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OS SETE HABITOS DA CRIATIVIDADE 2 Os sete habitos da criatividade APRESENTAÇÃO Funções que até pouco tempo atrás exigiam anos de preparação hoje são exercidas com mais eficiência por sistemas tecnológicos. Muitas profissões estão destinadas a virar coisa do passado e as que estão sobrevivendo às transformações do mercado precisam se reinventar constantemente. Diante desse panorama, como podemos fazer nosso trabalho se destacar em um mundo que nos avisa constantemente que estamos desatualizados? Como ganhar a atenção de um consumidor que tem pressa, está a um clique de qualquer informação e recebe ofertas de acordo com o seu perfil? Analistas de mercado apostam na valorização crescente do nosso grande diferencial produtivo com relação às máquinas: a criatividade. Em todas as profissões, o potencial criativo não somente sobrevive a qualquer revolução tecnológica: ele se torna cada vez mais necessário na disputa pelo interesse do cliente, das empresas e dos empregadores. Por isso, essa é na atualidade uma das competências mais procuradas pelas empresas na hora de contratar. Isso não significa que essas empresas busquem grandes artistas para representar serviços ou produtos. Criatividade não é um privilégio de poucos, nem é algo restrito às artes ou ao mundo das invenções. O cérebro humano já vem equipado com essa competência e tem o potencial para desenvolvê-la, é só exercitar essa competência. Mas afinal o que é criatividade? Você já parou para tentar defini-la? O que é preciso para que um projeto ou uma forma de abordar o cliente, por exemplo, possa ser considerada criativa? Ao longo desse curso, você irá dominar essas questões e verá o mundo das ideias de uma forma bem diferente, pois irá entender como elas se formam e como determinados hábitos podem te ajudar a encontrar soluções originais. Você pode estar pensando: mas por quê, afinal, eu deveria ser mais criativo, se meu trabalho não depende diretamente das minhas ideias? 3 Os sete habitos da criatividade Você pode não ter como objetivo lançar um novo produto ou serviço, mas certamente irá se beneficiar se utilizar formas mais originais de fazer o que você já faz. Você pode usar criatividade na forma como se comunica e como oferece os produtos que representa. Na forma como resolve os problemas e imprevistos envolvendo clientes ou colegas. E pode arranjar meios criativos de atrair novos clientes e de manter tudo o que já conquistou no trabalho. Em qualquer profissão, esse pode ser seu grande diferencial. Afinal, são as soluções audaciosas, que fogem do lugar comum, que hoje caracterizam o mercado de consumo da geração que está se tornando conhecida como CX – uma sigla que define não a idade ou ideologia de um grupo, mas sua experiência de consumo. É uma geração de consumidores bem informados, que não fazem mais uma distinção muito definida entre o real e o virtual; e que precisam, acima de tudo, ser surpreendidos. POR QUE ENTRAMOS NA ERA DA CRIATIVIDADE E O QUE ISSO SIGNIFICA? No início do século 20, as cidades começaram a crescer rapidamente com a industrialização, o que gerou uma demanda crescente por novos produtos. Para atender a essa classe emergente, a indústria focou na eficiência produtiva, ou seja, em produzir mais em menos tempo e com custo menor. O processo de fabricação precisava ser otimizado ao máximo e os trabalhadores tinham funções restritas, repetitivas e automáticas para não perderem tempo. Trabalhavam contra o relógio, em sistemas rigidamente organizados. Os primeiros automóveis, por exemplo, eram todos pretos. Eles eram pretos não porque estava na moda ou porque outras opções eram inviáveis, mas pelo fato de secarem mais rapidamente, o que que garantia mais produtividade. Superada a escassez de produtos, o mercado tratou de aumentar nas pessoas o desejo pelo consumo. 4 Os sete habitos da criatividade Foi então que, na década de 50, a publicidade ganhou força, com estratégias criativas que convenciam as pessoas de que elas precisavam de mais e mais produtos. A criatividade passou a ser uma peça importante para o aumento de consumo, mas sua demanda era restrita a alguns segmentos, como comunicação e artes. E o apelo criativo – juntamente com incentivos econômicos – funcionou tão bem que o consumo excessivo logo revelou seu lado negativo, com o uso irresponsável do crédito e o surgimento de problemas éticos e ambientais. Na sequência, o mercado se deparou com novos desafios: agora precisava se adaptar a um consumidor já mais consciente e comedido, em um mundo onde a informação passou a ser excessiva e, por conta desse excesso, a atenção tornou- se escassa. A solução foi transformar o consumo em “experiências de consumo”. Como a criatividade e o engajamento são antídotos para a desatenção, para atrair uma geração mergulhada em distrações passou a ser necessário engajar as pessoas, envolvê-las em uma rede de criação e de ideias que conecta tudo e todos. Mais que alvo final de produtos e projetos que são impostos pelo mercado, o consumidor passou a participar diretamente da construção das novidades. Veja os exemplos do Uber, Wikipedia, AirBnB. Ou os projetos culturais e até científicos viabilizados por crowdfunding, financiados pelo público – e não mais por uma grande entidade que escolhe o que iremos consumir. Essa rede de conexões e ideias, em constante movimento e aprimoramento, possibilita que a criatividade corra solta e se destaque como a marca do nosso tempo. Quanto mais informações estão acessíveis, mais são geradas possibilidades de combinações diferentes de todo esse conhecimento. O economista Paul Saffok concluiu que o status deixou de ser representado pelo preço ou pela quantidade de coisas; passou a ser representado pelo “NOVO”. O “NOVO” construído em conjunto, como experiência social e cultural. Entramos, segundo ele, na era do criador. Em que a criatividade, apesar de ainda pouco estimulada pela educação formal, é quase um pré-requisito para o sucesso nas nossas interações sociais e profissionais. 