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DESAFIOS E DESESPERANÇAS ESCOLARES NOS SERTÕES DE CRATEÚS: DESCOBRINDO-SE AS POSSIBILIDADES DE MUDANÇA Antônia Gleiciane Silva Farias¹ Larissa Maria Matos Oliveira² Meire Nunes Viana³ Resumo: O presente artigo é um compilado das reflexões resultantes da disciplina de Práticas Integrativas em Psicologia Escolar do curso de Psicologia da Faculdade Princesa do Oeste, as quais foram realizadas em consonância com as teorias pedagógicas de Paulo Freire. A partir de visitas e observações em uma escola pública nos Sertões de Crateús, especificamente no ensino fundamental II, pudemos refletir sobre os desafios e desesperanças presentes no cotidiano dos alunos moradores de comunidades periféricas em nossa região, bem como dos professores, gestores e demais funcionários da equipe escolar, aos quais resta escolas com poucos recursos e estrutura física e humana para lhes garantir uma educação de qualidade. Para a fundamentação desta análise, nos baseamos no estudo das leis nacionais que abarcam a educação básica, a saber: LDB, ECA e PNE; construindo um paralelo entre os artigos e metas previstas nestas e a realidade do chão da escola pública. Partindo deste olhar, trazemos o contraponto de uma Pedagogia e uma Psicologia Escolar pautadas na esperança e na autonomia, como reflexão e inspiração, acreditando que a mudança é necessária e possível, apesar de todas as dificuldades. Palavras-chave: Psicologia Escolar; escola pública; legislação; autonomia-esperança. INTRODUÇÃO Escola é ... o lugar que se faz amigos. Não se trata só de prédios, salas, quadros, Progra semas, horários, conceitos... Escola é sobretudo, gente. Gente que trabalha, que estuda Que alegra, se conhece, se estima. ¹,² - Acadêmicas de Psicologia na Faculdade Princesa do Oeste (FPO). ³ - Psicóloga Escolar e Psicóloga Clínica (crp 11/919), graduada pelas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), Mestre em Políticas Públicas e Sociedade pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Especialista em Gestaltterapia pelo Instituto Sedes Sapientiaie/SP. Diretora e docente do Instituto Crisálide – Psicologia, Educação e Arte, atuando em consultoria educacional e projetos sociais. Atualmente docente do curso de psicologia da Uninta-Itapipoca e à época do estudo atuava como docente do curso de psicologia da FPO e orientadora deste estudo. O Diretor é gente, O coordenador é gente, O professor é gente, O aluno é gente, Cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor Na medida em que cada um se comporte Como colega, amigo, irmão. Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados” Nada de conviver com as pessoas e depois, Descobrir que não tem amizade a ninguém. Nada de ser como tijolo que forma a parede, Indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, É também criar laços de amizade, É criar ambiente de camaradagem, É conviver, é se “amarrar nela”! Ora é lógico... Numa escola assim vai ser fácil! Estudar, trabalhar, crescer, Fazer amigos, educar-se, ser feliz. É por aqui que podemos começar a melhorar o mundo. (Paulo Freire). O presente artigo é um compilado das reflexões resultantes da disciplina de Práticas Integrativas em Psicologia Escolar, as quais foram realizadas em consonância com as teorias pedagógicas de Paulo Freire. A partir do contato direto com o chão de uma escola pública nos sertões de Crateús, pudemos refletir sobre os desafios e desesperanças presentes no cotidiano dos alunos moradores de comunidades periféricas em nossa região, bem como de seus professores, gestores e demais funcionários, aos quais resta escolas com poucos recursos e estrutura física e humana para lhes garantir uma educação de qualidade. Partindo deste olhar, trazemos o contraponto de uma Pedagogia e uma Psicologia Escolar pautadas na esperança e na autonomia, como reflexão e inspiração, acreditando que “mudar é difícil, mas é possível” (Freire, 1996). A situação da educação brasileira atualmente, é uma consequência de seus acertos, equívocos, saltos e retrocessos; mas também das realidades em que esta está inserida, nos contextos mais plurais existentes no Brasil. É admissível que a sua difusão tenha sido ampliada nos últimos anos, porém a qualidade e efetivação da aprendizagem deixa a desejar, necessitando de cuidados para que possamos, de fato, efetivar a verdadeira formação do indivíduo enquanto sujeito pensante e autônomo (Feire,1996). O cumprimento de metas previstas em lei não condiz com os resultados presentes na realidade de nossa educação, como, por exemplo: segundo o que está previsto na constituição brasileira vigente, em seu artigo 205, ao concluir o ensino médio o indivíduo deve estar preparado para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, o que não