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As sete igrejas da Ásia (Apocalipse)
Igrejas são como pessoas. Não há duas iguais. Cada uma tem sua própria personalidade, forma e tamanho. Possuem suas próprias forças e fraquezas, vivendo também em lugares diferentes.
Isto acontecia no primeiro século. Jesus endereçou-se às igrejas de Apocalipse 2 e 3, porque elas não eram iguais. Cada uma tinha sua identidade e personalidade.
Conseqüentemente, o que Jesus tem a dizer a cada igreja é algo singular. Cada carta é feita sob medida; leva em conta as necessidades específicas, forças e fraquezas de cada congregação.
Cada carta segue um padrão comum.
I. O cenário. Em primeiro lugar, Jesus identifica cada igreja pela cidade em que se localiza.
II. O remetente. Cada carta tem uma descrição única de Jesus Cristo, o remetente. Cada uma ajusta-se apropriadamente às necessidades de cada igreja.
III. As virtudes. O Senhor elogia cada igreja - exceto Laodicéia - pelo serviço particular que lhe presta.
IV. O pecado. Cada igreja é admoestada, algumas vezes severamente, por causa de seu compromisso com o mundo. Há duas exceções, Esmirna e Filadélfia, as mais perseguidas.
V. A solução. À sombra de cada repreensão, Jesus prescreve a solução para restaurar a saúde espiritual da igreja. Em cada caso, é a mesma prescrição - a chamada ao arrependimento.
VI. O sofrimento. Duas igrejas, Esmirna e Filadélfia, sofrem perseguição por causa de sua pública confissão. O encorajamento de Jesus fortalece grandemente este povo.
VII. O alerta. Jesus chama todo crente, em cada igreja, em todos os locais, a ouvir o que o Espírito diz na carta, e a colocar as admoestações em prática.
VIII. A promessa. Com a finalidade de nos motivar a fé, o Senhor promete a cada igreja um abençoado futuro nos céus.
Qual a importância destas cartas?
Primeiro, elas ajudam a examinar nossas igrejas. As mesmas forças e fraquezas que havia nas igrejas do primeiro século, podem ser encontradas nas igrejas de hoje. Assim sendo, a solução de Jesus para aqueles dias, continua mais que atual.
Reconheçamos em Jesus Cristo o preeminente Consultor da Igreja; a verdadeira Cabeça da Igreja. Apenas Ele pode edificar a sua Igreja.
Segundo, estas cartas aplicam-se às nossas próprias vidas. Cristo falará com você pessoalmente através de cada uma delas. As virtudes e pecados atribuídos àquelas igrejas podem ser encontrados em nossas vidas. Sendo assim, você precisa ouvir tais conselhos e segui-los.
O alerta final às igrejas da Ásia Menor era um chamado ao avivamento. Um chamado ao despertamento espiritual. O Senhor desejava restaurar a pureza, a doutrina e o fervor espiritual de seu povo. Seu desejo não mudou. Ele quer renovar suas igrejas. Ele quer renovar-nos particularmente.
Aquele que tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas
Igreja de Efeso
O Cenário
Uma viagem à velha Éfeso era como ir hoje a Nova Iorque ou Los Angeles. Era uma próspera metrópole, a mais proeminente cidade da Ásia Menor. Localizada no Rio Caster, a três milhas do Mar Egeu, Efeso era o maior centro comercial da Ásia. Aí, embarcavam- se as mercadorias através do Mediterrâneo, subindo o Caster, onde eram distribuídas ao mundo todo.
Efeso ficava na encruzilhada do mundo. Aqui, entrelaçavam-se quatro grandes estradas, trazendo negociantes e mercadores das mais importantes províncias romanas. Os efésios, por isso, eram mui avançados culturalmente. Eram cosmopolitas nas artes, dramas e urbanização.
Éfeso era uma cidade livre. Por sua lealdade a Roma, estava autorizada a ter governo próprio. Nela, não havia guarnição romana. Nenhuma opressão pairava sobre a cidade. Era imune à influência e à tirania romanas.
Éfeso era também o centro do paganismo. Uma das sete maravilhas do velho mundo estava ali - o templo de Diana. Lugar de intensa idolatria, o templo era tão extenso quanto dois campos de futebol. Nele, floresciam a prostituição, as bebedeiras e as orgias. Não admira que tantos negócios viessem ao templo de Diana.
No templo, criminosos achavam asilo. Era um céu para o perverso. Com suas prostitutas, eunucos, dançarinas e cantores, era o esgoto da iniqüidade. Mas no meio dessa cidade, Deus plantara uma próspera igreja. É melhor desempenhar uma missão nas portas do inferno do que pregar ao coral dos anjos. Deus sempre constrói sua igreja onde as circunstâncias parecem menos favoráveis. Esta é a graça de Deus.
O Remetente
Para esta igreja, localizada em meio a tamanha idolatria e imoralidade, Jesus identifica-se da seguinte maneira:
Escreve ao anjo da igreja que está em Efeso: Assim declara Aquele que tem as sete estrelas na mão direita e anda no meio dos sete candelabros de ouro (Ap 2.1).
O Remetente não é nominado. Mas, obviamente, trata-se de Jesus Cristo. Ele é o mesmo que se revelara a João na estrondosa visão de Patmos. E o próprio Senhor ditando e elaborando a carta.
Jesus dirige a carta ao anjo da igreja. A palavra anjo significa mensageiro. Refere-se ao que tem como ministério primordial levar a mensagem à congregação. Hoje, o chamaríamos de pastor ou ancião. E através dele que esta mensagem é trazida à igreja.
Como Jesus se revela a este rebanho?
Segurando Sete Estrelas
Jesus é o que segura as sete estrelas. Ele exerce controle direto sobre os sete corpos celestes. Estes estão firmemente seguros em sua mão direita. João já nos declinou a identidade das sete estrelas. São os anjos das sete igrejas (Ap 1.20). Cada igreja tem um anjo ou mensageiro, cuja função primária é cuidar da vida espiritual da congregação. Estes homens são chamados para guiar as igrejas, comunicando-lhes a Palavra de Deus. Eles estão encarregados do ensino bíblico, lides pastorais e liderança espiritual.
Jesus segura-os em sua mão direita - lugar de rigorosa responsabilidade, proteção fortíssima e utilidade estratégica. Segurar significa deter algo nas mãos, é como agarrar uma pequena pedra ou moeda com as mãos fechadas. Em sua destra, os líderes espirituais são cercados pelo cuidado de Cristo. São completamente controlados por Ele. Jesus os escolheu e usa-os como quer.
Todo líder espiritual - seja pastor, ancião, missionário, líder de estudo bíblico ou pai, é igualmente responsável diante de Deus. Todo aquele que comunica sua Palavra é diretamente responsável diante de Cristo.
Inspecionando as Igrejas
Jesus anda no meio dos sete castiçais. Como Senhor da Igreja, encontra-se entre os candeeiros. Esta inspeção o mantém intimamente envolvido com a vida de cada congregação. Anda pelos corredores, examina os bancos de cada igreja. Anda pelas salas de aula, senta-se no conselho. Não há segredos para Ele. Jesus inspeciona, mede, avalia e observa a condição espiritual de cada rebanho.
Em Éfeso, Cristo mostra-se como aquEle que possui autoridade e controle absolutos sobre a liderança da igreja. E mantém olhar vigilante sobre a congregação.
As Forças
Éfeso era uma igreja extraordinária! Não nos surpreende que Jesus iniciasse a carta elogiando-lhe os membros. Ao andar no meio dos seus castiçais, o Senhor viu muitas qualidades pelas quais parabeniza-a.
Eu sei as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os mal; e que pusestes à prova os que dizem ser apóstolos e o não são, e tu os achaste mentirosos. E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste. (Ap 2.2,3)
No centro de suas virtudes, estava o ministério dinâmico. Era o trabalho pesado, constantemente servindo a Cristo. Não um museu para santos passivos, mas uma infantaria para trabalho ativo.
Cristandade não era um esporte para aqueles crentes. Eles não iam à igreja para se entreterem. Estavam envolvidos ativamente no trabalho do ministério com sacrifício, desinteressadamente, servindo, fazendo, dando, indo, labutando.
Trabalho e Paciência
Jesus disse “Eu sei as tuas obras e o teu trabalho, e a tua paciência”. “Trabalho” (kopas) significa que serviam a Cristo até a exaustão. Um suor santo corria de suas testas enquanto ministravam. “Paciência” ou perseverança (hupomone) significa que ministravam sob grande stress e pressão. Ao receber uma tarefa, levavam-na atéo fim.
Eles eram motivados e ativos. Ensinavam a Bíblia. Ganhavam as almas. Ajudavam uns aos outros. Alimentavam aos pobres. Executavam o ministério por todos os lados, sem preguiça ou letargia.
Esta qualidade é muito própria de Cristo. Jesus não veio para ser servido, mas para servir (Mc 10.45). Ele entregou sua vida pela humanidade. Sua vida terrena era repleta de boas obras, labuta generosa, dias longos, horas fatigadas. Esforçava-se até a exaustão. Serviu incansavelmente durante os dias de seu ministério.
Rigoroso e Estável
Esta igreja não suportava o mal. Tinha alto padrão moral; não tolerava o pecado. Com zelo santo, banira a iniqüidade violentamente. Moralidade era preto no branco, sem nenhuma área cinzenta.
Se algum de seus membros caia em pecado, confortava-o com amor, chamando-o ao arrependimento. Se não se arrependesse, a igreja não permitiria que o fermento se espalhasse. Como que operando um câncer mortal, eliminava o pecado onde quer que o encontrassem.
Éfeso não era um clube de campo. Não pareciam santos no domingo, agindo como ímpios na segunda-feira. Eram santos sempre.
Sua igreja suporta o mal? Tolera a iniqüidade na vida de seus membros? Éstá comprometida em exercitar a disciplina?
Jesus parabenizou-os: “Puseste a prova os que dizem ser apóstolos e o não são, e tu os achaste mentirosos”. Quando os itinerantes vinham a Éfeso, sua doutrina era colocada à prova antes que subissem ao púlpito. Os efésios tinham conhecimentos sólidos da doutrina; eram teologicamente notáveis. Erros doutrinários não eram tolerados. Para eles, as coisas tinham de ser: pão, pão, queijo, queijo. Podiam sentir a heresia à milhas de distância. Tão logo divisavam as heresias, os alarmes eram soados.
Com quarenta anos de existência, a igreja em Éfeso dispunha de excelentes ensinadores. Fundada pelo apóstolo Paulo (At 18.19- 21), os crentes foram disciplinados por Aquila (At 18.26), doutrinados por Apoio (At 18.24,25), pastoreados por Timóteo (lTm 1.3) e instruídos por João. Direta ou indiretamente, tinham sido os beneficiários de oito livros do Novo Testamento: João, Efésios, 1 e 2 Timóteo, 1, 2 e 3 João e Apocalipse. Paulo estava em Éfeso quando escreveu 1 Coríntios.
Era a cidadela da ortodoxia. O baluarte da verdade. A fortaleza da fé. Tudo isto é importante. O vigor de um ministério encontra-se em sua pureza doutrinária. Como os alicerces de uma casa, a correção teológica proporciona estabilidade, força e longevidade.
Vivemos dias onde as igrejas são construídas sobre desinformação teológica. Temos nos divorciado da rainha das ciências - a teologia - por termos um caso com as ciências comportamentais: psicologia e sociologia. Sacrificamos a pureza doutrinária no altar de tolerância teológica. Que Deus tenha misericórdia de nós.
Firme e Forte
Jesus disse: “E sofreste, e tens paciência, e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste” (v. 3). Não obstante à oposição crescente à Cristo, esta igreja permaneceu como sólida rocha. Seus crentes não recuaram em sua missão. Enquanto vivessem no esgoto do paganismo, cuidaram com tenacidade de seu testemunho cristão. Mesmo atacados por suas convicções, não recuaram. Suportavam tudo em nome de Jesus. Serviam pela glória do Senhor, não por sua própria reputação. Esta é uma igreja dinâmica!
Precisamos de congregações como esta. Rigorosa. Perseverante. Precisa. Sadia. Estável. E forte. Tinha substância. Se você fosse a um de seus cultos, teria a impressão de estar no corpo de fuzileiros de Deus. Eles tinham suprimento para todos. Seus ministros eram copiosos. O local era farto! O que poderia estar errado numa igreja como esta?
Muita coisa.
Eles tinham tudo exceto o principal.
O Pecado
Abruptamente, Jesus muda de tom. O Mestre coloca seu dedo na ferida da igreja. Ele aponta a falha fatal, tão sério que colocava em perigo a existência da própria igreja. O que poderia ser?
Jesus disse:
Tenho, porém, contra ti que deixaste a tua primeira caridade (Ap 2.4). 
Éfeso havia deixado o primeiro amor. Entre os seus muitos ministros, todos tenazes e fiéis, o amor por Cristo tinha se esfriado. Quanto mais ocupados, mais se afastavam da devoção a Cristo.
O primeiro amor é fervoroso, passional e apaixonado. É como o de recém-casados. É romântico. É uma atração mística. Os corações se acendem. O romance inflama. As vidas se apaixonam, tornam-se uma. Mas algo acontece. Em algum lugar na rotina diária do casamento, a lua-de-mel termina. Nascem as crianças. A carreira decola. Os negócios se expandem. As atividades aumentam. O stress se multiplica. E, repentinamente, duas pessoas acordam totalmente estranhas.
O gotejamento foi a causa do declínio de Éfeso. Seu amor devotado por Cristo esfriara. Seu ministério fizera-se mecânico. O relacionamento, rotineiro. Doxologia agora era ortodoxia. Eles ainda vinham à igreja. Ainda serviam. Sua fé ainda era verdadeira. Mas seus corações não iam além disto. Tinham muitas atividades por Cristo, mas pouca intimidade com Ele. Suas cabeças estavam cheias, os pés, ocupados; mas seus corações já estavam vazios. Este esfriamento sempre ocorre em momentos extraordinários; aponta para um afastamento gradual. Significa deixar algo para trás. Esta separação não acontece da noite para o dia. Acontece em algum lugar da jornada terrena.
Jesus afirmou certa vez que o maior mandamento é amar a Deus (Mt 22.37-39). Precisamos amá-lo com todo nosso coração, alma, mente e força. O amor por Cristo precisa preencher todas as lacunas de nosso ser. Sem amor por Ele, somos apenas um metal que soa, um sino que tine (ICo 13.1). Nossos corações precisam pulsar com um estonteante, passional e vibrante amor por Cristo. Caso contrário: nada seremos.
Se falhamos em amá-lo, desobedecemos o maior mandamento. Não importa se guardamos os demais mandamentos; não podemos quebrantar este. Deixar o primeiro amor é pecado capital. Se nosso amor por Cristo é frio, de nada adianta servi-lo ou crer nEle. A perda do primeiro amor distancia-nos de seu favor. E a sua luade- mel espiritual já terminou? E a sua paixão? Se isto aconteceu, é sinal de que você já perdeu o seu primeiro amor.
Em meio à multidão, é fácil entrar no ritmo da igreja. Freqüentar o estudo bíblico. Usar o jargão correto. Sair com o grupo certo. Você pode fazer tudo e, mesmo assim, não sentir mais nada por Cristo. Mas quanto mais você o fizer, mais vazio se sentirá. Há um sentimento que o atormenta profundamente. Você se afastou do Senhor. E sabe disto!
Então o que deve fazer?
Como reconquistar o primeiro amor?
A Solução
Agora, o amoroso Jesus pleiteia com a igreja de Éfeso. De braços abertos, prescreve os passos que levam de volta à lua-de mel. Eis como podemos nos achegar a Ele novamente. Como reconquistar nossa paixão por Cristo.
Lembra-te pois donde caíste e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei e tirarei do seu lugar o teu castiçal se não te arrependeres. Tens, porém, isto: que aborreces as obras dos nicolaítas, as quais eu também aborreço (Ap 2.5,6).
Primeiro Passo: Lembrar
Em primeiro lugar, Jesus exorta: “Lembra-te de onde caíste”. Noutras palavras, lembre-se de quando aceitou a Jesus. Reviva aquele sentimento inicial, quando você realmente amava a Jesus
Você pode lembrar-se de como amava a Jesus? De como era apaixonado por Ele? Sempre que abria a Palavra, Deus lhe dizia algo. Ao orar, o céu se abria! Por onde quer que fosse, sentia necessidade de falar às pessoas sobre Ele. Onde houvesse necessidade, você ministrava em nome de Jesus. Cristo lhe havia feito tanto, que não lhe restava outra alternativa senão servi-lo.
O Senhor aponta não só para as faltas deles; mostralhes também como corrigi-las. Após criticar negativamente sua situação espiritual, ele lhes ordena positivamente que a restaurem. Precisam lembrar-se constantemente de sua posição anterior, renovando sua própria história eclesiástica e recordando o que seus antepassados fizeram na igreja há quarenta anos; e assim que recordarem sua história, devem reconhecer que mudaram para pior. A radiância de seu ardor espiritual sedesvanecera. Aliás, sua realização sem brilho fez com que perdessem seu lugar de proeminência entre as igrejas. Fracassaram em sua anterior hegemonia e perderam sua excelência moral.
Quando Jesus afirma: “E pratique as obras que praticava no princípio”, ele tem em mente não as obras que os efésios estiveram praticando até então, mas, antes, as obras de amor por Cristo. A ênfase recai não na palavra obras, mas na expressão no princípio. Assim como ele perguntara a Pedro na praia do lago da Galiléia: “Simão, filho de João, você realmente me ama mais que estes?” (Jo 21.15), assim ele faz com os membros da igreja em Éfeso acerca de sua devoção indivisa. Devem mudar seu estilo e conduta de vida, isto é, devem arrepender-se e volver 180 graus completos.
Ameaça. 
Não obstante, se falharem em corresponder à reiterada chamada de atenção de Jesus a que se arrependam, o Senhor tomará medidas drásticas. Ele está vindo, e já está a caminho, para visitá-los; ele não esperará até sua vinda para a consumação. E mesmo antes de sua vinda final os efésios não mais serão uma igreja. Jesus removerá o candelabro de seu lugar, significando que, como congregação, experimentarão uma completa hecatombe. Uma igreja cessa de ser igreja quando ela não mais serve a seu Mestre com genuíno amor e dedicação. Há inclemente evidência de que o cristianismo nominal enfrenta uma morte natural dentro de uma ou duas gerações, e, conseqüentemente, sai completamente de cena. Os membros podem ainda congregar-se, porém se reúnem para propósitos sociais, e não espirituais.
Uma década após João haver escrito o Apocalipse, Inácio escreveu uma carta à igreja de Éfeso, na qual ele enaltece os cristãos locais por sua perseverança e sua resistência aos enganos. Ele nota que algumas pessoas da Síria se transferiram para Éfeso com ensinos nocivos, porém os efésios se recusaram a dar-lhes ouvidos. Ele os elogia por serem de uma só mente com os apóstolos no poder de Jesus Cristo. Evidentemente, as pessoas tinham levado a sério as palavras de Jesus.
Promessa
Entretanto, há uma coisa a seu favor: você odeia as práticas dos nicolaítas, as quais eu também odeio (Ap 2. 6,7)
Os efésios não vacilaram em questões doutrinais, porquanto permaneceram fiéis aos ensinamentos da Palavra de Deus. Ainda que Jesus tenha censurado os membros da igreja de Éfeso, pastoralmente os enaltece, elogiando-os por sua fidelidade à sua Palavra. Fizeram oposição aos falsos apóstolos e despacharam esses homens perversos de seu meio (v. 2).
Agora Jesus insere que os crentes efésios odiavam as obras dos nicolaítas, e acrescenta que ele odeia igualmente essas obras. Note que o ódio é direcionado para as obras, não para pessoas. Jesus odeia o pecado, porém estende seu amor para o pecador. Enquanto o pecado é uma afronta à sua santidade, a missão de Jesus é conduzir os pecadores ao arrependimento (Lc 5.32).
