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120 Unidade III Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Unidade III 7 A depressão e suA repercussão no Adoecimento e no trAtAmento Começaremos agora nosso estudo sobre a depressão e a sua repercussão no adoecimento e no tratamento. Este sempre foi um tema que despertou muita preocupação nos profissionais, pois a baixa disposição e o estado de ânimo da pessoa com depressão dificulta o desenvolvimento do trabalho dos profissionais que atuam junto a essa demanda. Comumente ouvimos as pessoas falarem que estão deprimidas, e mais comum ainda é a expressão “estou deprê”. Tenho certeza de que você já ouviu isso, não é mesmo? Mas será que depressão é algo assim tão simples que em um dia se tem e em outro não se tem mais? Claro que não! Depressão é um quadro psíquico sério que se não for adequadamente tratado pode levar a pessoa a desenvolver comportamentos que trarão transtornos enormes tanto para si mesma como para sua família. A pessoa com depressão, além de ter afetada sua relação com o mundo, apresenta certa mudança na postura corporal. Se não houver orientação e tratamento, a motivação para sair do episódio depressivo será muito difícil. Iniciemos com a sua definição de acordo com a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID‑10 (OMS, 2007), que coloca a depressão como parte dos transtornos de humor (afetivos), Código F32 – Episódio depressivo, assim descrito: • Nos episódios típicos de cada um dos três graus de depressão (leve, moderado ou grave), o paciente apresenta rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição da atividade. Existe alteração da capacidade de experimentar o prazer, perda de interesse e diminuição da capacidade de concentração, associadas em geral a fadiga acentuada, mesmo após um esforço mínimo. Observam‑se em geral problemas de sono e diminuição do apetite. Existe quase sempre uma diminuição da autoestima e da autoconfiança e frequentemente ideias de culpabilidade e/ou indignidade, mesmo nas formas leves. O humor depressivo varia pouco de dia para dia ou segundo as circunstâncias e pode acompanhar‑se de sintomas ditos “somáticos” – por exemplo, perda de interesse ou prazer, despertar matinal precoce, várias horas antes da hora habitual de despertar, agravamento matinal da depressão, lentidão psicomotora acentuada, agitação, perda de apetite, perda de peso e perda da libido. O número e a gravidade dos sintomas permitem três graus de um episódio depressivo: leve, moderado e grave. — Inclui episódios isolados de uma: ‑ depressão psicogênica; 121 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Psicologia aPlicada à FisioteraPia ‑ depressão reativa; ‑ reação depressiva. — Exclui, quando associados com transtornos de conduta em F91.‑(F92.0): ‑ transtornos de adaptação (F43.2); ‑ transtorno depressivo recorrente (F33.‑). É importante esclarecer que a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID‑10 é um manual publicado pela OMS, sendo referência para a classificação de todos os transtornos mentais, trazendo as descrições clínicas e as diretrizes para o diagnóstico. Vamos definir as depressões conforme as suas variedades descritas na CID‑10 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2007): • episódio depressivo leve: nele, geralmente estão presentes ao menos dois ou três dos sintomas citados anteriormente. O paciente usualmente sofre com a presença desses sintomas, mas provavelmente será capaz de desempenhar a maior parte das atividades; • episódio depressivo moderado: nele, geralmente estão presentes quatro ou mais dos sintomas citados anteriormente e o paciente aparentemente tem muita dificuldade para continuar a desempenhar as atividades de rotina; • episódio depressivo grave sem sintoma psicótico: episódio depressivo no qual vários dos sintomas são acentuados e angustiantes, tipicamente a perda da autoestima e ideias de desvalia ou culpa. As ideias e os atos suicidas são comuns e observa‑se em geral uma série de sintoma “somáticos”. — Depressão: ‑ agitada; ‑ maior (episódio único sem sintomas psicóticos); ‑ maior vital. • episódio depressivo grave com sintomas psicóticos: episódio depressivo correspondente à descrição de um episódio depressivo grave (F32.2), mas acompanhado de alucinações, de ideias delirantes, de uma lentidão psicomotora ou de estupor de tal gravidade que todas as atividades sociais normais tornam‑se impossíveis; pode existir o risco de morrer por suicídio, de desidratação ou de desnutrição. As alucinações e os delírios podem não corresponder ao caráter dominante do distúrbio afetivo. Há episódios isolados de: 122 Unidade III Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 — depressão: ‑ maior com sintomas psicóticos; ‑ psicótica; ‑ psicose depressiva; ‑ psicogênica; ‑ reativa. • Outros episódios depressivos: — depressão atípica; — episódios isolados de uma depressão “mascarada” SOE; — episódio depressivo não especificado; — depressão SOE; — transtorno depressivo SOE. Observe com quantas variáveis a depressão pode ser manifestar. Em todas elas existe com certeza um grande sofrimento para a pessoa e para aqueles que a cercam. Seja qual for a característica da depressão, vemos que há em comum entre todos os tipos o sentimento de inutilidade e a perda da autoestima e da autoconfiança, entre outros sentimentos. Consequentemente, haverá a perda do equilíbrio e da disposição para o enfrentamento de situações do dia a dia. Morris e Maisto (2004, p. 408) citam os sintomas para o diagnóstico da depressão de acordo com DSM‑IV, que orienta que ao menos cinco dos sintomas a seguir, incluindo pelo menos um dos dois primeiros, devem estar presentes: • Temperamento deprimido: a pessoa se sente triste ou vazia na maior parte do dia, quase todos os dias – ou os outros observam esses sintomas? • Perda de interesse no prazer: a pessoa perdeu interesse em desempenhar as atividades normais, como trabalhar ou ir a eventos sociais? A pessoa parece estar “simplesmente levando” a vida diária, sem obter qualquer prazer dela? 123 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Psicologia aPlicada à FisioteraPia • Perda ou ganho significativo de peso: a pessoa ganhou peso ou perdeu mais de cinco por cento do peso corporal em um mês? A pessoa perdeu o interesse em comer ou reclama que a comida perdeu o sabor? • Transtornos de sono: a pessoa está com dificuldades para dormir – ou, ao contrário, está dormindo demais? • Transtornos nas atividades motoras: os outros observam uma mudança no nível de atividade da pessoa? A pessoa “fica parada” ou demonstra agitação e inquietação incomuns? • Fadiga: a pessoa se queixa de estar constantemente cansada e sem energia? • Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva: a pessoa expressa sentimentos como “você ficaria melhor sem mim” ou “sou o mal e arruíno tudo para todos que amo”? • Incapacidade para se concentrar: a pessoa reclama de falta de memória (“simplesmente não consigo me lembrar de mais nada”) ou da incapacidade de concentrar a atenção em tarefas simples, como a leitura de um jornal? • Pensamentos recorrentes de morte: a pessoafala em cometer suicídio ou expressa o desejo de estar morta? A depressão provoca instabilidade emocional na pessoa e dificuldade para aqueles que convivem com ela. Quando surgem os sinais da depressão, é importante a busca de ajuda, e somente um profissional especializado – no caso, o psiquiatra – poderá fazer o diagnóstico e o acompanhamento medicamentoso. Infelizmente, é comum a pessoa recusar ajuda e principalmente o tratamento, alegando que está bem e que “não gosta de tomar remédio”. Cuidado! A ajuda é sempre necessária. 124 Unidade III Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Figura 19 Como profissional da área da saúde, é importante o diálogo com o paciente e a comunicação também com a família, pois ela deve ser o apoio no dia a dia do paciente. É necessário observar que a pessoa que apresenta as características descritas no quadro de depressão simples, se não tratada, gradativamente poderá evoluir para o quadro moderado e finalmente para o episódio grave com risco de suicídio. É preciso estar atento: quanto mais demorado for o diagnóstico e o tratamento, mais difícil será o tratamento. Outro fato importante: além do acompanhamento com o médico psiquiatra, é necessário o trabalho com o psicólogo, visto que a pessoa precisa entender o que está acontecendo com ela, aceitar o seu diagnóstico e, consequentemente, o tratamento, buscando de volta o equilíbrio perdido. Vale saber que assim como outras psicopatologias, a depressão pode acometer todas as pessoas, independente do nível socioeconômico‑cultural ou idade. Isso significa que todos nós somos vulneráveis a desenvolver depressão; portanto, estar atento aos sinais do paciente e às queixas da família e do próprio paciente são meios de ajudar no encaminhamento e na detecção do diagnóstico precoce. Quanto à adesão ao tratamento da fisioterapia, esta é uma questão delicada quando o indivíduo apresenta um quadro de depressão. Geralmente, pelas próprias características da doença, a pessoa tende a não acreditar que é possível melhorar. Não esqueça que são sintomas da depressão a perda da autoestima e da autoconfiança, o que é suficiente para levar a pessoa a não acreditar que a sua melhora é possível ou mesmo que vale a pena o tratamento e/ou a cura. observação O DSM‑IV‑TR estabelece os critérios para o diagnóstico das perturbações mentais, servindo como referência para os profissionais de saúde da mente. 