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ESTUDO DIRIGIDO – PSICOLOGIA SOCIAL I 1) Descreva o processo de constituição da Psicologia Social enquanto disciplina independente, pensando sobre seu objeto de estudo e nas diferentes influências no campo da Psicologia e da Sociologia para sua constituição. 2) A Psicologia Social possui uma multiplicidade de perspectivas para a compreensão da relação entre indivíduos e sociedade, sendo que podemos agrupar estas perspectivas em três vertentes principais: a Psicologia Social Psicológica, a Sociológica e a Crítica. Pensando sobre a Psicologia Social Psicológica, descreva suas principais características e estudos desenvolvidos por ela. 3) A Psicologia Social Psicológica teve seus estudos influenciados por diversas vertentes da Psicologia, como o Behaviorismo, a Gestalt e o Cognitivismo, o que significa que estes estudos partiam de diferentes perspectivas sobre o objeto a ser investigado e a forma de investiga-lo. Como o behaviorismo influenciou os estudos de P.S.P.? 4) Kurt Lewin mudou o paradigma de estudos sobre dinâmicas grupais. Se antes os grupos eram vistos como uma soma dos indivíduos presentes, a partir de sua teoria os grupos passaram a ser considerados enquanto uma entidade em si, com suas próprias características e funcionamento. Também desenvolveu estudos sobre diferentes tipos de liderança, e como estas lideranças influenciam no funcionamento destes grupos. Comente sobre as lideranças autoritárias, democráticas e laissez faire (“deixe ser, deixe fazer”), articulando suas principais características com as influências no funcionamento de grupos. 5) A Psicologia Social Sociológica tem sua fase de maior desenvolvimento após a crise da Psicologia Social dos anos 70, em que questionaram-se o aspecto individualista e universalizante de suas teorias, questionando sua relevância social. Nos Estados Unidos, tem como principal influência dos estudos do interacionismo simbólico de Mead. Explique a teoria do interacionismo simbólico na perspectiva deste autor. 6) A teoria das atribuições versa sobre nossa tendência de atribuir sentidos e causas aos nossos próprios comportamentos e aos comportamentos de outros. Que aspectos devemos observar para realizar atribuições? Como ocorrem os erros fundamentais de atribuição e quais são estes erros? 7) João tinha como objetivo de vida estudar para a residência em psicologia. Ele tem sentido uma enorme pressão para conseguir ser aprovado na prova, pelo fato de que sua família tem passado por muitos problemas financeiros, afetando todos os membros de maneiras diferentes. Por se sentir responsável por prover para sua família, João tem aumentado suas expectativas com relação a esta prova, o que, por um lado, o faz estudar mais, e por outro, prejudica sua atenção e foco na tarefa. Chegado o momento da prova, João não consegue a tão esperada aprovação, e sente-se muito mal pelo seu desempenho e pelo que isso significaria para sua família. Ao conversar com um amigo, João tenta compreender os motivos que o fizeram não ser aprovado na prova. Ele diz: “estive muito ansioso nos últimos tempos. Mesmo querendo muito passar na prova e tendo me esforçado para estudar os conteúdos, ainda assim não consegui compreendê-los, porque minha atenção estava nos problemas da minha família”. Pensando na história de João, responda: a) Pelos motivos apresentados por João, destaque os aspectos internos e externos que ele atribuiu para explicar o fato de não ter sido aprovado na prova. b) Como o fato de o João estar focado nos problemas de sua família interferiram na sua baixa compreensão do conteúdo? 8) Explique o que é a profecia auto-realizadora, pensando em um exemplo de como isso pode ocorrer. RESPOSTAS 1) A Psicologia Social tem como objeto de estudo a relação entre os indivíduos e a sociedade, entendendo como as pessoas e grupos se interrelacionam e se formam neste processo de interação. A Psicologia, por estudar o indivíduo, seu desenvolvimento e seus processos mentais, e a Sociologia, por estudar questões relativas à forma como as sociedades se desenvolvem e seu funcionamento, dão subsídios para que a psicologia social possa investigar como estes conceitos se relacionam. Ela seria, portanto, como uma ponte entre estas duas ciências, desenvolvendo conhecimentos importantes para compreender tanto aspectos mais individuais como também o funcionamento da sociedade. 2) A P.S. Psicológica diferencia-se de outras vertentes porque seus estudos têm como ponto de partida os indivíduos, seus processos e sua constituição a partir da presença de outras pessoas. Isso significa que esta vertente visa compreender de que maneira a existência do indivíduo é formada a partir da sua relação com pessoas mais próximas, como a vida social forma nossos aspectos mentais individuais. Para estudar estes processos, são desenvolvidos estudos sobre cognição e percepção social, sobre atitudes, sobre atribuições, influência dos grupos e suas normas na formação de normas individuais, dentre outros. 