Quem eram os nicolaítas? Três opiniões sobre esta pergunta se restringem ao campo das conjeturas, porquanto no Apocalipse os detalhes são escassos. Primeiro, na Igreja primitiva Irineu ensinava que os nicolaítas eram seguidores de Nicolau, um convertido ao judaísmo que 
fora designado diácono (At 6.5). Em segundo lugar, outros vêem tais pessoas como sendo gnósticas, seita que procurava infiltrar-se nas igrejas. Por último, com base na exegese, ainda outros asseguram que os nicolaítas eram pessoas que seguiam os ensinamentos dos falsos apóstolos e de Balaão. Esse pressuposto desfruta de mérito, pois em estilo tipicamente hebraico João escreve na forma de paralelismo para realçar um ponto. Os falsos apóstolos buscavam escravizar a mente das pessoas com suas doutrinas enganosas; os seguidores de Balaão tentavam conquistar pessoas através da fraude; e o nome grego, Nikolaos, significa “ele conquista pessoas”. À guisa de comparação com o que se diz sobre os seguidores de Balaão (2.14) e de Nicolau (2.6, 15), presumimos que esses enganadores pertenciam ao mesmo grupo. Não obstante, não há certeza sobre este ponto. 
Em vista da ausência de informação nas cartas às igrejas de Éfeso e de Pérgamo, só podemos conjeturar que o estilo de vida dos nicolaítas se caracterizava pela imoralidade, pela participação em comer alimento oferecido aos ídolos e pela perversão da verdade (2.14-16). Os cristãos de Pérgamo e de Tiatira se digladiavam com as mesmas doutrinas e estilo de vida fraudulentos (2.14-16,20-24). Não obstante, nessas igrejas muitos sucumbiram ante as fascinações dos intrusos e, subseqüentemente, receberam palavras de repreensão por seu fracasso em seguir Jesus.
Aquele que tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei permissão de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus. 
Aos que vencerem a apatia espiritual e retomarem ao primeiro amor, Jesus faz uma grande promessa.
Especificamente, esta promessa é endereçada ao vencedor. Todo verdadeiro cristão é vencedor. As Escrituras dizem: “Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus” (1 Jo 5.5). Todos os que receberam a Cristo, compartilham de sua vitória sobre o pecado, Satanás e a morte.
Todos os verdadeiros crentes vencerão em virtude do ministério perseverante do Espírito Santo (F1 1.6).
 O que reconquistar o primeiro amor, comerá da árvore da vida. Quando Adão pecou, foi expulso do Éden. Sob o julgamento de Deus, ficou proibido de comer da árvore da vida. Na verdade, foi um ato de misericórdia da parte de Deus. Se Adão tomasse da árvore da vida, viveria eternamente (Gn 3.22) em pecado. Mas quando o pecado for totalmente removido, readquiriremos tal direito.
 Em Cristo, o acesso à árvore da vida é recobrado. Em Gênesis, o Paraíso é perdido. No Apocalipse, recuperado. Assim sendo, a árvore da vida torna-se o suporte para a história da redenção revelada nas Escrituras. Satisfação, força e salvação pertencem ao vencedor.
Esmirna 
Esmirna (moderna Izmir) era a mais bela cidade da Ásia Menor. Uma estimativa de sua população nos dias de Paulo atinge a cifra de 250.000 habitantes, a qual nos tempos modernos pode ser quase duplicada. Era uma cidade próspera que ficava no final de uma rodovia principal que cortava os campos férteis do vale Hermo. Era a coroa do continente. Próspero centro portuária, possuía um pitoresco cenário natural. Fazia fronteira com o Mar Egeu, sendo ladeada por uma montanha circular chamada Pagos.
A bela montanha era contornada pela Rua do Ouro. Nela, haviam templos pagãos e edifícios públicos que lhe davam a aparência de uma coroa. As ruas bem pavimentadas e delineadas por arvoredos, acentuavam-lhe a beleza. Seus prédios eram conhecidos como a coroa de Esmirna; assemelhavam-se a um colar de diamantes.
Séculos antes, Alexandre, o Grande, determinara fazer de Esmima a cidade-modelo da Grécia. Sua vida cultural florescia. As artes, educação, filosofia e ciência. Tudo florescia. Ela ostentava magnífica biblioteca e um monumento ao seu mais ilustre filho - Homero. Aqui, achava-se também o maior teatro da Ásia. Seu orgulho e beleza estavam gravados em suas moedas. Se Efeso era como São Paulo - líder no comércio e na indústria, Esmirna era como o Rio de Janeiro um centro cultural de primeira grandeza.
Localizada a 40 milhas ao norte de Éfeso, possuía um porto natural onde frotas inteiras abrigavam-se de ataques e tormentas. Ela ocupava o segundo lugar nas exportações, sendo superada somente por Éfeso. Era o grande e florescente centro do comércio internacional.
Esmirna tinha fortes laços com Roma. Quando seis cidades competiam pelo privilégio de construir um monumento à capital do império, foi Esmirna a escolhida. Sua fidelidade a César era indiscutível.
Conseqüentemente, era um próspero centro do culto ao imperador. Naqueles dias, César era como um Deus para o povo. À sua imagem, esculpida em mármore, eram queimados incensos. Todos eram convocados, anualmente, a jurar fidelidade ao imperador. O que se recusasse a fazê-lo, era preso e executado ao fio da espada. O registro de sua oposição ao Cristianismo está conectado com o martírio de Policarpo, que em 23de fevereiro de 155 foi morto devido a sua recusa de negar o nome de Jesus. Ele fora bispo de Esmirna por muitos anos. Como um santo já idoso, ele respondeu ao procônsul que lhe dava a escolha de amaldiçoar o nome de Jesus e viver, ou confessar seu nome e morrer: “Servi a Cristo durante oitenta e seis anos, e ele nunca me fez mal. Como posso blasfemar meu Rei que me salvou?”. Por isso o procônsul o sentenciou a morrer na estaca. O registro indica que os judeus tomaram a dianteira, ajuntando lenha para o fogo. Ainda que fosse o sábado, deliberadamente carregaram feixes de lenha e transgrediram a lei. Esmirna era o berço do paganismo. Cibele, Apolo, Asclépio, Afrodite e Zeus. Todos os deuses eram abertamente adorados em Esmirna. Mas, nesta perversa cidade, havia um pequeno rebanho de Cristo. Arrancados a esse sistema diabólico, fizeram-se Igreja de Deus. Em Esmima não era fácil ser cristão. Muitos eram perseguidos e mortos por sua fé. Ser chamado de cristão, aqui, era sobremodo perigoso.
Esmirna significa myrh - fragrância usada para se fabricar perfume. A palavra mirra (grego smyrna) aparece no Novo Testamento como um dos presentes preciosos que os homens sábios do Oriente levaram a Jesus e como um ingrediente usado no processo de embalsamamento que Nicodemos levou ao túmulo de Jesus (Mt 2.11; Jo 19.30; ver também Êx 30.23; SI 45.8; Ct 5.5, 13). Quando esmagada, a casca da myrh exala doce aroma. Esta é a precisa descrição da igreja. Quanto mais esmagada pelo mundo em virtude de sua fé em Cristo, mais o aroma de seu testemunho exala. Diante da oposição, a fragrância daquela igreja espalhara-se por toda a Ásia Menor. 
Remetente
Jesus identifica-se a esta perseguida e atribulada igreja de maneira dramática. Encoraja-a; enaltece-lhe o espírito.
E ao anjo da igreja que está em Esmirna, escreve: Isto diz o primeiro e o último, que foi morto, e reviveu… (Ap 2.8).
Aquele que É Eterno
Jesus é o primeiro e o último. Este título lhe declara a eternidade. Antes que o tempo existisse, Jesus já existia. E Ele existirá depois que todas as coisas se findarem. Da eternidade a eternidade, Ele é. Nada pode limitá-lo.
Ele revela sua natureza a Esmima para que esta, em meio ao sofrimento, tenha uma perspectiva eterna. Em meio às lutas, lembremo-nos de que Jesus já existia antes do tempo. O que aqui sofremos é insignificante se comparado à glória eterna que nos aguarda.
Aquele que Vive
Jesus é aquele que foi morto e reviveu. Ele transpõe a eternidade. Como Deus eterno, invadiu o tempo e a história no ventre da virgem. Tomou-se verdadeiro homem. Tomou a forma de servo e viveu a vida sem pecado. Falsamente acusado como criminoso, foi suspenso entre o céu e a terra entre dois ladrões. Mas obediente até morte, Deus o ressuscitou triunfantemente.
Sua vitória sobre a morte é também a nossa vitória. Grande encorajamento para esta igreja sofredora! Eles também sofriam injustiças de Roma. E à semelhança de Cristo, mantinham-se obedientes e fiéis até a morte. Mas a morte não pode deter os santos. Um dia, os mártires ressuscitarão triunfalmente: sua vitória é eterna.
O Pecado
Não há repreensão para Esmima. Nenhum membro é censurado. Embora não haja igreja perfeita aos olhos de Cristo, diante de quem todas as coisas estão expostas e descobertas, Esmima não apresenta nenhuma falha gritante.
Imagine-se, agora, em Esmirna, ouvindo esta carta. No momento da repreensão, nenhuma censura. Nenhuma! Apenas favor e aprovação do Cristo.
O Sofrimento
Jesus agora conforta sua igreja. Perseguida e pura, não necessita de correção, mas de encorajamento. Diz-lhe o Senhor:
Conheço sua tribulação, sua pobreza (mas você é rico), e a blasfêmia dos que se dizem judeus e não o são, porém são sinagoga de Satanás. E não tenha medo de tudo o que você está para sofrer. Eis que o diabo está para lançar alguns de vocês na prisão, para que sejam provados, e terão tribulação por dez dias. Seja fiel até a morte, e lhe darei a coroa da vida. (Ap 2.9,10)
Assim Jesus inicia a sua carta: “Eu sei as tuas obras”. Sei ou conheço (oida., no grego) é o conhecimento adquirido pela própria experiência. E aprender algo através do envolvimento pessoal. E também apreciar, respeitar ou valorizar a qualidade de uma pessoa ou coisa.
Ao declarar: “Eu sei a sua tribulação”, Ele está dizendo: “Sei exatamente o que está se passando. Já passei por isto. Sei como se sente. Sei como é ser falsamente acusado, molestado e cuspido. Sei o que é ser açoitado, escarnecido e morrer de maneira injusta. Sei o que está sofrendo, e valorizo grandemente a sua lealdade”.
Jesus fala sobre cinco diferentes níveis de perseguições sofridas por Esmirna: governamental, econômica, física, religiosa e satânica.
Perseguição Governamental
Esmirna sofria sob a tirania de Roma. Mais adiante, Jesus identifica tal tribulação como prisão ou encarceramento.
A palavra tribulação (thlipsin, no grego) é muito radical. Literalmente, significa esmagar um objeto, comprimindo-o. Descreve a vítima sendo esmagada, e seu sangue, extraído. Descreve pessoas esmagadas até a morte por uma enorme pedra. Também descreve a dor duma mulher ao dar filhos à luz. “E você terá tribulação por dez dias.” Esta é a segunda vez que o termo tribulação ocorre (v. 9). Aqui, porém, sua duração é específica: por um período de dez dias. No Apocalipse, o número dez comunica o significado de plenitude no sistema decimal. E um número simbólico para expressar a completude do período de sofrimento, o qual nem é longo nem curto, mas completo, pois seu término é certo.
Em Esmirna, os crentes eram dolorosamente esmagados sob as rígidas cláusulas da lei romana. Eram arrancados de suas casas, capturados nas feiras livres e levados cativos. César jogava toda a força de seu poderoso império sobre esta pequena igreja. E muitos desses santos já haviam selado seus testemunhos com o próprio sangue.
Quando a igreja foi fundada em Jerusalém, era Israel quem lhe avultava como ameaça, e não Roma. Além do mais, vigorava naqueles dias a pax romana, obrigando todas as possessões imperiais a observarem rigoroso ordenamento. Embora cada país conquistado pudesse conservar seus próprios líderes e costumes, tinha de prestar cega obediência ao imperador. Aparentemente nada havia mudado. O povo ainda gozava certas liberdades políticas, religiosas e culturais, mas lá estava o Império Romano pronto a reprimir qualquer indisciplina.
Mas tudo mudou repentinamente. Em 67 d.C., um louco chamado Nero subiu ao trono de Roma. Temendo perder o trono, Ele matou suas três primeiras esposas e a própria mãe. Sob sua insanidade, as chamas da perseguição foram inflamadas contra a igreja. Nero culpou os cristãos por muitos de seus erros políticos. Foi esta a perseguição mencionada nas duas epístolas de Pedro.
 Mas Nero morreu cedo, proporcionando momentâneo refrigério à igreja. Em 81 d.C., porém, outro insano assume o poder. Domiciano era mais cruel que Nero. E logo uma segunda onda de perseguição levanta-se contra os cristãos. Esta é a perseguição a que Jesus se refere na carta a Esmima.
Ao expandir-se, Roma conquistou muitos territórios e países, gerando grande diversidade de línguas e culturas no império. Como unificar tantas diversificações? Como consolidar tantos movimentos nacionalistas? Alguns destes, contra Roma. A adoração ao imperador foi a resposta. Uniria o império, pois obrigaria cada cidadão romano a prestar, uma vez por ano, pública lealdade diante do busto de César. Para a grande maioria dos cidadãos romanos, isto não era problema. Afinal, já adoravam a vários deuses. O que era mais um deus?
Mas para os cristãos, adorar a César era uma traição ao Rei dos reis. Não podiam assentir nesta idolatria. Ao invés de declarar: “César é Senhor”, os primeiros cristãos bravamente confessavam: “Cristo é Senhor! Como resultado, passou a igreja a sofrer dolorosamente.
Perseguição Econômica
Houve também perseguição econômica contra a igreja em Esmirna. Foi Jesus quem o revelou: “Eu sei a tua tribulação e pobreza” (Ap 2.9). A palavra pobreza (ptocheian, no grego) denota alguém tão desprovidode bens, que nada chega a possuir. Ele não está apto a ganhar nem mesmo ninharias; acha-se à mercê da caridade humana.
Assim, Esmirna, tão pobre que não podia fazer o mínimo orçamento. Não tinham nada. O motivo?
Os teólogos da prosperidade responderiam: “Esmirna estava fora da vontade de Deus. Tudo o que tinham a fazer era decretar a bênção. Estavam vivendo indignamente. Deus os queria ricos.”
Mas, deveriam eles ser repreendidos por sua pobreza? Não! Eram pobres porque estavam na vontade de Deus. Prosperidade financeira não é a vontade de Deus para todos. Por isto é difícil ser cristão. Pode custar até mesmo a prosperidade financeira.
Não se esqueça de que Esmirna era uma das mais prósperas cidades daqueles dias. Não havia baixas no mercado, nem recessão. Os negócios cresciam. Lá, qualquer pessoa podia prosperar. Mas os homens de negócios cristãos eram despedidos de seus empregos. Suas lojas, violadas e saqueadas; seus pertences, roubados. Tudo porque confessavam que Jesus Cristo é Senhor, e não César.
A analogia mais próxima que temos é a grande perseguição dos judeus na Alemanha nazista. Suas viagens eram restritas. Suas lojas, vandalizadas. Seus locais de adoração, maculados; e suas propriedades, confiscadas. Eram humilhados, estigmatizados dos, caluniados, molestados e agredidos fisicamente. Eram privados do básico no dia a dia. Tudo isto por sua identidade religiosa.
Perseguição Religiosa
Jesus identifica outro nível de perseguição – a religiosa: “Eu sei... a blasfêmia dos que se dizem judeus e não o são, mas são a sinagoga de Satanas” (Ap 2.9).
O nó continua apertando.
Em Esmirna, havia uma grande comunidade judaica que hostilizava fanaticamente o cristianismo. Tal fúria já fora demonstrada no apedrejamento de Estêvão em Jerusalém (At 7). Cheios de ódio, os judeus tramavam agora contra os nascidos de novo. Não satisfeitos, também blasfemavam contra os crentes.
Eles acusavam os cristãos de comerem carne humana, numa referência à Santa Ceia. Acusavam ainda de perversões sexuais por causa do ósculo santo e da ênfase que estes davam ao amor fraternal. Conseqüentemente eram acusados de incesto e orgias sexuais.
A Igreja, segundo eles, era ateísta por não adorar a César. Era politicamente infiel. E por requerer absoluta fidelidade a Cristo, era acusada de separar famílias. Mas estes acusadores eram a sinagoga de Satanás, instrumentos do demônio. Usados pelo inferno, faziam oposição ao povo e ao plano de Deus. Da mesma forma, a igreja hoje pode esperar semelhante perseguição, não somente do governo, mas também dos cristãos apóstatas que não passam de sinagogas de Satanás.
O diabo também vai à igreja. Ele diz: “Tenho alguns pregadores, quero ouvi-los falar. Tenho alguns corais, quero ouvi-los cantar. Tenho alguns discípulos com os quais quero compartilhar meus planos”.
Há igrejas que não passam de redutos de Satanás. Não pregam o verdadeiro Evangelho. Negam a Escritura, menosprezam a ressurreição de Jesus Cristo. Promovem a licenciosidade. Abandonando a Palavra de Deus, ordenam homossexuais ao ministério cristão. Permitem todo tipo de perversão.
Estas sinagogas de Satanás perseguirão em breve a verdadeira Igreja de Deus.
Perseguição Física
Jesus também alertou quando à perseguição que Esmirna haveria de sofrer. A questão não era se iriam sofrer. Mas quando e o quanto? Jesus garantiu que mais sofrimento estava por vir. Ele não oferece livramento, mas avisa que o diabo lançaria alguns na prisão. As prisões romanas eram lugares horríveis. Ninguém queria ser lançado nelas. Os presos ou eram mortos pelas autoridades penitenciárias, ou torturados e arremessados às ruas. Ninguém durava muito tempo numa prisão romana.
O governo era muito ocupado para pajear criminosos; nada queria gastar com a sua alimentação. Caso o prisioneiro fosse cristão, a situação piorava. Era morto, ou surrado e atirados à rua.
Esmirna sofreu fisicamente! Os oficiais romanos invadiam as casas, e prendiam os crentes diante do olhar aflito de seus familiares. Arrastavam-nos às prisões, fazendo deles público exemplo.
Misericordiosamente, o Senhor estabelece limites para nosso sofrimento. A prova não vai além do que podemos suportar. Se o Senhor diz dez dias, não há forças na terra capaz de prolongar-nos o sofrimento. Para os cristãos de Esmirna, Jesus recomenda: “Sê fiel até a morte”. Alguns deles pagariam com a vida o preço de seguir a Cristo. Mesmo em face ao martírio, Jesus é taxativo: “Sê fiel até a morte”.
Perseguição Satânica
Finalmente, Jesus dissera que Esmirna enfrentaria perseguição do próprio diabo. Como aqueles cristãos viviam para Cristo, seriam atacados pela sinagoga de Satanás. Estariam em guerra contra o próprio inferno. Decididamente, não lutavam contra a carne, e sim contra os principados, potestades, príncipes das trevas e hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais (Ef 6.11,12).
Por trás de toda perseguição, acha-se o próprio Satanás. Por trás do imperador romano, o demônio, que despejava sua fúria contra os crentes. Muitos cristãos foram presos, e outros, condenados à morte.
Estes crentes sofreram, simultaneamente, de cinco maneiras diferentes. Foram atacados política, econômica, religiosa, física e satanicamente. Afinal, como escreve Paulo “todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus, padecerão perseguições” (2 Tm 3.12). Não se engane! Custa caro ser cristão. Nalguns lugares, mais que em outros. Com as pressões do final dos tempos, a perseguição contra a igreja crescerá ainda mais. Por todo o mundo, igrejas e indivíduos serão convocados a sofrer mais que nunca.
Não há repreensão para Esmima. A outra exceção foi Filadélfia, que também sofria perseguição. A lição é muito clara: a perseguição purifica a igreja! Se o mundo o perseguisse, você jamais amaria as coisas que ele oferece. 
Que conselho Jesus tem para a igreja sofredora? Apenas dois lembretes: “Nada temas” e “Sê fiel até a morte”. É que alguns daqueles cristãos achavam-se amedrontados e perigosamente enfraquecidos. A fórmula para não se temer ao homem é temer a Deus. Tema a Deus e não precisará temer o homem!
O temor a Deus começa com a visão de Deus, cultuada com o entendimento de sua impressionante santidade. Submeta-se a sua soberania. Dobre os joelhos diante de sua justiça. Seja consumido pela grandeza divina.
Mais a frente Jesus diz: “Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida”. Ao enfrentar a morte, os crentes eram encorajados a serem fiéis. Não podiam voltar atrás e negar o nome de Cristo. Nem todos são chamados a ser um mártir. Mas todo discípulo precisa estar pronto a fazer tal sacrifício.
