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GESTÃO EMPREENDEDORA E INOVAÇÃO Marcia Maria da Graça Costa , 2 SUMÁRIO 1 EMPREENDEDORISMO E O EMPREENDEDOR .......................................... 3 2 O PROCESSO EMPREENDEDOR.............................................................. 25 3 INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO ..................................................... 49 4 INOVAÇÃO E TECNOLOGIA .................................................................... 68 5 EMPREENDEDORISMO SUSTENTÁVEL ................................................... 91 6 EMPREENDEDORISMO CORPORATIVO ................................................ 111 , 3 1 EMPREENDEDORISMO E O EMPREENDEDOR O Brasil é considerado um dos países mais empreendedores do mundo. Em 2017, 36,4% dos brasileiros com idade entre 18 e 64 anos conduziam atividades empreendedoras. Isso significa que 36 em cada 100 brasileiros estavam envolvidos em um negócio próprio. É um contingente de quase 50 milhões de brasileiros empreendendo ou realizando ações para criação de um negócio futuro (GEM, 2018). O que torna o nosso país tão favorável às atividades empreendedoras? E qual é o resultado do esforço desses milhões de empreendedores? Para responder essas questões, precisamos compreender a história do empreendedorismo, como ele teve início no Brasil, e o seu cenário atual. 1.1 Análise histórica do empreendedorismo O empreendedorismo, como um conceito, existe desde que surgiu a necessidade de realização de grandes projetos, tais como a construção das pirâmides do Egito, os jardins suspensos da Babilônia, o Farol de Alexandria, a cidade Maia de Chichen Itzá e outras obras grandiosas que estão distribuídas pelo mundo afora. Até meados da Idade Média, os empreendedores ainda não eram conhecidos por assumir riscos, mas exerciam o papel de gerenciar grandes projetos. O marco inicial teria sido a assinatura de um contrato entre o explorador Marco Polo (1254-1324)1 e um comerciante de tecidos e especiarias para vender seus produtos na chamada Rota do Oriente2. Dessa forma, ele assumiu grandes riscos, pois a carga poderia ser roubada e ele teria que 1 Marco Polo foi um mercador, embaixador e explorador veneziano cujas aventuras estão registradas em As Viagens de Marco Polo, um livro que descreve para os europeus as maravilhas da China, de sua capital Pequim e de outras cidades e países da Ásia. (WIKIPEDIA, s.d.). 2 A Rota do Oriente, também conhecida como rotas das especiarias, foram percursos comerciais gerados pelo comércio de especiarias provenientes da Ásia, interligando diversos povos ao longo do tempo, da Europa à Ásia. (WIKIPEDIA, s.d.). , 4 reembolsar os comerciantes. Mas, as expressões empreendedorismo e empreendedor ainda não eram utilizadas (CHIAVENATO, 2012; FABRETE, 2019). Segundo Chiavenato e Fabrete, derivada da palavra francesa entrepreneuer, que signiic “indivídu qu ssum riscs”, plvr mprnddr cmçu sr utilizada no século XVIII pelo economista Richard Cantillon (1680-1734). A palavra foi utilizada para diferenciar o capitalista do empreendedor. Segundo Cantillon, o capitalista apenas investia recursos financeiros em um negócio, correndo apenas riscos financeiros. Por outro lado, era o empreendedor que assumia papel ativo, correndo riscos físicos e emocionais, viajando pelo mundo para realizar o comércio. O uso da palavra evoluiu com outro economista, dessa vez Jean-Baptiste Say (1767- 1832), que passa a associar o empreendedor ao aumento da produtividade. Seria alguém que transfere recursos econômicos entre atividades com baixa e elevada produtividade, tornando-se um elemento essencial no sistema econômico. Por fim, mais um economista se envolve na definição do empreendedor. Dessa vez, Carl Menger (1840-1921), que definiu o empreendedor como alguém que antecipa ações e realiza previsões sobre as necessidades futuras do negócio. O papel e o perfil do empreendedor continuaram a ser estudados e definidos pelos economistas. Já no século XX, Ludwig von Mises (18881-1973) afirmava que o empreendedor é alguém que toma decisões; enquanto Friedrich von Hayek (1899-1992) ampliou o conceito, xtrplnd tr “ssumir riscs” pr lguém qu idntiic prtunidds d mercado (CHIAVENATO, 2012; FABRETE, 2019). Finalmente, nos anos 1950, Joseph Schumpeter (1883-1950) introduz a ideia de “dstruiçã critiv” cmprtmnt d mprndr. Pr cnmist, o empreendedor é uma pessoa capaz de converter uma ideia em uma inovação bem- sucedida, com a substituição de produtos. Dessa forma, surge a associação do empreendedor com criação de novas empresas ou revitalização de empresas já maduras, sempre com base no conceito de novos negócios em resposta à identificação de oportunidades. É por isso que, por meio da destruição criativa, o empreendedor se torna responsável pelo dinamismo do mercado, contribuindo para o crescimento econômico. , 5 O tema empreendedor e empreendedorismo continuou a ser estudado por diversos pesquisadores, de várias áreas, que contribuíram muito para a compreensão do assunto. Confira uma síntese desses estudos no quadro a seguir. Quadro 1.1 - Contribuições para o entendimento do empreendedorismo Fonte: Chiavenato (2012, p. 7-8). Esses estudos contribuíram para compreender melhor o papel do empreendedor na economia, e na sociedade como um todo. Chiavenato (2012) sintetiza o comportamento empreendedor como aquele em que alguém coloca em risco a sua segurança pessoal e profissional para assumir riscos, investindo tempo e dinheiro para colocar uma ideia em prática. Em relação às contribuições do empreendedorismo para a sociedade, Maximiano (2012) e Dornelas (2018) destacam que seu fortalecimento representa um papel significativo e importante para o desenvolvimento econômico e social, em especial, pela sua capacidade de gerar empregos e renda para a população. Nesse sentido, a ANO AUTOR CONTRIBUIÇÃO 1961 McClelland Identifica tres necessidades do empreendedor: poder, flição e sucesso (sentir que se é reconhecido). Afirma que: “o empreendedormanifesta necessidade de sucesso” 1966 Rotter Idntiic lcus d cntrl intrn xtrn: “ mprnddr mnist lcus d cntrl intrn” 1970 Drucker O comportamento do empreendedor reflete uma spécie de desejo de colocar sua carreira e sua sgurnça financeira na linha de frente e correr riscos em nome de uma ideia, investindo muito tempo e capital em algo incerto 1973 Kirsner “Emprsrio é lguém que identifica e explora dsquilíbrios existentes na economia e st atento ao aparecimento de oportunidades” 1982 Casson “O empreendedor toma dcisoes criteriosas e coordena recursos escassos” 1985 Sexton e Bowman “O empreendedor consegue ter uma grande tlrancia ambiguidade” 1986 Bandura “O empreendedor procura a utfccia: controle da ção humana trvés de cnvicçoes que cada indivíduo tem para prosseguir autonomamente na procura de influenciar a sua envolvente para produzir os resultados desejados 2002 William Baumol “O empreendedor é amquina de invção do livre mercado” , 6 ação empreendedora tem impacto relevante no desenvolvimento de um país, em virtude do seu potencial de geração de riqueza, inovação e aumento da produtividade. Maximiano (2012) sintetiza a importância do empreendedorismo para a sociedade em três variáveis: inovação, padrão e qualidade de vida. A Inovação é um motor econômico relevante, e os estudos comprovam que os pequenos negócios costumam ser mais eficientes que as grandes empresas por apresentarem maior flexibilidade para gerar inovações. Os fatos históricos demonstram que a maioria das inovações importantes e impactantes da atualidade foram criadas no âmbito de pequenas empresas. Quanto ao padrão e à qualidade de vida, a atividade empreendedora afeta vários aspectos sociais de maneira significativa. Considerando o Padrão de Vida como a quantidade de produtos que podem ser comprados com a renda disponível, os empreendedores afetam esse padrãoao permitir uma inserção social que outras atividades não permitiriam. A Qualidade de Vida é o bem-estar geral da sociedade, proporcionado por fatores que contribuem para o conforto e a satisfação das pessoas. O incremento das atividades empreendedoras de uma sociedade, com o aumento do padrão de vida, reflete de forma direta no seu bem-estar. Não é por acaso que as principais economias mundiais, reconhecidas pela melhor qualidade de vida, são as mesmas que estimulam o espírito empreendedor. 1.2 Conceito e caracterização do empreendedorismo As diversas inovações e invenções surgidas ao longo do século XX têm transformado a vida das pessoas. Novos olhares sobre elementos já existentes, e a criação de elementos verdadeiramente novos, revolucionaram o estilo de vida da sociedade. Sempre que essas inovações são estudadas pelos pesquisadores, percebe-se que a sua base é o comportamento empreendedor. Veja, na figura a seguir, algumas dessas contribuições do empreendedorismo ao longo do século XX (DORNELAS, 2018). , 7 Figura 1.1 – Contribuições do empreendedorismo: ideias e invenções do século XX Fonte: Dornelas (2018, p. 2). É pr iss qu Jry Timmns irmu qu “ mprnddrism é um rvluçã silenciosa, que será para o século 21 mais do que a revolução industrial foi para o sécul 20” (TIMMONS, 1990 apud DORNELAS, 2018, p.1). Para compreender a forma como o empreendedorismo vem revolucionando o mundo, o empreender se tornou objeto de estudo em diversas áreas, no entanto, nota-se um aumento da preocupação em entender o empreendedorismo e como ele pode ser ensinado e aplicado. Ainda que os estudos já aconteçam há séculos, o avanço tecnológico, e seus impactos nos meios de produção, têm exigido um número maior de empreendedores. Assim, a formalização dos conhecimentos sobre o empreendedorismo, que permita sua aplicação nos diversos níveis de educação escolar, tornou-se fator crítico de sucesso (DORNELAS, 2018). E como é possível conceituar empreendedorismo? A própria origem da palavra já prmit lgum cncituçã, um vz qu trm “entrepreneuer” idntiic lguém , 8 que corre riscos para iniciar algo novo. A partir desse conceito inicial, Dornelas (2018, p. 30) amplia o conceito para a definição que utilizaremos ao longo da disciplina, qund irm “qu prcss mprnddr nvlv tds s unços, tividds e ações associadas à criação de novos negócios, não se limitando à abertura de mprss”. Ind lém, dsdbrnd cncit inicil, sgund utr, Em primeiro lugar, o empreendedorismo envolve o processo de criação de algo novo, de valor. Em segundo, requer a devoção, o comprometimento de tempo e o esforço necessário para fazer a empresa crescer. Em terceiro, que riscos calculados sejam assumidos, e decisões críticas, tomadas; é preciso ousadia e ânimo, apesar de falhas e erros. (DORNELAS, 2018, p. 30). Por essa conceituação, é possível perceber que o empreendedorismo não é uma característica de personalidade, ou seja, não se nasce empreendedor, como era o pensamento vigente há alguns anos. Por se tratar de um processo que envolve metodologias e técnicas, o aprendizado não só é possível, como tem sido praticado em diversas instituições de ensino, inclusive aqui no Brasil. Até mesmo porque o sucesso de um empreendimento não depende apenas da vontade do empreendedor, mas também de diversos fatores internos e externos (que devem ser considerados na análise do negócio) e da maneira como o negócio é administrado. Tudo isso requer o desenvolvimento de competências que envolvem os conhecimentos originados de diversas áreas, tais como contabilidade, administração, finanças, dentre outras (DORNELAS, 2018; FABRETE, 2019). Dornelas (2018) alerta para o fato de que o ensino de empreendedorismo pode sofrer alterações em virtude da instituição no qual é aplicado. Por isso, ele recomenda que qualquer curso deve conter os itens a seguir. , 9 Figura 1.2 – Conteúdos para cursos de empreendedorismo Fonte: Dornelas (2018, p. 31). É claro que o ensino do empreendedorismo não garante que todos se tornarão mitos, tais como Steve Jobs e Bill Gates, ou Luiza Trajano, Olavo Setúbal, Samuel Klein e Abílio Diniz (para citar alguns brasileiros). Mas, certamente, proporcionará uma preparação melhor para os empresários, resultando em empresas mais bem preparadas para gerar empregos, renda e riqueza (DORNELAS, 2018). Esses aspectos são relevantes tendo em vista que a compreensão do empreendedorismo depende do entendimento do seu ambiente. Conforme Salim e Silva (2010), os principais componentes desse ambiente estão descritos a seguir. • Inovação: é a essência do ambiente, composta por invenções e novidades tecnológicas; • Comunicação: as ferramentas de comunicação virtual tornam os processos de comunicação mais simples, ágeis e baratos; , 10 • Informação: o avanço das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) permitem o acesso a um grande volume de informações, sobre diversas áreas, muitas delas em tempo real; • Distribuição: o crescimento do comércio internacional traz novos desafios logísticos com a distribuição de clientes, fornecedores e da produção em vários países; • Tecnologia: o aumento contínuo das novas tecnologias, em uma velocidade muito maior que em um passado recente, representa novas oportunidades, mas também novos desafios; • Globalização: a velocidade com a qual os negócios tem se espalhado pelo mundo, a conexão entre pessoas e empresas de vários países, traz novas maneiras de avaliar os negócios existente nesse cenário; • Novos conceitos: a evolução da sociedade tem refletido na gestão dos negócios, temas como responsabilidade social e ambiental têm sido cobrados das empresas por consumidores; além disso, o comércio virtual tem se expandido para diversos produtos e serviços, exigindo respostas rápidas e adequadas. 1.3 O empreendedorismo no Brasil De um ponto de vista conceitual, ou seja, a partir do conceito do empreendedorismo como uma forma de assumir riscos para colocar em prática novas ideias, essa atividade pode ser identificada no Brasil a partir do século XVII. Nessa época, quando o país ainda era uma colônia, o governo português realizou a doação de grandes extensões de terra para os cidadãos. Esses novos proprietários assumiram, então, o risco de navegar por meses até o novo continente e desenvolver a propriedade recebida (SALIM; SILVA, 2010). , 11 No século XIX, com o Brasil na condição de império, destaca-se a atuação pioneira de Irineu Evangelista de Souza (1813-1889), o Visconde de Mauá. Ele foi empresário, industrial e banqueiro e sua atuação sempre se direcionou ao desenvolvimento do país. São inúmeros os projetos que servem de exemplo a essa ação empreendedora: as companhias de navegação a vapor no Rio Grande do Sul e no Amazonas; a primeira ferrovia brasileira ligando Petrópolis ao Rio de Janeiro; a companhia de gás para a iluminação pública do Rio de Janeiro e primeira rodovia pavimentada do país, interligando as cidades de Petrópolis (RJ) à Juiz de Fora (MG) (DORNELAS, 2018; SALIM; SILVA, 2010). A longo do século XX, diversos empreendedores se tornaram pioneiros nas suas áreas de atuação, deixando um extenso legado social e para a economia do país. Confira alguns deles no quadro a seguir. , 12 Quadro 1.2 – Pioneiros do empreendedorismo no Brasil PIONEIRO LEGADO Francisco Matarazzo • Indústrias Matarazzo (Início da industrialização do país). Nami Jafet • Comércio no interior de São Paulo; • Clube Monte Líbano; • Hospital Sírio e Libanês. Ramos de Azevedo • Reurbanização de São Paulo; • Teatro Municipal; • Prédio da Faculdade de Medicina da USP. Júlio Mesquita • Jornal O Estado de S. Paulo. Leon Feffer • Suzano Papel e Celulose; • Início da produção de papel e celulose; • Clube A Hebraica; • Hospital Albert Einstein. Antônio Ermírio de Moraes • Grupo Votorantim. Jorge Gerdau Johannpeter • Setor siderúrgico; • IndústriasGerdau. Fonte: adaptado de Salim e Silva (2010, p. 41-47). , 13 Esses pioneiros desenvolveram suas atividades empreendedoras quando o tema empreendedorismo ainda não era discutido no país de forma consistente. A economia fechada e o cenário político não estimulavam a ação de empreendedores, muito menos a abertura de pequenas empresas. A grande maioria dos pequenos negócios funcionava de maneira informal. Nos anos 1990, com a abertura da economia promovida pelo Presidente Fernando Collor (1949-) e a criação do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e da Sociedade Brasileira para Exportação de Software (Softex). O Sebrae é reconhecido como o principal órgão de apoio ao pequeno empresário, fornecendo suporte para a formação de empreendedores, apoio para obter soluções para as dificuldades e problemas dos negócios e consultoria especializada. A Sofitex contribuiu para a expansão do segmento de softwares, capacitando os empresários de informática em gestão e tecnologia, e apoiando a nascente indústria de tecnologia nacional. Além desses exemplos, o programa Brasil Empreendedor, criado pelo Governo Federal em 1999, proporcionou capacitação a mais de seis milhões de empreendedores em todo o país, com investimento de R$ 8 bilhões (DORNELAS, 2018; FABRETE, 2019). A partir do ano 2000, o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), instituição destinada à pesquisa sobre o empreendedorismo no mundo, em parceria com o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), começou a realizar pesquisas sobre o empreendedorismo no Brasil. A pesquisa é feita com um grande número de empreendedores, que fornecem os dados e informações para consolidar o Relatório GEM de Empreendedorismo no Brasil (GEM, 2018). É desse relatório, da edição de 2017, as informações a seguir. Vamos começar com o volume total de empreendimentos captado pela pesquisa em 2017, que você observa na tabela abaixo. , 14 Tabela 1.1 – Empreendimentos por classificação – Brasil 2017 Fonte: GEM (208, p. 8). A classificação dos empreendimentos é feita com os seguintes parâmetros: • Nascentes: negócio novo que ainda não pagou salários, pró-labores ou outra forma de remuneração aos proprietários por mais de três meses; • Novos: empreendimento que já remunerou de alguma forma os seus proprietários em período superior a três meses e inferior a 3,5 anos; • Estabelecidos: negócios que já remuneraram os proprietários de alguma forma (salário, pró-labore ou outra) em período superior a 3,5 anos. A evolução do número de empreendedores, no período de 2002 a 2017, mostra que houve crescimento de 21% para 36%, com o maior percentual em 2015. A maior participação, durante a maior parte do período, é de negócios iniciais. Em 2017, esses negócios representaram 20%, enquanto os estabelecidos registraram 17%. , 15 Figura 1.3 – Evolução dos tipos de empreendedores – Brasil 2002-2017 Fonte: GEM (2018, p. 8). Para compreender essa expansão contínua da atividade empreendedora, os motivos pelos quais as pessoas optaram pela abertura de um negócio também são objeto da pesquisa. Nesse sentido, o relatório realiza a classificação de duas formas: empreendedorismo por oportunidade e por necessidade. • Oportunidade: iniciaram o negócio pela percepção de uma oportunidade no ambiente; • Necessidade: o negócio foi iniciado pela falta de opções para gerar ocupação e renda. Figura 1.4 –Motivos para empreender – Brasil 2002-2017 Fonte: GEM (2018, p. 10). , 16 De acordo com as análises do instituto, a participação desses tipos de empreendedores tem relação com a situação econômica do país. De maneira geral, quando a economia está estável e oferece boas chances de empregabilidade, o empreendedorismo por necessidade tende a cair, pelas oportunidades de obter emprego e renda. Nesse cenário, a maior participação é a de empreendedorismo por oportunidade. Entre 2008 e 2014, percebe-se o grande crescimento de empreendedorismo por oportunidade, confirmando a análise do instituto, pois nesse período houve grande crescimento econômico no Brasil. A partir de 2015, com a desaceleração da economia, a linhas começam a se encontrar, o que significa aumento do empreendedorismo por necessidade e queda das oportunidades de novos negócios. Se você quiser explorar mais o perfil do empreendedorismo no Brasil, acesse o relatório completo através do link que está disponível nas referências ao final deste texto. 1.4 O comportamento empreendedor Muitas pesquisas foram realizadas, ao longo do tempo, para identificar as características que definem o comportamento empreendedor, uma vez que os resultados obtidos estão relacionados com seu perfil comportamental. Nesse sentido, Maximiano (2012), sintetiza os principais traços do comportamento empreendedor na figura a seguir. , 17 Figura 1.5 – Traços do comportamento empreendedor Fonte: Maximiano (2012, p. 17). Vamos explorar um pouco mais esses traços, a partir de Maximiano (2012). Criatividade: é um dos traços principais do empreendedor, que está sempre envolvido na busca de soluções inovadoras. Disposição para assumir riscos: é o traço básico da personalidade citado pelos pesquisadores, desde a origem dos estudos sobre empreendedorismo. Significa a capacidade de lidar com as incertezas associadas a um novo negócio. Capacidade de implementação: além do seu potencial de gerar inovações, o empreendedor se destaca por levar as ideias até a sua consecução, ou seja, finaliza o que imagina. Senso de independência: ter forte senso de independência significa que os empreendedores não dependem do suporte ou da opinião de outras pessoas. Eles confiam na própria capacidade para realizar o que muitos podem considerar irrealizável, têm autonomia e trabalham para si mesmos. , 18 Perseverança: criar um negócio implica em investir e fazer grandes esforços para superar os obstáculos. Por isso, ter perseverança significa não desistir e investir tempo e energia para obter a realização. Otimismo: o empreendedor consegue formar uma visão de futuro na qual não considera a possibilidade de fracasso. E se fracassar, compreende o fato como uma chance de aprender e ter sucesso na próxima tentativa. Chiavenato (2012) também apresenta uma síntese do conjunto de características que integram o espírito empreendedor, como poder ser observado na figura a seguir. Figura 1.6 – As três características básicas do empreendedor Fonte: Chiavenato (2012, p. 14). Com base no autor, e em Fabrete (2019), iremos explorar essas características a seguir. Necessidade de realização Os indivíduos possuem necessidade de realização em níveis diferentes. Aqueles que a tem em nível mais elevado costumam ser mais competitivos, buscam um alto padrão de excelência e realizam as próprias tarefas. Essa alta necessidade de realização caracteriza os empreendedores. , 19 Disposição para assumir riscos Empreendedores, como já comentado, tem tendência a assumir diversos tipos de riscos. Muitos abandonam posições estáveis no mercado de trabalho para explorar oportunidades identificadas, nas quais realizam investimentos. No entanto, é importante destacar que eles assumem riscos calculados, ou seja, aqueles nos quais podem exercer certo domínio. Autoconfiança O indivíduo empreendedor é seguro em relação aos seus objetivos, bem como de sua capacidade para enfrentar e superar os obstáculos e desafios. Acredita em suas habilidades pessoais, e também no fato de que o sucesso depende do seu esforço. 