125 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Psicologia aPlicada à FisioteraPia 7.1 Fatores motivacionais: a importância da motivação no tratamento Outro fator importante no atendimento à pessoa doente diz respeito aos aspectos motivacionais para o tratamento, pois, conforme já estudamos, é necessário que a pessoa se sinta envolvida no seu tratamento para que o resultado possa ser o esperado, tanto pelo indivíduo que se submete ao tratamento como para o profissional. Iniciando nossos estudos sobre motivação, vamos ao significado da palavra apresentada pelo dicionário da língua portuguesa (MICHAELIS, 1998): 1 Ato de motivar. 2 Exposição de motivos. 3 Psicol Espécie de energia psicológica ou tensão que põe em movimento o organismo humano, determinando um dado comportamento. 4 Sociol Processo de iniciação de uma ação consciente e voluntária. Interessante observar que, de acordo com os significados apresentados, todos os seres são constantemente motivados para alguma coisa, seja para o trabalho ou para os estudos; algo sempre impulsiona a pessoa para alguma ação, havendo sempre um motivo para que o sujeito siga em uma determinada direção. Buscando o significado dentro dos estudos da Psicologia, encontramos em Lindzey, Hall e Thompson (1977, p. 328) a seguinte explicação: [...] um motivo é qualquer coisa que inicia o comportamento. Há duas classes de motivos: impulsos (ou necessidades) e incentivos. Os impulsos (drives) são incitações à ação. Impulsos originados em processos orgânicos internos, identificáveis, são chamados impulsos não aprendidos ou primários. A fome é um exemplo. Outros impulsos são adquiridos através da aprendizagem; a competição é um tipo de impulso aprendido. As colocações dos autores se referem à chamada teoria da redução dos impulsos. Conforme explicam Morris e Maisto (2004), as necessidades corporais, como a fome, cria um estado de tensão ou estimulação chamado impulso. Aqui, o comportamento será a busca da comida a fim de que o organismo retorne ao equilíbrio anterior. A teoria da redução dos impulsos classifica os impulsos em duas categorias: • impulsos inatos: conforme colocação de Lindzey, Hall e Thompson (1977), são os impulsos não aprendidos, chamados também de primários. Estão presentes em todos os seres e garantem a sobrevivência das espécies, inclusive humana. Exemplos desses impulsos: sexo, fome e sede; • impulsos secundários: ao contrário dos anteriores, estes são adquiridos por meio da aprendizagem e podem mudar de uma pessoa para outra, pois cada indivíduo pode sentir‑se motivado a buscar sua satisfação de diferentes maneiras e de acordo com os estímulos que recebeu. Alguns são motivados a praticar boas ações e outras a ganhar dinheiro, por exemplo. 126 Unidade III Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Outro estudo sobre a motivação é a teoria da ativação, a qual Morris e Maisto (2004, p. 263) explicam: [...] a ativação se refere a um estado de alerta. O nível de ativação que ocorre em um determinado momento se apresenta ao longo de um continuum. Numa ponta, está o estado de alerta extremo; na outra, está o sono. Às vezes, o comportamento parece ser motivado pelo desejo de reduzir o estado de ativação; em outros momentos, parece ser motivado pelo desejo de intensificar esse mesmo estado. Por exemplo: quando você está cansado, tira um cochilo. Quando está entediado, vê TV. Interessante observar que nessa teoria os “extremos” acontecem, ou seja, o indivíduo busca o comportamento que o leve ao nível ideal de ativação. Num determinado momento ele está envolvido em uma atividade de trabalho ou estudo e em outro momento sente necessidade de parar e tomar água ou conversar com um colega. Alguns estudiosos observam que podem haver motivações externas à pessoa e que também são importantes – por exemplo, o cheiro de alguns alimentos quando estão sendo preparados e que levam a pessoa a comer, mesmo quando ela não está com fome. No caso, os incentivos do ambiente exercem influência sobre o comportamento. O psicólogo americano Abraham Maslow (1908‑1970) hierarquizou os motivos que levam a pessoa a apresentar determinados comportamentos. As necessidades corporais estão na base da sua pirâmide. Observe a figura a seguir e conheça a classificação ou hierarquia proposta por Maslow: Motivação Necessidades espirituais? Autorrealização Necessidade de status Necessidade sociais Necessidade segurança Necessidade do corpo Fatores higiênicos Desmotivação Figura 20 – Pirâmide das Necessidades de Maslow Veja que as necessidades que estão na base são primordiais para a sobrevivência humana. De acordo com Maslow, conforme tais necessidades vão sendo atendidas, o indivíduo vai galgando níveis superiores. Morris e Maisto (2004, p. 265) afirmam que Maslow acreditava que “o mais elevado motivo da hierarquia era a autorrealização – o desejo que uma pessoa tem de desenvolvertodo o seu potencial”. Sobre a hierarquia de Maslow, Fontana (2003, p. 234) apresenta a seguinte explicação: 127 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Psicologia aPlicada à FisioteraPia [...] a hierarquia de Maslow mostra que se os indivíduos têm suas necessidades fisiológicas satisfeitas, junto com suas necessidades de proteção de agressores, eles se tornam interessados basicamente em ser aceitos por sua família e por seu grupo social (necessidades sociais). Uma vez aceitos, eles se preocuparão em seguida em ser estimados pelos outros, para que possam vir a pensar bem de si mesmos. Tendo satisfeito essas necessidades, eles passam para necessidades cognitivas e estéticas e, por fim, para a autoefetivação, que é um conceito mais difícil, mas ao qual Maslow dá grande destaque. A autoefetivação significa que os indivíduos desenvolvem as características peculiares a pessoas maduras e bem ajustadas. Lembrete Podemos então entender que autorrealização só é possível de ser alcançada depois que todas as necessidades da pessoa tiverem sido atingidas. O trabalho apresentado por Maslow nos leva a questionar sobre a impossibilidade de muitas pessoas não conseguirem, por diferentes razões, ter satisfeitas as suas necessidades básicas. Nesse caso, os autores Morris e Maisto (2004, pp. 265‑266) explicam que: [...] de fato, a dificuldade em satisfazer necessidades básicas pode na verdade promover a satisfação de necessidades superiores: um casal com dificuldades financeiras para construir uma família pode acabar se aproximando muito mais como resultado dessa vivência. A teoria de Maslow nos leva a refletir sobre diversas situações a respeito das diferenças entre as pessoas, a vontade e as motivações que impulsionam cada sujeito e o desejo de estar no mais alto grau da pirâmide ou não, tendo em vista que o que é importante para um pode não o ser para outro. É interessante que você reflita sobre essas questões, que são de grande valia para o entendimento da motivação em diferentes níveis para cada indivíduo. A importância de se conhecer as teorias da motivação se justifica porque é importante que os profissionais, principalmente da área da saúde, entendam os mecanismos que levam a pessoa a apresentar determinados comportamentos, principalmente quando necessitam aderir a tratamentos específicos. Algumas vezes, o sujeito pode apresentar dificuldade na aceitação exatamente por não se sentir motivado ou não acreditar que aquilo será melhor para ele. É fundamental que o profissional esteja atento às motivações que levaram a pessoa até o tratamento. Podemos citar como exemplo a pessoa que segue motivada para o tratamento porque deseja apenas o alívio da sua dor, visto que conviver com ela é insuportável. Nesse caso, assim que ela encontra o alívio, abandona o tratamento. Assim, a motivação não está baseada na busca da cura ou da melhora 128 Unidade III Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 prolongada, pois para isso seria necessário que o sujeito se sentisse motivado, acreditasse e se lançasse para alcançar seus objetivos. É sempre importante que, para que o sujeito se sinta motivado, ele entenda o que está acontecendo, a partir de uma linguagem acessível em que haja espaço para questionamentos. Caso contrário, não será possível sentir motivação na pessoa, afinal, como se sentir motivado se o indivíduo não compreende o que está acontecendo com ele? Portanto, é fundamental que, quando você for um profissional, procure diagnosticar a motivação do seu cliente para o tratamento. Use de seus conhecimentos técnicos explicando a ele todas as etapas e condutas do seu trabalho em uma linguagem que ele possa entender e na qual sinta‑se seguro e motivado. 