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TECNOLOGIA, CIÊNCIA E PESQUISA Profª MSc. Débora Cavalheiro 2 SUMÁRIO BLOCO 1: PRINCÍPIOS DE TECNOLOGIA, CIÊNCIA E PESQUISA .............................................. 03 BLOCO 2: EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA .................................................................................... 10 BLOCO 3: SABER CIENTÍFICO ................................................................................................. 18 BLOCO 4: INSTRUMENTO DE PESQUISA ................................................................................ 26 BLOCO 5: COMUNICAÇÃO E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA ......................................................... 37 BLOCO 6: ESTRUTURA DE UM RELATÓRIO DE PESQUISA ...................................................... 47 3 BLOCO 1: PRINCÍPIOS DE TECNOLOGIA, CIÊNCIA E PESQUISA Caro estudante, seja bem-vindo ao Bloco 1! Neste bloco versaremos sobre tecnologia, ciência e pesquisa. De modo geral, apresentaremos os conceitos básicos desses tópicos e como se promove o desenvolvimento de uma sociedade por meio da interação da tecnologia com a ciência e a pesquisa. O esgotamento da discussão sobre os conceitos de tecnologia, ciência e pesquisa está longe de ser objetivo do presente texto, de fato, estas palavras terão cumprido seus papéis se conseguirem fomentar um questionamento, uma procura por respostas, pois, essa busca por conhecimento, é a base do fazer ciência, é o exercício a ser sempre praticado. 4 1.1 Definição de ciência O termo ciência deriva de scientia que em latim significa conhecimento, entretanto, o real significado de ciência é deveras complexo para ser obtido por uma simples permuta de termos. Desde tempos remotos, quando o ser humano passou a observar o meio em que vivia, a estabelecer relações entre o que observava e, após isso, a agir de acordo com base na análise feita, a ciência é praticada em certa medida (LAKATOS; MARCONI, 2007). De acordo com (CHIBENI, [s.d.]) o conceito de ciência passou por uma série de debates e construções e sua própria definição se transformou com o passar do tempo. A partir do século XVII, a filosofia da ciência começa a tomar corpo. Nesse período, considerado o nascer ou o reconhecimento da ciência, Francis Bacon (1561 – 1626) começa a se debruçar sobre a concepção do método científico e suas teorias são aceitas por diversos setores até hoje. Lakatos e Marconi (2017, p. 10) comentam sobre ciência e o método científico: O aspecto lógico da ciência conceitua-se como método de raciocínio e de inferência sobre os fenômenos já conhecidos ou a serem investigados; em outras palavras, o aspecto lógico constitui-se em método para a construção de proposições e enunciados, objetivando a descrição, a interpretação, a explicação e a verificação mais precisas (LAKATOS; MARCONI, 2017, p. 10) Para compreendermos um fenômeno e irmos além da aparência, tentando, desse modo, nos aproximarmos de sua essência, podemos lançar mão de diversos procedimentos, traçando assim um método. Os atributos desse método irão distinguir a ciência de outras formas de conhecimento: “É, portanto, a ciência um campo de conhecimentos com técnicas especializadas de verificação, interpretação e inferência da realidade” (MEDEIROS, 2014, p. 29). Assim, observa-se que há a sistematização de um método para obtenção de conhecimento e para que haja um desencadeamento lógico nas conclusões relacionadas a análise de um fenômeno. 5 1.2 Definição de pesquisa O conhecimento com base científica é obtido a partir de uma determinada atividade planejada com um objetivo específico. A essa atividade dá-se o nome de pesquisa, ou pesquisa científica. De maneira simplificada, a pesquisa tem por objetivo responder perguntas, ou seja, só há pesquisa se houver uma pergunta a ser respondida. Segundo Gil (2007 apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 12), a pesquisa pode ser definida como: [...] procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A pesquisa desenvolve-se por um processo constituído de várias fases, desde a formulação do problema até a apresentação e discussão dos resultados. (GIL, 2007 apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 12) A pesquisa é um recurso de ampliação do conhecimento empregado quando o que se procura não pode ser obtido pela simples observação de algum evento. Para fazer pesquisa é necessário um planejamento prévio (RUDIO, 2007). Quanto a sua natureza, a pesquisa pode ser dividida em: Pesquisa básica – “Objetiva gerar conhecimentos novos, úteis para o avanço da ciência, sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais” (GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, 2009, p. 34). Por exemplo, a pesquisa na matemática pura e o desenvolvimento de teorias elementares da física ou química são pesquisas básicas, relacionadas às ciências ditas, por alguns autores, como puras. Pesquisa aplicada – Visa à aplicação do conhecimento desenvolvido. Como a pesquisa básica busca a obtenção do conhecimento, mas também, como a tecnologia busca algum tipo de projeção prática (CUPANI, 2016). Pesquisa que trata da aplicação de conceitos e conhecimentos das ciências básicas ou puras na aplicação de alguma análise ou produto. Por exemplo, o desenvolvimento de 6 um tipo de cimento mais resistente; pesquisa sobre a violência em escolas de ensino médio; métodos de aprendizagem; soluções para o tratamento de infecções graves etc. Quanto aos seus objetivos, ela pode ser: Pesquisa exploratória – essa modalidade é realizada para obter conhecimento sobre uma realidade quase ou totalmente desconhecida. Os seus resultados rotineiramente fornecem subsídios a novas pesquisas que poderão ser feitas com maior precisão, derivadas desse conhecimento prévio. Medeiros (2014) coloca que esse tipo de pesquisa visa à obtenção de informações sobre o objeto pesquisado, subsidiando a formulação de hipóteses. Pesquisa descritiva – estuda, registra e interpreta os fatos estudados sem a interferência do pesquisador. Alguns exemplos dessa modalidade são a pesquisa eleitoral e a pesquisa de opinião. Pesquisa explicativa – esse tipo de pesquisa é realizado quando há necessidade de saber o porquê de uma determinada situação. Nesse caso, o objeto da pesquisa tem observadas suas características e, numa etapa posterior, é realizada uma análise que visa compreender os mecanismos por trás dessa realidade ora mensurada. Por fim, sobre a pesquisa científica, Medeiros (2014) coloca que esta: [...] objetiva fundamentalmente contribuir para a evolução do conhecimento humano em todos os setores, da ciência pura, ou aplicada; da matemática ou da agricultura, da tecnologia ou da literatura. Ora, tais pesquisas são sistematicamente planejadas e levadas a efeito segundo critérios rigorosos de processamento das informações. Será chamada pesquisa científica se sua realização for objeto de investigação planejada, desenvolvida e redigida conforme normas metodológicas consagradas pela ciência (MEDEIROS, 2014, p. 30). Assim, veremos nos próximos blocos que há um rigor no levantamento de dados, suas interpretações e conclusões, diferenciando a pesquisa de experiências empíricas do cotidiano. 7 1.3 Definição de tecnologia Veloso (2011) definirá tecnologia como tudo o que não existindo na natureza o ser humano desenvolverá ou inventarápara facilitar seu cotidiano, ampliando seus poderes e superando suas limitações. Desse modo, nota-se que a tecnologia tem forte ligação com a pesquisa aplicada. A tecnologia permeia nossas vidas e o nosso cotidiano, porém, conceituá-la pode não ser algo tão corriqueiro. O que a maioria das pessoas associa com tecnologia são equipamentos e programas ligados à eletrônica e à informática, como supercomputadores, laptops e smartphones. (VELOSO, 2011). Ao longo da história, vários avanços tecnológicos foram obtidos. O termo tecnologia não se aplica exclusivamente a artefatos e técnicas virtuais ou digitais. Assim, a manipulação de pedras e pedaços de madeira para a elaboração de ferramentas como lanças e martelos rudimentares até o smartphone mais moderno são igualmente tecnologia, já que são transformações da natureza feitas pelo homem e utilizadas para facilitar seu cotidiano de trabalho. Veloso (2011) coloca que o avanço tecnológico se dá como evolução no tempo, sendo assim um processo de construção histórica. O autor coloca também que a tecnologia veio não para diminuir o trabalho do homem, mas sim para que possamos avançar e produzir mais com o mesmo esforço. 1.4 Relação entre tecnologia, ciência e pesquisa No nosso dia a dia é grande a importância desse ciclo: é da ciência, pesquisa e tecnologia que derivam ferramentas muito úteis para a nossa vida, seja na indústria, na saúde e em outras áreas. Com a busca por novos conhecimentos será possível avançar para o desenvolvimento de novos saberes científicos, bem como tecnologias e soluções para a vida do ser humano. 