1.5 Características do empreendedor de sucesso Os estudos realizados sobre a atuação de inúmeros empreendedores de sucesso revelam que eles desenvolvem características que os tornam diferenciados em relação aos demais. Para Dornelas (2018), são as características a seguir que devem ser buscadas por empreendedores para alcançar o sucesso. São visionários Conseguem estabelecer uma visão de como será o futuro de seu negócio e têm a habilidade de implementar seus sonhos., 20 Sabem tomar decisões Têm capacidade para tomar as decisões corretas na hora certa, especialmente em situações de adversidade, o que é um fator-chave para seu sucesso. Também conseguem colocar em prática suas ações rapidamente. São indivíduos que fazem a diferença Isso acontece porque eles, de acordo com Dornelas (2018, p. 24), “trnsrmm lg de difícil definição, uma ideia abstrata, em algo concreto, que funciona, transformando qu é pssívl m rlidd.” Dss rm, pd-se afirmar que eles fazem a diferença por transformar sonhos em realidades. Sabem explorar ao máximo as oportunidades Perceber e explorar oportunidades está na essência do empreendedorismo. E o empreendedor de sucesso consegue identificar boas ideias aonde ninguém mais vê, ou não percebem o seu potencial. É por isso que são considerados excelentes nas ações de identificar e explorar oportunidades. São determinados e dinâmicos Seu dinamismo supera as adversidades e obstáculos, especialmente pela determinação e pelo comprometimento aplicados na implementação das suas ações. É por esse dinamismo que costumam não se conformar com a rotina. São dedicados Dedicam-se integralmente ao seu negócio, com muita energia e sem restrição de tempo, o que muitas vezes cria problemas de relacionamento com amigos e família, podendo até mesmo causar-lhes problemas de saúde. Costumam ser incansáveis e loucos pelo trabalho. , 21 São otimistas e apaixonados pelo que fazem São otimistas, pois não consideram o fracasso, só enxergando o sucesso. E fazem isto de maneira apaixonada, pois adoram o que fazem. É dessa forma que obtém a energia que os mantem animados e autodeterminados. São independentes e constroem o próprio destino Não querem ficar presos ao modelo de emprego tradicional, mas, ser seu próprio patrão e assim determinar por si próprio seu caminho. Procuram a independência a partir da criação de algo novo, que também gere empregos. Ficam ricos Empreendedores de sucesso não têm como meta central ficarem ricos. Eles compreendem que o dinheiro é consequência de um bom trabalho e do sucesso dos negócios. São líderes e formadores de equipes O empreendedor de sucesso sabe que não pode fazer tudo sozinho e, portanto, depende de outros para chegar ao sucesso. Por isso, estudam e exercitam a liderança para manter seus colaboradores motivados e valorizados, obtendo, em contrapartida, forte comprometimento e respeito de todos. São bem relacionados (networking) Valorizam sua rede de contatos externos à empresa, não só com clientes e fornecedores, mas com todos que podem influenciar seus resultados, tais como entidades de classe e autoridades. , 22 São organizados Sabem como otimizar a alocação dos recursos, utilizando instalações, máquinas e equipamentos, bem como capital humano e recursos financeiros, de maneira racional e centrada na produção de resultados para o negócio. Planejam, Planejam, Planejam Para ter sucesso, esses empreendedores investem no planejamento detalhado do seu negócio. Todo o processo, que começa com um esboço do plano de negócios, até sua demonstração a investidores, o que inclui o desenvolvimento de estratégias de marketing para o negócio e outros aspectos relevantes. E esse planejamento sempre considera a sua visão de negócio. Possuem conhecimento Eles entendem que o sucesso nos negócios depende do conhecimento obtido em diversas fontes, e que deve ser continuamente atualizado. Assim, se mantêm atualizados para ter domínio sobre a dinâmica do seu negócio e do ramo de atividade. Exploram as diversas fontes de conhecimento, tais como a experiência prática, cursos especializados, publicações especializadas e análise de negócios semelhantes. Assumem riscos calculados Capacidade para assumir riscos é a característica mais conhecida dos empreendedores. No entanto, quando estudamos os empreendedores de sucesso, percebe-se que vão além de assumir riscos calculados, pois sabem gerenciar o risco e analisar o potencial verdadeiro de obter sucesso. Como entendem que riscos e desafios estão relacionados, consideram a jornada empreendedora mais recompensadora quando assumem desafios maiores. , 23 Criam valor para a sociedade A própria dinâmica de negócios e o sucesso alcançado pelos empreendedores de sucesso resultam em valor para a sociedade. Os negócios envolvem a criatividade para solucionar problemas, ampliando o potencial de inovação. Essa combinação gera empregos e renda, com impactos positivos na economia como um todo. Perceba que a descrição das características dos empreendedores de sucesso inclui conhecimentos, habilidades e competências construídos ao longo do tempo. São resultado de um processo contínuo de aprendizado, e de alguns atributos pessoais, que tornam possível conquistar sucesso acima da média. Conclusão Nesta etapa, começamos os estudos sobre o empreendedorismo avaliando sua evolução histórica e o contexto que proporcionou sua origem e evolução. O fato de os estudos iniciais terem sido desenvolvidos por economistas já evidencia a relação direta entre empreendedorismo e atividade econômica. É por isso que o empreendedorismo exerce papel significativo para a inovação, padrão e qualidade de vida da população. Ao aprofundar a análise do empreendedorismo no Brasil, descobrimos que ele teve início, praticamente, desde a descoberta do país, mesmo que as ações desenvolvidas até o século XIX não tivessem esse nome. Vários pioneiros do empreendedorismo superaram imensas dificuldades e deixaram o seu legado nacional. O impulso à atividade empreendedora tem início nos anos 1990, com diversas ações, tais como a criação do Sebrae e da Softex. Atualmente, o Brasil é considerado um dos países mais empreendedores do mundo, cujo perfil de empreendedor apresenta variação ao longo do tempo, como mostraram as pesquisas realizadas pelo GEM. Para entender o fenômeno do empreendedorismo, estudamos a sua figura central, o empreendedor. Vimos suas características essenciais e diferenciadores, também pudemos entender que tudo isso pode ser aprendido, uma vez que existem , 24 metodologias e técnicas que contribuem para o desenvolvimento do comportamento empreendedor. E, por fim, observamos os resultados de estudos que avaliam os empreendedores de sucesso, que mostram as características daqueles que criaram negócios com resultados acima da média. Também nesse aspecto, é possível concluir que ser empreendedor é, acima de tudo, uma escolha que envolve muito estudo e planejamento. REFERÊNCIAS CHIAVENATO, I. Empreendedorismo: dando asas ao espírito empreendedor. 4 ed. Barueri, SP: Manole, 2012. DORNELAS, J. Empreendedorismo, transformando ideias em negócios. 7 ed. São Paulo: Empreende, 2018. FABRETE, T. C. L. Empreendedorismo. 2 ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2019. GEM - Global Entrepreneurship Monitor. Empreendedorismo no Brasil: Relatório GEM 2017. São Paulo: GEM, 2018. Disponível em: <https://bit.ly/2TMqMhN>. Acesso em: 20 jun. 2020. MAXIMIANO, A. C. A. Empreendedorismo. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. SALIM, C. S; SILVA, N. C. Introdução ao empreendedorismo: construindo uma atitude empreendedora. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. “Mrc Pl”. In: Wikipedia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Marco_Polo>. Acesso em: 24 jun. 2020. “Rt ds Espciris” In: Wikipedia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Rota_das_especiarias>. Acesso em: 24 jun. 2020. , 25 2 O PROCESSO EMPREENDEDOR Para a criação de um novo empreendimento, seja uma nova empresa ou um projeto em organização já existente, é necessária uma boa ideia, com potencial para se transformar em uma oportunidade de negócio. Mas as boas ideias não surgem assim tão facilmente, ao contrário do senso comum, elas são resultado de observação e direcionamento. A habilidade de utilizar a criatividade para gerar novas ideias tem sido o fator crítico de sucesso para a sobrevivência das organizações, pois é por elasque são geradas as inovações e é possível construir vantagens competitivas. Esses resultados somente poderão ser obtidos se as ideias forem analisadas e resultarem em oportunidades de negócio. Mas não basta só isso, é preciso analisar se esse negócio é viável, quais serão as fontes que financiarão a sua concretização e de que forma será feito o gerenciamento que garante a sua sobrevivência. Novos empreendimentos, portanto, dependem de um processo estruturado para que possam se tornar negócios de sucesso. É sobre esse processo que trataremos nesta etapa. 2.1 Fatores que influenciam o processo empreendedor O processo empreendedor tem início a partir de fatores originados por alguns acontecimentos, e que levam à decisão de avaliar a possibilidade de criação de um novo negócio. Dornelas (2018) demonstra os principais fatores na figura a seguir. , 26 Figura 2.1 - Fatores que influenciam o processo empreendedor Fonte: Dornelas (2018, p. 32). Observe que são diversos tipos de fatores que exercem influência sobre todo o processo de empreender. Desde o início do processo, os fatores pessoais tem participação relevante nas decisões do empreendedor. Características como assumir riscos dividem o espaço com fatos ocorrido na vida pessoal, como uma demissão ou a insatisfação com o emprego atual. Em paralelo, a vida social também influencia a tomada de decisão, fatores como o círculo familiar e a influência dos pais podem gerar a decisão de empreender. No entanto, os aspectos externos também participam do contexto, pois as oportunidades estão presentes no cenário externo, a partir da identificação de problemas ou necessidades de uma parcela da população, que poderiam ser solucionadas ou atendidas com o negócio. A existência de fatores facilitadores e dificultadores, como os recursos e o ambiente de negócios, consolidam o quadro no qual uma ideia pode resultar em uma oportunidade e se concretizar por meio de um negócio com chances de sucesso. , 27 Ao observar mais atentamente a figura 2.1, vemos que a inovação está no início do processo empreendedor, pois ela é a semente do processo. De maneira geral, quando falamos de inovação, nos referimos à inovação tecnológica e seu papel no desenvolvimento econômico mundial. Esse tipo de inovação implica a análise mais aprofundada de quatro fatores críticos, como apresentados por Dornelas (2018) na figura que segue. Figura 2.2 - Fatores críticos para o desenvolvimento econômico Fonte: Dornelas (2018, p. 32). A figura evidencia o talento do empreendedor como ponto de partida para gerar inovações. É a sua percepção, aliada à dedicação e trabalho comprometido que resultam nas inovações que proporcionam a diversidade e o desenvolvimento de novos negócios. No entanto, Dornelas (2018) alerta que o talento precisa ser alimentado por ideias, representadas na figura 2.2 pela tecnologia. A associação de boas ideias com o talento empreendedor dá início ao processo empreendedor. Para colocar o processo em movimento, a fonte de energia que funciona como combustível do negócio é o capital. Por fim, as competências (know-how), como ingredientes finais e que resultam do conhecimento e da habilidade, geram a sinergia necessária para combinar talento, tecnologia e capital que viabilizam o desenvolvimento do negócio. , 28 A partir dessas discussões iniciais, é possível compreender o processo de empreender, como proposto por Dornelas (2018), e as suas etapas, que estão consolidadas na figura a seguir. Figura 2.3 - O processo empreendedor Fonte: Dornelas (2018, p. 34). Cada uma das etapas desse processo será detalhada nas seções a seguir. 2.2 Identificar e avaliar oportunidades Existem muitas fontes de ideias que podem ser convertidas em oportunidades para novos negócios. Para Maximiano (2012), é possível agrupar as fontes de ideias em duas categorias: a criatividade do empreendedor e o mercado potencial. Dessa combinação, resultam algumas possibilidades, tais como as da figura a seguir. , 29 Figura 2.4 – Possibilidades de novos negócios Fonte: elaborado pela autora com base emMaximiano (2012). Com ajuda de Maximiano (2012), vamos explorar um pouco mais cada uma dessas possibilidades. Novo negócio com base em novo conceito É o modelo básico do empreendedorismo, quando se cria um conceito novo e revolucionário o suficiente para criar um novo mercado. Significa criar um negócio baseado em ideias de produtos que ainda não existem. São ideias que utilizam a tecnologia para criar soluções que, muitas vezes, tornam obsoletos os existentes e viabilizam oportunidades que antes não eram possíveis. São exemplos desse tipo de negócio oWhatsapp, que foi viabilizado pela transformação dos telefones celulares em smartphones; e o Netflix, que se tornou viável com o acesso à internet pelos aparelhos de televisão. , 30 Novo negócio com base em conceito existente É um empreendimento que nasce a partir de ideias que já existem, no qual o empreendedor pode exercer sua criatividade para agregar diferenciais em relação ao modelo de negócio que existe no mercado. Dessa forma, um tipo de negócio existente pode ser redirecionado a novos mercados que não estão sendo atingidos. São exemplos desse tipo de possibilidade os mercados nos quais não existem caixas, ao final as compras, os consumidores passam os produtos por equipamentos que totalizam o valor a pagar, bastando inserir o cartão de crédito ou débito para realizar o pagamento. Necessidades dos consumidores A ideia desse tipo de negócio é identificar necessidades não atendidas ou atendidas de maneira inadequada. O empreendedor precisa estar atendo às reclamações e sugestões de consumidores. Atualmente, com a disseminação das redes sociais digitais, muitas ideias e oportunidades podem ser identificadas a partir dos comentários de consumidores sobre as carências existentes em determinados mercados. Serviços como consertos e pequenas reformas, por exemplo, passaram a ser demandados em virtude da falta de tempo devido ao trabalho e do aumento de psss qu mrm szinhs. Els drm rigm ngócis d tip “mrid d lugul”, m um lusã que era feito pelos antigos “chs d míli”. Aperfeiçoamento do negócio É partindo de um modelo de negócio existente que essa possibilidade se apresenta. Aqui, o aperfeiçoamento costuma ser realizado com adequação de preços, meios de distribuição, dentre outras possibilidades, de maneira que o desempenho de funções existentes seja feito de maneira nova e aprimorada. O atendimento médico em ambiente virtual, por exemplo, permite que o processo de solicitação de exames e de medicamentos seja feito também de maneira digital. O que viabiliza o , 31 aperfeiçoamento do negócio de farmácias com o recebimento de receitas digitais e a entrega de medicamentos em domicílio. Exploração de hobbies Até mesmo as atividades de lazer que o empreendedor realiza podem criar oportunidades de negócios. Isso acontece quando são identificadas possibilidades comerciais de aplicação em algum grupo social. Alguém que pratica surfe, por exemplo, pode perceber a oportunidade de abrir um negócio para a comercialização de produtos para praticantes do setor. Derivação da ocupação O sucesso obtido pelo empreendedor na sua atuação profissional pode representar uma possibilidade de oferecer suas competências na forma de um negócio. Isso costuma acontecer com profissionais da contabilidade, por exemplo, que abrem seus escritórios após atuar na área corporativa. O mesmo se observa com diversos profissionais que aproveitam a experiência adquirida para abrir empresas de consultoria. Observação de Tendências As rápidas transformações da sociedade trazem mudanças comportamentais que podem resultar em oportunidades de negócios para atender novos mercados que nascem a partir dessas mudanças. A crescente consciência ambiental, por exemplo, demanda produtos e serviços em várias áreas, como produção de energias limpas, reciclageme aproveitamento de resíduos, redução de consumo pelo compartilhamento de produtos, dentre outros. Também cabe destacar as mudanças alimentares, com o crescimento do consumo de produtos orgânicos e do veganismo. , 32 Diferenciando ideias de oportunidades Um ponto fundamental na identificação de oportunidades é a sua diferença em relação a simples ideias. A geração de várias ideias não significa que todas elas se transformarão em negócios de sucesso. É por isso que o empreendedor precisa estar atento ao cenário para avaliar de maneira ampla como uma ideia pode se tornar uma oportunidade de sucesso. Nesse sentindo, uma ideia isolada não tem valor se não for transformada em algo cuja implementação seja viável, visando atender a um público-alvo que faça parte de um nicho de mercado mal explorado. Isso é detectar uma oportunidade. (DORNELAS, 2018, p. 49) É preciso, portanto, que ideias e oportunidades sejam analisadas em relação às competências do empreendedor e às possibilidades do mercado para o qual se destinam. O processo de planejamento de um negócio deve compatibilizar essas duas perspectivas. De um lado, a compreensão que o empreendedor possui acerca de seus conhecimentos, habilidades e limitações; de outro lado, analisar os interesses e as limitações do mercado (MAXIMIANO, 2012). Dentre esses fatores, o principal fator a ser considerado pelo empreendedor é o potencial de mercado. Afinal, existe mesmo um público-alvo interessado no que o negócio oferece? Para avaliar o potencial de mercado, Maximiano (2012) apresenta alguns critérios para auxiliar o empreendedor. Veja no quadro a seguir. , 33 Quadro 2.1 – Critérios para avaliar o potencial de negócios Fonte: elaborado pela autora com base emMaximiano (2012, p. 32). Além da avaliação do mercado, também é preciso avaliar o potencial dos novos produtos e serviços, Maximiano (2012) recomenda algumas ações, sintetizadas no quadro que segue. Quadro 2.2 - Fatores críticos para o sucesso de novos produtos Fonte: elaborado pela autora com base emMaximiano (2012, p. 31). Viabilidade de mercado Concorrência Viabilidade de produção Controle governamental Investimento inicial e retorno O produto tem compradores potenciais? Quem são os concorrentes? Existem componentes e matérias-primas para fazer o produto ou prestar o serviço? Há controle governamentais sobre o produto ou tipo de negócio? Qual o investimento necessário? Com que frequência o produto seria comprado? Quantos são? Existemmáquinas, equipamentos e instalações? Há necessidade de licenciamento ou aprovação prévia? Qual o período de retorno desse investimento? Quem compraria? Onde estão? Existe mão de obra qualificada? Quanto precisa ser investido para atender a legislação? O retorno está equilibrado com os riscos do investimento? Quantos comprariam? Quais são as suas vantagens competitivas? Qual a necessidade de investimento e de experimentação? Onde estão os compradores? Qual é o alcance e a eficiência dos seus canais de distribuição? Qual o investimento necessário para viabilizar a produção? Qual preço aceitariam pagar? Há barreiras para novos ingressantes? Há sazonalidade no fluxo de compras? Quais são os fornecedores concorrentes? Fator-chave Descrição Pesquisa de marketing A pesquisa de marketing é crucial para evitar que o produto fracasse. Sua desvantagem é o alto custo. Um exemplo desse tipo de pesquisa seria o teste de um novo alimento nas entradas de teatro e cinema e nos supermercados. Atendimento de uma necessidade Requisito essencial do novo produto ou serviço é ser realmente necessário para os consumidores. Por isso a necessidade de aplicar testes para aferir o nível de necessidade. Vantagem do produto O produto deve ser superior aos concorrentes em atributos como qualidade, aparência, tecnologia e praticidade. Qualidade e preço adequados Se o produto tiver baixa qualidade ou preço elevado, em relação ao mercado, o consumidor não irá procurá-lo novamente. Escolha dos canais de distribuição Uma decisão crítica com novos produtos envolve os canais de distribuição. A definição dos locais de vendas e da forma de fazer o produto chegar aos clientes é determinante para o sucesso. , 34 O último ponto a ser avaliado é a aderência entre o perfil do empreendedor e a ideia de negócio. De acordo com Dornelas (2018), é comum um empreendedor investir em uma ideia com vasto potencial de mercado, mas em um setor de atividade que ele conhece muito pouco ou em um ramo no qual nunca atuou. Esse fato reduz drasticamente as chances de sucesso, pois é necessário que o negócio tenha relação com o perfil profissional do seu criador. O autor recomenda que os empreendedores invistam seu tempo e seus recursos em negócios em áreas que conheçam e tenham alguma experiência, ou pelo menos, que algum dos sócios já tenha trabalhado. Muitos empreendedores são atraídos por setores nos quais existe elevada possibilidade de obter rendimentos financeiros, mesmo sem qualquer conhecimento d ssunt. Drnls (2018, p. 51) lmbr qu, “m primir lugr, vm pixã pl negócio; ganhar dinheiro é consequência”. 2.3 Desenvolver o Plano de Negócios A expressão “Plano de Negócios” é originada da expressão inglesa Business Plan, um documento organizado a partir de análises estratégicas para avaliar uma oportunidade de negócio. É um documento de planejamento dinâmico destinado a descrever um negócio, descrevendo estratégias operacionais, a inserção do empreendimento no mercado e os seus resultados financeiros. Além de ser um importante documento estratégico, o Plano de Negócio também auxilia o empreendedor a compreender melhor o negócio, o seu ambiente e as diversas variáveis envolvidas. (DORNELAS, 2018; FABRETE, 2019). Os autores Dornelas (2018) e Fabrete (2019) afirmam que o Plano de Negócios permite a organização das ideias e o direcionamento do negócio para que ele tenha condições de ser concretizado. Permite a documentação e o gerenciamento das análises internas e externas, viabilizando a identificação das condições nas quais o negócio é viável, auxiliando na prevenção de riscos futuros e aumentando suas chances de , 35 sobrevivência e crescimento sustentável. Dornelas (2018), propõe a estrutura do Plano de Negócios conforme a seguinte figura. Figura 2.5 – Estrutura do plano de negócios Fonte: elaborada pela autora com base em Dornelas (2018) e Razzolini Filho (2012). Sumário executivo: É a primeira seção do Plano de Negócios que será lida, portanto, deve ser elaborada de maneira a manter a atenção do leitor e despertar seu interesse pelo conteúdo de todo o plano. Trata-se de uma síntese do que é o negócio, seus diferenciais e vantagens competitivas, motivo de o empreendedor ter escolhido o setor ou ramo de atividade. Também deve conter um resumo das principais informações que indicam a viabilidade do negócio, tais como investimento necessário, projeção de demanda e de receitas e as expectativas de retorno. É a última parte a ser desenvolvida, pois depende de todas as outras seções para que a síntese represente a totalidade do plano (BIAGIO, 2013; DORNELAS, 2018; RAZZOLINI FILHO, 2012). , 36 Análise estratégica ou Plano Estratégico: Nesta seção, deve ser apresentada a análise do segmento de mercado no qual o negócio será implementado. De acordo com Dornelas (2018) e Razzolini Filho (2012), o empreendedor deve demonstrar que realizou uma pesquisa aprofundada e que, portanto, conhece muito bem o setor. A primeira parte é a análise dos ambientes internos e externos, para identificação de ameaças e oportunidades. Também deve ser demonstrada a avaliação da concorrência atual e futura e a situação dos fornecedores. Para essa análise, recomenda-se a utilização das metodologias Análise SWOT3 e Análise Competitiva de Michael Porter4. Inclui, ainda, a descrição do consumidor ou público-alvo do negócio, tais como segmentação, projeções de crescimento, eventualsazonalidade de demanda. Por fim, deve incluir a missão do negócio, seus valores e uma visão de futuro da empresa, que inclui uma síntese de objetivos e metas para um período mínimo de cinco anos. Descrição ou Caracterização da empresa: Descrever como surgiu a ideia do negócio, ou seja, como foi identificada a oportunidade e, a partir dela, a possibilidade de abrir uma empresa. Apresentar qual será a sua forma jurídica e o enquadramento tributário, identificando os principais tributos (impostos, taxas e contribuições) que incidirão nas receitas e/ou lucros do negócio (BIAGIO, 2013; DORNELAS, 2018). 3Análise SWOT (Strenght, Weakness, Opportunities and Threats) é a ferramenta que auxilia na construção de uma matriz que apresenta Forças, Fraquezas, Ameaças e Oportunidades dos agentes que irão interagir com o negócio, tais como situação de mercado, concorrentes, cliente e fornecedores (RAZZOLINI FILHO, 2012, p. 212). 