7.2 pouca ou nenhuma melhora dos “pacientes” e aspectos psicológicos do fisioterapeuta Continuando o tema anterior e pensando em todo o esforço do profissional para a cura ou reabilitação do seu cliente, nem sempre os resultados propostos com relação ao tratamento são atingidos conforme os objetivos estabelecidos. Isso quer dizer que o conhecimento e o uso de técnicas específicas e corretamente usadas podem não levar aos objetivos esperados. Nesses casos, temos que nos ater também às condições emocionais do profissional – afinal, na maior parte das vezes ele é preparado profissionalmente para a cura do outro ou para promover a sua significativa melhora. Até o momento, nossos estudos estão direcionados principalmente para a compreensão do outro, ou seja, do cliente, seu comportamento, seus aspectos psicoemocionais, suas expectativas e seus recursos de enfrentamento diante do adoecer, mas também se faz necessário refletirmos sobre os aspectos emocionais do profissional e a qualidade da relação interpessoal que é estabelecida durante o período de tratamento. Sobre esse tema, Martins (2004, p. 21) nos coloca que: [...] assim como a preocupação com a qualidade técnica faz com que, em cada área, se desenvolvam temas específicos, que constituem parte do que chamamos de conhecimentos e habilidades relativos à áreas técnica, a abordagem da qualidade interacional também torna necessário o estudo de vários temas teóricos e a reflexão sobre o desenvolvimento de atitudes. A autora afirma ainda que tão importante quanto o profissional conhecer os motivos do comportamento do cliente é ter conhecimento também sobre os efeitos que esses comportamentos provocam no próprio profissional, como a angústia, a impotência e a raiva. Podemos entender esses sentimentos como mecanismos de defesa por parte do profissional, que de alguma maneira irão influenciar em sua relação com o outro, podendo provocar no cliente comportamento de distanciamento, incompreensão de suas queixas e desmotivação para o tratamento. 129 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Psicologia aPlicada à FisioteraPia Consideramos que as relações interpessoais carregam em si muito mais do que se pode esperar; afinal, nem sempre elas ocorrem no plano da objetividade, e a subjetividade das relações trazem em si emoções e sentimentos que são inerentes a ela. Um exemplo disso ocorre quando o profissional tem diante dele um cliente com característica de baixa autoestima, que sente‑se desmotivado para a cura, embora ela possa acontecer. A convivência com pessoas com tais características é difícil e, principalmente na relação profissional‑cliente, pode desmotivar um profissional que não esteja preparado para lidar com pessoas que carregam a vida como se ela fosse um fardo. Nesse sentido, Martins (2004, p. 22) faz a seguinte afirmação e comenta sobre Bleger (1979): Seres humanos são tanto os clientes como os profissionais, ou seja, ambos têm necessidades, desejos, medos e carências. Bleger (1979) se opõe à “velha ilusão, tão difundida, de que uma tarefa é mais bem realizada quando são excluídos os chamados fatores subjetivos e ela é considerada apenas objetivamente”, e afirma que, pelo contrário, “o mais alto grau de eficiência em uma tarefa é obtido quando se incorpora sistematicamente à ela o ser humano total”. No âmbito do humano, portanto, alcança‑se maior objetividade incorporando os fatores subjetivos, quer dizer, tomando as coisas tal como acontecem, para entendê‑las, e poder fazer com que aconteçam da melhor maneira. Essa é a forma de evitar a atividade desumanizadae desumanizante. Para que as relações possam acontecer num plano de compreensão e entendimento, a autora propõe a formação da “aliança terapêutica”, visto que ela é o elemento fundamental e a mola propulsora para o vínculo profissional‑cliente. Outro ponto importante a ser observado é a relação de transferência e contra‑transferência que se dá entre cliente‑profissional e profissional‑cliente. Já abordamos esse tema, portanto sugiro que você reveja tais conteúdos e reflita sobre as diversas interferências que podem acontecer nas relações interpessoais e o quanto isso pode trazer benefícios positivos ou negativos, tanto para o cliente como também o profissional. Além das questões discorridas sobre a relação profissional‑cliente, Perdicaris e Silva (2008, p. 407) mostram que tal relação pode se apresentar seguindo basicamente três modelos, que são os seguintes: • Modelo ativo/passivo: surge quando os profissionais decidem o tratamento de forma praticamente unilateral. • Modelo de cooperação: segundo esse modelo, o diagnóstico é estabelecido e as opções terapêuticas são apresentadas (inclusive com a participação de familiares) para que se busque a melhor solução. • Modelo de participação e consentimento mútuos: nessa modalidade, os profissionais têm o papel de ajudar o cliente a se ajudar. São parceiros, cada qual com atribuições e responsabilidades, no resgate do melhor de si, na busca de um equilíbrio psicossociobiológico. Esse modelo é aplicável nas chamadas doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), entre as quais se encontra o câncer. Nos países desenvolvidos, 130 Unidade III Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 cada vez mais os indivíduos exigem informações adequadas, inclusive para que se possa auto ajudar e controlar a saúde, de maneira mais integrada e integradora. Ao seguir o modelo de participação e consentimento mútuos proposto pela autora, o profissional estará estabelecendo uma comunicação sincera com seu cliente e transmitindo a ele a segurança necessária para manutenção do tratamento e a possibilidade da cura, quando ela for possível. Na verdade, não há fórmulas para que a boa relação e a comunicação atinjam o seu ideal. A necessidade está justamente na compreensão da dinâmica que ocorre nas relações interpessoais. O reconhecimento de que a dor tanto física quanto psíquica do cliente pode atingir de alguma maneira o profissional é um meio de tornar mais amena a convivência com o sofrimento do outro. Assim, o uso do conhecimento aliado à compreensão da fragilidade e limitações que o cliente pode apresentar ajuda o profissional a lidar de uma melhor maneira com suas próprias limitações e com o sentimento de impotência que surge frente às dificuldades do outro. Todo preparo é necessário para o profissional, principalmente se ele optar por trabalhar com doenças graves e com pacientes fora de possibilidade de cura. Nesse caso, é necessário o conhecimento técnico, mas fundamentalmente o preparo pessoal, pois o profissional entrará em contato com situações limites e com a morte do outro. A próxima etapa do nosso estudo irá justamente abordar os aspectos emocionais do paciente terminal e da morte. Você verá logo de início o quanto é difícil o contato com a finitude humana e que, independentemente da idade, todos nós estamos expostos a ela. 7.3 paciente terminal e a morte Vamos iniciar o tema sobre o paciente terminal e morte relatando um estudo de caso: P.V., 11 anos de idade, sexo masculino, diagnóstico de linfoma Hodgkin, em tratamento de quimioterapia há seis meses. De origem humilde, os pais são trabalhadores rurais. P.V. é o mais novo e “temporão” de quatro filhos, como explica a mãe. No início, sem compreender muito bem o que está acontecendo, é ela quem acompanha o filho durante o tratamento, deixando para trás os outros filhos e o marido, que continuam com o trabalho na lavoura. P.V. frequentava a terceira série do Ensino Fundamental até adoecer e diz sentir falta da escola e da vida livre. Apesar do tratamento, a doença não tem apresentado sinais de remissão e P.V. se sente cada vez mais enfraquecido. Num determinado dia, ele solicita lápis, lápis de cor, papel e borracha, porque quer escrever e desenhar, e reclama que está cansado dos brinquedos do hospital. Trazido o material, P.V. passa horas desenhando e escrevendo. 