8 A ciência e a tecnologia, propulsores que são do avanço da sociedade, passam pela pesquisa, sendo assim, o progresso da nossa sociedade é diretamente afetado pelo quanto se faz pesquisa (CHAIMOVICH, 2000). Um exemplo da relação de colaboração é dado por Cupani (2016) sobre a contribuição da ciência básica no estudo de um ecossistema e sua composição, subsidiando o conhecimento para a realização de uma pesquisa aplicada com o objetivo de entender os efeitos de um determinado poluente sobre o ecossistema estudado e, a partir dessa evidência, desenvolver um equipamento ou processo que diminua a poluição. A pesquisa e a ciência devem ser reconhecidas pela sociedade como fundamental ao seu desenvolvimento, já que subsidiarão também novas tecnologias. Por outro lado, também deve- se atentar à necessidade de produção de pesquisas e tecnologias que almejem atender às necessidades da sociedade. 1.5 Usos no cotidiano O cotidiano da nossa sociedade é fruto inegável da aplicação paulatina de pesquisa em ciência e tecnologia. Os meios digitais de comunicação em massa, por exemplo, derivam de muita pesquisa básica e aplicada em eletromagnetismo. O aumento da expectativa de vida da população só foi possível através dos avanços nos tratamentos de doenças e, portanto, do conhecimento sólido na área de biologia. 9 Referências CHAIMOVICH, H. Brasil, ciência, tecnologia: alguns dilemas e desafios. Estudos Avançados, v. 14, n. 40, p. 134–143, 2000. CHIBENI, S. S. O que é ciência? Departamento de Filosofia. Universidade de Campinas, [s.d.]. Disponível em: <http://www.unicamp.br/~chibeni/textosdidaticos/ciencia.pdf>. Acesso em: 12 ago. 2018. CUPANI, A. Filosofia da tecnologia: um convite. 3. ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2016. GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. Métodos de pesquisa. 1. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2009. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2017a. ______. Metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2017b. MEDEIROS, J. B. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos e resenhas. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2014. RUDIO, F. V. Introdução ao projeto de pesquisa científica. Petrópolis: Vozes, 2007. SOUSA, L. G. Relação entre Ciência e Pesquisa. Contribuciones a las Ciencias Sociales. 2011. VELOSO, R. Tecnologia da informação e da comunicação: desafios e perspectivas. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. 10 BLOCO 2: EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA Caro estudante, seja bem-vindo ao Bloco 2! Neste bloco trataremos um pouco da evolução tecnológica, ou seja, estudaremos a evolução da aplicação do conhecimento científico no atendimento das necessidades da sociedade. É importante notar que essa evolução da tecnologia não é exclusiva dos dias atuais, desde a antiguidade o ser humano aplica a ciência na solução dos problemas cotidianos, desenvolvendo assim uma tecnologia para a época, e tal aplicação já configurava, também, uma evolução a partir de um momento anterior. Para um desenvolvimento paulatino, o conteúdo a seguir foi organizado em: história da ciência; evolução tecnológica e processo histórico; tecnologia, trabalho e sociedade; exclusão social e, por último, tecnologia social. Assim como outros textos dessa série, o objetivo aqui não é exaurir o assunto tratado e tampouco apresentar uma verdade absoluta, mas apenas estimular o diálogo e o questionamento como ferramentas de produção de conhecimento. Bons estudos! 11 2.1 História da ciência 2.1.1 O que é a ciência? No Dicionário Aurélio on-line, ciência é definida como “Conjunto de conhecimentos fundados sobre princípios certos.” (CIÊNCIA, 2018). Por “fundados sobre princípios certos” podemos entender que o saber científico é construído, composto e criado por meio de um conjunto de regras que visam garantir a estreita relação entre a realidade que nos cerca e o conhecimento gerado. A esse conjunto de regras dá-se o nome de método científico, tal método possibilita a evolução da ciência, tanto pela observação da natureza quanto pela constante reavaliação do conhecimento científico. 2.1.2 Proêmio da ciência Ao longo da história da humanidade, a ciência experimentou uma evolução nos seus métodos, uma categorização do conjunto de informações disponíveis em volume cada vez maior. Com esse processo de amadurecimento, foram surgindo várias ciências, cada uma específica de determinada área do saber. E tal processo não para, ainda hoje podem surgir novos métodos e novos campos do saber que impliquem em novas ciências, por conta das novas demandas derivadas do progresso natural tanto da tecnologia quanto da sociedade atual. Pois uma característica fundamental da ciência é a predisposição a se permitir novos questionamentos. Num primeiro momento da evolução humana, não existia uma conceituação sobre a ciência, sobre fazer ciência e nem sobre o que seria o método científico. Nesse estágio, então anterior à época dos pensadores da Grécia Antiga, o sobrenatural fornecia todas as respostas para o dia a dia das pessoas. 2.1.3 Surgimento da ciência De 600 a.C a 300 a.C. na Grécia Antiga, a procura por respostas que extrapolassem o divino, o sobrenatural, levou à observação dos astros, aos primeiros passos da filosofia, a uma aplicação paulatina de um pensar matemático nas necessidades da pólis. Alguns expoentes desse processo são: Tales de Mileto, considerado um dos primeiros filósofos ocidentais; Pitágoras, com seus avanços na geometria; Sócrates, com suas contribuições à Ética e o método socrático; 12 Platão, que fundou a Academia em Atenas; e Aristóteles, que passou a empregar a lógica como ferramenta de entender o seu entorno. Nessa época, o intelecto humano, a razão e o questionamento passavam a ser empregados de forma cada vez mais intensa para a compreensão da realidade. Começava, assim, uma racionalizaçãodo universo. 2.1.4 Evolução da ciência Se na Grécia Antiga houve uma certa ruptura entre a concepção religiosa do universo e um olhar científico, ávido de conhecimento, que almejava compreender esse cosmos, na Idade Média a igreja permeava uma parte da ciência, como pelo verificado nos estudos de Santo Agostinho, que tinha uma concepção cristã da vida, e de São Tomás de Aquino, que defendia a tese de não poder haver contradição entre razão e fé e de que seria possível demonstrar, pela razão, a existência de Deus. Ainda na idade média, Roger Bacon dedicou-se bastante ao empirismo (doutrina filosófica que afirma ser o conhecimento resultado da experiência) e ao emprego da matemática na análise da natureza. Outro expoente dessa época foi John Duns Scotus, um dos mais influentes filósofos da idade média, na sua teoria do conhecimento, as pessoas no momento do nascimento eram como uma tábula rasa, a ser preenchida pelas informações sensitivas oriundas da sua relação com o mundo. Após a idade média veio o renascimento, período histórico pontuado por grandes mudanças na sociedade medieval. De uma forma geral, pode-se dizer que tal período apresentou uma efervescente contestação das verdades até então tidas como inquestionáveis. Nesse período viveu Erasmo de Roterdã, teólogo e humanista holandês que apresentava várias críticas à igreja da época. É também dessa época Francis Bacon, considerado por muitos o fundador da ciência moderna, também é conhecido por ter proposto uma racionalização da atividade científica. Outros pensadores são: Galileu Galilei, que foi perseguido pela igreja e teve livros queimados por conta 13 da sua teoria do heliocentrismo, e René Descartes, fundador da filosofia moderna e pai da matemática moderna por ter apresentado estudos importantes em ambas as áreas. Mais recentemente, após 1800, outros estudiosos alavancaram o progresso da ciência, entre eles temos: Auguste Comte, filósofo francês que fundou a sociologia e o positivismo (corrente filosófica que tem por mote que o conhecimento científico é a única forma de conhecimento verdadeiro. Assim sendo, desconsideram todas as outras formas do conhecimento humano que não possam ser comprovadas cientificamente) e Charles Darwin, naturalista britânico famoso por ter apresentado a teoria da evolução das espécies por meio da seleção natural. 2.1.5 Ciência contemporânea Alguns expoentes do pensamento na contemporaneidade (após 1900) são: Karl Popper, filósofo austríaco naturalizado britânico, apresentou os conceitos de verificabilidade e falsificacionismo (um critério para distinção entre ciência e não ciência), e Ernst Mayr, grande biólogo e filósofo, apresentou críticas tanto ao método científico atual quanto à suposta superioridade das ciências físicas sobre as demais por essas últimas carecerem de um alto nível de verificabilidade e reprodutibilidade. 2.2 Evolução tecnológica e processo histórico 2.2.1 Evolução dos meios de produção Conforme a sociedade evoluiu com o passar dos séculos, as suas necessidades mudaram, de modo geral, a população cresceu e, com isso, a demanda por alimentação, transporte, aquecimento e vestuário também aumentou. Para fazer frente a esse volume de produtos e serviços, os meios de produção precisaram ser alterados. O primeiro salto de produção ocorreu com o advento da primeira revolução industrial, em que o vapor passou a mover as máquinas, possibilitando assim um ganho de produtividade nunca aventado. A indústria inglesa, em que os teares manuais foram substituídos por teares mecânicos, foi um caso típico dessa mudança. Mudança essa que promoveu o descontentamento de muitos trabalhadores que tentaram revidar com fogo (literalmente) a esse avanço tecnológico. 