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Análise do Comportamento e Aprendizagem Pierce & Cheney A Análise Experimental do Comportamento 1 2 1 Aprender sobre uma análise funcional do comportamento. Indagar sobre o método da análise experimental do comportamento. Focar nas drogas nas linhas de base comportamental. Aprender como delinear experimentos comportamentais. Descobrir como a percepção é analisada com princípios comportamentais. A análise experimental do comportamento (AEC) refere-se a um método para analisar relações comportamento-ambiente. Este método é chamado de análise funcional. A análise funcional envolve classificar o comportamento de acordo com suas funções de resposta e analisar o ambiente em termos de funções dos estímulos. O termo função refere-se ao efeito característico produzido ou por um evento comportamental ou ambiental. Uma vez que uma classificação confiável tiver sido estabelecida, o pesquisador utiliza métodos experimentais para mostrar uma relação causal entre o evento ambiental e uma resposta específica. Por causa deste método objetivo, os analistas do comportamento não precisam restringir os seus achados a uma ou a poucas espécies. Os princípios das relações comportamento–ambiente sustentam-se para todos os animais. Baseados nesta suposição, e por conveniência, os pesquisadores frequentemente utilizam sujeitos não-humanos como suas “ferramentas” para descobrirem princípios do comportamento. ______________________________________________________________ ANÁLISE FUNCIONAL DO COMPORTAMENTO ______________________________________________________________ 1 Pierce, W. D.; & Chenney, C. D. (2008). The experimental analysis of behavior. In Behavior analysis and learning. 4ª Ed. New Jersey: Psychology Press. Capítulo traduzido por Artur Evilásio Ribeiro do Valle Bezerra (Univasf) e revisado Leonardo Rodrigues Sampaio e Christian Vichi (Univasf) para fins didáticos da disciplina de Análise do Comportamento I do Curso de Psicologia da Univasf. Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 2 Existem duas maneiras de classificar o comportamento dos organismos: estruturalmente e funcionalmente. Na abordagem estrutural, o comportamento é analisado no que tange à sua forma. Por exemplo, muitos psicólogos do desenvolvimento estão interessados no crescimento intelectual das crianças. Estes pesquisadores frequentemente investigam o que uma pessoa faz em um determinado estágio do desenvolvimento. Crianças, pode- se dizer, demostram “permanência do objeto” quando elas procurarem por um objeto familiar que acabou de ser escondido. Neste caso, a forma da resposta, ou o que a criança faz (e.g., procura e encontra o objeto escondido), é o aspecto importante do comportamento. A estrutura do comportamento é enfatizada porque diz-se que ela revela o estágio subjacente do desenvolvimento intelectual. Note que neste exemplo a abordagem estrutural estuda o comportamento para extrair inferências sobre habilidades cognitivas internas hipotéticas. No capítulo prévio, nós observamos que os analistas do comportamento estudam o comportamento por ele mesmo e em seu próprio nível. Para manter a atenção focada no comportamento, tanto a estrutura quanto a função são inter-relacionadas. Isto é, uma forma particular de resposta é relacionada a seus efeitos característicos, resultados ou consequências. Por exemplo, uma pessoa pressiona o interruptor de uma luz com a mão esquerda, o polegar, dedo indicador e uma força particular. Esta forma, estrutura ou topografia de resposta ocorre porquê foi altamente eficiente em relação a outras maneiras de operar o interruptor. Portanto, a topografia (estrutura) de uma resposta é determinada pela função (efeitos ou consequências) deste comportamento. Funcionalmente falando, apertar o interruptor de maneira particular produz luz de uma maneira eficiente. No exemplo mais complexo de uma criança que encontra um objeto escondido, uma análise funcional sugere que este comportamento também produz algumas consequências específicas – a criança pega o brinquedo escondido. Ao invés de inferir a existência de algum estágio intelectual do desenvolvimento ou habilidade interna (como permanência do objeto), o analista do comportamento sugere que uma história de reforçamento Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 3 particular é responsável pela capacidade da criança. Presumivelmente, de uma perspectiva comportamental, uma criança que demonstra permanência de objeto (pesquisando por objetos quando eles não estão à vista) tem tido oportunidades numerosas para procurar e encontrar objetos perdidos ou escondidos. Uma vantagem desta consideração é que ela é testável. Uma mãe que amamenta seu recém-nascido frequentemente remove parte da roupa pouco antes de alimentar o bebê. Após alguma experiência, o bebê pode dar um puxão na blusa da mãe quando ele estiver com fome. Este é um exemplo potencial do condicionamento primitivo de procurar por objetos escondidos. Alguns meses depois, a criança pode inadvertidamente encobrir um de de seus chocalhos favoritos. Nesta situação, pegar o brinquedo reforça puxar para trás a cobertura quando as coisas estiverem escondidas. À medida que as crianças envelhecem são diretamente ensinadas a encontrar objetos escondidos. Isto ocorre quando são dados presentes para as crianças abrirem em seus aniversários e quando elas procuram por ovos de Páscoa. Uma análise funcional da permanência de objetos explica o comportamento apontando para seus efeitos usuais ou consequências. Isto é, a permanência do objeto ocorre porque procurar por objetos fora do campo de visão usualmente resulta em encontrá-los. Além disso, crianças que não têm este tipo de experiências ou outras semelhantes (brincar de pique– esconde) irão ter um desempenho inferior em um teste de permanência de objeto. Funções de Resposta Nem sempre o comportamento é composto por respostas discretas. Na verdade, é melhor considerar o comportamento como um desempenho que segue um estímulo específico e em algum ponto resulta em uma consequência particular (um sistema de notação memorável de três termos usado para explicar este arranjo é o A-C-C [A-B-C], que destaca antecedente, comportamento e consequência, como detalhado no capítulo 13.) Embora nós iremos usar o termo resposta ao longo deste livro, nem Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 4 sempre ele se refere a um movimento discreto como uma contração muscular ou pressionar de uma alavanca. Uma resposta é um conjunto integrado de movimentos, ou um desempenho comportamental, que é funcionalmente relacionado a eventos ambientais. Na verdade, alguns escritores têm se referido a um fluxo comportamental no qual eventos antecedentes e consequentes são inseridos. Funcionalmente, nós falamos de dois tipos básicos de comportamento: respondente e operante. Estas classes comportamentais foram brevemente discutidas no Capítulo 1 e serão retomadas ao longo do livro, mas aqui enfatizaremos a classificação funcional do comportamento. O termo respondente é utilizado para referir-se ao comportamento que aumenta ou diminui por consequência da apresentação do estímulo (ou evento) que precede a resposta. Dizemos que a apresentação do estímulo regula ou controla a resposta. O Comportamento respondente é eliciado, no sentido de que seguramente ocorre quando o estímulo é apresentado. O sistema de notações usado com o comportamento eliciado é E ->R [S->R]. O estímulo E causa (seta) a resposta R. A contração (e dilatação)da pupila é um comportamento respondente. Ela ocorre quando uma luz brilhante (de fora) é dirigida para o olho. A salivação é outro respondente que é eliciado pela comida na boca. O estímulo E (luz ou comida) elicia a resposta R (contração da pupila ou salivação). Por hora você pode considerar que respondentes são a atividade dos músculos lisos e das glândulas. Há outra ampla classe de comportamento que não depende de um estímulo eliciador. Este comportamento é emitido e pode (ou não) ocorrer com certa frequência. Por exemplo, crianças humanas emitem um padrão aleatório de sons vocais conhecidos frequentemente como “balbucio”. Estes sons contêm os elementos básicos de todas as línguas humanas. Pais falantes de Inglês prestam atenção e repetem o balbucio que soa como Inglês, e rapidamente o bebê começa a emitir mais sons do Inglês. Quando o comportamento emitido é fortalecido ou enfraquecido pelos eventos que seguem a resposta, ele é chamado de comportamento operante. Assim, operantes são respostas emitidas que ocorrem mais ou menos Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 5 frequentemente a depender das consequências que produzem. Para esclarecer melhor a sutil distinção entre comportamento emitido e operante, considere a palavra de ação caminhar versus a frase caminhar para a loja. Caminhar é um comportamento emitido, mas ele não tem função especificada. Em contraste, caminhar para a loja é um operante que é definido por pegar comida na loja. Bicar um disco é um comportamento emitido por um pombo, mas é um operante quando bicar o disco tiver resultado em comida. Geralmente, operantes são respostas que ocorrem na ausência de um estímulo antecedente óbvio; estas respostas tem suas frequências alteradas em função de seus efeitos ou