5 Os sete habitos da criatividade O físico teórico e futurista Michio Kaku prevê que a criatividade é uma espécie de atalho para o futuro, pois estamos nos distanciando do repetitivo e do previsível e voltando o interesse ao que escapa do senso comum. Os empregos de hoje são muito diferentes dos de antigamente. A automatização e as mudanças exigem que nossos diferenciais com relação às máquinas é que determinem o valor de um serviço. Para isso, mais que repetir tarefas, precisamos estar preparados para adaptações constantes. A capacidade essencialmente humana de se adaptar a novas situações – o que chamamos de flexibilidade cognitiva – nunca se mostrou tão necessária. E essa flexibilidade é um dos pré-requisitos para a criatividade. O novo é sempre fruto de práticas em transformação – seja por necessidade, seja pelo anseio da nossa espécie de buscar novidades e de surpreender constantemente. Para investigar as habilidades nas quais mais devemos investir, o Fórum Econômico Mundial elaborou um documento chamado O Futuro do Trabalho, com base em uma ampla pesquisa com executivos de empresas líderes ao redor do mundo. Lançado em 2016, o relatório apontou a criatividade como terceira habilidade mais necessária pela força de trabalho nos próximos anos, atrás da capacidade de resolução de problemas complexos e do pensamento crítico. De acordo com o relatório, essa necessidade surge como consequência da abundância de novos produtos, tecnologias e formas de trabalhar. Portanto, vamos aprender como a criatividade acontece e como podemos buscar estratégias que favorecem o pensamento criativo. Aprenderemos por quê as ideias originais se formam a partir de alguns elementos chaves que podem se incorporar aos nossos hábitos. Nos próximos módulos,vamos falar de um a um. São eles: - Planejamento - Ação - Flexibilidade - Pensamento analógico - Curiosidade - Incubação de ideias - Restriçõescriativas 6 Os sete habitos da criatividade 3. 1º HÁBITO: PLANEJAMENTO. COMO EQUILIBRAR O INESPERADO COM A REPETIÇÃO. Imagine que você tem um amigo que sempre que te encontra fala exatamente as mesmas coisas. Provavelmente não é a pessoa com quem você mais tem vontade de conversar. Afinal, estamos constantemente buscando novidades e ao mesmo tempo tentando surpreender os outros. Este é um dos fundamentos das interações sociais, que até as crianças naturalmente aprendem a dominar – basta ver como gostam de inventar histórias, de exagerar e de provocar risos e sustos. Somos tão ávidos por novidades, e são elas – não a rotina e a repetição – que ativam o sistema de recompensa do cérebro, provocando sensações de prazer e euforia. É a atração pela novidade que nos faz criar, encontrar novas formas de fazer a mesma coisa, novas soluções para os mesmos problemas assim meios de seduzir um consumidor, por exemplo. É por gostarmos tanto de ter as expectativas violadas que somos atraídos pelo humor, por exemplo. O que pode ser mais inesperado, e portanto, mais criativo, que algo que nos faça rir? Entretanto, a matéria prima do novo é sempre a familiaridade. É a partir do cotidiano que o humorista apresenta situações — geralmente as que envolvem as falhas e tragédias humanas – de um ângulo novo e cômico. E é assim com todas as expressões de criatividade, de uma simples piada a uma descoberta científica: sempre surgem de uma combinação inédita de conhecimentos já consolidados. Nosso cérebro é programado para que possamos prever o que vai acontecer, com base em padrões, e ao mesmo tempo somos programados para ser atraídos pelo inesperado. Assim, precisamos de rotina, familiaridade e repetições tanto quanto precisamos das novidades. Vamos te explicar melhor isso! Na medida certa, as surpresas nos mantêm alertas, nos tornam mentalmente ágeis, flexíveis e socialmente mais interessantes. Sem elas, viveríamos como máquinas, condicionadas pela repetição. 7 Os sete habitos da criatividade Mas em excesso, as surpresas nos desorientam e provocam um estado constante de estresse, que é pouco produtivo. A criatividade surge do equilíbrio desses opostos: o familiar e o imprevisível; a rotina e a mudança, o novo e o tradicional. Para entender essa contradição e criar hábitos que promovam este equilíbrio, vamos primeiramente abordar o papel da rotina planejada e da disciplina. O cérebro é um grande consumidor de energia. E cada vez que precisamos tomar uma decisão, resolver um problema, aprender algo novo ou fazer a mesma coisa de forma diferente, esse consumo de energia é maior. Então, para economizar energia, ele nos faz agir de maneira automática nas tarefas exercidas com frequência. A repetição nos torna confiantes e seguros. Passamos a fazer bem alguma coisa quando fazemos quase sem esforço, de tantas vezes que repetimos a ação. Um exemplo disso é dirigir um carro. Chega um momento em que não pensamos mais para acelerar ou frear, fazemos automaticamente. Por isso a rotina é tão importante: ela economiza energia nas pequenas decisões, feitas de maneira programada, para que possamos gastá-la em projetos e decisões importantes. Se cada dia fosse completamente diferente do outro, todo o combustível mental seria investido nas tarefas que nos garantem a sobrevivência e pouca energia restaria para nos dedicarmos a ideias inovadores e mudanças significativas. O caos não é inspirador. Uma quebra de rotina, sim – mas para que haja a quebra, é preciso haver uma rotina. Mesmo parecendo o contrário, quando planejada a rotina, abre espaço para a novidade, e, portanto, para a criatividade. Ela não necessariamente deve ser chata e incluir apenas obrigações das quais você não consegue escapar. Um planejamento dos seus dias permite que você diversifique as suas atividades. Se deixar pré-estabelecidos dias para encontrar com pessoas que não vê com frequência, fazer uma nova atividade física ou intelectual, frequentar um museu ou um parque, por exemplo, terá muito mais estímulos a novas ideias do que se deixar o acaso definir seus programas. 