14 2.2.2 Balizadores dessa evolução Como pode ser observado nas várias mudanças que ocorreram no desenvolvimento das sociedades, em um primeiro momento, o motor propulsor das mudanças do incremento da produtividade é invariavelmente a acumulação de lucro. Entretanto, os trabalhadores conseguem, na medida em que se organizam, melhorar as condições de trabalho, melhora essa que se colocará também como uma balizadora da evolução dos meios de produção, principalmente em tempos mais recentes. Outro balizador novo que aparece na definição dos caminhos a serem trilhados pela evolução dos meios de produção é a questão ambiental, se nos primórdios da indústria o meio ambiente era visto apenas como uma fonte infindável de recursos a serem explorados, na atualidade, apesar da resistência de alguns setores da sociedade, o mesmo é percebido como um bem a ser conservado com vistas à própria manutenção da vida. 2.2.3 Consequências dessa evolução Por vários fatores, a evolução em uma determinada área de atuação humana não acompanha, necessariamente, a evolução em setores distintos, tal fato leva a não compreensão global dos impactos de uma determinada atividade humana. Alguns exemplos dessa dissonância podem ser o emprego de clorofluorcarbonos em aerossóis e seu posterior banimento por conta do seu efeito negativo sobre a camada de ozônio ou a adição de chumbo na gasolina para possibilitar uma explosão mais suave e a posterior supressão desse componente por ser cancerígeno. Efeitos positivos dessa evolução também são numerosos, é inegável o incremento da expectativa de vida de um cidadão ao longo dos séculos e a erradicação de várias doenças que assolavam populações inteiras em épocas remotas. 15 2.3 Tecnologia, trabalho e sociedade 2.3.1 A tecnologia altera o trabalho Uma vez que o trabalho necessita ser efetuado promovendo um equilíbrio entre o maior lucro e as demandas dos trabalhadores e do meio ambiente, a tecnologia disponível é a ferramenta que possibilitará a maximização desses três parâmetros. Assim sendo, pode-se dizer que a tecnologia (dentro das suas possibilidades) molda o trabalho, pois o lucro, o bem-estar do trabalhador e o impacto ambiental serão tão mais adequados quanto mais avançada for a tecnologia disponível. 2.3.2 O trabalho molda a sociedade Devido à importância dada para a atividade laboral na nossa sociedade, por conta da geração de dividendos, fundamentais para a emancipação do indivíduo e para o funcionamento do estado, a nossa sociedade é configurada visando a facilitação do fluxo de dividendos (tal fato pode parecer uma incoerência, mas não é, uma vez que o lucro é o principal balizador do trabalho). Essa configuração apresenta certas peculiaridades, por exemplo, o fato de o indivíduo, não raro, associar o seu sucesso exclusivamente a um emprego que lhe possibilite uma boa geração de dividendos e identificar-se antes como trabalhador que como pessoa. 2.3.3 A tecnologia molda a sociedade A tecnologia, ao expandir as possibilidades de comunicação, permitiu o trabalho remoto, o trabalho realizado no conforto do lar por meio de uma conexão com a rede informática da empresa do trabalhador. Possibilitou assim a ampliação da disponibilidade do trabalhador, disponibilidade essa que nem sempre implica em um aumento dos dividendos por parte do trabalhador. Outro campo impactado é o das relações interpessoais, pois uma vez que essa tecnologia permite mais meios de comunicação, mais ruídos podem ocorrer nessas comunicações. Dessa forma, estamos diante de fatos inéditos e assim como pensadores antigos se debruçaram sobre os problemas que lhes afligiam, nós devemos nos dedicar a solucionar esses efeitos colaterais do avanço tecnológico. 16 2.4 Exclusão digital Na medida em que uma tecnologiaviabiliza um novo meio de comunicação ou de interação do indivíduo com o meio e isso não é disponibilizado a uma parcela da população, temos a exclusão digital. A não disponibilização dá-se não apenas pela ausência de um equipamento para acesso à rede de comunicação (um telefone ou um computador, por exemplo), ela ocorre também por meio da não alfabetização do indivíduo, pois enquanto um simples telefone fixo pode ser um vetor da inclusão de uma pessoa, a substituição desse telefone por um smartphone com acesso à internet pode excluir digitalmente esse indivíduo uma vez que ele não consiga interagir com o aparelho. Enquanto a tecnologia evolui nos grandes centros e os serviços prestados pelo estado passam por um processo de digitalização (legítimo enquanto medida de redução de custos), cidadãos que moram em regiões remotas, sem instrução adequada e sem recursos financeiros (que são justamente as mais necessitadas) invariavelmente ficam excluídos desse processo comunicativo, impossibilitados de exercerem a sua cidadania. 2.4.1 A sociedade baseada no conhecimento A sociedade moderna se baseia no conhecimento em vários níveis, empresas diversas têm seu lucro baseado no domínio de uma determinada técnica de produção, governos mantêm em sigilo conhecimento de áreas consideradas de segurança nacional, outras empresas obtêm lucro ao garimpar grandes volumes de dados sobre os hábitos de cidadãos, sobre o que eles gostam, quais sites visitam e o seu comportamento nas redes sociais. Enquanto o indivíduo digitalmente excluído não for um dado a ser monetizado pelas grandes empresas de informática, ele terá a sua privacidade resguardada, entretanto, essa não é uma decisão própria, é apenas uma consequência da sua exclusão. Uma vez que consiga se inserir na sociedade digital, ele poderá obter conhecimento e, desta forma, poderá ser autor do seu destino, poderá exercer a sua vontade. 17 2.5 Tecnologia social Tecnologia social pode ser definida como a implementação de um produto, processo ou método que vise solucionar algum problema de ordem social. Tal modalidade de tecnologia tem foco no atendimento das demandas de populações rotineiramente negligenciadas pelo poder público. Exemplos dessas intervenções são as construções de cisternas em regiões atingidas pela seca, a construção de uma biblioteca comunitária, a instalação de um equipamento de lazer e instalação de redes de acesso à internet para comunidades isoladas. A tecnologia social, para obter sucesso na sua implementação, deve ser realizada baseada em um sólido conhecimento do problema social tratado e as necessidades a serem suprimidas. A sociedade é considerada na formulação de uma atividade desse tipo uma vez que é a principal beneficiária. A tecnologia social também implica em um processo educativo com a comunidade promovendo uma troca de conhecimento entre o científico e o conhecimento popular desta comunidade. Por fim, a implantação de uma tecnologia social visa também uma plena solução dos problemas sociais, sustentabilidade ambiental e maximização da transformação social. Referências CIÊNCIA. Dicionário Aurélio. Dicionário on-line do Português. 19 abr. 2018. Disponível em: <https://dicionariodoaurelio.com/ciencia>. Acesso em: 13 ago. 2018. 18 BLOCO 3: SABER CIENTÍFICO É importante deixar claro que qualquer tipo de conhecimento é relevante e todos eles podem nos auxiliar durante a pesquisa. Não há um conhecimento melhor que o outro, eles são apenas diferentes! Os conhecimentos se dividem em popular ou empírico, científico, filosófico e religioso ou teológico e possuem as características listadas na tabela abaixo e serão melhor explorados no decorrer deste bloco. Tabela 1: Características dos diferentes tipos de conhecimento Popular Científico Filosófico Teológico Valorativo Reflexivo Assistemático Verificável Falível Inexato Real (factual) Contingente Sistemático Verificável Falível Aproximadamente exato Valorativo Racional Sistemático Não verificável Infalível Exato Valorativo Inspiracional Sistemático Não verificável Infalível Exato Fonte: adaptado de Trujillo (1974, p.11 apud MARCONI; LAKATOS, 2010). 19 3.1 Saber popular ou empírico O saber popular é o conhecimento do cotidiano que adquirimos por meio de nossas experiências ou pela transmissão oral vinda de experiências de outras pessoas (GERHARDT; SILVEIRA, 2009). Resulta da vivência do homem com as coisas. Nele, não há preocupação em aprofundar o conhecimento para além daquele resultante do empirismo. De acordo com Marconi e Lakatos (2010), o saber popular, também conhecido como senso comum, tem como diferença do conhecimento científico o método e os instrumentos que produzem esse conhecimento. Podemos saber que uma planta precisa de água para sobreviver e assim regamos nosso jardim, sabemos pela prática e porque nos disseram quando crianças. Esse conhecimento é passível de ser verificado, mas devemos avançar para o conhecimento científico para conhecer estruturas botânicas, ciclo de desenvolvimento de vegetais, fazer experimentos controlados etc. 3.2 Saber filosófico Saber questionador que possui rigor de método, como no conhecimento científico, no entanto, quanto as suas hipóteses, não há possibilidade de que sejam submetidas à experimentação. De acordo com Marconi e Lakatos (2010), o saber filosófico é “... caracterizado pelo esforço da razão pura para questionar os problemas humanos e poder discernir entre o certo e o errado, unicamente recorrendo às luzes da própria razão humana” . Tal saber se preocupa em buscar conhecimento, segue o método racional utilizando a coerência lógica, no entanto, não possibilita a aplicação do método experimental. 