consequências. Comportamentos operante e respondente frequentemente ocorrem ao mesmo tempo quando estamos lidando com um único organismo. Uma pessoa que sai de um cinema no meio de uma tarde ensolarada pode apresentar ambos tipos de respostas. A mudança da escuridão para a luz resplandecente eliciará uma contração pupilar. Esta atividade da musculatura lisa é uma resposta reflexa que decresce de acordo com a quantidade de luz que entra no olho. Ao mesmo tempo, a pessoa pode cobrir seus olhos com uma mão ou colocar um óculos de sol. Este último é um comportamento operante porque ele é fortalecido pela retirada da luminosidade – o estimulo aversivo. Em outro exemplo, você percebe que foi mal numa prova importante. A má notícia pode eliciar um número de respostas emocionais condicionadas como palpitações cardíacas, mudanças na pressão sanguínea, e sudorese. Estas respostas fisiológicas são provavelmente interpretadas como pavor ou ansiedade. A pessoa próxima a você pergunta no momento em que você lê os resultados da prova: “Como você se saiu no teste?” - Você diz: “Oh, não tão mal” - e caminha pelo corredor. Sua resposta é um comportamento operante que evita o embaraço de discutir a seu mau desempenho.. Apesar dos comportamentos operantes e respondentes usualmente ocorrerem no mesmo momento, nós normalmente os analisaremos de maneira separada para simplificar e esclarecer os fatores que controlam tais comportamentos. Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 6 Classes de resposta Quando uma pessoa emite um comportamento operante relativamente simples como vestir um casaco, a ação muda de uma ocasião a outra. O casaco pode ser colocado usando a mão esquerda ou a mão direita; pode ser pego pela gola ou levantado por uma manga. Às vezes um braço é inserido primeiro, enquanto que em outras circunstâncias os dois braços podem ser utilizados. Uma observação cuidadosa desta ação cotidiana revelará uma variedade quase infinita de respostas. O ponto importante é que cada variação de resposta tem o efeito comum de ficar aquecido vestindo um casaco. Para simplificar a análise, é válido introduzir o conceito de classe de respostas. Uma classe de respostas refere-se a todas as formas topográficas do comportamento que têm uma função similar (e.g., vestir um casaco para manter-se aquecido). Em alguns casos, as respostas em uma classe têm muita semelhança física, mas nem sempre isto acontece. A classe de resposta para “convencer um oponente” pode incluir gestos dramáticos, dar razões impactantes, e prestar atenção aos pontos de concordância. Para ser servido por um garçom, você pode chamá-lo enquanto ele está passando, acenar com sua mão no ar, ou pedir ao assistente que envie o garçom ou garçonete à sua mesa. ______________________________________________________________ ANÁLISE FUNCIONAL DO AMBIENTE ______________________________________________________________ No Capítulo 1, nós aprendemos que analistas do comportamento usam o termo ambiente para se referirem a eventos e estímulos que mudam o comportamento. Estes eventos podem ser externos ao organismo ou ser consequência da própria fisiologia interna. O som de um avião a jato passando sobre a sua cabeça ou uma indisposição estomacal podem ser ambos classificados como estímulos aversivos por conta de seus efeitos comuns sobre o comportamento. Isto é, ambos reforçam comportamentos que os removam. No caso de um jato passando, as pessoas podem cobrir Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 7 seus ouvidos; uma dor de estômago pode ser removida tomando um antiácido. A localização da fonte da estimulação, interna ou externa, não é uma distinção crítica para uma análise funcional. Existem, entretanto, problemas metodológicos com dores de estômago que podem não ser provocados por eventos externos como sons estridentes. Fontes internas de estimulação devem ser indiretamente observadas por meio do auxílio de instrumentos, ou ainda inferidos a partir de interações comportamento – ambiente observáveis. Evidências para a dor de estômago, além do relato verbal, podem incluir os tipos de comida recentemente comidas, a saúde da pessoa quando a comida foi ingerida, e sinais externos de desconforto no momento presente. Funções do Estímulo Todos os eventos e estímulos, sejam internos ou externos, podem adquirir a capacidade de afetar o comportamento. Quando a ocorrência de um evento muda o comportamento de um organismo, nós podemos dizer que o evento tem uma função de estímulo. Tanto o condicionamento respondente quanto o operante são maneiras de criar funções de estímulo. Durante o condicionamento respondente, um evento arbitrário como um tom, quando pareado com comida, elicia uma resposta particular, como a salivação. Uma vez que o tom se tornou efetivo sobre a salivação, diz-se que ele tem uma função de estímulo condicionado para a salivação. Na ausência de uma história de condicionamento, o tom pode não ter nenhuma função específica e assim não afetar o comportamento. Similarmente, o condicionamento operante geralmente resulta no estabelecimento ou mudança das funções do estímulo. Qualquer estímulo (ou evento) que se segue a uma resposta e que aumenta a sua frequência tem uma função reforçadora (ver Capítulo 1). Quando o comportamento de um organismo é reforçado, aqueles eventos que seguramente precedem as respostas passam a ter uma função discriminativa. Estes eventos definem a ocasião para o comportamento e são chamados de estímulos Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 8 discriminativos. Estímulos discriminativos adquirem esta função por predizerem (serem seguidos pelo) o reforço. No laboratório, as bicadas de um pombo à chave podem ser seguidas pela comida quando a chave estiver iluminada de vermelho,mas não reforçadas quando a chave estiver azul. Depois de algum tempo se diz que a cor da chave vermelha define a ocasião para a resposta. Na linguagem do dia a dia, a chave vermelha “diz” ao pássaro quando o bicar será reforçado. Mais tecnicamente, a chave vermelha é um estímulo discriminativo já que a probabilidade de reforçamento (e de bicar) é mais alta quando a chave estiver vermelha do que quando estiver azul. Isto é, o pássaro discrimina ou emite uma resposta diferencial para vermelho e para o azul. O conceito de função de estímulo representa um importante avanço na análise do comportamento. Humanos e outros animais evoluíram de tal maneira que podem perceber os aspectos do ambiente que foram importantes para sua sobrevivência. De todos os estímulos que possam ser fisicamente mensurados e sentidos por um organismo, em qualquer momento, apenas alguns afetam o comportamento (tem uma função de estímulo). Imagine que você está sentado em um banco de parque com um amigo num belo dia de sol. Os estímulos físicos incluem o calor, a corrente de ar, os sons e os aromas do tráfico, pássaros, insetos, o barulho das folhas, a pressão tátil de sentar, a visão de crianças jogando bola, pessoas caminhando no parque, as cores das flores, grama e árvores. Apesar de todos estes (e muitos mais) estímulos estarem presentes, apenas alguns afetarão seu comportamento, no sentido de que você irá virar seu rosto para sol, comentar sobre a beleza das flores, contorcer o nariz para o odor do escapamento, e olhar na direção de um caminhão de bombeiros que passa. Os estímulos remanescentes, neste momento, ou não têm função ou servem apenas como o contexto para aqueles eventos que terão função de estímulo. Classes de estímulos Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 9 Na seção anterior, observamos que respostas que produzem efeitos similares podem ser muitas e variadas. Para abarcar a variação das respostas em sua forma, os analistas do comportamento usam o termo classe de resposta. Estímulos que controlam comportamentos operantes e respondentes também variam de momento a momento. Quando o estímulos variam ao longo das dimensões físicas, mas tem um efeito comum sobre o comportamento, se diz que eles são parte de uma mesma classe de estímulos. Bijou e Baer (1978) usaram o conceito de classe de estímulo em uma análise do desenvolvimento infantil e observaram que: O rosto da mãe tem uma consistência razoável ao ponto de que podemos pensar que diferenciamos a face de nossa mãe da face de qualquer outro indivíduo. Mas observações cuidadosas mostram que ela às vezes está brilhando, às vezes empoeirada, às vezes molhada; ocasionalmente enrugada em suas linhas faciais, mas às vezes serena; a extensão dos olhos entre totalmente abertos e totalmente fechados, e assume uma ampla variedade de ângulos de preocupação; às vezes o cabelo cairá frente à face, às vezes não. Então deixe-nos lembrar que sempre que falarmos de estímulos, nós estaremos quase seguramente falando de classes de estímulos. (p. 25) É importante notar que uma classe de estímulo é definida inteiramente pelo seu efeito comum sobre o comportamento. Isto é, uma classe de estímulo não pode ser definida pela sua aparente similaridade com o estímulo. Considere as palavras entediante (boring) e desinteressante (uninteresting). No Inglês comum, dizemos que têm o mesmo significado. Na análise do comportamento, desde que estas palavras tenham efeito similar na pessoa que as lê ou ouve, dizemos que pertencem à mesma classe de estímulos