esgotar a questão. Esta é um a abordagem terapêutica recente, • pelo m enos no que se refere a um a instituição psiquiátrica, e tem os que ,far tem po ao tem po para que possam os vivenciar a experiência e :onceituá-la. Enfim . ;:fazer ciência e teorizar sobre os fatos. A té o té'rm ino deste ·elato, não tivem os (conhecim ento de outras instituições psiquiátricas que uti11zassem esca m o,ln- )dade terapêutica da form a com o aqui será abordada. 'i É im porrante iniciar a apresentação com caracterização do hospirnl psiqui,í- ~Í:rico onde está sendo realizada a prática, para que posrnm os visL;ali,Jr , ·experiência dl~ plantão inserida dentro de um concexto ma,., am plo. .. A C asa de Saúde N ossa Senhora de Fátim a é um a instt,uiç:io m "m tU ,, [>U r \·religiosas católicas pertencentes à C ongregação d3s Irm ãs H ospitaleiras do s~.~r.1- ; do C oração de Jesus. Essa congregação possui hospitais distriÍ:iuídos pela Eurur•;,. .>M ica, Á sia e A m érica Latina;-e elege com o objecu de sua dedica,;:'io e:,clu- i!·slvam enre o doente m ental. A forte influência hum anistc, m 1 icleul,,gia ,\·ssa (.congregação e, conseqüentem ente, na ideologia do hospital facilirou rnu iLO J ·.;im plantação e ·aceitação do plantão psicológico, assim com o suas conseqüênci,b _na dinâm ica hospitalar. A instituição em questiio é um hospital de porte m édio, com 170 lo.:iw s qt:t ··perm anecem invariavelm ente ocupados. Esses leitos estão di:M ibuídos em ,': · , -,.ip.arias que fom .am 5 se~ores distintos. A saber: térreo, prim ti.o andar -- ab, · .. ._:_,e B - e segundo andar·· -ah:ts A e B. N o térreo ficam pessoas cujo o nÍ\<=I slt'. ··desorganização e com prom etim ento causados pelo quadro patológico n:'io é r·i,' .intenso, e clientes provenientes de cunvênios parricubres. O prim eiro an.:la,·, . ala A é constituído por pessoas cronificadas otr deficientes m odern,lo, e grw es ló2 A CD N SELH A M EN TO PSICO LÓ G ICO C E N TR A D O N A PESSO A que necessitam de um a atenção direta da equipe da enferm agem . A atuação terapêutica neste setor é centrada na terapia ocupacional visando m elhor organização e uso m ais eficiente dos recursos internos disponíveis. N o prim eiro andar/ ala B irem os encontrar pessoas que estão em ·um a etapa m ais avançada do tratam ento e, portanto em um quadro sub-agudo. N esta ala estão alojados os idosos e clientes em condições de receberem alta hospitalar. O segundo andar/ ala A é constituído por pessoas em quadro agudo de sua doença. É portanto o andar de entrada na instituição. N este setor a ação é prioritariam ente-m edica- m entosa, visto que o nível de desorganização e a ruptura com a lógica são intensos. O estabelecim ento de um vínculo psicoterápico e a_ ação verbal é bastante restrito. N o segundo andar/ala B encontram os pessoas que saíram do m om ento agudo de sua doença, porém ainda não estão aptas a serem transferidas para as outras alas de terapêutica m enos ostensiva do ponto de vista m edicam entoso. Espera-se que o segundo andar/ala B seja um andar de transição, um a etapa interm ediária entre o m om ento agudo e a saída do hospital. É nesse m om ento que o trabalho psicoterápico tem se m ostrado m ais eficiente: A experiência nos m ostra que no m om ento agudo a relação terapêutica é pouco eficaz devido a vários fatores, tais com o: o alto _grau de desorganização interna que o indivíduo apresenta; a necessidade de um a intervenção m edicam entosa m ais agressiva que pode influenciar a capacidade elaborativa; etc. N os m om entos que prece- dem à alta hospitalar, a vinculação ao processo tam bém fica prejudicada, visto que o indivíduo encontra-se m obilizado para abandonar a instituição. C om o o breve relato estrutural da instituição deixou explícito, trabalham os · cÓm um a população bastante heterogênea, com posta de pessoas em quadro agudo e sub-agudo de suas doenças. M esm o os pacientes crônicos que estão internados encontram -se em um m om ento agudo na sua cronicidade. N ão possuím os paci- entes asilados e o período de internação visa ser o m ais breve possível, no intuito de m inim izar as seqüelas inevitáveis de um a instituição psiquiátrica a nível social. A lém disso, acreditam os que o lugar do paciente deva ·ser junto à sua fam ília e inserido na sociedade. 'A ful}ção da institucionalização é exercer um a ação terapêutica enquanto essa ainda não possa ser realizada em âm bito am bulatorial. O corpo clínico é constituído por oito psiquiatras, sendo dois plantonistas, nove residentes em psiquiatria, cinco clínicos gerais, três psicólogos, quatro estagiários de psicologia, dois terapeutas ocupacionais, duas recreacionistas, dois assistentes sociais, quatro enferm eiros, um farm acêutico e, por fim , um nutricionista. A equipe tenta trabalhar de um a m aneira coesa, com o intuito de potencializar ao m áxim o o curto tem po de internação. O setor de psicologia realiza grupos psicoterápicos, atendim entos individuais (em esquem a de psico,terapia breve e focal) e o plantão psicológico. Esporadica- PLA N TÁ O PSICOLÓG ICO E:-1 HOS_l'!:J:~ L_ l'SIQUJ.