4Também chamada de análise das cinco forças, é um modelo desenvolvido por Michael Porter para análise de mercados, identificado as forças que atuam sobre ele e refletem no potencial de lucratividade das empresas desse mercado. As cinco forças são: ameaça de novos entrantes, intensidade da rivalidade entre concorrentes existentes, ameaça de produtos substitutos, poder de negociação de clientes e poder de negociação de fornecedores (RAZZOLINI FILHO, 2012, p. 53). , 37 Plano de Marketing: É o plano que descreve como o negócio será inserido no mercado. Para isso, é preciso apresentar um estudo de previsão de demanda, que servirá de base para a posterior projeção de vendas e receitas. O Plano de Marketing, como recomenda Biagio (2013), também apresenta como foi organizado o composto de marketing5 do negócio, ou seja: • Produtos e/ou serviços: características, funcionalidades e diferenciais do portfólio que serão oferecidos pela empresa. É interessante incluir também a forma como são produzidos, o ciclo de vida e os recursos tecnológicos envolvidos; • Preços: estratégias e políticas de preço; • Distribuição: localização, formas de comercialização, canais de distribuição, parceiros comerciais; • Promoção e comunicação: ferramentas utilizadas para apresentar o negócio e seus produtos. Plano operacional: É nesta seção que o empreender apresenta o processo produtivo do negócio, ou seja, como serão fabricados os produtos ou a forma de prestação dos serviços. Para Dornelas (2018) e Razzolini (2012), isso inclui o planejamento da produção, a capacidade para produzir o volume projetado, tanto do ponto de vista dos recursos materiais (prédios, instalações, máquinas, equipamentos etc.), como a capacidade da mão de obra. É interessante incluir também um layout da empresa e o desenho dos fluxogramas dos principais processos. 5 O composto de marketing, também chamado de Mix de Marketing, é a combinação dos quatro Ps de marketing: Produto, Preço, Praça e Promoção. Lembrando que o P de praça inclui toda a estrutura de comercialização e distribuição do produto, enquanto o P de promoção engloba as ações necessárias para divulgar o produto e estimular as vendas, tais como propaganda, publicidade, promoção de vendas, marketing digital dentre outras (RAZZOLINI FILHO, 2012). , 38 Plano de recursos humanos: É o momento de apresentar como será feita a gestão de pessoas do empreendimento. O planejamento dos recursos humanos inclui as necessidades atuais e futuras do negócio, para isso, é preciso descrever as estratégias de recrutamento e seleção, descrição dos cargos com as atividades realizadas e perfil do ocupante, política salarial e de carreira, programas de capacitação e de retenção de colaboradores (BIAGIO, 2013). Trata-se de um planejamento estratégico destinado a suportar o crescimento da empresa, especialmente em setores nos quais o capital humano é fator crítico de sucesso, como aqueles em que é necessária a utilização de alta tecnologia. (DORNELAS, 2018). Plano financeiro: Os recursos financeiros para o negócio podem ser obtidos de diversas maneiras, porém, quaisquer sejam as fontes, Biagio (2013) e Razzolini (2012) alertam sobre a necessidade de apresentar de maneira detalhada todas as projeções que confirmam a viabilidade econômica e financeira do empreendimento. Assim, o estudo da demanda realizado no Plano de Marketing, deve servir de base para as projeções de vendas e de receitas. Todos os custos e despesas, fixos e variáveis, devem ser apurados e demonstrados. Segundo os autores, as informações são consolidadas e apresentadas na forma de fluxo de caixa financeiro, registrando as entradas e saídas efetivas de caixa, por um período de cinco anos. A demonstração de resultados também deve ser projetada, com a apuração das estimativas de lucros para cada um dos cinco anos do horizonte previsto. Com base na confrontação entre o valor do investimento e os resultados dos fluxos de caixa, é feita a análise de viabilidade do projeto, com a apuração do Valor Presente , 39 Líquido (VPL) e da Taxa Interna de Retorno (TIR)6. A demonstração de resultados permite apurar a margem de lucros e o retorno dos investimentos. Anexos: Ao final do Plano de Negócios, podem ser incluídos anexos com informações adicionais julgadas relevantes para o melhor entendimento do plano de negócios. Exemplos: currículo dos sócios, folhetos e/ou catálogos com descrição de produtos, estrutura do website da empresa, contrato social, planilhas financeiras detalhadas, entre outros. 2.4 Determinar e obter os recursos para o negócio Após estruturar o Plano de Negócios, o empreendedor precisa avaliar suas opções para obter recursos e colocar em prática o plano desenvolvido. Há muitas possibilidades e não existe uma regra que determine qual é a melhor. O que o empreendedor precisa comparar são os custos e os riscos decorrentes das fontes de capital disponíveis. Dornelas (2018) apresenta uma lista, não exaustiva, de opções ao empreendedor para obter os recursos necessários à abertura do negócio. Recursos próprios e empréstimos de familiares e amigos As economias pessoais do empreendedor costumam ser a primeira fonte de capital para o negócio. Algumas alternativas, em caso de não haver poupança suficiente, são a venda de bens patrimoniais, como imóveis e veículos. Ao utilizar esses recursos como fonte de capital, o empreendedor conta com relativa liberdade para tomada de decisão, além de não ter os encargos decorrentes de empréstimos e financiamentos. 6 VPL e TIR são técnicas que comparam o valor presente dos futuros fluxos de caixa com o montante inicial investido. O VPL apresenta o valor final obtido com a dedução do valor investido da soma dos fluxos de caixa, enquanto a TIR apresenta a taxa de retorno anual do empreendimento (BIAGIO, 2013). , 40 No entanto, o baixo valor de investimento inicial pode limitar as possibilidades de crescimento do negócio. Existe a possibilidade de recorrer a empréstimos de familiares e amigos, mas Dornelas alerta que, a decisão de emprestar ou não o dinheiro não se dará com base em fatores relacionados com o rendimento do dinheiro, mas como forma de auxílio a um amigo conhecido e que inspira credibilidade. Isso, às vezes, pode prejudicar a própria amizade, caso, no futuro, o empreendedor não consiga honrar seus compromissos com a família e os amigos. (DORNELAS, 2018, p. 183). Investidores anjos São pessoas físicas que possuem recursos financeiros para investir em empresas novas e que apresentam alto potencial de crescimento. Para acessar esse tipo de fonte, é necessário que o Plano de Negócios esteja bem estruturado e consolidado, demonstrando de forma consistente o potencial do empreendimento. Segundo a Anjos do Brasil, organização destinada a estimular o desenvolvimento de empresas com potencial inovador, esse tipo de investimento: 1. É efetuado por profissionais (empresários, executivos e profissionais liberais) experientes, que agregam valor para o empreendedor com seus conhecimentos, experiência e redede relacionamentos além dos recursos financeiros, por isto é conhecido como smart-money; 2. Tem normalmente uma participação minoritária no negócio; 3. Não tem posição executiva na empresa, mas apoiam o empreendedor atuando como um mentor ou conselheiro (ANJOS DO BRASIL, n.d., n.p.). Essa não era uma opção disponível no Brasil até o final do século XX, mas tem crescido com abertura e estabilidade econômica do país. Conforme a Endeavor Brasil (2017), não é uma prática amplamente difundida, mas o número de investidores anjos tem crescido. A seguir, alguns exemplos desse tipo de investidor.: • Gávea Angels, Rio de Janeiro; • Floripa Angels, Florianópolis; , 41 • Jacard Investimentos, Santa Catarina; • São Paulo Anjos, São Paulo; • Bossanova Angels, São Paulo com escritório no Vale do Silício (EUA); • Harvard Business School Alumni Angels of Brazil, São Paulo. Se você quiser conhecer melhor os investidores anjos, acesse o link para o site da Anjos do Brasil, disponível nas Referências. Bancos e agências de fomento O empreendedor pode utilizar diversas fontes de financiamento provenientes dos governos municipais, estaduais e federal. Há diversos programas com recursos não rmblsvis (chmds d rcurss “ und prdid”), u cm cust subsidid que permite utilizar taxas abaixo do mercado. Alguns exemplos estão apresentados no quadro a seguir. Quadro 2.3 – Programas com incentivos governamentais Programa Responsável Descrição Fundos Criatec Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Fundos de investimento em participações de Micro e Pequenas Empresas (MPEs) inovadoras, nos quais a BNDESPar é a principal investidora. O Criatec está em sua 3ª edição e já apoiou mais de 70 empresas brasileiras, viabilizando o registro de cerca de 60 patentes e a criação de quase 1000 produtos. , 42 Programa de Capacitação de Recursos Humanos para Atividades Estratégicas (RHAE) Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) Apoio para projetos de inovação por meio da inserção de recursos humanos em atividades de pesquisa e desenvolvimento nas empresas. Projeto Inovar Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) Ações em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), promovendo a realização de atividades de estímulo ao setor, como rodadas de negócios, seminários e campanhas de divulgação. Programa de subvenção econômica Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) Promover a aplicação de recursos públicos não reembolsáveis (ou seja, não se trata de financiamento nem de aporte de capital em troca de participação acionária) diretamente em empresas, para compartilhar com elas os custos e riscos inerentes a atividades de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação. Finep Startup Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) Apoiar a inovação em empresas nascentes intensivas em conhecimento através do aporte de recursos financeiros para execução de seus planos de crescimento. Programa de Inovação em Pequenas Empresas Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) O PIPE é dividido em três fases, com os seguintes objetivos: • Fase 1: realização de pesquisas , 43 (PIPE) sobre a viabilidade das ideias propostas. • Fase 2: fase de desenvolvimento da parte principal da pesquisa. • Fase 3: desenvolvimento de novos produtos comerciais baseados nas Fases 1 e 2. Programa de Apoio Tecnológico à Exportação (Progex) Ministério da Ciência e Tecnologia Prestar assistência tecnológica às micro e pequenas empresas que queiram se tornar exportadoras ou àquelas que já exportam e desejam melhorar seu desempenho nos mercados externos. Fonte: elaborado pela autora com base em Dornelas (2018, p. 188-192). Instituições financeiras A opção de obter capital para financiar a abertura da empresa em instituições financeiras pode gerar algumas dificuldades em função das exigências estabelecidas pelos agentes financiadores (bancos de varejo principalmente), além das altas taxas de juros normalmente cobradas e das dificuldades em pagar os empréstimos depois de concretizado o acordo. Existem iniciativas de algumas instituições que destinam recursos para linhas de financiamento aos pequenos negócios. Alguns desses bancos incluem pacotes com ferramentas para auxiliar o empreender na gestão dos negócios. Alguns exemplos são o Programa Avançar do Banco Santander; a Movera do Banco do Brasil e o Itaú Empreendedor. , 44 2.5 Gerenciar o negócio criado Após avaliar as opções para capitalizar e iniciar o negócio, o empreendedor agora tem o desafio da gestão do empreendimento para garantir a sua sobrevivência e crescimento. O sucesso de uma empresa é medido por meio de indicadores que se organizam em uma cadeia de causas e efeitos. O indicador mais importante de sucesso é o desempenho financeiro, que depende da satisfação do cliente e da eficiência dos processos. A satisfação do cliente depende da qualidade dos produtos e serviços, que depende, entre outros fatores, do desempenho das pessoas. No final das contas, tudo depende da competência gerencial do empreendedor (MAXIMIANO, 2011, p.13). Nesse sentido, para obter sucesso no empreendimento é preciso mensurar os resultados obtidos, em relação às projeções realizadas no Plano de Negócios, utilizando alguns indicadores. O principal deles é o que avalia o desempenho financeiro, no entanto, esse resultado depende da aceitação do cliente e da eficiência dos processos da empresa. Para Maximiano (2011), os indicadores funcionam em uma relação de causa e efeito, uma vez que para ter clientes satisfeitos é preciso ter produtos de qualidade e colaboradores competentes. Todas essas relações dependem da competência de gestão do empreendedor, como mostra a figura a seguir. Figura 2.5 – Indicadores do sucesso de uma empresa Fonte: Maximiano (2011, p. 13). , 45 Com base em Maximiano (2011), vamos aprofundar cada um dos indicadores da figura 2.5. Desempenho financeiro: é medido pelo indicador básico de todo negócio – o Lucro, que representa a diferença entre receitas e despesas. A geração de receita depende do nível de satisfação dos clientes, que também reflete no preço de venda. Com o cenário de competição acirrada, o preço é definido pelo mercado, portanto, o aumento das margens de lucro depende do controle dos custos. E os custos dependem da eficiência operacional a empresa. Eficiência dos processos: ter uma operação eficiente significa produzir resultados sem desperdícios, ou seja, aumentar a produtividade. O objetivo é aumentar os níveis de produção, sem aumentar o consumo de recursos. Por isso, a produtividade é medida pelo consumo dos recursos em relação ao que foi produzido. Cada setor de atividade tem fatores de produção próprios que auxiliam na mensuração dos níveis de produtividade, e o empreendedor precisa identificar quais fatores são mais relevantes no seu negócio. Qualidade dos produtos: pode ser avaliada com base em duas perspectivas – a qualidade própria dos produtos e a ausência de defeitos. A qualidade do produto está relacionada às características que atendem as necessidades ou resolvem os problemas dos clientes. Assim, quanto maior for a capacidade de o produto atender a sua finalidade, maior será a satisfação do cliente. Em relação aos defeitos, eles comprometem os objetivos dos produtos, por isso, quanto menor o número de falhas, maiores as possibilidades de satisfazer os clientes. Desempenho das pessoas: depende da capacitação dos colaboradores para exercer as suas funções, bem como da sua qualidade de vida no trabalho. Implica investimentos contínuos no desenvolvimento dos funcionários e em ações para gerar um clima organizacional positivo. O alcance dos objetivos, medidos pelos indicadores, dependem da atuação do empreendedor como gestor do negócio. Nesse contexto, Maximiano (2011) sintetiza a atuação do empreendedor como administrador de seu negóciona figura que segue. , 46 Figura 2.6 – Papéis do empreendedor na gestão do negócio Fonte: Maximiano (2011, p. 16). Tomar decisões O processo de tomada de decisão é baseado em escolhas que devem ser feitas a partir da análise das alternativas disponíveis. Todos os indicadores dependem da capacidade do empreendedor em decidir sobre o futuro da empresa, com base no planejamento, avaliando os impactos das decisões atuais nos resultados de longo prazo. Além disso, deve-se tomar decisões importantes sobre a forma como os recursos – materiais e humanos, são alocados nas atividades do empreendimento. Situações imprevistas podem ocorrer com o início das atividades da empresa, e o empreendedor deve estar preparado para realizar o diagnóstico dos problemas e atuar criativamente para avaliar as opções e escolher as mais adequadas. Trabalhar com pessoas As pessoas fazem parte de todo o contexto de um empreendimento, considerando não apenas seus colaboradores e clientes, mas eventuais sócios, além de fornecedores e outras pessoas. É por isso que o empreendedor precisa se preparar para compreender as diferenças e as formas adequadas para exercer a liderança, bem como desenvolver , 47 estratégias de motivação. Também precisa saber negociar e compreender como os grupos se formam e se relacionam. Lidar com informações Para tomar decisões adequadas, e compreender a dinâmica da gestão e convivência com pessoas, o empreendedor necessita de informações. Assim, ter habilidade para procurar informações e identificar as mais relevantes ao processo de gestão é fundamental. Mas não basta ter informações, pois a sua utilização requer interpretação e análise para suportar as decisões. E o resultado do processo de obtenção e análise das informações precisa ser compartilhado com as pessoas que atuam nos processos, permitindo que o trabalho seja realizado com maior eficiência. Conclusão O processo empreendedor é uma metodologia que permite ao empreendedor organizar as atividades necessárias para tornar viável uma ideia de negócio. Diversas fontes podem servir de base à geração de ideias, que devem ser analisadas para que possam se tornar oportunidades de negócio, por meio de sua exploração comercial. A análise das ideias considera a análise do mercado e de seus participantes, tais como tamanho da demanda, perfil do público-alvo, comportamento da concorrência e disponibilidade de fornecedores, dentre outras. Após concluir que a ideia pode se tornar uma oportunidade de negócio, o empreendedor deve elaborar o Plano de Negócios, um instrumento que viabiliza o planejamento de longo prazo do futuro empreendimento, por meio de projeções que atingem o horizonte mínimo de 5 anos. Além disso, permite que a gestão do negócio seja feita de maneira mais eficiente, comparando os resultados obtidos com o que foi planejado. Para obter recursos que permitem colocar em prática o conjunto de atividades previstas no Plano de Negócios, diversas opções estão disponíveis. Desde recursos próprios, de familiares e amigos, até mesmo a busca de investidores anjos. Programas governamentais também oferecem alternativas, alguma delas incluem recursos de , 48 fundos não reembolsáveis. Por fim, as instituições financeiras também estão preparadas para não apenas fornecer recursos, mas também para dar suporte ao empreendedor na gestão da sua empresa. E a gestão é o ponto fundamental no processo empreendedor, pois após todo esforço para colocar a ideia em prática, é necessário administrar o negócio com eficiência para garantir sua sobrevivência e ampliar as chances de sucesso. A utilização de indicadores auxilia nesse processo, bem como o desenvolvimento de competências gerenciais essenciais para que o empreendedor possa executar os seus papéis. REFERÊNCIAS ANJOS DO BRASIL. O que é um investidor anjo. Disponível em: <https://bit.ly/2JbRvSH>. Acesso em: 27 jun. 2020. BIAGIO, L. A. Como elaborar o plano de negócios: curso on-line. Barueri: Manole, 2013. DORNELAS, J. Empreendedorismo, transformando ideias em negócios. 7 ed. São Paulo: Empreende, 2018. ENDEAVOR BRASIL. Capital, experiência e relacionamento: com um investidor anjo, sua empresa está sempre bem acompanhada. Disponível em: <https://endeavor.org.br/dinheiro/investidor-anjo/>. Acesso em: 27 jun. 2020. FABRETE, T. C. L. Empreendedorismo. 2 ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2019. MAXIMIANO, A. C. A. Empreendedorismo. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. MAXIMIANO, A. C. A. Administração para empreendedores: fundamentos da variação e da gestão de novos negócios. 2 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011. RAZZOLINI FILHO, E. Empreendedorismo: dicas e planos de negócios para o século XXI. Curitiba: Intersaberes, 2012. , 49 3 INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO Inovação e empreendedorismo têm uma relação estreita, pois os empreendedores têm sido os maiores responsáveis por gerar ideias que vêm revolucionando a maneira de se fazer negócios, tendo a inovação como principal ingrediente. Para Dornelas (2018), os empreendedores são o centro de um movimento global que, especialmente na era da Internet, tem renovado os conceitos econômicos e proporcionado avanços nas relações de trabalho e emprego, proporcionando riqueza para a sociedade. Geralmente, essas invenções são fruto de inovação, de algo inédito ou de uma nova visão de como utilizar elementos já existentes, mas para os quais ninguém antes ousou olhar de outra maneira. Por trás dessas invenções, existem pessoas ou equipes com características especiais, visionárias, que questionam, arriscam, querem algo diferente, fazem acontecer e empreendem. Ao associar inovação e empreendedorismo, estamos retomando e reforçando o conceito inicial e o papel do empreendedor na sociedade, uma vez que a inovação é o motor do crescimento econômico, porém, também deve proporcionar benefícios para a sociedade, melhorando a sua qualidade de vida. Mas como se dá esse processo? De que maneira as ideias se tornam invenções e inovações? Quais fatores do ambiente ampliam o potencial de geração de novos negócios baseados em inovação? É sobre isso que trataremos agora. 3.1 Ideias, invenções e inovações Para que o empreendedor utilize as inovações como fonte de vantagens competitivas precisa estar preparado para criar e administrar a matéria prima das inovações que são as ideias. Por isso, para sistematizar e realizar inovações é necessário viabilizar um fluxo de geração de ideias. Mas o que é uma ideia? , 50 [...] uma ideia se expressa mediante opinião, ponto de vista, noção, conhecimento ou qualquer outro meio capaz de representar a concepção mental de algo concreto ou abstrato. Por ideia não se entende unicamente a representação mental de um objeto existente, mas também uma possibilidade ou a antecipação de algo. (BARBIERI; ALAVARES; CAJAZEIRA, 2009, p. 21) Com base em uma nova ideia, são desenvolvidos planos, modelos, protótipos e outras formas de se registrar essa ideia, resultando em algum tipo de invenção. Ele envolve os esforços despendidos para gerar novas ideias e desenvolvê-las para que possam ter utilidade prática, e depois sejam exploradas comercialmente com aplicação em áreas específicas e nos setores produtivos. O processo de desenvolvimento da ideia, portanto, é o que gera as invenções que as ideias iniciais sugeriram como possibilidades. A inovação resulta da aplicação dos novos conhecimentos e aplicabilidades, gerados no processo de invenção, para desenvolver e ofertas novos produtos que atendam às necessidades e aos desejos do consumidor (BARBIERI; ALVARES; CAJAZEIRA, 2009). Como a inovação é um processo que tem início na mente das pessoas, os modelos de inovação fazem referências às fontes de ideias, como mostram os modelos que iremos explorar: Modelo em Funil e Inovação Aberta. Modelo em Funil O processo de inovação tem início com uma ideia inicial e outras são inseridas no decorrer do tempo, como mostra a figura a seguir. , 51Figura 3.1 – Processo de inovação: modelo de funil Fonte: BARBIERI; ALVARES; CAJAZEIRA, 2009, p. 21. A figura demonstra que as ideias integram todas as etapas do processo, o que permite concluir que a inovação é um fluxo repleto de ideias, que são filtradas e avaliadas em todas as etapas. Após finalizado o processo, com a aplicação e utilização do produto decorrente do projeto de inovação, as ideias continuarão a fazer parte dele, pois é necessário manter o aperfeiçoamento ao longo do ciclo de vida (PEARSON, 2011). As ideias iniciais, representadas na fase 1 do processo entrando no funil, surgem em virtude das seguintes situações: [...] problemas, necessidades e oportunidades nas áreas de produção e comercialização que ocorrem tanto na própria empresa quanto no seu ambiente geral; e oportunidades vislumbradas com a ampliação dos conhecimentos científicos e tecnológicos (BARBIERI; ALVARES; CAJAZEIRA, 2009, p. 21). Dessa forma, cada etapa do processo estimula a geração de novas ideias originadas pelo conhecimento científico e tecnológico decorrentes das pesquisas científicas e também de variáveis do ambiente, tais como problemas e oportunidades operacionais. Com essa ampliação da abordagem do funil, a figura 3.2 demonstra com mais detalhes o processo envolvido na geração de ideias, os esforços para criar invenções e as inovações resultantes. , 52 Figura 3.2 –Modelo detalhado de inovação em funil Fonte: BARBIERI; ALAVARES; CAJAZEIRA, 2009, p. 26. Modelo de inovação aberta Inovação aberta é um conceito desenvolvido por Henry Chesbrough (1956-) a partir da ideia de que as fontes de inovação estão distribuídas em toda a sociedade. Por esse modelo, as empresas utilizam ideias e tecnologias externas no seu negócio e liberam as que foram desenvolvidas internamente, e não são mais utilizadas, para que outros utilizem em seu mercado. A utilização desse conceito proporciona um crescimento nas fontes de conhecimento que podem ser utilizadas pelas empresas, em especial, com o crescimento da internet e das mídias sociais, que expandiram a produção compartilhada de ideias e do conhecimento (CHESBROUGH, 2018; HENRIQUES, 2018). Com a adoção da inovação aberta, segundo Chesbrough (2018), as empresas podem