Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Professor: JULIANO YAMAKAWA LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL MUDE SUA VIDA! 1 LEI Nº 11.343/06 (LEI DE DROGAS) CONSTITUIÇÃO FEDERAL INTRODUÇÃO A repressão ao tráfico de drogas tem relevância constitucional, sendo disciplinado em diversos dos seus artigos, como se observa no esquema abaixo: Drogas na CF/88 Art.5º, XLIII: Equiparação aos crimes hediondos Art. 5º, LI: Extradição do brasileiro naturalizado Art. 144, §1º, I: Atribuição à PF de previnir e reprimir o tráfico de drogas Art. 226, §3º, VII: Proteção à criança e ao adolescente Art. 243, PU: Confisco de bem de valor econômico CRIME HEDIONDO (EQUIPARAÇÃO) O art. 5º, XLIII, da CF/88, tem a seguinte redação: Art. 5º, XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; É interessante observar que a Constituição alçou o tráfico ilícito de entorpecentes à condição de crime equiparado ao hediondo, ou seja, deve-se observar o mesmo tratamento dado aos tipos penais elencados na Lei nº 8.072/90 (Lei de Crimes Hediondos). Por tal razão, o aluno deve se atentar ao enunciado da questão, pois se o examinador afirmar que o tráfico de drogas é considerado crime hediondo, a assertiva estará errada. Trata-se de equiparação, já que tal tipo penal não consta no rol do art. 1º da Lei nº 8.072/90. MUITO IMPORTANTE – PACOTE ANTICRIMES Um tema que certamente será cobrado nos próximos concursos públicos é a descaracterização da hediondez no crime de tráfico privilegiado (art. 33, §4º, da Lei de Drogas). DÚVIDA: O tráfico privilegiado é equiparado ao crime hediondo? A resposta é NÃO. Não obstante a equiparação do tráfico de drogas ao crime hediondo, a jurisprudência dos Tribunais Superiores havia se firmado no sentido de afastar tal característica na hipótese de tráfico privilegiado. A ideia era simples, já que a figura típica do art. 33, §4º, da Lei de Drogas, apontava uma menor reprovabilidade do agente, não faria sentido impor o tratamento mais severo aplicável ao crime hediondo. Com o advento da Lei nº 13.964/19 (Pacote Anticrimes), tal entendimento foi positivado no art. 112, §5º, da LEP: Art. 112, § 5º Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste artigo, o crime de tráfico de drogas previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) TEMA DE APROFUNDAMENTO DÚVIDA: Todos os tipos penais da Lei nº 11.343/06 (Lei de Drogas) são equiparados aos crimes hediondos? ../_Ato2004-2006/2006/Lei/L11343.htm ../_Ato2004-2006/2006/Lei/L11343.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm Professor: JULIANO YAMAKAWA LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL MUDE SUA VIDA! 2 A resposta é NÃO. Apesar da omissão legislativa, a doutrina majoritária entende que configura tráfico de drogas os tipos penais elencados nos arts. 33, caput e §1º, e 34, da Lei nº 11.343/061. TRÁFICO DE DROGAS Art. 33, caput Art. 33, §1º Art. 34 EXTRADIÇÃO DO NATURALIZADO O art. 5º, LI, da CF/88, tem a seguinte redação: Art. 5º, LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei; Do dispositivo constitucional, percebe-se a gravidade do crime de tráfico de drogas, pois é a única hipótese que leva a extradição do brasileiro naturalizado após a sua naturalização. ATRIBUIÇÃO DA POLÍCIA FEDERAL MUITO IMPORTANTE O art. 144, §1º, II, da CF/88, tem a seguinte redação: Art. 144, § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) (...) II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; Por conta do dispositivo constitucional, o aluno pode chegar a equivocada conclusão de que cabe à Polícia Federal investigar toda e qualquer hipótese de tráfico de drogas. Ao contrário, a regra é que a investigação criminal do crime de tráfico de drogas seja da Polícia Civil. DÚVIDA: A quem é atribuída a investigação do crime de tráfico internacional de drogas? A resposta é da POLÍCIA FEDERAL. Por se tratar de crime de competência da Justiça Federal, é atribuição da polícia judiciária da União a investigação criminal. Dessa forma, há doutrinadores que entendem que o art. 144, §1º, II, da CF/88, se refere, especificamente, ao tráfico internacional, apesar da omissão do legislador constitucional. DÚVIDA: É atribuição da Polícia Federal a investigação do crime de tráfico interestadual de drogas? A resposta é, em regra, NÃO. O tráfico interestadual de drogas é da competência da Justiça Estadual, razão pela qual cabe às Polícias Civis dos Estados a apuração do ilícito. Contudo, excepcionalmente, caso haja a necessidade de repressão uniforme, o tráfico interestadual de drogas poderá ser investigado concorrentemente pela Polícia Federal. Em todo o caso, como dito acima, a competência será da Justiça Estadual, devendo eventual representação da autoridade policial ser endereçada a este juízo. CONFISCO 1 HABIB, Gabriel. Leis Penais Especiais. Vol. Único. 