131 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Psicologia aPlicada à FisioteraPia Entre as idas e vindas para o hospital, P.V. resolve certo dia dar de presente para cada um da equipe um desenho seu. Comovidos, todos se emocionaram com o gesto carinhoso do menino. Mas a maior surpresa foi com a relação ao papel que P.V. entregou para sua mãe, pedindo que ela lesse e cumprisse o que havia escrito. Chocada, a mãe pegou o papel que o filho lhe entregou e nele constava a relação dos seus “pertences” e a determinação de que cada objeto fosse dado para uma determinada pessoa da família – enfim, os poucos e simples “brinquedos” que ele tinha estavam agora sendo doados. Toda a equipe ficou apreensiva com aquele gesto e procurou orientar a mãe na sua compreensão daquilo que para ela já havia sido entendido como uma despedida. Poucas semanas depois, P.V. foi a óbito. A equipe pôde estar próxima da família e lamentou a sua morte. Emocionados, tiveram a oportunidade de conversar sobre a trajetória de P.V. e os muitos momentos difíceis que ele viveu em tão pouco tempo de existência. Também lembraram com carinho da alegria de P.V. quando contava sobre sua vida de liberdade no sítio. No caso, pudemos observar muitos elementos importantes na relação que envolve o profissional, a pessoa com doença, a família e a sociedade. Assim, observa‑se que é preciso que a intervenção não seja prejudicada em função da realidade, pois os familiares podem necessitar de ações que não serão executadas quando não se consegue separar a emoção da técnica. Outra questão que pudemos observar é a de que a morte pode ser entendida de maneira diferenciada, assim é uma realidade heterogênia, como se observa no estudo de caso, a qual o jovem por já ter claro sua realidade fez a declaração de quem iria ficar com seus pertences após sua morte, pois para que esse tipo de documento seja realizado a pessoa tem que ter a morte como algo natural à vida. Também conseguimos associar essa perspectiva ao filme Uma prova de amor, que tem a mesma realidade. Veja a sinopse do filme: Sara (Cameron Diaz) e Brian Fitzgerald (Jason Patric) são informados que Kate (Sofia Vassilieva), sua filha, tem leucemia e possui poucos anos de vida. O médico sugere aos pais que tentem um procedimento médico ortodoxo, gerando um filho de proveta que seja um doador compatível com Kate. Disposto a tudo para salvar a filha, eles aceitam a proposta. Assim nasce Anna (Abigail Breslin), que logo ao nascer doa sangue de seu cordão umbilical para a irmã. Anos depois, os médicos decidem fazer um transplante de medula de Anna para Kate. Ao atingir 11 anos, Anna precisa doar um rim para a irmã. Cansada dos procedimentos médicos aos quais é submetida, ela decide enfrentar os pais e lutar na justiça por emancipação médica, de forma a que tenha direito a decidir o que fazer com seu corpo. Para defendê‑la, ela contrata Campbell Alexander (Alec Baldwin), um advogado que cuidará de seus interesses. Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme‑130304/>. 132 Unidade III Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia -c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 saiba mais Assista ao filme Uma prova de amor, produção americana de 2009, dirigida por Nick Cassavetes. Percebe‑se que, por pensarem diferente, as pessoas possuem comportamentos distintos em uma mesma situação. É necessário, para que um profissional seja diferenciado, que seja garantida a individualidade no atendimento. O caso parece inquietante pela idade de P.V., mas o propósito inicial é exatamente o de levar você, aluno, a refletir sobre a questão da morte. O tema em si já desperta incômodo na maioria das pessoas, e quando se trata de crianças ou jovens, esse desconforto parece ficar ainda maior, pois há em todos nós a “fantasia” de que a morte é algo distante e que acontece somente na velhice. Entretanto, a realidade é diferente, infelizmente. De acordo com Kovács (2008), a questão da temporalidade é relativa, pois a afirmativa de que um idoso com doença grave está próximo da morte é constantemente contrariada, afinal, pessoas jovens e saudáveis morrem antes deles. Acreditamos que o menino P.V., diante de uma realidade tão difícil, apesar da pouca idade, quis deixar aquilo que era seu para as pessoas que amava, pois o vínculo seria mantido após sua partida por meio dos pertences que ele deixou. Não raro encontramos histórias como a de P.V. tanto na prática profissional como na descrição da literatura – pessoas que, independentemente da idade, despedem‑se das pessoas queridas e deixam recomendações ou até mesmo uma organização para os que ficam, podendo assim partir em paz. Mas como é possível para o profissional enfrentar tais situações? Como lidar com a morte do outros? Podemos considerar que trabalhar com pacientes com doenças graves é um desafio para os profissionais, pois a morte é algo inerente à condição humana e atinge a todos indiscriminadamente. Isso significa dizer que estar próximo de alguém que está partindo faz com que o profissional se aproxime da certeza da própria finitude. Algumas das maneiras possíveis para minimizar a angustia do profissional é ele estar preparado para o trabalho, especializando‑se para isso, e estar inserido em uma equipe que tenha como meta oferecer as melhores condições possíveis para o paciente e que saiba trocar entre si os momentos mais difíceis. Agora, vamos ao conceito de paciente terminal descrito por Kovács (2003): [...] o conceito de paciente terminal é historicamente relacionado com o século XX, por causa da alteração na trajetória de doenças que, no passado, eram fulminantes; observa‑se sua cronificação, graças ao desenvolvimento 133 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Psicologia aPlicada à FisioteraPia da medicina, da cirurgia e da farmacologia. Muitas ainda não têm cura, como alguns tipos de câncer, Aids e moléstias degenerativas, o que faz com que alguns pacientes vivam anos com necessidade de cuidados constantes. De fato, além dos avanços médicos e farmacológicos, temos o avanço tecnológico, que permite o diagnóstico precoce de doenças. Porém, embora seja possível o prolongamento da vida, existem determinadas doenças que por si só carregam o estigma da morte, conforme citado pela autora, como é caso do câncer, da Aids e das doenças degenerativas. Nesses casos, escreve Kovács (2003, p. 107) que “o rótulo ‘paciente terminal’ é usado de forma estereotipada para pacientes que apresentam doenças com prognóstico reservado, mesmo que estejam em fase de diagnóstico e de tratamento”. Nesses casos, o apoio profissional com o esclarecimento e a orientação correta poderá ser fundamental para que a pessoa não desanime diante do diagnóstico e siga com esperança em seu tratamento. Outro ponto importante é com relação à família, que também deve ser olhada e orientada. Conforme Carvalho (1996), o medo do sofrimento pela perda faz, muitas vezes, com que os familiares evitem entrar em contato explicito com o assunto “morrer”. Atualmente, quando o paciente recebe o diagnóstico de uma doença grave, ele passa a ser considerado e tratado dentro do conceito de cuidados paliativos (CP). Mas o que vem a ser cuidados paliativos? Pessini (2004, p. 166), citando a definição da Organização Mundial de Saúde, escreve: [...] cuidados paliativos são uma abordagem que aprimora a qualidade de vida dos pacientes e família que enfrentam problemas associados com doenças ameaçadoras de vida, através da prevenção e alívio do sofrimento, por meios de identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e outros problemas de ordem física, psicossocial e espiritual. É importante notar que a família também é incluída nos cuidados paliativos, pois é sabido que a doença afeta diretamente a família, que precisa ser vista e cuidada pelos profissionais. O Ministério as Saúde (2012) também apresenta sua definição de cuidados paliativos como: [...] o conjunto de ações interdisciplinares, promovido por uma equipe de profissionais da saúde e voltado para o alívio do sofrimento físico, emocional, espiritual e psicossocial de doentes com prognóstico reservado, acometidos por condições ou doenças em estágio irreversível. Embora o Ministério da Saúde não cite a família de modo explícito, podemos entender que ela está inserida no aspecto psicossocial. Pessini (2004) esclarece que os cuidados paliativos não devem ser vistos como diferentes de outras formas ou áreas de tratamento, mas à medida em que ocorre o agravamento da doença, é possível que hajam necessidades especiais tanto do doente como da família. Com isso, a equipe que oferece os cuidados paliativos deve estar preparada para atender a tais necessidades. 134 Unidade III Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 A OMS aponta os princípios fundamentais, conforme cita e comenta Pessini (2004, pp.167‑168): • Os CP valorizam o atingir e manter um nível ótimo de dor e administração dos sintomas. Isto exigirá uma avaliação detalhada de cada doente, levando em conta sua história detalhada, exame físico e pesquisas, se apropriado. Os doentes devem ter acesso imediato a toda medicação necessária, incluindo uma variedade de opioides numa gama de formulações. • Os CP afirmam a vida e encaram o morrer como um processo normal. O que todos nós compartilhamos em comum é a realidade inescapável de nossa morte. Os pacientes que solicitam CP não devem ser vistos como falhas médicas. Os CP visam assegurar que os doentes sejam capacitados e encorajados a viver sua vida de uma forma útil, produtiva e plena, até o momento da sua morte. A importância da reabilitação, em termos de bem‑estar físico, psíquico e espiritual, não pode ser negligenciada. • Os CP não apressam e nem adiam a morte. Intervenções de CP não devem ser para abreviar a vida prematuramente, da mesma maneira que as tecnologias disponíveis na moderna prática médica não são aplicadas para prolongar a vida de forma natural. Os médicos não são obrigados a continuar tratamentos que são considerados fúteis e excessivamente onerosos para o paciente. Da mesma forma, os pacientes podem recusar tratamentos médicos. Quando o processo da doença conduz a vida para um final natural, os doentes devem receber conforto físico, emocional e espiritual. Especificamente, presta‑se atenção para o fato de que a eutanásia e o suicídio assistido não estão incluídos em nenhuma definição de CP. • Os CP integram aspectos psicológicos e espirituais dos cuidados do paciente. Um nível elevado de cuidado físico é certamente de vital importância,mas não suficiente em si mesmo. Não devemos reduzir a pessoa humana a uma simples entidade biológica. • Os CP oferecem um sistema de apoio para ajudar os pacientes a viver tão ativamente quanto possível, até o momento da sua morte. Neste sentido, é importante ressaltar que o paciente estabelece os objetivos e prioridades. O papel do profissional da saúde é capacitar e assistir o paciente em atingir seu objetivo identificado. É evidente que as prioridades de um paciente podem mudar dramaticamente com o tempo. O profissional deve estar consciente dessas mudanças e responder consequentemente. 