gerenciar fluxos de conhecimento externos para suas operações, além de desenvolver mecanismos que permitam transferir o conhecimento gerado internamente, quando não utilizado, para outras empresas do seu mercado. Dessa forma, instrumentos podem ser utilizados para realizar a gestão dos fluxos de entradas e saídas de conhecimento, portanto, de ideias passíveis de se converterem em inovações. , 53 Figura 3.3 –Modelo de inovação aberta Fonte: CHESBROUGH (2018, p. 43). Para promover a inovação de fora para dentro, segundo o autor, a empresa precisa desenvolver processos destinados a gerenciar as diversas possibilidades de obter contribuições externas, tais como: busca de tecnologias externas em universidades, laboratórios de pesquisa ou empreendimentos de alta tecnologia, financiamento de pequenas empresas inovadoras no segmento de mercado desejado, fornecedores e clientes. Esses processos devem prever a utilização dos acordos de confidencialidade. Para gerenciar o fluxo de inovação de dentro para fora, as organizações devem permitir que ideias e ativos não utilizados e subutilizados sejam ofertados para fora da organização, para que outros possam utilizá-los em seus negócios e em seus modelos de negócios, por meio da venda ou da revelação. Alguns modelos utilizados nesse processo incluem o licenciamento, a doação, a criação de incubadoras e as alianças (CHESBROUGH, 2018; HENRIQUES, 2018). , 54 3.2 Transformando conhecimento em inovação Para que possamos articular conhecimento e inovação, é necessário refletir sobre as expressões: dado, informação e conhecimento. O quadro a seguir mostra uma síntese desses três conceitos. Quadro 3.1 – Dado, informação e conhecimento Fonte: POSSOLLI (2012, p.107). Com base nas informações do quadro, percebemos que o dado é uma informação bruta, ainda não avaliada, apenas uma descrição de um fato ou evento. Para que um dado se torne informação, é necessário que ele seja interpretado, decodificado, de maneira a ser compreendido em determinado contexto. Se o dado é a matéria prima da informação, esta última é a base para a construção do conhecimento (POSSOLI, 2012; TROTT, 2012). É nesse sentido que a geração de inovações requer das organizações a habilidade de conectar sua base de conhecimentos à estratégia de inovação. Assim, exige-se que o capital intelectual e o tecnológico sejam convertidos em produtos que os consumidores desejem ou necessitem. Para isso, é preciso empregar os recursos de maneira que as atividades sejam realizadas no sentido de agregar valor ao desenvolvimento de competências organizacionais específicas para suportar o processo de inovação (TROTT, 2012). , 55 O quadro a seguir apresenta, de forma sintética, as etapas do processo de inovação e sua articulação as atividades de gestão do conhecimento. Quadro 3.2 – Gestão do conhecimento e inovação Fonte: elaborado pela autora com base em Trott (2012). Explorando as informações do quadro 3.2, vemos que a primeira fase da Inovação é a Descoberta. Nessa fase, ocorre o rastreamento e a busca em ambientes internos e externos a fim de obter e processar sinais de possíveis inovações. Esses sinais podem ser necessidades de vários tipos, oportunidades que surgem a partir de atividades de pesquisa, pressões reguladoras ou comportamento de concorrentes. As atividades de gestão do conhecimento relacionadas são: buscar, capturar e articular. Para buscar conhecimento, a organização utiliza meios de investigar fontes potenciais à procura de itens de interesse. A captura de conhecimento utiliza meios de internalizar os resultados da busca de conhecimento dentro da organização. As atividades de articulação tornam o conhecimento capturado claramente expresso na organização. Na segunda fase do processo, ocorre a realização da inovação. Nela, são analisadas as formas como a organização pode implementar, com sucesso, a inovação, fazendo-a crescer a partir de uma ideia, passando por vários estágios de desenvolvimento até o lançamento final como um novo produto ou serviço no mercado externo ou como um novo processo ou método dentro da organização. Processo de inovação Descoberta Realização Sustentação Buscar Contextualizar Avaliar Capturar Aplicar Apoiar Articular Reinovar Gestão do conhecimento Fases do processo Atividades , 56 Nessa fase, contextualizar significa utilizar a gestão do conhecimento para colocar o conhecimento articulado nos contextos organizacionais adequados; e aplicar conhecimentos significa utilizar meios para adotar o conhecimento contextualizado em desafios organizacionais. A terceira fase da inovação é a fase de sustentação. Ela envolve a manutenção e o suporte de inovação por meio de várias melhorias. Ela também reflete fases anteriores e analisa experiências de sucesso e fracasso a fim de aprender como gerenciar melhor o processo e capturar conhecimento relevante a partir da experiência. A gestão do conhecimento contribui, nessa fase, com a utilização de mecanismos para avaliar a eficácia das aplicações de conhecimento. O ato de apoiar é uma atividade de gestão do conhecimento que significa utilizar diversos meios para que a eficácia das aplicações de conhecimento seja mantida. E, finalmente, para inovar, a organização utiliza meios para reaplicar conhecimento e experiência em algum lugar da organização. Ao concluir a fase de sustentação, a organização reflete sobre as fases anteriores e analisa experiências de sucesso e fracasso a fim de aprender como gerenciar melhor o processo e capturar conhecimento relevante a partir da experiência. Essa aprendizagem estabelece condições para iniciar o ciclo novamente. Dimensões da inovação Ao utilizar o conhecimento como base para ampliar o potencialde inovação, os inovadores de sucesso compreendem e cultivam melhor as dimensões da inovação; além de gerenciar o processo de inovação, criar condições para manter o fluxo contínuo de inovações. Nesse sentido, ao abordar as dimensões da inovação, Bessant e Tidd (2009) as apresentam como sendo: produto, processo, posição e paradigma. Confira na figura a seguir. , 57 Figura 3.4 – Dimensões das inovações Fonte: Bessant e Tidd (2009, p. 16). Os autores Bessant e Tidd (2009) e Possolli (2012) explicam com mais detalhes cada uma dessas dimensões. As inovações de produto incluem alterações nas propriedades do produto, mudando a forma como os consumidores e outros participantes da cadeia produtiva percebem o produto. Por exemplo, a transformação dos telefones celulares em smartphones com a inclusão do acesso à internet. As modificações no processo de produção geram inovações de processo. Podem estar relacionadas à redução dos custos, aumento da eficiência, melhorias de qualidade que, de uma maneira geral, resultam em grandes melhorias em termos de produtividade. Exemplos desse tipo de inovação são a automação e digitalização do check-in para viagens aéreas e a utilização de transações por contato para os cartões de crédito. As inovações de posição envolvem o reposicionamento de um produto no mercado, gerando novas formas de utilização, por exemplo, o uso de cotonetes para remoção de maquiagem, ou a venda de energético reposicionado como bebida para drinques ou coquetéis. Inovações de paradigma ou de modelo de negócios são alterações que dizem respeito à maneira como um produto é apresentado ao mercado para agregar valor. As locadoras de automóvel, por exemplo, criaram inovação no modelo de negócio ao utilizar o sistema no qual o cliente aluga o veículo por meio de aplicativo, depois retira e devolve em alguns locais predeterminados. Também é exemplo de modelo de , 58 negócio inovador o Uber, que alterou a forma como o transporte individual é realizado, com solicitação e pagamento por meio de aplicativo. Ampliando a abrangência do escopo das inovações, Paul Trott (2012) apresenta os tipos na figura a seguir. Figura 3.5 – Tipos de inovação Fonte: Trott (2012, p. 17). Como vimos, os tipos e as abrangências das inovações podem receber classificações um pouco diferentes, de acordo com os autores pesquisados. No entanto, uma outra de forma de analisar as diferenças entre inovações é o seu impacto inovador, ou seja, a intensidade aplicada no objeto de inovação. É o que veremos a seguir. 3.3 Inovação disruptiva e fontes de valor Inovação disruptiva é uma expressão criada por Clayton M. Christensen para definir inovações com alto impacto em produtos e mercados. Porém, para compreender a disrupção, é necessário conhecer as graduações de intensidade das inovações, pois existem diferentes níveis de novidade, que vão desde melhorias incrementais menores até mudanças bastante radicais, que realmente transformam a forma como as percebemos e utilizamos. Observe a figura a seguir. , 59 Figura 3.6 – Intensidade das inovações Fonte: Bessant e Tidd (2009, p. 20). Perceba que há uma evolução entre as inovações incrementais e radicais, pois as inovações incrementais são aquelas que resultam de melhorias em processos, produtos e serviços; enquanto as radicais significam transformações de proporções maiores. É por isso que existe alguma confusão entre inovação incremental e melhoria. Entretanto, nem toda melhoria pode ser considerada uma inovação. Para explicar essas diferenças, Bessant e Tidd (2009) e Possolli (2012) apresentam algumas conceituações. Melhorias: estão associadas a redução de custos e refinamento dos produtos e serviços existentes com foco na otimização do negócio existente. São caracterizadas por ações em que o grau de novidade é pequeno, mas há um impacto mensurável nos resultados. Inovação incremental: é caracterizada por um grau moderado de inovação e costuma ser resultado de um processo estruturado de gestão da inovação. De maneira geral, as inovações incrementais são estimuladas pelo aumento do conhecimento e da competência tecnológica desenvolvida anteriormente e pela sua aplicação para obter , 60 saltos de competitividade. O que caracteriza tais iniciativas como inovações incrementais é o fato de serem uma continuidade de algo já existente. Inovação radical: implica mudanças significativas em produtos, processos e serviços que mudam os mercados e indústrias existentes ou criam outros absolutamente novos. Trata-se de uma transformação drástica que rompe a trajetória de evolução existente, dando origem a novos produtos e atividades, desenvolvendo novos negócios e alterando as regras de competição do mercado. Introduzem novos modelos de negócios. Inovações disruptivas: Muitos autores consideram as inovações radicais como sinônimo das inovações disruptivas. No entanto, a disrupção definida por Christensen vai além do que inovações radicais oferecem, como demonstram Henriques (2018) e Possolli (2012). Para esses autores, disrupção significa romper completamente com as regras em jogo de determinado mercado, alterando o relacionamento entre fornecedores, distribuidores e clientes. Mercados totalmente novos são criados e categorias de produtos inteiramente novas são desenvolvidas. Com base no conceito criado por Christensen, as inovações incrementais e radicais são inovações sustentadoras, pois procuram atender os desejos e necessidade de grandes parcelas dos mercados atuais, ainda que a partir de produtos completamente novos, obtidos com inovação radical. As inovações disruptivas têm início em pequenas parcelas do mercado, normalmente não atendidas pelos modelos de negócios existentes. Dão origem a novos mercados e modelos de negócios com soluções mais eficientes do que as existentes. Essas inovações desestabilizam os concorrentes que dominavam o mercado porque oferecem soluções mais simples e mais baratas do que as existentes, ou algo que o público não tinha acesso. Começam a atender uma pequena parte do público até que dominam todo o segmento. O avanço da tecnologia, especialmente as tecnologias da informação e da comunicação (TICs), tem papel relevante na produção de inovações disruptivas. Esse , 61 desenvolvimento tecnológico permite que as inovações sejam desenvolvidas com menor custo e sejam produzidas de maneira mais barata e com mais eficiência Os exemplos são inúmeros, tais como os serviços em streaming como Netflix, que oferece uma ampla variedade de filmes e séries, com custos menores que os serviços de TV a cabo. Viabilizado pela ampliação do acesso à internet com o desenvolvimento dos smartphones e o armazenamento em nuvem. Esses diferentes níveis de intensidade das inovações proporcionam um amplo portfólio aos empreendedores para identificação de novas oportunidades de negócios. 3.4 Ecossistema de Inovação e empreendedorismo O termo ecossistema é utilizado, no contexto da inovação e do empreendedorismo, como a representação de diversos agentes que se articulam para estimular a geração de inovações, criando um ambiente com diversos parceiros em uma rede de trocas caracterizadas pela cooperação. A ideia central é o desenvolvimento de um arranjo colaborativo por meio do qual as diversas partes envolvidas contribuem para a construção das condições favoráveis ao empreendedorismo baseado em inovações, motivo pelo qual também é chamado de ecossistema empreendedor (SALERNO; GOMES, 2018). Para os autores, um ecossistema de inovação vai além da noção de cadeia de valor, pois inclui investidores, provedores de recursos, reguladores e inovadores complementares; além de centros de pesquisa e universidades, constituindo uma rede voltada a um propósito específico e que torna possível aos participantes a criação conjunta de valor. Por esse motivo, as relações que se desenvolvem no ecossistema não são apenas contratuais, mas também de cooperação baseada na percepção de vantagens emcomum. Ferasso (2018), em sua tese de doutorado, realizou uma extensa pesquisa sobre ecossistemas de inovação e consolidou uma representação de sua estrutura conforme figura a seguir. , 62 Figura 3.7 -Representação esquemática de um ecossistema de inovação Fonte: Ferasso (2018, p. 149). Para o autor, a inovação que ocorre no ecossistema é resultado de diversos fatores, tais como a habilidade das organizações em estabelecer e sustentar um conjunto de objetivos coletivos, da maneira como as dependências entre os participantes são gerenciadas e da abrangência da arquitetura de participação oferecida pelo ecossistema, remetendo à capacidade de o ecossistema ser auto-organizado e fornecer apoio para a criação e compartilhamento de valor. No Brasil, os ecossistemas de inovação e empreendedorismo são representados pelos Parques Tecnológicos, que integram o Programa Nacional de Incubadoras e Parques Tecnológicos, destinado a estimular a integração entre os agentes do sistema de inovação nacional, com diversas ações relacionadas ao financiamento, incentivos, qualificação de incubadas e promoção internacional de parques. De acordo com a Secretaria de Inovação, Os Parques Tecnológicos são complexos de desenvolvimento econômico e tecnológico que visam fomentar e promover sinergias nas atividades de pesquisa científica, tecnológica e de inovação entre as empresas e , 63 instituições científicas e tecnológicas, públicas e privadas, com apoio dos governos federal, estadual e municipal, comunidade local e setor privado (BRASIL, s. d., s.p.). Dessa forma, esses ecossistemas viabilizam o desenvolvimento e a exploração comercial de novas ideias e tendências tecnológicas, além de estimular o desenvolvimento das regiões nas quais estão instalados, uma vez que promovem um ambiente colaborativo baseado em uma infraestrutura adequada ao desenvolvimento e interação de empresas, institutos de pesquisa e universidades. De acordo com a Secretaria de Inovação, em 2018 havia 47 Parques Tecnológicos distribuídos por todo país, conforme tabela regional a seguir. Quadro 3.3 – Parques Tecnológicos da região Centro-Oeste Fonte: elaborado pela autora com base em Brasil (2018). 3.5 A Hélice Tripla da Inovação Como vimos no ecossistema de inovação, um elemento fundamental na geração e gestão de inovações é a colaboração entre empresas e universidades, que constitui uma prática bem-sucedida, pois resulta em inovação de produtos e processos baseados nas pesquisas realizadas na academia. Além disso, as parcerias permitem que as empresas tenham acesso ao capital humano necessário ao seu quadro de pessoal. No entanto, para articular essa parceria, e apoiar os resultados obtidos, é também requerida a participação dos governos. Região nº de parques Centro-oeste 4 Nordeste 7 Norte 2 Sudeste 19 Sul 15 Total 47 , 64 A Hélice Tripla7 da figura a seguir mostra essa relação, ilustrando a cooperação entre universidade, governo e as empresas. Figura 3.8 – Hélice tripla da inovação Fonte: Salim; Silva (2010, p. 222). O modelo recebeu o nome a partir da suposição de que cada um dos participantes assume o papel de uma hélice que movimenta a espiral: as empresas geram receitas e pagam impostos ao governo, que transfere recursos para as universidades realizarem pesquisa e produzir ideias inovadoras, que são transferidas para as empresas. Nesse processo, há uma evolução cooperativa entre os agentes institucionais que participam: • as universidades passam a se preocupar em licenciar patentes e em criar empresas de base tecnológica em suas incubadoras; • as empresas contratam cientistas para promover a inovação internamente e interagir com as universidades, além de conduzirem o treinamento de seus empregados para níveis mais altos de qualificação acadêmica; 7 Alguns autores atribuem a denominação de Triângulo de Sábato à essa hélice, em uma referência ao argentino Jorge Sábato, que apresentou proposta com objetivo e estrutura semelhantes em um congresso, destinado a viabilizar a redução das importações nos países sul-americanos. (SALIM; SILVA, 2012, p. 221) , 65 • o governo participa mais do processo para controlar os resultados e ajudar a resolver as dificuldades de percurso. De acordo com Luís Felipe Maldaner (ANPROTEC, 2019), a configuração da hélice tripla no Brasil, exemplificada pela Rede Nacional de Associações de Inovação e Investimentos (RNAII) é composta por representantes do três setores, sendo 150 instituições de pesquisa, mais de 300 gestores de núcleos de inovação, cerca de 370 ambientes de inovação, entre incubadoras, aceleradoras, parques tecnológicos e espaços de coworking, mais de 12 mil startups, mais de sete mil investidores anjos, e mais de 200 empresas inovadoras. Conclusão Inovação e empreendedorismo são indissociáveis, uma vez que uma característica central do comportamento empreendedor é a utilização de recursos para resolução de problemas, assumindo riscos calculados para isso. A partir de uma ideia, o empreendedor aplica esforços para gerar invenções, cuja aplicação em novos produtos e processos gera inovações. Para geração e avaliação de ideia, alguns modelos são apresentados, como o modelo de funil e o de inovação aberta. Enquanto o modelo de funil tipicamente atua a partir de conhecimentos gerados internamente às organizações, o modelo de inovação aberta é estruturado e se desenvolve com interação entre os ambientes internos e externos. Para transformar conhecimento em inovação, é necessário diferenciar dado, informação e conhecimento, e depois aplicar atividades de gestão do conhecimento nas etapas do processo de inovação, que podem gerar inovações de produto, processo, posição e paradigma. Dependendo da intensidade da inovação desenvolvida, ela poderá ser classificada como incremental, radical ou disruptiva. Para estimular um ambiente propício à inovação, são estruturados os ecossistemas cujos integrantes atuam em cooperação e colaboração para viabilizar o desenvolvimento e a exploração comercial de novas ideias e tendências tecnológicas. , 66 A base desses ecossistemas é a parceria entre empresas, universidades e governos, configurando a hélice tripla de inovação e empreendedorismo. 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Ao longo de vários séculos, o capital e a mão de obra eram os fatores considerados como elementos centrais para o crescimento econômico, enquanto o conhecimento e o capital intelectual ocupavam papel de coadjuvantes. Essa nova economia é baseada no uso intensivo de conhecimentos para criação de bem-estar social, como mostra o quadro de Mattos e Guimarães (2012). Quadro 4.1 – Comparação entre a velha e a nova economia Fonte: Mattos e Guimarães (2012, p. 30-31). , 69 Enquanto na era industrial os avanços foram conquistados com a mecanização, que substituiu a mão de obra por máquinas, na nova economia o avanço se dá com a utilização de conhecimento e informação. O rápido desenvolvimento de novas tecnologias, especialmente da informação e comunicação, ocupa papel central na prmçã ds invços n criçã d chmd “scidd d inrmçã”. Iss ocorre porque essas tecnologias permitem a manipulação, armazenagem e distribuição do conhecimento de maneira cada vez mais rápida, com qualidade e para um número maior de pessoas (MATTOS; GUIMARÃES, 2012). Para Reis (2018), a tecnologia, ao aplicar novos métodos e novos produtos nos meios de produção, gera reflexos socioeconômicos sobre uma comunidade. Enquanto isso, a inovação está relacionada aos fatores comerciais e econômicos, pois uma tecnologia se transforma em inovação quando é produzida pelas empresas e colocada à disposição da sociedade. 4.1 Tecnologia e economia digital O aparecimento da Internet intensificou o processo de globalização, não apenas pelo próprio acesso à rede mundial de computadores, mas também pela redução das distâncias globais com acesso muito mais rápido às informações e o avanço dos meios de comunicação. Por sua vez, a evolução dos meios de comunicação trouxe uma evolução na economia mundial com o surgimento do comércio eletrônico. O crescimento acelerado desse tipo de comércio provocou mudanças na maneira como as transações comerciais passaram a ser realizadas, bem como na forma como produtos e serviços são oferecidos (SILVA; ALMEIDA; MARTINS, 2017). Nessa perspectiva, a economia digital é compreendida como o processo de convergência entre as tecnologias da informação e as da comunicação por meio da internet e outras redes digitais. É um modelo econômico no qual a sociedade utiliza uma infraestrutura global de telecomunicação que permite comunicação, interação, planejamento, busca e aquisição de bens e serviços. Logo, a interação virtual ocorre não apenas entre pessoas, mas entre governos e mercados, que se comunicam e , 70 realizam transações online configurando um novo cenário econômico e uma nova forma de pensar a própria economia (ITS RIO, 2017; REIS, 2018). A lógica do mercado aos poucos vai sendo questionada por novas formas de relações econômicas, cuja base é o compartilhamento e a colaboração, viabilizados pela conectividade proporcionada por tecnologias baseadas em sistemas, alterando a cultura econômica. Essas mudanças são estimuladas pela pressão do mercado e por manifestações sociais que se utilizam dessas novas conexões em rede. No contexto da economia digital e em rede, informação e conhecimento são os principais capitais necessários para gerar inovações, especialmente por viabilizar o acesso às informações necessárias ao processo empreendedor. Além disso, o acesso ao mercado consumidor se amplia à medida que novos usuários são integrados à rede mundial, o que reduz as fronteiras entre consumidores e produtores e contribui para acelerar a fase de crescimento e maturação de novos negócios (ITS RIO, 2017; SALERNO, 2018). O amplo acesso à internet e a redução dos custos para aquisição de novas tecnologias, algumas delas podendo ser obtidas gratuitamente na própria rede, oferecem novas alternativas econômicas para geração de trabalho e renda, tornando-se um fator relevante para impulsionar as inovações, além de simplificar e reduzir os custos de produção. Assim, novos espaços são abertos e beneficiam o empreendedorismo, viabilizando o acesso a oportunidades de negócios antes impossíveis de acessar pelo alto investimento requerido. Como a inovação não apenas promove produtividade como dá condições para se criar novas e melhores formas de produzir, gera novas oportunidades e investimentos. O empreendedorismo, neste contexto, é um dos principais vetores para o crescimento econômico e social de um país (ITS RIO, 2017). Em síntese, a economia digital aos poucos avança e torna o empreendedorismo agente central em gerar prosperidade. Em um cenário econômico mais cooperativo e aberto, disponibilizado pelos recursos disponíveis em uma plataforma em rede, o empreendedor encontra acesso a todos os fatores produtivos necessários para o desenvolvimento de sua atividade. Cabe destacar, porém, que esse crescimento depende da implementação de ambientes conectados e dinâmicos, que sustentem valores próprios e, principalmente, que exijam atenção à disseminação dos recursos , 71 necessários e disponíveis no mercado para seu desenvolvimento. O objetivo é envolver todos os participantes do processo, tornando-os capacitados a participar. 