se efetiva, na vasta maioria das escolas públicas. No decorrer da história educativa do Brasil, falta muito, ainda, para se chegar aos almejos previstos. Há lados positivos sim, como a criação de leis que preveem universalização da mesma abrangendo a diversidade. No entanto, os desafios enfrentados para a realização da letra da lei perpassam os vários aspectos da educação, desde quantidade insuficiente de verbas destinadas para este fim, até à base da educação, ou seja, o processo de ensino-aprendizagem e a relação professor-aluno. Parece-nos necessário fazer uma reflexão acerca da contextualização da educação, objetivando entender como esta caracteriza-se na realidade periférica de Crateús, partindo do ponto de vista freiriano, que, para ensinar, é preciso, antes de querer ser entendido, entender os que lhe escutam – suas vidas, realidades, dores (Freire, 1997). Na busca de possibilidades nesse espaço escolar, enquanto uma busca reflexiva, qualquer mudança que se pretende de uma determinada situação que não atende o que está previsto nas leis que regem esse campo, requer, antes de tudo, o conhecimento da realidade desse contexto. A PEGAGOGIA DA ESPERANÇA E DA AUTONOMIA Antes de adentrar os dados, análises e detalhes desta pesquisa, discorreremos sobre as contribuições fundamentais do brasileiro Paulo Freire, o qual dá as bases para a proposta de educação que defendemos neste texto. Em meados do século XX, o educador cunhava uma série de teorias, conceitos e métodos de educação que viriam a ser reconhecidos e aclamados mundialmente. Em plena ditadura militar, Freire ousa teorizar acerca de uma educação popular e contextualizada, pautada na leitura crítica da realidade e na formação de indivíduos questionadores. METODOLOGIA Este estudo aconteceu a partir da disciplina de Práticas Integrativas em Psicologia Escolar, na condição de Estágio Básico com a missão de oportunizar o contato com o campo da educação por meio de vinte horas de observação subdivididas em cinco visitas de quatro horas cada uma delas. As atividades se desenvolveram em dupla e ocorreram numa escola de ensino infantil e fundamental da rede municipal pública de ensino do município de Crateús, sendo que este estudo concentrou seu olhar sobre os fenômenos escolares nas series do Ensino Fundamental II. O principal objetivo do estudo concentrou-se em avaliar as condições educacionais oferecidas neste processo de aprendizagem, relacionando-as com a legislação básica que norteia o campo da educação brasileira, tais como a Leis de Diretrizes e bases da educação (LDB), o Plano Nacional de Educação (PNE) e o Estatuto da criança e do Adolescente (ECA), além do Plano Nacional de Educação Especial (PNEE). Ao final se estabeleceu identificar os eixos de possíveis intervenções em Psicologia Escolar a partir dos dados coletados, ficando evidenciado a carência de um trabalho motivacional junto ao corpo docente com vistas à não abandonar a esperança de uma pedagogia transformadora. QUE ESCOLA É ESSA? Uma escola pública da rede municipal de ensino infantil e fundamental do município de Crateús, localizado no sertão do Ceará. No que se refere a estrutura da escola,a mesma se apresenta em situação extremamente precária. Ao primeiro olhar, é possível observar a decadência do que um dia foi um belo prédio, pintura e reboco gatos, fios soltos por toda a escola, lâmpadas queimadas, ventiladores e bebedouros que não funcionam, há relatos de paredes e portas que "dão choque", além do desconforto advindo da ventilação insuficiente e de cadeiras desconfortáveis. Outra característica é a substituição de algumas salas para finalidade diversa do objetivo inicial, tal como as salas de informática, que são utilizadas como salas de aula, e a sala de leitura, que é utilizada para reforço escolar e não tem livros. A coloração cinza, o ambiente escuro e a precariedade dão a escola um permanente aspecto de abandono, que se reflete nos semblantes e na dinâmica das aulas; um aspecto permanente de desânimo e desesperança. Isso se imprime, também, de forma expressiva no quadro docente da escola, se encontra em permanente estado de cansaço, verbalizando, em alguns momentos, indicativos de desistência diante dos alunos. Algumas posturas, como comportamento alheio diante dos alunos; descrença na capacidade e interesse destes; desânimo e ausência de criatividade nas metodologias das aulas são características de uma maioria dos professores desta instituição. Quanto a isso, Freire (2002), discorre, de forma cabível: É uma pena que o caráter socializante da escola, o que há de informal na experiência que se vive nela, de formação ou deformação, seja negligenciado. Fala-se quase exclusivamente do ensino dos conteúdos, ensino lamentavelmente quase sempre entendido como transferência