135 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Psicologia aPlicada à FisioteraPia • Os CP ajudam a família a lidar com a doença do paciente e no luto. Em CP, a família é uma unidade de cuidados. Neste sentido, os membros da família terão suas questões e dificuldades, que devem ser identificadas e trabalhadas. O trabalho em relação ao cuidado com o luto se inicia bem antes do momento da morte do doente. • Os CP exigem uma abordagem de equipe. É evidente que do exposto até o momento, nenhuma pessoa, ou disciplina somente, pode adequadamente lidar com a gama e complexidade das questões que surgem durante o período de CP. Embora a equipe central, consistindo de médico, enfermeira e assistente social, possa prover o cuidado necessário, é útil a colaboração de uma gama maior de profissionais da área médica, de enfermagem e outros aliados. Para que essa equipe trabalhe de forma coesa, é criticamente importante que se tenham metas e os objetivos partilhados, bem como meios rápidos e efetivos de comunicação. • Os CP visam aprimorar a qualidade de vida. Esta questão de qualidade de vida atraiu muito interesse de pesquisa nos últimos anos. É importante reconhecer que isto não é simplesmente uma medida de conforto físico ou de capacidade funcional. Antes, trata‑se de algo que somente pode ser definido pela pessoa doente, e é também algo que pode se alterar significativamente ao longo do tempo. • Os CP são aplicáveis no estágio inicial da doença, concomitantemente com as modificações da doença e terapias que prolongam a vida. Historicamente os CP foram associados com os cuidados oferecidos a doentes de câncer próximos da morte. Reconhece‑se que os CP têm muito a oferecer aos pacientes e familiares no estágio inicial do curso da doença, pelo menos a partir do momento em que se atinge o estágio avançado da doença e a progressão não pode ser evitada. Isto exige que os serviços de CP estejam intimamente integrados com toda a gama de serviços de saúde, seja no hospital ou em instituições comunitárias. Os comentários realizados pelo autor são muito claros e nos fazem refletir sobre a importância dos cuidados paliativos, a partir da valorização da vida e do respeito ao paciente e à família. Mas e os sentimentos do paciente que se encontra na condição de terminalidade? De que maneira entender esse momento que ele está vivendo? Certamente, conhecermos os sentimentos do paciente, seus desejos e emoções na etapa final da vida nos ajuda a reconhecer que, apesar de sua condição, ele é um sujeito com direitos e desejos e que deve receber todo apoio necessário não somente da família como também da equipe. 136 Unidade III Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Apresentamos a seguir o texto extraído do seminário Paciente terminal: como ajudá‑lo, em Lansing, Michigan, EUA, conforme Macieira (2001, p. 146): • Tenho o direito de ser tratado como pessoa humana até que eu morra. • Tenho o direito de ter esperança, não importa que mudanças possam acontecer. • Tenho direito de ser cuidado por pessoas que mantêm o sentido da esperança, mesmo que ocorram mudanças. • Tenho o direito de expressar, à minha maneira, sentimentos e emoções diante da minha morte. • Tenho o direito de participar das decisões referentes a meus cuidados e tratamentos. • Tenho o direito de receber cuidados médicos e de enfermagem mesmo que os objetivos “de cura” mudem para objetivos “de conforto”. • Tenho o direito de não morrer sozinho. • Tenho o direito de ser aliviado na dor e no desconforto. • Tenho o direito de que minhas questões sejam respondidas honestamente. • Tenho o direito de não ser enganado. • Tenho o direito, ao aceitar a minha morte, de receber ajuda de meus familiares e que estes também sejam ajudados. • Tenho o direito de morrer em paz e com dignidade. • Tenho o direito de conservar minha individualidade e não ser julgado por minhas decisões que possam ser contrárias às crenças dos demais. • Tenho o direito de discutir e aprofundar minha religião e/ou experiências religiosas, seja qual for seu significado para os demais. • Tenho o direito de esperar que o meu corpo seja respeitado. • Tenho o direito de ser cuidado por pessoas sensíveis, humanas e competentes que procurarão compreender e responder às minhas 137 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Psicologia aPlicada à FisioteraPia necessidades e me ajudem a enfrentar a morte e garantir minha privacidade. Exemplo de aplicação Encerrando essa exposição, gostaria de convidar você, aluno, a refletir novamente sobre a importância do fisioterapeuta na equipe de cuidados paliativos e no acompanhamento ao paciente sem possibilidade de cura. 7.4 o luto: fases de enfrentamento Tão difícil quanto falar sobre a morte é falar sobre o luto. Porém, como entendemos que o trabalho do profissional nem sempre se encerra com a morte do paciente, é necessário estar preparado para o apoio à família. Assim, vamos à sua definição de acordo com o dicionário da língua portuguesa (MICHAELIS, 1998): 1 Sentimento de pesar ou tristeza pela morte de alguém. 2 Tristeza profunda causada por grande calamidade; dor, mágoa, aflição. 3 Crepes, panos pretos com que se forram a câmara ardente, a casa ou a igreja por ocasião do falecimento de uma pessoa. 4 Vestes escuras que a família e amigos da pessoa falecida usam durante certo tempo como sinal do seu pesar ou tristeza. 5 Tempo que dura o uso dessas vestes. 6 poét O aspecto tristonho das coisas. Antôn (acepções 1 e 2): alegria, regozijo. L. aliviado: traje negro com algumas peças de cor ou guarnecido com branco ou cinzento. L. nacional: manifestações oficiais de pesar, como homenagem a alguma pessoa importante, cujo falecimento entristece a nação. L. pesado: vestuário sem enfeites e completamente preto. Trazer luto nas unhas: estar com elas sujas, orladas de negro. Podemos ver que o luto nos remete a sentimentos de tristeza e muito pesar. Kovács (2007, p. 217) define luto a partir dos aspectos psicológicos da pessoa, da seguinte maneira: [...] luto é o processo de elaboração diante de uma perda de uma pessoa com quem vínculos foram estabelecidos. É a vivência da morte consciente, é como se uma parte nossa morresse. Faz parte de nossa existência e nos configura como humanos, e dela nos recordamos; todos temos histórias de perdas para contar, e às vezes é mais sofrida que a própria morte. É um vínculo que se rompe de forma irreversível, quando se trata de morte concreta. Como vemos, luto é bem mais do que a perda de alguém; é o rompimento de um vínculo, o que faz evocar tristeza, saudades e outros sentimentos. 138 Unidade III Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en -1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Figura 21 – Luto Sempre que pensamos em luto, temos a certeza de que ele é um sentimento apenas daqueles que ficam, mas Kovács (2007, p. 227) nos lembra dos sentimentos da pessoa que, com doença grave e vivendo a iminência da morte, viverá o luto pelas coisas perdidas e da própria vida a partir das seguintes dimensões: • profissional: que tinha um trabalho ou atividade que não pode mais ser realizada; • identidade: de pessoa saudável, autônoma, de posse da sua vida; • familiar: não pode realizar as atividades de cuidador ou de provedor; • saúde: do ser saudável; • corporais: as eventuais mutilações resultantes da doença ou do tratamento, perdas de partes do corpo e mudanças corporais, como aumento ou diminuição de peso, inchaço, mudança de cor, perda de cabelo; • planos e projetos: poderão ser interrompidos pela doença ou pela morte. Como podemos ver, a pessoa em estado grave passa por diversas perdas, como a de pessoas queridas e as temporárias – caso das hospitalizações e consequente afastamento do seu meio ambiente, de seus pertences e principalmente das pessoas que o cercam. É evidente que para cada uma dessas perdas será necessário um tempo para que a pessoa viva o luto, ou seja, a tristeza do não mais ter e, em breve, do deixar de existir. 