20 3.3 Saber teológico O saber teológico relaciona-se com a fé e a crença religiosa, mas, da mesma forma que o saber filosófico, não pode ser posto sob a comprovação do método experimental, pois tal conhecimento parte da crença e não de um método de realização, sendo posto sob uma doutrina, infalível em sua ótica e, portanto, exato (MARCONI; LAKATOS, 2010). O conhecimento teológico se fundamenta em textos sagrados, assim, não há a busca por comprovação de uma hipótese: Se o fundamento do conhecimento científico consiste na evidencia dos fatos observados e experimentalmente controlados, e do conhecimento filosófico e de seus enunciados, na evidencia logica, fazendo com que ambos os modos de conhecer deve a evidência resultar da pesquisa dos fatos ou da análise dos conteúdos dos enunciados, no caso do conhecimento teológico o fiel não se detém nelas à procura de evidência, pois a toma [...] da revelação divina (MARCONI; LAKATOS, 2010). 3.4 Saber científico O saber científico lida com ocorrências e fatos, formula e testa suas hipóteses através da verificação experimental, possui rigor em seus métodos, é racional e sistematizado. 3.5 Métodos de pesquisa A ciência se vale de um método que lhe é próprio: o método científico. A primeira atividade do cientista é a observação dos fatos e, a partir daí “a percepção de uma situação problemática que envolve o objeto”, sendo a problematização “o fato que desencadeia a indagação científica”. Nesse ponto há a formulação de hipóteses passíveis de averiguação através da verificação experimental em que sua hipótese é testada. 21 Para Severino (2007), na tentativa de justificação de uma hipótese podemosutilizar a indução e a dedução como formas de raciocínio: Indução: trata-se de um procedimento de generalização em que o pesquisador observa fatos particulares e conclui uma relação que se aplica a todos, inclusive a fatos não observados da mesma categoria. “Pela Indução, estabelece-se uma lei geral a partir da repetição constatada de regularidades em vários casos particulares... conclui-se uma ocorrência de casos possíveis” (SEVERINO, 2007). Em uma série de observações, conclui-se que: Corvo n°1 possui penas negras Corvo n°2 possui penas negras Corvo n°3 possui penas negras etc. Assim, todos os corvos possuem penas negras. Dedução: em função de um conhecimento geral partimos para o entendimento de um fato específico. Por exemplo: Todo mamífero possui coração; logo, um gato possui um coração, pois é mamífero. 3.6 Fatos, teorias e leis Após a observação e comprovação de fatos ligados ao mesmo fenômeno e a constatação de sua padronização, um cientista pode propor uma lei para estipular regularidades que se enquadram em um agrupamento de fenômenos (MARCONI; LAKATOS, 2010). Para os autores, as principais funções de uma lei são: Resumir grande quantidade de fatos; Permitir a previsão de novos fatos caso um fenômeno se enquadre na referida lei. 22 As teorias são mais amplas, pois a lei identifica um padrão em determinadas classes de eventos ou fenômenos, já a teoria “assinala o mecanismo responsável por esse padrão” (MARCONI; LAKATOS, 2010). 3.7 Ética na Pesquisa Segundo o Professor Clóvis de Barros Filho, a ética é a liberdade de escolhas tendo como premissa a boa convivência e o bem coletivo. Assim, a ética não é uma listagem de condutas congeladas do que é certo e errado e sim um necessário debate, já que iremos nos deparar com situações novas que não temos uma solução de valor ou previsão de justiça. Nesse necessário debate colocam os princípios que irão nortear nossa convivência. Nesse sentido, a ciência deve discutir seus princípios éticos já que muitas vezes envolve seres vivos. Assim, é necessário proceder de maneira que se respeite tal vida e sua dignidade. Muitas ações no passado para alcançar evidências científicas a qualquer custo suscitaram discussões e, atualmente, algumas medidas são utilizadas para evitar os erros do passado. Desse modo, alguns mecanismos são utilizados para proteger tanto pessoas quanto animais e garantir que a descoberta científica não fira princípios éticos. Comitês de Ética e Pesquisa O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) é um colegiado interdisciplinar e independente que deve existir nas instituições que realizam pesquisas envolvendo seres humanos no Brasil, tem como função garantir que pesquisas submetidas ao seu crivo defenda os interesses dos sujeitos envolvidos na pesquisa. Para saber mais sobre o Conselho de Ética e Pesquisa da UNISA, acesse o conteúdo disponível em: <http://www.unisa.br/A-UNISA/Pesquisa/CEP---Comite-de-Etica-em-Pesquisa-101>. Acesso em: 29 ago. 2018. 23 Termo de consentimento livre e esclarecido É um documento que preserva tanto o pesquisador quanto a pessoa envolvida na pesquisa. É uma espécie de contrato que deixará claro para as partes seus papéis e responsabilidades. A seguir, veja um exemplo: Plágio O plágio é a apropriação de uma produção intelectual sem dar os devidos créditos, portanto, quando omitimos citações estamos cometendo plágio. Desse modo, é de suma importância se atentar às normas. A seguir, veja algumas dicas: Modelo de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE baseado nas diretrizes contidas na resolução CNS nº466/2012. Disponível em: <http://ebserh.gov.br/documents/220250/621012/MODELO+DE+TERMO+DE+CONSENTIMENTO+E+ ASSENTIMENTO.pdf/41505eec-2379-4b0e-a50a-af2e867ebfa4>. Acesso em: 29 ago. 2018. BRASIL. Portal UFJF. Saiba como evitar o plágio em trabalhos acadêmicos. 2017. Disponível em: <https://www2.ufjf.br/noticias/2017/05/04/saiba-como-evitar-o-plagio-em-trabalhos- academicos/>. Acesso em: 29 ago. 2018. 24 A seguir, a indicação de vídeos e textos sobre o assunto abordado. Sites BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema Nacional de Informações sobre Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos (SISNEP). Disponível em: <http://portal2.saude.gov.br/sisnep/pesquisador/>. Acesso em: 29 ago. 2018. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Manual operacional para comitês de ética em pesquisa / Ministério da Saúde, Conselho Nacional de Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2002. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/livros/manual_ceps.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2018. CHIBENI, S. S. Introdução à filosofia da ciência. Aula 5. Departamento de Filosofia - IFCH - Unicamp. Disponível em: <http://www.unicamp.br/~chibeni/textosdidaticos/cienciaeetica.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2018. Exemplo de caso antiético na ciência: REYNOLDS, G. O Dossiê do “Estudo Monstro”. The New York Times. 16 mar. 2003. Disponível em: <http://www.gagueira.org.br/arquivos/estudo_monstro.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2018. YouTube A ética é a arte da convivência. Apresentação de Clóvis de Barros Filho. TEDx Talks. Publicado em janeiro de 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=6JLIXd6db-4>. Acesso em: 29 ago. 2018. Diálogos. Ética na Pesquisa. TV Unesp. Publicado em junho de 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=7Fh3onQ_Otg>. Acesso em: 29 ago. 2018. 25 Referências GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. Métodos de pesquisa. 1. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2009. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007. 26 BLOCO 4: INSTRUMENTO DE PESQUISA Agora que você entendeu a importância da pesquisa científica e já está pensando nos problemas e fenômenos que pode investigar em sua área, é hora de pensar em como fazer isso. Neste bloco vamos ver as questões referentes aos instrumentos de pesquisa e suas possibilidades. Qual deles é o mais adequado para sua pergunta de pesquisa? Vamos conferir? 