8 Os sete habitos da criatividade 4. 2º HÁBITO: AÇÃO - POR QUE AS IDEIAS DEPENDEM DA DISCIPLINA PARA GANHAR FORMA A rotina está relacionada a outro aspecto que é fundamental no desenvolvimento de novos projetos: a disciplina. Nos disciplinamos a fazer algo quando estabelecemos um tempo para isso durante um período, quando permitimos com que a atividade seja incorporada à rotina. Não existe maneira mais eficaz de evitar a procrastinação de certas tarefas do que usá-las para compor o dia a dia. A disciplina nos obriga a fazer o que precisa ser feito sem questionar ou consultar à vontade. Se fôssemos esperar à vontade aparecer para fazer um exercício físico, quase não existiriam academias. Todos sabem que perder peso ou moldar o corpo depende de muita persistência. Só consegue quem cria o compromisso, com horários e dias estabelecidos, que serão cumpridos mesmo que a vontade conteste. Com criatividade não é diferente. É preciso dominar um conhecimento e tornar o seu exercício um compromisso, de preferência diário, para que ele se transforme em algo valioso. Qualquer projeto, qualquer ideia, qualquer nova solução, dependem de muito tempo de dedicação e isso só é possível quando ganham um espaço na sua agenda, que é cumprido sem questionamento. Não existe criatividade sem ação. A boa ideia é o início e nunca o fim de um processo. O americano Milton Glaser, criador de alguns ícones do design moderno, define criatividade– “um verbo que consome muito tempo, pois envolve tirar uma ideia da sua cabeça e transformá-la em algo real”. Nas palavras dele, se você está tendo muito trabalho, então está fazendo certo. Nenhum projeto é bom de fato antes de ser materializado. E é a execução que abre caminho para as ideias; é durante o processo que elas se moldam até que o projeto ganhe utilidade e valor. Você acha que os autores já têm a história pronta antes de escrevê-las? Não é assim que acontece. Eles começam, muitas vezes de um ponto de partida ofuscado, e a narrativa vai ganhando forma no decorrer da escrita. 9 Os sete habitos da criatividade Se Beethoven fosse compor somente nos dias em que se sentisse disposto a isso, dificilmente o mundo saberia quem ele era. Para chegar às suas grandes obras, ele criou centenas de composições que nunca ficaram conhecidas e nem são consideradas muito boas. Sua genialidade nasceu da disciplina. Do esforço de produzir incansavelmente, aliado à sua grande tolerância à frustração. A maior parte das invenções do Thomas Edison hoje é apresentada apenas como curiosidade no museu dedicado a ele. Foram criados mais de mil produtos – inclusive uma sinistra boneca falante – para que algumas de suas invenções ganhassem notoriedade. James Dyson, criador do primeiro aspirador de pó sem saco, precisou fazer mais de cinco mil protótipos para chegar a um modelo que conquistasse o mercado. Certamente, se esperasse à vontade aparecer para produzir, teria desistido nos primeiros. Estes são exemplos extremos, é claro, de como uma ideia exige persistência e de como o sucesso é geralmente o precedido de inúmeros fracassos. Picasso, antes de surgir com um estilo totalmente novo na pintura, passou muito tempo exercitando técnicas mais convencionais. Foram centenas de pinturas até ele arriscar um estilo considerado ousado e original. Tão original que durante muitos anos foi incompreendido. Antes de ser considerada revolucionária, a obra As Meninas de D’Avignon, principal representante do cubismo, foi severamente criticada até mesmo pelos artistas amigos do pintor. A própria obra foi resultado de uma rotina de muitos meses de trabalho e da produção de centenas de esboços. Assim como qualquer projeto original, é construído e reconstruído em um processo que exige disciplina e persistência. 5. 3º HÁBITO: FLEXIBILIDADE - A INOVAÇÃO ESTÁ NO ENCONTRODE DIVERSAS ÁREAS DO CONHECIMENTO O processo do desenvolvimento de um novo estilo de pintura exemplifica bem como a criatividade funciona: é sempre resultado da transformação de um conhecimento consolidado a partir de um mosaico de referências, muitas vezes de áreas distantes. 10 Os sete habitos da criatividade Picasso dominou as técnicas tradicionais a ponto de sentir-se à vontade para modificá-las. Precisou, para tanto, de dedicação e disciplina. Mas isso não é suficiente para desenvolver algo criativo. Há muitos pintores que ganham habilidades incríveis com disciplina e repetição, mas não criam nada realmente original; muitos músicos que, com anos de prática, são virtuosos instrumentistas, mas nunca compuseram uma peça. No mundo dos negócios, a disciplina leva a reproduzir com eficiência técnicas de trabalho, mas não garante que criem métodos novos. A originalidade nasce da combinação de várias habilidades e hábitos. Você lembra que já falamos que ela depende do equilíbrio da rotina com o novo? Falamos da importância da transformação de um projeto em ação por meio da disciplina, mas sem o desafio que a novidade nos impõe, teremos sempre o mesmo padrão de trabalho. Picasso criou algo novo porque, além de praticar incansavelmente, ele não se contentou em reproduzir o que já dominava. Ele emprestou elementos de outros estilos, como esculturas ibéricas e africanas, e mesclou com aqueles que eram familiares para criar algo novo. Fez centenas de combinações e se dispôs a errar repetidas vezes até ficar satisfeito com o resultado. Essa mescla original de várias fontes de informação é a marca da criatividade. Nesse processo, as influências, que são quebradas em pequenos blocos, vão sendo transformadas até muitas vezes ficar difícil de identificá-las. Não existe pureza na criatividade. Ela sempre é resultado da manipulação muito bem-feita de variadas referências. Diferentemente de qualquer outra espécie, ou das máquinas mais sofisticadas, somos exímios DJs da informação, produzindo remixes originais a partir de materiais vindos de todos os estilos. Por isso, as soluções que criamos são geralmente aprimoramentos ou propostas novas para o que já existe. Não precisa ser totalmente novo para ser criativo, o objetivo da inovação não é chegar a um modelo definitivo. Basta contribuir para o processo de constante transformação do mundo produzido pela mente humana. 