mesmo que elas tenham dimensões físicas completamente diferentes. Outros estímulos podem parecer fisicamente semelhantes, mas pertencem a outra classe de estímulos, Por exemplo, cogumelos e cogumelos venenosos parecem de alguma forma semelhantes, mas para uma pessoa experiente que vive na floresta, estes estímulos têm funções diferentes – você pega e come cogumelos, mas evita cogumelos venenosos. Classes de estímulos reforçadores Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 10 O conceito de classe de estímulo pode também ser usado para categorizar consequências do comportamento. Quando o comportamento opera sobre o ambiente para produzir efeitos, ele é um operante; os efeitos que aumentam a frequência de resposta são uma classe de estímulos reforçadores. Algumas consequências fortalecem o comportamento quando elas são apresentadas, como dinheiro por um trabalho bem feito, e outros o fortalecem quando são removidos, como coçar uma coceira. Neste caso, nós podemos dividir as classes gerais de estímulos reforçadores em dois subconjuntos. Aqueles eventos que aumentam a frequência do comportamento quando apresentados são chamados de reforçadores positivos, e aqueles que aumentam a frequência do comportamento quando removidos são reforçadores negativos. Por exemplo, um sorriso e um tapinha nas costas pode aumentar a probabilidade de que uma criança complete sua tarefa de casa; assim, o sorriso e o tapa são reforçadores positivos. A mesma criança pode parar de protelar seu projeto da escola e começar a trabalhar nele quando um pai a repreende por desperdiçar tempo e o incômodo acabar quando a criança começa a fazê-lo. Neste caso, o reforçamento por trabalhar é baseado na retirada da repreensão e a reprimenda é o reforçador negativo. Estabelecendo Operações como Motivação As relações entre classes de resposta e estímulos dependem da amplitude do contexto do comportamento. Isto é, relações comportamento– ambiente são sempre condicionais – depende de outras circunstâncias. Uma das maneiras mais comuns de mudar as relações comportamento–ambiente é fazer a pessoa (ou outro organismo) experienciar um período de privação ou saciação. Por exemplo, um pombo irá bicar a chave por comida só estiver privado de comida por algum período de tempo. Mais especificamente, a contingência bicar-por-comida depende do nível de privação de comida. Michael (1982a) fez uma importante distinção entre as funções motivacionais e discriminativas dos estímulos. Naquele artigo, ele introduziu o Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 11 termo operação estabelecedora para referir-se a qualquer mudança ambiental que tenha tido dois eventos maiores: a mudança aumentou a efetividade momentânea do reforço que sustenta o comportamento operante; e a mudança aumentou momentaneamente as repostas que tinham no passado produzido tal reforço (ver também Michael, 1993, 2000). Por exemplo, a operação estabelecedora mais comum é a privação de reforçadores primários. O procedimento envolve reter o reforço por algum período de tempo ou, no caso da comida, até que o organismo alcance 80% do peso corporal em alimentação livre (ver Capítulo 5). Esta operação estabelecedora de privação tem dois efeitos. Primeiro, a comida se torna um reforçador efetivo para qualquer operante que a produza. Isto é, o procedimento de privação estabelece a função de reforço da comida. Segundo, o comportamento que tenha previamente resultado na obtenção de comida torna-se mais provável – na natureza, um pássaro pode começar a forragear em locais onde anteriormente encontrou comida. Formalmente, uma operação estabelecedora é definida como “qualquer mudança no ambiente que altere a efetividade de algum objeto ou evento como reforçador e simultaneamente altere a frequência momentânea do comportamento que tiver sido seguida por aquele reforçador” (Michael, 1982a, pp. 150-151). Operações estabelecedoras regularmente ocorrem na vida diária e dependem da história de condicionamento da pessoa. Por exemplo, se dizque comerciais de TV influenciam as atitudes das pessoas em relação um produto. Uma maneira de entender os efeitos dos comerciais de TV é analisá-los como operações estabelecedoras (tecnicamente, operações estabelecedoras condicionadas ou OECs [CEOs]). Neste caso, um comercial eficaz altera o valor reforçador do produto e aumenta a probabilidade de compra-lo ou utilizá-lo se estiver disponível. Por exemplo, produtores de leite anunciam o benefício de tomar leite gelado. Aqueles que são influenciados pelo comercial estão mais propícios a irem ao congelador e tomar um copo de leite. É claro, o efeito imediato do comercial esgota a quantidade de leite que você tiver, e eventualmente você comprará mais leite. Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 12 ______________________________________________________________ TÁTICAS DE PESQUISA COMPORTAMENTAL ______________________________________________________________ Para descobrir as relações elementares entre estímulos, respostas e consequências funcionais, os analistas do comportamento têm se baseado nos métodos experimentais desenvolvidos na biologia, medicina e análise do comportamento (Bernard, 1927; Bushell & Burgess, 1969; Johnston & Pennypacker, 1993; Sidman, 1960). Em 1865, o fisiologista Francês Claude Bernard delineou os objetivos centrais da análise experimental. Ele postulou que: Nós podemos alcançar o conhecimento de condições elementares definidas do fenômeno somente por uma via, pela análise experimental. A análise dissocia toda a complexidade dos fenômenos sucessivamente em fenômenos mais simples, até que eles estejam reduzidos, se possível, a apenas duas condições elementares. A ciência experimental, de fato, considera num fenômeno apenas as condições necessárias definidas para produzi-lo. (Bernard, 1927, p. 72) Em seu livro, Uma Introdução ao Estudo da Medicina Experimental, Bernard (1927) forneceu um exemplo clássico de análise experimental: Um dia, coelhos do mercado foram trazidos ao meu laboratório. Eles foram colocados sobre a mesa onde urinaram e aconteceu de eu observar que suas urinas estavam claras e ácidas. Este fato surpreendeu-me, pois coelhos, que são herbívoros geralmente tem urina turva e alcalina; ao passo que por outro lado, carnívoros, como os conhecemos, têm urina clara e ácida. Esta observação da acidez na urina dos coelhos deu-me uma idéia de que estes animais deveriam estar em uma dieta nutricional de carnívoros. Eu pressupus que eles provavelmente não haviam comido por um longo tempo, e que eles houvessem se transformado, em decorrência do jejum, em autênticos animais carnívoros, sobrevivendo de seu próprio sangue. Nada foi mais fácil do que verificar esta ideia preconcebida ou hipótese do que por meio de um experimento. Eu dei grama para os coelhos comerem e poucas horas depois, as suas urinas tornaram-se novamente turvas e alcalinas. Eu então os obriguei a jejuar e depois de vinte e quatro horas, ou trinta e seis horas no máximo, suas urinas tornaram-se novamente claras e altamente ácidas; então depois de comerem grama suas urinas tornaram-se alcalinas novamente, etc. Eu repeti este experimento muito simples um grande número de vezes, e sempre com o mesmo resultado. Eu então o repeti com um cavalo, um animal Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 13 herbívoro que também tem urina turva e alcalina. Eu descobri que, jejuando, assim como com os coelhos, produziu-se imediatamente acidez na urina, com um incremento na ureia que espontaneamente cristalizou-se por vezes na urina resfriada. Como resultado dos meus experimentos, eu cheguei à conclusão geral que até então era desconhecida, que todos os animais em jejum se alimentam de carne, fazendo então com que herbívoros passem a ter urina como a de carnívoros. Mas para provar que meus coelhos eram realmente carnívoros, uma contra prova foi requerida. Um coelho carnívoro teria que ser produzido através da alimentação com carne, de maneira que pudéssemos ver se sua urina passaria a clara, tal como era durante o jejum. Então, eu mantive coelhos sendo alimentados com bifes cozidos frios (os quais foram comidos muito bem quando nada mais lhes era dado). Minha expectativa foi então verificada, e a medida em que a dieta dos animais era mantida, eles mantinham suas urinas claras e ácidas (pp. 152-153) Bushell e Burgess (1969) produziram um esboço das táticas básicas da análise experimental usada por Bernard no experimento com os coelhos. O relato seguinte é amplamente baseado em seu esboço. Perceba que Bernard fez uma observação de que, para um fisiologista, parecia incomum e enigmático – a saber, que os coelhos do mercado tinham uma urina característica de carnívoros. Apenas um fisiologista treinado e familiarizado com carnívoros e herbívoros perceberia a anomalia da urina. A maioria de nós simplesmente correria para pegar um pano para limpá-la. A questão é que um pesquisador precisa ter uma íntima familiaridade com o assunto em questão para ser capaz de encontrar um problema significativo. Uma vez que Bernard identificou o problema, ele o postulou em termos de conjectura. A proposição do problema relatou o tipo da dieta em relação à química da urina. Isto é, jejuar resulta na sobrevivência do animal baseada em seus estoques corporais, e