27 4.1 Pesquisa bibliográfica A pesquisa bibliográfica parte de referências teóricas já analisadas e publicadas sobre um determinado tema e abrange a bibliografia já produzida sobre o tema, como artigos científicos, ensaios, dicionários, enciclopédias, livros, jornais, revistas (GERHARDT; SILVEIRA, 2009). De maneira geral, quando se objetiva um conhecimento mais atualizado, considera-se que o pesquisador deve ter sempre como primeira escolha a produção mais recentes e de alto impacto (veremos mais sobre isso no bloco 5!), que trazem informações atualizadas e de ponta. Tal método é a base de toda pesquisa, já que é importante compreender o tema de interesse, seu contexto e as problemáticas envolvidas. É muito utilizado também como o principal instrumento de uma pesquisa, especialmente em pesquisas de algumas áreas mais teóricas e de difícil experimentação em campo. O estado da arte nada mais é que compreender e levantar o que já foi pesquisado e dito sobre o tema de investigação. Para isso, é importante consultar produções clássicas sobre o objeto em questão, mas também buscar o que de mais recente se avançou sobre o tema. Para uma revisão bibliográfica, é importante ler com eficiência e entender o que sebusca no texto. Portanto, cabe também colocar os tipos de leitura existentes e expostos por Nascimento (2012). Leitura exploratória ou de reconhecimento – é uma leitura preliminar e que serve para verificar se o texto escolhido serve para a pesquisa. Nesta fase, a análise de sumários e introdução são mais comuns. Leitura seletiva – serve para aprofundar conhecimentos sobre os pontos de interesse. “Os textos a serem lidos dizem respeito diretamente ao assunto de interesse da elaboração da pesquisa. ” Leitura analítica – serve para “estabelecer uma ordem de entrada das informações para a elaboração de resumos que contribuam para o desenvolvimento e resolução do problema de pesquisa. A leitura analítica proporciona ao autor-aluno conhecer o pensamento do autor 28 da obra. Com isso, é possível posicionar-se de forma objetiva, impessoal e respeitosa diante dos novos conhecimentos que está adquirindo. As informações mais significativas são obtidas detalhadamente, captando-se, portanto, as características mais relevantes para o aumento do saber, acumulado através do tempo, visando à total e plena compreensão. ” Leitura interpretativa – possibilita a relação entre o que o autor afirma e sua relação com o problema de pesquisa analisado, “proporcionando, ao mesmo tempo, a possibilidade de se desenvolver uma síntese com as informações obtidas a partir da análise e do julgamento do texto pesquisado”. Leitura crítica ou reflexiva – É necessário o distanciamento do texto e que se faça uma reflexão analítica e avaliadora das obras consultadas. Para auxiliar a revisão bibliográfica, alguns tipos de registro e estratégias são utilizadas e vão lhe ajudar muito na sistematização de conhecimento. Aliás, tais técnicas são recomendadas que sejam utilizadas para estudar durante o curso! Estamos falando de resumo, resenha e fichamento. Fichamento: é uma maneira de armazenar as informações obtidas na leitura de um material e que seja de fácil consulta. Elaboram-se fichas com dados principais do material estudado como nome, autor, tipo de publicação etc. Você pode destacar o resumo de seu conteúdo (fichamento de resumo), destacar o que mais lhe interessou no texto escrito com suas palavras ou transcrevendo os trechos devidamente identificados com sua localização na obra original (fichamento de transcrição). Além disso, você pode fazer comentários e análise crítica (fichamento de comentário ou crítico). Resumo: sintetiza o conteúdo da publicação consultada. É importante pensar que os aspectos principais devem ser levantados de forma sintética, já que o resumo irá possibilitar a verificação rápida de que o material interessa ou não para próximas consultas sem ser necessário sua leitura integral. Resenha: combina resumo e julgamento de valor. Aqui você irá realizar o resumo da obra, mas também dissertar sobre ela e o tema em questão. É um tipo de resumo crítico, contudo, mais abrangente: Permite comentários e opiniões, inclui julgamentos de valor, comparações 29 com outras obras da mesma área e avaliação da relevância da obra com relação às outras do mesmo gênero Andrade (1995, p. 61 apud MEDEIROS 2014, p. 153). Na atualidade a disponibilidade de informação é muito grande e selecionar é de suma importância. Assim, é muito importante identificar de forma eficiente e rápida o que nos serve ou não. Marconi e Lakatos (2017) colocam que na fase de identificação serão pesquisadas as bibliografias existentes sobre determinado assunto e pode ser feita em catálogos de bibliotecas, em bases de dados de universidades e em bases de agências de pesquisa (como a CNPq, FAPESP, CAPES). Hoje, com a internet, as pesquisas podem ser feitas remotamente, até mesmo de casa. Escolhidos os textos e artigos científicos, devem ser consultados seus respectivos sumários para encontrar os assuntos por eles abordados. Outra fonte importante são os resumos presentes em artigos científicos, que falam sobre o seu conteúdo e como ele se desenvolve no texto, ajudando assim na identificação das publicações de interesse. Após serem escolhidos os materiais que serão estudados, devem ser coletadas suas fichas bibliográficas, presentes nos próprios livros ou, ainda, em bibliotecas e bases de dados on-line. Os textos selecionados devem ser fichados cuidadosamente, pois os fichamentos são uma fonte importante de consulta rápida, onde se localiza determinado material por alguma de suas características (autor, ano, tipo de publicação ou tema da publicação). 4.2 Pesquisa documental A pesquisa documental é muito similar à pesquisa bibliográfica (GERHARDT; SILVEIRA, 2009), porém, ao passo que a pesquisa bibliográfica tem seu foco em artigos científicos e livros, a pesquisa documental recorre também a outros meios de obtenção de informação, com mais diversidade de suportes. A produção bibliográfica visa ao público leitor, já a produção 30 documental serve na sua origem a outras produções, como registrar um momento, certificar posse ou acontecimento, realizar comunicação etc. A pesquisa documental, então, contempla tudo aquilo que documenta um fato, seja este um registro de imóvel, mapas, uma certidão de nascimento, uma pintura, uma fotografia, um objeto, cartas, dentre outros. O processo da pesquisa documental deve ser o mesmo da pesquisa bibliográfica, seguindo todos os passos para identificação do conteúdo bibliográfico, com a adição de algum tipo de registro para as fontes de informação encontradas em suportes diferenciados, podem ser utilizados microfilmagem ou digitalização no caso de cartas, jornais, vídeos e filmes antigos. Elementos como achados arqueológicos, pinturas e tapeçarias podem ser fotografados, desde que seguindo as regras de conservação apropriadas (tirar fotos sem flash, por exemplo). Todo esse conteúdo deverá ser anexado à pesquisa, para que se possa verificá-la futuramente. Em determinados momentos, não é fácil diferenciar a fonte documental de uma fonte bibliográfica. Marconi e Lakatos (2011) irão classificar o tipo de material entre fontes primárias e secundárias (Tabela 2). Pode-se observar na tabela que tanto a fonte bibliográfica quanto a documental podem ser escritas ou não, por exemplo, uma videoaula é uma fonte bibliográfica, já que versa sobre determinado tema e seu conteúdo tem referência tanto em fontes secundárias como primárias. 31 Fonte: Marconi e Lakatos (2011). 32 4.3 Instrumentos de pesquisa de campo Sobre a pesquisa de campo, afirma-se que: [...] não deve ser confundida com a simples coleta de dados (este último corresponde à segunda fase de qualquer pesquisa); é algo mais que isso, pois exige contar com controles adequados e com objetivos preestabelecidos que discriminam suficientemente o que deve ser coletado (TRUJILLO, 1982, apud MARCONI; LAKATOS, 2017). Com conhecimento do tema a partir de uma pesquisa bibliográfica preliminar podemos seguir para a pesquisa de campo, assim, garante-se que se vá a campo conhecendo minimamente o contexto ao qual está inserido o problema (MARCONI; LAKATOS, 2017). A pesquisa de campo tem a função de trazer mais conhecimento sobre o tema com base na observação dos fatos e fenômenos, além da coleta de dados (LAKATOS; MARCONI, 2017). O levantamento de campo permite a inserção do pesquisador no contexto da problemática estudada. Para que o levantamento seja proveitoso, os autores lembram que é importante definir as técnicas de coleta de dados in lococomo também a forma de processar, tratar e interpretar tais informações. Marconi e Lakatos (2010) colocam como vantagens dos levantamentos de campo o acúmulo de informações relacionado a determinado fenômeno observado e facilidade de obtenção na amostragem de indivíduos. No entanto, apontam como desvantagens o pouco grau de controle de outras variáveis e fatores desconhecidos pelo pesquisador que podem alterar resultados e a possibilidade de falsear respostas dos indivíduos sob avaliação no caso de questionários, entrevistas etc. Como levantamento de campo, os autores mencionam: Pesquisa de laboratório: procedimento mais exato que descreve e analisa o que ocorre em situações controladas. Observação: coleta dados utilizando os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Estes podem ser mais formais (observação sistemática) com uso de formulários e 33 sistematizadas em termos de intervalos de coleta, itens de coleta etc. Podem também fazer com que o pesquisador se distancie e não tome contato com a comunidade (não participante) ou que o pesquisador se incorpore e faça parte do grupo (participante). Entrevista: pode ser aplicada como instrumento preliminar de investigação e conhecimento do objeto de estudo (SOMMER; SOMMER, 1997) e também se tornar uma ferramenta importante dentro de um estudo, sendo, como aponta Yin (2005), “uma das mais importantes fontes de informação para um estudo de caso”. A entrevista pode ter ou não um roteiro para nortear as questões levantadas para o entrevistado. Trata-se de um elemento de caráter qualitativo. Nesse instrumento há a possibilidade de que o entrevistado traga dados e situações novas ao pesquisador. Questionário: nesse instrumento a maneira mais tradicional é a apresentação de questões com respostas fechadas, nele são feitas perguntas com opções para resposta. Também pode haver perguntas abertas, mas a diferença entre o questionário e a entrevista é que o primeiro tem caráter quantitativo e é aplicado para uma amostra da população com o intuito de traçar um panorama sobre determinadas variáveis analisadas. 