11 Os sete habitos da criatividade O escritor Mark Twain definiu muito bem esse processo, quando escreveu, em uma carta a uma amiga, que “todas as ideias são de segunda-mão, consciente ou inconscientemente compostas de milhões de fontes externas”. Se você decidir escrever um texto para dividir uma ideia ou uma opinião com amigos, pode nem perceber, mas vai seguir um estilo parecido com aqueles que costuma ler. Vai usar informações vindas das mais diversas fontes para formar uma opinião que pode chamar de própria. E mesmo que a colagem tenha se transformado em algo muito original, pessoas que você admira e confia têm participação inegável em seu trabalho. A criatividade, portanto, é um processo coletivo e cultural. Uma ideia pode nascer de uma caminhada solitária, tomar forma enquanto você trabalha sozinho, mas necessariamente envolve muitas outras mentes, de conhecidos ou não, de contemporâneos seus ou de épocas bem distantes. E quanto mais referências você buscar, mais alimenta seu lado criativo. O mundo das ideias nunca é linear. Funciona como um network. Cada nova informação tem potencial para se conectar a incontáveis outras, formando incontáveis novas possibilidades. Por isso é sempre imprevisível e inesgotável. Pense na quantidade de novidades que surgiram nos últimos anos, desde que a internet derrubou as barreiras nos caminhos à informação. A teia de ideias vai continuar se expandindo em todas as direções, exigindo das pessoas cada vez mais flexibilidade. Para viver criativamente, é necessário quebrar a resistência a mudanças e abrir a mente para novas ferramentas e novos conceitos. E para não se desorganizar em meio a tantas informações desordenadas, devemos criar hábitos que induzam à busca contínua e consciente por referências. Essas referências não necessariamente estão no campo de seu projeto ou sua área de atuação. A criatividade é altamente favorecida pela interdisciplinaridade. Afinal, uma solução original não é aquela que foge do óbvio? E para se distanciar do óbvio é necessário percorrer diferentes áreas do conhecimento, conhecer diferentes culturas e buscar a relação entre as informações. Ao diversificarmos as fontes, exercitamos a flexibilidade mental e ganhamos chance de enxergar as situações de outras perspectivas. 12 Os sete habitos da criatividade O escritor Phill Pulmann, quando questionado sobre como surgem suas ideias, costuma responder que ele apenas sabe onde procurá-las. E faz isso de forma consciente. “Quando estou lendo, estou procurando algo para roubar”, disse em uma entrevista. Se quisermos desenvolver ideias próprias, novas formas de trabalhar ou qualquer projeto inovador, devemos fazer como ele: ativamente procurar peças em diversas fontes e juntá-las de maneira que forme um quebra-cabeças original. A caça a referências muitas vezes começa de uma boa pergunta – a si mesmo e aos outros. A pergunta certa pode nos levar a explorar novos caminhos e nos colocar em contato com informações que estavam escondidas em diferentes pontos de vista. No próximo módulo você aprenderá o poder de uma boa pergunta e como exercitar esse hábito. A seguir veja como você pode exercitar a sua flexibilidade mental buscando referências nas diversas áreas do conhecimento. - Se você trabalha em uma empresa, esteja aberto a conhecer outros setores, converse com colegas de áreas diferentes e procure variar a forma como trabalha. Sistemas de rotatividade entre setores de uma empresa costumam trazer novas soluções. - Considere aprender a fazer algo novo, que você não sabe nem por onde começar. Pode ser um hobby ou alguma atividade dentro da empresa onde trabalha. - Colecione boas ideias. Faça disso um compromisso. Elas servirão de material para seus próprios projetos. - Procure criar o hábito de levar um bloco de notas ou usar seu celular para anotar ideias, frases, histórias que podem lhe servir de inspiração. - Busque na interdisciplinaridade leituras diferentes de mundo. Como uma mesma questão é tratada por pessoas de áreas diferentes? - Seja curioso com relação às atividades dos outros e procure aprender com eles. - Invista algumas horas por semana na pesquisa de assuntos que não estão relacionados às suas atividades cotidianas. - Se você trabalha com vendas, não leia exclusivamente livros dessa área, por exemplo. - Busque inspiração na ficção, em biografias e até nos clássicos. Mas não descarte blogs e revistas de assuntos variados. 13 Os sete habitos da criatividade 6. 4º HÁBITO - CURIOSIDADE: POR QUE AS PERGUNTAS CERTAS LEVAM A CAMINHOS INEXPLORADOS O exercício da flexibilidade mental é o exercício do questionamento, da capacidade exclusivamente humana de imaginar respostas para indagações, de projetar diversas possibilidades. Você já parou para pensar que todas as inovações começaram ou foram aprimoradas com a pergunta por que não ou com a pergunta “e se fosse diferente?” “E se conseguíssemos voar?” “E se conseguíssemos formas mais acessíveis de falar com quem está longe?” “Por que um edifício precisa ser retangular?” “Por que não inverter a estrutura de uma narrativa?”, “Por que precisamos trabalhar em salas fechadas?” As perguntas também nos livram de fazer as coisas da mesma forma, de atravessar sempre o mesmo caminho quando buscamos soluções. O vocabulário alemão tem até um conceito para essa rigidez, que é o ônus da experiência: efeito Einstellung. Esse estado mental mecanizado pode ser combatido quando adotamos o conceito zen budista da “mente de incitante”. Era o que Steve Jobs fazia: procuravaolhar o mundo, de vez em quando, com a mente aberta e flexível de uma criança e não de um especialista. Assim como ele, se quisermos pensar “fora da caixa”, precisamos usar a curiosidade infantil como inspiração para usar mais “por quês” no próprio pensamento e nos abrirmos a novas perspectivas. Quando alguém olha para um produto, uma cultura ou um sistema que sempre foi feito da mesma forma e questiona, está dando o primeiro passo em direção à inovação. O filósofo Irlandês John O’Donohue já disse que o questionamento uma das formas mais estimulantes de pensamento. Para ele, “perguntas são como lanternas. Iluminam novos cenários e novas áreas à medida em que se move. Uma pergunta sempre parte do princípio de que existem várias dimensões para um pensamento que você não enxerga ou que não estava disponível”. 