4.2 Inovação e o desenvolvimento tecnológico O desenvolvimento tecnológico é um fator central nas análises econômicas como forma de proporcionar competitividade às empresas, inclusive no ambiente internacional, a partir do progresso das tecnologias. No entanto, introduzir novas tecnologias é um desafio considerando as limitações impostas pelos recursos disponíveis, conhecimento acumulado sobre as tecnologias apropriadas às atividades e da situação do país na qual as empresas estão instaladas. Também deve ser considerada a capacitação dos trabalhadores e sua adequação aos requisitos das novas tecnologias. Portanto, a utilização de novas tecnologias está associada ao estágio tecnológico dos agentes produtivos envolvidos: mão de obra, produtores e governo (HENRIQUES, 2018; MATTOS; GUIMARÃES, 2012). As rápidas mudanças da tecnologia, e a sua variedade, exigem que a organização se mantenha atualizada em relação ao estágio tecnológico do seu setor para que o processo de tomada de decisão seja realizado de maneira consistente. As escolhas realizadas tem impacto sobre diversos aspectos empresariais, incluindo os recursos humanos e o desenho de seus processos, por isso, selecionar e escolher tecnologias é uma questão estratégica nas organizações. Em suma, uma tecnologia apropriada é aquela que impulsiona a estratégia e d empresa uma vantagem sustentável, o que direciona para o descarte daquelas que, apesar de apresentarem avanços científicos, não estão alinhadas à estratégia central da empresa (MATTOS; GUIMARÃES, 2012). Dessa forma, podemos concluir que a adoção de uma nova tecnologia deve proporcionar vantagem competitiva à empresa, ou, aumentar o valor do produto e reduzir os custos da sua produção e oferta ao mercado. O potencial da tecnologia para aumentar valor e reduzir custos é grande, no entanto, é preciso que a gestão organizacional avalie os diferentes fatores envolvidos na redução de custos para , 72 definir em que medida esses custos reduzidos podem reduzir o potencial de diferenciação da empresa (MATTOS; GUIMARÃES, 2012; REIS, 2018). Ao avaliar os investimentos em tecnologia, com o propósito de gerar inovações, as organizações precisam estar atentas à sua capacidade de financiamento e às condições necessárias à aplicação dessa tecnologia, tais como a exigência de novas instalações ou modificações nas existentes. Cabe destacar, que os projetos desse tipo apresentam algum grau de incerteza, além de custos ocultos, como mostra a figura a seguir. Figura 4.1 – Custos ocultos da tecnologia Fonte: Mattos e Guimarães (2012, p. 112). A estrutura de custos apresentada na figura 4.1 demonstra a necessidade de planejamento para odesenvolvimento de inovações tecnológicas. Sob essa ótica, Trott (2012) apresenta os fatores críticos de sucesso, que devem servir de base aos , 73 investimentos para geração de inovações tecnológicas que resultem em produtos de sucesso. Figura 4.2 – Fatores críticos de sucesso para inovações tecnológicas Fonte: Trott (2012, p. 85). A figura 4.2 demonstra a complexidade do processo de inovação tecnológica e a necessidade de a empresa administrar esse processo com eficiência. Como fator central da estrutura presente na figura, a Viabilidade Tecnológica depende do estágio de desenvolvimento tecnológico envolvido. É a atenção a esse fator que contribui para uma análise do potencial de uma ideia, como base da inovação, se converter em produtos que serão aceitos pelo mercado, bem como dos custos envolvidos nesse processo. 4.3 Padrões de evolução tecnológica Compreender a evolução dos padrões de tecnologia é essencial para que o empreendedor acompanhe as mudanças que podem impactar seu negócio, pois a tecnologia é um componente importante do ambiente das empresas. As mudanças tecnológicas, ao longo do tempo, têm contribuído, tanto para criar oportunidades de novos negócios e para o crescimento de empresas novas e inovadoras, como para destruição de empresas e setores. É importante compreender que cada tecnologia é , 74 desenvolvida para competir e substituir outras tecnologias, mas antes disso, ela passa por períodos de evolução até o final de sua vida útil. Esses ciclos contínuos iniciam com uma nova tecnologia que substitui a anterior, e depois é superada e substituída por uma nova (MATTOS; GUIMARÃES, 2012; REIS, 2018). Por isso, compreender a evolução de uma tecnologia é um fator crítico de sucesso para o empreender. Dois modelos são utilizados para compreender essa evolução: o modelo de Foster, também chamado de Curva S, e o modelo de Abernathy-Utterback. Cada um desses modelos traz perspectivas diferentes na análise do processo. A. Modelo de Foster ou Curva S É um instrumento mais simples e prático para compreender o processo de evolução, que explica o desempenho de uma tecnologia específica. O crescimento é lento na fase inicial e mais rápido na fase seguinte, ficando mais lento novamente quando alcança seu limite técnico. Para Mattos e Guimarães (2012), o aumento do desempenho da tecnologia ao longo da curva S é explicado pela geração de inovação incremental. Esse comportamento é ilustrado em quatro fases: • Fase 1: evolução pequena ao longo do tempo, é necessário realizar elevado investimento para gerar um resultado discreto; • Fase 2: grande evolução em termos de resultados e performance, com investimento menor; • Fase 3: queda na taxa de evolução ao longo do tempo; • Fase 4: observa-se um salto para nova curva ou a tecnologia é substituída; A figura a seguir ilustra as fases da evolução de uma tecnologia com base no Modelo de Foster. , 75 Figura 4.3 –Modelo de Foster ou Curva S Fonte: Mattos; Guimarães (2012, p. 72). O modelo propõe que o desempenho de uma tecnologia aumente em taxa lenta na fase inicial e mais rapidamente na fase seguinte, a velocidade é novamente reduzida porque a tecnologia atinge seus limites. Trott (2012), detalha um pouco mais essa análise da evolução da tecnologia por meio da Curva S. O progresso lento inicial é comparável a uma linha horizontal; o progresso rápido, medida que o conhecimento é adquirido, é comparável a uma linha vertical, e o progresso lento até o final é comparável a uma linha horizontal. Normalmente, nesse ponto uma nova tecnologia substitui a tecnologia existente; na realidade, é necessário que isso ocorra se quisermos que os avanços continuem (TROTT, 2012, p. 197). Em resumo, tecnologias novas são criadas por meio de inovação radical ou disruptiva e apresentam desempenho inferior comparado com a tecnologia antiga. A evolução desse novo padrão de tecnologia o torna o projeto dominante, ou seja, um produto ou combinação de componentes de um produto aceito pelo mercado por atender maior parte das necessidades dos clientes. Ele supera, e muitas vezes substitui, a tecnologia anterior. À medida que uma nova tecnologia surge, o ciclo se repete. A proposta do modelo da Curva S é a de que os ciclos se mantêm indefinidamente, alternando tecnologias maduras e novas tecnologias. , 76 B. Modelo de Abernathy e Utterback Nesse modelo, seus autores também classificam a evolução de uma tecnologia em fases, sendo duas principais e uma de transição, como demonstram Mattos e Guimarães (2012). • Fase fluída: é a fase inicial na qual a tecnologia é desenvolvida, antes de se tornar dominante; • Fase específica: ocorre após a transformação da tecnologia em projeto dominante; • Fase transição: é aquela na qual uma inovação realiza a transição da inovação de produto para a inovação de processo. É um modelo útil para demonstrar o comportamento de um determinado mercado e de suas organizações conforme as tecnologias amadurecem. Seus autores argumentam que organizações de menor porte e com visão empreendedora promovem inovações de produtos, enquanto empresas maiores, cujo foco é a gestão de custos, são responsáveis por gerar inovações de processo. Dessa forma, o modelo procura capturar o cenário no qual o nascimento de um setor de mercado promove uma inovação radical de produto, seguida de uma transformação dos processos de produção, acompanhados de inovações incrementais (MATTOS; GUIMARÃES, 2012; TROTT, 2012). A figura a seguir mostra a mudança na taxa de inovação e a transição da inovação de produto para a inovação de processo. , 77 Figura 4.4 –Modelo de Abernathy e Utterback Fonte: Mattos; Guimarães (2012, p. 74). O foco da inovação em produtos novos ou melhores está nas fases iniciais da tecnologia, decorrente da identificação de necessidades ou problemas do mercado consumidor. É uma fase com diversificação no desenvolvimento de produtos customizados. Os produtos utilizam os equipamentos disponíveis com componentes padronizados. De maneira geral, essa fase engloba empresas mais dinâmicas, como as startups (MATTOS; GUIMARÃES, 2012; TROTT, 2012). De acordo com os autores, o projeto dominante surge na fase seguinte, que desalinha a concorrência porque algumas empresas não têm capacidade para operar a nova tecnologia e saem do mercado. Nesse momento, pode ocorrer uma descontinuidade tecnológica em virtude de inovação radical. Depois, o foco da tecnologia se desloca para obtenção de melhorias incrementais de produtos ou em processos melhores para reduzir os custos de produção. Os produtos e os processos se tornam padronizados para proporcionar escala de produção, o que determina quais empresas terão sucesso com a aplicação da nova tecnologia. , 78 4.4 Empresas de base tecnológica (EBTs) As empresas de base tecnológica (EBTs) são empreendimentos relativamente recentes, de maneira geral, pequenos negócios originados a partir de grandes empresas e grandes laboratórios, em campos como eletrônicos, software e biotecnologia. Sua especialidade é a oferta de componentes, subsistemas, técnicas ou serviços cruciais para grandes empresas, as quais podem muitas vezes ser suas ex-empregadoras. Grande parte das EBTs em eletrônicos e softwares surgiu de laboratórios corporativos e do governo, envolvidos em atividades de desenvolvimento e teste. Com a evolução da biotecnologia e da demanda por softwares, laboratórios de universidades com centros de pesquisa se tornaram fontes regulares de EBTs (BESSANT; TIDD, 2009). Para Santos e Pinho (2010), analisar as características das EBTs permite compreender a dinâmica de crescimento dessas empresas, que participam ativamente das mudanças tecnológicas, em segmentos genéricos, cujas plataformas tecnológicas se destinam a múltiplos usos e geram mercados amplos, em atividades relacionadas à biotecnologia e à microeletrônica. Outras EBTs operam em mercados específicos e delimitados de pequena extensão – nichos de mercado–, como a prestação de serviços especializados. Em uma definição mais ampla, elaborada pelo Sebrae a partir da definição de empresas de alta tecnologia do Office of Technology Assesment (OTA), as EBTS são: Micro e pequenas empresas de base tecnológica, são empresas industriais com menos de 100 empregados, ou empresas de serviço com menos de 50 empregados, que estão comprometidas com o projeto, desenvolvimento e produção de novos produtos e/ou processos, caracterizando-se, ainda, pela aplicação sistemática de conhecimento técnico-científico. Estas empresas usam tecnologias inovadoras, têm uma alta proporção de gastos com P&D, empregam uma alta proporção de pessoal técnico científico e de engenharia e servem a mercados pequenos e específicos (SEBRAE, 2011, p. 7). Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, essas EBTs apresentam características semelhantes, tais como um nível tecnológico relativamente baixo, desenvolvimento de produtos para um grupo de clientes já estabelecido, dependência de tecnologia importada e atuação centrada no aperfeiçoamento de tecnologias. Em alguns países, , 79 elas funcionam como agentes de difusão tecnológica e sua maior contribuição ao desenvolvimento tecnológico está na aquisição, transformação e disseminação de tecnologias existentes em plataformas de inovação (SANTOS; PINHO, 2010). Em países desenvolvidos, as EBTs são consideradas responsáveis por oferecer produtos e serviços inovadores, cuja proposta de valor é mais vantajosa, tendo em vista a utilização de mão de obra altamente qualificada e por obter recursos externos ao país com o recebimento de royalties ou resultados de participação acionária em negócios do exterior (NAKAGAWA, 2008). As empresas de base tecnológica podem ser classificadas de acordo com a frequência, o alcance e o modo de inovação, ou seja, de acordo com as diferentes ênfases em inovações de produto e processo e, particularmente, ao foco dos esforços inovativos – modificações incrementais, novo design ou novidades mais amplas. A partir dessa classificação, Santos e Pinho (2010), apresentam os grupos do quadro a seguir. Quadro 4.2 – Classificação das EBTs Grupo 1 EBTs que se apoiam em ideias e conceitos vinculados a tecnologias já estabelecidas, desenvolvendo aplicações que alargam o escopo original da inovação. Como exemplo desse grupo, o autor apresenta estabelecimento de uma firma para produzir roupas à prova de água. Em geral, as EBTs desse tipo não possuem capacidades e habilidades técnicas específicas, podendo ser caracterizadas por uma intensidade tecnológica limitada. Grupo 2 EBTs baseadas em tecnologias realmente novas. Para elas, a ausência de rivais estabelecidos é muito benéfica, implicando que essas empresas não precisam competir com outras capazes de produzir os produtos que irão desenvolver. Por isso, a taxa de sobrevivência dessas firmas pode ser maior do que para aquelas baseadas no conceito de projeto, já que a , 80 base de clientes se dirigirá para a nova tecnologia como única opção de consumo disponível. Nesse subgrupo incluem-se muitas EBTs de microeletrônica e biotecnologia. Grupo 3 EBTs baseadas em tecnologia consolidada de nicho de mercado. Essa categoria é formada por firmas que foram bem- sucedidas no desenvolvimento de tecnologias, mas, devido à maturação de seus ativos tecnológicos, estabilizaram-se e apresentam um baixo crescimento. Buscam combinar os conhecimentos sobre as preferências de seus usuários com habilidades já estabelecidas para desenvolver novos produtos por meio de inovações incrementais. O principal risco enfrentado por elas advém das mudanças tecnológicas introduzidas por novas firmas, que podem destruir suas competências. Esse tipo de firma é comum nos setores de produção de máquinas, equipamentos médicos e cirúrgicos, softwares e instrumentos de precisão. Fonte: elaborado pela autora com base em Santos e Pinho (2010, p. 216-217). Em qualquer que seja o grupo de classificação, Nakagawa (2008) destaca que as EBTs foram criadas por empreendedores diferenciados e que proporcionam resultados relevantes. Eles souberam aproveitar os desafios dos ciclos de desenvolvimento tecnológico para expandir os negócios, conduzindo suas empresas a outros países, muitas vezes, tornando-as exemplos de competição global. No Brasil, o empreendedor de base tecnológica tem sido destacado pela sua formação acadêmica, na qual a Engenharia predomina, e pela sua capacidade de desenvolver pesquisas científicas. Para Nakagawa (2008), trata-se de uma nova geração de empreendedores com grande potencial para geração de riquezas e contribuições relevantes para a promoção de inovações tecnológicas. , 81 4.5 Processo de inovação tecnológica Como vimos nas seções anteriores, a inovação tecnológica é o principal agente de mudanças no cenário socioeconômico, medido pelo progresso social e econômico dos países e pelo sucesso das empresas, que dependem do conhecimento técnico e científico para obter eficiência. Nesse contexto, a inovação tecnológica é um processo que engloba criação, desenvolvimento e o uso disseminado de um novo produto ou processo e sua introdução na economia (HENRIQUES, 2018; REIS, 2018). No ambiente atual, segundo os mesmos autores, as inovações tecnológicas são caracterizadas pelo seu rápido ritmo de mudança, uma vez que os ciclos de vida dos produtos estão cada vez menores. Esse aumento no ritmo das inovações tecnológicas acarreta alterações nos processos das organizações, incluindo os de gestão e de criação de rotinas organizacionais, para facilitar a absorção de novas tecnologias. A adoção de novas tecnologias é baseada em um processo de colaboração intensiva entre vários agentes, que formam uma rede, o que requer facilidade para as organizações estabelecerem relações no ambiente empresarial para garantir a integração da qual depende a inovação tecnológica. O processo tecnológico tem estreita associação com as novas pesquisas científicas que oferecem alto potencial de rendimento. Mesmo em situações nas quais a pesquisa gera grandes rupturas, é preciso estabelecer uma ligação entre o campo científico e o campo tecnológico para intensificar a geração de inovações tecnológicas (HENRIQUES, 2018, REIS, 2018). Dessa forma, o processo de inovação tecnológica não ocorre de maneira linear, a partir de um único evento gerador. Ao contrário, é um processo interativo e que envolve a combinação e a sinergia de muitos fatores, dentre os quais: o domínio de conhecimentos tecno científicos específicos; as necessidades e as atitudes sociais; a procura pelo mercado; o apoio governamental mediante definição de prioridades e aplicação de instrumentos de fomento apropriados; a capacidade de risco do poder público e do setor empresarial; a disponibilidade de capital para investimentos; a qualidade do sistema das tecnologias industriais básica (metrologia científica, normalização, informação científica e tecnológica, gestão da qualidade, propriedade , 82 industrial etc.); a disponibilidade e a qualidade dos serviços de apoio (marketing, design, informação, certificação de qualidade etc.); a dimensão e a qualidade do sistema de educação tecnológica; a dimensão, a qualidade e o perfil da base tecno científica local, regional e nacional etc. (REIS, 2018, p. 57). A evolução da tecnologia também considera a difusão tecnológica, ou seja, a disseminação e adoção de novas tecnologias, que envolve os processos específicos das empresas, dos setores econômicos. Para entender os motivos pelos quais um novo produto é implantado com mais rapidez do que outro, bem como por que uma empresa adota uma tecnologia antes das outras, é preciso avaliar os fatores que refletem na velocidade da difusão de novas tecnologias. Henriques (2018) consolida esses fatores determinantes para a adoção da nova tecnologia, como mostra o quadro a seguir. Quadro 4.3 – Fatores de difusão tecnológica Fatores Descrição Demanda Incerteza, qualificação dos trabalhadores,recursos, grau de diversidade das empresas, intensidade da competição do setor etc. Oferta Padronização dos produtos, reputação, cumprimento do prazo, intensidade competitiva dos fornecedores, atividades de marketing. Características da tecnologia inovadora Vantagem relativa, complexidade, compatibilidade, custo, risco e incerteza, rentabilidade esperada. Fatores institucionais ou de entorno Pressão competitiva, facilidade de financiamento, evolução da tecnologia antiga, fatores políticos etc. Características das empresas adotantes Tamanho, estrutura organizacional, capacidade tecnológica, localização da empresa, estrutura de propriedade, idade da empresa etc. Fonte: Henriques (2018, p. 37-38). , 83 Dessa forma, é possível concluir que as características próprias de cada tecnologia estão no centro da sua difusão, combinadas com os atributos das empresas adotantes, que guiam o processo da ação. Esse processo é influenciado, ainda, por variáveis do ambiente e pelos fornecedores da inovação tecnológica. Para compreender essa trajetória tecnológica, é preciso compreender o conceito de paradigma tecnológico, “Paradigma tecnológico é um modelo e um padrão de soluções de problemas tecnológicos selecionados, baseados em princípios selecionados das ciências naturais e sobre tecnologias materiais selecionadas” (HENRIQUES, 2018, p. 38). Com base no conceito de paradigma tecnológico, a trajetória tecnológica pode ser definida como o modelo de ações e atividades desenvolvidas para solucionar problemas com base em um determinado paradigma tecnológico. É, portanto, o paradigma tecnológico vigente em determinado momento, economia ou setor de atividades que define como se dará a trajetória, e a difusão, das inovações tecnológicas. 