Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Expo Revestir 2021 Um projeto: Patrocínio de cobertura: LANÇAMENTOS E TENDÊNCIAS DA FASHION WEEK DA ARQUITETURA Índice Tendências e produtos Touchless, cores claras, biofilia, artesanal: as tendências para 2021 __________________06 Novas tecnologias para o coração da casa: a cozinha ____________________________ 11 Nove produtos de grandes designers na 19ª Expo Revestir ____________________ 15 Entrevistas internacionais “Não se acostume demais com o digital”, diz Perkins & Will _______________________ 19 Sharon Prince: “é hora de a construção civil lutar contra a escravidão moderna” ______________ 22 O português Álvaro Siza e a arquitetura do diálogo _______ 25 A ousadia da designer italiana Paola Navone ___________ 28 Nomes brasileiros Humberto Campana: “Design é ferramenta para melhorar vidas” __________________ 33 Maurício Arruda: “Estrela é o morador, não o projeto” _____ 35 Economia e arquitetura Pedro Malan: falta de resposta à pandemia prejudica a economia __________________ 40 Lista Confira as 65 marcas expositoras da Expo Revestir 2021 __________________________ 43 05 18 32 39 42 3 Quem é a Interprint? A Interprint é uma multinacional nipo-germânica especializada em impressão de papéis decorativos para uso em melamina (MDF, MDP e alta pressão) no acabamento de móveis, painéis de parede e pisos. Somos focados em traduzir tendências de design, mudanças de comportamento e inovação em desenhos que se adaptam ao mercado de decoração de interiores na América Latina. Entendemos que nossa presença como patrocinadora da cobertura de HAUS na Expo Revestir é a melhor forma para estarmos próximos dos profissionais de arquitetura e design de interiores, apoiando a ampliação do conhecimento sobre os movimentos do nosso setor, além de poder analisar os melhores lançamentos na área. Neste e-book, que assinamos em conjunto com HAUS, você terá um panorama geral do evento e os melhores insights absorvidos na semana de imersão na Expo Revestir. E, para você conhecer mais sobre a Interprint, saber nossas novidades, tendências e tudo o que envolve nosso trabalho, acesse interprint.com 3 4 Boas- vindas Como fazer uma feira de arquitetura 100% digital? Desde março de 2020, poucos dias foram decisivos na vida de pessoas, negócios e empresas: de forma rápida, precisamos nos adaptar ao trabalho remoto. A digitalização e a comunicação online facilitaram, e muito, esse processo, que impactou fortemente nos espaços, inclusive das nossas casas. Antes da pandemia, segundo dados da Cushmann&Wakefield Consultoria Imobiliária, mais de 40% das empresas que não adotavam o home office e que atenderam a determinação em colaboração ao isolamento social, vão adotá-lo definitivamente quando a pandemia passar. Além disso, 45% das empresas vão reduzir o espaço físico. Neste novo contexto e ainda em uma crise sanitária, eventos como a Expo Revestir, considerada a fashion week da arquitetura, precisaram adotar esse modelo e mostrar ao público seus lançamentos, tendências e debates on-line. Pela primeira vez, a 19ª edição funcionou 100% on-line, com exposição de produtos de 65 marcas e conversas com grandes nomes brasileiros e estrangeiros da arquitetura e do design. Tudo em uma plataforma específica para os participantes, além de eventos paralelos com entidades e grupos do setor. A HAUS, que se dedica à cobertura da feira há anos, continuou o mesmo trabalho em 2021, dessa vez em parceria com a Interprint. E com novidade: os conteúdos mais relevantes reunidos neste e-book. Boa leitura! Equipe HAUS 4 5 Tendências e produtos 5 6 Em voga Touchless, cores claras, biofilia, artesanal: as tendências para 2021 Apresentados na 19ª edição da Expo Revestir, maior e mais importante evento da arquitetura e construção da América Latina, eles reforçam a necessidade de nos voltarmos para o que é natural, sem abandonar por completo a tecnologia. Agora, no entanto, ela deixa o protagonismo de lado e assume um papel coadjuvante, representando o meio pelo qual as gigantes do setor transformam conceitos e ideais em louças, metais e revestimentos repletos de significado. HAUS elencou sete tendências apresentadas durante a fashion week da arquitetura, que pela primeira vez aconteceu de forma 100% remota. Confira quais são elas e se inspire a renovar a sua casa! O retorno ao essencial, ao que traz conforto e sensação de aconchego para o dia a dia sem deixar de lado a praticidade e a beleza estética segue como a principal tendência para a casa em 2021. Estimulada pela maior atenção ao lar desde o início da pandemia da Covid-19, que forçou o mundo a permanecer por mais tempo dentro de casa e, por isso, fez com que dedicássemos mais cuidado a ele (além de todas as outras funções que ele passou a comportar no último ano), os lançamentos das grandes marcas de acabamentos reforçam a busca por fazer da casa cada vez mais um local de refúgio e segurança. 7 Já entre os revestimentos, o destaque ficou por conta dos painéis de MDF com acabamento micro, da Berneck, que facilita a limpeza e a sanitização dos móveis e superfícies. Ele está presente em quatro dos oito padrões da coleção Nômade. Touchless, da Deca. (Divulgação). Torneira baixa Touchless, da Deca. (Divulgação). Acabamento da Berneck facilita a limpeza. (Divulgação). HIGIENIZE-SE A tecnologia touchless não é novidade, mas apareceu com força entre os lançamentos e também em peças revisitadas pelas marcas como forma de reforçar as medidas necessárias ao combate à Covid-19. A Deca, por exemplo, apresentou 26 produtos de seu catálogo cujo acionamento do fluxo d’água é feito por aproximação em qualquer ponto das torneiras. Os modelos estão disponíveis em diversas cores, texturas e também em linhas assinadas por grandes nomes do design e da arquitetura nacionais. 