3) O behaviorismo influenciou os estudos iniciais da P.S.P. por entenderem esta área como parte das ciências naturais, e portanto, passíveis de observação, investigação e mensuração dos fenômenos investigado. A partir do método experimental, analisa os comportamentos observáveis das pessoas quando estão na presença de outras, com a proposta de mensurar estes comportamentos e estabelecer regras de funcionamento universais. 4) Para Kurt Lewin, a dinâmica do grupo é influenciada pela forma como a liderança deste grupo se porta. Uma liderança autoritária tem como característica ser inflexível, estabelecer as demandas a serem cumpridas de maneira unilateral, impedindo a livre expressão dentro dos grupos. Isso significa que a tarefa que o grupo deverá cumprir e seus objetivos são determinados por uma pessoa, enquanto as outras devem somente cumpri-las. O funcionamento do grupo, portanto, fica subordinado à esta liderança, sendo que seu funcionamento ficará engessado e não proporcionará uma mudança positiva e duradoura na dinâmica dos grupos. Já a liderança laissez faire se caracteriza por ser ausente, não colocar tarefas e nem parâmetros para sua realização, deixando a cargo dos membros do grupo fazerem aquilo que suas inclinações individuais os levarem a fazer. Neste modelo de liderança, há pouca adesão das pessoas na dinâmica do grupo, e a maior probabilidade é que este se desfaça por não haver um movimento que promova cooperação e comunicação entre as pessoas. A liderança democrática seria aquela que proporciona um funcionamento de grupo com comunicação livre e aberta, que direciona o grupo para a realização das tarefas de maneira compartilhada e cooperativa, e tem a possibilidade de promover o desenvolvimento de uma dinâmica de grupo produtiva e harmônica. 5) O interacionismo simbólico parte do entendimento do ato comunicativo como unidade básica do estudo da Psicologia Social. Compreendendo a linguagem em seu caráter inerentemente social, busca investigar como os indivíduos formam sua personalidade e suas concepções de si mesmos nas interações sociais, a partir da observação, internalização e assunção de papeis, normas e instituições sociais 6) Para atribuirmos causas a comportamentos, devemos observar tanto os fatores internos (referentes à aspectos internos da pessoa que emite os comportamentos) e externos (questões do ambiente ou contexto no qual acontecem estes comportamentos). Cometer um erro de atribuição significa observar somente componentes internos, ou somente os externos, sem considerar a forma como estes componentes se interrelacionam. Podemos cometer erros de tendenciosidade auto-servidora, atribuindo causas aos nossos próprios comportamentos de forma que nos protejam ou sirvam ao nosso ego. Também podemos cometer o erro de, diante de um mesmo comportamento,considerar só as questões internas de outras pessoas que agiram de uma determinada forma, enquanto que, diante do nosso comportamento, consideramos somente as questões externas que nos influenciaram. 7) a) Os aspectos internos apontados por João para compreender o motivo de não ter passado na prova dizem respeito à sua ansiedade alta pela pressão que vinha sentindo, reconhecendo seu grande esforço, mas compreendendo o fato de sua atenção estar voltada aos problemas da família. Os aspectos externos dizem respeito a estes problemas familiares e a forma como eles estavam atingindo as demais pessoas da família. b) O processo de memorização e inferência sobre os conteúdos estudados foram prejudicados pelo fato de que sua atenção, por ser limitada, estar voltada para outras coisas, e não para o conteúdo estudado. Voltamos a nossa atenção aos estímulos mais importantes para nós, e esta atenção influencia diretamente na forma como vamos memorizar diferentes estímulos e utilizá-los depois para fazer inferências. No caso do João, o conteúdo da prova não era o estímulo que mais se sobressaía, e por maior esforço que fizesse, ainda assim não era este o maior foco de sua atenção. Por isso, a memorização e compreensão do conteúdo estudado foram prejudicados. 