4.4 Tratamento de dados qualitativos Por seu caráter mais subjetivo, os dados qualitativos não são revelados ao pesquisador de maneira clara e objetiva como os dados quantitativos, é preciso uma prospecção para entender mais profundamente os significados que os atores sociais vivem em sua realidade. Podem ser destacadas duas formas de análise do conteúdo qualitativo: a análise do conteúdo e a análise do discurso (GERHARDT; SILVEIRA, 2009). A análise do conteúdo consiste em um conjunto de técnicas de análise que visam obter indicadores que irão inferir certas informações provenientes do grupo pesquisado. Já a análise do discurso: [...] objetiva realizar uma reflexão sobre as condições de produção e apreensão do significado de textos produzidos em diferentes campos, por 34 exemplo, o religioso, o filosófico, o jurídico e o sociopolítico. Os pressupostos básicos desta análise podem ser resumidos em dois: (1) o sentido de uma palavra ou de uma expressão não existe em si mesmo; ao contrário, expressa posições ideológicas em jogo no processo sócio histórico no qual as relações são produzidas; (2) toda formação discursiva dissimula, pela pretensão de transparência e dependência, formações ideológicas (GERHARDT; SILVEIRA, 2009). Gibbs (2009) coloca que os dados qualitativos necessitam primeiramente de “trabalhos de escritório”, como a sua transcrição. Posteriormente é realizada a redução dos dados. Uma maneira de organizar os dados qualitativos é realizando sua categorização, estruturando, desse modo, as informações em conjuntos de abordagem ou informações encontradas. Se você entrevistou, por exemplo, vários moradores de um condomínio sobre o que acham de sua moradia, é possível organizar as respostas dadas pelos temas que surgiram nas conversas com eles. Assuntos que poderiam ter surgido: conforto térmico, preço do condomínio, defeitos de construção nos apartamentos, conflitos com vizinhos etc. Com a categorização das respostas, você pode analisar e dissertar as temáticas abordadas do ponto de vista do morador. 4.5 Tratamento de dados quantitativos A análise tem como objetivo organizar os dados de forma que torne possível o fornecimento de respostas para o problema proposto. Em relação às formas que os processos de análise de dados quantitativos podem assumir, observam-se em boa parte das pesquisas os seguintes passos: estabelecimento de categorias; codificação e tabulação; análise estatística dos dados. O estabelecimento de categorias é uma maneira de organizar os dados coletados, separando-os por suas características. As categorias devem obedecer a critérios e devem estar dispostas em 35 número suficiente para abranger todas as respostas obtidas, além disso, os parâmetros para cada uma devem ser determinados de maneira que uma resposta não possa estar em mais de uma categoria. A tabulação dos dados é o processo em que os dados obtidos são tabulados, passando da sua forma bruta como foram colhidos para tabelas, por exemplo, tornando-se mais fáceis de quantificar. A análise estatística é o tratamento matemático mais utilizado para o tratamento de dados de caráter quantitativo e que irá gerar apresentações (como gráficos, índices ou tabelas) e interpretações. A análise estatística pode ser descritiva, mais simples, apresentando médias, medianas, modas e etc., bem como realizar inferências (estatística inferencial) e analisar a possibilidade das relações entre variáveis. Além da estatística convencional, podemos lançar de muitas ferramentas e modelos matemáticos, como a análise multivariada, lógica fuzzy etc. Tais ferramentas enriquecem a análise, pois possibilitam tirarmos conclusões mais arrojadas e profundas. 36 Referências GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. Métodos de pesquisa. 1 ed. Porto Alegre: UFRGS, 2009. GIBBS, G. Análise de dados qualitativos. Porto Alegre: Artmed, 2009. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. ______. Fundamentos de metodologia científica. 8 ed. São Paulo: Atlas, 2017. ______. Técnicas de pesquisa. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2011. MEDEIROS, J. B. Redação científica. 12 ed. São Paulo: Atlas, 2014. NASCIMENTO, L. P. Elaboração de projetos de pesquisa: monografia, dissertação, tese e estudo de caso, com base em metodologia científica / Luiz Paulo do Nascimento. São Paulo: Cengage Learning, 2012. SOMMER, B.; SOMMER, R. A practical guide to behavioral research: tools and techniques. 4. ed. New York: Oxford University Press, 1997. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Tradução Daniel Grassi. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005. 37 BLOCO 5: COMUNICAÇÃO E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA Olá, estudante! Após seu árduo trabalho realizando sua pesquisa, é hora de divulgar os resultados! Afinal, de que adianta tanto esforço se os outros não ficarem sabendo dos resultados alcançados? Assim, as pessoas poderão usufruir do avanço que sua pesquisa proporcionou além de ajudar outros pesquisadores. Vamos descobrir os meios mais populares de divulgação entre cientistas? 38 5.1 Escrita acadêmica 5.1.1 Normatização Na vida acadêmica temos contato com um estilo literário bem específico, o estilo de escrita acadêmico-científica. Tal estilo é caracterizado pelo rigorquanto à sua apresentação, evidenciado pela existência de regras a serem seguidas na confecção do texto acadêmico e pela clareza e objetividade imprescindíveis ao texto, de modo que não haja ambiguidades no trabalho final. No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) rege a padronização da documentação de comunicação científica por meio de algumas normas, são elas: ABNT NBR 6023 – Referências; ABNT NBR 6024 – Numeração de seções; ABNT NBR 6027 – Sumário; ABNT NBR 6028 – Resumo; ABNT NBR 10520 – Citações; ABNT NBR 14724 – Apresentação de trabalhos; ABNT NBR 15287 – Projeto de pesquisa. Além da ABNT, existem outras instituições que versam sobre normatização de trabalhos acadêmicos, por exemplo, American Psychological Association (APA), Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE), Nature e Vancouver. É prática comum que as bibliotecas de grandes universidades e faculdades disponibilizem aos alunos manuais de normatização internos baseados nessas normas, entretanto, a consulta direta a tais normas não deve ser ignorada, principalmente quando a publicação de artigos extramuros da instituição é pretendida. 39 Antes da tratativa dos pormenores de cada gênero da escrita acadêmica (resumo, projeto de pesquisa, monografia, dissertação, tese e artigo) versaremos sobre os pontos fundamentais à escrita acadêmica e, por isso, comuns a todas essas variantes. 5.1.2 A redação do texto A redação de qualquer documento acadêmico deve ser encarada como uma atividade com começo, meio e fim, de modo que o estudante não se perca durante o processo e consiga um resultado de qualidade. Antes da redação de um texto dessa natureza, é fundamental ter claro em mente os seguintes pontos: Definição do público-alvo – com isso é estabelecido o vocabulário adequado; Definição de tamanho – resumos, artigos e projetos de pesquisa têm limitação de tamanho impostas ao escritor. Monografias, dissertações e teses também costumam ter uma quantidade de páginas recomendada. A não observância desses limites pode implicar em reprovações e retrabalhos; Definição do tempo para exposição – esse ponto é fundamental para a apresentação de um trabalho, seja um seminário em sala de aula ou um trabalho em congresso. O apresentador deve planejar o conteúdo da apresentação e treinar previamente para conseguir transmitir a sua informação no tempo adequado e de forma clara e tranquila. Outra atividade fundamental que precede a escrita em si é a leitura prévia de textos que versem sobre o assunto tratado. A atividade de leitura fornece tanto embasamento teórico para o texto a ser escrito quanto condições para o escritor desenvolver um texto com coesão, coerência, riqueza de vocabulário, de modo que a informação seja comunicada de forma inequívoca. O ato de redigir o texto demanda tempo e concentração, por isso deve ser planejado para que essa atividade, que não é trivial, possa ocorrer sem interrupções. Para uma produtividade no 40 texto acadêmico adequada é interessante a reserva de períodos suficientemente longos que permitam um desenvolvimento das ideias a serem colocadas no papel. Uma vez que o texto esteja concluído é necessária uma verificação da formatação das seções, tamanho de fonte do texto, títulos, subtítulos, margens etc. Este é o momento em que as normas ABNT são intensamente consultadas. O não atendimento a esses requisitos não é aceitável. Uma verificação do texto quanto à grafia, pontuação, coesão e coerência também é fundamental. Possíveis erros, de qualquer natureza, quando presentes, comprometem seriamente a qualidade do trabalho e a confiança em tal documento. A responsabilidade por um trabalho bem redigido é do autor, portanto, não se deve imputar ao corretor ortográfico do editor de texto tal tarefa. 