14 Os sete habitos da criatividade Sem encontrar as perguntas que nos façam enxergar as dimensões diferentes de uma situação, acabamos fazendo movimentos óbvios e repetindo os mesmos padrões e até mesmos erros. Einstein, certa vez, afirmou que se tivesse uma hora para resolver um problema do qual sua vida dependesse, gastaria 55 minutos pensando nas possíveis perguntas a serem feitas. Ao achar a pergunta certa, a resposta seria rapidamente encontrada. Circular por áreas de conhecimento diferentes, significa também estar aberto a boas conversas sobre uma variedade de assuntos. E toda boa conversa necessariamente envolve perguntas. Elas levam as pessoas envolvidas a refletir e articular sobre um tema, oferecendo um ponto de vista singular ou uma história inspiradora que podemos usar na nossa própria mixagem criativa. Boas perguntas costumam estimular o pensamento criativo. Podem envolver o diferencial humano de imaginar possibilidades, como as que começam com “e se”. “E se você pudesse escolher apenas um produto para levar consigo em uma viagem?” “E se você pudesse escolher uma idade para viver de novo?” Perguntas que fazem nossos amigos ou clientes imaginarem possibilidades resultam em informações relevantes que podem servir de material para nosso próprio trabalho. São as perguntas que guiam as conversas por caminhos mais criativos, inesperados e interessantes. Curiosidade também pode ser exercitada! Veja a seguir como chegar a novas soluções com as perguntas interessantes: - Determine-se a fazer mais perguntas aos outros e a si mesmo. - Inspire-se na curiosidade infantil e busque o porquê de tudo especialmente o por que não. - As crianças também devem servir como modelo de mente aberta e flexível. Ao buscar uma solução, procure enxergá-la com mente de iniciante, sem conceitos pré-definidos. - Questione-se sobre aquilo que faz automaticamente, ou seja, sem pensar. Por que você faz assim? Existem outras maneiras de fazer a mesma coisa? - Perguntas que nos levem a imaginar possibilidades podem trazer as melhores soluções. “Como seria se” é uma maneira de questionar o modelo padrão do 15 Os sete habitos da criatividade mundo e pensar de forma diferente. - Torne suas conversas mais conscientes: procure falar menos de si e fique mais disposto perguntar e ouvir com atenção. - Lembre-se de que boas perguntas podem tornar as conversas mais interessantes e te levar a aprender com as pessoas. - Tenha a mente aberta quando alguém apresenta uma visão diferente da sua. 7. 5º HÁBITO - PENSAMENTO ANALÓGICO: COMO A COMUNICAÇÃO PODE SER MAIS EFICAZ E CRIATIVA A coleta deliberada por fontes de inspiração te obriga a criar relações entre as informações aparentemente desconexas. Isso não apenas favorece a geração de ideias que servirão como ponto de partida para projetos inovadores. Formar relações é um exercício que promove uma mudança para melhor na forma como você se comunica e como apresenta argumentos. Sabe por quê? Ao treinar essa habilidade, você passa a encontrar mais facilmente bons exemplos para aquilo o que precisa explicar – exemplos emprestados de outras áreas, mas que ajudam as pessoas a visualizar e a entender o que você está falando. Você ganha material para criar metáforas, fazer analogias e contar pequenas histórias que ilustrem o que está tentando oferecer ou contar. O uso de analogias é considerado um dos recursos de maior impacto na comunicação. Uma analogia torna muito mais atraente e fácil de memorizar temas abstratos e difíceis de explicar. Traz criatividade ao discurso de temas abstratos, como o próprio pensamento criativo. Para descrevê-lo, a designer Paula Scher relacionou seu cérebro a uma máquina de caça-níqueis. Todas as referências que podem lhe servir de informação estão guardadas ali. E quando puxa a alavanca, as informações circulam desordenadamente para que, de vez em quando, as cerejas se alinhem e ela ganha as moedas. É quando tem uma boa ideia. Pouco antes de morrer, Isaac Newton, para descrever a curiosidade que guiou suas teorias revolucionárias, fez uma relação que podemos facilmente entender e visualizar: 16 Os sete habitos da criatividade “Não sei o que possa parecer aos olhos do mundo, mas aos meus pareço apenas ter sido como um menino brincando à beira-mar, divertindo-me com o fato de encontrar de vez em quando um seixo mais liso ou uma concha mais bonita que o normal, enquanto o grande oceano da verdade permanece completamente por descobrir à minha frente”. Ele poderia ter dito algo como “explorei o mundo com curiosidade, mas o que descobri foi uma parte ínfima da realidade”. Mas certamente não teria o mesmo impacto da frase que acabamos de ouvir, você concorda? Professores, pensadores ou vendedores: todos podem tornar um discurso ou uma ideia mais interessante ao usar cenas e elementos familiares a todos para ilustrar conceitos abstratos. Aliás, quando se trata de uma teoria muito longe da realidade do público, essas relações são fundamentais para que haja compreensão. Um levantamento realizado por Barbara Oakley, engenheira e pesquisadora em aprendizagem, apontou o uso de analogias como um dos recursos mais eficazes de ensino. A