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FIBROSES, ADERÊNCIAS E CICATRIZES PROFESSOR PEDRO OLIVEIRA INTRODUÇÃO O mecanismo de reparo tecidual após uma lesão está entre um dos mais complexos processos que ocorrem em organismos multicelulares. Em mamíferos, a resposta típica à lesão é a formação de uma cicatriz fibrótica, que reestabelece a integridade dos tecidos. Anualmente, no mundo, são realizados cerca de 230 milhões de procedimentos cirúrgicos em humanos adultos, que cicatrizam com formação de tecidos específicos que podem afetar a função e a aparência INTRODUÇÃO Após uma lesão na pele, as condições mecanofisiológicas são drasticamente alteradas pelo processo de reparo e influenciarão consideravelmente a evolução da cicatrização e a formação dos tecidos cicatriciais. O resultado do processo de reparo tecidual poderá ser uma cicatriz fina e discreta, quase imperceptível, ou uma exuberante fibrose, a qual pode comprometer a função da pele e das estruturas adjacentes/associadas (músculos, fáscias, nervos e articulações). PROCESSO DO REPARO TECIDUAL O processo de reparo tecidual é um fenômeno dinâmico, interativo e muito complexo que promove a restauração da função do tecido lesado. No processo de reparo tecidual, participam os distintos tipos celulares, a interação de diferentes proteínas, a migração, a proliferação e a diferenciação de várias células, exigindo uma maior interação entre elas e a matriz extracelular. PROCESSO DO REPARO TECIDUAL O resultado final do processo de reparo tecidual vai depender não apenas da extensão e do tipo do trauma, mas também da capacidade das células sobreviventes em reconstruir a área danificada. A cicatrização ocorre em estágios bem caracterizados e é classicamente dividida em três fases complementares, a saber: fase inflamatória; fase de desenvolvimento do tecido de granulação; remodelagem da MEC (formação da cicatriz). FASE INFLAMATÓRIA Após uma lesão, ocorre a fase inflamatória, na qual o rompimento de vasos sanguíneos causa um extravasamento dos componentes sanguíneos, formando um coágulo que serve temporariamente como uma proteção para a lesão. Para a formação do coágulo, as plaquetas são ativadas, liberando algumas substâncias quimiotáticas (atrativas) para leucócitos (células de defesa) e outras células (fibroblastos e células endoteliais). Durante essa etapa, acontece a formação de uma MEC provisória, formada principalmente por fibrina e fibronectina, que permite a migração e proliferação das células (células inflamatórias e endoteliais, fibroblastos, por exemplo) para o local da lesão. FASE DE DESENVOLVIMENTO DO TECIDO DE GRANULAÇÃO Com a migração dos fibroblastos e de outras células para o local da lesão e a formação de novos vasos a partir de outros preexistentes (angiogênese), ocorre a fase de desenvolvimento do tecido de granulação, na qual se encontra uma alta celularidade, bem como várias proteínas da MEC. Nessa etapa, os fibroblastos estimulados proliferam, migram e passam a expressar α-actina de músculo liso, caracterizando-se como miofibroblastos, que posteriormente serão os responsáveis pela compactação do tecido de granulação e pela retração da lesão, entre outros fatores. REMODELAGEM A remodelagem começa com a retirada do ácido hialurônico e da fibronectina durante a formação do tecido de granulação. Posteriormente, ocorre um acúmulo de colágeno e outros componentes da MEC que implica na sua degradação, pela atuação de enzimas proteolíticas presentes na matriz, as metaloproteases (MMPs), o decréscimo da celularidade e a constituição de uma cicatriz. IMPORTANTE • QUANDO O PROCESSO DE REPARO TECIDUAL CUTÂNEO NÃO ACONTECE DE MANEIRA NORMAL, OCORRE A DEPOSIÇÃO EXCESSIVA DOS COMPONENTES DO TECIDO DE GRANULAÇÃO (PRINCIPALMENTE DAS FIBRAS COLÁGENAS), O AUMENTO DA ANGIOGÊNESE E DA CELULARIDADE, O QUE LEVA AO DESENVOLVIMENTO DAS CICATRIZES HIPERTRÓFICAS E QUELOIDES. IMPORTÂNCIA DA MATRIZ EXTRACELULAR Entre as funções da MEC, destaca-se servir como substrato adesivo, estrutural, atração, armazenamento e condução de fatores de crescimento aos seus receptores, percepção e tradução de sinais mecânicos. Os acúmulos de moléculas da MEC e o aumento da rigidez e da densidade são características comuns de fibroses. Esse acúmulo altera as propriedades mecânicas da matriz e pode impactar na funcionalidade do órgão acometido. As células sentem e respondem à rigidez da MEC, que regula crescimento celular, migração e diferenciação. Tal