139 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Psicologia aPlicada à FisioteraPia Retomando a questão do luto propriamente, Bromberg (1996) afirma que ele só acontece quando o vínculo que existe entre as pessoas é rompido; assim, entendemos que não havendo a relação de vínculo, não há luto. Relembrando a teoria do vínculo, a qual já vimos em nosso estudo, Bromberg retoma a teoria de Bowlby para explicar o vínculo e a situação de luto: [...] a figura vincular é aquela que tiver oferecido uma base de segurança que permite ao indivíduo a exploração do meio, de maneira que ele, em situação de ameaça ou de risco, possa se afastar do estímulo ameaçador e se proteger junto à figura de vínculo. Com a perda dessa figura, não há mais a base segura onde se refugiar, tornando a experiência aterrorizante. Assim Bowlby explica por que o sofrimento é uma reação universal à perda de uma figura de vínculo, mesmo que as manifestações desse sofrimento sejam culturalmente determinadas (BROMBERG, 1996, p. 101). Assim, podemos entender que as reações pelo rompimento do vínculo ou o sofrimento pela perda são inerentes à condição humana, independentemente do meio cultural em que a pessoa esteja inserida. Diversos autores escrevem sobre as fases para o enfrentamento do luto, mas Bowlby (1985 apud KOVÁCS, 2007, p. 221) apresenta as principais, que são: • fase de choque: momento de conhecimento da perda, na qual podem ocorrer reações – da anestesia até um total descontrole; • fase de busca: em que ocorre o anseio pela pessoa perdida e também se processa o contato com a realidade, de que houve de fato uma perda, da qual não há volta. Pode haver a ilusão de que a pessoa não tenha morrido, de que tudo não passa de um pesadelo. Convivem dois processos: a certeza da perda e a esperança de que talvez não tenha ocorrido. Podem estar presentes vários sentimentos: tristeza, raiva, medo e culpa. A raiva pode ser transferida para aqueles que estão próximos, ou culpa por ainda estar viva, ou por sentir que não cuidou de seu familiar de forma adequada, acreditando que aquela morte pudesse ser evitada; • fase de desorganização e desespero: presente quando a perda já é vista como realidade. Podem estar presentes atuações contraditórias, como manter tudo que recorde a pessoa e se desfazer rapidamente de tudo que possa lembrá‑lo. É nessa fase também que uma depressão reativa pode se manifestar num processo mais duradouro ou como uma dimensão patológica que se torna mais evidente; • fase de reorganização: a vida pode ser reorganizada em novos patamares sem a existência daquele que morreu. Novas habilidades terão que ser aprendidas e novos relacionamentos poderão ser formados. 140 Unidade III Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Como vimos, há um processo pelo qual a pessoa enlutada deverá passar, de modo a poder continuar sua vida sem aquele que se foi. Entretanto, é preciso considerar que o luto nunca será totalmente concluído, pois sempre haverá uma data como o aniversário, o Natal ou qualquer outra que trará de volta as lembranças e despertará sentimentos de tristeza e saudades. Com relação ao luto infantil, Bowlby (1985, apud KOVÁCS, 2007) afirma que as crianças também passam pelo processo de luto e têm no adulto o seu modelo. É comum a criança apresentar sentimentos de culpa, principalmente quando ela tem menos de seis anos e vive o período em que a fantasia, ou pensamento mágico, se confunde com a realidade. Diversos autores, como Bowlby (1985), Aberastury (1984) e Raimbault (1979) (apud KOVÁCS, 2007) concordam que não se deve sonegar informações para a criança, pois é falsa a ideia de que ela não entende o que está acontecendo. A criança passa pelas mesmas fases do adulto, embora não consiga se expressar da mesma maneira. O adulto poderá usar de recursos lúdicos com ela, como desenhos, por exemplo, que são meios que ajudam a criança na expressão dos seus sentimentos. saiba mais Uma dica para o trabalho do luto com a criança é o desenho infantil O Rei Leão. O pequeno Simba, filho do rei Mufasa e da rainha Sarabi, é apresentado ao reino como herdeiro. Depois de algum tempo, seu pai é morto e Simba tem que enfrentar sua dor e outras dificuldades. 7.5 o luto patológico Infelizmente, nem sempre o sofrimento pela perda de uma pessoa querida ocorre de modo relativamente organizado. Há casos em que a perda não é aceita e a pessoa, de uma maneira negativa, pode desenvolver comportamentos que não acompanham as fases anteriormente descritas. Bowlby (1985, apud KOVÁCS, 2007, p. 222) destaca alguns fatores que devem ser observados e que são complicadores do processo de elaboração do luto: • O relacionamento com a pessoa perdida: relacionamentos carregados com ressentimentos e mágoas são mais difíceis de serem elaborados. É importante observar também se está envolvida uma relação de dependência. Perda de criança e jovens podem ser muito difíceis de serem aceitas e elaboradas. • Idade e sexo do enlutado: é importante considerar se é uma criança ou um adulto e também as especificidades de gênero. • As causas e circunstâncias da perda: as perdas rápidas e inesperadas podem causar muitas dificuldades no início, pois nenhum 141 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Psicologia aPlicada à FisioteraPia preparo ocorre. Muitas delas são acompanhadas de violência, tendo ampliados os fatores de risco. Corpos muito mutilados ou desaparecidos podem dificultar bastante o processo do luto. Este é um dos grandes problemas dos acidentes aéreos com perdas coletivas e corpos irreconhecíveis. Por outro lado, mortes lentas podem envolver convivência com muito sofrimento e dor, o que também pode ser penoso. Cada uma dessas circunstâncias deve ser olhada com muito cuidado, não se chegando a generalizações simplificadoras. • A personalidade do enlutado: éimportante considerar como o enlutado viveu as suas experiências anteriores, as formas de enfrentamento escolhidas, as características de personalidade e se existem distúrbios psiquiátricos. Estes últimos podem afetar muito ou até impedir o processo de luto. • A rede social e de apoio do enlutado: as pessoas sozinhas ou com famílias desorganizadas ou pouco continentes estão sob maior risco de um luto complicado. É importante estar atento a esses processos. No caso de a pessoa dar sinais de luto complicado ou patológico, deve ser encaminhada a atendimento médico e psicológico para que ela possa se reorganizar sem a figura perdida. Em seu estudo sobre o luto, Parkes (1998, pp.133‑136) apresenta os seguintes tipos: • Luto crônico: um processo de luto que se prolonga de forma indefinida, possivelmente mais presente em relações com forte conteúdo de dependência. A princípio é difícil caracterizá‑lo como tal, já que o processo de luto tem tempos variados para cada pessoa. • Luto adiado: a pessoa não entra em contato com a perda, não consegue expressar os seus sentimentos e não procede a elaboração. • Luto inibido: a expressão do luto está inibida e seus sinais parecem ausentes. Kovács (2007, p. 224) comenta sobre o luto complicado: [...] o luto complicado é uma nova área de estudo, na qual ainda se encontram várias controvérsias. Segundo Parkes (1998), é um grande engano se acreditar que há um padrão único de enfrentamento das perdas, sendo necessária uma cuidadosa avaliação em cada caso, examinando‑se as suas singularidades. 142 Unidade III Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Definir exatamente se o luto está seguindo para uma patologia ou se aquele é o tempo necessário para que a pessoa possa elaborar a perda é algo extremamente difícil, tendo em vista que a linha que separa o normal do patológico pode ser muito tênue. Além disso, a família muitas vezes não “percebe” que o comportamento apresentado por aquela pessoa está saindo do que se considera “normal”, e pela sua própria dificuldade em lidar com a perda acaba encarando o comportamento da pessoa como aquele esperado. O não perceber também é algo relativo, afinal, a perda é sentida por todos. De uma maneira ou outra cada um precisa se reorganizar e dar assim continuidade em sua vida. Lembrete É muito difícil, até mesmo para os profissionais da saúde, diagnosticar o luto patológico, tendo em vista as variáveis dos sentimentos e comportamentos das pessoas em situação de perda. 8 o FisioterApeutA e suAs reLAções interdiscipLinAres A partir de agora iremos focar nosso estudo para as relações entre o fisioterapeuta e os profissionais de diversas áreas. Você verá que, contrariando posições passadas, há cada vez mais a necessidade da integração de muitos saberes para o atendimento das pessoas em todas as suas necessidades: físicas, psíquicas, cognitivas, social e espiritual. Entretanto, para que possamos compreender os modelos de atendimento ao doente que atualmente encontramos e as relações entre profissionais de diferentes áreas, é necessário nos reportarmos um pouco na história e entendermos que a construção da relação profissional‑paciente esteve baseada em outro modelo, outra dinâmica, a qual predominou por longo tempo. Na história da Medicina, até o século passado, o predomínio do atendimento ao doente estava baseado no modelo que não considerava a pessoa, pois se concentrava nos sintomas que ela apresentava, excluindo qualquer influência dos aspectos psicológicos, por exemplo. Tínhamos assim o chamado modelo biomédico. Evidentemente, não cabia nesse modelo saber a integralidade do ser, já que ele não era visto como um sujeito de direitos, e o atendimento, conforme dissemos, estava centrado apenas no diagnóstico, excluindo qualquer outro aspecto do indivíduo. Neste sentido, Marco (2007, p. 36) relata: [...] considera‑se que a influência do paradigma cartesiano sobre o pensamento médico foi um fator determinante na construção do chamado modelo biomédico, alicerce consensual da moderna medicina científica. Descartes propõe, por meio de suas concepções, uma separação absoluta entre fenômenos da natureza e fenômenos do espírito e, por consequência, uma separação radical entre mente e corpo. 