Nossa voluntariedade em morrer por Cristo é a última prova de nossa lealdade a Ele. Não estamos prontos a viver até estarmos prontos a morrer. Crentes que morrem por sua fé em Cristo são recompensados. A coroa da vida os espera. Esta coroa (stephanos, no grego) é o galardão da vitória que recebiam os atletas vencedores. Sua lealdade até a morte trar-lhe-á esta coroa. Eis aqui forte motivação para se permanecer fiel a Cristo. Uma coroa especial está a espera de todo aquele que pagar o último preço por seguir a Cristo.
O Alerta
Apesar da violenta perseguição, os vencedores obterão grande vitória sobre o mundo. Jesus conclui com um alerta para se ouvir e considerar esta mensagem:
“Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas (Ap 2.11)
A promessa
Para o que ouve e obedece ao que o Espírito diz, Jesus faz esta promessa estarrecedora:
“O que vencer não receberá o dano da segunda morte” (Ap 2.11b).
Todos os verdadeiros cristãos são vencedores (lJo 5.5). E estes não serão danificados pela segunda morte.
A primeira morte é física', é a separação da alma do corpo. A segunda é espiritual', é a separação da alma da vida eterna. A morte espiritual resulta em eterno tormento no lago de fogo. É a punição eterna (Ap 20.10).
Os verdadeiros cristãos jamais experimentarão a segunda morte. Dizem que, ou nascemos uma vez e morremos duas, ou nascemos duas e morremos uma vez. Mas os cristãos enfrentam a primeira morte sem medo. A segunda não tem podersobre nós. Podemos visualizar a morte física sem nada temer - mesmo enquanto somos torturados por amor a Cristo - sabendo que ela levar-nos-á mais rapidamente à presença de Deus.
A mensagem à Esmima é um alerta para que sejamos completamente dedicados a Jesus Cristo, mesmo enfrentando a perseguição e a luta. Enquanto o mundo torna-se escuro, a Igreja há de brilhar. Agora é o tempo de se levantar por Jesus Cristo.
Custe o que custar!
Igreja de Pérgamo
Pérgamo não era um local fácil para se viver. Mesmo assim foi lá que Deus plantou sua igreja. Nesta carta, Cristo alerta-os a permanecer fiéis neste ambiente infernal.
Cerca de sessenta e cinco milhas ao norte de Esmirna, e quinze milhas do Mar Egeu, ficava a cidade de Pérgamo (moderna Bergama). Seu nome tem sido perpetuado no termo inglês parchment (francês parchemin; holandês perkamenf; espanhol pergamino; [português pergaminho]). A expressão ilustra a indústria de um antigo pergaminho, onde seu povo, devido a um comércio embargado, não podendo comprar os produtos de papel (feito das folhas de papiro egípcio), preparava peles de animais com o propósito de escrever. A cidade não só negociava essas peles, mas também abriu uma biblioteca que chegou a armazenar cerca de duzentos mil rolos. Veio a ser um centro cultural onde o conhecimento era acumulado, aplicado e disseminado.
Localizada numa elevação de cerca de mil pés, Pérgamo servia como uma fortaleza que dominava a zona rural. Era uma cidade que desfrutou de proeminência durante séculos antes que os romanos a invadissem e fizessem dela uma capital. Pérgamo era conhecida como um centro religioso, com templos para Zeus Soter, Atena Nicéfora, Dionísio Catégemo e Asclépio Soter. Construído sobre uma saliência fronteira ao templo de Atena, estava o altar de Zeus. Era o mais esplêndido dos monumentos religiosos por causa de sua altura - cerca de quarenta pés. Asclépio era o deus da cura, e atraía o interesse de incontável multidão que sofria de males físicos. Seu símbolo era a serpente, o qual ainda decora hoje os emblemas da medicina. Depois que os romanos conquistaram Pérgamo, construíram um templo em 129 a.C. Mais tarde, dedicaram o templo a Augusto e a Roma37 e introduziram o culto a César. Templos dedicados a Trajano e a Severo foram construídos bem depois. O culto ao imperador tinha seu centro em Pérgamo, e por algum tempo a cidade rivalizou com Esmirna e com Éfeso, pois lhe foi dado o privilégio de designar um administrador ou guardião (neokoros) do templo. Chegou também a ser o primeiro centro romano da província da Ásia. O procônsul que tinha sua residência ali mantinha o poder da espada para determinar se uma pessoa devia viver ou morrer.
Note que a palavra grega soter, aplicada a Zeus e a Asclépio, significa “salvador”. Diante de seu Salvador, Jesus Cristo, era impossível para os cristãos reconhecerem esses deuses como salvadores. Além disso, jamais podiam recitar o moto César é Senhor, porque para eles o título Senhor era reservado exclusivamente para Jesus. Em vez dos duzentos mil ou mais volumes na biblioteca de Pérgamo, manuseavam somente as Escrituras. Em lugar dos numerosos templos, não tinham templo e diziam que sua comunhão cristã e inclusive seus corpos físicos serviam como templo do Espírito Santo (ICo 3.16; 6.19). E em vez dacura de Asclépio, os cristãos ensinavam que Jesus era seu Médico. Em suma, para os cristãos, a vida em Pérgamo era quase insuportável.
Por sua recusa em comprometer-se, os cristãos eram ridicularizados pelos romanos e outros que os chamavam “christiani”, e pelos ju deus que os rotulavam de “nazarenos”. Eram culpados de infidelidade a Roma, escarnecidos, acusados de sedição, perseguidos e assassinados. A despeito da perseguição e inclusive por causa dela, a igreja cristã continuava florescente e crescia em número.
Em Pérgamo, os cristãos enfrentavam diariamente as pressões de uma sociedade pagã. Caso se recusassem a aceitar um convite a participar de uma festa em honra de uma divindade pagã, não só seriam evitados, mas perderiam seu emprego ou negócio. As pessoas os consideravam indignos de viver nesta terra. Mas para os crentes fiéis não há nada acima de seu Senhor, nenhuma lei humana que assuma precedência sobre a lei de Deus e nenhuma doutrina que suplante o evangelho.
Violência
E ao anjo da igreja em Pérgamo escreva: Estas são as palavras daquele que tem a espada afiada de dois gumes. Sei onde você vive - onde está o trono de Satanás. Contudo, você permanece fiel ao meu nome e não renunciou à sua fé em mim, nem mesmo quando Antipas, minha fiel testemunha, foi morto entre vocês, onde Satanás vive (Ap 2.12,13).
Exceto para a saudação, a fórmula introdutória é a mesma que em todas as cartas às igrejas na província da Ásia. A auto-identificação de Jesus é um retrocesso à descrição de sua aparição (1.16). Ainda que apareçam as mesmas palavras, “a espada afiada de dois gumes”, o grego as tem numa seqüência com artigos definidos para ênfase. Literalmente, a sentença lê “aquele que tem a espada, a de dois gumes, a afiada”. Não era o procônsul romano ou o governador que decidia sobre questões de vida e de morte, mas era Jesus com a espada, espada de dois gumes de sua palavra procedente de sua boca. Jesus de fato luta com essa espada contra seus inimigos (v. 16; 19.15, 21).
Na cultura romana, a espada era símbolo do poder e autoridade. Naqueles dias, Roma tinha o poder da espada; em suas mãos estava a vida e a morte. César tinha a palavra final.
A espada significava a punição da capital. Apropriadamente, Paulo escreveu à igreja em Roma: “Toda alma esteja sujeita às potestades superiores; porque não há potestade que não venha de Deus; e as potestades que há foram ordenadas por Deus. Por isso, quem resiste à potestade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres pois tu não temer a potestade? Faze o bem, e terás louvor dela. Por que ela é ministro de Deus para teu bem. Mas se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador para castigar o que faz o mal” (Rm 13.1-4). A espada significava a suprema autoridade: vida ou morte. Roma era a espada que pendia absoluta sobre o povo. A determinação de César tomava-se lei.
Eis porque Jesus é descrito portando uma espada de dois fios. Aqui está a sua autoridade judicial. Com a espada desembainhada, é o Guerreiro Divino. Vence os inimigos; pronuncia julgamento sobre eles. Ele é o único Senhor da Igreja. Tem poder sobre a morte e a vida. Sua palavra é final. Sua lei, patente. Seu reinado, absoluto.
Por que uma espada de dois fios? Porque corta de ambos os lados. Cristo tem poder sobre a vida e a morte. Possui autoridade para abençoar, salvar e condenar à eterna perdição.
Por que Jesus revela-se à igreja desta forma? Há duas razões. A primeira é positiva. Pérgamo achava-se sob a espada de Roma. Intimidação e medo alastravam-se nos corações daqueles crentes. Por isto, não podiam esquecer que havia uma autoridade mais forte que a romana. A despeito das táticas amedrontadoras de Roma, Cristo controlava todo o poder.
A segunda é negativa. Como esta igreja tolerava falsos ensinadores, não podiam esquecer de que há um padrão imutável - a Palavra de Deus. E o Senhor zela para a cumprir. Por isto, aqueles crentes precisavam defender claramente a doutrina. Caso contrário: enfrentariam a disciplina severa das mãos do próprio Cristo.
Esta é a descrição soberana de Cristo, não a do bom Senhor, ou a do meigo e amoroso Messias. Aqui vemos a Cristo com a espada de dois fios desembainhada. Ele está prestes a derrotar seus inimigos. A igreja, hoje, é apaixonada pela imagem do Cordeiro, mas não pela do Leão. Não mais tememos a Deus como o fogo consumidor. Todas as igrejas precisam ver a este Cristo, pois é através dele que vencemos.
As Forças
Jesus agora ordena à sua igreja que seja perseverante.
Esta é uma palavra de encorajamento. Novamente, Jesus declara: “Sei exatamente onde tu estásvivendo. O que estás passando. Já passei por isso. Eis porque respeito e valorizo tua fé”.
Jesus Cristo sabia o que significava viver no quartel-general do inferno. Desde o seu nascimento, já enfrentava Ele as investidas de Satanás. No deserto, lutou contra o diabo cara a cara. A artilharia toda do inferno estava apontada para Ele. Na via dolorosa, o inimigo ainda o perseguia.
No deserto, Jesus defendeu-se do diabo com a espada de dois fios. Tentado, golpeou a Satanás: “Está escrito, nem só de pão viverá o homem”. Novamente, desembainha a espada: “Está escrito, não tentarás o Senhor teu Deus”. E, finalmente, Jesus num agudo golpe: “Está escrito: Adorarás ao Senhor teu Deus, e só a Ele servirás”. Os crentes de Pérgamo deveriam investir contra o adversário, empunhando a espada de dois gumes - a Palavra de Deus.
Os crentes em Pérgamo viviam onde se achava o trono de Satanás. Aqui estava o seu quartel-general. Satanás visitava outras cidades, mas morava em Pérgamo. O demônio não é onipresente. Só pode estar num lugar de cada vez. Assim, passava a noite em Laodicéia, Sardo ou Efeso, mas depois retornava ao seu domicílio em Pérgamo.
O trono de Satanás assinalava o local onde sua autoridade era exercida sem contestação. Aqui, exercia grande poder e influência. Habitar significa ocupar uma casa e viver nela permanentemente. Mas por que Pérgamo era o trono do adversário?
A cidade era o centro de adoração a Asclépio, o deus-serpente. Neste templo, os adoradores misturavam-se às cobras. Satanás, a antiga serpente, sentia-se muito bem em Pérgamo. Além disso, ficava aqui o centro regional de adoração ao imperador. Foi a primeira cidade na Ásia a ter um templo devotado a Augusto. Havia, inclusive, um sacerdócio especial devotado a este culto. A adoração a César era mais intensa aqui.
Jesus parabeniza-os por haverem eles retido o seu nome e não negado a fé. Eles permaneciam fortes em sua lealdade a Cristo como Senhor. Recusavam-se a adorar a César. Não obstante as pressões, permaneciam fervorosos. Mantinham-se fortes nos padrões divinos, apesar do declínio moral daqueles dias.
Entre estes crentes, Antipas destaca-se por sua coragem e fé. Seu nome significa “contra todos”. Para defender sua fé, colocava-se de fato contra todos. Provavelmente pastor da igreja, recusava- e a aceitar o status político daqueles dias. Era o líder da resistência cristã.
Provavelmente opunha-se ele ao governo, pois apenas Roma tinha o poder de aplicar a pena capital. Antipas não podia concordar com a determinação romana de fidelidade absoluta a César. Mas se Roma o queria morto, Jesus refere-se ele como “meu fiel”. Pode haver maior tributo que este? O nosso testemunho tem de ser fiel.
O que a fidelidade custou a Antipas? Ele foi morto onde Satanás habita. Qualquer que fosse a questão, valeria a pena morrer por ela. Disse Tertuliano: “O sangue dos mártires é a semente da Igreja”. Assim sendo, a fé que Antipas ostentava haveria de ser proclamada aos séculos vindouros. O mundo vê a morte dos mártires e lamenta: “Que perda”. Deus, porém, regozija- se: “Que ganho!”
Que montanhas são dignas de serem transpostas? Por quais questões vale a pena dar a sua vida? Em que acredita tão piamente a ponto de sacrificar-se? O cristão sábio conhece as batalhas nas quais vale a pena combater.
A Falha de Pérgamo
Então Pérgamo era a igreja perfeita? Dificilmente. Apesar de sua constância, o pecado introduziu-se nela imperceptivelmente. O maior perigo não era a perseguição, e sim a perversão. Se Satanás não pode derrotar a igreja, tenta ingressar nela. A ameaça mortal vinha de dentro. Jesus continua:
No entanto, tenho contra você algumas coisas: você tem aí pessoas que se apegam aos ensinos de Balaão, que ensinou Balaque a armar ciladas contra os israelitas, induzindo-os a comer alimentos sacrificados aos ídolos e a praticar imoralidade sexual. De igual modo você tem também os que se apegam aos ensinos dos nicolaítas (Ap.2.14,15)
 “Mas umas poucas coisas tenho contra ti” 
 Em Pérgamo, havia um pequeno grupo que instigava os crentes a se comprometerem com o mundo. Sua carnalidade prejudicava aos fiéis. Um pouco de fermento leveda toda a massa. Este grupo achava-se envolvido com a doutrina de Balaão. A queixa de Jesus não é dirigida ao grupo que ensinava tal heresia, mas à igreja por tolerar a doutrina de Balaão. Mas que doutrina era esta?
Balaão era um profeta gentio do Antigo Testamento. Chamado para ser porta-voz de Deus, sempre falou pelo diabo. Durante a peregrinação de Israel pelo deserto, Balaque, rei de Moabe, ouviu dizer que o povo de Deus avançava. E ele sabia que não havia maneira de se defender dos israelitas. Desesperado, pediu ajuda a Balaão: “Tenho para ti uma missão. Quero que amaldiçoes a este povo. E, por isto, recompensar-te-ei.”
Vulnerável à tentação e ao lucro, o profeta estrangeiro buscou, em três momentos distintos, amaldiçoar o povo de Deus. Mas em lugar da maldição, a bênção. Ele não podia amaldiçoar a Israel. Tentando servir a Deus e ao dinheiro, arquitetou um plano engenhoso. Se não podia amaldiçoá-los, a solução era levar Deus a fazê-lo.
O profeta do lucro instruiu, pois, a Balaque a colocar tropeços diante dos israelitas. Instigou a Balaque a pôr meretrizes no arraial hebreu para que seduzissem o povo de Deus. Infelizmente, os filhos de Israel não eram páreo a tal tentação. Caíram; divertiram-se com pagãs. Com elas, adoraram os ídolos e comeram os alimentos oferecidos a estes.
Eles comeram com os ídolos. Adoraram-nos em templos pagãos de Moabe. Nestes templos, as prostitutas cultuais induziram os israelitas a cometerem todo o tipo de torpezas. O resultado foi devastador. Entretanto em guerra contra seu povo, Deus matou 24.000 israelitas.
O que Balaão não pôde fazer, o pecado o fez. O tropeço foi devastador! Pedra de tropeço (skandalon, no grego) é uma armadilha feita com um chamariz. Quando este é tocado, bum! A armadilha dispara e prende a vítima. Assim é o pecado. Parece atraente, mas tocado, captura a presa. A doutrina de Balaão é o compromisso com o mundo. É a mistura das coisas santas com as profanas. É ter um pé na igreja e outro no mundo. Com semelhante ensino, esse grupo de Pérgamo ameaçava destruir a igreja. Afinal, quebra-se um elo e toda a corrente é inutilizada. Se apenas uma célula toma-se cancerosa todo o corpo logo sofre.
Assim é a igreja. Um pouco de fermento leveda toda a massa. Um pequeno foco de pecado prejudica todo ocorpo. O mal, pois, precisa ser eliminado. Agora! Jesus aponta outro pecado oculto. Havia um segundo grupo ensinando falsas doutrinas - os nicolaítas. Pregavam uma liberdade destrutiva muito similar à doutrina de Balaão. Os frascos eram diferentes, o veneno porém, o mesmo. A tradição conta que Nicolau foi um dos primeiros líderes da igreja. Mas apostatando, começou a ensinar que o crente pode viver como quiser. Seu objetivo: achar um meio termo entre a vida cristã e os costumes da sociedade greco-romana.
Na realidade, os nicolaítas combinavam os ideais cristãos com a imoralidade e a idolatria. O resultado era uma heresia devastadora que ameaçava a existência da igreja. Eles pervertiam a graça de Deus. Com o seu antinomianismo, ensinavam que nenhuma lei moral de Jesus está vinculada ao cristão atual. Reafirmando a idolatria de Balaão, encorajavam os crentes a envolverem-se com todo tipo de perversão.
O que é a idolatria? Qualquer coisa ou pessoa mais importante do que Deus em sua vida. Amar, temer, servir ou desejar alguma coisa mais que a Deus é idolatria. É o que se acha entre você e o Senhor. Um ídolo pode ser uma estátua entalhada em mármore, um talão de cheques, um carro, um barco, uma casa. Pode ser o diploma na moldura. Uma causa, um talento dominador, ou um físico bem desenvolvido e bronzeado. Enfim, é qualquer coisa ou pessoa que ocupe o primeiro plano em sua vida ao invés de Jesus Cristo.
João adverte: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo o amor do Pai não está nele” (1 Jo 2.15).
Assim como em Pérgamo, há ensinadores e mestres, hoje, rebaixando o padrão de pureza.Muitas igrejas e denominações já consentem na ordenação de homossexuais. Aliás, até fundam igrejas para estes. Outras aprovam o divórcio e outras uniões sem o devido respaldo bíblico. Outras ainda reintegram imorais ao santo ministério, toleram pessoas amigadas, aprovam o aborto como forma de controlar a natalidade. Enfim, falham na disciplina.
Esta é a doutrina imoral de Balaão!
A palavra imoralidade (porneia) é abrangente; inclui todas as formas de perversão sexual: adultério, sexo pré-nupcial, homossexualidade, pornografia, travestismo. A igreja não pode tolerar tais práticas. Precisamos desembainhar a espada de dois fios, e removê-las do meio dos santos.
A Bíblia não mudou. Deus ordena: “Não adulterarás (Êx 20.14). “Fugi da prostituição” (1 Co 6.18). “Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (1 Ts 4.3). “Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula” (Hb 13.4). “Mas a prostituição e toda a impureza ou avareza, nem ainda se nomeie entre vós” (Ef 5.3).
A doutrina de Balaão tinha um efeito devastador sobre a igreja. Basta uma gota de veneno para contaminar toda a botija. Por isto, Jesus denuncia: “Há um pequeno grupo que está induzindo meus santos a comprometerem-se com o mundo.
A Solução
Após o diagnóstico, o grande Médico prescreve a cura – uma cirurgia cardíaca:
Portanto, arrependa-se! Se não, virei em breve até você e lutarei contra eles com a espada da minha boca (Ap 2.16).
O verbo arrepender-se ocorre doze vezes no Apocalipse ,2.5 (duas vezes), 16, 21 (duas vezes), 22; 3.3, 19; 9.20, 21; 16.9, 11. Oito delas são dirigidas às igrejas em Éfeso, Pérgamo, Sardes e Laodicéia, como uma ordem ao arrependimento; as outras quatro estão no pretérito e se referem aos incrédulos que se recusavam a atender. Os cristãos de Pérgamo tinham que arrepender-se de sua falha em não expulsar os nicolaítas e seus seguidores de seu meio. Tinham que perceber o erro de seu caminho, pois se Jesus odiava as obras dos nicolaítas (2.6), assim também devia proceder seu povo. Por isso ele convocou os cristãos a converter-se de sua lassidão a uma vida de vigilância, a reforçar a disciplina e a expulsar de seu meio os nicolaítas e seus adeptos.