isso produziu acidez da urina. Por outro lado, quando herbívoros ingerem sua dieta usual de grama, suas urinas são alcalinas. Assim, há uma clara relação entre tipos de dieta e a natureza da urina do animal. Experimentalmente, a proposição de Bernard sugere que mudemos, manipulemos ou controlemos o tipo de dieta e mensuremos a química da urina. A condição que é mudada pelo experimentador (i.e., tipo de dieta) é chamada de variável independente (variável X) porque ela é livre para variar a critério do pesquisador. Bernard mudou a dieta do animal e mediu o Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 14 efeito na urina. O efeito medido em um experimento é chamado de variável dependente (variável Y), porque uma mudança nela depende de uma mudança na variável independente. O fato da urina ser ácida ou alcalina, (variável dependente) dependia da natureza da dieta (variável independente). A Figura 2.1 explica os termos utilizados nesta seção. O propósito de qualquer experimento é estabelecer uma relação de causa-efeito entre variáveis independentes (X) e dependentes (Y). Para estabelecer tal relação, o pesquisador precisa mostrar que as mudanças nas variáveis independentes estão funcionalmente relacionadas a mudanças nas variáveis dependentes. Isto é chamado de covariação observada nas variáveis X e Y. Além disso, o pesquisador deve mostrar que mudanças nas variáveis independentes precederam as mudanças nas variáveis dependentes. Ambas estas condições podem ser vistas no experimento de Bernard (figura 2.2). Na Figura 2.2, você pode ver que as mudanças entre jejuar e a dieta de grama seguramente alteram a química da urina dos coelhos. Assim, pode-ser Variável Independente Variável Dependente · O que é mudado em um experimento · O que é medido em um experimento · Variável X · Variável Y · Comumente chamada de causa · Comumente chamada de efeito · No experimento de Bernard, o tipo de dieta · No experimento de Bernard, a química da urina · Em experimentos comportamentais, mudanças no ambiente · Em experimentos comportamentais, o comportamento do organismo FIG. 2.1 Uma tabela dos termos científicos usada para discutir relações de causa-efeito. Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 15dizer que mudanças no tipo de dieta (a variável X) co- variam com o grau de acidez da urina (a variável Y da Figura 2.2). Lembre- se que Bernard mudou o tipo de dieta e então mediu seus efeitos na urina. Este procedimento de manipular a variável independente assegura que uma mudança em X (tipo de dieta) precede a mudança em Y (química da urina). Neste ponto, Bernard demonstrou duas das três condições importantes para a causação: (1) co-variação de X e Y; e (2) a variável independente precede a mudança na variável dependente. A questão central em todos os experimentos é a de que mudanças na variável dependente são causadas unicamente pelas mudanças na variável independente. O problema é que muitos outros fatores podem prouzir mudanças na variável dependente e o pesquisador precisa eliminar esta possibilidade. No experimento de Bernard, a mudança inicial de jejuar para a dieta de grama pode ter sido acompanhada por uma doença causada por grama contaminada. Suponha que a doença mudou a química da urina do animal. Neste caso, mudanças de jejum para grama, ou grama para jejum, irão mudar a química da urina, mas as mudanças serão causadas por uma doença desconhecida ao invés de pelo tipo de dieta. Isto é, a doença desconhecida confunde os tipos de efeito da dieta na acidez da urina. Neste ponto, pare de ler e olhe novamente a descrição de Bernard de seu experimento e para a Figura 2.2. Tente determinar como Bernard eliminou esta hipótese concorrente. FIG. 2.2 Os resultados dos experimentos de Bernard. Note que a mudança na dieta (variável independente) seguramente muda a química da urina (variável dependente). A cada vez que a dieta é mudada, a urina muda de ácida para alcalina. De Behavioral Sociology de R. L. Burgess e D. Bushell Jr., 1969, p.153. Copyright 1969 Columbia University Press. Reimpresso com permissão. Ácido Alcalino Tempo Jejum JejumGrama Grama Carne Fig 2.2 Os resultados dos experimentos de Bernard. Note que a mudança na dieta (variável independente) seguramente muda a química da urina (variável dependente). A cada vez que a dieta é mudada, a urina muda de ácida para alcalina. De Behavioral Sociology by R. L. Burgess e D. Bushell ,Jr., 1969, p. 153. Copyright 1969 Columbia University Press Reprinted with permission Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 16 Um procedimento para eliminar explicações concorrentes é a introdução e eliminação sistemática da dieta de grama. Perceba que Bernard retirou e introduziu a dieta de grama e depois repetiu esta sequência. Cada vez que ele introduz e remove a grama, uma mudança rápida ocorre de alcalina a ácida (e vice versa). Esta mudança rápida e sistemática torna improvável que uma doença explique os resultados. Como pode um animal recuperar-se e contrair uma doença tão rapidamente? Outro procedimento seria usar diferentes lotes de grama, porque é improvável que todos eles estivessem contaminados. Entretanto, o aspecto mais convincente do experimento de Bernard, em termos de eliminar explicações rivais, é seu procedimento final de introduzir uma dieta carnívora. A dieta carnívora é totalmente consistente com a alegação de Bernard de que os animais estivessem vivendo de seus estoques corpóreos e neutraliza a explicação rival de que estivessem doentes. De maneira geral, a inversão das condições e a adição da dieta carnívora ajudam a eliminar a maioria das explicações alternativas. O Delineamento de Reversão e a Análise do Comportamento O delineamento experimental de Bernard para fisiologia é comumente usado para estudar as relações comportamento–ambiente. É chamado de Delineamento de Reversão A-B-A-B e é uma poderosa ferramenta usada para mostrar relações causais entre estímulos, respostas e consequências. O delineamento de reversão é idealmente elaborado para mostrar que características específicas do ambiente controlam o comportamento de um único organismo. Este tipo de pesquisa é frequentemente chamado de experimento de sujeito único e envolve várias fases distintas. A fase A ou linha de base, mede o comportamento antes do pesquisador introduzir uma mudança ambiental. Durante a linha de base, o experimentador toma medidas repetidas do comportamento em estudo, e isso estabelece um critério contra o qual qualquer mudança (causada pela variável independente) possa ser avaliada. Seguindo a fase de linha de base, uma Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 17 condição ambiental é mudada (fase B) e o comportamento é repetidamente mensurado. Se a variável independente, ou condição ambiental, tem um efeito, então a medida comportamental (variável dependente) irá mudar (crescer ou decrescer). Ao mesmo tempo, como nós indicamos, o pesquisador deve excluir explicações rivais para a mudança no comportamento, tal como uma simples coincidência. Para fazê-lo, a linha de base é reintroduzida (A) e o comportamento é repetidamente mensurado. Quando o tratamento é removido, o comportamento deve retornar ao pré-tratamento ou aos níveis da linha de base. Finalmente, a variável independente é mudada novamente e o comportamento é cuidadosamente medido (B). De acordo com a lógica do delineamento, o comportamento deveria retornar a um nível observado na fase B inicial do experimento. Esta segunda aplicação da variável independente ajuda a assegurar que o efeito comportamental é causado pela condição manipulada. Um exemplo do Delineamento de Reversão, tal como usado na análise do comportamento pode ser visto no experimento conduzido por Goetz & Baer (1973). Os pesquisadores estavam interessados no jogo criativo de crianças e no papel do reforçamento para este comportamento operante. Se dizia que várias meninas de quatro anos de idade em uma pré- escola não tinham “habilidade criativa” na construção de blocos. Uma medida do comportamento criativo é o número de diferentes formas que uma criança constrói com blocos, durante uma sessão de brincadeira (diversidade de formas). Os pesquisadores imaginaram se a atenção positiva do professor poderia funcionar como reforçamento para construção de novos blocos (o problema experimental). Durante a fase de linha de base, o professor observou às crianças de perto, mas não disse nada sobre a maneira como elas usavam os blocos. Após as medidas da linha de base sobre a diversidade de formas terem sido tomadas, o pesquisador então reforçou socialmente a construção de novos blocos. O professor comentou com “interesse, entusiasmo e apreço toda vez que a criança colocou e/ou reorganizou os blocos de maneira a criar uma Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 18 forma que ainda não havia aparecido previamente” (Goetz & Baer, 1973, p.212). A diversidade das formas foi avaliada por várias sessões como efeito deste procedimento. Para estar certo de que o procedimento de reforçamento foi responsável pelo aumento na diversidade, Goetz & Baer alteraram a contingência entre a atenção do professor e a construção de blocos. Durante esta fase, a criança foi reforçada a repetir uma forma que havia sido previamente construída. Assim, a similaridade da