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5 Historicidade dos movimentos feministas e LGBTIs

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HISTORICIDADE DOS 
MOVIMENTOS FEMINISTAS 
E LGBTIS
 
SST
RASCKE, Karla Leandro
Historicidade dos movimentos feministas e LGBTIS / 
Karla Leandro Rascke
Ano: 2020
nº de p. 12
Copyright © 2020. Delinea Tecnologia Educacional. Todos os direitos reservados.
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HISTORICIDADE DOS 
MOVIMENTOS FEMINISTAS 
E LGBTIS
Apresentação
Neste momento, trataremos de um assunto relacionado a Historicidade dos Movimentos 
Feministas e LGBTIs. Estudaremos brevemente e conceitualmente a respeito da história 
dos movimentos sociais e, por conseguinte dos movimentos feministas, como ele se 
organizou no mundo, e como e quando ele se organizou no Brasil quais foram suas 
principais conquistas e suas principais bandeiras de resistência. 
 Também estudaremos a respeito do movimento LGBTQI+A e sua trajetória política 
e histórica de resistência e luta pelos direitos da população que tem orientação 
sexual que não condiz com o determinismo heteronormativo. Fique atento a todas 
as informações presentes aqui, e vamos juntos ao processo de conhecimento e 
aprendizagem a respeito da relevância desses assuntos. 
Bons estudos. 
CONCEITO DE MOVIMENTOS SOCIAIS
A gênese do conceito relacionada a movimento social segundo Craveiro &Handam 
(2015) tem a sua fundamentação na contraditória analogia que existe entre os 
sistema capitalista e as condições de trabalho. As abordagens preponderantes a 
respeito dos movimentos sociais empregadas no século XIX até aproximadamente 
a primeira metade do século XX, faziam-se uma correlação direta do conceito de 
movimentos sociais com a luta de classes, que havia surgido com os movimentos 
de trabalhadores operários das fabricas. 
Sendo assim, o conceito de movimento social pode ser pensado, em linhas gerais, como 
um conjunto de ações, que tem como base valores comuns que compõem e identificam 
determinado grupo, visando alcançar mudanças sociais. Nesse sentido, movimento 
social é um agrupamento de pessoas e/ou instituições com interesses comum, pautados 
em bandeiras de luta, que podem ter mais de uma frente, ou seja, mais de um interesse. 
O Brasil tem sua história marcada por diferentes movimentos sociais, dentre eles, 
movimento negro, movimento de mulheres, movimento dos atingidos por barragens, 
movimento de mulheres camponesas, movimento operário, movimento sindical, 
movimento estudantil, etc. Inúmeros foram os grupos que surgiram e se reuniram, 
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em diferentes contextos históricos e por diferentes bandeiras, para lutar por 
mudanças, seja no campo econômico ou social. 
Principais movimentos sociais a partir do século XX na realidade 
brasileira e que possuem atuação até os dias atuais
MOVIMENTO 
FEMINISTA 
MOVIMENTO 
LGBTQI+A
MOVIMENTO 
NEGRO
MOVIMENTO 
ESTUDANTIL
MOVIMENTO 
AMBIENTALISTA
MOVIMENTO SEM 
TERRA - MST 
Fonte: Elaborado pela autora, (2020)
Scherer Warnner, (2008) avulta alguns movimentos sociais que foram 
indispensáveis e assinalaram a história do país quando o Brasil em 1964 teve a 
democracia substituída por um regime militar ditatorial. 
A autora destaca que os movimentos que foram surgindo nesse período da história 
brasileira foram de suma relevância para a luta pelo fim da ditadura e o retorno da 
democracia e do livres-arbítrios; entre os movimentos sociais ela destaca dois que 
tiveram expressiva participação nessa conjuntura são eles: o movimento estudantil 
e os movimentos de base política da igreja católica, ligados a teologia da libertação. 
Como sugestão de leitura complementar deixamos aqui duas ofertas: 
Uma delas se refere a um artigo acadêmico escrito por maria da 
Gloria Gohn, segue a descrição dele bem como o link de acesso: 
Desafios dos movimentos sociais hoje no Brasil. Disponível em: 
<http://cressrn.org.br/files/arquivos/eILxHih2XPlto00h4990.pdf>. 
Acesso em: 17/09/2020. 
O segundo artigo se refere a explicar o conceito de movimentos 
sociais a partir da década de 1960 até a contemporaneidade. Segue 
o link de acesso: <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S0873-65292014000200006>. Acesso em: 17/09/2020. 
Boa leitura!!!