143 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Psicologia aPlicada à FisioteraPia Podemos observar que o modelo biomédico ainda é encontrado em muitos meios e remonta de um tempo advindo da influência da Filosofia, que discutia o dualismo mente‑corpo. A grande transformação proposta está na mudança do modelo biomédico para o modelo biopsicossocial, que atualmente se faz presente na maior parte das relações e no cuidado da pessoa com doença. Marco (2007) nos alerta que é importante considerar que essa nova proposta não significa fragmentação, ou seja, a separação e posterior junção indiscriminada do ser, ou que tudo deve ser abordado simultaneamente. De fato, é necessário cuidado, inclusive no atendimento integral da pessoa, tendo em vista que é necessário conhecer as prioridades do indivíduo e tentar atendê‑lo a partir delas. Atuar junto a outros profissionais se faz necessário; assim, o médico usará dos seus recursos para o diagnóstico da pessoa, por exemplo. Entretanto, seu olhar não pode estar centrado apenas nos aspectos objetivos, e sim em conhecer o que significa para a pessoa estar doente, encaminhando‑a para outros profissionais capacitados para atender ao sujeito em todas as suas dimensões. Se assim o fizer, o profissional terá melhores condições para avaliar o tratamento proposto e as interferências de outros aspectos, tendo em vista que quando a pessoa adoece todas as suas dimensões se comprometem e influenciam diretamente sobre eles. O atendimento deve incorporar profissionais de diferentes áreas a fim de que a integração dos conhecimentos atenda ao sujeito em todas as suas necessidades. Assim, a ação de multiprofissionais deve ser entendida como a ocorrência de atividades desenvolvidas entre profissionais de diferentes especializações, buscando a harmonização no ambiente de trabalho. Para que aconteçam “atos de saúde”, e não atos médicos ou de outros profissionais, como fisioterapeutas, psicólogos e outros, uma equipe multiprofissional deve implicar duas dimensões do trabalho que, conforme Bruscato, Benedetti e Lopes (2006, p. 34), são indissociáveis: • Articulação das ações: supõe a integração de processos de trabalho distintos, consideradas as conexões e interfaces existentes entre as intervenções técnicas peculiares de cada profissional, flexibilizando as fronteiras entre elas, mas com a preservação das respectivas especificidades e diferenças técnicas, trabalhando, assim, numa conjugação de especificidade e flexibilidade. Há a centralização das ações na obtenção de resultados; na integral às necessidades de saúde da clientela, por exemplo, a avaliação pré‑cirúrgica de um paciente poderá ser realizada através do cruzamento dos dados obtidos por diversos profissionais. Nessa situação, o prognóstico pode depender da condição clínica (sob a perspectiva dos médicos, cirurgião ou anestesista), do estado emocional, da motivação e dos recursos de enfrentamento (avaliados pelo psicólogo), das condições socioeconômicas 144 Unidade III Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 necessáriasà manutenção do tratamento (observadas pelo assistente social) e assim por diante. • Interação dos profissionais: as inter‑relações e o vínculo entre os integrantes da equipe potencializam a realização da tarefa (não é um objetivo em si, porque não se trata de um grupo terapêutico, e sim de uma equipe, que utiliza a interação como meio de trabalho). Os integrantes colocam‑se de acordo quanto a um projeto comum, quanto ao que dizem e quanto aos valores pressupostos. Para tanto, a comunicação entre os profissionais faz parte do exercício cotidiano do trabalho. Tais ações e interações irão proporcionar ao cliente o benefício das ações integradas e que estarão voltadas para as necessidades da equipe, conforme explicam os autores. Desta forma, Japiassu (1976, apud BRUSCATO; BENEDETTI; LOPES, 2006, p. 35) define: [...] a multidisciplinaridade é como uma associação de disciplinas que abordam um mesmo objeto a partir de distintos pontos de vista. A multidisciplinaridade é, então, entendida como uma simples justaposição de disciplinas, visando a objetivos múltiplos, sem interagir quanto aos seus métodos e conceitos. Ou seja, a equipe permite uma bem‑vinda cooperação multidisciplinar, mas não se ocupa em empreender uma coordenação supradisciplinar unificadora. Nessa perspectiva multidisciplinar, podemos entender que as informações de cada profissional a respeito do cliente se complementam, mas não há uma decisão conjunta, já que essa é em geral tomada pelo médico. Assim sendo, encontramos nas ações multidisciplinares a reprodução do modelo biomédico, conforme citado anteriormente. Entretanto, é necessário encontrar o modelo que esteja voltado para a integração dos saberes, a favor da pessoa com doença, que esteja de acordo com o modelo biopsicossocial. O trabalho realizado em equipes interdisciplinares utiliza técnicas metodológicas, esquemas conceituais e de análises de diferentes ramos do saber com a finalidade de integração. Essa equipe busca uma superação de fronteiras disciplinares, com a construção de uma linguagem interdisciplinar consensualmente construída entre os integrantes. Cada membro amplia seus referenciais específicos e desenvolve ação colaborativa com os demais (JAPIASSU, 1977, apud BRUSCATO; BENEDETTI; LOPES, 2006, p. 35). A partir das explicações dos autores, entendemos que nas relações interdisciplinares a avaliação e o planejamento caminham de maneira colaborativa, interdependente, complementar e coordenada. Completam os autores que não há uma fusão entre as diferentes áreas do conhecimento e que as especialidades não são negligenciadas – afinal, todos os profissionais agem ampliando seu referencial 145 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Psicologia aPlicada à FisioteraPia e atuam colaborando uns com os outros –; a identidade profissional é mantida, assim como o domínio específico da técnica. Como exemplo de relações interdisciplinares, podemos citar o caso do reconhecimento pelo fisioterapeuta e por outros profissionais da equipe de que a condição socioeconômica desfavorável irá interferir na reabilitação de uma pessoa, havendo a necessidade de um profissional do serviço social para avaliar a questão e buscar meios tanto para que a problemática seja resolvida como para que hajam avanços no tratamento. No exemplo citado, o conhecimento pelos profissionais da problemática da pessoa irá favorecer uma postura de compreensão e acolhimento das intervenções sociais, no sentido de que algumas vezes a pessoa necessita de adaptações físicas em sua casa, pois não há condições de viver como anteriormente. Exemplo de aplicação Neste sentido, sugiro que você reflita sobre a importância do trabalho do fisioterapeuta e da integração do seu conhecimento com outros conhecimentos, tendo em vista que o principal favorecido será a pessoa doente. O objetivo também deve estar voltado para o desenvolvimento de ações possibilitem o crescimento do profissional. Com a certeza de um novo olhar para a questão das relações profissionais, convido você a conhecer e estudar o tema a seguir, pois está diretamente relacionado ao que até aqui apresentamos. 8.1 o fisioterapeuta na participação de projetos de prevenção de doenças e estímulo a melhor qualidade de vida Iremos desenvolver a seguir o tema relacionado à atividade do fisioterapeuta em projetos e programas de prevenção de doenças. Além de ver de maneira mais profunda como se desenvolve um projeto, você conhecerá alguns programas que são realizados pelo Ministério da Saúde nos seus diferentes níveis de atuação. De início, você irá conhecer as definições de projeto e a importância do seu desenvolvimento. 8.2 projeto e suas definições O que pretendemos aqui é identificar primeiramente um projeto de forma generalista, para que assim você tenha subsídios teóricos para apreender com maior eficiência o que vem a ser um projeto. Para tanto, nos reportamos à definição mais ampla em relação ao significado da palavra projeto: 1 Plano para a realização de um ato; desígnio, intenção. 2 Cometimento, empreendimento, empresa. 3 Redação provisória de qualquer medida (estatuto, lei etc.). 4 Constr Representação gráfica e escrita com orçamento de uma obra que se vai realizar. P. de lei: proposição escrita apresentada a 146 Unidade III Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 uma câmara legislativa sobre qualquer assunto, para, depois de discutida em plenário, ser convertida em lei; propositura. P.