5.2 Projeto de pesquisa Para o desenvolvimento das atividades acadêmicas e de pesquisa realizamos trabalhos com objetivos bem específicos e que demandam, em maior ou menor grau, tempo, recursos materiais e recursos humanos. Tais trabalhos são as pesquisas executadas durante uma iniciação científica, para a conclusão de um curso, no mestrado ou doutorado. Para uma boa execução dessas tarefas é imprescindível um bom planejamento, que é o próprio projeto de pesquisa. Para a redação de um projeto de pesquisa é necessário saber sobre o campo do conhecimento em que tal projeto de pesquisa se insere. Tal conhecimento é obtido pela leitura intensa dos textos que tratam do tema estudado. Uma leitura adequada dos textos de referência fornecerá tanto um sólido embasamento para a pesquisa proposta quanto possibilitará evitar possíveis erros e gastos desnecessários de recursos. Em um projeto de pesquisa os seguintes tópicos estão presentes: 41 Introdução e justificativas Nessa parte o autor deve introduzir o tema de pesquisa, relacionando os vários autores que atuam na área apresentando uma discussão sobre os textos desses autores. Na sequência, deve- se identificar o problema de pesquisa, alguma necessidade ainda não tratada ou um questionamento sobre determinada abordagem estudada. Após apresentar o problema de pesquisa, é necessária uma breve descrição do resultado pretendido com a pesquisa e a justificativa para tal trabalho. Fundamentação teórica Essa é a seção onde o autor redigirá uma resenha sobre a literatura consultada, os principais autores no campo do conhecimento em questão deverão estar presentes. Os textos consultados deverão ser encadeados de forma que o leitor consiga identificar uma relação clara entre os fundamentos teóricos e a proposta da pesquisa. Objetivos Nesse ponto são apresentados o que se espera obter com a conclusão da pesquisa. Como forma de facilitar a sua verificação, os objetivos são divididos em objetivo geral e objetivos específicos. Objetivo geral Objetivo alvo do trabalho, que fornecerá a resposta ao problema de pesquisa. Objetivos específicos Servem para conduzir o andamento da pesquisa, auxiliam na compreensão e resolução do problema de pesquisa. Objetivos específicos respondem questões intermediárias que decorrem da pesquisa. Materiais e métodos Nessa seção são descritos os passos para a conclusão da pesquisa, é necessário informar como toda etapa será realizada para que outros pesquisadores possam repetir o trabalho, para que possuam as ferramentas necessárias e consigam obter os mesmos dados. A relação de equipamentos, instrumentos e qualquer outro recurso deve também ser relacionada. 42 Cronograma Nesse ponto é indicado o tempo previsto para a conclusão do trabalho, esse item está intimamente ligado com a metodologia. Questões norteadoras Para a elaboração de um projeto de pesquisa, as seguintes questões devem ser respondidas: o O que pesquisar – tema de pesquisa; o Por que pesquisar – justificativa; o Para que pesquisar – objetivos; o Como pesquisar – metodologia; o Quando pesquisar – cronograma. Metodologia de pesquisa Uma pesquisa acadêmico-científica pode ser classificada como quantitativa, quando apresenta caráter mais objetivo, um exemplo dessa objetividade seria a análise entre variáveis de um sistema e o efeito dessas variáveis sobre um resultado. O estudo do efeito da temperatura de tratamento térmico sobre as propriedades mecânicas de uma determinada liga de aço seria um exemplo de uma pesquisa quantitativa. Uma pesquisa qualitativa caracteriza-se por uma análise mais elaborada de um conjunto de observações sobre um sistema. Aanálise efetuada por um psicólogo durante várias consultas necessárias à formulação de um diagnóstico seria um exemplo de pesquisa qualitativa. 5.3 Periódicos indexados e classificação de qualidade Todo texto científico tem por objetivo estabelecer a comunicação entre pares. Defesas públicas, apresentações em congressos e publicações em revistas especializadas são formas de estabelecer essa comunicação. As revistas acadêmicas especializadas, ou journals, são os periódicos. Neles são publicadas informações em uma velocidade grande que possibilita um 43 bom fluxo de informação por meio de artigos. Desse modo, os periódicos constituem grandes bancos de dados ao serem indexados em uma base de pesquisa (por exemplo: Google Acadêmico, Scopus, Web of Science, Engineering Village). No Brasil, a CAPES possui o sistema Qualis de avaliação de periódicos que mede a qualidade dos artigos publicados em tais periódicos numa determinada área do conhecimento. No sistema Qualis um periódico pode ser classificado nos níveis A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5 e C, em que A1 é o nível mais elevado e C, o mais baixo. Tal sistema de classificação reflete a qualidade dos programas de pós-graduação ao verificar em quais periódicos os estudantes das instituições de pós-graduação publicam seus artigos. 5.4 Tipos de divulgação escrita 5.4.1 Tese, dissertação e monografia Monografia ou trabalho de conclusão de curso é o trabalho apresentado ao término de uma graduação, é fruto de uma pesquisa do autor sobre um determinado tema com uma metodologia específica e objetivos específicos. O projeto de pesquisa é a ferramenta que possibilitará o bom desenvolvimento da pesquisa prévia. A dissertação e a tese são apresentadas ao se concluir uma pós-graduação stricto sensu de mestrado e doutorado, respectivamente. Assim como o trabalho de conclusão de curso, são compostos por: sumário, introdução e justificativas, fundamentação teórica, objetivos, metodologia, resultados, discussão dos resultados e referências bibliográficas. Um resumo em língua vernácula é também parte integrante dessa modalidade de texto. 5.4.2 Artigo O artigo acadêmico é um gênero que se caracteriza por permitir uma leitura rápida (em comparação com dissertações e teses) em sua totalidade, por isso é o meio empregado para uma rápida divulgação de resultados. As regras referentes a sua formatação e apresentação 44 variam bastante dependendo do periódico em que serão publicados. De modo geral, são constituídos por um breve resumo, introdução, metodologia, resultados, discussão e referências bibliográficas. 5.4.3 Apresentação A apresentação de um trabalho acadêmico é o momento de publicação de um trabalho já efetuado. Tal ocasião merece um cuidado especial, com foco no público-alvo, na sua diagramação, escolha do conteúdo a ser transmitido e linguagem mais adequada. A totalidade da informação disponível deve ser condensada e apresentada em tópicos, de forma que os quadros da apresentação não possuam sentenças longas que demandem muita leitura. O ideal é que tais tópicos sirvam de “ganchos” ao palestrante para que esse complemente oralmente a informação apresentada. Além da exposição da informação em tópicos, é importante que a evolução da apresentação ocorra de forma contínua, para isso é necessário que a formatação dos quadros seja coerente, do início ao fim. Não deve haver uma poluição visual, figuras, quando empregadas, devem ser identificadas, possuir tamanho adequado, ter relação direta com o exposto. Transições de quadros e outros efeitos especiais devem ser empregados somente se estritamente necessário, um conjunto adequado de cores também deve ser utilizado. Quando se prepara a apresentação é necessário ter claro que o foco é transmitir a informação, portanto, qualquer outro item que chame a atenção do público é desnecessário. 5.5 Órgãos de pesquisa A pesquisa acadêmica no Brasil é basicamente realizada por agências de fomento, as principais no estado de São Paulo são: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Cada agência possui regras para o fornecimento de bolsas de iniciação científica, mestrado, doutorado e outras. De forma geral, para pleitear uma bolsa é necessária a apresentação de um projeto de 45 pesquisa que deverá atender integralmente as normas ABNT, além de outras, específicas da agência. 5.6 Eventos de divulgação entre pares Outra modalidade de divulgação científica de grande impacto é a apresentação de um trabalho em um evento científico, entre eles, temos: 5.6.1 Palestra Uma palestra caracteriza-se pela exposição oral auxiliada pela apresentação de quadros (slides). Nessa modalidade o palestrante trata de um tema já conhecido pela plateia, que pode realizar intervenções durante a fala do palestrante. 5.6.2 Seminário No seminário a plateia pode sanar dúvidas e tecer comentários após a exposição oral do palestrante, é comum nos seminários a existência de várias exposições orais em torno de um único tema central. 5.6.3 Congresso O congresso é um grande evento de porte regional, nacional e até mesmo internacional e possui normalmente a duração de alguns dias. Esse evento possui várias atividades diferentes, mesas redondas, minicursos, apresentações orais de trabalho ou em pôsteres e pode comportar também palestras e seminários. 5.6.4 Simpósio O simpósio apresenta muitas semelhanças com os congressos, porém trata-se de um evento de menor proporção e direcionado a uma parcela mais específica de pesquisadores de uma determinada área, é uma atividade que fomenta o debate e a discussão entre pares. 