Ü lllCO i63 m ente, são realizados processos psicodiagnósticos, porém êssa tarefo n5o ,• a prioridade do setor, visto que o psicólogo é reconhecido nesta institu ição pela sua ação terapêutica direta. Para que possam os com preender o plantão psicológico qentro du contexto hospitalar, é necessário conhecerm os os conceitos de doença m ental que orientam a conduta terapêutica nesta instituição. .São vários os conceitos de doença que circulam pela nossa cultura e socie- dade. A O M S. (O rganização M undial de Saúde, 1993) considera a saúde com o um estado de com pleto bem -estar físico, m ental e social e não som ente a ausência de sintom as. Se nos determ os sobre esta conceituação, concordaríam os com M A U R IC IO K N O B EL (1986, p.10) ,que ao avaliar tal conceito em seu livro sobre psicoterapia breve afirm a que a única verdade que esso definição contém é a de que a ausência de sintom as não significa saúde, pois pc)de haver processos não m anifestos ou um a negação da doença. Se considerarm os esse conctir.1, chegaríam os à conclusão que estam os todos doentes. Q uando em um a socieda,ic m oderna, pós revolução industrial, capitalista e repleca de tensões e cxigênci::is, alguém pode afirm ar que encontra-se em tal equilíbrio? A parentem ente, esse conceito propõe um a hom eostase utópica. A vida é conseqüência de um jogo· de tensões onde há m om entos em que estam os bem fisicam ente, porém .·8 ansiedade ou a angústia podem aflorarnossa consciência, pois estam os vivus. Q ual cidadão pode falar de bem -estar social em um a sociedade com o a brasileira? O utro conceito utilizado pelo senso com um , e que surgiu a partir das prim eir::is tentativas da psiquiatria em definir seu cam po de atuação, costum a deHnir o doente m ental com o alguém "anorm al". Portanto, a doença m ental serú defini,b pelo não pertencim ento a um a regra geral (norm alidade). Se nos oricnt:ísS<.:111 .. , por esse conceito popular haveria com certeza um a superlotação das institui~õtcS . que tratam do doente m ental. Estariam em tratam ento gênios e todos os im li- " víduos que possuem um a habilidade especial. G randes personagens da história universal não poderiam realizar feitos m em oráveis, pois estariam institucionalizados por serem "loucos", sob a ótica desse conceito. A nnal, W olfgang A m adeus M ozart, A lbert Einstein e m uitos outros foram decididam ente indivíduos portadores de um dom especial que foge à regra geral, porém não foram doentes m entais. Percebem os que, nesse conceito, a "norm alidade", e portanto a saúde, seria detinda pela constância na m anifestação do fenôm eno. A saúde seria um a faixa esratística. Se levarm os esse raciocínio às últim as conseqüências, poderíam os considerar norm ais e saudáveis m anifestações evidentes da patologia soó;tl com o os crim es, por exem plo, esses ocorrem com um a cerca freqüência e sã•.) con.,;i..:lerndos um fenôm eno esperado dentro de um contexto social. É com um ouvirm os, principalm ente no contexto hospitalar, fam ili.,rés rtl~,i- rem -se ao doente m ental com o R yuele que "sofre de um a doénç,1 j.,, nen ,,.;" ~ -- A C O N S E LH A M E N TO PSIC O LÓ G IC O C E N TR A D O N A PEss~ ou da "cabeça". Existe im plícíto nesse discurso um outro conceito ineficiente de doença m ental. Sob essa ótica, o doente m ental é aquele que sofre. Em bora m uitas vezes o sofiim ento psíquico esteja evidente na doença m ental, não po- dem os definir a doença pela sua existência. _ 1 ,...----1'> O sofrim ento psíquico não precisa ser sintom a de doença. Em alguns casos, a ··';IJ' angústia ou a tristeza são sinais de saúde. D entro de um processo pslcoterápico, o -;-;.'\ sofrim ento pode significar que o sujeito está entrando ·em coritato com questões que até então eram negadas. Em situações de luto se espera a tristeza no cam inho para a elaboração da perda. Por outro lado, a ausência do sofrim ento tam bém não significa saúde. Q uem já teve a oportunidade de entrar em _conta to com um a pessoa em quadro m aníaco pôde perceber que não há" evidê~cias de sofiim ento no seu discurso e na sua interação com o m eio, assim com o não há ailg~stia no psicopata, no entanto, é inquestionável a existência de um a patologia. A conceituação da doença m ental é um tem a vasto e im preciso. N ão existem leis absolutas com o na nsica ou na m atem ática para a fonnulação de um conceito pleno. Q ualquer definição de doença m ental vai sofrer influências da cultura, da linha filosófica, da linha teórica e etc. daquele que conceitua. A psiquiatria vem tentando classitlcar e hom ogeinizar a doença m ental desde sua •origem . N o final do século X V III, Pinel fazia grande revolução do diagnóstico dos transtornos m entais, e no final do século X IX foi a vez de E. K reapelin fazer a segunda revo- lução (O M S. 1993). A té hoje vem os o esforço da psiquiatria na confecção do C .I.D .-10 (C ódigo Internacional de D oenças - 10). Poderia citar vários autores que contribuíram positivam ente com essa com plexa questão, criando conceitos que seriam úteis para orientar nossa prática terapêutica institucional (SC H EFF, 1978; SIV A D O N , 1973; B LEG ER , 1967; etc.), porém optei por duas conceituações que se destacam pela sim plicidade, abrangência e com plem entaridade. O prim eiro conceito define a doença m ental com o um a "patologia da liber- dade" (SO N E N R E IC H , C . e B A SSIIT , W ., 1979). Esse é um conceito de ori- gem psiquiátrica, no entanto, apesar de ser um conceito m édico, ele pode ser plenam ente eficiente orientando um a ação terapêutica psicológica. N esse conceito, a palavra "liberdade" refere-se à capacidade de o indivíduo optar, ou seja, de criar norm as próprias para se gerenciar. O doente m ental seria aquele indivíduo que perdeu a capacidade de optar e passa a viver regido pelas norm as ditadas pela sua patologia. Portanto, o doente m ental não é m ais senhor de seus atos, e, sim , escravo de sua doença. Para m elhor com preender esse conceito, basta pensarm os em um indivíduo neurótico obsessivo. O s rituais ob- sessivos são sintom as considerados absurdos frente a um a lógica racional, porém o doente não se arrisca a não cum pri-los. A s idéias obsessivas perm anecem na consciência, apesar de não aceitas pelo sujeito. Percebem os um a clara regência dos sintom as sobre a racionalidade. É por esse m otivo que a doença m ental leva à perda da cidadania do indivíduo, pois P LA N T ÁO _P:,ICO LÓ G IC~~_I_ flO >PIT.