pesquisa revelou os professores mais bem cotados entre os alunos de universidades americanas são aqueles que usam essa estratégia em suas explicações. Inúmeras situações e objetos que fazem parte do mundo concreto estão disponíveis para a formação de incontáveis relações. Newton usou o menino e o mar para ilustrar o fascínio pelo conhecimento, Paula usou o caça-níqueis para ilustrar a geração de uma ideia. Como você descreveria a sensação de insegurança, se fosse oferecer um plano de seguro, por exemplo? Com o que relacionaria a frustração de um desperdício de dinheiro para falar sobre o custo-benefícios de um produto? O que poderia usar para representar energia física ou mental, se você trabalha com produtos de saúde? Não somente o cotidiano nos serve de inspiração a essas associações. A ciência e a tecnologia oferecem várias possibilidades de analogias, especialmente quando você precisa exaltar alguma característica inovadora de seus produtos. Procure se informar sobre curiosidades tecnológicas e pense em como associar essas informações com aquilo que você tem a oferecer. 17 Os sete habitos da criatividade O mundo dos esportes é uma rica fonte de metáforas. Pense nos movimentos, nas regras, nos conceitos de “bater na trave”, “levantar a bola”, “jogar a toalha” e muitas outras expressões que podem enriquecer a comunicação. Filmes, livros, jornais e conversas também são grandes fontes de inspiração não somente de metáforas como de histórias que podem ilustrar o que você precisa dizer. Aprenda a retirar de diferentes fontes alguns fatos e acontecimentos curiosos. As pessoas ficarão muito mais receptivas ao seu discurso, pois histórias são uma das formas mais eficazes de cativar e de ganhar o interesse do público, de qualquer idade e perfil. É muito mais fácil convencer alguém de um fato quando existe uma história envolvendo a ideia. Argumentos e discursos muitos abstratos costumam ser frios e,muitas vezes, distante da realidade das pessoas. Da mesma forma que as metáforas, as histórias são facilmente visualizadas e ajudam as pessoas a compreender a informação e a fazer associações entre conceitos de diferentes áreas. Einstein, dizia d que a melhor forma de criar uma criança inteligente é contando contos de fada a ela. Isso porque cada história traz a oportunidade de pensarmos sob diferentes pontos de vista e é carregada de informações que podem ser relacionadas a outras para uma compreensão mais rica do mundo. Você pode começar hoje mesmo a recolher conceitos e histórias que irão tornar muito mais interessante a forma como você se comunica. Conheça algumas estratégias: - Lembre-se de que qualquer ideia abstrata, qualquer sensação, sentimento, fenômeno difícil de explicar, pode ser relacionado a algo concreto que pode ser visualizado. - Exercite diariamente sua capacidade de fazer relações entre seu trabalho ou projeto e as informações que absorve de outras áreas. - Colecione boas histórias e ouça com a intenção de reproduzi-las conforme a mensagem que você quer passar. - Cartuns e charges são ótimas fontes de ideias de metáforas e representações concretas de ideias complexas. Considere usar esses recursos para reforçar sua mensagem e trazer mais humor a suas apresentações. - Crie o hábito de anotar as boas ideias de analogias. - Preste atenção nas metáforas e analogias que você encontra em livros, filmes e conversa. Elas podem te inspirar a criar as próprias. 18 Os sete habitos da criatividade - O jornal e portais de notícias são uma fonte rica de boas histórias que podem servir para ilustrar seu discurso sobre o produto ou projeto que você representa. - Ao contar uma história, seja direto, breve e provoque a curiosidade das pessoas, iniciando com uma pergunta, por exemplo. 8. 6º HÁBITO - RESTRIÇÕES CRIATIVAS: POR QUE MENOS OPÇÕES LEVAM À SOLUÇÕES MAIS INOVADORAS Coloque uma criança em uma sala repleta de peças de legos, mas sem nenhum projeto para seguir. O mais provável é que seja construída alguma casa, um carro ou algo bem familiar. Ou que ela fique paralisada diante de tantas opções e não concretize ideia nenhuma. Agora estabeleça regras que limitem as possibilidades da criança: ela deve usar um número máximo de peças, fazer algo que comece com uma determinada letra, não usar certos tamanhos de peças e tem tempo limitado para construir o projeto. E dessa brincadeira provavelmente não vai sair uma casa ou um carro, mas sim algo bem mais criativo e inesperado. Isso acontece com todos em qualquer situação. Uma variedade muito grande de matéria-prima dificulta muito a construção de algo novo. Ficamos sem rumo quando temos à frente centenas de opções de estradas que podemos trafegar. Com medo de fazer a escolha errada, inevitavelmente consideramos várias opções disponíveis e, na dúvida, seguimos sem confiança pela rota escolhida ou ficamos sem ação. Limitações nos dão o rumo. Nos trazem desafios partindo de necessidades pré- definidas, fazendo com que a criatividade passe a ocupar o espaço da dúvida. As restrições podem ser circunstanciais ou conceituais e ambas levam a soluções mais interessantes. O primeiro caso é o mais comum do mundo dos negócios. Limitações como orçamento, tempo, público e distância levam as empresas a desenvolver alternativas baratas e práticas. As restrições fazem com que reavaliem o custo benefício de seus produtos, levantem e discutam questões negligenciadas e entreguem soluções totalmente novos. 