Saiba mais
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Esses movimentos apresentaram participação categórica na luta em prol de seus 
ideais pronunciados com a precisão do povo, que era o retorno das disposições 
em torno da sociedade serem de forma extensa, plural e democrática. Faziam 
manifestações nas ruas, mesmo ainda sob forte repressão pelo braço armado 
do Estado, reuniam-se clandestinamente para deliberarem suas formas de tentar 
sobrepor a ordem ditatorial vigente. 
MOVIMENTO FEMINISTA
Menos de 100 anos atrás, as mulheres não tinham o direito de votar e muito menos de 
serem votadas, não tinham o direito de estudar ou de trabalhar fora do lar. Eram tuteladas 
por homens, primeiro por seus pais, depois pelos maridos. Nem ao menos eram donas de 
seus corpos. Você acha essa afirmação exagerada? Pois bem, elas não escolhiam com 
que iriam casar, já que os casamentos eram arranjados. Tinham a obrigação de servir 
seus maridos de todas as maneiras, inclusive sexualmente. Vestiam somente o que era 
considerado apropriado pela sociedade. Como você pode perceber, muita coisa mudou 
nesses quase 100 anos, e essas conquistas devem-se ao feminismo. 
O movimento feminista pode ser definido como um movimento social que defende 
a equidade entre homens e mulheres, conquistado por meio do empoderamento 
feminino, ou seja, a libertação da mulher da submissão aos padrões patriarcais. 
Inicialmente as lutas estavam pautadas em direitos políticos, ou melhor, no direito 
de votar e ser votada. Depois dessa conquista, a luta mudou um pouco o foco. 
Continuava a ser por direitos, mas, outros, como pelo próprio corpo, por autonomia, 
pelos direitos reprodutivos, por igualdade no mercado de trabalho, no campo 
científico, na organização da vida política.
O movimento feminista se reuniu em prol dos direitos das mulheres, 
tais como o direito de estudar, trabalhar, ser dona do próprio corpo 
e, principalmente, ter acesso aos mesmos direitos que os homens 
tinham, ou seja, buscavam a equidade de gênero. 
Reflita
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No Brasil, o movimento feminista da primeira onda buscou inspiração nos 
Estados Unidos e países europeus. Assim, o direito ao voto foi a principal pauta 
de reinvindicação nas primeiras décadas do século XX. O sufrágio feminino foi o 
motivo que fez com que as mulheres brasileiras se reunissem em torno de uma 
pauta. No entanto, não podemos pensar em um grupo amplo de mulheres. Em sua 
maioria, eram universitárias que tiveram contato com o movimento sufragista em 
outros países.
Em 1932, por meio de um decreto provisório, as mulheres garantiram o direito de 
votar, que só aconteceu efetivamente no ano seguinte. E assim, no ano de 1933, as 
mulheres brasileiras foram até às urnas para concretizarem o direito conquistado. 
No entanto, somente um ano depois o direito de voto para as mulheres foi garantido 
pela Carta Magna de 1934.
As reinvindicações principais da segunda onda feminista (décadas de 1960-1970) 
foram pautadas em duas frases de ordem: o privado é político e nosso corpo 
nos pertence. As questões referentes ao espaço privado – como, por exemplo, 
a violência doméstica, o controle sobre o corpo, o direito ao prazer, os direitos 
reprodutivos – passaram a ser apontadas como questões sociais, ou seja, como 
objeto de políticas públicas. Nesse contexto, surge a pílula anticoncepcional, e as 
mulheres passam a ter um controle maior sobre seu corpo, entram em número 
significativo no mercado de trabalho, mas continuam na luta pela desconstrução da 
sociedade sexista pautada no determinismo biológico. 
Em 1975, foi decretado o Ano Internacional da Mulher, pela 
Organização das Nações Unidas (ONU), que instituiu a década 
seguinte como a década da mulher.
Atenção
As feministas da terceira onda focaram no que chamaram de micropolítica. O direito 
de igualdade na diferença foi a pauta dessa onda. Inicialmente, o próprio movimento 
passou por indagações que resultaramem novas ideias e estratégias. A condição 
de ser mulher deveria levar em conta a intersecção com outros fatores como classe, 
raça/etnia, geração e orientação sexual.
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MOVIMENTO LGBTQI+A
Os objetivos do Movimento LGBTI no Brasil podem ser articulados em torno de três 
pautas principais: 
1. criminalizar a homofobia e enquanto isso não acontece lutar contra qualquer 
forma de preconceito em relação à homossexualidade; 
2. divulgar informações corretas e positivas em relação à homossexualidade, 
desmistificando tabus; 
3. conscientizar a comunidade homossexual da importância de organização 
em grupos em prol da defesa e luta pelos direitos. 