‑tipo: projeto padronizado que deve ser seguido em diversas obras ou instalações da mesma natureza. Pl: projetos‑tipos e projetos‑tipo. O significado que mais se aproxima ao nosso real interesse citado anteriormente é o que afirma que projeto trata‑se de um “Plano para a realização de um ato; desígnio, intenção”, ou seja, começamos a identificar que projetos são intenções elaboradas com o intuito de se realizar algo (fato/intenção). Não há projeto se não houver a intencionalidade em realizar alguma coisa. No caso, não nos importa qual é tal fato a ser vislumbrado pela pessoa que elabora determinado projeto. De acordo com Lück (2003, p. 27), projeto é: [...] conjunto organizado e encadeado de ações de abrangência e escopo definidos, que focaliza aspectos específicos a serem abordados num período de tempo, por pessoas associadas e articuladoras das condições promotoras de resultados, com um determinado custo. A autora coloca com bastante ênfase a necessidade de um projeto ser desenvolvido por pessoas pró‑ativas, ou seja, com atitude e que saibam visualizar os resultados e custos para essa obtenção, sendo planejado com peculiaridade e norteando de todos os lados para se conseguir o objetivo central do projeto desenvolvido. Para Chase (2006, p. 78): [...] um projeto pode ser definido como uma série de serviços relacionados, normalmente voltados para alguma produção importante e que necessita de um período significativo de tempo para ser realizado. Pode‑se destacar nesta interpretação que para haver a elaboração de qualquer projeto é preciso de tempo; assim, nenhum é feito “da noite para o dia”. De acordo com o mesmo autor, deve‑se refletir que é preciso haver preparo metodológico para seu início. Há outros estudiosos que defendem a ideia de que não há nenhuma definição universalmente reconhecida para projeto, visto que seu significado pode mudar de acordo com a linha de pensamento de quem o faz. Entretanto, há pontos que todos os projetos devem adotar, conforme discursa Fusco (2007, p. 59): [...] não existe nenhuma definição de “projeto”reconhecida universalmente. Assim, diferentes especialistas usam, às vezes, definições bastante diferentes. No entanto, alguns pontos importantes devem ser considerados para balizar a definição de projeto: • o objetivo da atividade de projeto deve ser buscar a satisfação das necessidades dos consumidores; 147 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Psicologia aPlicada à FisioteraPia • a atividade de projeto pode ser aplicada tanto a produtos (ou serviços) como a sistemas (que chamamos processos); • a atividade de projeto é, em si mesma, um processo de transformação; • o projeto começa com um conceito e termina na tradução desse conceito, em uma especificação de algo que é viável e passível de ser produzido. Como se percebe, não é de grande importância para o autor a caracterização/significado do projeto (como palavra), e sim os objetivos que devem ser alcançados para que se concretize aquilo esperado inicialmente. A palavra projeto pode ser utilizada de maneiras ambíguas, como discursa Orth (2009, p.15): “projeto de vida (significando um plano de como pretende viver daqui para frente), projeto de pagamentos (cronograma de pagamentos), projeto de curso (montagem de um currículo de curso), projeto de governo (coleção de boas intenções)”. O importante nesse momento é que você perceba que para que seja um bom projeto é preciso tempo para sua elaboração, bem como objetivos definidos; sendo assim, um projeto não pode ser interpretado como algo que não demande conhecimento técnico e metodológico, pois é a partir do projeto que são feitos os estudos dos resultados das ações, minimizando possíveis erros e aumentando a assertividade. Vale destacar que há inúmeros conceitos para projetos, e você, como futuro profissional, deve se identificar com algum deles para a utilização em seu cotidiano profissional, além de ter em mente que o projeto não precisa ser estático. É possível seguir o mesmo dinamismo do trabalho do fisioterapeuta, mas é preciso ficar atento para que o foco do projeto não se perca. 8.3 projeto com eficiência, eficácia e efetividade Trabalharemos agora os conceitos dos “3 Es – eficiente, eficaz e efetivo”, em especial na visão da elaboração de projetos, pois tais conceituações podem se aproximar de ações bem sucedidas em aspectos amplos e diminuir possíveis situações‑problema. O conhecimento do projeto como um todo pode ser um diferencial não somente para os envolvidos na sua elaboração e execução – pode também, de fato, causar a exultação do público a quem se destina. 8.3.1 Projeto eficiente A palavra eficiente, de acordo com o dicionário Michaelis (1998), quer dizer: “1 Ação, capacidade de produzir um efeito; eficácia. 2 Mec Rendimento”. É a capacidade de se fazer alguma coisa, ponto importante no que tange à elaboração de projetos, pois o profissional precisa saber (ter competência) para desenvolver tal ação. 148 Unidade III Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Chiavenato e Sapiro (2009, p. 30) colocam como eficiência os seguintes atos: • Fazer as coisas da maneira certa. • Resolver problemas. • Salvaguardar os recursos aplicados. • Cumprir o dever. • Reduzir custos. De acordo com os autores citados, não há como ser eficiente – e, consequentemente, o mesmo ocorrerá com o projeto – se a pessoa, principalmente o gerente, não tiver claras a meta e a estratégia, não pensar em situações futuras e não absorver as responsabilidades. Como a gerência fará as coisas corretas, sem saber quais de fato são? Como resolver os problemas se não há a absorção das responsabilidades? Como vou garantir e proteger os recursos se não sei onde serão aplicados e nem como? Como cumprir os deveres se não tenho claro quais eles são? Reduzir custos sem as devidas pesquisas de mercado? Perceba o quanto é complexo e prioritário o líder ser de fato o responsável pelas ações que envolvem o projeto. Claro que não precisa somente ser uma pessoa responsável, mas haver responsáveis, que trarão os problemas para si visando à resolutividade. Chiavenato (2006, p. 181) é extremamente direto quanto ao que vem a ser uma atitude eficiente: [...] relaciona‑se com a maneira pela qual fazemos a coisa. É o como fazemos, o caminho, o método. No projeto anterior (aprovação em um certame), se escolhermos corretamente o melhor material, a melhor equipe docente e estudarmos de forma proativa, muito provavelmente seremos aprovados em menos tempo. Aí está a eficiência: a economia de meios, o menor consumo de recursos dado um determinado grau de eficácia. Esse exemplo serve perfeitamente no cotidiano do elaborador de projetos, pois é preciso escolher perfeitamente (tanto em termos de qualidade como de preço) o material, os objetos, as pessoas e o local a ser usado, ou seja, os meios corretos para alcançarmos o objetivo e, consequentemente, termos ações pró‑ativas. Resumidamente, eficiência é fazer o correto, utilizar da melhor maneira os recursos, analisar a questão custo‑benefício e obter o mínimo de perdas (desperdícios). 149 Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 Psicologia aPlicada à FisioteraPia 8.3.2 Projeto eficaz Se formos recorrer ao conceito da palavra eficaz no dicionário, teremos: “1 Qualidade daquilo que é eficaz. 2 Qualidade daquilo que produz o resultado esperado [...]”(MICHAELIS, 1998), ou seja, está associada a fazer corretamente aquilo que é posto no objetivo do projeto. Chiavenato e Sapiro (2009, p. 30) discursam que ser eficaz é: • Fazer as coisas certas. • Produzir alternativas criativas. • Maximizar a utilização dos recursos. • Obter resultados. • Aumentar o lucro. O conceito utilizado para eficaz associa‑se ao fazer o que deve ser de fato feito, realizar as metas e propósitos, gerar lucro, diminuir desperdícios (não ter) e trazer os resultados com o máximo de criatividade possível. Chiavenato (2006, p. 181) exemplifica que eficácia: [...] consiste em fazer a coisa certa (não necessariamente da maneira certa). Assim, está relacionada ao grau de atingimento do objetivo. Se desejamos fazer algo [...] e logramos êxito nesse projeto, somos eficazes. Dessa forma, evidencia o cumprimento da missão, chegar ao resultado desejado. 8.3.3 Projeto efetivo Ser efetivo, segundo o dicionário Michaelis (1998), significa “1 Real, verdadeiro. 2 Que produz efeito; que tem efeito; eficaz. 3 Que não tem interrupção; permanente: Serviço efetivo. [...]”. Para nossos estudos em relação a projetos, ser efetivo se concentra no ato de proporcionar a continuidade das ações, ou seja, haver a permanência para se chegar às metas. A efetividade do projeto está direcionada ao fato dele conseguir perdurar no meio em que foi proposto, com resultados bem sucedidos durante o percurso do trabalho. Para isso, é preciso haver uma coordenação de esforços e “quereres” de maneira ordenada, para que o público‑alvo esteja satisfeito com o resultado. Chiavenato (2006, p. 181) discursa sobre o conceito de efetividade com um breve exemplo prático e lúdico: 150 Unidade III Re vi sã o: L uc as K at er - D ia gr am aç ão : K ar en - 1 9/ 02 /2 01 3 || 2 ª r ev isã o: V irg in ia - c or re çã o: F ab io 1 2/ 03 /1 3 // 3 ª R ev isã o: ? ? - Co rr eç ão : M ár ci o - 15 -0 3- 20 13 [...] a efetividade ressalta o impacto, à medida
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