2019. Pág. 652. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc19.htm Professor: JULIANO YAMAKAWA LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL MUDE SUA VIDA! 3 O art. 243, parágrafo único, da CF/88, tem a seguinte redação: Art. 243, Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei. DÚVIDA: O confisco do bem apreendido exige a comprovação da utilização habitual ou de sua alteração para o tráfico de drogas? A resposta é NÃO. Segundo o STF2: “É possível o confisco de todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico de drogas, sem a necessidade de se perquirir a habitualidade, reiteração do uso do bem para tal finalidade (...)” DISPOSIÇÕES PRELIMINARES INTRODUÇÃO O art. 1º da Lei nº 11.343/06 aponta a criação do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), bem como estabelece os mecanismos de prevenção e repressão às drogas, nos seguintes termos: Art. 1º Esta Lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes. É importante frisar que a Lei nº 11.343/06 não trata apenas da repressão criminal ao tráfico de drogas e tipos penais relacionados, mas de um amplo sistema com medidas públicas de prevenção às drogas. Dito isso, reitera-se que, para fins de concursos públicos na área policial, somente os temas abordados neste material deverão ser estudados pelo aluno. NORMA PENAL EM BRANCO O art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 11.343/06, traz um conceito amplo de drogas: Art. 1º, Parágrafo único. Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União. Apesar disso, a definição legal acima não é suficiente para atender oprincípio da taxatividade exigido pelo Direito Penal. Dessa forma, considerando que os tipos penais da Lei nº 11.343/06 utilizam a expressão “drogas” sem mencionar quais substâncias se enquadram da definição, coube à Portaria nº 344/98 (ANVISA) lista- las em rol taxativo. No Direito Penal, quando a norma exige um complemento, diz-se que se trata de norma penal em branco. DÚVIDA: O que é norma penal em branco? Trata-se de uma norma incompleta que, para ter sentido, exige uma complementação por meio de lei ou outro ato normativo. DÚVIDA: O complemento por meio de portaria (norma penal em branco heterogênea) não fere o princípio da legalidade? A resposta é NÃO. 2 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O confisco de bens apreendidos em decorrência do tráfico pode ocorrer ainda que o bem não fosse utilizado de forma habitual e mesmo que ele não tenha sido alterado. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detal hes/87ba276ebbe553ec05d2f5b37c20125f>. Acesso em: 16/10/2020 https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/87ba276ebbe553ec05d2f5b37c20125f https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/87ba276ebbe553ec05d2f5b37c20125f Professor: JULIANO YAMAKAWA LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL MUDE SUA VIDA! 4 Segundo a jurisprudência dos Tribunais Superiores, ainda que o complemento da norma penal em branco não seja lei em sentido estrito (por exemplo, portaria), tal circunstância não viola o princípio da legalidade. Dito de outra forma, é admissível a técnica da norma penal em branco, desde que a norma incompleta tenha densidade suficiente para satisfazer o princípio da taxatividade, deixando para o complemento apenas a função de complementar os elementos essenciais do tipo penal. ART. 28 DA LEI DE DROGAS ART. 28, CAPUT O art. 28, caput, da Lei nº 11.343/06 prevê a conduta conhecida como porte de drogas para consumo, com a seguinte redação: Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. NATUREZA JURÍDICA Da leitura do dispositivo legal, percebe-se que o legislador não adotou a pena de prisão (reclusão ou detenção), que é a regra no Direito Penal brasileiro. PRECEITO SECUNDÁRIO (PENA) Advertência Prestação de serviços à comunidade Medida educativa Por conta da opção legislativa incomum, surgiu uma polêmica em relação à natureza jurídica do art. 28 da Lei de Drogas. DÚVIDA: O tipo penal do art. 28, caput, da Lei de Drogas deixou de ser crime (descriminalização) com a Lei nº 11.343/06? A resposta é NÃO. Para a maioria da jurisprudência e doutrina, houve, por opção legislativa, um abrandamento da sanção penal, ou seja, a imposição de medidas não