4.6 Gestão da inovação tecnológica Como estudamos na unidade 3 desta disciplina, a inovação se tornou fator crítico de sucesso para a sobrevivência das organizações. Contudo, a ação de inovar envolve inúmeros fatores que agem separadamente, mas que em geral, influenciam uns aos outros, trazendo grande complexidade ao processo inovador. Por um lado, a gestão da organização implica reduzir as incertezas em relação ao ambiente e aos resultados, garantindo a maximização dos capitais empregados. De outro lado, a gestão do processo de inovação tecnológica exige o desenvolvimento e o estímulo do potencial criativo da organização, requerendo incentivo à geração de ideias e a promoção da criatividade (TROTT, 2012). A gestão da tecnologia é uma área recente, cujos conceitos estão em construção e ainda em fase de mudanças. Mattos e Guimarães (2012), apresentam uma tipologia básica acerca da gestão da tecnologia em uma matriz como a figura a seguir. , 84 Figura 4.5 - Matriz da tipologia da gestão da tecnologia Fonte: Mattos; Guimarães (2012, p. 62). Para os autores citados, definições mais limitadas da gestão da tecnologia costumam abordar apenas os aspectos relacionados ao gerenciamento do processo de criação de tecnologias, no entanto, eles argumentam que esse tipo de gestão deve englobar as atividades de planejamento, organização, execução e controle de atividades empresariais desenvolvidas em ambientes intensivos em tecnologia. É por isso que o conceito avança para gestão da inovação tecnológica, articulando tanto o processo de criação como o de uso de tecnologias. Sob tal enfoque, a gestão da inovação tecnológica em uma organização deve ser suportada por cinco papéis: 1. identificar as demandas tecnológicas internas e externas – mercado – organização; 2. identificar as ofertas tecnológicas internas e externas organização; 3. fazer com que as ofertas existentes efetivamente satisfaçam às demandas identificadas; 4. fomentar interna e/ou externamente o desenvolvimento de ofertas para as demandas não atendidas; 5. fomentar interna e/ou externamente demandas para ofertas que ainda não encontraram aplicações, mas que têm potencial de difusão. (MATTOS; GUIMARÃES, 2012, p. 64). Nesse contexto, o processo de gestão das inovações tecnológicas atua no sentido de coordenar, mobilizar e integrar os recursos e os agentes internos aos externos para explorar oportunidades tecnológicas e de mercado, articulando essas oportunidades às estratégias da organização. Nesse contexto, a gestão da inovação tecnológica tem por , 85 objetivo estruturar e sistematizar as rotinas e processos para que as inovações estejam alinhadas ao planejamento estratégico da organização (QUADROS; VILHAS, 2007). O desafio de obter um modelo que atenda diferentes portes e segmentos das organizações resulta na necessidade de adaptar o processo de gestão de acordo com as prioridades e recursos disponíveis. Nesse sentido, os autores apresentam um modelo no qual processos e ferramentas são utilizados, de maneira genérica, para a gestão das inovações tecnológicas. Figura 4.6 –Modelo de gestão estratégica para inovação tecnológica Fonte: elaborada pela autora com base em Quadros e Vilha (2007, p. 130). Os autores descrevem os processos e as ferramentas que integram as etapas demonstradas no modelo (figura 4.6), no entanto, alertam sobre o fato de as etapas acontecerem em uma sequência lógica, mas não necessariamente temporal. O quadro a seguir apresenta o detalhamento das etapas. , 86 Quadro 4.4 – Processos do modelo de gestão da inovação tecnológica Etapa Processos Mapeamento Mapeamento e prospecção de oportunidades, compreendendo ferramentas de identificação de oportunidades de mercado, riscos e oportunidades estratégicas e monitoramento do ambiente competitivo, tecnológico e regulatório, com o intuito de criar inteligência que oriente a geração de novos projetos de inovação. Seleção Seleção estratégica das oportunidades, compreendendo ferramentas de gerenciamento do portfólio de projetos de inovação, de forma alinhada aos objetivos e metas estratégicas da empresa. Essa é a etapa em que as grandes linhas ou programas do portfólio de projetos são definidas à luz das prioridades estratégicas da empresa. Mobilização Mobilização de fontes internas e externas, compreendendo ferramentas de apoio à tomada de decisão com relação ao outsourcing ou internalização da P&D, como o mapeamento de competências externas e internas e a avaliação da localização da P&D. Outro elemento crítico da fase de mobilização é a engenharia de financiamento da inovação. Implementação Implementação dos projetos de inovação, compreendendo ferramentas de alinhamento estratégico da execução dos projetos, tais como o funil de inovação, além dos procedimentos organizacionais e estruturais necessários à criação de ambiente propício para a inovação tecnológica, como a organização de times multifuncionais de inovação e sistemas de , 87 reconhecimento e remuneração que promovam a inovação. Também nessa etapa são definidas as ferramentas de gestão das parcerias externas, do financiamento da inovação e da propriedade intelectual. Avaliação Avaliação do processo de gestão da inovação tecnológica, compreendendo a realização de métricas, utilizando indicadores de resultados, da qualidade dos processos e de impacto na organização, nos consumidores e no ambiente. Fonte: elaborado pela autora com base em Quadros e Vilha (2007, p. 131). Uma análise mais detalhada das etapas e de seus processos leva à conclusão de que, em virtude do papel das inovações tecnológicas no sucesso dos negócios, a habilidade das organizações em gerenciar todas as etapas do processo determinará a obtenção de vantagens competitivas duradouras que garantirão a sua sobrevivência e o seu crescimento. Conclusão Inovação e tecnologia são, no ambiente atual, os combustíveis que movimentam a economia. Ao longo de vários séculos, o capital e a mão de obra eram os fatores considerados como elementos centrais para o crescimento econômico, enquanto conhecimento e capital intelectual ocupavam papel de coadjuvantes. Essa nova economia é baseada no uso intensivo de conhecimentos paracriação de bem-estar social. A economia digital é compreendida como o processo de convergência entre as tecnologias da informação e as da comunicação por meio da internet e outras redes digitais. É um modelo econômico no qual a sociedade utiliza uma infraestrutura global de telecomunicação que permite comunicação, interação, planejamento, busca e , 88 aquisição de bens e serviços. Ela torna o empreendedorismo agente central para geração de prosperidade. Em um cenário econômico mais cooperativo e aberto, disponibilizado pelos recursos disponíveis em uma plataforma em rede, o empreendedor encontra acesso a todos os fatores produtivos necessários para o desenvolvimento da sua atividade. O processo de inovação tecnológica é complexo e requer das empresas uma administração eficiente desse processo. Como fator central da estrutura presente na figura, a Viabilidade Tecnológica depende do estágio de desenvolvimento tecnológico envolvido. É a atenção a esse fator que contribui para uma análise do potencial de uma ideia, como base da inovação, se converter em produtos que serão aceitos pelo mercado, bem como dos custos envolvidos nesse processo. As mudanças tecnológicas, ao longo do tempo, têm contribuído, tanto para criar oportunidades de novos negócios e para o crescimento de empresas novas e inovadoras, como para destruição de empresas e setores. É importante compreender que cada tecnologia é desenvolvida para competir e substituir outras tecnologias, mas antes disso, ela passa por períodos de evolução até o final de sua vida útil. Esses ciclos contínuos iniciam com uma nova tecnologia que substitui a anterior, e depois é superada e substituída por uma nova. Os modelos de Foster (Curva S) e de Abernathy- Utterback trazem perspectivas diferentes na análise do processo. As empresas de base tecnológica apresentam características diferentes quando localizadas em países emergentes ou desenvolvidos, sendo responsáveis pela criação de novas tecnologias ou atuando como agentes de sua difusão e disseminação. Criadas por empreendedores tecnológicos, proporcionam resultados relevantes. O processo de inovação tecnológica não ocorre de maneira linear, a partir de um único evento gerador. Ao contrário, é um processo interativo e que envolve a combinação e a sinergia de muitos fatores. A evolução da tecnologia também considera a difusão tecnológica, ou seja, a disseminação e adoção de novas tecnologias, que envolve os processos específicos das empresas, dos setores econômicos. Com base no conceito de paradigma tecnológico, a trajetória tecnológica pode ser definida como o modelo de , 89 ações e atividades desenvolvido para solucionar problemas com base em um determinado paradigma tecnológico. É, portanto, o paradigma tecnológico vigente em determinado momento, economia ou setor de atividades que define como se dará a trajetória, e a difusão, das inovações tecnológicas. A gestão da tecnologia é uma área recente, cujos conceitos estão em construção e ainda em fase de mudanças. Esse tipo de gestão deve englobar as atividades de planejamento, organização, execução e controle de atividades empresariais desenvolvidas em ambientes intensivos em tecnologia. É por isso que o conceito avança para a gestão da inovação tecnológica, articulando tanto o processo de criação como o de uso de tecnologias. REFERÊNCIAS BESSANT, J; TIDD, J. Inovação e Empreendedorismo. Porto Alegre: Bookman, 2009. HENRIQUES, S. H. Gestão da inovação e competitividade. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2018. ITS RIO - Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio. Empreendedorismo na economia em rede. 24 out. 2017. Disponível em: <https://bit.ly/32ormqP>. Acesso em: 03 jul. 2020. MATTOS, J. R. 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São Carlos, SP: abr./jun. 2010. Disponível em: <https://bit.ly/2JxfxI7>. Acesso em: 05 jul. 2020. SEBRAE.MPEs de Base Tecnológica: conceituação, formas de financiamento e análise de casos brasileiros. Jul. 2001. Disponível em: <https://bit.ly/3oSJsdS>. Acesso em: 05 jul. 2020. SILVA, A. M. C. da; ALMEIDA, M. Q. de; MARTINS, V. T. P. Computação, comércio eletrônico e prestação de serviços digitais: sua tributação pelo ICMS e ISS. São Paulo: Almedina, 2017. TROTT, P. Gestão da inovação e desenvolvimento de novos produtos. (Patrícia Lessa Flores da Cunha et al., trad.) 4 ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. , 91 5 EMPREENDEDORISMO SUSTENTÁVEL A discussões sobre os impactos das atividades econômicas sobre o meio ambiente, e a sociedade como um todo, têm início na década de 1960, com os questionamentos acerca do modelo econômico vigente. Diversas comissões foram formadas e congressos mundiais foram realizados para refletir e discutir o tema, resultando na formação do conceito de desenvolvimento sustentável. Ele é entendido como o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das futuras gerações de satisfazer as suas. Em outras palavras, o desenvolvimento sustentável é aquele que contribui para resolver os problemas atuais e a garantia da vida, com a proteção e manutenção dos sistemas naturais que a tornam possível (BORGES, 2014; RAUFFLET; BRES; FILION, 2014). Esse conceito de desenvolvimento sustentável articula o tripé social-econômico- ambiental, também chamado de triple bottom line. O objetivo é obter equilíbrio entre a rentabilidade financeira e o crescimento econômico com a justiça, o bem-estar social, a conservação ambiental e a utilização racional dos recursos naturais. A partir desse conceito, são discutidas novas formas de atuação e gestão das empresas, com vista a implementação de mudanças destinadas a converter organizações tradicionais em organizações sustentáveis (BORGES et. al., 2013). A sustentabilidade está na pauta dos diversos agentes sociais: consumidores, empresas, governos e organizações da sociedade civil discutem como integrar o crescimento e o desenvolvimento econômico às questões sociais e ambientais. É nesse contexto que o conceito da sustentabilidade surge como pilar para sustentação de negócios que articulam a obtenção de resultados econômicos à responsabilidade socioambiental. Diversos agentes sociais refletem e discutem políticas públicas, comportamentos e padrões de produção e consumo que equilibrem a busca pela lucratividade do capital e os impactos na sociedade e no meio ambiente. Assim sendo, o empreendedorismo, considerado o grande motor da inovação e do crescimento, enfrenta o desafio de , 92 gerar inovações que equilibrem as relações entre crescimento econômico e a responsabilidade social e ambiental. Assim, a conscientização dos empreendedores acerca da importância da sustentabilidade resulta em oportunidades de negócios alinhadas ao desenvolvimento sustentável (BORGES, 2014; RAUFFLET; BRES; FILION, 2014). O empreendedorismo sustentável, portanto, trata da aplicação dos conceitos e comportamentos empreendedores para a identificação de oportunidades de negócio inovadoras no âmbito social e ambiental.Trata-se da exploração de ideias de negócios relacionadas aos nichos ambiental e social, que harmonizam os ganhos econômicos com as melhorias sociais e ambientais. Sob tal enfoque, [...] o empreendedorismo, que sempre foi visto como um agente de transformação social, em especial para o crescimento econômico, passou, dessa forma, a ser considerado também um veículo que pode colaborar para o desenvolvimento sustentável. [...] Na perspectiva dos empreendedores, o empreendedorismo sustentável apresenta potencial de maximizar lucros na exploração de oportunidades de negócio ligadas ao nicho ambiental ou social, ou, ainda, a possibilidade de colaborar com seu ambiente ou sua comunidade (BORGES, 2014, p. 7-8). O tema empreendedorismo sustentável tornou-se objeto de pesquisa a partir do momento em que os pesquisadores perceberam que as mesmas imperfeições de mercado que geravam problemas ambientais e sociais poderiam resultar em inovações radicais, articulando novas tecnologias e modelos de gestão. Dessa forma, os empreendedores poderiam contribuir para a solução de problemas sociais e ambientais, ao mesmo tempo em que obtém resultados econômicos decorrentes das receitas geradas por esse tipo de inovação (RAUFFLET; BRES; FILION, 2014). Para Raufflet, Bres e Filion (2014), o empreendedorismo sustentável associa dois conceitos econômicos, qual sejam, a economia do bem-estar baseada na ideia que as deficiências de mercado estão na origem dos problemas sociais e ambientais que impedem o alcance dos objetivos do desenvolvimento sustentável; e a economia clássica empreendedora que percebe essas deficiências como uma fonte de oportunidade de negócios. Portanto, o estudo do empreendedorismo sustentável permite compreender como os empreendedores transformarão essas deficiências em , 93 iniciativas para a solução dos problemas socioambientais e obter lucro, simultaneamente. Em resumo, uma definição de empreendedorismo sustentável é assim apresentada pr Candid Brgs (2014, p. 3): “O mprnddrism sustntvl pd sr dinid como a descoberta, o desenvolvimento e a exploração de oportunidades ligadas aos nichos sociais e ambientais que geram ganho econômico e melhoria social e mbintl.” 5.1 Empreendedorismo e desenvolvimento sustentável O empreendedorismo articulado ao desenvolvimento sustentável pode surgir de algumas maneiras, resultando em uma tipologia resultante de três indicadores: o nicho da sustentabilidade que é explorado; os motivos para incorporação da sustentabilidade (meio ou fim) e se os conceitos de responsabilidade social fazem parte do novo negócio. A combinação desses três indicadores resulta em uma consolidação de conceitos, como mostra o quadro a seguir. Quadro 5.1 – Tipos de empreendedorismo sustentável Fonte: Borges (2014, p. 4). Na avaliação de um empreendimento, com o objetivo de identificar a sua tipologia, é preciso considerar que a classificação não é estanque. Alguns negócios podem, por exemplo, articular ações para exploração de mais de um nicho da sustentabilidade. , 94 A. Nichos explorados Nicho ambiental Os negócios originados por esse nicho decorrem das mudanças da sociedade quanto à sua conscientização sobre os impactos do negócio no meio ambiente. São negócios que refletem as perspectivas de produtores e de consumidores preocupados em reduzir os efeitos ambientais causados pelas empresas, conduzindo-os aos produtos e serviços ecologicamente adequados. Esses negócios podem ser classificados em categorias, de acordo com a maneira como o empreender explora a vertente ambiental, como é possível observar no quadro a seguir. Quadro 5.2 - Categorias de negócios ambientais Fonte: Borges (2014, p. 5). Os negócios do nicho ambiental, em qualquer uma de suas categorias, implicam o desenvolvimento de inovações sustentáveis, gerando produtos, serviços e processos que reduzem substancialmente os impactos ambientais e aumentam a qualidade de vida das pessoas (BORGES et. al., 2013). , 95 Nicho social Assim como os negócios ambientais, os decorrentes do nicho social também recebem classificação em categorias, conforme o tipo de produto ou serviço oferecido pelo empreendedor. Essas categorias estão sintetizadas no quadro a seguir. Quadro 5.3 – Categorias de negócios sociais Fonte: Borges (2014, p. 5). Os negócios sociais, conforme as categorias apresentadas, têm sido objeto de discussão dos pesquisadores. Especialmente os negócios na base da pirâmide têm sido questionados como efetivamente sociais em virtude da exploração de oportunidade com o objetivo de gerar lucros. Entretanto, os defensores dessa categoria de negócio social argumentam que a oferta de produtos acessíveis às pessoas da base da pirâmide atende suas necessidades de consumo e melhora a sua qualidade de vida. Apesar desses questionamentos, trata-se de uma categoria cuja aceitação como negócio social tem aumentado nos últimos anos. Qualquer que seja a abordagem da inovação sustentável, com vistas à criação de negócios, é importante destacar que essas inovações se tornam bem sucedidas quando geram vantagem competitiva, com a obtenção de resultados econômicos pela aplicação de práticas ambientais e sociais inovadoras. Esse sucesso é atingido apenas quando os produtos, negócios e as tecnologias desenvolvidos se mostram como , 96 opções viáveis, em relação às alternativas tradicionais disponíveis no mercado (BORGES et al, 2013). B. Papel da sustentabilidade O papel da sustentabilidade no empreendimento pode variar de acordo com os objetivos do empreendedor. Nesse sentido, podem ser identificados dois grupos de empreendedores, como apresentam Borges et. Al. (2013): aqueles que são movidos pela oportunidade e utilizam a sustentabilidade como meio; e os que tem a sustentabilidade como objetivo. Ampliando essa classificação, temos que as ações sustentáveis de cunho ambiental ou social, podem ser o meio ou o objetivo do empreendedor. Para uns, o objetivo principal com o empreendimento é o lucro, e a exploração de um negócio social ou ambiental é o meio utilizado para isso. Para outros, o objetivo é colaborar para o desenvolvimento sustentável, e o lucro proporcionado pelo negócio é apenas um meio de manter uma empresa e um estilo de vida compatíveis com os valores da sustentabilidade. (BORGES, 2014, p. 6) Assim como outros temas relacionados ao empreendedorismo sustentável, se tratando de um tema ainda em construção, a sustentabilidade de um empreendimento também é questionada por alguns autores quando o negócio tem o lucro como objetivo e a sustentabilidade é o meio de obtê-lo. No entanto, já existem argumentos a favor, uma vez que ao explorar o nicho ambiental ou social, os empreendedores criam valor para a sociedade com a oferta de produtos e serviços sustentáveis (BORGES, 2014; DALMORO, 2009). C. Responsabilidade social empresarial Uma distinção que precisa ser feita em relação aos negócios sustentáveis é que o fato de ser baseado em um nicho ambiental ou social não significa que automaticamente a Responsabilidade Social (RSE) está presente. Para compreensão dessa distinção, é necessário conceituar a SER. , 97 [...] responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais (INSTITUTO ETHOS, 2011, apud BORGES et al, 2013 p. 89). Desse conceito pode-se concluir que a RSE está relacionada tanto à responsabilidade social como ambiental. Para distinguir os empreendimentos sustentáveis em relação à aplicação da RSE, vamos utilizar um exemplo. Pode-se, por exemplo, vender placas de energia solar, sem necessariamente adotar práticas de responsabilidade social e ambiental.Mas o contrário também é possível: as empresas nascentes podem adotar práticas de responsabilidade social empresarial. Um empreendedor que vende placas de energia solar, ao adotar, em sua loja, ações de reutilização e reciclagem dos papéis e de água utilizada, pratica a responsabilidade ambiental, e, ao contratar apenas funcionários da comunidade próxima, a responsabilidade social (BORGES, 2014, p. 6). Em conclusão, afirma-se que a adoção de práticas de Responsabilidade Social Empresarial em um negócio sustentável é um elemento adicional que agrega valor ao empreendimento, uma vez que criará maior valor para a sociedade (BORGES, 2014; DALMORO, 2009). 5.2 Empreendedorismo social O contexto no qual o empreendedorismo social se desenvolve é alicerçado nos mesmos fatores que conduziram ao empreendedorismo sustentável de maneira mais ampla. Trata-se dos desafios de ordem social e ambiental originados no sistema econômico vigente, anteriormente desconsiderados ou subestimados, e que se tornaram foco de discussões em nível mundial. As desigualdades sociais e o esgotamento de recursos do meio ambiente conduziram a uma busca de soluções aos desafios enfrentados (SILVA et al, 2019; TISCOSKI, 2017). , 98 Os novos modelos de organizações, decorrentes do enfretamento aos desafios, resultaram em empreendimentos destinados a gerar e oferecer soluções inovadoras, na forma de produtos, processos e tecnologias, para atender as demandas da sociedade, e representam um novo campo de pesquisa para o qual ainda não existem definições únicas e consensuais. Parente et. al. (2011), ao abordar esse tipo de empreendedorismo, argumentam que suas raízes estão no século XIX, quando se percebeu uma alteração na maneira como a caridade era praticada. O ato de dar esmolas aos pobres evolui para um processo mais sistemático e estratégico, com o objetivo de proporcionar resultados mais duradouros. Os autores destacam trabalhos que podem representar esse tipo de caridade estratégica, como mostra o quadro a seguir. Quadro 5.4 – Exemplos de caridade sistemática e estratégica NOME AÇÃO CONTRIBUIÇÕES Florence Nightingale Fundou a primeira escola de enfermagem. Desenvolvimento de práticas modernas de enfermagem na Segunda Guerra Mundial, por meio de reformas profundas nos hospitais do exército inglês. Michael Young Fundou a School for Social Entrepreneurs. Desempenhou um papel central na promoção e legitimação do campo do empreendedorismo social. Maria Montessori Médica italiana, criou um novo método de educação. O método de educação criado consistia na defesa de que cada criança tinha um desenvolvimento único. O sucesso do seu método conduziu à criação de diversas Escolas Montessori. Fonte: elaborado pela autora com base em Parente et al (2011, p. 3). , 99 Muitas discussões foram, e ainda têm sido realizadas para obtenção de um conceito de empreendedorismo social. Atualmente, esse conceito estabelece que o empreendedorismo social está pautado na criação de valor social e na introdução de inovações para gerar transformações na sociedade. A inserção da dimensão econômica e da lógica de mercado abriu novas possibilidades para atuação das organizações que até então consideravam as dimensões econômica e social excludentes. Por isso, surgiram vários termos para definir negócios com fins lucrativos e que associam objetivos de geração de valor social, por exemplo, empresas sociais, negócios sociais e negócios inclusivos (PARENTE et. al., 2011). Para Silva et. al. (2019), o conceito atual de negócio social é definido por uma empresa com fins lucrativos que possui operação comercial e gera lucro, que será reinvestido em sua missão social. Os autores diferenciam os negócios sociais das organizações sem fins lucrativos, pois esses empreendimentos assumem riscos econômicos para oferecer produtos e serviços. A ênfase na aplicação de indicadores de desempenho para atingir seus objetivos estão presentes em sua cultura organizacional. A partir dessa perspectiva, o empreendedorismo social pode ser considerado uma forma de ação entre os setores público, privado e de sociedade civil, diferente da economia social, que engloba organizações localizadas entre o setor público e empresarial (o chamado terceiro setor) que têm por objetivo fornecer serviços à sociedade. Os negócios originados por esse tipo de empreendedorismo se aproximam de negócios tradicionais quanto aos produtos, serviços, clientes, mercados, custos e receitas; mas apresentam uma diferenciação no seu propósito principal, que é servir a sociedade e melhorar as condições de vida de populações de baixa renda. São empreendimentos distintos, de organizações não governamentais, em virtude da busca de sustentação econômica de suas operações por meio da venda de produtos e serviços ao invés de doações ou outras formas de captação de recursos (PARENTE et. al, 2011; SILVA et al, 2019). , 100 5.3 Características dos empreendedores sociais O empreendedor social tem papel relevante na transformação da sociedade, pois trata-se de um profissional que associa as características do empreendedor ao objetivo de minimizar problemas sociais e beneficiar a comunidade, por meio da criação de ideias inovadoras e criativas. Em Silva et. al. (2019) encontramos uma definição de empreendedor social, que o caracteriza: [...] como indivíduo que apresenta um conjunto de comportamentos, capaz de entregar valor social aos desfavorecidos por meio de um empreendimento financeiramente independente, autossuficiente e sustentável (ABU-SAIFAN, 2012 apud SILVA et al, 2019, p. 41). Dessa forma, podemos concluir que ele é alguém que reconhece um problema social e utiliza os princípios empreendedores tradicionais para organizar, criar e administrar um empreendimento que realize mudança social, portanto, busca, essencialmente, grr “vlr scil”. Su trblh st vltd nã smnt pr its imdits, d pequena escala, mas para mudanças intensas, de longo prazo. A partir dos estudos realizados por Parente et. al. (2011); Silva et. al. (2019) e Tiscoski et. al. (2017), realizamos uma consolidação das principais características desse tipo de empreendedor. • Motivados por uma missão: sua principal preocupação é a geração de valor social antes de riqueza. A criação de riqueza pode ser parte do processo, mas não é um fim em si mesma. Assim como os empreendedores de negócios, os empreendedores sociais são intensamente concentrados e perseverantes, incansáveis em sua busca de ideia social; • Ambiciosos: empreendedores sociais lidam com questões sociais importantes, como a pobreza, igualdade de oportunidades, a inclusão, dentre outras, com paixão por fazer a diferença. Podem trabalhar sozinhos ou no interior de uma ampla cadeia de organizações existentes, incluindo as que misturam atividades lucrativas e não lucrativas; , 101 • Estratégicos: assim como os empreendedores de negócios, os empreendedores sociais veem e atuam sobre o que outros desconsideram: oportunidades para melhorar sistemas, criar soluções e inventar novas abordagens que geram valor social; • Talentosos: empreendedores sociais normalmente operam em contextos com acesso limitado a importantes e tradicionais sistemas de apoio a mercados. Como resultado, devem ser excepcionalmente hábeis em recrutar e mobilizar recursos humanos, financeiros e políticos; • Focados em resultados: assim como os