-\L PSIQ U I.~ TR JW _ _ [65 esse não pode fazer suas escolhas livre da pressão patológica intem ,1 e, srndo assim , passa a ter a necessidade de ser protegido. Essa proteç~o no m om,·11rn agudo de sua enferm idade tem o intuito de im pedir que o indivícluc, cc,!1\él:. atos que possam prejudicar a si e a seus próxim os. V em os nesse pauto :, jusrih· .. tiva para a institucionalização, desde que ela seja breve ·e eficiente. O segundo conceito vem para· com plem entar e aprofundar o que tui acim1 citado. Segundo A LFR ED O M O FFA IT (1983), a patologia seria unia dêsorgani- zação da tem poralidade e, conseqüentem em e, da identidade. Tentarei rransn1il ir de m aneira sucinta as idéias desse teórico. Para ele, a consdência é uni procc,- so pontual que ocorre de m om ento a m om ento, e o hom em através de um longo processo evolutivo co1:1-seguiu desenvolver um a construção im aginária que lhe assegura a continuidade de seu psiquism o (tem po) e, conseqüentem ente, Je sua identidade. D esta form a, o que nos difere dos anim ais J que esse só possui um presente im ediato, enquanto que o hom em , através dessa tram a, pos.m i u presente, sabe de seu passado e pode inferir sobre seu futuro. Essa continuidaJe no processo de consciência perm ite que o indivíduo crie sua idenridad,;;. O ponto central dessa teoria define que a doença m ental é a destruição dessa tram a de sustentação da continuidade do EU . C onseqüentem ente, a pessoa ,e fragm enta e dissolve a sua vivência de existir (crise). Ela descobre que o tem po não existe e catem um vazio paralisante e insuportável. Para superar essa situação, o indivíduo tenta construir um a nova tram a de continuidade, que nada m ais é do que um a restituição neurótica ou psicótica. Essa nova tram a não é com - partilhada por todos. O sujeito cria um novo EU isolado e alheio à cultura geral. C oncluindo de m aneira breve e sim plificada nosso raciocínio, com preendem os a doença m ental com o um m om ento de crise onde há um a torai desorganização da identidade do indivíduo que o retira da cultura geral, im pedindo-o de ·com ar decisões e optar de m aneira isenta no processo de gerenciam ento da vida. A partir do m om ento em que a doença m ental passa a ser visr3 por essa ótica, toda a ação terapêutica deve levar o indivíduo a se perceber com o agente de .rna existência, inserido e com prom etido com o m eio sociocultural que o cerca e apto para fazer opções livre de pressões internas. D e m aneira geral, o psicoterapeuta deve resgatar o indivíduo de um vazio paralisante (crise - doença m enta!) para a plenitude da sua cidadania. · D e possedesses conceitos, o desafio que se apresentou foi de· com o operacio- nalizar esse processo de m udança levando em conta que esse deve ocorrer, ou pelo m enos iniciar-se, dentro de um a instituição com características peculiares, com o todo hospital psiquiátrico, e em um tetnpo basrante reduzido, visto a bre- vidade das internações. A s form as tradicionais de atendim ento m ostr:1vam -se eficientes. Porém , havia a necessidade de otim izar ao m áxtm o o r<er.1po que dispCni.ham os para favorecer ao indivíduo as condições necess,írt::i.s para o Séll 1 1 !!m D 166 AC O N SELH AM EN TO PSIC.ULÓ G ICO C E N m A o o N A PESSO A desenvolvim ento. A lém disso, percebíam os na dinâm ica institucional caracte. rístirns que, em bora tivessem a m elhor das intenções, não facilitavam o m ovi- m ento do cliente em direção à saúde com o a com preendem os. A boa vinculação aos grupos psicoterápicos e aos atendim entos individuais m uitas vezes eram fictícios. O alto nível de freqüência não tinha a ver com um a conscientização de sua dem anda ou o desejo de se conhecer e se desenvolver, m as, sim , com um a pressão im pH cita para que o indivíduo se· vinculasse a um a atividade terapêutica, D essa form a, o cliente vinha ao grupo m obilizado pelo desejo da instituição e não pelo próprio desejo, e, conseqüentem ente, não fazia opções, não se gerenciava e não havia o resgate da própria ide.m idade. Estar em um grupo psicoterápico, ou m esm o em atendim ento individualizado pelo desejo alheio, m obiliza forces sentim entos persecutórios e cria um clim a que dificulta o estabelecim ento de um a relação terapêutica eficiente. O psicoterapeuta nessa situação não era visco com o um elem ento facilitador para que o cliente se percebesse, elaborasse um a queixa e ditasse seus rum os, e, sim , com o uin "alheiro" da instituição que iria "inform ar" aos outros m em bros do corpo clínico se os seus sintom as regrediram ou se estava ou não na hora da alta. É obvio que a constância no acendim ento m udava essa relação. Porém , isso custava um tem po m uito precioso, de que às vezes não dispúnham os. O s atendim entos em psicoterapia breve-focal, em bora tam bém cum pram seu papel, levantam questões. A técnica psicoterápica