do saber (p. 28). E ainda: Ensinar exige alegria e esperança. Há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança de que professor e alunos juntos podemos aprender, ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos à nossa alegria (p.29). Não é, obviamente, um objetivo fácil de se conseguir, visto a própria dinâmica padrão de ensino no Brasil, que desencoraja a criatividade e insiste em metodologias ultrapassadas e conservadoras. Por que não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a violência é a constante e a convivência das pessoas é muito maior com a morte do que com a vida? Por que não estabelecer uma necessária “intimidade” entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? Por que não discutir as implicações políticas e ideológicas de um tal descaso dos dominantes pelas áreas pobres da cidade? (Freire 1996, p. 15). O educador fala sobre os professores. Nós ousamos ampliar esta reflexão a toda a escola: sua estrutura física, seus funcionários, seus alunos. Para a conquista da autonomia através da educação, é preciso que toda a escola se contextualize, desde o diretor até ao aluno mais jovem. Devido a estrutura secularmente autoritária de nossa educação, nossas escolas caem, muitas vezes, na armadilha do autoritarismo, sobretudo em escolas de regiões periféricas. Os discursos de militarização atualmente difundidos pelos governantes chegam, por vezes, como uma milagrosa e ilusória solução aos nossos gestores e professores, que, esquecendo-se de suas funções enquanto educadores, veem esperança nessas metodologias propostas. É o meu bom senso que me adverte de que exercer a minha autoridade de professor na classe, tomando decisões, orientando atividades, estabelecendo tarefas, cobrando a produção individual e coletiva do grupo não é sinal de autoritarismo de minha parte. É a minha autoridade cumprindo o seu dever. Não resolvemos bem, ainda, entre nós, a tensão que a contradição autoridade-liberdade nos coloca e confundimos quase sempre autoridade com autoritarismo, licença com liberdade (Freire, 1996, p. 25). No entanto, nem todos apresentam tais posturas, metodologias criativas, interação com os alunos, aulas divertidas, conteúdos contextualizados e aulas dinâmicas estão presentes nas aulas de alguns professores. É perceptível, nestes casos, a mudança nos comportamentos e semblantes dos alunos. Ao ouvir temas que lhe interessam diretamente na sala de aula, referindo-se sobre suas dificuldades e lhe oferecendo um caminho de esperança, os alunos se mostram felizes em participar da aula, mostram carinho pelo professor. Alguns projetos incentivam a produção científica dos alunos, como a participação em feiras de ciências e o cuidado do jardim da escola feito pelos próprios alunos. Esses exemplos, embora em menor número, são animadores e se mostram como um sinal de esperança nesta instituição. ANÁLISE INSTITUCIONAL A PARTIR DA LEGISLAÇÃO Sabemos que a evasão escolar no Brasil, é um problema antigo e perdura até os dias de hoje, embora existam leis que garantem o acesso e a permanência dos alunos neste ambiente, leis que estão presentes na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 205 na qual expressa que a educação é um direito de todos e como também na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9.394/1996 que rege as normas de todo nosso sistema educacional, em seu artigo 2º diz que é dever da família e do estado a educação com o pleno desenvolvimento do educando e igualdade de acesso e permanência na escola. Assim como existe as leis para garantir o acesso e permanência do aluno na escola, existe os fatores que induz este aluno a não querer ou poder permanecer na escola. Contrariando completamente o que rege essas leis, são apontados como fatores externos problemas relacionados as questões socioeconômicas e cultural (pobreza, trabalho, violência), a família e ao estado (legislativo, executivo e judiciário). Fatores estes que ajudam a contribuir para o fracasso escolar e até total evasão. Assim como, também os que são vistos como fatores internos, falta de profissionais qualificados, a carência de material didático, deficiência na estrutura física e pedagógica, a má qualidade de ensino, metodologia apática dentre outras, tudo isso faz com que a escola seja um agente contribuinte dos problemas de aprendizagem e do fracasso escolar. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no artigo 56, por exemplo, indica que uma das obrigações dos gestores do Ensino Fundamental é comunicar ao Conselho Tutelar a reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos escolares. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), no artigo 12 diz que, os estabelecimentos de ensino têm o dever de informar o pai e a mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento escolar dos alunos. Ainda de acordo com a LDB, nesse mesmo artigo, cabe às escolas encaminhar ao Conselho Tutelar, ao juiz competente da Comarca e ao respectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos com faltas acima de 50% do permitido em lei. Assim, os gestores devem não só entender as causas, mas também agir para evitar e reverter o abandono escolar, mas o que se percebe é que essas leis parece passar despercebidas por parte da escola, visto a tamanha infrequência que se dar nos âmbitos escolares de rede pública, e consequentemente não se ver a escola procurar práticas internas para tentar reverter o problema, pois falta um ambiente acolhedor, motivador e acessível a todos. Sendo escasso os recursos dentro da escola para reverter esse quadro, os fatores internos contribuem para o fracasso e evasão, tanto quanto os externos. De acordo com o Plano Nacional de Educação (PNE), em sua meta 7.4, apresenta ser necessário formalizar e executar os planos de ações articuladas dando cumprimento às metas de qualidade estabelecidas para a educação básica pública e às estratégias de apoio técnico e financeiro voltadas à melhoria da gestão educacional, à formação de professores e professoras e profissionais de serviços e apoio escolar, à ampliaçãoe ao desenvolvimento de recursos pedagógicos e à melhoria e expansão da infraestrutura física da rede escolar. Apesar dos esforços com a implementação de políticas públicas, tanto para a capacitação de professores como para gestão escolar, ainda há um número alto de crianças e adolescentes que se desinteressa ou até abandonam seus estudos devido vários fatores, e percebe-se diante observação da realidade escolar, que fatores internos como a falta de estrutura nas escolas, metodologias que dificultam a aprendizagem, o desanimo dos professores e demais profissionais da educação causam sim o desinteresse e apatia destes alunos, causando desmotivação por seus estudos, por a escola, enfim chegando até o abandono total. Dito o que está nessa meta do plano, a formação dos professores e dos profissionais escolares, como o desenvolvimento de recursos tanto pedagógico como físico, ainda não foi cumprido, precisando com urgência de ser colocado em prática, pois muito precisa ser revisto, repensado, reconstruído. Já na meta 7.13, coloca que deve se implementar o desenvolvimento de tecnologias educacionais e de inovação das práticas pedagógicas nos sistemas de ensino, inclusive a utilização de recursos educacionais abertos, que assegurem a melhoria do fluxo escolar e a aprendizagem dos (as) alunos (as). Entretanto esta é uma meta, que ainda não foi cumprida, no que se refere a esta escola observada, visto que a prática pedagógica ainda é deficiente e tradicional, sem o mínimo de inovações tecnológicas e pedagógicas. O que complementa a meta 7.31, que ressalta a promoção, prevenção, atenção e atendimento à saúde e à integridade física, mental e emocional dos (das) profissionais da educação, como condição para a melhoria da qualidade educacional. Então falta recursos físicos, humanos e didáticos pedagógicos, e políticas para promover e tratar a saúde física e mental do profissional da educação, já que os mesmos se encontram de forma vulnerável num sistema educacional deficiente e alienador, que segundo observações, foi percebido que os fatores externos contribuem para que seja desenvolvido os internos, já que os professores prestam queixas a todo momento da falta de apoio, para que seu trabalho seja desenvolvido dentro do que diz as leis. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir deste ensaio, objetivamos levantar as reflexões necessárias acerca dos objetivos centrais da educação no chão de escolas pública e das contradições presentes entre esse objetivo e a realidade concreta. Trazendo mais uma contribuição de Paulo Freire, nos questionamos: (...)não me parece possível nem aceitável a posição ingênua ou, pior, astutamente neutra de quem estuda, seja o físico, o biólogo, o sociólogo, o matemático, ou o pensador da educação. Ninguém pode estar no mundo, com o mundo e com os outros de forma neutra. Não posso estar no mundo de luvas nas mãos constatando apenas. A acomodação em mim é apenas caminho para a inserção, que implica decisão, escolha, intervenção na realidade. Há perguntas a serem feitas insistentemente por todos nós e que nos fazem ver a impossibilidade de estudar por estudar. De estudar descomprometidamente como se misteriosamente de repente nada tivéssemos que ver com o mundo, um lá fora e distante mundo, alheado de nós e nós dele. Em favor de que estudo? Em favor de quem? Contra que estudo? Contra quem estudo? (Freire, 1996, p. 31 e 32) A observação diante os fenômenos escolares na escola estudada foi de grande