Bandeiras em apoio às causas LGBTIs
Fonte: Plataforma Deduca (2020)
No Brasil, a movimentação em torno das questões da comunidade homossexual 
começou na década de 1980, quando foi realizado o 1º Encontro Brasileiro de 
Homossexuais, na cidade de São Paulo. Foi também nesse período que surgiram os 
primeiros grupos organizados. No entanto, foi na década de 1990 que o movimento 
teve maior visibilidade. Isso está associado a vários fatores, mas um que 
merece destaque foi o fato do mercado de bens e serviços atentar-se ao público 
homossexual, identificando-os como Gays, Lésbicas e Simpatizantes (GLS). 
Porém, em meio ao movimento, o grupo identificava-se como Movimento 
Homossexual Brasileiro (MHB). Somente em meados da década de 1990 é que 
passou a identificar-se como LGBT, isto é, Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e 
Travestis. E foi em 2008 que a sigla ganhou o formato atual, LGBTI, que foi aprovado 
em um congresso nacional da categoria, dando maior visibilidade às lésbicas, que 
são oprimidas duplamente, por ser mulher e pela orientação sexual.
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É importante ressaltar que anterior a esse momento, alguns eventos 
já marcavam as discussões sobre a temática. Um exemplo foi o 
Jornal Lampião, fundado em 1978, que tinha por objetivo discutir 
as temáticas referentes à homossexualidade.
Atenção
Com forte influência desse periódico, surgiu o primeiro grupo homossexual do 
Brasil, o Somos de São Paulo. Na sequência, muitos outros grupos surgiram com 
a finalidade de fortalecer a identidade e lutar por direitos, inclusive o Grupo Gay da 
Bahia (GGB), o mais antigo grupo homossexual atuante da América Latina. 
No final da década de 1980, muitos desses grupos sofreram desarticulações em 
virtude do advento da AIDS e da associação dessa como uma “epidemia gay”. 
Isso implicou que muitas pessoas ficaram receosas de assumir sua orientação 
sexual e serem associadas ao HIV. Nesse período começaram a surgir grupos 
de apoio à AIDS, articulando uma discussão mais ampla sobre a doença e 
a homossexualidade, no intuito de informar, proteger e romper preconceitos 
existentes sobre esses grupos. 
Nesse período, os grupos ativistas começaram a agir de maneira mais pragmática. 
Em 1994, articularam uma organização nacional, a Associação Brasileira de 
Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT). A organização, 
que iniciou com pouco mais de 10 grupos, atualmente é uma rede nacional com 
aproximadamente 300 organizações da comunidade LGBTI. 
Apesar de ter aumentado consideravelmente a rede, a ABGLT 
continua com a mesma responsabilidade de atuação de outrora, 
que visa à garantia e à promoção dos direitos da comunidade 
homossexual, além de ser um espaço para intercâmbio entre os 
grupos e um meio para a construção de uma agenda comum.
Atenção
Além da organização desses grupos e encontros, não podemos deixar de mencionar 
um fator que merece destaque sempre que se fala em público homossexual: as 
paradas da diversidade. A primeira aconteceu no Rio de Janeiro, em 1995, e dois 
anos depois, aconteceu a segunda edição, em São Paulo. 
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Parada LGBT ou Parada do Orgulho Gay: é uma manifestação 
em prol da luta pelos direitos civis da comunidade homossexual 
e transgênero, acontece em forma de desfile, com muita música, 
dança e performances. Embora seu caráter seja festivo, é importante 
ressaltar o cunho social do evento e sua luta pelos direitos humanos. 
Curiosidade
Nesse percurso de 20 anos, a Parada da Diversidade tomou proporções gigantescas 
em diversas cidades do nosso país. A Parada de São Paulo chegou a atingir quatro 
milhões de pessoas e é considerada uma das maiores do mundo. Mas não foi 
somente a parada da diversidade que teve importantes mudanças. O cenário cotidiano 
da comunidade homossexual também mudou. Eles deixaram de viver em “guetos” e 
conquistaram alguns dos direitos que almejavam. No entanto, cabe ressaltar que ainda 
continuam a caminhada pela conquista plena de seus direitos civis.
Sugerimos a animação “Medo de quê?”, que faz parte do Kit Escola 
sem Homofobia. O desenho animado aborda diversas temáticas 
das questões de gênero: heteronormatividade, homoafetividade, 
orientação sexual, homofobia. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=cIoeUqBxhi0>.
Saiba mais
Importante direito alcançado é a legalidade da união estável entre pessoas do 
mesmo sexo. O reconhecimento aconteceu em maio de 2011, pelo Supremo 
Tribunal Federal. Pouco depois do reconhecimento da união estável para 
pessoas do mesmo sexo, em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) emitiu 
uma resolução que obrigava todos os cartórios a realizarem casamento civil 
homoafetivo. Em dois anos após a resolução do CNJ, foram realizados 8.500 
casamentos homoafetivos, segundo o IBGE, 2015.