breve determ ina a eleição de focos que devem surgir a partir de diferentes níveis de diagnósticos com o propõe FIO R IN I (1978): diagnóstico clínico, psicodinâm ico, psicopatológico, evolutivo, psicossocial, com unicacional, adaptativo, etc. Esses focos quase sem - pre são determ inados pelo psicoterapeuta. N esse caso estaríam os determ inando diretrizes externas para um processo que pertence ao cliente. C oncordo que um . psicocerapeu ta bem -treinado possa identificar e antecipar focos conflicivos. Porém , de nada servirá ao cliente se conflitos não forem percebidos com o seus, e esse não esteja m obilizado a abordá-los. C abe ao cliente determ inar o que é m ais im portante e m erece ser abordado no m om ento, porém é crucial que o psicoterapeuca confie na capacidade do cliente para fazer esse m ovim ento e tente proporcionar um am biente facilitador para tal. H avia, portanto, a necessidade de um a abordagem que viesse suprir todos os pontos acim a citados. A intenção não era suprir as m odalidades terapêuticas existentes e sim im plantar um a form a de atendim ento qu~ fosse terapêutica por si só, e ao m esm o tem po, caso necessário, um a m aneira de integrar o cliente às abordagens psicoterápicas tradicionais de form a m ais com prom etida. A ansiedade frente a cal dem anda institucional levaram -m e ao encontro do plantão psicológico que acontece no Serviço de A conselham ento Psicológico do Instituto de Psicologia da U niversidade de São Paulo. A o fam iliarizar-m e P LA N TÁ (l PSICO LÓ G ICO W H O SPITAL _l'.>._ll.!~·•L_!I_Á_T_RJ_<.U _ _ _ _ _ _ _ _ _ lll/ -·-- - - - - com os aspectos teóricos dessa m odalidade terapêutica, percebi a viabiliJcide de im plantá-lo na instituição em questão. Para que seja possível a realização do plantão psicológico em um a instituiç5o, é necessário que essa acredite na capacidade de sua clientda em desenvolver- se. C A R L RO G ERS e K IN G ET (1975) afirm avam que: ''Todo orgrmismv é'""'.. : por um a tendência inerente para desenvolver toda as suas potencialidndes <! :• desenvolvê-las de maneira a favorecer sua conservação e seu enrit7uecimencu" (p. l:i'i). Se esse conceito, conhecido pelos rogerianos com o tendência atualizante, não for absorvido pela instituição é im possível a viabilidade do plantão, pois não haveria um solo fértil para que a experiência germ ine. A creditar nesse conceiro gera um clim a facilitador para que a pessoa possa m over-se em direção ao en• contra terapêutico que o plantão propicia. A inda do ponto de vista institucional, é necessário que haja um a sistem ati• zação do serviço. O cliente precisa saber quando e onde o plantonista vai estar à disposição. D entro de um hospital psiquiátrico, a sistem atização do serviço ·assum e um caráter terapêutico, na m edida em que estabelece coordenadas (tem - po e lugar) fixas que facilitam a reorganização alopsíquica· e autopsíquica do indivíduo. A lém disso, a sistem atização ajuda o cliente "em potencial" a com rolar sua angústia ao saber que poderá contar com alguém , caso suas sensações tom em - se insuportáveis em determ inado lugar e espaço de tem po. Q uanto ao plantonisca, esse deve estar preparado para um a situação tera- pêutica m uito diferente das abordagens tradicionais. O profissional deve estar ciente e disposto a se defrontar com o não planejado, situação m uito com um em um hospital psiquiátrico. Tanto o profissional com o o cliente devem saber da possibilidade de esse encontro ser único. A percepção da lim itação tem poral vai gerar um a m odificaçii0 interna nos participantes do encontro. Possibilitará ao plantonisra urna m aior sensibilidade frente as questões do cliente, e esse, por sua vez, .tentará reorganizar sua dem anda de m aneira a hierarquizar e priorizar aquilo qué é m ais im porrnn• te para si naquele m om ento. O lim ite é por si só um fator reorganiaador. C om o elegeríam os nossas prioridades na vida se não soubéssem os da exisc~nci:1 da m orre? H ierarquizam os nossos projetos de vida e nos organizam os a p:1rtir ela percepção de nossa finitude. Sendo a vida um bem ·transitório,. proporno-nos a utilizá-la de m aneira eficiente no intuito de tentarm os saciar nossas dem andas. O plantonista tam bém deve se propor a responder à dem anda du cliente naquele m om ento. Essa proposta, aparentem ente im possív~I. torna-se viável quando o profissional coloca-se à disposição para acolher a experiência do cliem e e não apenas seus sintom as. A dotando essa form a de conduta será possível facilitar ao cliente um a visão m ais am pla de si, que poderá quernonar-sc e entender seus sintum as inserido em um contexto m ais am plo. O que se d~sej,·, é 168 jl V. ACONSELHAM ENTO PSICOL_ÓGICO CEN !JtA C'O N,1 PESSOA q_ue O c(ience perceba-se inserido no m undo e passe a com preender suas ques- toes e sintom as não _m ais dissociados do geral, e, sim , com o parte integrante desse to?