restritivas de liberdade e mais condizentes com a menor gravidade da conduta praticada. Para tal fenômeno, deu-se o nome de “despenalização”. DESCRIMINALIZAÇÃO A conduta deixa de ser penalmente relevante DESPENALIZAÇÃO A conduta continua a ser penalmente relevante, mas o legislador opta por imposição de uma pena mais branda do que a restrição da liberdade DÚVIDA: É possível a aplicação do princípio da insignificância para o crime de porte de drogas para consumo (art. 28, caput)? MUITO IMPORTANTE A resposta é NÃO. Para efeito de concurso público, sugiro a adoção da corrente majoritária no sentido de ser incabível a aplicação do princípio da insignificância para o porte de drogas para consumo. Segundo tal entendimento, por se tratar de crime de perigo abstrato, seria inviável considerar irrelevante penal a conduta tipificada no art. 28 da Lei de Drogas. É possível argumentar que o próprio STF já aplicou o princípio da insignificância para o porte de drogas para consumo (HC 110475). Professor: JULIANO YAMAKAWA LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL MUDE SUA VIDA! 5 Contudo, por se tratar de situações muito excepcionais e com pouca reiteração de decisões nesse sentido, recomendo a adoção da corrente majoritária. CARACTERÍSTICAS Como a intenção do curso é enfatizar os temas mais cobrados nos concursos públicos, as características do tipo penal serão apenas descritas no esquema abaixo: Bem Jurídico: saúde pública Sujeito Ativo: qualquer pessoa Sujeito Passivo: coletividade Tipo Misto Alternativo Crime Permanente Norma Penal em Branco Dolo Específico: para consumo pessoal DÚVIDA: A prática de mais de um núcleo do tipo penal (verbo) configura concurso de crimes? A resposta é NÃO. O art. 28 da Lei de Drogas é classificado como tipo misto alternativo, ou seja, a prática de mais de uma conduta incriminadora, desde que num mesmo contexto fático e sem autonomia, configura crime único. SITUAÇÃO HIPOTÉTICA: João adquire pequena quantidade de maconha e guarda em sua mochila. Pouco tempo depois, ao transitar por rodovia federal, João é parado em fiscalização de rotina e a equipe da PRF localiza a droga escondida no interior do veículo. No exemplo, ainda que praticados os verbos “adquirir”, “guardar” e transportar, o agente só responderá por crime único. DÚVIDA: O uso de drogas é conduta criminosa? A resposta é NÃO. O verbo “usar” não consta como núcleo do tipo penal do art. 28 da Lei de Drogas. Com efeito, o uso de drogas é atípico, assim, se um agente for surpreendido por policiais, logo após o consumo da droga, não é possível realizar a prisão em flagrante. DÚVIDA: O tipo penal do art. 28 da Lei de Drogas exige dolo específico? MUITO IMPORTANTE A resposta é SIM. Em regra, no Direito Penal brasileiro, os tipos penais exigem o dolo com elemento subjetivo do tipo penal. Por outro lado, quando se diz que o crime exige o chamado dolo específico, não basta apenas a conduta voluntária e consciente, mas um especial fim de agir, ou seja, pratica-se a conduta com a intenção de obter um resultado específico. No caso, o dolo específico do art. 28 da Lei nº 11.343/06 é “para consumo pessoal”. Portanto, caso a intenção do agente não seja o consumo pessoal, a conduta será desclassificada para outro tipo penal, por exemplo, o tráfico de drogas (Lei de Drogas, art. 33). DOLO ESPECÍFICO Para consumo pessoal ART. 28, §1º - FIGURA EQUIPARADA O art. 28, §1º, da Lei de Drogas traz a figura equiparada ao porte ilegal de drogas para consumo: Professor: JULIANO YAMAKAWA LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL MUDE SUA VIDA! 6 Art. 28, § 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. Por exemplo, o agente que mantém em sua residência mudas de cannabis sativa para consumo próprio, configura o tipo equiparado previsto no art. 28, §1º, da Lei de Drogas. DÚVIDA: É crime a conduta de importar pequena quantidade de sementes de maconha? A resposta é NÃO. Apesar da polêmica acerca do tema, a jurisprudência pacificou no sentido de ser considerada atípica a importação de pequena quantidade de semente de maconha. Segundo os Tribunais Superiores, a semente não pode ser classificada como insumo (matéria-prima), até porque sequer possuiu tetrahidrocanabinol (THC). Por fim, prevalece o entendimento de que mencionada conduta também não configura o crime de contrabando (art. 334-A do Código Penal). ART. 28, §4º - REINCIDÊNCIA O art. 28, §§ 3º e 4º, da Lei de Drogas têm a seguinte redação: Art. 28, § 3º As penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 5 (cinco) meses. § 