19 Os sete habitos da criatividade Restrições nos tiram da zona de conforto e nos ajudam a separar o importante do supérfluo – uma habilidade que pode ser atrofiada pela abundância de recursos. O excesso, seja de dinheiro, objetos, ou de tempo, pode esconder o que é realmente essencial, tanto na vida quanto no trabalho. Das restrições nascem grandes parcerias, novas formas de promoção do produto, novos meios de alcançar o público e novos atributos que preservam ou até elevam a competitividade da empresa. O fundador da Ikea, que produz móveis de design, Ingvar Kamprad já disse que produzir coisas caras é fácil. Já desenvolver produtos que sejam baratos e duráveis é uma missão difícil, mas satisfatória. No campo das restrições conceituais, vários artistas, escritores e chefs de cozinha costumam trabalhar dentro de limitações que muitas vezes eles mesmos criam para manter o foco e o rumo do trabalho. Veja o exemplo do desafio imposto ao autor Dr. Seuss por seu editor: escrever uma história para crianças com apenas 50 palavras. O resultado, o livro Green Eggs and Ham, acabou virando um clássico da literatura americana, vendendo mais de 200 milhões de cópias. O desafio se mostrou tão eficaz que Dr. Seuss passou a impor limites semelhantes às suas produções seguintes e foi assim com o famoso Cat in The Hat, traduzido em português como Gatola na Cartola. Hemingway, outro escritor norte-americano, ganhou uma aposta escrevendo um mini conto de seis palavras. O episódio ficou conhecido e vários desafios e concursos inspirados nessa história foram lançados por veículos literários ao redor do mundo. Recentemente o jornal inglês The Guardian lançou o desafio a vários escritores e poetas. O resultado é uma ótima prova de que restrições não atrapalham e sim acionam a criatividade. A grande prova de criatividade para os chefs de cozinha que competem em alguns programas é justamente criar algo especial com uma quantidade bem limitada de recursos e de tempo. 20 Os sete habitos da criatividade As soluções são as mais variadas e inesperadas. Esses concursos televisivos representam claramente a incrível capacidade humana de se adaptar às condições externas, mesmo que signifique desviar da rota planejada, começar do início e retomar o problema de uma perspectiva diferente. E com flexibilidade, pensamento analógico, planejamento, ação, curiosidade e período para incubação das ideias, esses cozinheiros transformam qualquer limitação no fundamento do seu ilimitado potencial criativo. Mas são somente eles? Veja como você pode utilizar o recurso das restrições em seu processo criativo. - Imponha-se limites e desafios ao planejar alguma criação; - Mesmo que não exista pressão externa, procure estabelecer um prazo final e um objetivo diário para desenvolver seus projetos; - Reformule suas perguntas a partir das limitações que surgem. Como ajustar seu projeto a esses objetivos? Como adaptá-lo a um novo orçamento? - Não encare as restrições como limites para a sua criatividade; lembre que são um desafio estimulante; - Antes de começar qualquer projeto, planeje uma estrutura com delimitações de tema, prazo e orçamento; - Se for divulgar seu projeto em redes sociais ou blog, estabeleça restrições para suas postagens antes de criá-las. - Uma maneira de exercitar as restrições criativas é escolher um tema, definir quantidade e prazo para um hobby que você já tenha ou gostaria de ter. Se você gosta de fotografia, por exemplo, antes de viajar ou sair clicando, já tenha em mente o tema e o estilo escolhido. Seu projeto ficará mais criativo e consistente. 9. 7º HÁBITO - INCUBAÇÃO DE IDEIAS: COMO CRIAR OPORTUNIDADE PARA INSIGHTS CRIATIVOS Nas palavras da aclamada escritora Elizabeth Gilbert, “o universo esconde tesouros dentro de cada um”. O nosso desafio, se quisermos viver mais criativamente, é encontrá-los. Mas de que forma isso pode ser feito? Vimos que a flexibilidade para transitar por diferentes áreas do conhecimento e para aceitar mudanças e inovações garante a matéria prima da criatividade. A disciplina garante a execução de um projeto criativo e seu aprimoramento. A rotina garante organização do tempo e energia mental que a execução de uma tarefa criativa demanda. Mas o que promove a geração de uma ideia, a visualização de informações combinadas de uma forma original? O que está um passo depois da coleta de informações e um passo antes de colocarmos um projetoem ação? 21 Os sete habitos da criatividade A série de tentativas e erros, que nos disciplinamos a executar para dar forma a um projeto, geralmente parte daquilo o que chamamos de insight. São eles os tesouros escondidos. Dificilmente são revelados quando estamos concentrados em um problema, tentando compreender algo complexo ou com a mente imersa em ocupações e preocupações. Aparecem quando conseguimos tirar as complexidades da vida do meio do caminho; quando nos dedicamos a atividades que livram a mente do desgaste que a elaboração de pensamentos exigem. Você já percebeu que não dizemos “eu formulei uma ideia”, e sim “eu tive uma ideia”? A impressão é de que, mesmo sendo apenas pontos de partida para algo que necessitará ser muito aprimorado, as ideias muitas vezes surgem como insights, quase de forma independente e não como resultado de um trabalho duro. Tanto é que na antiguidade acreditava-se que as pessoas eram escolhidas por entidades externas para executar trabalhos considerados geniais. Entendiam a criatividade como algo que vinha de fora para dentro, fora do nosso controle. Afinal, as ideias realmente costumam surgir como se estivessem prontas, esperando para serem descobertas em um momento de descontração. Basta lembrar da cena do Newton descansando sob a macieira quando teve o insight sobre lei a gravidade. Não se trata apenas de uma lenda: é um ótimo exemplo de como a mente criativa funciona. A história das invenções é repleta de exemplos semelhantes. Veja o exemplo de como as famosas canetas estilo Bic foram criadas. Na década de 30, ocorreu a Laszlo Bíró, um jornalista de Budapest, que deveria existir uma ferramenta mais prática para escrever que as canetas-tinteiro, que viviam vazando. Ao observar as prensas cilíndricas das gráficas rolando sobre os papéis, imaginou um sistema parecido, mas em miniatura e com a possibilidade de percorrer todas as direções. Quebrou a cabeça pensando em soluções. Até que um dia, enquanto caminhava na rua, viu crianças brincando com bolinhas de gude e reparou no