relevância para análise e reflexão destes fenômenos, nos proporcionando conhecimentos, que eventualmente sejam a marca da realidade da escola pública brasileira; fazendo um paralelo com as leis que rege nosso sistema educacional como forma de embasamento teórico, já que através da observação foi despertado o interesse de realizar um estudo de base teórica. Tivemos a oportunidade de avaliar as demandas que a escola apresentou como problemas, com o objetivo de encontrar caminhos, sobre estratégias e ações que podem ser desenvolvidas dentro desde contexto e que possa vir a promover a presença, a atenção, a aprendizagem e acima de tudo a motivação destes alunos prevenindo as possíveis evasões, desistências e o baixo rendimento. Identificamos como um desafio educacional envolver o professor em ações inovadoras e motivadora dos alunos visando alavancar o desenvolvimento destes, mas o que encontramos na maioria das salas foi um professor desmotivado para lidar com as questões que se apresentam. Pelo contrário, identificamos que este se coloca também na condição de vítima do fracasso escolar, sentindo falta de apoio, apresentando necessidade de auxílio e orientação sobre como conduzir o adequado processo de ensino e aprendizagem, além de outras questões transversais que se apresentam no contexto da escola. Diante deste cenário, a proposta de intervenção em Psicologia Escolar, consiste de um lado na realização de Oficinas Docentes na escola, pautadas principalmente em processos criativos e pedagogias alternativas, com vista à iniciação de uma pedagogia da autonomia e da esperança na escola, incluindo o debate sobre o que existe de previsto na legislação brasileira para o campo da educação, visando entre outras coisas debater sobre os caminhos possíveis para a integração das mesmas no cotidiano escolar rumo ao avanço da educação. De outro lado, criar um calendário de Rodas de Conversas Discentes, colocando na pauta temas de interesse dos alunos, tais como o protagonismo, a motivação e o projeto de vida. Preferencialmente envolvendo nestes momentos, docentes tanto para liderar como acompanhar os debates, e eventualmente promover com esta atividade também formação docente. Atualmente, em virtude da pandemia que se encontra mundialmente, a escola encontra mais um desafio, o ensino remoto chega com a perspectiva de mais desesperança e desmotivação. O professor que buscava no olhar do aluno mais uma esperança de poder caminhar juntos, o distanciamento social alarga essas fronteiras, e o professor mais uma vez se ver de mãos atadas, ao ser surpreendido com mais um desafio, que engloba tanto o social como o econômico e sem motivação se encontra em um território totalmente novo, sem acolhimento e sem poder acolher. Além do cenário de falta de perspectiva que se encontram antes, se verem em um novo modo de adaptarem a dura realidade do ensino no Brasil. O que fazer pra acolher formar e capacitar docentes para esse novo modelo de ensino? A partir disso, esperamos contribuir e construir junto aos sujeitos dessa escola novas possibilidades de ensino-aprendizagem neste contexto. Com todas as reflexões aqui levantadas, desejamos deixar a esperança de que, mesmo “’Programados para aprender’ e impossibilitados de viver sem a referência de um amanhã, onde quer que haja mulheres e homens há sempre o que fazer, há sempre o que ensinar, há sempre o que aprender.” (FREIRE, 1996, p. 37). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Lei n.13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF. 26 jun 2014. BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília, MEC, 1996. BRASIL. Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art266. Acesso: 15/12/2019. Conselho Federal de psicologia. Estatuto da Criança e do Adolescente: a psicologia escolar, o ECA e o enfrentamento à teoria do capital humano. Meire Viana - Conselho Federal – Brasília: CFP, 2016. 250p. FREIRE, P., Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa / Paulo Freire. – São Paulo: Paz e Terra, 1996. – (Coleção Leitura). Freire, P., Pedagogia da Esperança: Um reencontro com a Pedagogia do Oprimido/ Paulo Freire. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. Guzzo, R. S. L. (2005). Escola amordaçada: compromisso do psicólogo com este contexto. In A. M. Martínez (Org.), Psicologia escolar e compromisso social: novos discursos, novas práticas (pp.17-29). Campinas: Alínea. Guzzo, R. S. L. (2006). Rizoma freireano Rhizome freirean A escola. - n. 8. (1989). Instituto Paulo Freire de España. 2010. Disponivél em: http://www.rizoma-freireano.org/a-escola-paulo-freire. Acesso: 23/09/2020. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art266 http://www.rizoma-freireano.org/a-escola-paulo-freire
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