forma foi reforçada nesta fase. Finalmente, o reforçamento de diferentes formas foi reinserido. O resultado deste experimento para uma das três crianças (Sally) é apresentado na Figura 2.3. O delineamento experimental é um ensaio A-B-A-B reverso modificado. A linha de base fase (A) forneceu uma medida da diversidade de construção de blocos antes de qualquer intervenção do professor. Em seguida, uma contingênciade reforçamento foi organizada para novas formas de construção (B). Durante a terceira fase (C) do experimento, a contingência de reforçamento foi organizada para apoiar formas repetitivas. Finalmente, o reforçamento para novas construções foi reinstalado (B). A variável independente neste experimento é a contingência de reforçamento – contingência de reforçamento de originalidade versus FIG. 2.3 Um delineamento de reversão no qual os pesquisadores alteraram a contingência entre a atenção do professor e a construção dos blocos. Primeiro, uma medida de linha de base do comportamento (A) foi tirada por vários dias. Durante a segunda fase do experimento (B), a criança foi reforçada ((Rft) por variar uma forma (diversidade) que havia sido previamente construída. Depois, a criança foi reforçada por construir formas de blocos semelhantes (C) e, finalmente, a fase B foi reinstalada. Adaptado de “Social Control of Form Diversity and the Emergence of New Forms in Children’s Blockbuilding”, de E. M. Goetz e D. M. Baer, 1973 da Sociedade para Análise Experimental do Comportamento, Inc. Reproduzido com permissão. Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 19 contingência de reforçamento de repetição. A variável dependente é o número de diferentes formas que a criança produziu durante cada fase do experimento. Como você pode ver, a variável dependente seguramente muda na direção esperada com as mudanças na contingência do reforçamento (i.e., a atenção do professor pela diversidade ou repetição). O Delineamento de Reversão A-B-A-B é o modelo de pesquisa mais fundamental usado na análise experimental do comportamento. Existem, entretanto, dificuldades que podem torná-lo inapropriado para uma dada questão de pesquisa. Um dos maiores problemas é que o comportamento, uma vez mudado, pode não retornar aos níveis de linha de base. Considere o que pode acontecer se você utilizou uma técnica de reforçamento para ensinar um adulto analfabeto a ler. Você poderia medir o nível de leitura, introduzir sua técnica de leitura, e depois de algum tempo retirar o reforço para a leitura. É pouco provável que o estudante irá novamente tornar-se analfabeto. Em termos comportamentais, a leitura do estudante é mantida por outras fontes de reforçamento, tais como adquirir informação que permite ao estudante comportar-se eficientemente (e.g., ler um cardápio, sinais de trânsito, etc.). Outra dificuldade é que às vezes é antiético reverter efeitos de um procedimento comportamental. Suponha que um programa para eliminar o uso de craque funcione, mas os médicos que administraram o programa não estejam absolutamente certos de que o declínio no uso da droga seja causado pelo procedimentos de reforçamento. Seria altamente antiético remover e inserir a terapia de reforçamento para estar certo quanto à causa. Isto porque remover o procedimento de reforçamento poderia levar a um aumento no uso da droga. No entanto, quando esta e outras dificuldades não são encontradas, o Delineamento de Reversão A-B-A-B é um modo preferível de análise. Através deste livro, nós tratamos de pesquisas que utilizam o delineamento de reversão, delineamento de reversão modificado (por exemplo, acrescentar outras condições de controle), e outras formas de análise experimental. Nós nos concentramos no delineamento de reversão Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 20 porque demonstra a lógica básica da experimentação comportamental. A tarefa de todos os experimentos comportamentais é estabelecer com bastante certeza a relação de causa e efeito que controla o comportamento dos organismos. Baseada nestas relações causais, os analistas do comportamento procuram por princípios gerais que organizem achados experimentais (e.g., princípio de reforçamento). FOCO EM: Linhas de base operantes e neurociência comportamental Em dada condição, o comportamento que é reforçado de maneira particular (e.g., cada 10 respostas produz comida) torna-se bastante estável (baixa variabilidade) sobre sessões experimentais repetitivas. Um animal pode mostrar um leva de respostas seguidas por uma pausa (ou um tempo sem responder) e então uma outra leva. Este padrão pode ser repetido várias vezes, depois de longa exposição ao procedimento de reforçamento (chamado de desempenho de estados estáveis). Um desempenho estável sob uma contingência de reforçamento pode ser usada como uma linha de base para os efeitos de outras variáveis independentes. Isto é, quando o comportamento é muito estável, sob uma dada disposição do ambiente, é possível investigar outras condições que desestabilizem, aumentem ou diminuam o desempenho em estado estável de animais (Sidman, 1960). Reconhecendo esta vantagem, neurocientistas comportamentais frequentemente usam estados estáveis de comportamentos operantes como linhas de base (condições de controle) para investigar os efeitos de drogas no cérebro e no comportamento. Considerando as drogas e linhas de base, quanto mais estável a linha de base, mais fácil é detectar os efeitos de pequenas doses da droga. Se a resposta média de um animal para vinte sessões experimentais é de dez por minuto com uma amplitude de mais ou menos uma resposta por minuto (linha de base mais estável), uma dose menor de uma droga Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 21 mostraria o mesmo efeito que se a linha de base tivesse uma amplitude de respostas de mais ou menos cinco respostas por minuto (linha de base menos estável). Perceba que a mesma dose da droga que produz um efeito detectável para uma linha de base estável é chamada de inefetiva quando inserida numa linha de base menos estável. O ponto é que podemos detectar pequenos efeitos das drogas (e outras variáveis) se a linha de base operante é muito estável durante o desempenho em estado estável. Diz-se que linhas de base operante mostram sensibilidade às drogas. A sensibilidade de linha de base significa que uma pequena dose de uma droga tal como anfetamina (um agonista da dopamina) pode causar mudanças substanciais no comportamento em linha de base. Em contraste, a mesma linha de base operante pode não mostrar sensibilidade a doses de morfina (um agonista opióide). Uma implicação deste tipo de de achado é que a efetividade da contingência de reforçamento sobre o comportamento, pode envolver o sistema dopaminérgico mais que o opiáceo endógeno. Baseado nessa inferência os neurocientistas comportamentais podem adicionalmente explorar como o sistema dopaminérgico participa no controle do comportamento e que estruturas neurais estão envolvidas. Pesquisas subsequentes podem envolver estudos anatômicos e fisiológicos como também outros experimentos usando linhas de base comportamentais. Neurocientistas comportamentais têm utilizado linhas de base operantes para investigar o papel das drogas no comportamento punido (revisado por Sepinwall & Cook, 1978). Em uma série de experimentos clássicos, ratos em uma câmara operante foram treinados para responder a apresentações de leite condensado (Gelle & Seifter, 1960; Geller, Kulak & Seifter, 1962). Depois, quando um clique soava, cada pressão à barra resultava no leite e também em choque elétrico na grade do assoalho. Informação (registros cumulativos, ver Capítulo 4) de desempenho típico dos ratos mostrou que o responder foi bastante reduzido durante os períodos de punição. Uma série de drogas sedativas ou tranquilizantes foram então administradas e os achados mais interessantes foram os de que os tranquilizantes não afetaram a resposta geral ao leite, mas eles aumentaram Cap. 2 – AAnálise Experimental do Comportamento 22 o responder durante os períodos do choque/clique. O período de clique representa um conflito entre responder pelo leite (reforço positivo) e receber o choque elétrico (punição). Aparentemente, a classe de drogas chamada de tranquilizante previne os efeitos usuais da punição, enquanto outras classes de drogas usadas pelos pesquisadores não tiveram este efeito. ______________________________________________________________ PESQUISA DE SUJEITO ÚNICO ______________________________________________________________ Generalizar de uma pesquisa de sujeito-único é uma estratégia científica bem fundamentada. Um indivíduo único (rato, pombo, ou humano) é exposto a valores da variável independente, e o experimento pode ser conduzido com vários sujeitos. Cada sujeito replica o experimento; se há quatro sujeitos, a investigação é repetida quatro vezes diferentes. Assim, cada indivíduo adicional em um experimento de sujeito-único constitui uma replicação direta da pesquisa e acrescenta generalidade aos achados da pesquisa. A replicação direta envolve manipular a variável independente da mesma maneira para cada sujeito no experimento. Uma outra maneira de incrementar a generalidade de um achado é pela replicação sistemática do experimento. Replicações sistemáticas usam procedimentos que