rigidez também afeta outros parâmetros associados à fibrose, incluindo deposição e organização das moléculas da própria MEC; assim, a função da MEC está diretamente ligada à sua estrutura. TERAPIAS A fotobiomodulação é o termo correto para designar a terapia que utiliza fontes de luz não ionizante, incluindo lêiser de baixa intensidade e diodo emissor de luz, com diferentes comprimentos de onda, nos espectros visível e invisível. Os receptores endógenos de luz (cromóforos) absorvem os fótons promovendo efeitos fotofísicos e fotoquímicos, desencadeando efeitos terapêuticos benéficos, incluindo, mas não limitando, alívio da dor ou inflamação, imunomodulação, promoção da cicatrização de feridas e regeneração tecidual. Os efeitos biológicos são dose-dependentes, em que: doses muito baixas não produzem efeito; doses muito altas causam efeito inibitório; doses intermediárias (dentro da janela terapêutica) promovem efeitos celulares benéficos. TERAPIAS Para possibilitar a cicatrização de feridas, a modulação do processo inflamatório e a regeneração tecidual, doses dentro da janela terapêutica são recomendadas. Porém, quando o intuito é inibir processos celulares, como cicatrizes hipertróficas, parece que a utilização de altas doses pode produzir efeito inibitório nos fibroblastos. PROPOSTA TERAPÊUTICA ESPECÍFICA PARA FIBROSES E ADERÊNCIAS PELA TERAPIA MANUAL ORTOPÉDICA As lesões do tecido conjuntivo são reparadas por ação de células inflamatórias com estímulo e formação de fibroblastos, que se diferenciam em miofibroblastos para sintetizar colágeno e fechar as lesões. A atenção do fisioterapeuta é imprescindível nesse processo, uma vez que o tecido cicatricial depositado excessivamente durante o reparo tecidual é limitante e prejudica as funções teciduais. As forças mecânicas podem influenciar a deposição das fibras colágenas, bem como a organização da MEC. É preciso conhecer o efeito fisiológico de cada tipo de força nos tecidos, assim como a duração, frequência e amplitude de aplicação dessas forças, para que seja possível lançar mão de um tratamento rápido e efetivo. CONTRATURAS TECIDUAIS O processo de cicatrização com frequência leva à formação de contraturas teciduais que poderão limitar a função do indivíduo. A prevenção delas deve ser o objetivo primário do tratamento. A aplicação de movimento passivo respeitando os princípios mecanofisiológicos e neurofisiológicos dos tecidos permite prevenção e tratamento específico de contraturas teciduais. As aderências podem ser definidas como encurtamentos ou retrações de pele, fáscia, músculo ou cápsula articular que restringem a mobilidade ou a flexibilidade normal dessa estrutura. CONCLUSÃO A terapia manual é útil para controlar o ambiente mecanobiológico dos tecidos. Para propor estratégias terapêuticas efetivas no tratamento dos processos cicatriciais, deve-se respeitar os princípios da fisiologia do reparo tecidual, já demonstrados em inúmeras publicações sobre o tema, em especial a respeito dos fenômenos mecânicos e neurofisiológicos que envolvem todo o processo. A aplicação clínica desses conceitos é proposta pela abordagem conhecida como LTF, já descrita em alguns capítulos de livro, teve sua base experimental já publicada e está em fase de pesquisa clínica. O uso adequado de forças mecânicas pode melhorar a qualidade da cicatriz dos tecidos conjuntivos, sendo, portanto, uma excelenteestratégia terapêutica tanto para a prevenção quanto para o tratamento de fibroses, de aderências e de cicatrizes. CASO CLÍNICO PACIENTE DO SEXO MASCULINO, SUBMETIDO À RECONSTRUÇÃO DE LIGAMENTO CRUZADO ANTERIOR (LCA) EM JOELHO DIREITO HÁ 9 ANOS. FEZ TODO O TRATAMENTO PROPOSTO NA ÉPOCA E EVOLUIU COM FIBROSE E LIMITAÇÃO DE MOVIMENTO, PORÉM SEM DOR. DESDE A CIRURGIA NÃO PODE FICAR POR MAIS DE 10 MINUTOS NA POSIÇÃO SENTADA COM A PERNA DOBRADA, PRECISANDO SEMPRE DE APOIO PARA MANTÊ-LA ESTICADA. APÓS QUASE 10 ANOS DE CIRURGIA, CAIU DE JOELHOS E VOLTOU A TER DOR, EDEMA E MUITA LIMITAÇÃO. PROCUROU O ORTOPEDISTA, QUE CONSTATOU SER SOMENTE DANO DA PANCADA E PRESENÇA DE FIBROSE. O PACIENTE SEGUE RELATANDO LIMITAÇÃO E DOR; POR ISSO, FOI ENCAMINHADO À FISIOTERAPIA. • A PARTIR DO EXPOSTO NO CASO CLÍNICO, QUAL É A RAZÃO DA LIMITAÇÃO DO PACIENTE? • A FIBROSE FORMADA NO PACIENTE DO CASO CLÍNICO TEM TRATAMENTO? • REDUZIR A FIBROSE PODE MELHORAR A CONDIÇÃO APRESENTADA PELO PACIENTE DO CASO CLÍNICO? OBRIGADO!
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