8 VIBRANTE Como forma de trazer alegria, vivacidade e luz para os ambientes residenciais e corporativos, as cores aparecem em louças e revestimentos que vão dos banheiros e cozinhas às áreas externas. Amarelos, vermelhos e laranjas são algumas das que ganham destaque em propostas minimalistas ou exuberantes. ESSENCIAL Cores claras, padrões que reproduzem técnicas artesanais. O simples reina entre os lançamentos em consonância ao resgate do essencial sem que isso signifique descuido ou falta de atenção aos detalhes. Pelo contrário, até mesmo as peças que reproduzem técnicas construtivas vernaculares, como a taipa, aparecem com um nível de acabamento que confere uma elegância rústica aos materiais. Suavidade no acabamento Arenito, da Duratex (Divulgação). (Divulgação) 9 OUSADOS Opostos aos solares, os tons escuros também aparecem com força em propostas para tornar ambientes externos e internos mais intimistas, elegantes e ousados. Pretos, cinzas e azuis fechados estão entre as principais apostas nas paletas das marcas, seja em padrões bi ou tridimensionais. NATUREZA PRESENTE A biofilia é outra tendência que ganhou força na pandemia e que segue entre as apostas das marcas para 2021. As referências à natureza aparecem de forma sutil, como em tonalidades que remetem aos verdes e azuis dos mares de diversas partes do mundo e às rochas, ou explícita. É o caso dos padrões que reproduzem folhas, galhos e vegetações típicas da flora e de biomas brasileiros. 9 Noturno, da Ceusa. (Divulgação) Stones, da Elemental Revestimentos. (Tarso Figueira/Divulgação) Revestimento da Decortiles: biofilia no banheiro. (Divulgação) 10 ESCUROS E ELEGANTES Se as cores claras trazem aconchego, os tons escuros são capazes de tornar os ambientes mais intimistas, elegantes e ousados. Por isso, eles não ficaram de fora da paleta das marcas que apostam em azuis fechados e em composições de pretos e cinzas como soluções para projetos que destaquemuma área ou sejam elaborados de forma a trazer sofisticação aos ambientes. Exemplos são a Coleção Noturno, da Ceusa, e o azulejo Moon, da Decortiles. CONCRETO Também já com posto cativo entre os lançamentos há algumas edições da fashion week da arquitetura latino-americana, os cimentícios seguem em alta e vão muito além do porcelanato. Revestimento da Castelatto. (Divulgação e Favaro Jr) Moon, da Decortilles. (Divulgação) Noturno, da Ceusa. (Divulgação) Acabamento da Roca. (Divulgação) 11 HAUS selecionou oito coifas, misturadores, cubas e churrasqueiras que estão entre os destaques apresentados pelas marcas líderes do segmento na 19ª edição da Expo Revestir: 11 Facilidade Coração da casa: os lançamentos para a cozinha da fashion week da arquitetura Ser prático e funcional são características obrigatórias quando se pensa em metais e acessórios para a cozinha. Mas eles podem ir muito além disso e, tendo a tecnologia como aliada, oferecer benefícios relacionados ao bem-estar, como redução de ruídos e água de qualidade diretamente da torneira. Sem falar na estética do ambiente, considerado o coração da casa. 12 SEM GORDURA NEM RUÍDO Uma das poucas fabricantes de coifas residenciais no Brasil, a Tramontina apresenta duas versões da Slim Isla 90, ambas para cozinhas de ilha. O modelo tradicional traz motor embutido no corpo, tem quatro velocidades e funciona nos modos exaustor e depurador. Já a Slim Isla 90 Split conta com motor que pode ser instalado a até 6 metros de distância do corpo da coifa, o que contribui para reduzir em até 71% o ruído. Ela funciona no modo exaustor e também tem quatro velocidades. Ambas contam com acabamento em aço inox e vidro bisotado. Outro modelo destacado entre os lançamentos é a Square Isla 40 Silent, com design discreto e retilíneo. Revestida internamente com espuma acústica antichamas, conta com filtro de gordura lavável. O modelo pode ser instalado em cozinhas com pé-direito elevado, de até 3,38 m, por meio do uso de chaminés complementares. Coifa Slim 90, da Tramontina. (Divulgação) Modelo Square Isla 40 Silent, da Tramontina. (Divulgação) 13 ESMALTADAS Produzidas em ferro fundido, as cubas da coleção Whitehaven, da Kohler, apresentam novas possibilidades em versões mais compactas do modelo, popularmente conhecido como cuba de fazenda. PARA ASSAR O churrasco também teve lugar na Expo Revestir com a churrasqueira Professional Gás, da Elettromec. Produzida em aço inox, ela tem acendimento piezoelétrico (campo elétrico gerado pela pressão exercida sobre o cristal) direto do manípulo, o que elimina a necessidade de ponto elétrico. A peça está disponível em versões com três (65 cm), quatro (75 cm) ou cinco (95 cm) queimadores. ÁGUA PARA LAVAR E BEBER Fabricado em aço inox, o misturador Monde Filter Plus, da Tramontina, conta com tubos individuais para cada uma das funções: água filtrada e água comum, com paredes internas livres de porosidade, o que impede o acúmulo de partículas presentes na água. O acionamento é feito por dois manípulos: um exclusivo para a água filtrada e outro para a água quente e fria. Monder Filter Plus, da Tramontina (Divulgação) Whiteheaven, da Kohler. (Divulgação) Churrasqueiras profissionais da Elettromec. (Divulgação.) 14 MODULAR Além dos modelos tradicionais, a Elettromec apresenta o Dominós, cooktops menores e modulares que podem ser combinados para formar a peça principal ou servirem de apoio para fogões, churrasqueiras e outros cooktops. O acabamento é um aço inox ou vitrocerâmico e os modelos medem 30 cm ou 38 cm. CUBA COM COR As cores invadem as cubas de cozinha e são apresentadas nas tonalidades gold, rose gold e black no modelo Quadrum, da Tramontina. Em aço inox, as peças são revestidas com PVD (Physical Vapor Deposition), vapor metálico que dá cor à cuba. Modelo quadrum, da Tramontina, tem revestimento com cor. (Divulgação) Mini cooktops, da Elettromec. (Divulgação) 15 Grife Nove produtos de grandes designers na 19ª Expo Revestir Nomes estelares e também estreantes com muita bagagem emprestaram sua criatividade e talento para muitos dos lançamentos apresentados pelas mais de 60 marcas que estiveram na Expo Revestir 2021. Veja nove produtos, entre louças e revestimentos, assinados por arquitetos, designers e entusiastas do tema: MADEIRA A técnica artesanal da marchetaria foi a inspiração da artista plástica e designer Ana Paula Castro para os dois revestimentos que assina para a Biancogres. Batizadas Dubrá e Piani, as peças de 45x90 cm apresentam linhas diagonais e superfície tridimensional que destacam as diversas formas e tipos de madeira. Dubrá, por Ana Paula Castro. (Divulgação) Piani, da Biancogress. (Divulgação) 16 DOCE E ABSTRATO A renomada arquiteta e designer italiana Paola Navone assina duas linhas para a Portobello. A Bonbon traz formas irregulares que remetem a doces em 4 tonalidades pastel, criando um mosaico único. A Vedononvedo, por sua vez, ressignifica o espelho por meio da inserção de elementos abstratos na superfície do revestimento (10x10 cm). TOUCHLESS A tecnologia touchless é o