8) A profecia auto-realizadora diz respeito ao processo de colocarmos uma expectativa com relação a um evento futuro e modularmos o nosso comportamento de acordo com a expectativa que criamos. Por exemplo, se determinamos que não vamos conseguir ser aprovados na prova de Psicologia Social pela certeza de que a prova estará muito difícil, podemos não estudar ou nos esforçar para garantir uma boa nota. No recebimento de uma nota baixa, a expectativa de que não seríamos aprovados é confirmada pelo nosso comportamento de não nos esforçarmos nos estudos. Perguntas e respostas – Panorama histórico da Psicologia Social P: Quais as principais diferenciações entre a Psicologia Social Psicológica e a Psicologia Social Sociológica? Cite alguns temas principais que cada perspectiva busca desenvolver. R: A Psicologia Social Psicológica é uma vertente que estuda sentimentos, pensamentos e comportamentos dos indivíduos na presença de outras pessoas, tendo como seu objeto de estudo principal os processos individuais que se desenvolvem nas interações. Esta vertente desenvolveu estudos sobre atitudes, formação e permanência de normas sociais, facilitação social, processos grupais, liderança, personalidades autoritárias, teoria das atribuições, percepção, dissociação cognitiva e cognição social. Já a Psicologia Social Sociológica estuda a experiência social de indivíduos fazendo parte de outros grupos, partindo da investigação sobre fenômenos sociais e sobre a linguagem enquanto fenômeno inerentemente social. Desenvolveu principalmente pesquisas sobre interacionismo simbólico, representações sociais e identidade social. P: A Psicologia Social Psicológica se desenvolveu, inicialmente, a partir das influências do Behaviorismo e da Psicologia experimental, tendo Floyd Allport como um de seus principais teóricos. Assinale a alternativa correta quanto a suas principais características: a) Focava em estudos sobre a linguagem e entendia o ato comunicativo como a unidade básica de estudo da Psicologia Social. b) Entende que o todo se difere das somas das partes deste todo, e foca em estudos sobre formação de normas e cognições. c) Parte da concepção da Psicologia enquanto uma ciência natural, focando em experimentos acerca dos comportamentos humanos observáveis. d) Tinha como foco de estudo as atitudes dos indivíduos, principalmente no que diz respeito às mudanças destas atitudes. Resposta: C P: Festinger (1957), a partir da influência dos estudos de Heider (1946), descreveu o fenômeno da dissonância cognitiva. Qual é este fenômeno, e quais as influências que adquiriu dos estudos de Heider? R: O estudo da dissonância cognitiva, desenvolvido por Festinger, diz respeito ao fenômeno de desequilíbrio cognitivo que é causado pela discordância entre nossas atitudes e nossas crenças. A influência de Heider parte de sua teoria do equilíbrio cognitivo, que versa sobre os seres humanos terem a tendência de sempre buscarem estabelecer um estado de equilíbrio entre processos cognitivos. Isto significa que, quando experimentamos dissonância cognitiva, teremos a tendência de ajustar nossas crenças ou nossas atitudes para que elas atinjam coerência e equilíbrio novamente. Questões – Cognição Social 1) O que seria a “Psicologia Leiga”? Como ela se diferencia dos conhecimentos da Psicologia Social? 2) As diferentes características da cognição social estão relacionadas entre si, como por exemplo, a questão de sermos avarentos cognitivos e a predominância dos processos automáticos, ou sermos agentes causais orientados por processos e termos uma orientação pragmática. Explique como estas características estão interrelacionadas. 3) O que são schemas? Como os schemas estão relacionados com as atribuições de causas que fazemos ao longo de nossa interação social? 4) Justin estava marcado para fazer um show, porém acabou não aparecendo. Seus fãs, sem entender a situação de início, logo já buscaram atribuir causas para seu comportamento. Uma fã diz: “ele deve estar doente”, outro diz “ele deve odiar o Brasil”, outra diz “a produção do evento deve ter irritado ele”. Classificando em termos de “locus, controlabilidade e estabilidade”, vamos classificar as inferências de cada fã. Fã 1: Fã 2: Fã 3: 5) Uma estudante da disciplina de Psicologia Social, ao receber o resultado da prova, não fica satisfeita com sua nota. Tentando compreender a causa de não ter tirando uma boa nota, começa a atribuir causas a isso: “eu prestei atenção nas aulas, mas não consegui ler os textos. Poderia ter me esforçado mais. Porém, estou com muitos problemas pessoais, e tem sido difícil me dedicar”. Classificando em termos de “locus, controlabilidade e estabilidade”, vamos classificar as inferências feitas pela estudante sobre as causas de não ter tirado uma boa nota. 6) Descreva como os processos de atenção, memória e inferência se relacionam na formação de nossas cognições sociais. Respostas: 1) As pessoas pensam sobre si mesmas, sobre outras pessoas e sobre a vida social o tempo todo. Nossas capacidades de cognição social passaram por um longo processo de desenvolvimento, ao longo de toda a nossa evolução enquanto espécie, para que pudéssemos compreender a nossa vida social e a nós mesmos. Este processo evolutivo foi marcado por uma complexificação de nossa vida social, demandando que desenvolvêssemos habilidades de compreender uns aos outros e a nós mesmos, que criássemos mecanismos cada vez mais sofisticados para organizar e transmitir informações sobre a nossa realidade e nossas interações sociais. A Psicologia Social é fruto também deste desenvolvimento, pois estuda os nossos processos de construção de nossas cognições sociais, estuda as interações dos indivíduos com outras pessoas, portanto, pega dados do senso comum para desenvolver seu conhecimento científico. Ela se diferencia da Psicologia Leiga pelo fato de que busca desenvolver explicações e instrumentos mais sofisticados para que possamos compreender os indivíduos e as interações, para que possamos realizar inferências com um grau cada vez maior de aproximação da realidade e da verdade. 