Se os destinatários se recusarem a obedecer, Jesus virá depressa (o grego tem o verbo vir no tempo presente). A vinda de Cristo não se refere à Segunda Vinda, mas a seu juízo iminente, que é veloz e infalível. Os nicolaítas não teriam que esperar até a Segunda Vinda para Jesus executar sua ameaça. Como os midianitas e Balaão experimentaram o juízo divino em sua vida, assim os nicolaítas logo encontrariam Jesus como guerreiro em sua carreira terrena. Durante a batalha que Israel enfrentou contra os midianitas, pela ordem divina, os israelitas mataram Balaão (Nm 31.1-8; Js 13.22).
Note que o Senhor chama a igreja ao arrependimento, porém declara guerra aos nicolaítas. Ele lutará contra eles com a espada de dois gumes que procede de sua boca (ver v. 12), e com essa espada ele mata os ímpios. E isso inclui os nicolaítas e seus adeptos. Os que estão servindo a Satanás e visam destruir a igreja terão que enfrentar a espada de seu guerreiro e vitorioso Senhor.
As boas-novas é que Deus faz com que todas as coisas cooperem para o bem dos que o amam e o servem (Rm 8.28). Todos os que se convertem ao Senhor e se arrependem experimentam seu amor, graça e misericórdia. Ao contrário disso, ele abandona os que se esquecem dele (2Cr 15.2; Is 1.28; 65.11, 12).
O Senhor honra suas promessas e cancela suas ameaças feitas ao pecador arrependido. Mas quando não existe arrependimento, ele cumpre suas ameaças.
Promessa
Aquele que tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei do maná escondido. Também lhe darei uma pedra branca com um novo nome nela escrito, conhecido apenas por aquele que o recebe (Ap 2.17)
Após a repetitiva exortação para se ouvir o que o Espírito diz às igrejas, o vencedor tem a promessa de receber o maná escondido e uma pedra branca. Que significa a fraseologia dessas duas dádivas?
Por quarenta anos, o maná foi o alimento de Israel no deserto até que o povo atravessasse o Jordão e entrasse em Canaã. Deus instruiu Moisés a pôr um vaso de maná em “a arca da aliança”, e assim ele esteve escondido dos olhos humanos (Ex 16.32-34; Hb 9.4). 
Os judeus aguardavam a vinda da era messiânica, quando comeriam o maná escondido. Os cristãos, contudo, reconheceram Jesus como o Messias que introduziu a era messiânica. Desde a vinda de Jesus, seus seguidores têm comido o maná escondido e desfrutado de suas bênçãos. Jesus se denominou de pão da vida, e contrastou-o com o maná que os israelitas comeram no deserto (Jo 6.48,49). Esse pão gerador de vida é, de fato, o alimento espiritual e o maná escondido do cristão. Para os incrédulos ele está escondido dos olhos físicos, porém é disponível a todos os que depositam sua fé em Cristo (Mt 11.25; Cl 2.3; 3.3). O significado da pedra branca permanece um mistério, o qual os comentaristas têm tentado resolver de várias maneiras:
• Pedras preciosas caídas do céu com o maná. Isso, porém, não passa de lenda.
• Pedras brancas eram lançadas nos tribunais de justiça para significar a absolvição do réu, e pedras pretas, para o condenar. No Dia do Juízo, uma pedra branca caracterizará a absolvição do cristão. O texto, porém, não diz que o vencedor lança uma pedra branca, mas que ele recebe uma pedra branca. Além disso, as pedras lançadas num tribunal não tinham nenhum nome inscrito nelas.
• Um objeto branco feito de metal, madeira ou pedra denominado tessera outorgava a seu possuidor certo privilégio na sociedade. Não obstante, a durabilidade dessas substâncias é questionável.
• Uma pedra branca podia ser usada como amuleto ou talismã. Esse costume, porém, pertence à prática de bruxaria, não à doutrina da salvação.
• Os edifícios de Pérgamo, nos dias de João, eram feitos de pedra marrom escuro. As inscrições nesses edifícios eram talhadas em blocos de mármore branco. Hemer observa: “Decretos honoríficos da cidade reiteradamente estipulavam que o registro de seus benfeitores deveriam ser gravados em [pedra branca].” A objeção consiste em que a palavra grega psêphos no texto significa “seixo”, não “pedra”.
• O peitoral do sumo sacerdote tinha doze pedras, e cada uma delas tinha o nome de uma tribo escrito (Ex 28.21). Semelhantemente, uma pedra branca com o nome individual do crente escrito nela está sempre na presença de Deus.
• A pedra pode ser uma pedra preciosa translúcida como um diamante, no qual o nome de Cristo está escrito. O nome de Cristo está escrito nas frontes dos santos (3.12; 14.1; 22.4).
As duas últimas interpretações são muito proveitosas. No contexto do Apocalipse, a última parece a mais forte e recebe o endosso de outras passagens. O nome de Cristo significa que os santos lhe pertencem. Já nesta terra, os crentes são conhecidos como cristãos, isto é, seguidores de Jesus Cristo, em cujas pegadas eles andam.
Tiatira
Tiatira (moderna Akhisar) era uma cidade fortificada e situada a cerca de quarenta milhas a sudeste de Pérgamo, num vale espaçoso que conduz ao Rio Hermus. Ela ficava perto da fronteira das províncias Mísia e Lídia e era reivindicada por ambas. Em 190 a.C. os romanos penetraram no vale e conquistaram a cidade, a qual, por causa de sua localização num vale plano, tinha pouca proteção contra forças superiores. Tiatira estava situada ao longo da rota comercial de Pérgamo a Sardes; a partir de Esmirna, uma artéria principal levava, através do vale, a esta cidade. Portanto, a localização de Tiatira ficava junto às maiores rotas, o que estimulava seu crescimento econômico. Além disso, os artesãos locais produziam uma variedade de mercadoria, porquanto eram padeiros, pintores, curtidores, marinheiros, oleiros e obreiros em lã, linho e metal (principalmente cobre); e havia escravos revendedores. Tiatira era um centro industrial controlado por associações, isto é, uniões comerciais. Essas associações prestavam homenagem aos deuses pagãos Apolo e Artemis (também conhecidos como Tyrimnos), e adoravamno santuário de Sabbathe. Os membros da associação eram obrigados a assistir a festa em honra desses deuses, comer carnes em seus templos e transigir em promiscuidade sexual. O não cumprimento dessas regras significava expulsão da união comercial, falta de emprego e pobreza. Os cristãos que se recusassem a honrar deuses pagãos, a comer carne sacrificada a um ídolo e a envolver-se em imoralidade sexual comprometiam suas necessidades materiais. Eram considerados como proscritos da sociedade. 
Lídia, vendedora de púrpura, era natural de Tiatira, porém havia se mudado para Filipos. Paulo a encontrou em um culto e o Senhor abriu seu coração enquanto ela ouvia o evangelho (At 16.14). Presumimos que ela se tornou temente a Deus em Macedônia, e quando Paulo foi a Filipos ela se converteu à fé cristã. 
O Remetente
Ao anjo da igreja em Tiatira, escreva: Estas são as palavras do Filho de Deus, que tem olhos que são como chama de fogo, e cujos pés são como o bronze reluzente (Ap 2.18).
A expressão Filho de Deus pode significar que Jesus se dirige aos judeus de Tiatira que rejeitavam sua divindade (comparar Hb 1.1 -3). Ainda que a carta não forneça nenhuma indicação de uma presença judaica nessa cidade, não podemos descartar sua influência. A expressão é também relevante para a sociedade pagã daqueles dias, a qual considerava César e Apolo, igualmente, como filhos de deuses. Jesus, porém, é um e único Filho de Deus, que está acima de todos os demais deuses. Com olhos como chama de fogo, nada lhe escapa, como ele mesmo afirma ser aquele que sonda os corações e mentes (v. 23). Na presença santa de Jesus, nada pecaminoso pode entrar nem ser escondido. Com seus olhos como chama de fogo, ele dissipa as trevas e queima as impurezas. 
Jesus se põe de pé na cidade de Tiatira com pés como bronze reluzente. Essa liga é durável, estável e firme. O brilho do metal chama atenção, de modo que a população percebe a presença de Jesus. Como ele fixa residência permanente na cidade, assim seus seguidores devem permanecer ali sem receio.
As Forças de Tiatira
Conheço suas obras, seu amor, sua fé, seu serviço e sua perseverança; e [sei que] suas últimas obras são maiores do que as primeiras (Ap 2.19)
Em pelo menos outras quatro cartas (às igrejas em Éfeso, Sardes, Filadélfia e Laodicéia), Jesus diz que conhece seus feitos. Ele está plenamente familiarizado com as obras de amor que os crentes de Tiatira têm mostrado em prol de Deus e de seu próximo. Suas obras incluem amor e fé como qualidades interiores que dão expressão nas qualidades exteriores de serviço e perseverança. Note que Jesus sumariou a lei em dois mandamentos: amaf ao Senhor Deus de todo o coração, alma e mente; e amar ao próximo como a si mesmo (Mt 22.37-40). Paulo faz do segundo destes a regra primária (Rm 13.9) e Tiago o chama a lei régia (Tg 2.8). Os cristãos de Tiatira demonstravam visivelmente amor por seu próximo e fé e confiança em Deus. Seu serviço aos outros e sua serena paciência eram exemplares em face da dificuldade e da oposição.
A igreja não podia receber maior louvor do que o expresso nas palavras “suas últimas obras são maiores que suas primeiras”. Isso significa que suas obras de amor, fé, serviço e perseverança eram constantemente crescentes. Com respeito ao amor, Tiatira recebeu palavras de enaltecimento, enquanto Éfeso recebeu palavras de condenação. Jesus disse aos cristãos de Éfeso: “Contra você, porém, tenho isto: você abandonou seu primeiro amor” (2.4).
Censura e Mandamento
No entanto, contra você tenho isto: você tolera Jezabel, aquela mulher que se diz profetisa. Com seus ensinos, ela induz meus servos à imoralidade sexual e a comerem alimentos sacrificados aos ídolos (Ap 2.20).
A mudança de louvor para censura é súbita e brusca. Ainda quando os crentes tivessem feito um considerável esforço para socorrer as pessoas materialmente necessitadas e a confiar espiritualmente em Deus, toleraram uma influência perniciosa na igreja. Essa influência se espalhara como câncer, de modo que em vez de saúde espiritual da congregação, ela se comprometia seriamente. A igreja de Éfeso odiava as obras dos nicolaítas (2.6); a igreja de Pérgamo permitia que os nicolaítas vivessem em seu meio (2.15); a igreja de Tiatira tolerava a doutrina fraudulenta no seio da congregação. 
O nome Jezabel se refere à esposa do rei Acabe, que se casara com uma princesa de Sidom. Jezabel insistiu com Acabe a cultuar o deus pagão Baal, bem como a deusa Asera, e a construir um templo e um poste sagrado (1Rs 16.31-33; 21.25; ver também 2Rs 9.30-37). A mulher de Tiatira é mencionada com o nome da esposa do rei Acabe, e ela se autodenominava profetisa. O Novo Testamento revela que mulheres profetizavam (Lc 2.36; At 21.9; ICo 11.5). Esta mulher mantinha um posto influente na igreja porque ela era mestra, porém sua instrução era fraudulenta. Ela persuadia a igreja a envolver-se em relações sexuais ilícitas nos templos pagãos e ali comer o alimento que fora oferecido a um ídolo. Não surpreende que se dê a esta mulher o nome de Jezabel, porquanto sua homônima no Antigo Testamento persuadia Israel a cultuar a Baal, o deus da fertilidade, e a Asera, a deusa [também] da fertilidade. Sob o pretexto de religião, o povo caíra no pecado da imoralidade sexual com danosas conseqüências, e no pecado da apostasia por comer alimento em templos pagãos. Note que a ordem de cometer fornicação e comer alimento oferecido a um ídolo é o reverso da seqüência na carta a Pérgamo (2.14).
Somos incapazes de identificar esta Jezabel de Tiatira. Dificilmente poderia ela ter sido Lídia, a vendedora de púrpura, que foi uma das primeiras a ser convertida à fé cristã em Filipos. Lídia se tomara cristã em 50, e Jezabel ensinava em Tiatira em meado dos anos 90. Identificar as duas mulheres é pura especulação, porquanto o Novo Testamento, e outras literaturas, não fornecem nenhuma informação. Indubitavelmente, Lídia, antes de sua conversão, era membro da associação e tinha que resolver o problema de optar por Cristo ou pela associação comercial. A mulher chamada Jezabel poderia ter tido um interesse comercial em Tiatira.
A intenção dos seguidores de Balaão (v. 14), dos nicolaítas (vs. 6,15) e de Jezabel é a mesma: enganar o povo de Deus, persuadindo-o a adotar o estilo de vida que lhe permitiria ser aceito no mundo e a manter sua membresia na igreja. Ao acomodarem-se ao estilo de vida que uma associação comercial requeria, os membros da igreja não mais teriam que temer ser desterrados. O Senhor, porém, diz: “Ninguém pode servir a dois senhores” (Mt 6.24; Lc 16.13). Ao que Tiago acrescenta: “Adúlteros, vocês não sabem que a amizade com o mundo é inimizade com Deus?” (Tg 4.4).
E lhe dei tempo para que se arrependesse de sua imoralidade sexual, mas ela não quer se arrepender. (Ap 2.21)
Os verbos neste versículo (dei e não quer) e no precedente (ensina e engana, v. 20) sugerem que já se passara algum tempo desde que Jezabel havia ingressado na igreja. Em outros termos, os fiéis servos do Senhor a haviam advertido. João bem que poderia ter sido um dos pastores que a aconselharam . Ele sabia que o Senhor não é lento concernente a suas promessas, porém exerce a paciência (2Pe 3.9) e sempre concede a um pecador conselhos e oportunidade para arrepender- se. Ninguém pode dizer que Deus age precipitadamente. As Escrituras ensinam reiteradamente que ele é um Deus de misericórdia, que não tem prazer na morte de ninguém. Seu desejo é que as pessoas se arrependam e vivam (ver Ez 18.30-32). Quando, porém, o pecador rejeita seus apelos e advertências, ele escolhe a morte. A mulher chamada Jezabel era um deles. 
Por isso, vou fazê-la adoecer e trarei grande sofrimento aos que cometem adultério com ela, a não ser que se arrependam das obras que ela pratica. 23. Matarei os filhos dessa mulher com doença. Então, todas as igrejas saberão que eu sou aquele que sonda mentes e corações, e retribuirei a cada um de vocês de acordo com suas obras (Ap 2.22,23).
Percebemos o paralelo da mulher sedutora e os que ela seduziu, o leito no qual elasofre e a grande angústia que seus seguidores enfrentam. O leito que Jesus tem em mente não é um divã que circula toda a mesa que fica na sala de refeição, que estava em voga nos lares orientais daqueles dias. Tampouco é um leito para o descanso de alguém após um dia de labor. A guisa de implicação, é um leito para pacientes atingidos por doença em resultado de uma vida licenciosa. A mulher Jezabel estava ajuntando o que semeara: fora lançada num leito de sofrimento que eventualmente a levou à morte (comparar 1Co 11.29, 30). Não lhe foi dada outra oportunidade para arrependimento, visto que ela se recusou a dar ouvidos. Entretanto, seus seguidores que cometeram adultério e praticaram idolatria em um templo pagão tiveram tempo para arrepender-se de seus desvios. Como agente que os seduzira, a mulher recebe a punição primária, enquanto que a seus seguidores é dado tempo para se arrependerem. Se derem ouvidos a Jesus, ele revogará sua ameaça. Se, porém, deixarem de prestar atenção à sua advertência, serão golpeados com enfermidade e morrerão. O paralelismo nesta passagem sugere que interpretemos o termo filhos não literalmente, mas figuradamente, porque os filhos são os seguidores da mulher. 
Todas as igrejas (as sete e a igreja universal) ouvirão acerca da grande angústia com que esses pecadores são afligidos. Sabem que Jesus é aquele que sonda os corações e as mentes de todas as pessoas, pois nada em um ser humano está oculto de seus olhos. O texto grego literalmente tem a redação: “ele sonda os rins e os corações”, que é um idiomatismo hebraico que surge em muitas passagens (por exemplo, SI 7.9; Jr 11.20; 17.10). O rim e o coração usados como sinônimos indicam a esfera mais íntima de uma pessoa que oculta os sentimentos, os pensamentos e a moral de alguém. No idioma inglês [e também no português] temos “mentes e corações”.
Jesus premia com castigos e galardões igualmente (2.12; 22.12; ver 2Co 5.10). Aqui o juízo sobre Jezabel e seus seguidores é alternado, pois o castigo está em conformidade com os pecados de fornicação, adultério e idolatria. Visto que todas as igrejas têm conhecimento do juízo e de sua execução, pode-se chegar à conclusão de que este texto não se refere primariamente ao juízo final.
Aos demais que estão em Tiatira, a vocês que não seguem a doutrina dela e não aprenderam, como eles dizem, os profundos segredos de Satanás, digo: Não porei outra carga sobre vocês; tão-somente apeguem-se com firmeza ao que vocês têm, até que eu venha (Ap 2. 24,25).
Os fiéis seguidores de Cristo ouvem agora Jesus lhes falando. Determinadamente rejeitaram os ensinamentos e o estilo de vida da profetisa Jezabel, e aderiram aos ensinamentos das Escrituras. Suas instruções e práticas diferiam pouco do que os nicolaítas ensinavam e faziam nas igrejas de Éfeso e Pérgamo (vs. 6, 15), de modo que essa designação pode ser aplicada aos seguidores dela.
Qual é o significado da frase “as assim chamadas profundezas [ou as coisas profundas] de Satanás”? De quem é esta fraseologia? Há quem sugira que o escritor está desdenhosamente acusando os membros errados da igreja de terem caído na armadilha de conhecer e praticar as coisas profundas de Satanás. Outros pensam que são as palavras enganosas ditas por Jezabel e repetidas pelos adeptos que falam ao resto da congregação: “Vocês precisam conhecer as profundezas de Satanás.” O mundo pagão naqueles tempos adorava uma serpente como o símbolo de Satanás; os gnósticos também diziam que conheciam as coisas profundas e eram os iniciados. Esse é o oposto dos ensinos de Paulo, isto é, que o Espírito sonda as coisas profundas de Deus (IC o 2.10). Sabendo disso, os cristãos fiéis de Tiatira dificilmente se deixariam seduzir pelo ousado convite para conhecerem as profundezas de Satanás. Ainda é difícil determinar a origem dessas palavras. Jesus afirma: “Não porei outra carga sobre vocês.” O decreto apostólico formulado pelo Concílio de Jerusalém estipulava que os cristãos gentios “se abstivessem de alimento sacrificado aos ídolos, do sangue, da carne de animais estrangulados e da imoralidade sexual” (At 15.29). Dessas quatro estipulações, requer-se dos cristãos de Tiatira que observem duas: abstinência de alimento sacrificado aos ídolos e da imoralidade sexual.
Entretanto, a sentença supramencionada por si só mais ou menos permanece. Alguns tradutores a têm colocado entre parênteses (NIV et al.), mas então a primeira palavra na sentença seguinte tem de ser deletada, e isso não deve ser feito. Beckwith apresenta uma tradução recomendável desta e da próxima sentença: “Não porei sobre vocês nenhuma outra admoestação pesada além desta: Mantenham firme o que vocês têm .” E o que eles possuem? A soma total da fé cristã como depositada nas Sagradas Escrituras, da qual o decreto apostólico era uma parte. Com a inclusão do Apocalipse, essas pessoas receberam o cânon completo do Antigo e Novo Testamento. Eram os destinatários do texto completo da revelação escrita de Deus (comparar Rm 3.2). A promessa “até que eu venha” aponta para a Segunda Vinda de Cristo.
Promessa
A todo aquele que vencer e guardar minhas obras até o fim, darei autoridade sobre as nações, para governá-las com vara de ferro como vasos de barro que são feitos em pedaços (Ap 2.26,27).