destaque da Deca nesta edição da Expo Revestir e está presente, também, em peças assinadas por nomes renomados, como Jader Almeida e Ricardo Bello Dias. Nelas, o acionamento do fluxo d’àgua ocorre pela aproximação em qualquer ângulo do metal. Bonbon e Vedononvedo, da Portobello. (Divulgação) Peça de Ricardo Bello Dias para a Deca. (Divulgação) 17 CONSTELAÇÃO Assim como a Deca, a Roca apresenta novidades e resgata sucessos de edições passadas, como a linha Infinity, assinada pela arquiteta Fernanda Marques. Premiada com o Red Dot Award, ela traz três modelos de cuba de apoio com design minimalista e funcional. A combinação de luzes e sombras decorrente da geometria das peças marca a coleção Horizon, desenhada pelo também arquiteto João Armentano. Com tecnologia Fineceramic, que possibilita bordas ultrafinas (com até 5mm de espessura), as peças também possuem válvula de escoamento ocultada. Outro resgate são as cubas assinadas por Ruy Ohtake, três delas de apoio e uma de sobrepor, ofertadas em seis cores em acabamento brilhante e matte. PELO MUNDO Cocriação entre a Portobello e o jornalista e apresentador Pedro Andrade, a coleção Horizontes apresenta porcelanatos em pequenos formatos (6,5x23cm) em cinco tonalidades. Inspiradas nos cinco lugares preferidos do jornalista - que assina sua primeira coleção para a marca - no mundo (Jaipur, Santorini, Tulum, Zanzibar e Nova York), cada uma delas está disponível em três padrões distintos. 17 Cuba de Ruy Ohtake. (Carlos Gallardo/Divulgação) Fernanda Marques para a Roca. (Divulgação) Cuba Horizon. (Divulgação) Horizontes, da Portobello. (Divulgação) 18 Entrevistas internacionais 18 19 “Não se acostume demais com o digital. Pensamento crítico é mais importante”, aconselha Perkins & Will O escritório de arquitetura e design Perkins & Will é um gigante do setor. Ao todo a firma tem 26 estúdios espalhados pelo mundo e mais de 325 mil metros quadrados de área construída no portfólio. E uma característica forte das produções arquitetônicas do escritório é o olhar real sobre a sustentabilidade ambiental, social e econômica de cada construção. Perkins & Will participou da programação oficial da Expo Revestir 2021 e dois de seus principais arquitetos conversaram com HAUS por e-mail: a arquiteta Lara Kaiser, diretora de operações do escritório de São Paulo, e o arquiteto Jose Bofill, responsável pela área de ciência e tecnologia do estúdio da marca em Miami. De família húngara, Lara se especializou em arquitetura de clínicas, hospitais e outras construções de saúde, e por 20 anos trabalha nessa área. Já Bofill é natural dos Estados Unidos, descendente de uma família de imigrantes cubanos,e desde sempre apreciou a interação entre natureza e os ambientes construídos. Agora completou 23 anos na empresa. Maior escritório do mundo (Divulgação) 20 O que levou vocês até a arquitetura? Lara: Minha família tem muitos médicos e arquitetos. Minha mãe, que me inspira de diferentes formas, é uma empreendedora do design de interiores. Acredito que foi natural eu me tornar uma arquiteta especializada em saúde. Jose: Desde pequeno me interesso por artes. Minha avó, que era pintora e escultora, instilou em mim um senso de maravilha que guiou minha curiosidade, estudos e carreira. Meu primeiro projeto na Perkins & Will foi de um laboratório. Imediatamente decidi pela parte técnica e de design. Como encaram a arquitetura? Quais os desafios mais atuais, na opinião de vocês? Lara: Perkins & Will acredita firmemente que arquitetura e design são ferramentas para melhorar as vidas das pessoas por meio dos espaços onde elas vivem, trabalham, brincam, aprendem e se curam. Tudo se trata das necessidades de todos os usuários de cada ambiente. Em um hospital, por exemplo, não focamos apenas no bem-estar dos pacientes, mas também no dos acompanhantes e de todo o time médico. Pessoalmente acredito que o desafio agora é compreender como as mudanças culturais, comportamentais, sociais e econômicas que estamos enfrentando vão impactar a maneira como interagimos com espaços construídos, e como vamos adaptá-los às novas necessidades. Sustentabilidade está no DNA diário de vocês. Alguns dizem que vocês têm mais profissionais treinados para o selo LEED do que qualquer outro escritório nos Estados Unidos. Que diferença essas certificações trazem? Lara: Sustentabilidade é algo tão importante para nós que é obrigatório nossos times irem atrás de certificações LEED ou WELL. Está em nosso DNA mesmo buscar soluções para que nossos designs sejam ambientalmente, socialmente e economicamente sustentáveis. Eu acredito que trazer sustentabilidade para um projeto beneficia não só os usuários diretos, mas toda a comunidade do entorno. É um benefício que leva a conversa para outro nível. 21 Quando a gente olha para as melhores produções arquitetônicas hoje, alguns países da Ásia estão na vanguarda. Qual a sua opinião sobre isso? Jose: Acredito que é possível achar arquitetura de nível internacional em qualquer continente, e acho que está diretamente ligado ao apetite dos clientes por projetos que olhem para a responsabilidade ambiental e social. Vocês trabalham em uma companhia gigante. Quais são as diferenças regionais que vocês identificam? Lara: Temos 26 escritórios espalhados pelo mundo, incluindo Américas, Europa e Ásia. Perkins & Will adquire firmas de arquitetura pré- existentes em cada local como uma estratégia para criar um time mais diverso. Ao escolher profissionais locais, incorporamos muitas culturas diferentes, conhecimentos e tradições diversas. É enriquecedor ter essa rede de contatos. Aprendemos coisas novas todos os dias e construímos uma visão mais ampla do que é a arquitetura e o design. Mas acho que o benefício maior é trazer tendências e tecnologias de toda parte do mundo para nossos clientes. Jose: Colaborei com muitos estúdios da nossa empresa em disciplinas, projetos locais, nacionais e internacionais, tanto no setor privado quanto no setor público. Essas oportunidades me expuseram a uma variedade de diferenças regionais na cultura, no clima, na economia, e me ajudaram a projetar programas mais complexos. Que dicas vocês dariam para arquitetos que sonham em ter uma carreira internacional? Lara: Sempre mantenha a mente aberta para o conhecimento. Cada pessoa que encontrar e cada experiência que tiver é uma oportunidade para aprender, expandir os horizontes e melhorar você pessoalmente e