empreendedores de negócios, os empreendedores sociais são motivados pelo desejo de ver as coisas mudarem e produzirem retorno mensurável. Os resultados que buscam estão essencialmente ligados idi d “zr d mund um lugr mlhr”, pr xmpl, cm melhorias em qualidade de vida, acesso a recursos básicos e suporte a grupos desfavorecidos. A combinação dessas características compõe o perfil de um empreendedor social de sucesso, como veremos no quadro a seguir. , 102 Quadro 5.5 – Perfil do empreendedor social de sucesso Gestão profissionalÉ uma característica associada ao empreendedor de negócios, mas que também deve integrar o perfil do empreendedor social. Ele precisa compreender a importância de uma gestão eficiente para ter um negócio de sucesso. Atuação local Significa que o empreendedor social deve fazer a diferença nas comunidades próximas a ele. Melhorar as condições da comunidade na qual está inserido, aproveitando ideias e inovações de outras regiões. Suas ações locais tendem a servir de inspiração para novas ações em outras regiões. Promover a inclusão Promover a inclusão de pessoas com algum tipo de limitação é uma característica essencial de empreendedores sociais. Inspiração A inspiração é uma importante fonte de motivação dos empreendedores sociais. Por meio de sua inspiração, eles desenvolvem a capacidade de influenciar as pessoas ao seu redor. Muitas vezes, eles são inspirados por suas próprias experiências pessoais. Desafios e dificuldades vivenciadas tornam-se a base para ajudar outras pessoas a superar problemas semelhantes. Ganhos financeiros Os ganhos financeiros não tornam menos importantes as contribuições dos empreendedores sociais. Já vimos que o fato de um empreendimento ter foco social não significa que a sustentabilidade financeira deve ser desprezada. A perenidade do empreendimento depende da sua saúde econômica para manter os benefícios proporcionados. Fonte: elaborado pela autora com base em Parente et al (2011); Silva et al (2019) e Tiscoski et al (2017). , 103 5.4 Empreendedorismo social e o Terceiro Setor O Terceiro Setor tem apresentado crescimento relevante nas últimas décadas, impulsionado pelo engajamento social e por políticas públicas de apoio, dentre elas, o desenvolvimento de legislação específica. Esse contexto proporciona maior segurança aos investimentos realizados no setor, assim, atrairão a atenção das empresas privadas, que passarão a destinar recursos a esse tipo de organização, além de incluir estruturas destinadas às ações de responsabilidade social em sua estrutura organizacional (SILVA et. al., 2019; TISCOSKI et. al., 2017). O cenário apresentado permitiu que o empreendedorismo social conquistasse espaço com o crescimento dos negócios de impacto social e o desenvolvimento de iniciativas para atender as demandas da sociedade. Dessa forma, o Terceiro Setor passa a contar com indicadores de desempenho destinados a avaliar o seu impacto na atuação destinada a prover serviços que deveriam ser ofertados pelo primeiro setor (Estado) e também pela sua representatividade na defesa de causas relacionadas à proteção ao meio ambiente e à redução de problemas sociais, como a pobreza e o desemprego. Ao agregar o comportamento empreendedor às ações do Terceiro Setor, são geradas inovações destinadas a resolver os problemas por ele assumidos. O resultado dessa articulação pode ser identificado nas adaptações realizadas em inovações desenvolvidas para o primeiro e o segundo setores (Estado e Mercado, respectivamente), permitindo que as organizações do terceiro setor obtenham resultados não oferecidos pelos outros dois setores (PARENTE et al, 2011; SILVA et al, 2019). No Terceiro Setor, a principal característica do empreendedorismo social é a missão de criar e maximizar o valor social, por intermédio de atividades inovadoras, não tendo ênfase nos resultados econômicos inerentes ao empreendedorismo. No entanto, o comportamento empreendedor continua presente em suas características de buscar e avaliar oportunidades, realizar a gestão do risco, atuar com proatividade e gerar inovação. É por todo esse contexto que as inovações no Terceiro Setor são mais complexas, como afirma Silva et. al. (2019). , 104 Os processos, a escala, a missão e o tipo de atuação que os empreendedores sociais têm no terceiro setor são mais focados na criação de valor social em detrimento da geração de lucro econômico, logo, o tipo de inovação que esses empreendedores engendram é fundamentalmente social e até mais complexo (SILVA et al, 2019, p. 75). 5.5 Eco empreendedorismo e economia verde Os debates acerca da sustentabilidade nos negócios, como discutimos ao longo deste texto, tem gerado uma série de temas como seus desdobramentos, dentre eles, economia verde, cidades sustentáveis, negócios sustentáveis, negócios verdes, programas governamentais sustentáveis e políticas de apoio ao desenvolvimento sustentável estão entre esses assuntos (FERREIRA, 2014). Para o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA), uma economia verde é aquela que resulta em melhoria do bem-estar humano e da equidade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente os riscos ambientais e a escassez ecológica. Em sua expressão mais simples, uma economia verde pode ser vista como uma economia de baixo carbono, eficiente em termos de recursos e socialmente inclusiva. Em uma economia verde, o crescimento da renda e do emprego deve ser impulsionado por investimentos públicos e privados que reduzem as emissões de carbono e a poluição, melhoram a eficiência energética e de recursos e evitam a perda de biodiversidade e serviços ecossistêmicos (UNEP, 2011). De acordo com o Pnuma (UNEP, 2011), um dos obstáculos ao desenvolvimento e a disseminação da economia verde e a existência de mitos sobre o assunto, em especial, a existência de uma troca inevitável entre meio ambiente, sustentabilidade e progresso econômico, ou seja, que a aplicação da economia reduz as possibilidades de obter crescimento econômico. No entanto, ainda, segundo o programa, já existem evidências substanciais de que o "esverdeamento" das economias não inibe a criação de riqueza nem a geração de empregos, pois existem muitas alternativas de negócios verdes que demonstram , 105 oportunidades significativas de investimento e crescimento relacionados à riqueza e ao emprego. Nessa perspectiva, Ferreira (2014), destaca existência de um ambiente favorável e que abre oportunidades para os empreendedores existentes ou em potencial. Para isso, é necessário que ele assuma um papel ativo, identificando e avaliando as oportunidades e elaborando planos de negócios consistentes. O autor sintetizou alguns setores para demonstrar as novas oportunidades de negócios sustentáveis, baseados no conceito de economia verde, conforme quadro a seguir. Quadro 5.6 – Oportunidades de negócios em economia verde SETOR DE ATIVIDADE NOVAS OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS Agricultura, pecuária e silvicultura Agricultura orgânica, produção de novas oleaginosas para biocombustível, produção de carne certificada, construção de biodigestores, novos sistemas de gerenciamento agrícola, reflorestamento, novos sistemas de gerenciamento de florestas, extração sustentável de frutos das florestas, criação de peixes etc. Construção civil Reutilização de resíduos da construção, madeira cultivada, tijolo ecológico, construção verde para economizar energia, entre outros. Energia Mercado de biocombustíveis, pequenas usinas para produção de combustíveis, produção de óleo biocombustível, produção de painéis solares, produção de lâmpadas econômicas etc. Indústria de transformação Produção de novos produtos (energia) a partir de subprodutos de outros processos produtivos, como bagaço de laranja e de cana; produção de estrados (paletes) e contêineres de plástico em substituição à madeira; indústria de reciclagem de produtos como plásticos e madeira; transformação de resíduos agrícolas em energia; produção , 106 de sacolas ecológicas, produtos naturais de beleza, dentre outros. Turismo Turismo sustentável, hotéis verdes, gerenciamento de serviços ambientais, pesca sustentável, serviços ambientais, produção e comercialização de artesanatos etc. Transporte Veículos de baixo consumo de combustível, veículos elétricos, embalagens recicladas etc. Fonte: elaborado pela autora com base em Ferreira (2014, p. 146). O quadro evidencia que a economia verde abre novas oportunidades de negócios, os chamados deeco empreendimentos, muitos deles com possibilidade de exploração utilizando menor volume de investimento, tais como no setor de turismo, produção agrícola e construção, viabilizando a inserção de pequenos negócios na forma de empreendedorismo sustentável. 5.6 Empreendedorismo e economia colaborativa A economia colaborativa, assim como os demais temas tratados neste texto, é uma decorrência das discussões e da crescente preocupação em relação à responsabilidade social e ambiente da sociedade. A base das discussões, nesta perspectiva, é o consumo exagerado (hiperconsumo), pois já existem pesquisas indicando que esse nível de consumo não poderá ser sustentado em virtude do esgotamento dos recursos naturais (SILVEIRA; PETRINI; SANTOS, 2016). Economia colaborativa é a expressão utilizada para descrever novas relações de consumo de produtos e serviços por meio da divisão e do compartilhamento entre consumidores. É uma forma de resposta ao movimento de hiperconsumo e tem sido avaliada com um novo estágio das relações econômicas entre produtores e consumidores. Trata-se de um fenômeno recente, mas que tem crescido e se difundido com grande velocidade, especialmente pela utilização de redes digitais como apoio a essas relações de consumo (SILVEIRA; PETRINI; SANTOS, 2016). , 107 O acesso cada vez mais amplo às tecnologias de informação e comunicação, permitiu que algumas práticas já existentes, porém em pequena escala, se tornassem a base de novos modelos de negócios. Por exemplo, o aluguel de imóveis em temporadas e o compartilhamento de automóveis, que serviram de inspiração a negócios inovadores como Airbnb e Uber. Esses fatos demonstram que a difusão dos conceitos centrais da economia colaborativa tem viabilizado a identificação de novos negócios, reforçando o seu potencial de desenvolvimento econômico (SILVEIRA; PETRINI; SANTOS, 2016; GOIDANICH, 2016). O crescimento da economia colaborativa, por meio do consumo compartilhado, divisão ou empréstimos; tem gerado novas oportunidades ao empreendedor. A necessidade de produzir e consumir de maneira mais sustentável, decorrente da conscientização da sociedade acerca dos problemas sociais e ambientais, tem demonstrado que esse modelo de negócio atende melhor à combinação de crscimnt cnômic cm sustntbilidd mbintl scil, dimnsos‐bs d conceito de desenvolvimento sustentável. O crescimento da Geração Y na população com renda para consumo tem contribuído para a ampliação do mercado consumidor desses negócios. Trata-se de uma geração mais preocupada com a sustentabilidade, e com maior foco na experiência do que no acúmulo de bens, portanto, contribui para aumentar a viabilidade de negócios baseados no consumo compartilhado. São vários os exemplos, como as bicicletas e patinetes compartilhados como forma de obter mobilidade e a aquisição de frações de imóveis de lazer (SEBRAE, 2018). Conclusão Discussões sobre o modelo econômico vigente conduziram à necessidade de obter equilíbrio entre produção e geração de riqueza e as questões socioambientais. O chamado tripé da sustentabilidade, que articula as dimensões econômica, social e ambiental, é o conceito que tem promovido mudanças na forma como os negócios são gerados e administrados para garantir o desenvolvimento sustentável. O , 108 empreendedorismo sustentável é a vertente do empreendedorismo que se propõe a gerar ideias, oportunidades e negócios que atendam a esses pressupostos. Nessa vertente do empreendedorismo, as possibilidades abrangem negócios a serem explorados em nichos ambientais ou sociais, ou uma combinação de ambos. Esses negócios podem ter a sustentabilidade como meio ou como fim. Quando o negócio tem a sustentabilidade como fim, os lucros são utilizados para manter o negócio em funcionamento; se o objetivo é o lucro, a sustentabilidade é o meio pelo qual esse lucro é obtido. No entanto, nem todo empreendimento sustentável apresenta características de Responsabilidade Social Empresarial, mas a adoção dessas práticas em um negócio sustentável é um elemento adicional que agrega valor ao empreendimento, uma vez que criará maior valor para a sociedade. Em relação ao empreendedorismo social, o conceito atual de negócio social é definido por uma empresa com fins lucrativos que possui operação comercial e gera lucro, que será reinvestido em sua missão social. Os autores diferenciam os negócios sociais das organizações sem fins lucrativos, pois esses empreendimentos assumem riscos econômicos para oferecer produtos e serviços. Em suas relações com o Terceiro Setor, o empreendedorismo tem obtido papel de destaque por meio da geração de inovações, permitindo que essas organizações obtenham resultados que não são oferecidos pelos outros dois setores do mercado. O grande responsável por essas inovações é o empreendedor social, cujo perfil e motivações o tornam alguém que reconhece um problema social e utiliza os princípios empreendedores tradicionais para organizar, criar e administrar um empreendimento qu rliz mudnç scil, prtnt, busc, ssncilmnt, grr “vlr scil”. Su trabalho está voltado não somente para efeitos imediatos, de pequena escala, mas para mudanças intensas, de longo prazo. Na vertente ambiental, temos o eco empreendedorismo, que tem aproveitado o ambiente favorável ao desenvolvimento de negócios ambientalmente adequados para gerar inovações e oportunidades ao empreendedor. Além disso, a economia colaborativa e o aumento dos consumidores da geração Y têm criado um ambiente , 109 propício para empreendimentos baseados no consumo compartilhado de produtos e serviços. REFERÊNCIAS BORGES, C. (org.). Empreendedorismo sustentável. São Paulo: Saraiva, 2014. BORGES, C; BORGES, M. M; FERREIRA, V. R. S; NAJBERG, E; TETE, M. F. “Empreendedorismo sustentável: proposição de uma tipologia e sugestões de pesquisa”. In: Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas, v. 2, n.1, p. 77-100, 2013. Disponível em: <https://bit.ly/3ep6kwL>. Acesso em: 03 jul. 2020. BOSZCZOWSKI, A. K; TEIXEIRA, R. M. “O empreendedorismo sustentável e o processo empreendedor: em busca de oportunidades de novos negócios como solução para problemas sociais e ambientais”. 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In: XIV Encontro Nacional de Sociologia Industrial, das Organizações e do , 110 Trabalho Emprego e coesão social: da crise de regulação à hegemonia da globalização. Lisboa: maio, 2011. Disponível em: <https://bit.ly/3oQEtum>. Acesso em: 17 mar. 2018. RAUFFLET, E. E; BRES, L; FILION, L. J. “Desenvolvimento sustentável e empreendedorismo”. In: Revista de Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas, v. 3, n.1, p.3-32, 2014. Disponível em: <https://bit.ly/327tu6a>. Acesso em 03 jul. 2020. SEBRAE – Agência de notícias. “Geração Y revoluciona o modo de consumir e impulsiona economia compartilhada”. Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios (PEGN). set.2018. Disponível em: <https://glo.bo/3oTX2xy>. Acesso em: 04 jul. 2020. SILVA, J. C; YADA, M. M. “Viabilidade econômica de implantação de biodigestores”. SIMTEC - Simpósiode Tecnologia da Fatec Taquaritinga, v. 5, n. 1, p. 448-459, 22 dez. 2019. Disponível em: <https://bit.ly/34R0FfS>. Acesso em: 04 jul. 2020. SILVA, R. S. et. al. 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Acesso em: 03 jul. 2020. , 111 6 EMPREENDEDORISMO CORPORATIVO Como vimos ao longo da disciplina, o empreendedorismo não está unicamente associado à abertura de empresas, pois espera-se que o comportamento empreendedor seja capaz de criar negócios, e isso pode ocorrer dentro do ambiente das organizações. Nesse ambiente, existem muitos indivíduos, com habilidades empreendedoras, que optaram por ser empregados. O aumento da competitividade dos mercados, que obriga as empresas a manterem um fluxo constante de inovações, requer pessoas com comportamento empreendedor para que o ambiente seja favorável à inovação. Por isso, as empresas têm estimulado o empreendedorismo de seus colaboradores, abrindo espaço para que eles possam empreender de forma controlada, com equilíbrio entre os riscos e os retornos, proporcionando maior desenvolvimento organizacional. Nesse contexto, o empreendedorismo corporativo tem sido um elemento fundamental na construção e manutenção de culturas organizacionais inovadoras. 6.1 As organizações e o empreendedorismo A globalização tem sido o principal fator que amplia a competividade dos mercados, viabilizando trocas internacionais e gerando competição entre empresas de países diferentes. A abertura do comércio entre países obriga empresas nacionais a buscarem fontes de vantagem competitiva para fazer frente a competidores internacionais. Nesse novo cenário, as habilidades em obter fatores de produção com custos menores e maior eficiência operacional não bastam para competir. O fator principal nesse novo modelo econômico é o capital intelectual (SERTEK, 2012; FABRETE, 2019). Em virtude da utilização de novas tecnologias, disponíveis em qualquer lugar do mundo, as relações de trabalho passaram a exigir novas configurações e requerem novas competências. Dentre essas competências, a habilidade de promover inovações é um fator determinante, o que tem levado as organizações a estimular o , 112 comportamento empreendedor na sua equipe de colaboradores. Esse perfil de profissional tem sido demandado por sua inteligência criadora, estímulo à inovação e capacidade de produzir mudanças (SERTEK, 2012). É nesse contexto que se analisa o comportamento dos empreendedores em relação à inovação, portanto, a sua importância no ambiente organizacional. A inovação é o instrumento específico dos empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a mudança como uma oportunidade para um negócio diferente. “Os empreendedores precisam buscar, de forma deliberada, as fontes de inovação, as mudanças e seus sintomas que indicam oportunidades para que uma inovação tenha êxito” (DRUCKER, 1985 apud DORNELAS, 2017, p. 17). Dessa forma, a atitude proativa do empreendedor em relação à inovação estabelece uma forma sistemática de obtê-las e acaba por trazer vantagens competitivas aos negócios. Esse pressuposto está relacionado à natureza do próprio termo empreendedorismo e a sua aplicabilidade em qualquer organização, independentemente desta organização já existir ou estar em fase de criação, bem como de seu porte, forma como está estruturada e os mercados em que atua. É o que Dornelas (2017) discute ao articular as perspectivas do empreendedorismo ao ambiente organizacional. Figura 6.1 – Perspectivas do empreendedorismo Fonte: Dornelas (2017, p. 37). , 113 Avaliando as perspectivas propostas na figura 6.1, fica evidente sua aderência às organizações já estabelecidas, configurando o empreendedorismo corporativo com a aplicação dos conceitos centrais do empreendedorismo, tais como busca de oportunidade, inovação, fazer diferente e criação de valor, às empresas existentes. Essa relação já tem sido discutida há alguns anos, como destaca Dornelas (2017), ao se referir a Gifford Pinchot (1942-) que criou o termo intrapreneurship em um livro escrito nos anos 1980. Nele, o autor destaca o papel do empreendedor nessas organizações, além de abordar como a inovação poderia ser buscada e desenvolvida com a aplicação dos conceitos do empreendedorismo interno para atingir esse objetivo. O empreendedorismo corporativo tem sido visto cada vez mais como uma opção para empresas que já possuem uma cultura e processos organizacionais estabelecidos, e que precisam se reinventar em relação ao mercado. A implementação de cultura empreendedora dentro da organização só é possível se a empresa tiver o empreendedorismo como valor central da sua estratégia, buscando a inovação e a identificação de novas oportunidades. No entanto, esse é um grande desafio, pois trata-se de mudar a cultura organizacional e o paradigma de gestão dos negócios (DORNELAS, 2017). Affonso, Ruwer e Giacomelli (2018) complementam destacando essa modalidade de empreendedorismo como um meio de a organização estimular e aproveitar os indivíduos que tem habilidade e competência para sugerir que algo seja feito de um modo diferente e melhor. É por isso que, de acordo com esses autores, incitar o espírito empreendedor nos funcionários é fundamental para o crescimento e a inovação de uma empresa. Eles destacam que flexibilidade e criatividade são também muito importantes para que as empresas possam alcançar desempenho eficiente no mercado competitivo. Sob tal enfoque, Sertek (2012) e Fabrete (2019) ressaltam que não se trata de uma nova teoria da administração, mas de um comportamento que envolve os processos da organização e viabiliza o trabalho de todos em busca de um objetivo comum, a saber, identificar novas oportunidades de negócio a partir da sistematização das , 114 atividades empresariais com foco em inovação. Nessa perspectiva, o empreendedorismo corporativo torna-se um fator crítico de sucesso por não estar restrito à criação de novas empresas, mas pela possibilidade da sua aplicação em organizações de qualquer porte, ampliando seus resultados e contribuindo para o desenvolvimento econômico. Em síntese, para se manter em um ambiente de intensa competição, as empresas precisam inovar em seus produtos, serviços, processos e, até mesmo, em seu modelo de gestão. É necessário que estejam preparadas para reagir rapidamente às mudanças das variáveis de mercado que também geram impactos em seu ambiente interno. Para isso, precisam de inovações, que somente serão possíveis se houver pessoas capazes de transformar ideias em realidade (AFFONSO; RUWER; GIACOMELLI, 2018). 6.2 Empreendedorismo corporativo As definições de empreendedorismo no ambiente organizacional têm sido discutidas por muitos autores em busca de compreender como a inovação no interior das empresas é gerada por esse comportamento. Dornelas (2017), menciona um estudo no qual várias definições foram discutidas e analisadas, tais como corporate entrepreneurship, intrapreneurship e corporate venturing para obtenção de um único conceito. O autor tem realizado suas pesquisas e escrito suas obras utilizando o termo empreendedorismo corporativo, considerando o mais utilizado. O empreendedorismo corporativo é definido por Drnls (2017, p. 38) cm “ processo pelo qual um indivíduo, ou um grupode indivíduos associados a uma organização existente, cria uma nova organização ou instiga a renovação ou inovação dntr d rgnizçã xistnt.” ssim, o conceito abrange identificação, desenvolvimento, captura e implementação de novas oportunidades de negócio que alteram a maneira como os recursos são empregados; estimulam o desenvolvimento de novas competências empresariais que resultam em possibilidades inovadoras de posicionamento no mercado e a criação de valor para acionistas/sócios, funcionários e clientes. , 115 As definições que envolvem o empreendedorismo corporativo podem ser consideradas novidades ou novas formas de se tomar decisões estratégicas e estruturais na organização. A estratégia é como a organização alinha seus recursos- chave dentro de seu ambiente. Assim, a estratégia inclui as competências-chave da organização, o emprego dos recursos, seus métodos competitivos e o escopo das operações, tanto em uma unidade de negócios como no nível corporativo. Já a estrutura é a forma pela qual a organização implementa sua estratégia (DORNELAS, 2017; DOLABELA, 2011). Uma organização pode utilizar o empreendedorismo corporativo com vários objetivos, inclusive, para promover uma renovação estratégica da empresa. A figura a seguir apresenta as duas principais vertentes do empreendedorismo aplicado ao ambiente organizacional: Corporate venture e Intrapreneurship (ou intraempreendedorismo). Figura 6.2 –Modalidades de empreendedorismo corporativo Fonte: Dornelas (2017, p. 39). , 116 Corporate venturing: Está ligado à avaliação e captura da oportunidade. A vertente de corporate venturing8 está associada à criação de algo novo fora da organização. De maneira geral, ocorre em situações nas quais as inovações criadas internamente se desenvolvem de forma isolada da organização e atingem um potencial para se tornar uma unidade de negócio autônoma. O processo tem início com o desenvolvimento de um projeto destinado a analisar como uma inovação pode ser implantada e quais são os seus resultados. A implantação do projeto, normalmente, gera uma unidade de negócio que, ao atingir a maturidade de resultados, torna-se uma nova empresa, processo chamado de spin-off, com estrutura própria e independente. De maneira geral, essas empresas continuam fazendo parte do grupo empresarial, mas existem situações nas quais são vendidas para outros grupos (COZZI, 2007; DORNELAS, 2017). Inovação e geração de novos produtos: O intraempreendedorismo tem como foco, tanto o desenvolvimento do comportamento empreendedor, como a aplicação do seu resultado na geração de inovações e renovação estratégica da organização. Nesse contexto, as inovações são destinadas à organização e aos indivíduos, uma vez que o resultado desejado é desenvolver as competências empreendedoras para que eles saibam gerenciar os riscos e buscar os retornos, tendo mais autonomia para implementar os projetos, ainda que de acordo com as regras do sistema corporativo. Para que esse resultado seja obtido, deve ser criado um ambiente favorável à mudança de comportamento dos funcionários, com estímulos à proposição e implementação de inovações (DOLABELA, 2017; AFFONSO; RUWER; GIACOMELLI, 2018). 