Como em todas as cartas às sete igrejas, Jesus aqui fala do vencedor que é fiel até o fim em realizar as obras de Cristo (Jo 14.12). A justaposição das obras de Jezabel (v. 22) e as obras de Jesus é notável. Fazer a vontade de Deus como revelada em sua Palavra é guardar as obras de Jesus até o fim do tempo cósmico. Essa é a incumbência de Jesus dada a toda a Igreja.
Cristo não recusará sua bênção sobre aquele a quem ele faz sua promessa: “Dar-lhe-ei autoridade sobre as nações.” E só nesta carta e na de Pérgamo que Jesus faz uma promessa dupla, a qual ele introduz com o verbo dar. ele dá autoridade e a estrela da manhã (v. 28).
A autoridade que Jesus delega a seus seguidores é a mesma palavra usada por Jesus antes de sua ascensão ao céu: “Toda autoridade no céu e na terra me foi dada” (Mt 28.18). Jesus governa sobre a face desta terra como Rei dos reis e Senhor dos senhores, pois seu nome é conhecido em todos os países do mundo, e seu evangelho é proclamado em incontáveis idiomas. Olhamos para o crescimento da Igreja por nosso prisma. Pelo prisma da igreja de Tiatira, porém, as palavras de Jesus demandavam fé que triunfaria sobre a oposição, engano e tentação.
A primeira promessa ao vencedor é reforçada por uma alusão e uma citação de um salmo messiânico: a alusão ao exercício de autoridade sobre as nações é oriunda do Salmo 2.8: “Farei das nações tua herança, dos confins da terra tua possessão”; a citação se deriva do versículo precedente. A fraseologia e o significado dessa citação do salmo são impertinentes. É uma tradução livre do texto hebraico do Salmo 2.9: “Tu os governarás com cetro de ferro; tu os quebrarás em pedaços como faz o oleiro.” A mudança da segunda para a terceira pessoa, o texto da Septuaginta da primeira sentença tem o verbo grego poimaneis, o qual João adotou e pode ser traduzido “tu pastorearás”. Ele, porém, é traduzido “tu governarás” porque o contexto sugere que o verbo tem uma conotação negativa. A tarefa do pastor é cuidar de suas ovelhas e inclui protegê-las de danos. Assim, ele usa sua vara feita da madeira de carvalho, a qual é tão dura como o ferro. Com ela ele ataca a quem ou a qualquer coisa que tentar ferir suas ovelhas.
O paralelismo na segunda parte da citação do salmo, “como vasos de barro que são feitos em pedaços”, corrobora o conceito de governar energicamente. Forças opostas ao avanço do evangelho de Jesus serão tratadas com golpes desferidos pela vara dura como o ferro que se encontra na mão de Cristo. Serão feitas em pedaços como faz o oleiro. A fraseologia tomada desse salmo messiânico retrata o cetro régio de Cristo, que simboliza sua autoridade de governar, de exercer a disciplina e de impor juízo. Com Cristo, o crente que vencer terá a autoridade de governar, disciplinar e julgar (ICo6.2).
E como recebi de meu Pai a autoridade, darei ao vencedor a estrela da manhã. Aquele que tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas (Ap 2.28,29)
A segunda promessa feita ao vencedor é a dádiva da estrela da manhã. termo aparece uma vez mais no Apocalipse, onde Jesus o aplica a si mesmo: “Eu sou a raiz e o descendente de Davi, a brilhante estrela da manhã” (22.16). Como Cristo apresenta esta estrela a seu seguidor fiel? Há uma conexão sutil entre a referência ao Salmo 2.8, 9 e a alusão a Números 24.17, onde Balaão profetiza: “Uma estrela sairá de Jacó; um cetro surgirá de Israel.” O símbolo do cetro conduziu ao da estrela, pois ambos são símbolos da realeza que o crente partilha. Os santos governam com Cristo e brilham com fulgor como estrelas matutinas.
A carta é concluída com uma admoestação familiar dirigida a todas as igrejas para que ouçam cuidadosamente a mensagem que o Espírito Santo está transmitindo.
Sardes
A Cidade
A cidade de Sardes (moderna Sart) estava situada aproximadamente a trinta milhas a sudeste de Tiatira e cinqüenta milhas a leste de Esmirna. O nome plural Sardes se refere, em primeiro lugar, à cidade como uma fortaleza no topo de um promontório; e, em segundo lugar, à cidade próspera em comércio, produtos oriundos da agricultura e indústria relacionada com a posição em nível plano do vale abaixo. Situada numa faixa alta e estreita, a fortaleza era, em termos militares, invencível. A cidade só podia ser alcançada do lado sul dessa faixa estreita e elevada que terminava no promontório sobre o qual a fortaleza estava edificada. Precipícios íngremes protegiam a cidade, de modo que não podia ser escalada. Por causa de suas fortes defesas, Sardes veio a ser a capital da Lídia, porém sua localização impedia a expansão e a forçava a permanecer pequena. Era completamente dependente do fértil vale abaixo para todas as necessidades da vida, sendo que todo o suprimento tinha de ser levado para a cidade.
A segunda cidade estava situada no vale a cerca de mil e quinhentos pés abaixo. Muitas pessoas haviam se estabelecido ali: agricultores que produziam e vendiam seus produtos pecuários; trabalhadores na indústria de lã; e os mercadores que levavam e vendiam suas mercadorias. Essas pessoas necessitavam de um lugar onde viver e trabalhar. Em tempos de paz, elas prosperavam junto às rotas comerciais que se estendiam do norte ao sul e do leste ao oeste nas províncias de Lídia e Ásia. Sardes ocupava o eixo dessas estradas e se desenvolvia em riqueza.
O nome Croesus, rei da Lídia (560-546 a.C.), é parte da história da cidade. Tudo quanto ele tocasse, segundo a lenda, se convertia em ouro. Inclusive a própria natureza contribuía com Sardes, pois Heródoto escreve acerca do Rio Pactolus, que corre através da cidade: “O ribeiro que desce do Monte Tmolus e que traz para Sardes uma quantidade de ouro em pó corre diretamente através do mercado da cidade.” Seu suprimento era logo exaurido, certamente antes dos romanos ocuparem a área. Croesus, porém, usou a riqueza para estender sua influência, a qual alcançou para além do leste de Sardes. Numa batalha contra Ciro da Pérsia, ele confiou em um oráculo que lhe foi transmitido pela sacerdotisa de Delfo: “Se você cruzar o Rio Halys, então destruirá um grande império.” Com suas forças ele cruzou esse rio e destruiu não o império persa, mas o seu próprio.
Croesus cria que estaria seguro em Sardes, protegido por sua fortaleza inexpugnável. Ele não esperava que Ciro o seguisse, e assim fracassou em mobilizar suas forças. Quando os exércitos persas chegaram a Sardes, Croesus o esperava fora, crendo que ninguém poderia escalar os muros do promontório quase na vertical. Mas quando um de seus homens incidentemente deixou cair seu elmo de um dos muros e desceu para recuperá-lo, inadvertidamente demonstrou que o muro podia ser escalado. A noite, os soldados persas escalaram o muro, não encontraram oposição e tomaram a cidade. Através do descuido de um soldado e falha em guardar os muros, Croesus perdeu a guerra.
Quando as pessoas não prestam atenção em sua história, estão repetindo os erros do passado. No terceiro século antes de Cristo, Antíoco o Grande, rei da Síria, enviou seus exércitos contra Sardes (214 a.C.). Seus soldados escalaram os muros desprotegidos da cidade e a capturaram quase da mesma forma que os guerreiros persas fizeram em 546 a.C. Portanto, quando Jesus diz aos crentes de Sardes, “estejam em alerta!” (v. 2), ouviam um eco de seu próprio passado que reforçava sua advertência.
 Antíoco o Grande forçou cerca de duas mil famílias judias a emigrar- se da Mesopotâmia para Lídia e Frigia, na Ásia Menor. Os judeus se estabeleceram em muitas das cidades, inclusive Sardes, onde pesquisas arqueológicas têm demonstrado que o idioma aramaico já era conhecido. Josefo registra que os judeus em Sardes desfrutavam de certos privilégios, como receber cidadania e preencher as posições principais como membros do conselho da cidade. Escavações têm desenterrado as ruínas de uma sinagoga de tamanho razoável datando do terceiro século da Era Cristã. Presumivelmente, ruínas do terceiro século não provam que os judeus viviam em Sardes no primeiro século, contudo sugerem que pessoas judias poderiam ter vivido ali por algum tempo antes disso e que eram ricas, influentes e bastante numerosas ao ponto de poderem ter construído esse complexo de sinagogas.
Há mais. Jesus nota que umas poucas pessoas em Sardes não tinham contaminado suas roupas (v. 4). Isso significa que esses poucos se conservaram puros das influências externas e que não se adaptaram às práticas religiosas daqueles dias. Embora ambas as cartas às igrejas de Esmirna e Filadélfia mencionem a “sinagoga de Satanás” e pessoas “que dizem ser judeus e não são” (2.9; 3.9), Sardes não sofreu oposição dos judeus. O evangelho que os cristãos locais proclamavam e aplicavam era fraco demais para ser ofensivo aos judeus. Além disso, templos pagãos dedicados a Cibele, Zeus Lídio, Heracles e Dionísio exerciam influência na religião do povo. Além do mais, o tipo de evangelho que os habitantes de Sardes ouviam dos cristãos não constituía nenhuma ameaça à sua religião pagã.
Sardes foi conquistada pelos romanos em 189 a.C. e sofreu um devastador terremoto em 17 d.C., e por isso o imperador Tibério isentou a cidade de pagar impostos por um período de cinco anos. Durante esses anos, seus cidadãos edificaram Sardes, fazendo-a surgir das ruínas e voltar ao seu esplendor anterior. Os judeus enviavam regularmente dinheiro a Jerusalém para a manutenção do templo. Josefo registra que recorreram ao governo da cidade sobre a decisão de César, não para impedi-los de arrecadar taxa no templo e enviá-la a Jerusalém.
Das sete igrejas, Sardes estava entre as de fervor espiritual mais baixo. Sua acomodação ao seu ambiente religioso protegia a igreja da perseguição, pois dificilmente alguém a notava. Sua vida inofensiva produzia paz religiosa com o mundo, porém resultou na morte espiritual aos olhos de Deus. Afora uns poucos membros fiéis que conservaram ardente o fogo do evangelho, a igreja propriamente dita estava gradualmente morrendo, como um fogo que lhe falta combustível e ar. Não obstante, entre as cinzas sem chama jaziam uns poucos rescaldos ainda vivos.
Advertência
E ao anjo da igreja em Sardes escreva: Isto diz aquele que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas: Conheço suas obras; você tem a reputação de que está vivo, porém está morto (Ap 3.1).
1.“Isto diz aquele que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas.” Jesus se identifica de forma diferenciada na sentença inicial de cada carta individualmente. Aqui ele se revela com a combinação da saudação inicial do livro: “os sete espíritos” (1.4), e uma frase extraída de seu aparecimento a João: “as sete estrelas” (1.16, 20; 2.1). Os sete espíritos descrevem a plenitude do Espírito Santo, a quem Jesus está enviando da parte do Pai (Jo 14.26; 15.26, 27; At 2.33). Jesus diz que ele tem os sete espíritos, isto é, ele recebeu a plenitude do Espírito Santo e exerceautoridade sobre ele. Ele comissiona o Espírito Santo para fazer com que crentes e incrédulos o conheçam e para avivar as chamas da renovação nas igrejas que estão em declínio. O Espírito, pois, é o agente que sopra nova vida na igreja moribunda de Sardes e estimula os membros indolentes à ação.
A frase as sete estrelas também ocorre na carta à igreja de Éfeso (2.1), mas ali os crentes tinham perdido seu primeiro amor e tinham caído de seu auge espiritual (2.4,5); aqui eles são declarados espiritualmente mortos, o que é muitíssimo pior. Mas, através de seu Espírito gerador de vida, Jesus é capaz e quer receber a Igreja. Ele segura as sete estrelas em sua mão direita (1.16), pois elas são seus mensageiros designados a proclamar a Palavra de Deus, que gera nova vida no interior da Igreja. Jesus dá a esses portadores das boas-novas, concomitantemente, autoridade e proteção. Ele os comissiona a entregar ao povo de Deus não sua própria mensagem, mas a de Deus.
2.“Conheço suas obras; você tem a reputação de que está vivo, porém está morto.” Jesus se dirige aos membros da igreja em Sardes e lhes afirma que está plenamente cônscio de suas obras, porém ele não pode enumerá-las porque elas são incompletas aos olhos de Deus (v. 2). Deus não está interessado em frias tentativas de servi-lo. A súmula de sua lei é: “ame ao Senhor seu Deus de todo o seu coração, e de toda a sua alma e de toda a sua mente” (Mt 22.37).
A Igreja, em geral, conhecia Sardes como uma congregação que desfrutava da reputação de ser viva. Presumimos que a estatura e fluência financeira poderiam ter contribuído para dar à igreja a aparência externa de ser espiritualmente florescente. A aparência externa podia enganar os amigos crentes que a olhassem superficialmente, Jesus, porém, examina a condição íntima da igreja e descobre uma ausência de fé vibrante, que resulta da apatia espiritual. Quase toda a igreja tinha se rendido ao mundo circundante de religião pagã e judaísmo, e em vez de ser uma influência sobre a cultura, viera a ser influenciada por essa mesma cultura. Não surpreende que Jesus a descreva como estando morta. A igreja de Sardes viera a ser uma nulidade em razão de haver fracassado em contribuir para o avanço do evangelho. Jesus disse aos efésios que, se não se arrependessem, ele removeria seu candelabro com o fim de impedi-los de ser uma igreja (2.5). De igual modo, Sardes cessaria de ser uma igreja, a menos que os membros revelassem evidência de arrependimento.
Esteja em alerta! Fortifique as coisas que restam e que estão para morrer, pois não achei suas obras perfeitas diante de meu Deus. Lembre-se, pois, como você recebeu e ouviu [a mensagem]; conserve-a e arrependa-se. Portanto, se você não ficar alerta, virei como um ladrão e de forma alguma saberá a que hora eu virei a você (Ap 3.2,3).
1. “Esteja em alerta! Fortifique as coisas que restam e estão para morrer.” A primeira ordem é para ser vigilante. Ouvindo-a, os habitantes de Sardes imediatamente se lembrariam de sua história. O texto grego enfatiza o presente contínuo para indicar que a igreja deve sempre mostrar que está alerta aos perigos internos e externos: falsos mestres no seio da igreja e falsa doutrina chegando do lado de fora (comparar At 20.29-31; ver também Mt 24.24). A ordem de Jesus à vigilância revela que alguma vida está ainda presente na congregação, ainda que a tenha descrito como morta.
A segunda ordem é para dar início à tarefa de fortalecer as pessoas, e as coisas que ainda funcionam na igreja. Embora alguns membros ainda estejam ativos, as obras que têm empreendido são incompletas e correm o risco de tomar-se totalmente inativas. A ênfase nesta sentença está no verbo fortalecer, de modo que tanto os agentes quanto as atividades que ainda ficaram em Sardes são reforçados. As obras de fé e amor praticadas por uns poucos membros devotos têm o potencial de extinguir-se. Incidentalmente, a fraseologia desta sentença ecoa a instrução divina de Israel: “Você não tem fortalecido o fraco” (Ez 34.4; comparar também Lc 22.32).
2.“Pois não achei suas obras perfeitas diante de meu Deus.” Jesus examina as atividades da igreja de Sardes, exatamente como Deus pesou Belsazar na balança e o achou em falta (Dn 5.27). Ele não quer quantidade, e, sim, qualidade. Equivale a dizer que ele quer aquilo que é feito com fé e amor para com Deus e o próximo. Ele quer que o crente seja cheio do Espírito Santo e lhe expresse obras de gratidão. A expressão obras perfeitas comunica o sentido daquilo que é perfeito (ver Mt 5.48). Nenhum israelita podia oferecer ao Senhor um animal defeituoso (Lv 1.3; Dt 15.21; Ml 1.8), pois um animal tinha que ser sem mancha, isto é, íntegro. Assim os cristãos de Sardes tinham que apresentar suas obras diante do Senhor como sacrifícios perfeitos. Jesus usa o pronome possessivo meu cinco vezes quando fala de Deus (3.2, 12 [quatro vezes]; ver também Jo 20.17). Subordinado a Deus, ele cumpre seu papel medianeiro.
3.“Lembre-se, pois, como você recebeu e ouviu [a mensagem]; conserve-a e arrependa-se.” Os verbos nesta sentença fornecem ampla evidência de que muito tempo havia transcorrido desde que as pessoas ouviram pela primeira vez e creram na mensagem do evangelho. O verbo lembrar parece apontar não para o passado imediato de uns poucos anos atrás, mas para o passado distante de mais de uma geração. Se o evangelho foi levado a Sardes em meados dos anos 50 e João escreveu o Apocalipse em meados dos anos 90, quarenta anos já haviam transcorrido. Em seguida, o grego tem o tempo perfeito do verbo receber para indicar que já transcorrera um tempo considerável.
Os cristãos da primeira geração tinham posto sua fé em ação, mas a segunda geração apenas descansava no que acontecera no passado. Daí, Jesus emite a ordem de guardar na memória o que seus pais fizeram, porque a primeira geração recebera a mensagem da salvação, ouvira-a e obedientemente seguira suas instruções (ver 2.5). A segunda geração ainda tinha a mensagem evangélica, porém agora recebe a ordem de salvaguardá-la. Jesus não está dizendo que a Palavra de Deus deva ser conservada em segurança na prateleira ou numa gaveta, mas que seus ensinamentos devem ser conhecidos, seguidos e obedecidos. Assim, ele ordena aos leitores e ouvintes que obedeçam seu evangelho e se arrependam de sua inércia e indolência. O verbo guardar se relaciona com o evangelho, e o verbo arrepender-se, com a mudança radical do eu interior.
Hoje a Bíblia é um bestseller, e milhões de pessoas a adquirem. Ainda que muitas pessoas a leiam regularmente, somente alguns obedecem aos seus ensinamentos.
4.“Portanto, se você não ficar alerta, virei como um ladrão, e de forma alguma saberá a que hora eu virei a você.” A advertência é direta, pois deixar de dar-lhe atenção resulta inevitavelmente na vinda do juízo do Senhor. Cinco de sete epístolas registram sua vinda (Éfeso, 2.5; Pérgamo, 2.16; Tiatira, 2.25; Sardes, 3.3; Filadélfia, 3.11); três delas trazem esta informação juntamente com a severa advertência ao arrependimento (Éfeso, Pérgamo e Sardes). Isso significa que, nestes três exemplos, o arrependimento das pessoas e a vinda de Jesus devem ser interpretados contra o antecedente histórico daquele tempo.
No presente contexto, a vinda de Jesus parece iminente e inesperada. Ele está vindo como um ladrão. Este é um tema comum no Novo Testamento, ou referindo-se ao castigo imediato, ou à Segunda Vinda de Cristo. Aqui, o contexto histórico aponta para o juízo ameaçador. O fracasso em arrepender-se inevitavelmente levaria à reprovação do Senhor. As pessoas de Sardes não têm que esperar até ao prometido regresso do Senhor; se fracassassem em arrepender-se, sua inesperada aparição seria como a de um ladrão, cuja vinda pode ocorrer a qualquer momento.
Promessa
Entretanto, você tem umas poucas pessoas em Sardes que não contaminaram suas roupas, e andarão comigo [vestidas] de branco, porque são dignas (Ap 3.4).
Há esperança para a letárgica igreja de Sardes, onde uns poucos membros ainda são fiéis ao Senhor. Entre as cinzas do fogo seencontram uns poucos tições fumegantes, que com uma lufada de vento arderão em chama. O grego lê “uns poucos nomes” e comunica a idéia de que o Senhor conhece seus seguidores fiéis individual e nominalmente que nutrem amor por ele.
O pequeno número de servos fiéis não tinha contaminado suas roupas, o que significa que eles não tinham se deixado influenciar pela cultura secular de seus dias. A palavra roupas é um símbolo de sua conduta espiritual e seu estilo de vida moral (Jd 23). Não estavam manchados pelos pecados de adultério e idolatria; não tinham solapado a mensagem do evangelho; e tinham se refreado de se comprometer. Continuavam fidedignos em sua palavra empenhada em seu batismo, de seguir a Jesus. Ainda que esses poucos crentes fossem considerados como que fora de moda em relação à sua cultura, andavam sem vacilar nas pegadas dos apóstolos e outros cristãos que tinham trazido e ensinado
o evangelho da salvação. Caminhar com o Senhor Deus é algo exemplificado na vida de Enoque (Gn 5.22, 24) e na vida dos discípulos que andaram com Jesus pela Galiléia e Judéia.