profissionalmente. Outro conselho é não se acomodar e se acostumar com as ferramentas digitais que temos hoje. Tecnologia avançou muito na área da arquitetura e do design, mas é importante trabalhar o pensamento crítico e habilidades de projeto, coisas que as máquinas não fazem tão bem como nós. 22 Depois da moda e da alimentação, é a vez da construção civil lutar contra a escravidão moderna. Sustentabilidade na cadeia da construção civil vai além das questões relacionadas ao meio ambiente. A afirmação posta por Sharon Prince, CEO da Grace Farms Foundation, em evento paralelo da Expo Revestir 2021 alerta para outra questão igualmente (ou até mais) relevante: a sustentabilidade social do setor. Em sua fala, a também fundadora da fundação interdisciplinar privada baseada em New Canaan (EUA), que busca a paz por meio de cinco iniciativas (natureza, artes, justiça, comunidade e fé), com foco na violência baseada no gênero e na escravidão moderna, afirmou que esta última tem na indústria da construção uma de suas principais fontes. “Foi a partir da proximidade [com a arquitetura] que tivemos uma melhor compreensão do trabalho Design pela liberdade 22 (Divulgação) 23 escravo globalmente. Aconteceu quando decidi [participar de] um júri nacional de projetos que ainda estavam fortemente voltados para a sustentabilidade, mas não foram ponderados em relação à sustentabilidade social”, lembra Sharon. “Estávamos avaliando um projeto escolar de uma garota afegã, que é extraordinário, e me perguntei se sabíamos o suficiente sobre trabalho escravo. Todos na sala ficaram em branco”, acrescenta ao lembrar que quando se fala em trabalho escravo na construção civil, geralmente pensa- se no local de trabalho, no canteiro de obras em si, esquecendo- se da cadeia de aquisição de materiais, que é a “outra metade da equação”. “Sabemos que um ambiente construído tem um relacionamento incrível com a natureza e as pessoas, mas minha pergunta é: será que esse prédio foi construído sem escravidão, sem trabalho forçado e também foi projetado de maneira sustentável? E ninguém pode respondê-la porque a indústria inteira não tem informado quais são os materiais utilizados. Não temos dados suficientes, não temos muito entendimento”, pontuou ao detalhar as bases que levaram à criação pela Grace Farms do Design for Freedom (Design pela Liberdade, em tradução livre), movimento que busca jogar luz sobre a temática a nível global e reúne mais de 60 líderes e especialistas da indústria com o objetivo de eliminar a escravidão moderna no ambiente construído. De acordo com a CEO, o Departamento de Estado dos Estados Unidos reportou que projetos de construção apresentam evidências de tráfico de pessoas em 103 países. E que, por mais que leis globais proíbam o uso de trabalho escravo no setor, a construção civil é a indústria na qual há maior probabilidade dele acontecer, especialmente na cadeia de matéria-prima. Mesmo assim, o problema ainda é pouco conhecido. “Fico pensando na beleza de nossos edifícios, como eles são ótimos para nós e como deveríamos prestar mais atenção se a cadeia de material é ética. Se você pensar, quase toda construção moderna ao redor do mundo tem escravidão devido ao trabalho escravo que permeia milhares de matérias-primas local e globalmente. Começou com o fast food, a moda e o próximo [setor a enfrentar a questão] é o da construção. E é isso o que estamos tentando fazer. Deixar o problema conhecido”, reafirma. “Nós podemos responsabilizar a cadeia de materiais para que possamos redirecionar as especificações para fornecedores mais 23 24 permanentes, éticos e sustentáveis ambientalmente, tudo ao mesmo tempo”, enfatiza ao lembrar o sucesso do movimento verde, iniciado há cerca de 30 anos, e todos os resultados que ele já trouxe para a preservação dos recursos naturais e para o planeta. “Mas pessoas têm sido deixadas para trás. Em termos de prioridade, elas são negligenciadas. Por isso queremos expandir a definição de sustentabilidade social, que inclui pessoas, natureza e o nosso planeta”, reforça. Dar visibilidade à temáticaé fundamental, mas não o único caminho para a solução do problema. Para a CEO da Grace Farms, é preciso a união, a participação de todo o ecossistema da construção para que o cenário mude. E isso vai da concepção do projeto à especificação e aquisição de materiais. “A adoção deste entendimento é muito rápida [por construtores, arquitetos, engenheiros e demais atores do setor]. E são os materiais [especificados] que têm resquícios de escravidão. [Então], é trabalho dos arquitetos e engenheiros perceberem que eles [também] têm o poder para ver quais são esses materiais em seus projetos”, destaca Sharon. Para ilustrar a questão ela cita o exemplo dos painéis solares, solução sustentável para suprir a demanda energética de empreendimentos dos mais diversos portes e que, muitas vezes, são produzidos na China, especialmente na região autônoma de Xinjiang. “Sabemos que mais de 100 mil pessoas estão sendo forçadas ao trabalho escravo e detidas nesses campos. Nós tentamos criar um projeto sustentável, mas os materiais são feitos por trabalho escravo. [O mesmo ocorre com] as madeiras, que são os materiais de construção mais onipresentes e com maior risco de trabalho escravo [envolvido] em todo o mundo”, acrescenta. Dentro do projeto Design for Freedom, inclusive, a Grace Farms listou os materiais e matérias-primas cuja produção envolve alto risco de trabalho escravo. Entre os dez primeiros do ranking estão: borracha, vidro, fibras e têxteis, aço, eletrônicos, tijolos, madeira, pedras, cobre e ferro. “Há a necessidade de pedirmos por mais leis e mais supervisão. [Mas] o principal a se fazer [para coibir o trabalho escravo na cadeia da construção civil] é, como eu disse, questionar tudo. Agora que você sabe, não pode deixar de saber. E tem o trabalho de agir”, finaliza Sharon Prince. 