46 Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: Informação e documentação: Referências. Rio de Janeiro, 2002. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6024: Informação e documentação: Numeração progressiva das seções de um documento. Rio de Janeiro, 2012. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6027: Informação e documentação: Sumário. Rio de Janeiro, 2012. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028: Informação e documentação: Resumo. Rio de Janeiro, 2003. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10520: Informação e documentação: Citações em documentos. Rio de Janeiro, 2002. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14724: Informação e documentação: Trabalhos acadêmicos. Rio de Janeiro, 2011. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15287: Informação e documentação: Projeto de pesquisa. Rio de Janeiro, 2011. 47 BLOCO 6: ESTRUTURA DE UM RELATÓRIO DE PESQUISA Você já entendeu o que é pesquisa, ciência e tecnologia e o seu impacto em nosso cotidiano. Já escolheu uma problemática a ser estudada, propôs seu projeto de pesquisa e o executou. Agora, precisamos relatar o que foi feito e as conclusões as quais chegamos! 48 6.1 O Relatório de Pesquisa Uma pesquisa não tem validade se não divulgarmos seus resultados, e o relatório de pesquisa é uma entre as maneiras de faz isso. Imagine que você fez uma descoberta muito importante e não comunicou a ninguém, do que adiantaria? Comunicando seus resultados você ajuda outros pesquisadores que estão trabalhando no mesmo tema e também possibilita que suas descobertas sejam utilizadas. Além do relatório de pesquisa, podemos divulgar nosso trabalho em revistas, congressos, simpósios,encontros etc., por meio de apresentações orais ou de artigos. Mas neste momento vamos focar no relatório. O relatório de pesquisa também é utilizado para prestarmos conta de um financiamento, caso receba uma bolsa ou outro tipo de verba para realizar e custear sua pesquisa, as agências de fomento vão querer saber o que você produziu, afinal, temos que mostrar que valeu à pena o investimento. A primeira questão a se levar em conta na produção de um texto é o público ao qual se destina, portanto, tenha em mente que seu texto, como qualquer outro, terá um público específico. Relatórios destinados a uma agência de fomento, público em geral, especialistas etc., terão abordagens distintas, porém, a estrutura de um relatório possui alguns aspectos que devem ser considerados. 49 6.2 Elementos pré-textuais, introdução e justificativa 6.2.1 Elementos pré-textuais Antes de chegarmos ao que chamamos de elementos textuais temos os elementos pré-textuais, elementos que compõem seu relatório e vem antes do relato em si de sua pesquisa. Estes elementos podem variar de acordo com a finalidade do relatório: Folha de rosto Verso da folha de rosto Errata Folha de aprovação (caso seja um documento para banca de mestrado, doutorado etc.) Dedicatória Agradecimentos Epígrafe Resumo Abstract (resumo, em inglês) Listas (pode ser de tabelas, figuras etc.) Sumário A formatação, exigência e conteúdo desses elementos dependerá das regras estabelecidas pelo seu destinatário final do relatório. Baixe algumas dissertações e teses e verifique a forma desses elementos em diferentes trabalhos de distintas universidades. A seguir, segue alguns bancos de teses e dissertações (há muitos outros) para você consultar: UNIVERSIDADE Santo Amaro. Repositório Institucional. Disponível em: <http://dspace.unisa.br/>. Acesso em: 31 ago. 2018. UNIVERSIDADE de São Paulo. Biblioteca Digital. Teses e Dissertações. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/>. Acesso em: 31 ago. 2018. 50 UNIVERSIDADE Federal do Pará. Biblioteca Digital de Teses e Dissertações. Disponível em: <http://repositorio.ufpa.br/jspui/handle/2011/2289>. Acesso em: 31 ago. 2018. UNIVERSIDADE Federal de Santa Catarina. Repositório Institucional. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/74645>. Acesso em: 31 ago. 2018. Resumo O resumo é uma peça muito importante no seu trabalho, pois nele haverá a descrição de tudo o que fez de maneira reduzida. Imagine resumir o trabalho de 3 anos (no caso de um doutorado) em 300 ou 500 palavras? Portanto, o resumo vai exigir seu poder de síntese. Uma dica é relatar todas as partes constituintes do seu trabalho. Comece falando resumidamente da problemática que estudou, após isso fale de seu objetivo, relate a metodologia brevemente e depois disso fale dos resultados alcançados e conclusões. Abaixo vamos analisar um resumo de uma dissertação de mestrado de 255 páginas e que foi resumido em 300 palavras: Primeiramente, o autor contextualiza o tema abordado: As remoções de favelas são cada vez mais frequentes no contexto brasileiro e mundial. o reassentamento de famílias atingidas por estes processos deve respeitar os preceitos de moradia adequada como um direito que venha agregar qualidade de vida e dignidade às famílias atingidas, pois do contrário podem intensificar vulnerabilidades (CAVALHEIRO, 2015, p. 7). Em seguida, apresenta o objetivo da pesquisa: A presente pesquisa analisa a adaptação e a satisfação dos moradores de um reassentamento, o conjunto Rubens Lara, localizado no bairro Jardim Casqueiro na cidade de Cubatão, resultado de um deslocamento involuntário de famílias moradoras de favelas (CAVALHEIRO, 2015, p. 7). Há também a informação da metodologia e a forma de análise dos dados: 51 O conjunto possui características distintas da produção de habitação social comumente praticada, como aspectos de localização, trabalho social e projeto. O método da pesquisa foi baseado em instrumentos que permitissem a visão dos diversos atores do processo, bem como a satisfação do usuário. Para análise dos dados quantitativos foi utilizada estatística descritiva, análise fatorial e a medida de incerteza (CAVALHEIRO, 2015, p. 7). E o mais importante, os resultados e conclusões alcançadas: Os resultados mostram que o fato de se tratar de uma remoção involuntária não é determinante para a satisfação do morador. Atributos positivos que ofereçam qualidade de vida trazem maior influência na satisfação, mesmo em uma situação de remoção involuntária. A localização do empreendimento foi apontada como um aspecto determinante da satisfação por conta da oferta de serviços públicos, equipamentos urbanos e oportunidades de trabalho. No entanto, questões como o arranjo em condomínio, manutenção e incremento de gastos podem colocar os ganhos do projeto em risco. Quanto à gestão condominial verificou-se que a manutenção tem importante papel nas questões condominiais, pois é influenciada tanto por aspectos de engenharia como administrativos, podendo assim, ser um componente de preocupação no futuro. A satisfação com a manutenção se mostrou como um elemento de influência para a satisfação com a gestão condominial. Por outro lado, a satisfação com o valor da taxa de condomínio está ligada à capacidade de pagamento dos moradores e não pela qualidade dos serviços em si. Foi observada inadimplência menor que as encontradas na bibliografia (CAVALHEIRO, 2015, p. 7). Abstract O abstract irá seguir as mesmas diretrizes do resumo e é traduzido para a língua inglesa. Nem todos os relatórios irão necessitar do abstract. Palavras-chave As palavras-chave são palavras ou termos relevantes que dizem respeito a sua pesquisa. Elas ficarão localizadas abaixo do resumo e também traduzidas para o inglês no abstract. 52 A partir do exemplo acima, poderíamos definir como palavras-chave: Gestão pós-ocupação; Habitação de interesse social; Habitação popular; Política habitacional; Reassentamento; Remoções; Trabalho social. 6.2.2 Introdução e justificativa É a parte inicial do elemento textual. Na Introdução você irá apresentar para o leitor o seu trabalho. Nela também tratamos da problemática que envolve o fenômeno estudado e seu contexto e delimitamos o tema de investigação trazendo suas características. É preciso demonstrar a importância de seu trabalho, justificando as motivações de se estudar o que você se propôs em seu objetivo. Neste item alguns pesquisadores inserem um panorama do que o leitor irá encontrar nos próximos capítulos, como se dividem e o seu conteúdo. 6.3 Objetivo e Metodologia 6.3.1 Objetivo É importante pensar que o objetivo de pesquisa é a peça-chave de qualquer investigação. O objetivo é onde você quer chegar com sua pesquisa, o que busca saber afinal. O objetivo se traduz na forma de uma pergunta, que escrevemos utilizando sempre um verbo. Um pesquisador poderia ter se perguntado, por exemplo: quais são os fatores que influenciam a evasão escolar no ensino médio? Se ele teve a oportunidade de realizar uma pesquisa para responder essa pergunta, certamente seu objetivo poderá ser escrito da seguinte maneira: o presente trabalho pretende analisar os fatores de evasão escolar no ensino médio. Veja que sempre há um verbo que centraliza o objetivo, neste caso, o verbo analisar, mas muitos outros podem ser utilizados, como avaliar, discutir, elaborar etc.
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