Os consagrados seguidores de Jesus andarão com ele e serão vestidos com roupas brancas. A cor branca, neste texto, significa pureza e santidade. Suas roupas brancas são a cobertura que o Senhor lhes dá como um manto de justiça (ver Is 61.10). Esses poucos fiéis são dignos. Isto é, aos olhos de Jesus, são declarados dignos, não por causa de suas próprias realizações, mas por causa das realizações dele. Suas assim chamadas boas obras nada são senão trapos de imundícia (Is 64.6). Mas ao ouvir obedientemente a voz de Jesus e seguir suas pegadas (ver Ap 14.4), eles, através de sua expiação, são declarados dignos.
Aquele que vencer será vestido com roupas brancas. Jamais apagarei seu nome do livro da vida e confessarei seu nome diante do Pai e diante de seus anjos. Aquele que tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas (Ap 3.5,6)
1.“Aquele que vencer será vestido com roupas brancas.” O típico paralelismo hebraico é evidente quando o escritor conecta a referência precedente às roupas brancas com o conceito vencer (ver 2.7). A pessoa que persevera até o fim será salva e triunfará em Cristo (Mt 24.13). Os poucos cristãos fiéis de Sardes são aqueles que vencem as tentações e provações na vereda da vida. Qual, porém, é a importância da palavra Assim? Parece natural tomar o advérbio em seu contexto do versículo precedente (v. 4b) e dizer que “assim” deve ser tomado em conexão com roupas brancas como uma conseqüência de andar com Jesus.
Note a voz passiva no verbo será vestido, o qual denota que Deus dará, ao vencer, as roupas. As roupas são os atos de justiça dos santos (19.8). A cor branco denota pureza, e assim os santos que estão vestidos com roupas brancas são santos na presença de Deus (7.9, 13).
2.“Jamais apagarei seu nome do livro da vida.” Aqui está uma promessa que é fraseada em termos fortemente negativos para injetar certeza aos cristãos fiéis de Sardes. Assegura-lhes que estão absolutamente a salvo e seguros. Seus nomes foram registrados no livro da vida e jamais serão apagados. Em outro lugar, Deus testifica a seu povo: “Vejam que eu vos gravei nas palmas de minhas mãos” (Is 49.16). Ele está inseparavelmente ligado a eles, pois que são as meninas de seus olhos (Dt 32.10; SI 17.8; Zc 2.8). João revela que os nomes inscritos nesse livro da vida foram registrados desde a fundação do mundo (17.8).
O povo judeu conservava registros precisos a respeito de estatísticas vitais. Quando os judeus regressaram do exílio, fizeram-se listas para o registro de famílias (Ne 7.5, 6; 12.22-24). A exclusão de pessoas dos registros da casa de Israel foi uma prática nos dias de Ezequiel. Os falsos profetas eram completamente isolados e banidos da terra de Israel (Ez 13.9). Os romanos deveriam apagar o nome de um criminoso dos registros antes de entregá-lo à morte; os cristãos que se recusassem adorar César como Senhor eram considerados réus que deveriam perder sua cidadania. Jesus assegura aos fiéis de Sardes que seus nomes jamais seriam apagados do livro da vida. Aquelas pessoas que professavam o nome de Jesus, mas cujo estilo de vida falhava em endossar sua profissão, jamais tiveram seus nomes registrados no “livro da vida”. Jesus lhes afirma que nunca os conheceu e lhes ordena que se apartem dele (Mt 7.21-23).
A expressão “livro da vida” é significativa, porque difere daquele livro de “registro civil”; um está no céu, o outro, na terra. No Apocalipse, o livro da vida está onde estão escritos os nomes dos que já receberam o dom da vida eterna (3.5; 13.8; 17.8; 20.12,15; 21.27; e verLc 10.20; Fp 4.3; Hb 12.23). No Antigo Testamento, “ser apagado do livro” na terra significa “morrer”, isto é, ser apagado do registro civil (Êx 32.32, 33; SI 69.28; Dn 12.1). 
3.“Confessarei seu nome diante do Pai e diante de seus anjos.” Esta é uma palavra de Jesus expressa durante seu ministério terreno e reitera com variações menores:
• “Todo aquele que me reconhecer diante dos homens, eu também
o reconhecerei diante de meu Pai celestial” (Mt 10.32).
• “Eu lhes digo que, quem me reconhecer diante dos homens, o
Filho do Homem também o reconhecerá diante dos anjos de
Deus” (Lc 12.8).
Um hino cristão primitivo declara que Jesus desconhecerá uma pessoa que o desconhece (2Tm 2.12), e o paralelo é que, diante de Deus o Pai, Jesus honra os que o honram (ISm 2.30). Nas cortes mais elevadas do céu, diante de Deus e de seus anjos, Jesus confessa os nomes de todos quantos confessarem seu nome na terra. Jesus é um com seu povo e não se envergonha de chamá-los seus irmãos e irmãs (Hb 2.11).
4.“Aquele que tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.” Este é um refrão repetitivo registrado em cada uma das sete cartas. O Espírito Santo fala a todas as igrejas, e não só à congregação de Sardes.
Filadélfia
Cidade
Filadélfia era a mais jovem das sete cidades. Tinha sido fundada por colonos provenientes de Pérgamo sob o reinado de Átalo II (entre os anos 159 e 138 a.C).
Philadelphos, significa, em idioma grego, "aquele que ama a seu irmão". Tal era o amor de Átalo por seu irmão Eumenes que tinha o apelido "o philadelphos", e é lembrando esta circunstância que a cidade de Filadélfia recebeu este nome.
Filadélfia foi edificada com um propósito especial. Estava localizada no lugar onde limitam Mísia, Lídia e Frígia. Era uma cidade de fronteira. Mas não se teve a intenção de fazer dela uma cidade militar, porque havia muito pouco perigo nesse sentido. A idéia era convertê-la em missionária da cultura e do idioma grego entre os habitantes da Frígia e Lídia. Tão bem desempenhou Filadélfia sua missão, que lá pelo ano 19 os lídios já tinham esquecido sua própria língua, tendo adotado completamente a cultura e o idioma dos gregos.
Sir W. M. Ramsay diz com relação a Filadélfia, que era "o centro da difusão da língua e das letras gregas numa região pacífica, mediante modos pacíficos de penetração". É a isto que se refere o Cristo ressuscitado quando menciona a porta aberta que está diante de Filadélfia. Fazia três séculos os cidadãos dessa cidade tinham encontrado uma porta aberta para expandir a cultura grega na região circunvizinha; agora lhes tinha chegado a oportunidade de cumprir outra grande missão: a de levar a seres humanos que ainda não a conheciam a grande mensagem do amor de Jesus Cristo.
Mas Filadélfia tinha uma característica que marca seu rastro sobre esta carta. Filadélfia estava localizada à beira de uma grande meseta que se chamava Katakekaumene, (que significa "terra queimada"). Era uma zona onde ainda podiam ver-se os restos de lava e cinza vulcânica de erupções muito antigas. Esta característica tinha suas vantagens. A terra era muito fértil e Filadélfia era o centro de uma região que se dedicava ao cultivo da videira. Era famosa por seus vinhos. Mas tais vantagens tinham seus perigos, e estes perigos haviam marcado a Filadélfia mais que a nenhuma outra cidade de sua época.
No ano 17 tinha sobrevindo um terremoto, que destruiu a Sardes e mais outras 10 cidades.Nas outras cidades o terremoto tinha sido uma experiência de um momento; em Filadélfia, entretanto, os tremores tinham seguido sacudindo a terra durante muitos anos. Estrabão descreve a Filadélfia como a "cidade cheia de abalos sísmicos".
Ocorre freqüentemente que se uma cidade for sacudida uma vez por um grande terremoto, a reação do povo chega a ser de grande heroísmo e valentia; mas se os tremores e terremotos se sucedem intermitentemente durante um longo tempo cada novo movimento sísmico produz pânico na população. E isto é o que sucedia em Filadélfia.
Estrabão descreve a cena. Os tremores se sucediam quase todos os dias. Grandes gretas se abriam nas paredes das casas. Uma boa parte da cidade estava totalmente em ruínas. A maioria da população vivia fora da cidade, em choças, e temiam transitar pelas ruas da cidade pelo perigo de que lhes caísse em cima alguma parede ou pedra. Os que ainda se animavam a viver na cidade eram considerados loucos; passavam boa parte do tempo escorando as paredes e tetos das casas em que habitavam, e todo o tempo deviam interromper suas tarefas e sair ao ar livre, quando começava a tremer. Esta época terrível da cidade nunca foi totalmente esquecida. Seus habitantes todo o tempo se mantinham alertas ao menor movimento da terra, preparados para sair correndo às ruas ou a algum outro espaço descampado. Os habitantes de Filadélfia sabiam perfeitamente bem quão bela podia ser a promessa de que "nunca mais terão que sair dali..." Essa era, precisamente, a segurança que seus corações mais desejavam.
Mas há mais da história de Filadélfia nesta carta. Quando o grande terremoto destruiu a cidade o imperador Tibério foi tão generoso com Filadélfia como com Sardes. Filadélfia demonstrou sua gratidão ao imperador mudando seu nome pelo de Nova Cesaréia, a Nova Cidade de César. Mais tarde, na época de Vespasiano, a cidade voltou a mudar seu nome, numa nova amostra de gratidão, pelo de Flávia, pois Flávio era o sobrenome do imperador Vespasiano. É verdade que nenhum destes nomes foi usado durante muito tempo, e todo mundo seguiu chamando-a Filadélfia. Mas os habitantes de Filadélfia, de toda maneira, sabiam muito bem o que significava receber um "novo nome". A história de Filadélfia aparece escrita entre as linhas desta carta.
Entre todas as cidades da Ásia, Filadélfia é a que recebe maiores louvores do Cristo ressuscitado. Com o tempo demonstraria ser merecedora de tais louvores.
Em suas épocas posteriores Filadélfia chegaria a ser uma grande cidade. Mas então os invasores turcos e muçulmanos varreram a Ásia Menor. Quando todas as outras cidades tinham caído, Filadélfia ainda seguia em pé. Durante muitos séculos seguiu sendo uma cidade cristã rodeada por muçulmanos, um verdadeiro baluarte do cristianismo que só seria assimilada a meados do século XIV. Até nossos dias Filadélfia tem seu bispo e uma população cristã de quase mil almas. Com exceção de Esmirna, todas as outras Igrejas cristãs da Ásia, fora a de Filadélfia, estão hoje em ruínas. Até hoje Filadélfia segue mantendo em alto a bandeira da fé cristã.
Endereço e Reconhecimento
Ao anjo da igreja em Filadélfia escreva: Isto diz aquele que é santo e verdadeiro, que tem a chave de Davi, que abre e ninguém fechará, e que fecha e ninguém abrirá: Conheço suas obras. Eis que tenho posto diante de você uma porta aberta, a qual ninguém é capaz de fechar. Eu sei que você tem pouca força, e no entanto você guardou minha palavra, e não negou meu nome (Ap 3.7,8).
1.“Isto diz aquele que é santo e verdadeiro, que tem a chave de Davi, que abre e ninguém fechará, e que fecha e ninguém abrirá.” A autodescrição de Jesus é uma introdução adequada à carta aos crentes de Filadélfia, porque Jesus os incita a nutrir igualmente santidade e autenticidade. A Escritura ensina que, uma vez que Deus é santo, ele espera que todo o seu povo seja santo (Lv 11.45; 19.2; 20.7). Deus é o Santo (Is 40.25; Hc 3.3), aqui, porém, Jesus é chamado santo e verdadeiro. Aliás, tanto os demônios quanto os discípulos de Jesus o reconheceram como o Santo de Deus (Mc 1.24; Lc 4.34; Jo 6.69). De todos os livros do Novo Testamento, o Apocalipse mui freqüentemente chama o povo de Deus de os santos.21 Já foram purificados pelo sangue de Cristo e têm acesso à presença de Deus como se nunca tivessem pecado. São a noiva de Cristo, de quem toda mancha ou ruga já foi removida (Ef 5.26, 27).
Só duas vezes no Novo Testamento os dois adjetivos, santo e verdadeiro, são combinados: uma vez são aplicados a Jesus (aqui), e uma vez a Deus (6.10). Verdadeiro significa aquilo que é genuíno como o oposto de imitação. Jesus nunca quebra sua palavra, mas que preenche todas suas implicações. Os que se chamavam judeus, mas que não eram judeus, demonstravam ser mentirosos. A guisa de contraste, a palavra de Jesus é fidedigna. A combinação e verdadeiro é atribuída a Jesus e às palavras que Deus fala (3.14; 21.5; 22.6).
Jesus segura a chave de Davi, o que é uma referência direta à sua linhagem messiânica. As palavras são baseadas em Isaías 22.22: “Porei sobre os seus ombros as chaves do reino de Davi; o que ele abrir ninguém conseguirá fechar, e o que ele fechar ninguém conseguirá abrir.” Isso é dito de Eliaquim, filho de Hilquia, que serviu ao rei Ezequias como um mordomo fiel. Eliaquim recebeu emblemas régios de autoridade: um manto com cinturão e a chave da dinastia de Davi sobre seus ombros. Ele governou sobre a casa de Davi, Jerusalém e Judá. Ele foi um protótipo de Jesus, o Messias (comparar Is 9.6). Cristo, em contrapartida, segura o cetro do reino de Deus, é o Filho sobre sua casa (Hb 1.8; 3.6) e governa sobre todos os povos.
A expressão chave, no singular, é precedida pelo artigo definido, e assim difere da primeira descrição de Jesus segurando as chaves da Morte e do Hades (1.18). Jesus é o único que detém autoridade absoluta com aquela chave régia de Davi (5.5; 22.16). Ele é o soberano absoluto no céu e na terra (Mt 28.18), pois o que ele abre ninguém é capaz de fechar, e o que ele fecha ninguém é capaz de abrir. Sua palavra e ato são finais. 
O ato de abrir e fechar portas deve ser interpretado no contexto dos judeus em Filadélfia (v. 9). Opunham-se à admissão de gentios, a quem Jesus afetuosamente recebia na comunhão da Igreja cristã. Não obstante, os próprios judeus estavam do lado de fora do reino de Deus, ainda que se considerassem o povo eleito de Deus (Mt 8.12).
2.“Isto diz [Jesus]: Conheço suas obras. Eis que tenho posto diante de você uma porta aberta, a qual ninguém é capaz de fechar.” O Senhor está totalmente familiarizado com as obras dos crentes de Filadélfia e não carece de uma lista delas (ver 2.2, 19; 3.15). As duas sentenças sobre uma porta aberta e a impossibilidade de fechá-la parecem ser uma alusão às obras realizadas pela igreja de Filadélfia. Enquanto a igreja de Sardes era ociosa, a de Filadélfia vivia ativamente ensinando e pregando o evangelho de Cristo.
Os estudiosos debatem sobre a pontuação deste versículo. Alguns são de opinião que a sentença, “conheço suas obras” deve ser considerada como um parêntese. Outros pensam que a sentença “eis que tenho posto diante de você uma porta aberta, a qual ninguém é capaz de fechar”, é parentética. E ainda outros fazem três sentenças separadas pela repetição das palavras “eu conheço” precedendo a terceira sentença, “que tem pouca força”, etc. A terceira opção é preferível e é adotada pela maioria dos tradutores.
Qual é o significado da expressão uma porta aberta? Primeiramente, o grego indica que essa porta já foi aberta e permanece aberta, ainda que o Senhor possa fechá-la novamente. Em segundo lugar, nada passa por essa porta em direção ao mundo, mas, ao contrário, é preciso entrar por ela em direção ao reino. Em terceiro lugar, o Senhor tem de abrir a porta para tornar possível e eficiente a obra de evangelismo. Paulo e Barnabé relataram à igreja de Antioquia como Deus “abrira a porta da fé aos gentios” (At 14.27). Deus abre a porta que ninguém é capaz de fechar, de modo que as pessoas podem ter acesso à sua presença.Sempre que ele abre portas para seus obreiros, ali ele abençoa a obra deles, que consiste em apresentar o evangelho (IC o 16.9; 2Co 2.12; Cl 4.3). Ali a obra de missões e evangelismo floresce quando conversos abraçam a fé em Cristo. A despeito da feroz oposição movida pelos judeus na sinagoga de Satanás (v. 9), o pequeno grupo de cristãos fiéis em Filadélfia recebeu a certeza de uma bênção por haver Jesus aberto a porta aos conversos gentílicos. Em suma, Deus é soberano na obra da salvação, pois ele ou abre ou fecha as portas do serviço (comparar Is 45.1). E a porta que Deus abre é um estímulo aos cristãos para que ativamente se engajem na obra de evangelismo e missões.
3.“Sei que você tem pouca força, e no entanto você guardou minha palavra, e não negou meu nome.” Jesus enfatiza a palavra pouca. Ela precede o substantivo força e se relaciona com o número dos santos em Filadélfia. Aos olhos dos judeus locais, esses cristãos eram tão insignificantes que nem mesmo precisavam considerá-los como uma ameaça. No decurso do ministério terreno de Jesus, o Senhor estimulou os discípulos com estas palavras: “Não tenham medo, pequeno rebanho, pois a seu Pai agradou dar-lhes o reino” (Lc 12.32).
Dois elogios servem para injetar ânimo no espírito desse pequeno grupo de crentes: tinham guardado a palavra de Jesus e não tinham negado seu nome. Esses dois são opostos em um paralelismo hebraico: o primeiro é positivo e faz alusão ao evangelho de Cristo; o segundo é negativo, com o termo nome incorporado à revelação de Jesus. Guardar a palavra de Jesus não significa que ela fosse mantida longe da vista, mas que foi guardada da subversão. Não negar o nome significa honrá-lo e ao mesmo tempo fazer conhecida a todos a revelação de Jesus (ver v. 10; 2.13; Jo 8.51; lJo 2.5). A palavra e o nome de Jesus se referem à revelação especial de Deus que se acha expressa, concomitantemente, no evangelho e no preceito. Seu povo observa esta revelação na palavra e nos atos.
Esses dois elogios implicam que os santos fiéis de Filadélfia tinham suportado oposição da parte de judeus e gentios. Seus adversários se opunham ao nome e à mensagem de Jesus, e repudiavam seus seguidores por causa de seu estilo de vida. Não obstante, os santos permaneceram leais ao seu Senhor, e por isso receberam seu louvor e suas bênçãos.
Exortação
Eis que eu farei com que os da sinagoga de Satanás, e que se chamam judeus e não o são, porém mentem - eis que os farei vir e curvar-se a seus pés e admitir que eu o amei (Ap 3.9)
1.O imperativo veja! [eis que!] aparece duas vezes à guisa de ênfase (ver também v. 8). Note a repetição da primeira sentença, a qual ocorre na carta aos cristãos de Esmirna (2.9). E note que a interrupção no meio do versículo faz com que a segunda parte reforce a primeira. Essas duas partes ilustram a sintaxe hebraica, à guisa de ênfase.
2. “Eis que farei com que os da sinagoga de Satanás, e que se chamam judeus e não o são, porém mentem.” Os tradutores costumam fugir da versão literal: “Eis que farei que os ...”, e substituem o verbo fazer no tempo futuro para a redação: “eu dou.” Na segunda parte da sentença, a redação “eu farei” aparece novamente. As últimas palavras, “porém mentem”, não estão na carta a Esmirna, que faz paralelo com este versículo.
As duas congregações, de Esmirna e de Filadélfia, são as únicas das sete que fazem referência específica ao povo judeu, sua sinagoga e seu senhor, Satanás. Não obstante, estas são também as duas únicas igrejas que recebem louvor sem sequer uma palavra de reprimenda.