são diferentes mas logicamente relacionados à questão da pesquisa original (ver Sidman, 1960, para uma discussão detalhada da replicação sistemática e direta). Por exemplo, na pesquisa de Bernard com os ratos, mudar a dieta do jejum para a grama alterou a química da urina e pode ser considerado um experimento por si só. Alimentar os animais com carne pode ser visto como um segundo experimento – sistematicamente replicando a pesquisa inicial usando uma dieta de grama. Dada a hipótese de Bernard de que todos os animais jejuando tornam-se carnívoros, logicamente segue-se que carne deveria mudar a química da urina de alcalina a ácida. Num experimento comportamental, tal como o experimento de criatividade de Goetz e Baer (1973), os pesquisadores poderiam ter estabelecido generalidade usando uma tarefa diferente e um diferente tipo de Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 23 reforçamento (e.g., contato tátil como abraços). Aqui a ideia central é a de que a contingência de reforçamento é o fator crítico que produziu o aumento na construção de blocos criativos. Isto é, a mudança observada no comportamento não depende do tipo de atividade (construção de blocos) ou a natureza do reforçador (atenção positiva). Na verdade, muitos experimentos comportamentais têm mostrado que contingências de reforçamento generalizam-se entre espécies, tipos de reforçamento, adequações diversas e operantes diferentes. Generalidade e Pesquisa de Sujeito Único Um mal entendido comum sobre experimentos de sujeito-único é que as generalizações não são possíveis porque uns poucos indivíduos não representam a população maior. Alguns cientistas sociais acreditam que experimentos devam incluir um grande grupo de indivíduos para fazerem proposições gerais (chamados de delineamento estatístico de grupos). Esta posição é válida se o cientista social estiver interessado nas descrições do que o indivíduo médio faz. Por exemplo, a pesquisa de sujeito-único é inapropriada para questões como “Que tipo de campanha publicitária é mais efetiva para fazer as pessoas de Los Angeles reciclarem lixo?” Neste caso, a variável independente pode ser o tipo de publicidade e a variável dependente o número de cidadãos em Los Angeles que reciclem seus resíduos. A questão central está relacionada a quantas pessoas reciclam e um experimento de grupo é a maneira apropriada para abordar o problema. Analistas do comportamento estão menos interessados em efeitos agregados ou de grupo. Pelo contrário, a análise foca no comportamento do indivíduo. Estes pesquisadores estão preocupados com predizer, controlar e interpretar o comportamento de organismos únicos. A generalidade do efeito em um experimento comportamental é estabelecido por replicação. Uma estratégia similar é às vezes usada na química. O processo de eletrólise pode ser observado em uma amostra não representativa de água de Logan, Utah. Um pesquisador que siga o procedimento de eletrólise irá observar o Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 24 mesmo resultado em todas as amostras de água, sejam do Logan ou do Ganges. Mais importante, o pesquisador pode alegar – com base em um único experimento – que a eletrólise ocorre em toda a água, a todo tempo, e em todos os lugares. É claro, só a replicação do experimento irá aumentar a confiança nesta generalização empírica. FOCO EM: Avaliação da mudança de comportamento Experimentos de sujeito-único requerem um período de mensuração de linha de base de pré-intervenção. Esta linha de base serve como uma comparação ou referência para qualquer mudança subsequente no comportamento produzido pela variável independente. Esta linha de base é essencial para saber se sua variável independente tem algum efeito. Para construir uma linha de base apropriada, é necessário definir a classe de resposta objetivamente e claramente. No laboratório animal, a classe de resposta de pressionar a barra, é mais frequentemente definida pelo fechamento de um interruptor elétrico. Não há controvérsia sobre o estado do interruptor; ou está ligado ou desligado. Um animal pode pressionar a barra de muitas maneiras distintas. A pata esquerda ou direita pode ser usada bem como a pata traseira, o focinho e a boca. A questão é que não importa como a resposta é feita, todas as ações que resultarão no fechamento do interruptor definirão a classe operante. Uma vez que a classe de resposta esteja definida, o número de vezes que a resposta ocorre pode ser contado e uma linha de base construída. Fora do laboratório, classes de resposta são usualmente mais difíceis de definir. Considere que lhe peçam para ajudar a manusear o comportamento de uma criança problemática em um contexto de sala de aula. O professor reclama que a criança é inconveniente e interfere no seu ensino. Superficialmente, medir o comportamento inconveniente da criança parece fácil. Uma reflexão adicional, entretanto, sugere que não é fácil definir a classe operante. O que exatamente o professor quer dizer quando diz que Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 25 “a criança é inconveniente”? Depois de falar com o professor e observar a criança em sala de aula, várias respostas “inconvenientes” podem ser identificadas: a criança está frequentemente fora de sua cadeira sem permissão e no momento em que uma lição está sendo ensinada. Outro comportamento que ocorre é falar alto com outras crianças durante os períodos de estudo. Ambas estas respostas são mais claramente definidas do que o rótulo “disruptivo”, entretanto uma mensuração objetiva pode ser ainda difícil. Perceba que cada resposta é parcialmente definida por eventos prévios (permissão) e pela situação atual (períodos de estudo). Além do mais, termos como alto e fora da cadeira são de alguma forma subjetivos. Quão alto é alto, e sentar na beira da cadeia é fora da cadeira? A solução é continuar refinando a definição da resposta até que seja altamente objetiva. Quando dois observadores puderem concordar na maioria das vezes que uma resposta ocorreu, então a linha de base pode ser estabelecida. Além de definir a classe de respostas, a avaliação da mudança de comportamento requer alguma medida de variabilidade da resposta. Durante a linhade base, medições repetidas são feitas e o número de resposta é representado em um gráfico. A Figura 2.4 é um gráfico de um experimento idealizado para modificar o comportamento de sair da cadeira da criança no exemplo da sala de aula acima mencionado. Imagine que o professor é solicitado a prestar atenção e dar fichas à criança só quando ela estiver sentada quietamente em sua cadeira. Ao fim do dia escolar, as fichas podem ser trocadas por pequenos prêmios. Este procedimento altera o comportamento da criança? Os gráficos nas figuras 2.4A e 2.4B mostram duas linhas de base possíveis e os resultados da intervenção. Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 26 Compare sua avaliação do efeito do tratamento nas Figuras 2.4A e 2.4B. Você provavelmente julga que o procedimento de reforçamento foi efetivo no gráfico A, mas possivelmente não no gráfico B. O quê você supõe que levou à sua conclusão? Perceba que a série de valores na linha de base do gráfico A é bem pequena quando comparada ao gráfico B. O número de vezes que a criança está fora de sua cadeira não muda muito de um dia para o outro como mostrado no gráfico A, mas há uma variação substancial na linha de base do gráfico B. O efeito da modificação só pode ser avaliado a partir da linha de base. Como a linha de base do gráfico B é muito variável, torna-se difícil julgar se o procedimento de reforço tem um efeito. Se você tiver tido um curso de estatística, pode ocorrer-lhe que a dificuldade no gráfico B pudesse ser resolvida por um teste estatístico. Embora isto é possível, os analistas do comportamento tentariam outras táticas. Uma abordagem é reduzir a variabilidade da linha de base. Isto pode implicar em uma definição mais precisa da resposta “fora da cadeira”. Isto reduziria a variação introduzida pela mensuração imprecisa da classe de resposta. Outra estratégia razoável seria incrementar o poder da intervenção. Neste caso, o propósito é produzir uma mudança mais ampla no comportamento, em relação à linha de base. Por exemplo, os pequenos prêmios obtidos no fim do dia de escola podem ser mudados para itens mais valiosos. Percebam que estas estratégias levam ao refinamento em medidas FIG. 2.4 Compare sua avaliação do efeito do tratamento nos gráficos A e B. Repare que o alcance dos valores na linha de base do gráfico A é bem pequeno quando comparado com o gráfico B. O efeito de uma manipulação experimental só pode ser avaliado em comparação com uma linha de base. Devido a linha de base do gráfico B ser tão variável é difícil julgar se o procedimento de reforçamento teve um efeito. Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 27 e procedimentos usados no experimento. Isto aumenta o controle do experimentador sobre a questão, e este é um objetivo primário da análise experimental do comportamento. A avaliação de mudança de comportamento pode ser mais difícil se houver uma tendência nas linhas de base. Uma tendência é um declínio sistemático ou aumento nos valores das linhas de base. Um desvio nas medidas da linha de base podem ser problemáticas quando espera-se que o tratamento produza uma mudança na mesma direção que a da tendência. A Figura 2.5 é um gráfico do comportamento de falar alto da criança em nosso experimento hipotético. Perceba que o número de episódios de falar alto durante a linha de base começa em um nível moderadamente alto e decresce com o passar dos dias. Talvez os pais da criança estejam recebendo mais reclamações da escola e, ao passo que as reclamações se acumulam, eles pressionam mais a criança a “calar a boca”. A despeito do porque da tendência estar ocorrendo, espera-se que o procedimento de modificação decresça o falar alto. Como você pode ver na figura 2.5, a mudança continua ao longo do experimento e o declínio do falar não pode ser atribuído ao tratamento. Um desvio para baixo (ou para cima) na linha de base pode ser aceitável se espera-se que o tratamento produza uma tendência oposta. Por exemplo, uma criança tímida pode mostrar uma queda na tendência de falar com outros estudantes. Neste caso, uma intervenção poderia envolver reforçar o início de uma conversação pela criança. Dado que se espera que o tratamento aumente o falar, uma tendência em direção abaixo na linha de Fig. 2.5 Um desvio nas medidas de linha de base pode tornar difícil interpretar os resultados quando espera-se que o tratamento produza uma mudança na mesma direção que o desvio da linha de base. Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 28 base é aceitável. Geralmente, pesquisas de sujeito-único requerem uma ampla mudança no nível ou direção do comportamento em relação à linha de base. Esta mudança precisa ser claramente observada quando a variável independente é introduzida e retirada. SEÇÃO AVANÇADA: Perceber como um comportamento Mesmo que você faça o seu melhor para representar tudo o que você vê, será que isso é realmente tudo? E quanto ao canto dos pássaros? E o frescor da manhã? E a sua própria sensação de que de alguma forma está sendo purificado por tudo aquilo? Depois de tudo, a medida que você pinta, percebe estas coisas – elas são inseparáveis do que você vê. Mas como pode você capturá-las na pintura para que elas não se percam para que elas não se percam para alguém que a vislumbre? Obviamente elas precisam ser sugeridas pela sua composição e as cores que você utilizar – já que você não tem outros meios de transmitir-lhes. (Solzhenitsyn, 1973, p. 395) O conceito de função de estímulos levanta algumas questões interessantes. A maioria de nós acreditamos que percebemos precisamente o mundo ao nosso redor e somos capazes de relatá-lo com alguma fidelidade. Na linguagem cotidiana e na psicologia, percepção é um processo cognitivo implícito e inferido que determina o comportamento. Em contraste, a análise do comportamento sugere que perceber é um comportamento que precisa ser explicado por relações comportamento-ambiente. A típica abordagem da percepção é vista nas seguintes descrições retiradas de dois livros texto introdutórios de psicologia: A visão da percepção que tem sido mais ou menos dominante na psicologia pelos últimos 100 anos alega que nossas experiências ensinam-nos como fazer amplas inferências sobre o mundo a partir de informações sensoriais muito limitadas; e que muitas percepções são construções transformadas, ou sínteses de combinações de sensações mais elementares. Também se sustenta que estas inferências perceptivas são usualmente tão acuradas, altamente praticadas e quase automáticas que você está quase totalmente inconsciente de que as faz (Darley, Glucksberg, & Kinchla, 1991, p. 109) Percepção é o processo pelo qual nós organizamos e damos significado a massa de sensações que recebemos. Nossa experiência passada e nosso estado mental atual influenciam a Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 29 intrincada série de passos entre a sensação e a percepção. (Martin, 1991, p.126) Geralmente, estas passagens refletem uma visão da experiência humana que tem sido popular por séculos. A ideia básica é que receptores, como os olhos, ouvidos e língua estão constantemente recebendo e processando informações sensoriais que é um arranjo desorganizado de informação brutas. Se diz que a pessoa transforma as sensações ao organizar mentalmente as informações em uma representação significativa da situação. De uma perspectiva comportamental, a dificuldade com esta visão de percepção é que a organização mental e representação da informação sensorial não édiretamente observável. Isto é, não há maneira objetiva de obter informação de tal evento hipotético, exceto observando o comportamento do organismo. Tais construtos hipotéticos não são sempre indesejáveis à ciência, mas quando usados para explicarem o comportamento, estes termos geralmente carecem de poder explicativo porque eles estão baseados no próprio comportamento de que são usados para explicar. Este problema de poder explicativo é visto na explicação perceptiva do efeito de Stroop (Stroop, 1935). A Figura 2.6 dá um exemplo do efeito de Stroop que você pode tentar em si mesmo. Primeiro, olhe para os dois pontos sobre a linha no topo da figura. Agora, tão rápido quanto puder, diga bem alto se cada ponto está posicionado acima ou abaixo da linha – vá! Quantos erros você cometeu e quanto tempo levou? Ok, agora olhe as palavras ACIMA e ABAIXO pela linha no fundo da figura. Tão rápido quanto puder, diga se cada palavra está acima ou abaixo da linha – vá! Quantos erros você cometeu desta vez e quanto tempo levou? A maioria das pessoas se dá muito bem quando o problema envolve pontos (acima), mas tem um desempenho ruim quando têm que dizer a posição das palavras (abaixo). Porque você acha que é mais difícil resolver o problema com as palavras? Leia para descobrir. Uma explicação envolve percepção e cognição como no trecho seguinte: “...a altamente praticada e quase automática percepção do Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 30 significado da palavra [ACIMA ou ABAIXO] facilita a leitura. Entretanto, esta mesma percepção automaticamente torna difícil ignorar o significado e prestar atenção somente aos [posição da palavra] estímulos. Assim, o efeito Stroop é uma falha na seleção da percepção” (Darley et al., 1991, p. 112). De uma perspectiva da análise do comportamento, o relato precedente reafirma o fato de que seu desempenho é melhor com os pontos que com as palavras. O significado e atenção referidos à passagem são inferências do comportamento, sem evidências independentes para suas ocorrências. Sem evidência, a explicação da percepção seletiva não é satisfatória a um analista do comportamento. A pergunta é: Como a relação ambiente-comportamento controla o desempenho nesta tarefa? A primeira coisa a perceber é que todos nós temos extensa experiência em identificar a posição dos objetos como acima ou abaixo de um ponto de referência (a linha na Figura 2.6). Isto é, a posição do objeto ajusta a ocasião para a resposta do dizer “acima” ou “abaixo”. Nós também temos uma longa história de reforçamento para dizer as palavras ACIMA e ABAIXO; nos livros estas palavras correspondem à posição de objetos nas figuras, como em “o avião está acima do solo” ou “o sol está abaixo do horizonte”. Devido a esta aprendizagem, a posição física (localização do objeto X) e palavras escritas para posição (“acima/abaixo) controlam a classe FIG. 2.6 O efeito Stroop usando pontos acima e abaixo da linha (acima) e palavras por posição (abaixo). O problema da parte de baixo é mais difícil, no sentido de que a posição e a palavra (acima x abaixo) competem pela resposta, “dizer a posição da palavra”. Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 31 de respostas (“objeto X está acima [ou abaixo] do ponto de referência”). Quando palavras escritas para localização são apresentadas em posições que não correspondem à palavra (Palavra=ACIMA; Posição=abaixo), as duas propriedades dos complexos estímulos (palavra/posição) competem para as respectivas respostas. Baseado no controle simultâneo do comportamento por dois aspectos do estímulo misturados, o tempo para completar a tarefa aumenta e os erros ocorrem. Considere o que você poderia fazer se estivesse dirigindo e chegasse a uma intersecção com uma placa na forma de um hexágono vermelho com a palavra PROSSIGA pintada nele. Você provavelmente ponderaria o que fazer e exibiria respostas de “parar e seguir”. Ao invés de utilizar uma explicação baseada na percepção seletiva, o analista do comportamento apontaria a competição de resposta e a história de reforçamento como razões para a sua hesitação. Há outras implicações interessantes de uma análise funcional do perceber. Por exemplo, você anda em uma sala e olha ao redor, acreditando que está vivenciando a realidade. Mas o que você vê? Ver a si mesmo é algo que um organismo está preparado para fazer baseado em sua dotação genética, mas ver um objeto particular em uma dada ocasião pode ser analisada como um comportamento respondente ou operante. Isto é, observar um objeto ou evento é um comportamento que é eliciado pelo evento, tem alta probabilidade dadas as consequências passadas ou se torna provável dadas as condições motivacionais (e.g., fome, sede, etc.). Imagine que você foi acampar com vários amigos. Após jantar você decide entreter seus amigos contando uma história de horror sobre um assassinato a machado que