caminho de água deixado por uma que rolou por uma poça d’água. 22 Os sete habitos da criatividade Foi assim, em um momento de pausa e descontração, que teve o insight que levou à criação da primeira caneta esferográfica. Logicamente, ainda teria muito trabalho pela frente: precisaria descobrir uma tinta que não fosse nem muito fina nem grossa demais e precisaria encontrar um parceiro que desenvolvesse as minúsculas esferas. Juntou-se a um profissional da área da aeronáutica e depois de desenvolverem, foram atrás de investidores. Durante muito tempo, canetas eram chamadas na Europa de “biros”, até um empresário chamado Marcel Bich comprou as licenças e surgiu a famosa Bic. Para que se deparasse com a solução que tanto buscava, Bíró antes passou muito tempo pesquisando e refletindo – tanto antes quanto depois de ter tido uma ideia. Sem o esforço dedicado ao problema, seu cérebro não estaria preparado para fazer uma associação brilhante. Mas essa associação aconteceu durante um momento contemplativo. Como uma pedra preciosa bruta, ela foi descoberta durante a pausa, mas precisou de muita dedicação para ser lapidada. As caminhadas pela rua, como a que o proporcionou a ele o encontro com a crianças brincando com as bolinhas, são famosos combustíveis para a criatividade. Elas nos incentivam a observar o mundo lá fora e tirar o foco dos próprios pensamentos. Como costumamos dispensar mais atenção ao novo, mudar de rota e buscar novos ambientes pode ser favorável a esse estado contemplativo. Grandes escritores relatam, com frequência, a importância das corridas e caminhadas ao ar livre para a formação das suas histórias. Assim como tomar banho, pedalar, cuidar do jardim, fazer um trabalho manual ou qualquer outra ocupação que não dependa do raciocínio e uso da linguagem. Vamos entender melhor por que os insights aparecem nessas pausas mentais. Ao afastar a mente dos diálogos interiores, afastamos também a ansiedade que os acompanha. E o stress é um dos principais inimigos da criatividade. Os momentos em que deixamos o pensamento fluir livremente também nos permitem uma visão mais abrangente das situações. Nessas pausas, a informação transita pelas áreas subconscientes do cérebro e ganha a chance de se associar a outras informações aparentemente desconexas, formando um produto original. 23 Os sete habitos da criatividade Seja qual for o produto, ele não surge como um passe de mágica, mas como resultado de um processo subconsciente, que é revelado quando as preocupações lhes dão licença. Pode parecer estranho que nosso cérebro produza algumas pérolas que só de vez em quando conseguimos enxergar. Mas o fato é que mais de 90% dos processos mentais são inconscientes. Você pode promover mais oportunidades para a geração de ideias. Saiba como: - Transforme em hábito atividades que te permitam livrar a mente de preocupações. Aquelas que você consideraria terapêuticas; - Abra espaço em seu dia para caminhadas, corridas, pedaladas, meditação ou alguma atividade manual. - Quando estiver mentalmente esgotado, pense que esse estado é inimigo da criatividade e providencie um momento de descanso à sua mente; - Lembre-se de que atividades feitas em grupos, com muita música, barulho e conversas podem ser uma forma de descontrair, mas não favorecem o encontro com pensamentos que estavam escondidos em seu subconsciente. - Considere usar menos o carro para realizar tarefas que podem ser feitas a pé. Você pode perder um tempo maior, mas favorece a produtividade e o pensamento criativo; - Procure rotas alternativas e preste atenção nos aspectos naturais e culturais do ambiente. Esse tipo de contemplação favorece o pensamento criativo. Este curso teve como objetivo fazer seu trabalho se destacar em um mundo em constantemente mudança. Para isso, buscamos apresentar a você forma de valorização do nosso diferencial produtivo com relação às máquinas: a criatividade. Desejamos a você muito sucesso em seu trabalho! Por fim, confira a seguir as referências bibliográficas utilizadas durante a pesquisa, para o desenvolvimento deste curso. Berger, Warren. A More Beautiful Question. The Power of Inquiry to Spark Breakthrough Ideas. Bloomsbury USA, 2014. Eagleman, David, Brant, Anthony. The Runaway Species. Catapult, 2017. Gilbert, Elizabeth. Grande Magia: Vida Criativa Sem Medo. Ed. Objetiva, 2015. Grant, Adam. Originais: Como os Inconformistas mudam o mundo. ed. Sextante, 2017. Jukes, Peter. All His Materials – uma entrevista com Phill Pulman, disponível em www.aeon.com. 24 Os sete habitos da criatividade Kaku, Michio. The Evolution of Intelligence. Em bigthink.com/experts/michiokaku. Kleon, Austin. Roube Como um Artista. Ed. Rocco, 2012. Lehrer, Jonah. Imagine: How Creativity Works. Houghton Mifflin, 2012. Lenski, Tammy. The Einstellung Effect in Problem Solving. Em www.lenski.com Miller, Anne. Methaphorically Selling. Chiron Associates, 2004. Morgan, Adam, Burden, Mark. A Beautiful Constraint. Willey, 2015. O’Donohue, John. Walking on the Pastures of Wonder: ed Verita. Oakley, Barbara. A Mind for Number, ed Tarcher 2014. Popova, Maria. All Ideas Are Second Hand. Em www.brainpickings.org Popova, Maria. Einstein on Fairy Tales and Education, em www.brainpickings.org Popova, Maria. Standing on The Shoulders Of Giants. Em www.brainpickings.org Robertson, Larry. A Deliberate Pause. Morgan James Publishing, 2009 Robertson, Larry. The Language of Man. Daymark Press, 2016 Saffo, Paul, The Creator Economy, citado em Salt Summaries - Condensed Ideas About Long Term Thinking, Steward Brand. the Long Now Foundation. The Eponymist. 99% Invisible, disponível em https://99percentinvisible.org/ episode/the-eponymist/ The Future of Jobs, World Economic Forum, em www.reports.weforum.org Tierney, Leah. Cinco maneiras de pensar diferente e encontrar soluções mais criativas. www.shutterstock.com. To cuta Long Story Short. The Guardian, 2007
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