º· Esse m ovim ento vai dar um nov o valor à doença para o indivíduo m stttuc1onalizado, pois essa não m ais será um a entidade isolada e sim aloo contextualizado. "' - 4 A gora que abordam os de m aneira sucinta os pontos básicos dessa m odalida- de terapêutica, fica fácil justificar o plantão psicológico na insiituiç4o em ques- tão. A possibilidade de realizar um acendim ento eficiente em um curto espaço de tem po integra-se plenam ente à proposta do hospital em trabalhar com inter-nações de curto prazo. Q uando o plantão psicológico propicia ao cliente. um a visão m ais clara e abrangente de si e de suas perspectivas frente à problem ática, ele está prom ovendo saúde, com o a com preendem os. Q uando o indivíduo se questiona e se posiciona frente a seus conflitos, ele está fazendo opções e percebendo sua existência inserido em um contexto histórico-sociocultural. N esse m om ento, há um resgate da capa- cidade de optar e da própria identidade do sujeito. M esm o que esse resgate seja m om entâneo - com o m uitas vezes acontece - e o indivíduo m ergulhe na estag- nação e nulidade patológica em seguida, esses núcleos devem ser valorizados, pois falam de um potencial de saúde. D entro do caos psicótico há m om entos de organização e o plantão tem se m ostrado eficiente com o facilitador para· que esses m om entos ecludam . A postura desenvolvida pelo psicoterapeuta de aceitar in- condicionalm ente a experiência do cliente pennite que se estruture um cam po onde este pode entrar em contara com os fatores que vêm causando desorganização na sua relação com o m undo e, a partir daí, tentar um a organização m ais eficiente. Estar em sintonia consigo m esm o facilita ao cliente identificar sua dem anda e fazer um a opção com prom etida com as outras m odalidades terapêuticas dis- poníveis, inclusive a terapêutica m edicam entosa. G eralm ente, os clientes que procuram o plantão psicológico conseguem um a integração m ais ativa no grupo psicoterápico e m elhor se benefié'ia·m da dinâm ica grupal. Para essas pessoas, o grupo psicoterápico assum e um a nova conotação. N ão é m ais um a tarefa im posta pela instituição, m as, sim , um instrum ento de auto-conhecim ento e resgate da saúde com o a com preendem os. Eles estão no grupo por opção, pois sentem necessidade. A m esm a coisa ocorre com a psicoterapia individual. É com um o cliente querer prosseguir o trabalho iniciado no plantão de m aneira m ais sistem ática. A pós ter tido um a visão m ais am pla da sua experiência, e conseqüentem ente de sua dem anda, a pessoa tem m ais condiç_ões de estabelecer e hierarquizar os focos a serem abordados nessa nova etapa de tratam ento. N ão existe m ais a necessidade de o psicoterapeuta estabelecer de m aneira unilateral os focos da abordagem . Esse m ovim ento do cliente determ inando os rum os do processo (_e /5<:> ;,~ PtA N T Á()_ PSICOLÓGICO EM_l:l_c?SPITAL !'SIQL!IÁTl{JCO lw psicoterápico só é possível devido ao clim a de aceirnção im:ondicion:il q11c pre- valece no encontro. A própria possibilidade de escolher se quer ou não utili,ar-se do plan1fo é um ato de saúde) pois está im plícito nessa acirnde um a opçfi1) L 11m ,1 t\.i , contestatória da nulidade patológica. O utra vantagem do plantão psicológico no conrexto hospitalar re/Ú c "' _, possibilidade de atender de m aneira eiiciente um a população bastam e hcr,·,,1- gênea. Podem beneficiar-se do plantão pessoas bastante detetioradas pela lustórw de doença (deficientes, crônicos, oligofrênicos, dem enciailos, etc.) e aqul"les que m antêm preservado sua capacidade sim bólica e elaborativa (neuróticos, depressivos, alguns quadros psicóticos, etc.), visto que a ação psicoterapêutica é centrada na própria experiência do cliente. Para m elhor com preenderm os a abrangência dessa m odalidade terapêutica, irei expor dois casos que passaram pelo nosso serviço de plantão psicológico. R.F.A . possui o diagnóstico psiquiátrico de esquizofrenia residual. As scqüe- las deixadas pelos vários surtos psicóticos transform aram -na .,~m um a pessoa bas- tante com prom etida e m arcada pela cronicidade. O contaro é ditlcil e a aíeti- vidade encontra-se bastante prejudicada. Seria im possível vincular um a ptssoa com este grau de deterioração a um grupo psicoterápico ou m esm o a um a psicorc • rapia individual. C erto dia, R.F.A . entrou no consultório onde era rea!trn,!u u plantão psicológico. Sentou-se e perm aneceu em silêncio por um longo perí0do. Por trás de sua expressão cronificada e de seu quase autism o, deLxava rran.sparecer um certo incôm odo. Perguntei o que havia acontecido. Com m uito esforço e com poucas palavras R.F.A . apontou para os pés descalços e contou que havia perdido seus sapatos. N esse m om ento, com eçam os um exaustivo trabalho visan- do relem brar quando fora a últim a vez que os havia visto. A pontei a im porrôn- cia de cuidar daquilo que lhe pertence. Saúnos à procura dos sapatos de R. EA. por todo o setor até os encontrarm os abandonados sob um a cadeira. R. Ei\. calçou-os, sorriü e voltou para o seu m undo de alheam ento. Porém , até -o ·1111, de sua internação, toda vez que m e via pelos corredores do hospital apontava paro os pés e sorria, com o se quisesse dizer que havia se benefíci.1do do nci;;o breve atendim ento. N esse rápido encontro foi resgatado, sem dúvida, m uito m ais do que um par de sapato. Estava im plícito nesse atendim ento o resgate da indi•;i- dualidade de R.F.A . à m edida que agora tentasse cuidar do que é seu P:!l'ece ser pouco, porém é m uito se levarm os em conta o quadro patológico de R.EA . O segundo caso não fala de um a pessoa tão com prom etida. N.S.C. 1inha, na época da sua internação, 31 anos. N a verdade, aquela era sua segunda im w uçéio com diagnóstico psiquiátrico de politóxicofilia. A pesar do uso con;tante, a dn,g,, não havia com prom etido sua capacidade sim bólica e elaborativa. Na suc, prim eira internação, N .S.C. participava dos grupos psicoterápicos e foi ~tendida ;,,Jivi:lu- alm ente, porém não apresentava um a !x,a vinculação às aba, 'Jgens. !