8 O termo Corporate Venturing tem sido utilizado também para designar os investimentos realizados por grandes empresas, por meio de fundos de Venture Capital (capital de riscos), em startups inovadoras como forma de gerar inovações de maneira rápida. Pode incluir, ainda, ações que auxiliam a startup selecionada com mentorias e acesso a clientes e parceiros. , 117 Renovação estratégica ou transformação organizacional: Nessa modalidade, os empreendedores corporativos empregam esforços para gerar alterações relevantes no negócio ou na estrutura da organização e na sua estratégia competitiva. De maneira geral, trata-se de mudanças internas estruturais que configuram novas formas de conduzir o negócio atual. São mudanças nos relacionamentos da organização com os seus ambientes internos e externos, podendo gerar inovações. Quadro 6.1 – Comparação entre Corporate venturing e Intraempreendedorismo Corporate Venturing Intraempreendedorismo • Prática da inovação "de dentro para fora" • Desenvolvimento interno. • Criação de novo negócio dentro da organização • Aplicação do empreendedorismo dentro da empresa. • Influência das competências centrais • Criação de cultura e clima inovadores. • Aprendizado e crescimento • Desenvolvimento de atitude e comportamento de "dono". • Spin-off • Rearranjo da cadeira de valor do negócio. • Associação com indivíduos empreendedores dentro da organização • Realocação de recursos e competências de novas maneiras. Fonte: elaborado pela autora com base em Dornelas (2017, p. 39). Essas modalidades podem ser utilizadas em uma mesma empresa, no entanto, o que se percebe é o foco no intraempreendedorismo para geração de inovações em projetos internos, desnvlvimnt d cultur “d dn” dsnvlvimnt d processos e produtos inovadores. A evolução desses projetos, por questões , 118 estratégicas, gera oportunidades de corporate venturing. Tais como spin-offs, joint- ventures ou a criação de um negócio totalmente novo e autônomo. 6.3 O empreendedor corporativo Para compreender de maneira mais ampla o papel do empreendedor corporativo, é necessário estabelecer algumas relações entre o administrar e o empreender. Ao avaliar o papel e as funções de um administrador, existem algumas convergências entre eles, pois é necessário que o empreendedor seja também um administrador. No entanto, há diferenças relevantes entre eles, pois os empreendedores são mais visionários do que a maioria dos administradores comuns. No entanto, um ponto relevante para o empreendedor de sucesso é o fato de conhecer como poucos a área de atuação da empresa, o que leva tempo e requer experiência. Quando atuam em organizações estabelecidas, aqueles que detêm o conhecimento de seu funcionamento e de como interagir com as demais pessoas na corporação têm mais chances de implementar projetos inovadores. Esse é um outro fator que diferencia o empreendedor de sucesso do administrador comum, pois atua com base em um constante planejamento a partir de sua visão de futuro (DORNELAS, 2017; AFFONSO; RUWER; GIACOMELLI, 2018). Dornelas (2017) apresenta cinco dimensões nas quais é possível comparar as diferenças entre os contextos empreendedor e administrativo. Essas dimensões estão na figura a seguir. , 119 Figura 6.3 – Domínio empreendedor versus Domínio administrativo Fonte: Dornelas (2017, p. 65). , 120 Para Dornelas (2017, p. 62), essa diferença e, ao mesmo, a convergência entre os dmínis, dmnstr qu mprnddr crprtiv “ssum s unços, s papéis e as atividades do administrador de forma complementar a ponto de saber utilizá-las n mmnt dqud pr tingir sus bjtivs.” Esss trs trnsrmm empreendedor em um administrador com competências mais abrangentes, incorporando as várias abordagens existentes sem se restringir a apenas uma delas e interage com seu ambiente para tomar as melhores decisões. É por esse motivo que o espírito empreendedor se manifesta de várias maneiras na organização e permite identificar quatro tipos principais empreendedor corporativo, de acordo com as atividades que desenvolvem. O objetivo de uma organização, ao optar por estimular e explorar o comportamento empreendedor, é identificar os diversos tipos de empreendedores para reuni-los em equipes heterogêneas, nas quais cada perfil contribui de maneira relevante em virtude de suas características e experiências pessoais. O resultado obtido, certamente, será superior ao que poderia ser obtido com a atuação isolada de cada perfil (DORNELAS, 2017; FABRETE, 2019). De acordo com os autores, os tipos de empreendedores apresentam características e comportamentos diferenciados e específicos, cada um deles contribuindo de maneira diferente para a obtençãode resultados organizacionais. O quadro a seguir apresenta uma síntese desses quatro tipos ou perfis. , 121 Quadro 6.2 – Perfis de empreendedores corporativos Tipo 1 – O empreendedor que busca resultados (empreendedor clássico) Tem uma necessidade grande de realização. Sente a necessidade de receber um feedback (avaliação) de sua performance. Planeja e estabelece metas. Tem uma forte iniciativa pessoal. Compromete-se fortemente e se identifica com a organização. Possui autocontrole (define os caminhos a seguir). Acredita que o trabalho deveria ser guiado por metas pessoais, e não pelos outros. Tipo 2 – O grande vendedor (atinge o sucesso através de sua rede de relacionamentos, capacidade de vender e ser persuasivo, e das habilidades pessoais) Tem grande capacidade de se entender com as pessoas (muita empatia). Deseja ajudar aos outros. Acredita que os relacionamentos, as interações e as atividades sociais são importantes. Necessita possuir fortes relacionamentos com outras pessoas. Acredita que o ato de vender é crucial para que a empresa implemente suas estratégias. Geralmente tem alguma experiência em vendas. Tipo 3 – O gerente (possui boas habilidades gerenciais combinadas com uma agressiva orientação ao crescimento profissional) Deseja ser um líder corporativo. Deseja competir. É decisivo (gosta de tomar decisões). Deseja o poder. Tem atitudes positivas em relação à autoridade. Deseja ficar um pouco distante dos demais funcionários. Tipo 4 – O criativo (gerador de ideias) Desejo de inovação. Adora ideias, é curioso, mente aberta. Acredita que o desenvolvimento de novos produtos é parte crucial para a estratégia da empresa. É muito inteligente, o ato de pensar é o diferencial de sua abordagem empreendedora. Usa a inteligência como vantagem competitiva. Deseja evitar tarefas muito arriscadas. Fonte: elaborado pela autora com base em Dornelas (2017, p. 69-71) e Fabrete (2019, p. 18). O quadro com os perfis permite concluir que os empreendedores não são apenas aqueles que têm ideias, criam novos produtos ou processos. Eles também , 122 implementam esses produtos da inovação, lideram equipes e vendem suas ideias. Pode-se concluir, ainda, que dificilmente todas essas características estariam presentes em uma única pessoa, o que torna fundamental a identificação desses perfis no ambiente corporativo, promovendo a articulação entre eles e o trabalho em equipe para atingir o sucesso com a introdução do empreendedorismo corporativo. 6.4 Cultura organizacional empreendedora Nas organizações com orientação empreendedora, a cultura organizacional é construída de maneira a incentivar a geração de ideias, bem como a participação dos colaboradores em atividades que possam estimular sua criatividade. Os resultados obtidos são muito valorizados, uma vez que se tornam fontes de oportunidades para inovações. Assim sendo, a administração das empresas com foco em empreendedorismo tem a sua base no elemento central, que é a busca de oportunidades. Para isso, é necessário criar um ambiente que demonstre ao funcionário que o comportamento empreendedor é desejável, bem como criar uma cultura corporativa que estimule a geração de novas ideias (AFFONSO; RUWER; GIACOMELLI, 2018). Os autores reforçam que é esse ambiente que pode gerar o comportamento empreendedor, por isso, a prática empreendedora nas organizações requer uma mudança de comportamento, envolvendo a criação de uma cultura empreendedora que permita e apoie o surgimento de inovações e a agilidade para a implementação dos novos projetos. Cabe destacar que a criação de uma cultura empreendedora exige das empresas uma orientação diferente em relação à sua administração. Assim, apesar dos benefícios que o empreendedorismo corporativo pode gerar para as empresas, muitas delas ainda adotam práticas gerenciais que inibem a criatividade e a inovação. (AFFONSO; RUWER; GIACOMELLI, 2018, p. 101) Por consequência, uma organização que busca usufruir os benefícios do empreendedorismo corporativo precisa desenvolver e implantar programas internos de suporte com ênfase no desenvolvimento dos funcionários, na estrutura , 123 organizacional e seus processos, e também em seu direcionamento estratégico. O que significa incorporar o empreendedorismo na estratégia e valores de negócios, além de definir metas de inovação e os meios para atingi-las. Todas essas ações e atividades geram mudanças no ambiente organizacional e na sua cultura, o que costuma gerar barreiras relacionadas a aspectos comportamentais e de hierarquia, competições internas ou, até mesmo, uma dissonância entre a atuação atual da empresa e o que é necessário mudar para atingir os resultados esperados no futuro. (AFFONSO; RUWER; GIACOMELLI, 2018; DORNELAS, 2017) Nesse contexto, Dornelas (2017) sintetiza as principais restrições organizacionais ao empreendedorismo corporativo, distribuídas em seis dimensões, como podem ser observadas na figura a seguir. , 124 Figura 6.4 - Restrições organizacionais ao empreendedorismo corporativo Fonte: Dornelas (2017, p. 117). Uma análise das restrições da figura 6.4 demonstra que o gerenciamento das mudanças é um processo difícil, para o qual não existem regras únicas que podem ser seguidas por todas as empresas. Entretanto, algumas atividades, políticas e procedimentos são apresentadas por Dornelas (2017) como sugestões às empresas que desejam, ou precisam, desenvolver um ambiente e uma cultura organizacional propícios ao empreendedorismo corporativo. Confira no quadro a seguir. , 125 Quadro 4.3 – Estratégias empreendedoras e práticas gerenciais de estímulo ao empreendedorismo corporativo Fonte: elaborado pela autora com base em Dornelas (2017, p. 115-116). É preciso que as organizações compreendam que as mudanças não ocorrem todas de maneira rápida, pois precisam ser realizadas em toda a organização, por meio do Estratégias empreendedoras Práticas gerenciais Desenvolvimento de uma visão empreendedora É importante que a alta cúpula da organização defina e comunique uma visão de organização empreendedora. Isso será a chave para amanutenção do ambiente empreendedor. Incentivar e aprimorar a percepção da oportunidade Proporcionar condições para que todos na organização identifiquem e busquem oportunidades, tais como: estimular o pensamento criativo, o uso de ferramentas de identificação e avaliação de oportunidades, o trabalho em equipe e entre diferentes áreas, a quebra de certas regras ou procedimentos e o reconhecimento do esforço dos funcionários em agir de forma empreendedora. Institucionalizar amudança A mudança deve ter foco emmelhorias e na busca do novo, de resultados ousados. Representa novas oportunidades para todos na organização. É um incentivo para se olhar as coisas de forma diferente, para rever processos e eliminar as barreiras que impedem a inovação de ocorrer. Alimentar o desejo de ser inovador Mostrar que a inovação pode ser tanto incremental como radical e que ambas são importantes. Incentivar a prática da inovação como sendo algo estratégico para a organização. Investir nas ideias das pessoas Ideias bem trabalhadas podem transformar-se em grandes oportunidades de inovação. Criar mecanismos para ouvir as ideias, dar atenção a elas, premiá-las; prover os criativos com ferramentas para analisar suas ideias, para pesquisar, entender o que pode ser uma ideia criativa; dar-lhes acesso à informação e ao banco de oportunidades da organização. Compartilhar riscos e recompensas com os funcionários Estabelecer políticas claras de recompensa quando os projetos vão bem e trazem retorno à organização, tais como aumento de salário, bônus, promoção, reconhecimento etc. Por outro lado, deve-se mostrar que o acesso e o uso dos recursos também têm um preço, ou seja, os riscos também devem ser compartilhados pela organização e pelos funcionários em caso de falhas. Reconhecer que o ato de falhar é crítico, mas importanteNão encarar a falha como consequência da incompetência. A falha deve ser vista, primeiramente, como sinal de experiência, aprendizado e progresso. Ao se falhar, se aprende muito. Tolerar certas falhas é uma forma de não inibir a busca de oportunidades e de se assumir riscos. A falha faz parte do processo empreendedor e está intimamente ligada com assumir riscos. , 126 envolvimento de todos os níveis e áreas organizacionais. Uma forma de obter esse resultado é com a formação de equipes com objetivos de trabalho claros e o compromisso de realizar a migração para o novo contexto em prazo previamente estabelecidos. 6.5 Cenário brasileiro de empreendedorismo corporativo O imperativo da inovação tem promovido mudanças também no ambiente corporativo brasileiro. Logo, diversas ações tem sido desenvolvidas para compreender a dinâmica dessa modalidade de empreendedorismo no Brasil. Uma delas é o Ranking de Empreendedorismo Corporativo, criado pelo Instituto Brasileiro de Intra- Empreendedorismo (Ibie), publicado pela EXAME. Elaborada com base nos pressupostos da cultura organizacional empreendedora, a pesquisa do Ibie utilizou questionários respondidos pelos empregados, seminários feitos em cada uma das empresas finalistas e entrevistas com seus diretores (COHEN, 2011). Os 23 itens da pesquisa buscaram avaliar a aderência das empresas ao empreendedorismo corporativo em três temas: • Comportamento da empresa: desde a disseminação da estratégia a todos os funcionários até o tratamento dispensado às pequenas iniciativas; • Processos de trabalho: incluem a prática de formação de equipes, a atribuição de responsabilidades e o nível de conforto com as mudanças de processo; • Recompensas à inovação: incluindo a tolerância a erros e os critérios de avaliação das iniciativas. A pesquisa serviu de base ao trabalho realizado por Vilas Boas e Santos (2014), que estudaram cinco das empresas identificadas no ranking publicado pela Revista Exame em 2006. As empresas analisadas são de setores diferentes da economia, de portes diferentes e também com controladores de diferentes países. As informações obtidas , 127 pelos pesquisadores foram agrupadas em seis categorias de práticas de gestão destinadas a estimular o empreendedorismo corporativo. A análise dos achados da pesquisa mostrou semelhanças entre as ações das empresas em todas as categorias, sendo que as diferenças estão centradas na forma como as práticas ocorrem ou na sua intensidade. Os resultados detalhados de cada categoria podem ser observados nas figuras a seguir, acompanhados de uma síntese das conclusões elaboradas pelos autores do estudo. Figura 6.5 – Recompensas, incentivos e reconhecimentos Fonte: Vilas Boas; Santos (2014, p. 405). Nesta categoria, o estudo concluiu que todas as empresas estudadas reconheciam os empreendedores corporativos, embora cada uma dessas organizações o fizesse de maneira diferente. , 128 Figura 6.6 – Disponibilização de recursos Fonte: Vilas Boas; Santos (2014, p. 407). Referente à categoria relacionada à disponibilização de recursos, foi possível identificar que elas são bastante semelhantes na maioria das empresas. Todas as organizações analisadas permitem, e algumas até estimulam, a busca de recursos externos, sejam informações, sejam recursos financeiros. , 129 Figura 6.7 – Tolerância aos erros identificados Fonte: Vilas Boas; Santos (2014, p. 408). As conclusões apontam que as empresas não possuíam práticas de gestão formalizadas, no entanto, constatou-se que os erros resultantes das experimentações eram tolerados quando essas eram destinadas a gerar inovações de produtos, processos e negócios. A tolerância informal era avaliada como estímulo à aprendizagem e à experimentação. Figura 6.8 – Apoio da alta administração Fonte: Vilas Boas; Santos (2014, p. 409). , 130 O apoio da alta administração às práticas empreendedoras foi contatado em todas as empresas da amostra, com a utilização de atividade de gestão semelhantes, porém, adaptadas às realidades de cada organização. Figura 6.9 – Autonomia para experimentação Fonte: Vilas Boas; Santos (2014, p. 411). As conclusões demonstram que as empresas analisadas não tem políticas específicas para conceder autonomia aos empregados na experimentação de novos métodos para realizar suas tarefas. No entanto, constatou-se que esse fator não reduziu as possibilidades de inovação dos colaboradores. Percebe-se que os empregados entendem a necessidade de solicitar autorização do superior imediato para iniciativas de empreendedorismo corporativo. , 131 Figura 6.10 – Estrutura organizacional: unidades dedicadas ao empreendedorismo corporativo Fonte: Vilas Boas; Santos (2014, p. 411). A pesquisa revelou que todas as empresas tinham, em sua estrutura organizacional, unidades lideradas por empreendedores com o fim específico de desenvolver projetos de inovação corporativos, viabilizando a recepção dos projetos de empreendedorismo corporativo, bem como a sua análise e o fornecimento de apoio necessário para os considerados relevantes para promover a inovação. Para sintetizar as conclusões do estudo, os autores afirmaram que as empresas avaliadas demonstraram reconhecer as contribuições do empreendedorismo corporativo, e o fato de que essas podem ocorrer com maior frequência e qualidade quando há políticas e ações concretas para estímulo e apoio às iniciativas. Mesmo tratando-se de um estudo com uma amostra de apenas cinco empresas, o fato de haver pesquisas sendo promovidas no país sobre o tema, além de institutos , 132 destinados ao empreendedorismo corporativo como o Ibie, e publicações interessadas em identificar e premiar as ações nesse sentido, como o ranking da Revista Exame; demonstram que o assunto tem evoluído e que há terreno fértil para seu crescimento e desenvolvimento no Brasil. Conclusão A globalização, o avanço das tecnologias e as mudanças nos fatores relacionados ao desenvolvimento econômico têm contribuído para um aumento significativo da competitividade nos mercados, obrigando as empresas a buscarem novas fontes de vantagem competitiva. Nesse contexto, a geração de um fluxo contínuo de inovação se faz necessária para manter o alinhamento com as demandas do mercado. O empreendedorismo corporativo tem se destacado como uma alternativa para as organizações estimularem e aproveitarem o potencial dos indivíduos que possuem habilidade e competência para sugerir que algo seja feito de um modo diferente e melhor. Nessa perspectiva, o empreendedorismo corporativo torna-se um fator crítico de sucesso por não estar restrito à criação de novas empresas, mas pela possibilidade da sua aplicação em organizações de qualquer porte, ampliando seus resultados e contribuindo para o desenvolvimento econômico. O empreendedorismo corporativo pode ser conceituado como o processo que proporciona um ambiente favorável à identificação, desenvolvimento, captura e implementação de novas oportunidades de negócio que alteram a maneira como os recursos são empregados; estimulam o desenvolvimento de novas competências empresariais que resultam em possibilidades inovadoras de posicionamento no mercado e a criação de valor para acionistas/sócios, funcionários e clientes Uma organização pode utilizar o empreendedorismo corporativo com vários objetivos, inclusive, para promover uma renovação estratégica da empresa. As duas principais vertentes do empreendedorismo aplicado ao ambiente organizacional: Corporate venture e Intrapreneurship (ou intraempreendedorismo). Enquanto o Corporate , 133 Venture foca a geração de inovações de dentro para fora da empresa, o Intraempreendedorismo é utilizado para gerar inovações, desenvolver uma cultura organizacional empreendedora e auxiliar na renovação estratégica. O espírito empreendedor se manifesta de várias maneiras na organização e permite identificar quatro tipos principais de empreendedor corporativo, de acordo com as atividadesque desenvolvem: clássico, vendedor, gerente e criativo. O objetivo de uma organização, ao optar por estimular e explorar o comportamento empreender, é identificar os diversos tipos de empreendedores para reuni-los em equipes heterogêneas, nas quais cada perfil contribui de maneira relevante em virtude de suas características e experiências pessoais. Nas organizações com orientação empreendedora, a cultura organizacional é construída de maneira a incentivar a geração de ideias, bem como a participação dos colaboradores em atividades que possam estimular sua criatividade. Os resultados obtidos são muito valorizados, uma vez que se tornam fontes de oportunidades para inovações. Assim, uma organização que busca usufruir os benefícios do empreendedorismo corporativo precisa desenvolver e implantar programas internos de suporte com ênfase no desenvolvimento dos funcionários, na estrutura organizacional e seus processos, e também em seu direcionamento estratégico. No Brasil, o empreendedorismo corporativo pode ser observado por meio de iniciativas como a criação de um instituto destinado a promover ações de estímulo a essa modalidade empreendedora, além de publicações especializadas e pesquisas científicas que se preocupam em avaliar a dinâmica do empreendedorismo nas organizações brasileiras. , 134 REFERÊNCIAS AFFONSO, L. M. F; RUWER, L. M. E; GIACOMELLI, G. Empreendedorismo. Porto Alegre: SAGAH, 2018. COHEN, D. “O ranking da inovação”. In: Exame.com, 25 maio 2011. Disponível em: <https://exame.com/revista-exame/o-ranking-da-inovacao-m0051745/>. Acesso em: 02 jul. 2020. COZZI, A. (org.) Empreendedorismo de base tecnológica. São Paulo: GEN LTC, 2007. DOLABELA, F. Oficina do empreendedor: metodologia de ensino que ajuda a transformar conhecimento em riqueza. 6 ed. São Paulo: Sextante, 2011. DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo corporativo: como ser empreendedor, inovar e se diferenciar na sua empresa. 3 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017. FABRETE, T. C. L. Empreendedorismo. 2 ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2019. SERTEK, P. Empreendedorismo. Curitiba: InterSaberes, 2012. VILAS BOAS, E. P; SANTOS, S. A. “Empreendedorismo corporativo: estudo de casos múltiplos sobre as práticas promotoras em empresas atuantes no Brasil”. In: Rev. Adm. (São Paulo), São Paulo, v. 49, n. 2, p. 399-414, jun. 2014. Disponível em: <https://bit.ly/2Gp6dVB>. Acesso em: 02 jul. 2020.