As pessoas judias que se convertiam ao Cristianismo não mais eram toleradas nas sinagoga depois da destruição do templo e da cidade de Jerusalém em 70 d.C. Duas décadas mais tarde, os líderes judaicos que se achavam em Jânia reconhecem o cânon das Escrituras e formulam as assim chamadas Dezoito Bênçãos. A décima segunda petição nesta oração pronuncia uma maldição sobre os apóstatas:
Para os apóstatas, que não haja nenhuma esperança, e que desarraigues de repente o reino da insolência que existe em nossos dias; e que os cristãos (noserim) e os hereges (minim) pereçam num instante, e que sejam apagados do livro da vida, e não estejam inscritos com os justos. Bendito és tu, ó Senhor, que humilhas os insolentes
Já em meados do primeiro século, os judeus denominavam o Cristianismo “a seita nazarena” (At 24.5). Depois que a maldição sobre os hereges foi formulada, os judeus denunciaram igualmente os cristãos judeus e gentios durante os serviços litúrgicos das sinagogas locais. Ainda que nenhum texto datando do primeiro século tenha sobrevivido, podemos afirmar com segurança que a hostilidade judaica para com os cristãos tornou-se ainda mais acirrada. Descobrimos evidência desse fato nos escritos cristãos datando da última parte do primeiro século e começo do segundo, e em referências esparsas ao Cristianismo na literatura judaica.
Jesus denominou a assembléia judaica “a sinagoga de Satanás” (ver o comentário sobre 2.9). Como os judeus se orgulhavam de ser o povo eleito de Deus, com quem ele fizera uma aliança, Jesus implicitamente diz que eles tinham perdido o direito de serem chamados seu povo. Tornaram-se instrumentos nas mãos de Satanás que, como seu governante, usava-os para solapar e, se possível, destruir a Igreja. Rejeitaram não só a Jesus, mas também a todos os seus seguidores e, assim, indiretamente, reconheceram Satanás como senhor. Portanto, Jesus os caracterizou como mentirosos, porque não mais podiam reivindicar ser o povo de Deus.
3.“Eis que eu os farei vir e prostrar-se diante de seus pés e admitir que eu o amei.” A Israel como a nação eleita de Deus foi dada a promessa de restauração depois do regresso do exílio. Deus disse: “Reis serão seus padrastos, e suas rainhas serão suas amas diante de você, com o rosto em terra; lamberão o pó de seus pés. Então você saberá que eu sou o Senhor; aqueles que esperam em mim não ficarão decepcionados” (Is 49.23; ver também 6.14). Em vez de os judeus serem honrados, Jesus prediz que honrará os seus fiéis seguidores e evidenciará que ele realmente ama os seus. Isso insinua que as promessas de Deus a Israel agora foram transferidas para os seguidores de Jesus. Admissivelmente, nem todos os judeus perderam seu direito ao amor de Deus. Todos os que se arrependeram e se converteram a ele continuam experimentando sua graça divina, pois fazem parte do povo pactuai de Deus, redimido por Jesus Cristo.
Jesus demonstra seu amor para com os crentes de Filadélfia, dizendo que mesmo os judeus opositores confessarão que ele os ama (comparar Is 43.4). Como a menina de seus olhos, são recipientes de seu insone cuidado.
Visto que você tem guardado minha ordem de perseverar, eu também o guardarei da hora da provação que está para vir sobre o mundo inteiro, para provar os que habitam sobre a terra. Eu venho logo; conserve o que você tem, para que ninguém tome sua coroa (Ap 3.10,11).
1.“Visto que você tem guardado minha ordem de perseverar, eu também o guardarei na hora da provação.” As traduções do versículo 10 variam e, conseqüentemente, também as interpretações, acautelando o exegeta a não ser demasiadamente dogmático. Comecemos com a expressão introdutória visto que; esta conjunção retrocede ao versículo 8b (“você tem guardado minha palavra, e você não tem negado meu nom e”), de modo que o versículo 9 serve como uma nota explicativa sobre a opressão que os crentes fiéis tinham que suportar.
Em segundo lugar, alguns comentaristas advogam a continuidade do versículo 8b (“você guardou minha palavra”) no versículo 10. Mas o termo palavra poderia ter uma conotação diferente quando ela é qualificada por “perseverar”, pois então ela assume o significado de “ordenar”.
Em terceiro lugar, há a seqüência do verbo guardar nos versículos 8 e 10, o qual pode ser interpretado como “obedecer”, como “você obedeceu à minha palavra/ordem”. Mas se o verbo obedecer for adotado, a balança verbal no versículo 10 terá sido destruída: “você tem guardado minha ordem ... eu também o guardarei.” A escolha, pois, pareceinclinar-se para o equilíbrio dos verbos “guardar” e “guardarei”.
Em quarto lugar, há a posição do pronome possessivo minha, que é tomado ou como minha palavra/ordem” ( NRSV , NIV ) o u “a palavra de minha paciência”. Ainda quando uma exceção pudesse ser feita para ambas as posições (comparar Hb 12.1-3), a construção “minha palavra (ver v. 8) chama a atenção para uma medida de consistência nesta questão. Não obstante, a Escritura ensina que, havendo suportado sofrimento em si mesmo, Jesus socorre seu povo que agora sofre por causa de sua adesão a ele (Hb 2.18).
Em último lugar, a preposição de significa conservação ou retirada? Esta preposição pode ser interpretada como significando “através de”, no sentido de Deus guardar os crentes a salvo durante um período de dificuldades. Mas também se pode argumentar dizendo que Deus retira seu filho das dificuldades que se lhe deparam. Não obstante, em sua oração como Sumo Sacerdote, Jesus não pede que Deus retire os crentes deste mundo, mas que os proteja das furiosas investidas do maligno (Jo 17.15). Jesus envia seu povo ao mundo com a certeza de que ele os preservará, como se evidenciou na vida e ministério de Paulo (ver At 18.9, 10). O Senhor promete que preservará seu povo na hora da provação.
2.“Da hora da provação que está para sobrevir ao mundo inteiro para provar os que habitam sobre a terra.” A palavra hora não se limita a sessenta minutos, mas, antes, denota um período de tempo. Mas o que a palavra provação significa e a quem se aplica? Este termo pode significar tentação, teste ou prova, dos quais o último se adequa ao contexto. Aqui o significado de provação é associado com os adversários, aflições e problemas que Deus está enviando ao seu povo para testar sua fé, santidade e caráter. Deus os está testando e permitindo que Satanás os tente. Para os cristãos, isso significa que em tempos de tentação eles vencem pelo poder de Deus e são fortalecidos em sua fé.
Tempos de prova vêm a qualquer igreja e a todos os crentes em todas as épocas. Como a igreja de Esmirna foi lançada em um período de perseguição, assim a igreja de Filadélfia experimentou sua hora de provação. Isso não significa que os cristãos não sofrerão morte física em tais períodos, mas que Deus os protege da morte espiritual. São os vencedores durante sua peregrinação sobre esta terra. “A hora da provação” não se limita a um evento particular, mas apresenta um quadro telescópico de toda a massa de provações. Diz respeito não só a Filadélfia, mas “se refere em termos gerais a todas as provações que precedem o regresso de Cristo”. Além do mais, essa prova abarca toda a terra, de modo que toda a Igreja em um outro tempo, antes do regresso de Cristo, enfrenta severa tribulação.
A frase “os que habitam sobre a terra” se aplica aos incrédulos, como se faz evidente à luz de numerosas passagens no Apocalipse, onde ela significa os perseguidores e inimigos dos crentes. Deus testará os incrédulos que perseguem seu povo e os achará em falta. Concluímos que, neste versículo, o termo provação e o verbo provar apontam igualmente para crentes e incrédulos. “Para os cristãos, esta tribulação, além de ser uma ameaça para sua segurança física, também será um teste de sua fé, o qual, pelo socorro do Senhor, serão capazes de agüentar. Para os inimigos da Igreja, contudo, quer judeus ou gentios, ela virá como o castigo merecido por sua perversidade.
3.Eu venho logo; conserve o que você tem, para que ninguém tome sua coroa.” Aqui está o refrão repetitivo que aparece um número de vezes no Apocalipse (2.16, 25; 22.7, 12, 20; ver também Zc 2.10). No Apocalipse não há tempo cronológico, mas seu princípio é significativo. Séculos vêm e séculos vão, enquanto a Igreja continua a orar: “Maranata, vem, Senhor Jesus!” Não há evidência de quando ele virá, mas a certeza de seu regresso ecoa por todo o Livro do Apocalipse. Jesus vem para confortar seu povo e também para vingar seus inimigos. 
Jesus instrui a igreja de Tiatira a guardar firme o que ela tem (2.25); também exorta os cristãos de Filadélfia a guardar suas possessões espirituais. Ele promete à igreja de Esmirna “a coroa da vida” (2.10), aqui, porém, ele declara que os crentes de Filadélfia já possuem a coroa de um vencedor. Conservá-la significa continuar sua lealdade até o fim, e assim serão vencedores.
Promessa
Eu farei que o vencedor seja uma coluna no templo de meu Deus. Ele nunca mais sairá dali. Escreverei nele o nome de meu Deus e o nome da cidade de meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu da parte de meu Deus; e nele escreverei meu novo nome. (Ap 3.12).
Note o uso do pronome possessivo meu, que precede o substantivo Deus, quatro vezes; e o novo nome de Jesus, uma vez (ver também v. 2). Jesus enfatiza sua subordinação a seu Pai (Jo 20.17) e igualmente a autoridade que ele recebeu para escrever seu novo nome em seu povo.
1.“Eu farei com que o vencedor seja uma coluna no templo de meu Deus.” Jesus promete fazer do crente uma coluna no templo de Deus. Há pelo menos duas interpretações da palavra coluna. Uma é que os templos antigos tinham um número de colunas esculpidas na forma de seres humanos que circundavam essas estruturas. A segunda é que uma coluna em um templo servia para honrar uma pessoa eminente, assemelhando- se às condecorações anexadas às colunas nas catedrais européias. Essas ilustrações, porém, não devem ser tomadas tão a sério, porque o termo coluna tem uma significação simbólica, da mesma forma como Tiago, Pedro e João eram considerados colunas na Igreja (Gl 2.9; comparar também lTm 3.15).
A passagem fala não de templos pagãos, nem do templo salomônico em Jerusalém (lR s 7.15-22; 2Cr 3.15-17), mas da nova Jerusalém que está descendo do céu. Isso significa que os santos são honrados no seio desse templo celestial, o qual de fato não é nada menos que a própria presença de Deus. Isso exclui, pois, qualquer idéia de colunas de apoio como nos templos antigos. Em suma, a expressão templo deve ser interpretada figuradamente. Deus tenciona honrar seu povo em sua presença secreta.
2.“Ele nunca mais sairá dali. Escreverei nele o nome de meu Deus.” A primeira sentença era significativa para os cidadãos de Filadélfia que, por causa dos freqüentes terremotos, preferiam viver do lado de fora dos muros da cidade, em campo aberto. Tais pessoas viviam toda sua vida com medo de catástrofes naturais; em contraste, os filhos de Deus habitarão perenemente em segurança em sua presença (21.3).
Jesus promete que porá o nome de Deus no cristão. Em outras duas passagens, João elabora este pensamento dizendo que os nomes do Cordeiro e do Pai são escritos nas frontes dos santos (14.1; 22.4). Note a antítese freqüente no Apocalipse: os santos recebem os nomes de Deus e do Cordeiro, enquanto os incrédulos portam o nome e o número da besta (13.17, 18).
3.“E o nome da cidade de meu Deus, a nova Jerusalém que está descendo do céu da parte de meu Deus; e sobre ele escreverei meu novo nome.” A palavra nome ocorre três vezes neste versículo. No terceiro caso, ele é qualificado pelo adjetivo novo. Os habitantes de Filadélfia podiam relacionar-se com esses novos nomes, porque, depois do terremoto em 17 d.C., quando o imperador Tibério os isentou do pagamento de impostos e doou dinheiro para a reconstrução de Filadélfia, deram à sua cidade o nome de Neocesarea. Décadas mais tarde, quando desejaram honrar o imperador Vespasiano, chamaram-na Flávia. Agora os santos de Filadélfia são informados que neles serão escritos os nomes de Deus, da nova Jerusalém e de Jesus. Esses nomes lhes servem como o passaporte de ingresso à presença de Deus e como sinal de cidadania da Jerusalém que desce do céu. Ainda que a nova Jerusalém seja aqui mencionada de passagem, João fornece uma descrição detalhada dessa cidade em 21.2, 10-27. Esta descrição tem por base Ezequiel 48, onde os detalhes da cidade são dados com respeito a dimensões, portões, tribos e nomes. O profeta Ezequiel, com propriedade, conclui esse capítulo, dizendo: “E o nome da cidade daquele tempo será: O SENHOR ESTÁ ALI”(48.35b). A nova cidade é diferente da antiga no que diz respeito à sua forma, aspecto e significação (ver Gl4.25,26; Hb 12.22). Ali o trono de Deus é estabelecido, em torno do qual todas as nações são congregadas para honrar o nome do Senhor (Jr 3.17; ver também 33.16).
Os crentes da cidade de Antioquia foram os primeiros a receber o título cristão, isto é, seguidor de Cristo (At 11.26). Para o mundo, este era um nome de escárnio (At 26.28; IPe 4.16). Mas ao entrar na nova , o cristão recebe o novo nome de Cristo. Não somos informados que nome é este, mas somos capazes de dizer que ele pertence à consumação da obra redentiva de Cristo. Este novo nome não mais será ridicularizado, mas será honrado e reverenciado.
 Aquele que tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas (Ap 3.13)
Estas palavras são as mesmas em todas as sete cartas às igrejas na província da Ásia. E elas uma vez mais enfatizam o fato de que a mensagem dessas cartas se destina a todas as igrejas em todo tempo e lugar.
Laodicéia
A Cidade
Laodicéia estava situada a cerca de quarenta e três milhas a sudeste de Filadélfia, onze milhas a oeste de Colossos e seis milhas ao sul de Hierápolis (Cl 4.13), no vale Lico. Ela servia de pórtico para Éfeso, em direção a leste, cerca de cem milhas, a qual era o pórtico da Síria. Até meados do terceiro século antes de Cristo, ela era conhecida como Dióspolis (a cidade de Zeus) e Rhoas. Mas, em aproximadamente 250 a.C., o governador sírio, Antíoco II, estendeu sua influência para o ocidente, conquistou a cidade e deu-lhe o nome de Laodicéia em honra de sua esposa Laodice. Os romanos entraram na região em 133 a.C. e fizeram da cidade um centro judicial e administrativo. Construíram um sistema rodoviário de leste para oeste e de norte para o sul. No cruzamento estava a cidade de Laodicéia, cujo tamanho expandiu-se, tornou-se o principal centro comercial e cumulou riqueza e influência. Sua indústria de lã florescia através da produção e exportação da lã negra, o manufaturamento de vestimentas comuns e caras, e a invenção de um colírio eficaz para os olhos. Ela tinha uma florescente escola de medicina que se especializou no cuidado dos ouvidos e dos olhos e desenvolveu um ungüento para o tratamento de olhos infeccionados. Por causa desse ungüento, a escola se tornou m undialmente famosa.
Um terremoto devastador abalou Laodicéia em 17 d.C. e, como outras cidades na província da Ásia, ela recebeu ajuda financeira do governo romano. Em 60 d.C., um segundo terremoto abalou a cidade, e o governo romano ofereceu ajuda financeira para a reconstrução da cidade. Os fundadores da cidade enviaram ao governo uma resposta negativa, notificando que eles mesmos tinham amplos recursos para a reconstrução. De fato, eles mesmos contribuíram para a reconstrução de cidades vizinhas.
Antíoco o Grande (também conhecido como Antíoco III) levou cerca de duas mil famílias judias de Babilônia para Lídia e Frigia durante meados do terceiro século a.C.42 A cidade de Laodicéia, que fazia fronteira com essas duas regiões, deu guarida a muitas dessas famílias, que prosperaram. Quando, em 62 a.C., os judeus quiseram pagar seu imposto anual para a manutenção do templo de Jerusalém, seu carregamento de ouro foi confiscado pelo procônsul Flaco. Parte desse carregamento de Laodicéia e pesava mais de vinte libras. “Calculava-se que a população judaica de Laodicéia de homens livres no distrito era estimada em 7.500 judeus adultos.”43 A carta à igreja de Laodicéia nada revela sobre a presença judaica, o que poderia significar que essa igreja, como a de Sardes, pregava um evangelho que de modo algum ameaçava os judeus. Tampouco os cristãos laodicenses tinham que enfrentar alguma perseguição por parte da população gentílica, nem existia na igreja ali algum falso profeta, sejam nicolaítas, seguidores de Balaão ou de Jezabel. O templo para o culto a César ocupava o lugar central na cidade de Laodicéia. A igreja se acomodara a outras religiões, refestelava-se nas riquezas materiais, estava contente em viver uma vida de calmaria e em impor as reivindicações de Cristo. Conseqüentemente, Jesus não tem palavra de louvor ou enaltecimento para essa igreja e igrejas semelhantes que deixam de proclamar sua mensagem de salvação.
Um último ponto se deve mencionar nesta breve visão panorâmica. A água que abastecia Laodicéia vinha de Heliópolis, de uma distância de seis milhas, por um aqueduto.Suas fontes jorravam água quente saturada com carbonato de cálcio; quando a água chegava a Laodicéia, já estava morna. Ainda que esses mananciais quentes possuíssem valor medicinal, e que as fontes salubres atraíssem as pessoas, Jesus compara as águas tépidas nas proximidades da cidade à vida espiritual morna dos laodicenses.
Descrição
E ao anjo da igreja em Laodicéia escreva: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, a origem da criação de Deus. Conheço suas obras; você não é frio nem quente. Gostaria que você fosse frio ou quente. Assim, porque você é morno, nem frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo de minha boca (Ap 3.14-16)
Afora este texto, o nome Laodicéia ocorre só uma vez em todo o Novo Testamento (Cl 4.13). Sua proximidade de Colossos faz de Epafras o provável fundador da igreja de Laodicéia (Cl 1.7; 4.12, 13). Paulo enviara uma carta a essa igreja e solicitou que os colossenses providenciassem que sua carta fosse também lida na igreja dos laodicenses e, vice-versa, que lessem a carta dos laodicenses na igreja de Colossos (Cl 4.16). Não possuímos informação de Paulo haver visitado essa igreja. Provavelmente após seu livramento da prisão romana ele tenha visitado Colossos (Fm 22) e a vizinha Laodicéia.
1.“E ao anjo da igreja em Laodicéia escreva: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, a origem da criação de Deus.” De todas as sete cartas às igrejas no ocidente da Ásia Menor, esta é a única descrição de Cristo que não se deriva da aparição de Jesus a João na ilha de Patmos (1.12-16). Ela é oriunda da saudação, cuja redação é: “e de Jesus Cristo, a fiel testemunha,primogênito dos mortos” (1.5a). 
A descrição que Jesus faz de si mesmo como sendo o amém tem sua origem no texto hebraico do Antigo Testamento. O “Amém” comunica a idéia daquilo que é verdadeiro, solidamente estabelecido e fidedigno. Era uma palavra familiar aos adoradores que, associada a uma doxologia, expressava em sua confirmação o que eles haviam ouvido (por exemplo, lC r 16.36; SI 106.48). É o “sim” enfático como uma resposta afirmativa a uma oração ou a conclusão a uma doxologia (Rm 1.25; 9.5; 11.36; 16.27; G1 6.18; Ap 1.7; 5.14; 7.12; 19.4).Precedido pelo artigo definido, o Amém veio a ser personificado no texto hebraico como “o Deus do Amém”, na tradução, “o Deus da verdade” (Is 65.16; comparar 2Cr 1.20). Jesus toma para si este título e o interpreta na sentença seguinte como “a testemunha fiel e verdadeira”. Os termos fiel e verdadeiro são ambos traduções da mesma expressão hebraica Amém.
Esta frase elucidativa, a testemunha fiel e verdadeira, é um eco da saudação trinitariana (1,4b-5); sem o termo testemunha ela é descritiva do cavaleiro que cavalga um cavalo branco (19.11). Significa que tudo o que Jesus fala é indubitavelmente verdadeiro, de modo que no final do Apocalipse lemos a afirmação: “estas palavras são fiéis e verdadeiras” (21.5; 22.6). Por ser uma testemunha fiel, Antipas sofreu o martírio em Pérgamo (2.13). Cumprindo as profecias veterotesta-mentárias (Is 43.10-13 e 65.16-18), Cristo é o verdadeiro Israel, visto ser ele o “Amém, a testemunha fiel e verdadeira”.