/,--~, ,r "'J' i 170 ê1;; , Íi~ • ,' ;,,.Í"- \r'"" [ 1 ,,f' i A C O N S E LH A M E N TO P S JC O LÓ ü!C O C E N TR A D O N A PESSO A N a segunda internação d · -- - forte t r r ' 1 'tabi'l'd d d ' º1 qua ro era m arcado por um a grande ansiedade e 1 a e causa a pe a b · • • d d m ais intensa N S ª s~ encia a roga. Em um a crise de angústia l~[ . E.11 f1h;. t;j[ t,1~, ~ir f: ,,,,,.;:,. i ,' 1 ~·, l ·uC·, ; :1[t t'~. ,_;i!.''.··• 111, J~Ú. ~{ ':\'' }{ i~~':, ~~fl:' i~~· :it ti,. ;~~· 1 A ff...: fJ·· f•' )', 1.· enco t fi , · 1 .C . procurou o plantao psicológico. N os prim eiros m om entos do n ro cou caro a preocu a - d 1· fi 1 . P çao a c tente em constatar se podia ou não con- ar no p antom sta. A firm a - va que a questao que a levara a procurar o plantão era m eram ente adm inistrativa. A pós vencer um a grande resistência N .S.C . relatou que ouV 1ra o t · b' · ' . u ras internas com m arem de trazer drogas para dentro· da instituição após a licença hospitalar. N .S.C . m ostrava-se extrem am ente irritada com o discurso de _suas _colegas ao ponto de quase perder o controle de suas atitudes. Tentava racionalizar suas em oções justificando que era incorreto ·o não respeito às regras do hospital. A pós ouvi-la por um longo período, apontei que tanta carga em ocional não estava sendo m obilizada apenas pelo desrespeito a um a das regras do hospital. N a verdade, hªvia a possibilidade de N .S.C . ficar frente a frente com a droga, e isso a atem orizava, pois não acreditava na sua capacidade de controlar-se. A cliente conseguiu perceber sua fragilidade frente à droga e de com o depositava toda a raiva m obilizada em suas colegas. H avia sido destruído naquele m om ento o discurso típico do toxicofílico, que costum a afirm ar sua suprem acia frente ao im pulso de se drogar. À m edida que a sessão prosseguia, N .S.C . foi entrando em contato com sua angústia e pode elaborar um a queixa. A pós esse encontro, a vinculação de N .S.C . com as várias m odalidades terapêuticas se m odificou porcom pleto. A o sair de ai ta levou consigo um encam inham ento para prosseguir seu processo psicoterápico. A lém do caráter terapêutico, o plantão psicológico pode ter várias finalidades secundárias. N a instituição em questão, a com posição dos grupos psicoterápicos tende a ser a m ais hom ogênea possível, no que se refere à capacidade elaborativa e de sim bolização. A pesar de term os plena consciência que a heterogeneidade pode enriquecer a dinâm ica grupal, o pequeno prazo de internação não nos perm ite um a com posição que possa levar a um a ação terapêutica m ais lenta. C om o intuito de facilitar o processo de integração ao contexto grupal e, conse- qüentem ente, otim izar o processo psicoterápico, os grupos são constituídos pela fusão das enferm arias de um a ala. Dessa form a os internos podem usufruir de um período de convivência m aior. Isso facilita a interação no ato da sessão, dim inuindo, assim , o período de adaptação ao processo. Portanto, para que esse fim seja alcançado, a com posição das alas deve obedecer a um a orientação do setor de psicologia. D urante o plantão psicológico, o plàntonista tem a possibilidade de avaliar a capacidade do indivíduo em lidar com as intervenções, seu potencial elaborativo e sua capacidade de sim bolização e, a partir desse_sd _ados, encam inhá-lo a um a enferm aria que o levará a um grupó rriais condizente com seu potencial. N esse = --v= !t.~ ~ PLANT.-i.O P$1C O LO O IC O E~1 !-iO?l'!TAL P:-i!Q Ul.~TIUCO 17 t caso, o plantão psicológico serve com o um instrum ento de. orgunizaçcio _;,11 .,. ,. ral do setor de psicologia. As exigências da sociedade m oderna levaram os profissionais dt saúde a um processo de especialização intenso que acabou gerando um a visão fragm cm nd" do ser hum ano. O s profissionais se restringem às suas especialidades e esquecem de ver o indivíduo com o um todo. O psicólogo não é exceção, pois m uitas vezes o cliente é visto com o um grande "aparelho psíquico". O plantão psicológico é um instrum ento que se propõe a facilitar o resgJJc de um a visão m ais integrada do cliente (Psico-B io-Social). O plantonista não deve estar atento apenas às queixas psicológicas do cliente, m as sim , no m odo com o a situação conflitiva interfere nas várias esferas da vida da pessoa. A colher a expe- riência global do cliente, e não orientar os rum os do encontro pela sua especialidade, coloca o plantonista em um a posição privilegiada para fazer encam inham entos quando necessário. N o hospital psiquiátrico não é Jifcr,n, ,. A pós o plantão, o ato de encam inhar para os serviços internos (terapia ocupa,ian,ol, · serviço social, clínico geral) ou externos tom ou-se m ais fácjl e eficiente. A pesar da abrangência dessa m odalidade terapêutica, e·xistem alguns lim ites que im pedem ou dificultam a relação de ajuda. Esses lim ites tom am -se m ais evidentes no contexto hospitalar. O s quadros esquizóides onde o indivíduo cem um a exclusão sistem ática da vida afetiva, ou esteja m ergulhado em um profundo autism o bleulerianu, n§o irão poder aproveitar-se dessa abordagem . Para que haja um encontro e um a relação terapêutica eficiente é necessário que a pessoa m antenha relarivam ente preservada sua capacidade de interação. Q uadros m aníaco, caracteri:ados por um a profunda agitação psicom otora, aceleração do pensam ento e alterações cb im aginação tam bém são de am bição lim itada. O m