24 25 “Arquitetura nasce do diálogo, que precisa ser quente para ser autêntico”, defende Álvaro Siza O arquiteto português Álvaro Siza, 87 anos, defendeu sem papas na língua em evento paralelo da Expo Revestir 2021 que a arquitetura nasce do diálogo com todos os personagens envolvidos no processo e que nunca pode ser um monólogo. “Tem-se que ter a participação da família, do proprietário, da vizinha, da sogra, para se chegar a um consenso. A arquitetura nasce do diálogo. Se não, é um monólogo, que é menos rico e menos interessante. E o diálogo precisa ser quente para ser autêntico”, afirmou o arquiteto laureado com o Pritzker, considerado o “prêmio Nobel da arquitetura”, de 1992. Pritzker Prize (Bienal de Arquitetura de Veneza/Divulgação) 26 “Por muitos anos trabalhei com habitações econômicas [sociais] em Portugal, onde o diálogo era necessário com populações enfiadas em bairros antigos, marginalizados, de pessoas sem voz para discutir o que era destinado”, relembrou Siza. “Foi uma experiência muito boa, de diálogo quente. E depois fiz projetos da mesma natureza na Holanda e em outros países.” O arquiteto português destacou a importância de primeiro se debruçar sobre projetos de pequena escala, e especialmente as casas, para depois se aventurar em projetos monumentais, públicos, e ainda mais desafiadores. “É muito difícil fazer um edifício de grande escala sem ter experiência na pequena escala. Estão lado a lado. Mas acredito que isso foi um resultado da situação política na Europa daquele momento, que discutia bastante essas habitações sociais”, explicou. “Fui considerado um especialista em habitação social e participação social na formação do arquiteto, mas acredito que a formação é contínua. Não acaba”, opinou Siza. “Eu gostava, mas queria fazer outras coisas também. Fiz concursos de arquitetura para ter acesso a museus, centros culturais, escolas, outros tipos de construção”, ensinou. “Acho essencial lembrar também que, com a complexidade e exigências das construções de hoje, é impossível uma pessoa fazer tudo sozinha. Tem que trabalhar como uma orquestra, que é feita do pianista, do violinista e assim por diante. Cada um intervindo com seu talento, são capazes de trabalhar em uníssono”, sentencia Siza, em defesa do trabalho colaborativo entre diversas áreas. “Não se pode confundir especialista com independente”, alertou. Questionado sobre sustentabilidade, o arquiteto reconhece que o tema é urgente. Mas que, muitas vezes, “a sustentabilidade é colocada como única preocupação, com receitas obrigatórias por regulamentos que se esquecem de alguns aspectos importantes da arquitetura e das cidades. Tudo pode ser bem ou mal utilizado.” Para Siza, a tradição é parte indispensável da inovação. “O novo busca muita coisa na tradição para dar continuidade, é um alimento. Não vejo como opostos. Vejo a tradição como elemento base. Olha, por exemplo, arquitetos que até hoje viajam a Roma para entender a arquitetura”, exemplificou. “Ou a Bauhaus. No início, não havia a disciplina de história, mas depois, com o passar do tempo e a entrada de novos integrantes, 26 27 a ideia de que a história era algo ruim desapareceu”, afirmou. “O próprio Le Corbusier se inspirou em referências da Argélia e do Marrocos, as torres de ventilação, para criar o tão inovador edifício de Ronchamp.” Segundo Siza, a arquitetura é um serviço. “Quando nos convidam para um projeto pago, é primeira obrigação saber os objetivos e debatê-los. O tal diálogo. E respeitar completamente a função do edifício”, descreveu. “De certa maneira, sou funcionalista. Entendo o papel fundamental da função como um cumprimento rigoroso do que é pedido. Mas de forma que esses pressupostos funcionais permitam abertura. Uma libertação em relação a função. Porque a função do edifício pode mudar, adaptar é uma tradição”, defendeu. E dá o exemplo dos conventos, pelo menos na Europa, que foram criados e aperfeiçoados para uma comunidade de freiras com regras muito apertadas, com um modo de vida muito definido, e que hoje estão sendo atualizados como museus, casas, hospitais. “É lição de como cumprir com rigor uma função e de como fazer a multiplicação de utilização do edifício sem prejuízo de sua qualidade. Isso quebra aquelas máximas que existiram sobre forma e função. Nenhuma estava totalmente certa. 27 (Fernando Guerra/Divulgação) 28 “Luxo é simplicidade, e simplicidade é nunca desistir de nada”, frisa Paola Navone A italiana Paola Navone, 71 anos, é considerada uma das designers mais ousadas da atualidade. Um peixe fora d’água mesmo. Formada em arquitetura pelo Politécnico de Turim, não se deu por satisfeita em levantar prédios igual a todos os outros. Foi como designer junto dos gigantes Alessandro Mendini, Ettore Sottsass Jr. e Andrea Branzi, dos movimentos Memphis e Design Alchimia, que se achou e ganhou visibilidade internacional. Fã de materiais naturais e técnicas artesanais, viveu por um longo período no Sudeste Asiático e desenvolveu como suas principais ferramentas de criação a simplicidade, a informalidade, a sensualidade e a ironia. E não se esqueça do azul, a cor que é quase uma instituição em suas criações. Já trabalhou para Armani Casa, Alessi, Driade, Dada, Molteni, Natuzzi e Swarovski, para citar apenas algumas marcas. 28 (Giovanni Gastel/Divulgação) 29 Veja os principais trechos da entrevista que ela concedeu por e-mail para HAUS durante os dias de Expo Revestir: O que te levou para o design? Na minha vida tudo acontece meio por acaso. Não foi realmente planejado. Talvez minha atração pelo design venha da minha natureza nômade, da minha paixão inata por objetos cotidianos de todos os cantos do mundo, do senso de imperfeição que me faz amar materiais naturais, coisas feitas à mão e, claro, as pessoas que eu encontro. Seu trabalho é uma defesa da informalidade e da sensualidade. Poderia nos explicar um pouco dessa forma de viver e criar, por favor? Eu gosto de criar objetos que são amigáveis, delicados e jamais agressivos. Da mesma forma, eu amo imaginar espaçosnovos, relaxantes e informais, onde as pessoas possam se sentir bem, um pouco como em casa. Acredito que hoje precisamos mais do que nunca de espaços assim para viver. Certa vez li que você não tem pretensão alguma de ensinar algo para as pessoas e que você não se leva tão a sério. Por quê? Que benefícios você tira dessa maleabilidade de ser? Eu não estaria fazendo o que faço se não gostasse muito disso. Cada novo trabalho para mim é uma aventura excitante que sempre traz leveza e diversão. Eu não gosto de sofrer. O azul é tão presente em suas criações. Por que o azul é tão especial para você? O que ele comunica? Eu tenho uma atração natural por cores frias, todas as matizes da água e do ar. O oceano é meu ambiente natural...talvez por ser de Peixes, quem sabe. O azul sempre teve um efeito relaxante e hipnótico sobre mim e faz eu me sentir em outro lugar, talvez em um litoral belíssimo. 