ocorreu na mesma área alguns anos atrás. Um de seus companheiros está terminando de jantar, e o ovo frito em seu prato começa a parecer um olho gigante morto que está prestes a explodir com uma gororoba amarela “glop”. A medida que a noite avança, um outro campista ouve sons sinistros e começa a ver figuras se movendo nos arbustos. Nas palavras cotidianas seus amigos estão imaginando estes eventos. Comportamentalmente, a história assustadora pode ser analisada Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 32 como uma condição motivacional que momentaneamente aumenta a probabilidade de ver coisas que parecem ser ameaçadoras. B.F Skinner (1953) descreveu outras condições que afetam a visão como uma resposta condicionada. Ele afirmou que: A visão condicionada explica porque alguém tende a ver o mundo de acordo com a sua história de vida. Respondemos de maneira tão comum a certas propriedade do mundo que “leis da percepção” foram elaboradas para descrever o comportamento assim condicionado. Por exemplo, nós geralmente vemos círculos, quadrados e outras figuras completas. Uma figura incompleta apresentada sobre circunstâncias deficientes ou ambíguas pode evocar a visão de uma figura completa como uma resposta condicionada. Por exemplo, um círculo com um pequeno segmento faltando quando brevemente exposto pode ser visto como um anel completo. Ver um círculo completo seria presumivelmente não inevitável a um indivíduo cuja vida diária estivesse relacionada a lidar com círculos incompletos. (pp. 267-268) Skinner (1953) depois pontua que o condicionamento operante pode também afetar o que é visto: Suponha que reforcemos fortemente uma pessoa quando ela encontra um trevo de quatro folhas. A força ampliada de “ver um trevo de quatro folhas” será evidente de várias maneiras. A pessoa ficará mais inclinada a olhar trevos de quatro folhas que antes. Ela olhará em lugares onde tiver encontrado trevos de quatro folhas. Estímulos que se parecem com trevos de quatro folhas evocarão uma resposta imediata. Sob circunstâncias levemente ambíguas ela irá erroneamente pegar um trevo de três folhas. Se nosso reforçamento for suficientemente efetivo, ela poderá até ver trevos de quatro folhas em padrões ambíguos em tecidos, papéis de parede e assim por diante. Ele pode também “ver trevos de quatro folhas” quando não houver estimulação visual semelhante – por exemplo, quando seus olhos estiverem fechados ou quando ela estiver em uma sala escura. Se ele tiver adquirido um vocabulário adequado para auto-descrição, ele pode relatar isto ao dizer que trevos de quatro folhas “relampejam em sua mente” ou que ele “está pensando em” trevos de quatro folhas. (p. 271)Você deve perceber que ninguém sabe o que uma pessoa “vê”. O que nós sabemos o que quem percebe diz que vê. A pessoa nos diz que ela vê (ou não vê) alguma coisa e esta afirmação é por si mesma um operante; como um operante a afirmação verbal de ver “X” é controlada pela sua história passada de consequências (incluindo as consequências sociais fornecidas por outras pessoas). Eppling e Cameron (1994) relataram interessante exemplo do ver operante que apareceu no livro de Euell Gibbsons Perseguindo o Aspargo Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 33 Selvagem. Gibbons era um entusiasta quanto a comer aspargos selvagens e em uma viagem de pesca ele encontrou alguns bons jovens brotos de aspargos. Espiar estes brotos foi reforçado por procurar, ver, e descobrir outras moitas de aspargos: ...Eu estava caminhando por um cercado de uma vala de irrigação, em direção a um reservatório onde eu esperava encontrar alguns peixes. Aconteceu de olhar para baixo, eu espiei uma moita de aspargos crescendo no cercado do dique, com meia dúzia de pequenas, gordas lanças que eram justamente do tamanho certo para estarem no seu melhor tamanho ... Quando eu estava cortando este cacho, vi um outro com vários brotos ainda mais perfeitos. Alerta, eu mantive meus olhos abertos e logo encontrei um outro broto e então outro ... A esta altura eu percebi que um velho, seco, talo do último ano permanecia sobre cada broto de novos pontos de aspargos... Eu sentei no cercado da vala e por cinco minutos eu não fiz nada mais do que apenas olhar para um dos velhos ramalhetes de aspargos secos. Ele parecia bastante com as ervas daninhas mortas e plantas que o cercavam, e ainda assim havia diferenças. A planta de aspargo velha permanecia cerca de três pés de altura e tinha um talo central ou “tronco” de mais ou menos meia polegada de diâmetro que facilmente se distinguia das ervas daninhas com troncos em formato de garfo... Depois de armazenar o tamanho, cor e forma na minha mente, eu levantei e olhei de novo para a vala. No mesmo instante, eu vi uma dúzia de ramos de aspargos mortos que eu não havia notado. Eu voltei onde havia encontrado a primeira moita e andei vala abaixo novamente, e desta vez eu realmente repeti a colheita... Aqueles cinco minutos que eu [muitos anos atrás] gastei, concentrando-me em uma planta de aspargo morta, levou-me a muitas libras deste mais delicioso dos primitivos vegetais. O treinamento ocular que ele me deu perdurou até agora. Onde quer que eu dirija, num inverno tardio ou primavera antecipada, meus olhos automaticamente procuram hastes de aspargos mortos pelo acostamento e eu faço uma anotação mental quase inconsciente dos lugares onde as lanças verdes serão abundantes quando o clima quente chegar. (pp. 28-32) Psicólogos chamam estes efeitos visuais condicionados de “condição perceptual” ou “imagem de procura”. De fato, muitos psicólogos não consideram o ver com um comportamento operante ou respondente. Estes pesquisadores preferem estudar a percepção como um processo cognitivo que subjaz ao comportamento. Apesar da questão não ser resolvida aqui, Skinner deixa claro que analisar o ver como um comportamento é uma maneira de entender tais processos. Isto é, perceber pode ser tratado como uma detecção de sinal ao invés de estados ou processos mentais (Green & Swets, 1996). A análise do comportamento do ver (ou, mais geralmente, perceber) também se aplica a outras dimensões sensoriais tais como ouvir, sentir e cheirar. Perceba que tal análise refere-se ao perceber sem fazer referência a eventos mentais. Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 34 ______________________________________________________________ RESUMO ______________________________________________________________ Em resumo, este capítulo apresentou a ciência da análise do comportamento. Em particular, ela é a avaliação dos antecedentes e consequencias do comportamento como aspectos do ambiente que podem ser manipuladas e afetar o comportamento em questão. Inúmeros estudos formais e informais têm determinado que os eventos que seguem uma resposta específica irão influenciar se aquela resposta provavelmente ocorrerá novamente. Se uma resposta tem um resultado destrutivo, desagradável, doloroso ou mesmo não prazeroso um animal não irá repeti-la. Eles ou são mortos por comer plantas tóxicas, ou feridos, como quando tocam uma folha com espinhos afiados, e o comportamento se desvanece. A questão aqui é que os comportamentos têm funções no sentido de que alguma coisa acontece como um efeito. Nós somos moldados por um processo natural evolutivo para se comportar, andar, pegar coisas, vocalizar, etc. Nós olhamos à volta e vemos diferentes visões; o virar de nossa cabeça tem uma função – ele move nossos olhos para que vejamos em diferentes direções. Analistas do comportamento trabalham para descobrir as funções do comportamento e também fornecer funções que terminem criando novos comportamentos. Uma análise funcional é conduzida em vários procedimentos uniformes e com condições de eficácia comprovada. Uma tática importante é o delineamento de reversão A-B-A-B, por meio do qual o pesquisador determina se certa consequencia funcional (uma consequência aplicada) de fato controla o surgimento de um comportamento. Se um rato ganha uma pelota de comida por pressionar uma alavanca, o rato pressiona a alavanca e quando as bolotas de comida param de vir, ele para de pressionar. O comportamento dos organismos pode ser estudado objetivamente e cientificamente e eis o porquê de diversas questões serem descritas em Cap. 2 – A Análise Experimental do Comportamento 35 relação à sua replicação, validade, generalização, e avaliação. A análise experimental do comportamento é um conjunto de táticas sistemáticas para a exploração das variáveis de controle do comportamento. Palavras-chave Delineamento de reversão A-B-A-B Linha de base Sensibilidade da linha de base Função de estímulo condicionado Contexto do comportamento Contingência de reforço Variável dependente Replicação direta Função discriminativa Estímulo discriminativo Eliciado Emitido Ambiente Operações estabelecedoras Análise Funcional Generalidade História de reforçamento Construto hipotético Variável independente Reforçador negativo Operante Reforçador positivo Função de reforçamento Respondente Classe de resposta Pesquisa de sujeito único Desempenho em estado estável Classe de estímulo Função de estímulo Abordagem estrutural (para classificação do comportamento) Replicação sistemática Topografia Tendência (como na linha de base)
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