2) Trocolli descreve diferentes características da cognição social para explicar o funcionamento dos seres humanos no que diz respeito a formação desta cognição. Sermos avarentos cognitivos diz respeito ao fato de que não utilizamos nossas capacidades cognitivas ao máximo o tempo todo, tendemos a economizar nossa energia e criar diferentes atalhos cognitivos para fazermos inferências sobre pessoas e situações de maneiras mais facilitadas emais rápidas. Lidamos com diferentes situações sociais que demandam que tenhamos respostas rápidas e automáticas para responder aos estímulos, ao invés de realizarmos uma longa consideração sobre todos os fatores envolvidos antes de nos comportarmos. O fato de, na nossa vida social, existir a predominância de processos automáticos vem do fato de buscarmos economizar energia nos nossos processos cognitivos, fazendo com que a nossa avareza nos leve a priorizar os esquemas automáticos em nossa interação com o mundo. O autor também descreve o fato de sermos agentes causais (nossos comportamentos sempre terem causas subjacentes) e orientarmos nossas ações a partir da elaboração de estratégias e preparações para realiza-las. Para isso, precisamos perceber os estímulos do ambiente, interpretá- los, armazenar estas informações em nossa memória, para resgatá-las quando for necessário para interpretarmos o mundo e sabermos as melhores formas de agir. 3) Os schemas dizem respeito às estruturas cognitivas compostas pelos conhecimentos que adquirimos no decorrer de nossa vida social, e a partir destes conhecimentos vamos elaborando diversas teorias e entendimentos sobre nós mesmos, sobre outras pessoas e situações. É a partir da construção destes esquemas internos que vamos adquirindo dados para realizar inferências sobre nossos comportamentos e dos outros, que podemos atribuir diferentes causas e explicações sobre o mundo social. 4) Fã 1: “ele deve estar doente”: locus: interno, estabilidade: instável, controlabilidade: incontrolável Fã 2: “ele deve odiar o Brasil: locus: interno, estabilidade: instável, controlabilidade: controlável Fã 3: “a produção do evento deve ter irritado ele”: locus: externo, estabilidade: instável, controlabilidade: incontrolável 5) “Poderia ter me esforçado mais”: locus: interno, estabilidade: instável, controlabilidade: controlável; “passando por problemas pessoais”: levanta-se questões sobre o que seriam estes problemas pessoais. Para garantirmos maior qualidade de nossas atribuições, é importante que tenhamos o máximo de informações possíveis sobre quais problemas pessoais seriam estes e qual o papel da pessoa que fala com relação a estes problemas. Podemos cogitar que estes problemas têm locus externo, se envolverem outras pessoas (família, amigos, relacionamento), ou interno, caso seja algum problema relacionado mais especificamente a sua saúde mental. Sua controlabilidade também pode ser analisada a partir de mais dados, pensando em qual o envolvimento da pessoa no problema específico, e se é possível que ela faça algo na situação ou não. Com relação a estabilidade, pelo fato de a pessoa dizer que tem sido difícil focar neste momento, podemos pensar que é um problema instável, que se intensificou neste momento e prejudicou seu foco. 6) Quando estamos diante de um estímulo específico, voltamos a nossa atenção para ele. Caso este estímulo esteja muito saliente no ambiente, ou caso tenhamos uma relação emocional com este estímulo, tendemos a prestar mais atenção a isso do que a outros estímulos que estiverem acontecendo. O grau da nossa atenção afeta, inclusive, em como vamos memorizar tais estímulos que se apresentam para nós. Existem estímulos que percebemos, mas não guardamos de maneira permanente na nossa memória, e existem outros que nunca esquecemos. Nesse processo de interação com o mundo social, a forma como percebemos pessoas e situações afetam como vamos internalizar as informações, e estas informações são essenciais para quando vamos fazer inferências sobre nossa vida social. Por sermos orientados por processos, a atenção, a memória e as inferências estão intimamente ligados e se interrelacionando constantemente em nossa cognição social.