29 30 Uma vez em Milão ouvi você dizer que suas ferramentas criativas são a simplicidade, a curiosidade e a ironia. Pode nos dar mais detalhes sobre cada uma delas? Cada um dos meus projetos vem de uma alquimia especial. Por isso meus trabalhos são sempre diferentes um do outro. Porém, há algumas ferramentas especiais que pertencem a minha criatividade, como simplicidade, imperfeição e ironia. Simplicidade, para mim, é uma palavra inpiradora e significa nunca desistir. Imperfeição é parte da minha ideia de beleza: torna tudo único. E ironia, bem, é um toque sempre presente em meus trabalhos porque torna tudo mais agradável. O que é luxo para você? Minha ideia de luxo é ligada à simplicidade e beleza dos materiais naturais e das coisas feitas à mão. É uma questão de leveza, liberdade de viver, uma sensação que faz você se sentir à vontade. E como você avalia o que o design de mobiliário se tornou ao longo de todos esses anos? Deixe-me explicar um pouco melhor: estou falando do design ser mais democrático ou não ser democrático para a maior parte das pessoas no Brasil e na Itália, por exemplo. O que você acha disso? Ser designer significa dar forma a objetos do dia a dia, de um bule a um sofá, até uma máquina de lavar roupa. Não é necessariamente uma questão de valor monetário. Às vezes eu vejo um mesmo objeto em diferentes tipos de casas, em meio às coisas cotidianas, como se sempre tivesse estado lá, concebido exatamente para esse espaço. É a minha opinião pessoal sobre o bom design. Em que você está trabalhando atualmente? No design de interiores de um hotel em Florença, com um charme alegre e inesperado, e renovando o interior de um castelo histórico maravilhoso na Toscana. E também estou criando novas coleções de mobiliários para áreas externas. Quais as maiores lições que você aprendeu com Alessandro Mendini, Ettore Sottsass e Andrea Branzi? Eles eram o lado antiacadêmico da arquitetura na Itália no final da década de 1970. Seus projetos visionários eram completamente 30 31 diferente do que eu havia estudado. Essa experiência foi muito significativa para mim e eu devo muito a todos eles. Muito da minha maneira livre e não convencional de pensar o design vem do meu envolvimento com Memphis e Alchimia. E quais lições você acha que ensinou para eles? Realmente acho que não tenho nada para ensinar. Só tenho aventuras criativas para compartilhar. É cristalino como as culturas asiáticas têm uma influência sobre o seu trabalho. A que se deve isso? E como você traduz esses valores em suas criações? Eu vivi no Sudeste Asiático por muito tempo. Como gosto de dizer, sinto que sou uma alma nômade que gosta de fincar raiz aqui e lá. E nesta parte do mundo minhas raízes foram mais profundamente. Sempre fui encantada pela riqueza de tradições manuais que encontro especialmente nos países dessa região da Ásia. Foi no Sudeste Asiático que muitos projetos meus ganharam vida. E nunca teriam dado certo se eu estivesse em Milão. Fale um pouco sobre sua obra para a Portobello. Foi uma chance maravilhosa de encontrar uma companhia que pensa como eu, para o novo morar contemporâneo. As coleções combinam com aquela ideia de uma residência alegre e leve, onde materiais tradicionais se tornam elementos surpreendentes e amigáveis, que podem ser interpretados de muitas maneiras. 31 32 Nomes brasileiros 32 33 “O design pode ser uma ferramenta para melhorar a vida das pessoas”, diz Humberto Campana Um dos maiores expoentes do design brasileiro, Humberto Campana falou sobre a trajetória e projetos de seu estúdio fundado há 35 anos em parceria com o irmão, Fernando, durante evento on- line na Expo Revestir 2021. Na apresentação, que passou por diversos projetos e linhas criadas pelos Irmãos Campana, Humberto deu alguns detalhes sobre a iniciativa mais recente: a construção de uma espécie de micro-inhotim no sítio da família em Brotas, no interior de São Paulo. “Antes da pandemia eu e o Fernando éramos nômades, viajávamos muito. E esse período nos fez rever muitas coisas. E então surgiu a ideia de construirmos uma fundação lá [no sítio]. Nesse verão plantamos 2 mil mudas de árvores nativas. Queremos criar um lugar onde arte, natureza e design convivam”, disse Humberto. Outra ideia é criar 12 pavilhões utilizando materiais naturais e um horto com árvores brasileiras, que Reflexões 33 (Fernando Laszlo/Divulgação) 34 seria uma das principais atrações do local, que eles pretendem abrir ao público para visitação. Reconhecidos internacionalmente pelo trabalho de design-arte, Humberto resgatou memórias de projetos e produtos realizados. Um deles foi o da coleção “Detonado”, de móveis que usam madeira Feijó e palha, no que ele definiu como uma “desconstrução do móvel moderno brasileiro”. “Meu sonho quando criança era ser índio. Eu ia para a escola sem sapatos até os sete anos de idade. Queria morar na Amazônia, sempre gostei de árvores e de plantar. E, na maturidade de certa forma estou realizando isso com projetos em que trabalho com palha e piaçava”, confidenciou. Humberto Campana falou ainda sobre a instalação realizada por eles em 2019 na Universitá Statale, em Milão, com grandes arcos e cones de grama, onde as pessoas pudessem se encontrar para um descanso. “As fibras e as plantas são o futuro. Isso cura e permite melhorar a vida das pessoas”. Resgatar tradições e gerar impacto social são outros benefícios gerados pelo design, crê Humberto. Ele relembrou o trabalho realizado pela dupla em 2006, a cadeira Paraíba, com bonecos artesanais produzidos na Comunidade de Esperança. Os bonecos sobrepostos e o padrão único gerou um sucesso estrondoso, o que aumentou as vendas dos artesãos. “Depois de um tempo eles nos ligaram dizendo que a gente tinha melhorado a vida deles. Com o dinheiro das vendas eles construíram um galpão maior para produção, e foi aí que caiu a ficha. O design também resgata tradições”. 