4º Em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.O §4º do art. 28 prevê reprimenda mais severa em caso de reincidência do agente, ampliando o prazo máximo para 10 (dez) meses. DÚVIDA: A reincidência prevista no §4º do art. 28 deve ser específica? A resposta é SIM. Segundo o STJ3, só é cabível a aplicação do §4º do art. 28 da Lei de Drogas caso a condenação anterior seja pela prática do mesmo ilícito (reincidência específica). Dessa forma, se um agente, condenado com trânsito em julgado pela prática de furto, for processado pelo crime do art. 28 da Lei de Drogas, não será possível incidir o seu §4º. DÚVIDA: A condenação pelo porte de droga para uso próprio (art. 28 da Lei de Drogas) configura reincidência? A resposta é NÃO. Segundo o STJ4, a condenação definitiva pelo crime do art. 28 da Lei de Drogas não configura reincidência. Para o Tribunal, se uma contravenção penal, que é mais grave do que o tipo penal do art. 28 da Lei de Drogas, não configura reincidência, não é razoável que este configure. Para relembrar: 1ª CONDENAÇÃO 2ª CONDENAÇÃO CONSEQUÊNCIA CRIME CRIME REINCIDÊNCIA CRIME CONTRAVENÇÃO REINCIDÊNCIA CONTRAVENÇÃO CONTRAVENÇÃO REINCIDÊNCIA CONTRAVENÇÃO CRIME NÃO HÁ REINCIDÊNCIA CONTRAVENÇÃO (ESTRANGEIRO) CRIME CONTRAVENÇÃO NÃO HÁ REINCIDÊNCIA PROCEDIMENTO PENAL 3 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A reincidência de que trata o § 4º do art. 28 da Lei nº 11.343/2006 é a específica. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detal hes/6ea3f1874b188558fafbab78e8c3a968>. Acesso em: 19/10/2020 4 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A condenação pelo art. 28 da Lei 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura reincidência. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detal hes/c1d53b7a97707b5cd1815c8d228d8ef1>. Acesso em: 19/10/2020 https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/6ea3f1874b188558fafbab78e8c3a968 https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/6ea3f1874b188558fafbab78e8c3a968 https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c1d53b7a97707b5cd1815c8d228d8ef1 https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c1d53b7a97707b5cd1815c8d228d8ef1 Professor: JULIANO YAMAKAWA LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL MUDE SUA VIDA! 7 MUITO IMPORTANTE O art. 48 da Lei de Drogas prevê o procedimento penal adequado à prática do crime de porte para consumo, nos seguintes termos: Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste Título rege-se pelo disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo Penal e da Lei de Execução Penal. § 1º O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, salvo se houver concurso com os crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais Criminais. § 2º Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se as requisições dos exames e perícias necessários. § 3º Se ausente a autoridade judicial, as providências previstas no § 2º deste artigo serão tomadas de imediato pela autoridade policial, no local em que se encontrar, vedada a detenção do agente. (Vide ADIN 3807) § 4º Concluídos os procedimentos de que trata o § 2º deste artigo, o agente será submetido a exame de corpo de delito, se o requerer ou se a autoridade de polícia judiciária entender conveniente, e em seguida liberado. Em suma, em relação ao art. 28 da Lei de Drogas, deve ser aplicado a Lei do JECRIM (Lei nº 9.099/95). Além disso, é vedada a prisão em flagrante, ainda que o agente se recuse a prestar o compromisso de comparecer perante à autoridade judicial. Por fim, o STF5, recentemente, ratificou a constitucionalidade do art. 48, §§ 2º e 3º, razão pela qual o autor do crime do art. 28 da Lei de Drogas deve ser encaminhado à autoridade judicial, que lavrará o termo circunstanciado (TCO), ou seja, somente se não houver juiz é que tais providências serão tomadas pela autoridade policial. JURISPRUDÊNCIA A Súmula nº 630 do STJ tem a seguinte redação: Súmula 630-STJ: A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse ou propriedade para uso próprio. Inicialmente, é importante entender o que é a confissão, que é quando o agente admite a prática da conduta ilícita, facilitando, assim, a persecução penal. DÚVIDA: Qual é a vantagem do agente em confessar uma conduta ilícita? A confissão configura uma atenuante genérica prevista no art. 65, III, alínea d, do Código Penal, com influência na 2ª fase da dosimetria da pena. DÚVIDA: O que é confissão qualificada? A confissão qualificada ocorre quando o agente admite a prática da