Ao referir-se Jesus a si mesmo como “a origem da criação de Deus”, percebemos uma estreita ligação com a carta de Paulo aos Colossenses, a qual foi lida pelos laodicenses na liturgia do culto (Cl 4.16). O Senhor se autodenomina “origem [grego archê] da criação de Deus”. Não devemos interpretar o termo origem passivamente, como se Jesus fosse criado ou recriado, mas ativamente, porquanto Jesus é aquele que gera e chama a criação de Deus à existência (Jo 1.1; Cl 1.15-18; Hb 1.2).Qual, pois,é o propósito desta descrição? Propõe-se a mostrar que Jesus Cristo fez todas as coisas, e assim as possui e controla. Além disso, todas as coisas foram feitas para servi-lo. A mensagem aos laodicenses consiste em que seu orgulho posto nas riquezas terrenas está no lugar errado, porque todas as coisas pertencem a Jesus, que é digno de louvor e glória.
2.“Conheço suas obras; você não é frio nem quente. Gostaria que fosse frio ou quente”. O termo obras aparece também nas outras cartas (2.2, 19; 3.1, 8). Aqui ele significa exatamente o mesmo que na carta à igreja de Sardes (v. 1): feitos incompletos que nem sequer são dignos de menção. Jesus conhecia as obras de Sardes e de Laodicéia, e para estas duas igrejas ele só tinha censura ferina. Não mais estavam ativas nem vivas: os poucos fiéis em Sardes eram como tições fumegantes no meio de uma camada de cinzas; os de Laodicéia eram como seu suprimento de água - nem frio nem quente.
Se os laodicenses nunca tivessem ouvido o evangelho, teriam sido frios no sentido espiritual. Presumimos que os cristãos de Laodicéia da primeira geração tenham aceito o evangelho e fossem ardentes com o fogo e entusiasmo espirituais. Não obstante, seus descendentes eram momos. Não demonstravam interesse em ser testemunhas de Jesus Cristo, em viver uma vida de serviço para o Senhor, nem na pregação e no ensino de seu evangelho para o avanço de sua Igreja e do reino. Ainda que possuíssem as Escrituras, eram apáticos, indiferentes e despreocupados com as coisas do Senhor (comparar Hb 4.2; 6.4). Não admira que Jesus tenha dito: “Conheço suas obras”, implicando que não existia sequer uma.
3.“Assim, já que você é morno, nem quente nem frio, estou a ponto de vomitá-lo de minha boca.” As fontes termais, numa distância de seis milhas nas proximidades de Hierápolis, forneciam águas de qualidade medicinal para Laodicéia. Quando a água chegava ali, ela já estava consideravelmente fria e, porque havia na água carbonato de cálcio, ela produzia um efeito nauseabundo nas pessoas que a bebiam. À guisa de contraste, Colossos, a uma distância de onze milhas, era abençoada com fontes que produziam água fria e pura.
Cristo não nutre nenhum interesse por um Cristianismo momo, porquanto é de nenhum valor. Ele prefere trabalhar ou com pessoas que são inflamadas com energia para cumprir sua ordem, ou com aquelas que nunca receberam informação acerca da mensagem de salvação e se dispõem a ouvir. Água morna misturada com carbonato de cálcio induz ao vômito. Semelhantemente, os cristãos nominais destituídos de obras espirituais são totalmente sem sabor ao paladar do Senhor, e ele está pronto a vomitá-los de sua boca. Note que Jesus não diz: “Vomitá-lo-ei de minha boca”, mas, antes, “estou para vomitá-lo de minha boca”. Eis aqui a graça do Senhor Jesus, quando ele está dando aos laodicenses tempo para se arrependerem após a leitura de sua carta.49 Esta epístola se destina à transformação da atitude mórbida dos recipientes em ardente solicitude na obra do Senhor, pois a graça sempre precede a condenação (ver v. 19).
A igreja de Laodicéia “não se tornou indiferente em decorrência dos interesses profanos que porventura arrefecessem seu natural fervor, mas ela veio a ser ineficiente por esta razão: crendo que era espiritualmente bem equipada, seus membros fecharam suas portas e deixa ram do lado de fora seu real Provedor”.Tinham excluído Cristo (comparar v. 20) e acreditavam que podiam viver sem ele. Ao agir assim, vieram a ser totalmente ineficientes como igreja. Sem Cristo, a igreja é morta.
Reprovação
Visto que você diz: Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada, no entanto você não sabe que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e nu, (Ap 3.17)
1.“Visto que você diz: Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada.” A fonte do dito parece ser o texto hebraico de Oséias 12.8, o qual revela similaridades distintas:
Efraim orgulha-se e exclama: Como fiquei rico e abastado! Em todos os trabalhos que realizei não encontrarão em mim nenhum crime ou pecado.
Embora não possamos determinar se os membros da igreja de Laodicéia eram ou não opulentos, sabemos que os cidadãos locais eram ricos e prósperos. A expressão: “Estou rico e não preciso de nada” ocorre também em uma diatribe de Epictetus, que registra essas palavras oriundas de um meirinho imperial. É provável que o dito se tornasse proverbial entre os ricos. Mas aqui as palavras saem dos lábios dos cristãos de Laodicéia, que tinham se adaptado plenamente aos concidadãos. E assim, em vez de a igrejá influenciar a sociedade, o que ocorreu foi o inverso, com a sociedade liderando a igreja.
 Em segundo lugar, a palavra rico poderia apontar ou para as possessões materiais ou para as espirituais. Teriam os membros da igreja se identificado com os cidadãos locais que em 60 d.C. tinham rejeitado ajuda financeira de Roma, quando Laodicéia foi devastada por um terremoto? Ou o contexto compele o leitor a entender a palavra como uma referência a riquezas espirituais? A passagem precedente (vs. 14- 16) e o versículo seguinte (v. 18) levam os comentaristas a adotar a segunda alternativa. A evidência indica que a igreja tinha adotado as normas de Laodicéia e as tinha levado a bom termo na esfera espiritual. Por exemplo, a cidade conhecida como o centro financeiro erigiu edifícios de bom tamanho, portões e torres logo depois do abalo que destruiu a cidade. Ela se orgulhava de ser independente e de sua habilidade de ajudar seus vizinhos que sofrem a mesma hecatombe. Os membros da igreja solidariamente aprovaram a demonstração de independência e auxílio ao vizinho. Conseqüentemente, não conseguiram ver a diferença entre riqueza material e espiritual. Vangloriaram-se de sua auto-suficiência e não sentiram necessidade de Cristo. Eram espiritualmente cegos.
Em terceiro lugar, do ponto de vista lógico, inverte-se a ordem: ser rico e tornar-se opulento. Depois de alguém tornar-se opulento, ele ou ela pode dizer: “Eu sou rico.” Mas essa inversão da esperada seqüência ocorre com mais freqüência no Apocalipse (ver 5.2,5; 10.9) e inclusive aparece no quarto Evangelho: “anjos de Deus descendo e subindo sobre o Filho do Homem” (Jo 1.51).
Em último lugar, é inconcebível não sentir necessidade de nada, pois o verdadeiro crente, depende de Deus em cada instante, dia e noite, para o alimento, bebida, lar, teto, roupa, proteção e nutrição espiritual, ânimo, conforto, amor, alegria, felicidade e outras bênçãos numerosas. Ser auto-suficiente é o auge da arrogância espiritual, pois a fé e a confiança no Senhor não mais funcionam.
2. “Você, porém, não sabe que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e nu.” O contraste introduzido pela adversativa porém é deveras notável. Jesus disse: “Conheço suas obras” (v. 15); e agora afirma aos laodicenses que falta conhecimento neles próprios. Ele usa o pronome pessoal você no singular, à guisa de ênfase, para falar à igreja como um todo. Ele descreve a igreja com cinco adjetivos, dos quais o primeiro é miserável (ver Rm 7.24). Denota a condição mundana das pessoas que desrespeitam os elementos divinos que são essenciais: uma pessoa rica que carece da riqueza que tem valor diante de Deus. Além de ser espiritualmente falido, o opulento é digno de com paixão. Paulo usa a palavra compaixão no superlativo quando escreve sobre pessoas que nutrem dúvidas sobre a ressurreição. “Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de compaixão” (IC o 15.19 NRSV). Em vez de serem ricos, os laodicenses são espiritualmente pobres, porque são cegados pelas possessões materiais (comparar 2Pe 1.9). E, por fim, encontram- se nus diante de Deus e são incapazes de cobrir seu opróbrio. Com apenas cinco adjetivos, Jesus escreveu a miserável condição deles. Os primeiros dois (miserável e digno de compaixão) refletem a condição interior dos laodiceneses, enquanto os três últimos (pobre, cego e nu) descrevem sua condição, tanto interna quanto externa.
 Eu o aconselho a comprar de mim ouro refinado pelo fogo,para que você seja rico, roupa branca para vestir-se, a fim de que sua nudez não se exponha, e colírio para ungir seus olhos, para que veja (Ap 3.18)
Este versículo liga-se aos três últimos adjetivos do versículo anterior (v. 17), ainda que fora de seqüência. Quando esses três adjetivos (pobre, cego, nu) são removidos, os dois primeiros (miserável e digno de compaixão) desaparecem. Além disso, esses três abarcam todas as bênçãos de que um crente necessita para sua salvação: redenção, justificação e santificação.
1.“Eu o aconselho a comprar de mim ouro refinado pelo fogo, para que você seja rico.” Em vez de uma censura abrupta e uma ordem cortante, Jesus aconselha os laodicenses e manifesta sua graça divina. Ele empresta a linguagem do mercado e faz alusão a uma passagem veterotestamentária: “Venham, comprem vinho e leite sem dinheiro e sem custo” (Is 55.1). Apelando para pessoas que ousadamente afirmavam que não precisavam de nada, o Senhor as convida a comprar dele ouro refinado. Por implicação, ele quer que elas venham a ele como mendigos destituídos, que nunca poderiam comprar essa comodidade. A palavra grega ouro se refere a produtos finamente trabalhados, como jóias ou moedas, e não meramente ao próprio metal (comparar 17.4; 21.18,21 com 9.7; 18.12). Os cambistas de dinheiro no banco de Laodicéia manuseavam a moeda corrente diariamente; Cristo, porém, está aconselhando as pessoas a irem a ele e a comprarem. No entanto, seu conselho intencionalmente omite o dinheiro, pois a transação deve concretizar-se sem moeda corrente. Só podem obter o ouro de Jesus.
2.“Roupas brancas para vestir-se, a fim de que sua nudez não se exponha.” Em uma cidade onde a indústria de roupas provia trabalho e renda para grande número de pessoas, estas palavras continham um apelo direto. A lã negra que as ovelhas produziam era a cor da grande maioria das roupas manufaturadas ali. Os sacerdotes usavam roupas brancas; agora, porém, este é o traje escatológico dos santos que, com a cor branco, atestam santidade e pureza.53 Há uma alusão ao Ancião de Dias: “Sua roupa era tão branca quanto a neve” (Dn 7.9; ver Ap 1.14).
A razão de alguém vestir-se com roupas brancas é cobrir a nudez do pecado, e assim não se ver exposto à vergonha (comparar 16.15). O Antigo Testamento fornece um número de exemplos onde ou a realidade ou a ameaça de humilhação máxima está centrada em a nudez ser exposta.
Os cristãos de Laodicéia eram espiritualmente nus, “[pois] todos os teares de sua cidade não poderiam tecer roupas para cobrir seus pecados. Laodicéia podia suprir o mundo inteiro com suas túnicas e vestes materiais; a justiça, porém, era a roupa branca que Deus demandava (ver 19.8), e esta só podia ser adquirida de Cristo”. Unicamente Jesus remove o pecado e a culpa, pois unicamente ele pode fornecer o manto branco da justiça.
3.“E colírio para ungir seus olhos a fim de que veja.” A escola de medicina de Laodicéia tornou-se conhecida com as propriedades curativas da assim chamada pedra frigia. Essa pedra, que chegara da vizinha província da Frigia, era reduzida a pó do qual extraía-se um ungüento para a cura de doenças dos olhos.
Os crentes de Laodicéia eram cegos pela auto-ilusão, incapazes de ver com os olhos espirituais. Com o colírio para os olhos, que Jesus provê, os laodicenses seriam capazes de ver seus próprios pecados na luz da Palavra de Deus e a andar com Jesus, que é a luz do mundo.
Admoestação
Eu repreendo e disciplino aqueles a quem amo. Portanto, seja zeloso e arrependa-se. Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo (Ap 3.19,20).
1.“Eu repreendo e disciplino aqueles a quem amo.” Nesses dois versículos, Jesus admoesta a igreja de Laodicéia. Como se dá com muito de seu ensino, ele o baseia nas Escrituras veterotestamentárias. Assim, as palavras “eu repreendo e disciplino aqueles a quem amo” são alusivas a Provérbios 3.12 (ver também Hb 12.6): “Porque o Senhor disciplina os que ele ama.” Jesus transfere a sentença da terceira para a primeira pessoa, e acrescenta o verbo repreender. Além disso, o grego tem o pronome eu no início da sentença para acrescentar ênfase. E, por fim, o Senhor fala em termos gerais. Ele expressa o pronome “aqueles” quando diz “aqueles a quem amo” para indicar que o amor e a disciplina vão juntos em sua relação renovadora.
Embora o verbo grego agapaõ possa ser traduzido “eu verdadeiramente amo” e o verbo phileo, “eu amo” (Jo 21.15-17), esses verbos são freqüentemente vistos como sinônimos. A palavra agapao aparece na carta à igreja de Filadélfia, “eu tenho amado você” (v. 9), aqui, porém, temos o verbo phileo. Isso não significa que Jesus amava os crentes de Filadélfia com amor verdadeiro, e os crentes de Laodicéia com afeição. Ao contrário, significa que dentro do contexto de repreensão e disciplina, Jesus fala à igreja de Laodicéia com amor.
2. “Portanto, seja zeloso e arrependa-se.” A renovação se consumará quando os recipientes desta carta obedientemente seguirem o duplo mandamento: “seja zeloso” e “arrependa-se”. Logicamente, o ato de arrepender-se precede o de ser zeloso, mas a mente oriental está interessada em conceitos, não em análise. O grego revela um jogo de palavras: o adjetivo zestos (quente, vs. 15, 16, do que temos o derivado “zest”), e o verbo zêlue (seja zeloso!) têm a mesma raiz. Jesus lhes diz que comecem a ser zelosos em relação a ele com um sentimento que gere fervor espiritual. Zelo é um componente indispensável de amor por Deus.
Enquanto ser zeloso é um mandamento no tempo presente para denotar continuidade, o imperativo “arrependa-se” é uma ação definitiva. Equivale a dizer que os laodicenses devem fazer um giro de 180 graus, esquecendo o passado e adotando solicitamente sua nova vida em Cristo.
3. “Eis que estou à porta e bato.” Visto que os membros individuais da igreja de Laodicéia estavam excluídos da vida espiritual, Jesus figuradamente se põe fora da porta de seu coração e bate para obter entrada (comparar Tg 5.9). Ele bate persistentemente para chamar a atenção, de modo que ninguém jamais será capaz de dizer que o Senhor deixou de chamá-los. Ele os chama individual e continuamente, batendo levemente nas portas de seu coração como se os proprietários estivessem dormindo. A ênfase é posta na responsabilidade de ir à porta e atender a quem está procurando acesso. O Senhor abriu o coração de Lídia (At 16.14); aqui, porém, ele aguarda a ação do proprietário. Aqui temos a encruzilhada da ação divina e da responsabilidade humana. Quando essas duas surgem em relação à graça eletiva de Deus nos seres humanos, deparamos-nos com um mistério que desafia o entendimento humano. A Escritura ensina a intervenção de Deus e a responsabilidade humana como dois lados da proverbial moeda (Fp 2.12, 13).
Alguns estudiosos vêem esta passagem pelo prisma escatológico, como um paralelo à parábola do servo vigilante (Mt 24.33; Mc 13.29; Lc 12.36). Relacionam o texto com a Segunda Vinda de Cristo e declaram que uma interpretação escatológica concorda com um tema semelhante no Apocalipse (2.5,16,25; 3. 11).Formidáveis objeções, porém, dissuadem outros comentaristas de visualizarem esta parábola no contexto dos membros da igreja em Laodicéia, a quem Jesus ordena que se arrependam. O Senhor está em pé junto à porta de seu coração, bate reiteradamente, e espera da parte deles uma resposta. O contexto da parábola dos servos vigilantes difere desta passagem em seus detalhes.
4. “Se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, eu entrarei, e cearei com ele e ele comigo.” O termo alguém indica que o apelo ao arrependimento é amplo e inclusivo. Jesus não só está em pé junto à porta do coração de um pecador e bate reiteradamente, mas também fala e apela a ele ou a ela para que se arrependa. Tão logo uma pessoa responda à voz de Jesus (comparar João 10.3; 18.37), este entra em seu coração. Note bem que Jesus está no controle total, pois a ênfase, nesta sentença, está sobre Jesus que fala, entra no coração de alguém e ceia com a pessoa que responde.E evidente que a responsabilidade de ouvir e responder à voz de Jesus repousa sobre o ouvinte.
Esta sentença ensina “uma doutrina distintamente joanina”. Equivale a dizer que Jesus deseja manter comunhão conosco. Na mente oriental, a hospitalidade nas horas de refeição demonstra a confiança e o respeito do anfitrião pelo hóspede (SI 41.9), pois o anfitrião já abriu seu lar ao hóspede e parte o pão com ele. Mas aqui é Jesus que assume o papel de anfitrião, pois ele diz que entrará e ceará com seu hóspede a principal refeição do dia. Essa refeição efetuada já no final do dia, após as horas de trabalho, em uma atmosfera de lazer e comunhão íntima. Esse era um momento de diálogo durante o qual se discutiam tópicos saudáveis, ouviam-se gargalhadas e davam-se conselhos para a solução de problemas. Esta passagem fala de união com Cristo e do caminhar diário com e le . Embora ela sugira a celebração da Ceia do Senhor e a festa de bodas quando do regresso do Senhor, especialmente à luz da escatologia do versículo 21, essa não é a principal ênfase no versículo 20. A ênfase está na comunhão com Cristo.
Promessa
Ao que vencer, concederei [o privilégio] de sentar-se comigo em meu trono, assim como eu mesmo venci e sentei-me com meu Pai em seu trono. Aquele que tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas (Ap 3.21,22)
João escreveu as palavras familiares “aquele que vencer” como uma reiteração das cartas precedentes, e então escreve a promessa que Jesus faz ao vencedor. Ela indica que Jesus faz esta promessa em primeiro plano aos laodicenses, e então a todos os crentes. Que espantosa graça e misericórdia são estendidas a uma igreja que não recebe do Senhor nenhum louvor! Não obstante, essas pessoas, uma vez que se arrependam e vençam, lhes será dado o privilégio de assentar-se com Cristo no trono do Pai (Mt 19.28; Lc 22.28-30).
É preciso entender a linguagem como que comunicando uma mensagem simbólica. Somos capazes de compreender a significação do privilégio de sentar-se no trono junto de Jesus. Portanto, é fútil perguntar se o trono é bastante grande para acomodar os seguidores de Cristo. A mensagem endossada por outras passagens bíblicas consiste em que os crentes glorificados desfrutam da honra e do dever de julgar as doze tribos de Israel, o mundo e os anjos (Mt 19.28; Lc 22.30; ICo 6.2, 3); e governarão com Cristo (2Tm 2.12; Ap 5.10; 20.4,6; 22.5). A promessa de Jesus tem por base a visão recebida por Daniel: “Então a soberania, o poder e a grandeza dos reinos que há debaixo de todo o céu serão entregues nas mãos dos santos, o povo do Altíssimo. O reino dele será um reino eterno, e todos os governantes o adorarão e obedecerão” (Dn 7.27). Jesus retrocede sua vista para seu sofrimento, morte e ressurreição, quando diz que ele também venceu. Ele observa que tomou assento no trono à mão direita do Pai (Hb 1.3; 8.1; 12.2; ver também Mc 16.19; Ef 1.20). Não obstante, a diferença é que Cristo realizou sua obra medianeira em nosso lugar, e lhe foi dada a honra de tomar assento junto ao Pai. Em contrapartida, Jesus aguarda e nos diz que, quando vencermos, tomaremos assento junto dele, mediante seu convite. Isso será de fato uma glória.
O capítulo encerra-se com o notório refrão de ouvir o que o Espírito diz às igrejas. E isso significa que toda a Igreja recebe da parte de Cristo a mensagem de louvor, reprovação e promessa. Note também, que no fim das sete cartas às sete igrejas, há uma referência indireta ao Dia do Juízo.

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