34 35 “A estrela do projeto é o morador, e não o arquiteto”, sentencia Maurício Arruda Uma das falas mais surpreendentes de toda a Expo Revestir 2021 e seus eventos paralelos foi a palestra do arquiteto Maurício Arruda durante o Archtrends Portobello 2021. O arquiteto paranaense, radicado em São Paulo, reconhecido pelas transformações que liderou ao longo de cinco anos à frente do programa Decora, do canal Metodologia de projeto GNT, destacou logo no início: “O cliente é mais importante do que eu. O morador, e não o arquiteto, é a estrela do projeto.” E a partir dessa constatação pessoal, Arruda compartilhou de forma bastante transparente a metodologia de desenvolvimento de projeto de seu escritório, que tem como peça central a questão do colaborativo e uma maior participação do cliente nas tomadas de decisões. (Reprodução/Instagram) 36 “Isso mudou a nossa maneira de projetar, transformou e otimizou processos, colhemos frutos econômicos, potencializou a maneira de criar e permitiu que lançássemos um novo produto dentrodo escritório”, resume o arquiteto. Mas essa visão foi surgindo e foi amadurecendo, segundo Arruda, com o programa de TV que ele comandou no GNT. Para dar conta de apresentar sempre ideias e soluções novas todas semanas ao longo de cinco anos, ele percebeu que deveria escutar mais o morador, focar mais nas histórias do cliente do que no repertório pessoal do arquiteto. “E ao mesmo tempo, meus sócios Fábio e Laís sugeriram para a nossa equipe do escritório fazer mais entregas e entregas menores, do que fazer menos entregas e entregas maiores”, conta. Qual a diferença? De acordo com Arruda, convencionalmente, o escritório reunia todas as informações, desenhava a planta, interpretava do ponto de vista deles e entregava as melhores soluções para o contratante. “Eram entregas grandes, em que o cliente tinha acesso a plantas e perspectivas renderizadas, que, na maioria das vezes, tinham que ser refeitas, reajustadas a pedido do morador. E isso dá trabalho. A remodelagem precisava ser toda refeita”, explica Arruda. Foi assim que ele percebeu que seria mais produtivo e mais interessante colocar o cliente em todas as etapas e ir entregando o projeto por partes. “Logo no início existe algo que a gente chama de reunião de decisões, e o cliente era chamado para colaborar com o projeto, ter poder de decisão”, relata. 37 “Confesso que eu fui o mais resistente em mudar a metodologia. Porque eu venho de uma escola em que o arquiteto é o protagonista e o solucionador de problemas. Eu achava que, se dividisse isso com o cliente antes da apresentação do projeto executivo, meu poder de venda seria menor. Achava que eu estragaria a surpresa do final. E fui percebendo, que o contrário acontecia”, confidencia, falando que se preocupava muito com a assinatura do profissional, com o projeto ter a sua cara, do Instagram ter fotos com uma única linguagem, uma mesma linha estética condutora. Hoje ele pensa diferente. “Hoje penso que o projeto tem que ficar com a cara do cliente, e uma heterogeneidade nas criações prova esse ponto”. E para isso o cliente precisa de opções. Arruda diz que atualmente primeiro o seu escritório faz plantas baixas, bidimensionais, e entrega junto ao cliente um caderno de referências. “E é bom deixar claro que a gente faz o que o cliente gosta, e não o que ele quer. É bem diferente”, frisa. Os arquitetos e Arruda leem as informações, filtram tudo e mostram sempre dois projetos com soluções diferentes, cortinas diferentes, camas diferentes. “De cara chamamos o cliente para decidir junto. Ele pode escolher um mix desses dois, um item de um e o resto de outro, enfim. Isso já é muita informação, porque passa pelo entendimento de quem ele é, de como se vê, de como vê a casa dele”. “O cliente entende que essa é a fase para tomar decisões. Porque durante a obra não é o momento mais para isso, com exceções de surpresas que podem acontecer nos canteiros”, diz, lembrando que no passado muitos clientes queriam mudar muitas coisas na obra justamente porque não tiveram espaço para decidir durante o projeto. Depois dessa configuração, eles fazem as maquetes 3D, sem cor, só volumétrica, de todos os ambientes. E não renderizam. Mostram imagens renderizadas de outros projetos que tenham soluções parecidas. “A gente explica para o cliente que renderizar é trabalhoso e que isso sairá mais caro para o escritório e para ele”, destaca. “Então, a gente deixa isso para o final, uma vez que vários detalhes ainda podem mudar”. É nesse momento da maquete que o cliente escolhe peças de gosto pessoal, e o escritório oferece um caderno de opções com peças que cabem no bolso e no orçamento do cliente. E tudo isso, segundo Arruda, ajuda com que cada vez menos seja necessário refazer etapas, o que torna os processos mais lucrativos e assertivos. 38 “Quando o arquiteto é protagonista, ele gosta de fazer surpresa com o projeto executivo. Ele chega e diz: ‘Vai ser assim”’. E espera que o cliente faça um UAU. Mas o uau nem sempre vem, e o arquiteto fica boiando. Por que não consegui seduzir? Meu projeto é tão maravilhoso e impecável!”, brinca Maurício. “Isso acontece porque o cliente não se viu ali, não participou o suficiente. Quando participa, o uau vem muito mais”, garante. Outro detalhe que eles mudaram é o moodboard. Muitos escritórios utilizam a ferramenta no início do processo, na fase inspiracional. Mas Arruda passou a fazer o moodboard em uma fase mais madura do processo, depois que o cliente já validou vários elementos. E no final, entrega-se o projeto executivo. “Outra modalidade que surgiu é o projeto a distância, de um cômodo geralmente. São bem mais simples, tem um número de encontros menor com o cliente e a gente tenta enxugar ao máximo o custo do projeto”, compartilha. O escritório pede fotografias do espaço, ensina a própria pessoa a tirar medidas, e, a partir dessas informações, faz a planta. Depois há uma reunião de briefing e, após 10 dias, aproximadamente, o escritório apresenta uma maquete com projeto executivo. “Lembrando que nunca apresentamos uma proposta só. Damos opções e oportunidade de escolha no processo. O cliente faz a colagem que quiser”. E como garantir que a execução desse projeto mais simples será boa? Arruda diz que essa não é uma preocupação nesses casos porque, em geral, eles vão sendo feitos aos poucos, paulatinamente pelos moradores. 