áxim o que pode ser leito é estabelecer lim ites externos para a exaltação, visto que os internos estão ausentes. M esm o os clientes que não estejam com suas capacidades básicas prejudic.,c'." pela doença irão benetlciar-se de m aneira lim itada se não. ,iverem disp,,niLih- dade interna para se auto-conhecerem . O s lim ites não devem ser attibuíJos apenas a lesões residuais causadas pela doença ou a indisponibilid~cle interna do cliente, pois dessa form a a responsabilidade do fracasso recai som ente no cliente. M uitas vezes é o plantonista que lim ita a potencialidade do encontro. N ão é todos os dias que o plantonista sente-se apto para estabelecer um a reloção em pática. A relação de ajuda com pessoas em quadro psicótico exige um :, disponibilidade im ensa que vai depender de com o o plam onista lido com seus conteúdos internos. Fatores externos à relação de ajuda tam bém lim icnrn stlª abrangência. Q uestões ligadas à organização técnica institucional, excesso Je .. m edicação, efeitos colaterais dos psicofárm acos e etc., são extremc1m ,· 1110 lim itantes. r r l72 A - - - - - - CONSELHAM ENTO PSl( ... "OLÓG ICO C E N TR A D O NA PESSOA ~.'f,'f \\~ 1 /0 _ .p la n tã o psicoló!ic~, com sua· proposta inovadora, proporci~nou m udanças r [,· 1 / s,i_gm ticat:vas na ~m am ica hospttalar. C onstatam os· de m aneira em pírica um a (!i dtm m uiça~ nos m veis de ansiedade e irritabilidade nos setores que têm acesso , · a esse serv1ç A · · b']'d d · i-t , . o. tm ta 1 1 a e e a agressividade, excluindo os quadros onde tal ,}1:: m anifestação faz parte integrante da estrutura nosográfica (encefalopatias por !J · ex_em plo), yodem ~er in:erpretadas com o sintom as provenientes da inadaptação b: à m st1tu1çao e à s1tuaçao de ruptura no processo de vida do irrdivíduo. Se o r,;I! . cliente tem um espaço onde ele pode falar de sua internação e de suas conse- ~; 1; qüências, _este nã_o precisará interagir com o m eio influenciado por essa forte ~' 1 _;: carga afetiva. O interno não precisará projetar sua -irritabilidade para o m eio ~; !,I_. externo, pois poderá utilizar-se do plantão para colocar o afeto na sua verdadeira ~:jr, representação. Portanto; o plantão psicológico tem se m ostrado um a eficiente r,,;., válvula de escape para as tensões institucionais. Talvez por ser um a form a de [ ir~_: / at~ndim ento com características diferentes das tradicionais, os internos se per~ 1;,;- m 1tem procurar o plantão para falar da relação com a instituição. N esses casos, 1 /~, 1 a crise e o sofrim ento psíquico são colocados em segundo plano, e o cliente ;:!~.·.{ passa a _abordar as atitudes institucionais. Além _ do s_inal de sa_úde, tal atitude ,;f :·: evidencia um a m udança na quahdade da relaça o ps1cólogo-chente. ~;,,: O setor de psicologia parece ter assum ido um lugar m uito m ais próxim o da i • ... :,\.~f,:- cU entela_ graças à disponibilidade e ao acolhim ento que caracterizam o plantão ;,lj~ pstcológtco. , 1r- A resposta positiva que o plantão psicológico gerou nos internos m obilizou- '!:·i . nos para am p~iarrnos a experiência: Se tal abordagem perm ite que pessoas com i_,·~;, acentuado n1vel de com prom enm ento possam estar v1vencrnndo novas ,.'[:, experiências e se reorganizando a partir delas, nada im pede de a utili.iarrnos /;!~ com o instrum ento terapêutico junto às fam ílias dos internos e à própria instituição. 1 1·;, A experiência nos m ostra que o processo terapêutico tom a-se m ais eficiente I, quando com preendem os a doença m ental com o um fenôm eno am plo que não se jJ encerra som ente naquele que apresenta o quadro psicopatológico. O contexto social - e principalm ente a fam ília - tem papel relevante no processo de adoecim ento e desencadeam ento da crise. A partir da segunda m etade do século XX vários autores abordaram a im portância desta dinâm ica relacional. A pesar dos progressos da genética e da neurologia, a ação do m eio continua a ter papel relevante no desenvolvim ento psíquico do indivíduo. Partindo deste pressuposto, o D epartam ento de psicologia viu a necessidade de am pliar o seu espectro de ação. A pesar de o indivíduo institucionaliiado ser o alvo principal de nossa ação, percebem os que nossa intervençãopoderia ser poten- cialiiada se atingíssem os tam bém a fam ília. A intenção é aproveitar este m om en- to de ruptura que a doença m ental e a própria necessidade de internação geram nesta dinâm ic_a fam iliar pouco adaptada-e patogênica e tentar fa'zer"corii que :.f? P ~ T À O PSILULÓ<..110,.\ E/li HO S/'IT.~L PSJQUI.-\TRJC_O _ _ _ _ _ _ _ ' ___ _ __ _l_Zl am bas as parte.s (fam iltares~indivíduo institucionalizado) renh,1m um u vi'vt·11cia diferente da anterior. A princípio, tentam os prom over esta intervençcio arrav~s da convocação dos fam iliares. N o entanto, a resposta era bastanre pequen,1. A fr1c1ilia que com parecia não se colocava no lugar de clienre e prevaleciam (l1/"le.s sentim entos persecutórios que bloqueavam o acesso a uma intervenção efk:1~. O discurso perm anecia voltado ao elem ento fam iliar internado e a cc 1nvocaç:t1) er:1 vivenciada com o um ato agressivo da instiruição. C onseqü~ntem em i:: 5t1 r~ 1.!lr, fortes resistências e atitudes defensivas. Estava sendo ignorado nesta proposta um a das leis básicas da intervenção terapêutica. Q ualquer proposta que vise m udanças em um a estrutura conílitiv:, só pode rer êxito se am bas as panes envolvidas (cliente -ps1coterapeuta) SJbem de seu papel e o aceitam . É necessário que a pessoa identifique tm si a de1n~111J.1 e faça um pedido de ajuda. Sendo assim , configura-se o lugar de clienre (aquele que sofre e se propõem a intervir neste sofrim ento) e psicoterapeuta (aquele · que se propõe a acom panhar e a ajudar neste .processo de intervenção). N ovam ente o plantão psicológico surgia com o um a opçã0 eficaz para con..:i~ Uar o que é aparentem ente inconciliável. Foram abertos vários horárius nn rP t "1~1 do hospital para que as fam ílias pudessem se beneficiar desse espaço t,tJfk'"''·' Esses horários ficavam estrategicam ente próxim os do hora.:io de visirns t' da · conversa com o m édico. Sendo assim , quando a fam ília vinha visirnr seu JvcnLt poderia, se desejasse, beneficiar-se do plantão psicológico fam iliar. Prom ovem os na equipe e na instituição um clim a propício para que as fam ílias se sentissem m obilizadas e seguras para utilizarem esse espaço. A princípio o núm ero de fam ílias que procuravam o serviço er.1 pequeno. A tendência era de com parecer para obter infom 1ações do familiar internadu. C Jbia ao plantonista localizar e resgatar a angústia do cliente e deLxar claro 4ue aquele espaço era de uso exclusivo dele 1 se assim desejasse. Conseqüentem ente, os prim eiros 11aventureiros 11 voltavam e traziam novos clientes, O em Drião drslc projeto de atendim ento foi im plantado em 1995; hoje percebem os que o n(unero de fam ílias beneficiadas aum entou significativam ente. N os prim eiros m eses cio ano de 1997 atendem os o dobro de fam ílias que no m esm o período do ano anterior. Frente a esta resposta positiva surgem novos questionam entos. Tenw s L .)11:,i projeto futuro exam inarm os a correlação entre o com parecim i:nt0 da fam íli~t ;io plantão psicológico e os índices de reinternação, A grande vantagem do plantão psicológico é a pussibilidade ele gerar um:1 intervenção etlciente e breve através de um a técnica versátil que perm ire um a am pla aplicabilidade, Tal flexibilidade só é possível porque todo o processu Je intervenção fica centrado no cliente. Podem os atender a pessoa inrernad,1 cum grave com prom etim ento, a sua fam ília, e até m esm u :.i insntui,;ãu qut:> a :-ico\he de · um a form a indireta. .1 / I li ,/ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ A--'CO--'----N--'SE.c:L~E N T O Ps1cou'.~!---~ ~ ~ Partindo do pressuposto que· um a instituição está bem quando os m em bros que a com põem estão bem , fez-se necessário em um determ inado m om ento da hIBtória do hospital oferecer um espaço de continência para seus funcionários. Percebíam os o quanto o contato constante com a doença m ental sem o devido respaldo psicológico criava um a vivência interna am eaçadora, que refletia no trato com o cliente e na própria dinâm ica institucional. N dem anda era evidente, porém não possuíam os instrum entos para nela intervir. N ão podíam os encam inhar todos os funcionários para psicoterapia, pois sabíam os da ineficácia e da im possibilidade dessa conduta. N ovam ente recorrem os à estrutura do plantão psicológico para dar conta dessa dem anda instituciona). O funcionário passou a possuir um espaço para expressar suas angúsàas, seus anseios e se instrum entalizar para dar conta das exigências internas e do seu cotidiano. Este pôde procurar o plantão quando sentia necessidade ou desenvolvia um projeto psicoterápico breve na própria instituição. Se desejasse, poderia ser encam inhado para um a psicoterapia de longo curso fora da estrutura do hospital. A pós a im plantação deste serviço, percebem os que as tensões institucionais tornaram -se m enos em ergentes e o acolhim ento ao doente m eneai, m ais efi- ciente. D esenvolver um projeto de plantão psicológico para os funcionários exigiu certos cuidados. Prim eiro, tivem os que contar com a com preensão da direção, pois o plantão ocorre durante o horário de trabalho. Sendo assim , m uitas vezes o funcionário abandona seu posto para beneficiar-se do atendim ento. Tal situação foi contornada graças ao sucesso das experiências com os internos e seus fam i- liares. Em seguida, a situação exigia que o plantonista tivesse um a vinculação especial com a instituição. C onsideram os im produàvo que o plantonista respon- sável pelo atendim ento ao., internos e seus fam iliares tam bém atendesse os fun- cionários. A proxim idade do vfnculo profissional poderia intervir na liberdade de expressão do cliente. Sendo assim , o plantonista que atendesse os funcionários teria exclusividade nesta tarefa. Seu trabalho ficaria totalm ente voltado à instituição. H oje, além do plantão· psicológico aos funcionários; grupos operativos são realizados com a equipe de atendentes de enferm agem visando o aprim ora- m ento pessoal e inter-relacional. C om o havia dito nas prim eiras linhas deste trabalho, não tenho a intenção de esgotar a questão. A cada plantão realizado nos deparam os com novas potencialidades que nos instigam para novos estudos e pesquisas. O plantão psicológico é um instrum ento viável para o resgate da cidadania e a reinteração do indivíduo institucionalizado no jogo social, assim corno é eficaz para o pro- cesso de aprim oram ento hum ano. l~"T PLANT ÁO P~ICOLÓGICO E! f HOSPITAL PSl9_UIÁ TIUCO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ·- - - - ·- __ _ _ _ Jli füEG ER}. (1967) PslCO LO G IA y NW ELES DE (M 'EG R AC IÓ N ., BUENOS A IRES, A cv . PSIQL:1.-'T. PstC.'OL. AM ER. LATINA. 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