Esse fator é importante não apenas pelo reconhecimento social da união, mas 
também porque o casamento civil entre homossexuais garante os mesmos direitos 
que o casamento entre heterossexuais: inclusão em plano de saúde e seguro de 
vida, pensão alimentícia, direito sucessório e divisão dos bens adquiridos. 
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Como sugestão de leitura complementar, deixamos aqui dois textos:
O primeiro deles é uma matéria da revista Galileu publicada em 
março de 2020 a respeito da sigla do movimento LGBTQI+A e de 
forma conceitual explica o que significa cada uma das letras e quais 
são os grupos representados por elas. Disponível em: <https://
revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2020/03/o-que-
significam-letras-da-sigla-lgbtqi.html>. Acesso em: 17 set. 2020. 
O segundo material se refere a uma outra matéria publicada 
no Blog social 1 do site UOL em junho de 2020, que atualiza 
um pouco mais o debate a respeito das concepções de cada 
grupo que compõe a sigla do movimento. Disponível em: 
<https://blogs.ne10.uol.com.br/social1/2020/06/30/o-que-
significa-cada-letra-da-sigla-lgbtqia/#:~:text=Como%20
se%20sabe%2C%20o%20L,sexual%20por%20homens%20e%20
mulheres>. Acesso em: 17 set. 2020. 
Saiba mais
Por fim, importa destacar que cada vez mais na contemporaneidade a sigla do 
movimento tem ganhado mais letra como forma de expandir e dar mais visibilidade 
as diferentes formas de identificação de gênero e orientação sexual atualmente 
a sigla tem sido: LGBTQI+A – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais, travestis 
e transgêneros; Queer, os mais recentes incluídos na sigla são: o Intersexo e o 
Assexual e o sinal de + abarca outras diversidades de orientação sexual e de 
identidade gênero para além dessas citadas. 
Temos os Pansexual que se atraem por pessoas, isto é, independente da orientação 
sexual e/ou identificação de genero. Em algumas reportagens e manuscritos 
acadêmicos pode-se encontrar a com o P de Pansexual. 
Para finalizar, uma das pautas mais recorrentes da luta LGBTI é a criminalização da 
homofobia. Em um primeiro momento, a criminalização da homofobia não consiste 
em criar um estatuto intitulado homofobia, mas o de incluir o crime de homofobia 
em tipos penais já existentes. Atualmente existem alguns projetos de Lei da Câmara 
que visam essa iniciativa. 
O mais conhecido dele é o PLC nº 122/06 que altera a Lei do Racismo e o Código 
Penal. No primeiro caso, amplia a abrangência para punir crimes resultantes de 
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discriminação, incluindo gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero. 
Se aprovada a alteração da lei,a homofobia será considerada crime, assim como o 
racismo. O PLC também visa a alteração do Código Penal, incluindo elementos de 
gênero, sexo, orientação sexual ou identidade de gênero como injúria qualificada.
Fechamento 
Estudamos sobre a historicidade dos movimentos feministas e LGBTQI+A. Nesse 
contexto, é indispensável que se considere a importância dos movimentos sociais 
sobretudo os movimentos que lutam para dar visibilidade as suas causas e que 
lutam pelo fim da diferença, do preconceito e das desigualdades existentes. 
Estudamos também sobre a formação do movimento feminista, como ele surgiu, 
quais foram suas principais reivindicações e suas conquistas e o quanto que ele é 
necessário para que se possa com equidade equiparar os direitos entre as pessoas 
do gênero feminino e do gênero masculino. 
Por fim, também estudamos a respeito da formação do movimento LGBTQI+A, como 
ele surgiu, suas principais reivindicações, o que foi possível alcançar em termos 
de justiça e direitos sociais e civis e o que ainda permanece enquanto luta. Assim, 
afirmamos que, por meio do conhecimento disponibilizado na educação escolar, 
é possível ter conhecimento e sobretudo romper com padrões que originam a 
exclusão, violência e preconceitos contra a diversidade. 
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Referências
CRAVEIRO, A.V. HAMDAN, K.O. Os novos movimentos sociais: uma análise crítica em 
torno desta temática. In: I congresso internacional de política social e serviço social: 
desafios contemporâneos. Londrina – PR. 2015. 
SCERER-WARREN, I. Movimentos sociais no Brasil contemporâneo: In: Revista 
História: debate e tendências V.7 nº 1, Passo Fundo – RS. 2008.

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