39 Economia e arquitetura 39 40 “Nossa recuperação não será extraordinária pela falta de rapidez na resposta à pandemia”, diz economista Pedro Malan A recuperação econômica - seja do Brasil ou em outros países do mundo - está atrelada sobretudo a uma vacinação em massa e rápida. Esse é um dos fatores elencados pelo economista Pedro Malan em live sobre o cenário macroeconômico na programação da Expo Revestir 2021. Cenário macroeconômico 40(Solange Macedo/Divulgação) 41 Doutor em Economia pela Universidade da Califórnia, Berkeley, Pedro Malan foi Presidente do Banco Central entre 1993 e 1994, época da implementação do Plano Real no Brasil, e Ministro da Fazenda nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (de 1995 a 2002). Foi ainda negociador-chefe da dívida externa (1991- 1993) e representante do Brasil na Diretoria Executiva do Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Washington. Durante a live, Malan explicou que a recuperação econômica do Brasil deve ser lenta e durará anos: para este ano, o crescimento deve ser de pouco mais de 3,20%. Em 2022, de acordo com o economista, as perspectivas não são melhores e o avanço deve ficar em 2,4%. Malan chamou a atenção ainda para a pressão inflacionária, que segundo ele pode chegar a até 7% em julho deste ano, o que aumenta o grau de incerteza da economia. Segundo ele, a demora no auxílio emergencial e a falta de comunicação clara com a população brasileira são outros aspectos que atrapalham o avanço. No entanto, o economista frisou que a demora das negociações na compra de vacinas - realizada tanto por países desenvolvidos como por emergentes no ano passado - é o que mais vai atrapalhar a recuperação. “Parte do mundo fechou contratos ainda em 2020. Um bom exemplo na América Latina é o Chile, que já vacinou uma parte expressiva de sua população. Não haverá recuperação significativa de qualquer economia sem que haja disseminação da vacina em uma parte expressiva da população”. Pedro Malan salientou ainda que a demora pela vacinação pode prejudicar o trânsito de brasileiros pelo mundo, já que existe uma preocupação global sobre a variante do coronavírus gerada no Brasil; hoje o país e considerado o epicentro da pandemia. “Quem está tentando viajar para fora sabe do receio de transmissão dessa cepa no resto do mundo”. Apesar do cenário macro desfavorável, Malan acredita que o setor de arquitetura e design continuará se beneficiando de novas tecnologias e do avanço do comércio digital. “Há uma inclusão de pequenose médios varejistas, além de clientes. Temos pessoas muito competentes na área de tecnologia no Brasil, assim como empresas que estão investindo. O Brasil mesmo com deficiências viu o quanto o seu sistema de saúde é eficiente, e que já vacinou mais de 2 milhões de pessoas por dia. Temos estrutura para isso”. 42 Lista 42 43 Assa Abloy @assabloybr rosane.davila@assaabloy.com ABD - Associação Brasileira de Design de Interiores @abd_oficial falecom@abd.org.br Abi Rochas @abirochas contatos@abirochas.com.br ANFACER @anfacer_oficial info@anfacer.org.br Aka Floor @akafloor_oficial akafloor@akafloor.com.br Apen Portas @apenportas marketing@apenportas.com.br ASPACER @aspacersincer comunicacao@aspacer.com.br ASPEC PVC @aspecpvc atendimento@aspecpvc.org.br Atlas - A Pastilha do Brasil @ceramicaatlas vendas@ceratlas.com.br B2B Master - Own Your Market Biancogres @briancogres Berneck @berneckoficial marketing@berneck.com.br Brasilit Saint-Gobain @brasilitoficial marketingppc@saint-gobain.com Castelatto @castelatto contato@castelatto.com.br Castelli Porcelanato @castelliporcelanato contato@castelli.com.br Ceusa @ceusarevestimentos atendimento.revestimentos@duratex.com.br Coral @tintascoral SAC: 0800-117711 Cortag @cortagoficial cortag@cortag.com.br Club & Casa Design @clubecasadesign daniela@clubecasadesign.com.br Deca @decaoficial deca@deca.com.br Decortiles @decortiles decortiles@decortiles.com.br Docol @docoloficial dresponde@docol.com.br Confira as marcas expositoras da Expo Revestir 2021: 43 44 Durafloor @durafloorbr atendimento.sac@duratex.com.br Duratex @duratex_pisosepaineis atendimento.sac@duratex.com.br Delta Porcelanato @deltaporcelanato exporevestir@deltaceramica.com.br Eucatex @eucatex_oficial atendimento@eucatex.com.br Ecophon Saint-Gobain @ecophon_brasil marketingppc@saint-gobain.com Elemental Revestimentos comercial@elementalrevestimentos.com Elettromec @elettromec marketing@elettromec.com.br to.sac@duratex.com.br Eliane @elianerevestimentos sac@eliane.com Embramaco Porcelanato @embramaco marketing@embramaco.com.br Grupo Elizabeth @grupoelizabeth emkt@grupoelizabeth.com.br Grau 10 Editora @revistaanamaco publicidade.revistaanamaco@gmail.com Grupo Linear @lineargrupo sac@grupolinear.ind.br Grupo Revenda @gruporevendaconstrucao carla.passarelli@revenda.com Hard Infinity comercial@hard.com.br Incepa @incepabrasil showroom.cl@br.roca.com Isover Saint-Gobain @isoverbrasil marketingppc@saint-gobain.com JSP @jspbrasil luiz.triozzi@jsp.com Kohler @kohlerbrasil marketing.brasil@kohler.com Lechler @lechler.br lechlerdobrasil@lechler.com.br Lorenzetti @lorenzettioficial SAC: 0800-0160211 Mercedes-Benz @mercedesbenz_caminhoes bra.enquires@cac.mercedes-benz.com Mosarte @mosarte mosarte@mosarte.com.br Nina Martinelli @ninamartinellioficial atendimento@ninamartinelli.com.br Obi @obidaterra obi@salema.com.br 44 45 Owa Brasil @sonexoficial marketingppc@saint-gobain.com Portinari @ceramicaportinari televendasportinari@duratex.com.br Portobello @portobello revestir@portobello.com.br Pormade Portas @pormadeonline.oficial sac@pormadeonline.com.br Placo Saint-Gobain @placodobrasil marketingppc@saint-gobain.com Promob - Software Solutions @promobbrasil promob@promob.com Portinari @ceramicaportinari televendasportinari@duratex.com.br Portobello @portobello revestir@portobello.com.br Promob - Software Solutions @promobbrasil promob@promob.com Quartzolit @quartzolit Roca @roca_brasil contato.br@br.roca.com Revista Projeto assine@revistaprojeto.com.br Roca Cerâmica @rocaceramicabr showroom.cl@br.roca.com SCGÁS - Companhia de Gás de Santa Catarina @scgasoficial gemac@scgas.com.br Santa Luzia @santa.luzia marketing@industriasantaluzia.com.br Semana Criativa de Tiradentes @semanacriativadetiradentes Soul Design Summit @casaclubedesign daniela@clubecasadesign.com.br Strufaldi Pastilhas Cerâmicas @strufaldipastilhas contato@strufaldi.com.br Tarkett @tarkettbrasil julia.greghi@tarkett.com The Tiles Ofindia @thetilesofindia info@thetilesofindia.com Tile Brasil @tilebrasil tiilebrasil@menasce.com.br Tramontina @tramontinaoficial atendimento@tramontina.com 45 46 Expediente Textos: Sharon Abdalla, Luan Galani e Isadora Rupp, especial para HAUS Edição: Isadora Rupp (colaboração para HAUS) Coordenação geral: Daliane Nogueira Diagramação e projeto gráfico: Daniel Nardes 47 Obrigado! Expo Revestir 2021 LANÇAMENTOS E TENDÊNCIAS DA FASHION WEEK DA ARQUITETURA Um projeto: Patrocínio de cobertura:
Compartilhar