conduta, mas apresenta teses defensivas, tais como excludentes de ilicitude ou desclassificação para crime menos grave. DÚVIDA: A confissão qualificada é admitida para fins de atenuação da pena do condenado? O tema é polêmico. Há corrente (majoritária) que entende ser aplicável a atenuante, mesmo quando a confissão é qualificada, desde que o juiz utilize tais informações como convicção da condenação, nos termos da Súmula nº 545 do STJ. 5 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O autor da conduta do art. 28 da LD deve ser encaminhado diretamente ao juiz, que irá lavrar o termo circunstanciado e fará a requisição dos exames e perícias; somente se não houver juiz é que tais providências serão tomadas pela autoridade policial; essa previsão é constitucional. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detal hes/d60743aab4b625940d39b3b51c3c6a78>. Acesso em: 19/10/2020 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9099.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9099.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9099.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9099.htm http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADI&documento=&s1=3807&processo=3807 http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADI&documento=&s1=3807&processo=3807 https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d60743aab4b625940d39b3b51c3c6a78 https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d60743aab4b625940d39b3b51c3c6a78 Professor: JULIANO YAMAKAWA LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL MUDE SUA VIDA! 8 Súmula 545 STJ. Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no art. 65, III, d, do Código Penal. Contudo, mesmo para tal corrente, é necessário que o agente, pelo menos, confesse a autoria do fato típico contra si imputado. Nesse sentido, a Súmula nº 630 do STJ impede que o agente ao admitir a prática do porte ilegal de drogas para consumo seja agraciado por atenuante de tipo penal não confessado, no caso, o tráfico de drogas. A Súmula nº 693 do STF tem a seguinte redação: Súmula nº 693-STF: Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada. Considerando que o art. 28 da Lei de Drogas não prevê pena privativa de liberdade, a regra é que não seja cabível o manejo do habeas corpus. ART. 33 DA LEI DE DROGAS ART. 33, CAPUT – TRÁFICO DE DROGAS O art. 33, caput, da Lei nº 11.343/06 prevê a conduta conhecida como tráfico de drogas, com a seguinte redação: Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer,ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. CARACTERÍSTICAS As principais características do tipo penal do art. 33, caput, da Lei de Drogas são: Bem Jurídico: saúde pública Sujeito Ativo: qualquer pessoa Sujeito Passivo: coletividade Tipo Misto Alternativo Crime Permanente Norma Penal em Branco Equiparado a Crime Hediondo Da mesma forma que ocorre com o tipo penal anterior, o art. 33, caput, é classificado como tipo misto alternativo. Assim, a prática de um ou mais verbos (núcleos do tipo penal) não importa em concurso de crimes, mas crime único. DÚVIDA: Suponhamos que Jorge, traficante, seja preso na posse de grande quantidade de cocaína, crack e drogas sintéticas. Nesse caso, haveria concurso de crimes? A resposta é NÃO. Não importa a quantidade ou a qualidade das substâncias apreendidas, trata-se de crime único. É bastante importante relembrar que, a depender do núcleo do tipo penal (por exemplo, “trazer consigo”), o tráfico de drogas é classificado como crime permanente, autorizando, portanto, a prisão em flagrante do agente. Por fim, nos termos do ar.t 5º, XLIII, da CF/88, o art. 33, caput, da Lei de Drogas é equiparado ao crime hediondo. Art. 5º, XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; INCONSTITUCIONALIDADE - ART. 44 Professor: JULIANO YAMAKAWA LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL MUDE SUA VIDA! 9 MUITO IMPORTANTE O art. 44 da Lei de Drogas tem a seguinte redação: Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos. Não há dúvidas de que o dispositivo legal é um dos temas mais abordados nas provas de concurso público acerca da Lei de Drogas. O art. 44 da Lei de Drogas foi declarado inconstitucional na parte que veda a liberdade provisória e a substituição da pena por restritiva de direitos. Dessa forma, o STF entendeu que a vedação ex lege fere o princípio da individualização da pena, pois cabe ao Poder Judiciário apreciar a possibilidade, no caso concreto, de conceder a liberdade provisória ou a conversão de pena. INCONSTITUCIONALIDADE (STF) Vedação à liberdade provisória Vedação à conversão da pena privativa de liberdade ART. 33, §1º - FIGURAS EQUIPARADAS O art. 33, §1º, I, da Lei de Drogas tem a seguinte redação: Art. 33, § 1º Nas mesmas penas incorre quem: I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria- prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; O inciso I do art. 33, §1º, tipifica conduta semelhante ao caput, mas em relação aos insumos, matéria-prima ou produto químico necessário para a produção da droga. Por exemplo, a cetona é um componente químico essencial para a transformação da folha de coca em cloridrato de cocaína e a apreensão da substância, a depender do contexto fático, pode configurar o tipo penal do art. 33, I, da Lei de Drogas. O STJ entende que a posse de elevada quantidade de cafeína pode caracterizar o tráfico de drogas, na forma do art. 33, §1º, I, da Lei de Drogas (HC 441.695/SP, 15.10.2019) O art. 33, §1º, II, da Lei de Drogas tem a seguinte redação: Art. 33, §1º, II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; Por outro lado, o inciso II, tipifica a conduta daquele que produz vegetais que sirvam de matéria- prima para a produção de drogas. Dentre os principais entorpecentes de origem vegetal, o Brasil é produtor apenas da cannabis sativa (maconha), ao passo que a folha de coca (cocaína) e a papoula (ópio e heroína), por exemplo, tem origem estrangeira. A ideia do legislador foi coibir a 1ª fase da cadeia de produção, equiparando o cultivo ao próprio tráfico de drogas. Há previsão no art. 243 da CF/88 acerca da expropriação da propriedade rural utilizada para a cultura ilegal de plantas psicotrópicas: Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras Professor: JULIANO YAMAKAWA LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL MUDE SUA VIDA! 10 sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014) O dispositivo constitucional foi tratado no art. 32, §4º, da Lei de Drogas nos seguintes termos: § 4º As glebas cultivadas com plantações ilícitas serão expropriadas, conforme o disposto no art. 243 da Constituição Federal, de acordo com a legislação em vigor. DÚVIDA: A propriedade é confiscada apenas na área utilizada para o cultivo ilegal de plantas psicotrópicas? A resposta é NÃO. Segundo o STF, a expropriação alcança a totalidade do imóvel, ainda que o cultivo tenha ocorrido em parte dele. (RE 543974, julgado em 26.03.2009). DÚVIDA: E se o proprietário comprovar que não tinha conhecimento do plantio em seu imóvel? Ainda assim irá perder o bem? A resposta é DEPENDE. Novamente, segundo o STF, caso o proprietário comprove que não agiu com culpa (in vigilando ou in eligendo), a expropriação poderá ser afastada (Info 851). Vale lembrar que é ônus do proprietário demonstrar a ausência de culpa, não servindo como justificativa apenas o fato de não ter participado do plantio. O art. 33, §1º, III, da Lei de Drogas tem a seguinte redação: Art. 33, §1º, III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. Em relação ao inciso III, a lei tipifica a conduta daquele que cede ou utiliza espaço para a prática do tráfico de drogas. Por exemplo, o dono do imóvel em que se encontra a boca de fumo deverá responder pelo tráfico de drogas, na modalidade do art. 33, §1º, III, da Lei nº 11.343/06. MUITO IMPORTANTE – PACOTE ANTICRIMES O art. 33, §1º, IV, da Lei de Drogas tem a seguinte redação: Art. 33, §1º, IV - vende ou entrega drogas ou matéria- prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) A Lei nº 13.964/19 (Pacote Anticrimes) trouxe nova figura equiparada ao tráfico de drogas e ocorre no contexto da infiltração policial. Dessa forma, se o agente vende ou entrega drogas (ou insumos) ao policial disfarçado, a conduta será considerada típica. É importante ressaltar que o dispositivo legal não autoriza o chamado flagrante preparado, que ocorre quando o policial disfarçado induz o agente a praticar a conduta. Nesse sentido, é o Enunciado 4 da I Jornada de Direito Penal e Processo Penal CJF/STJ: Não ficacaracterizado o crime do inc. IV do § 1º do art. 33 da Lei n. 11.343/2006, incluído pela Lei Anticrime, quando o policial disfarçado provoca, induz, estimula ou incita alguém a vender ou a entregar drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à sua preparação (flagrante preparado), sob pena de violação do art. 17 do Código Penal e da Súmula 145 do Supremo Tribunal Federal. ART. 33, §2º - TIPO PENAL http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc81.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc81.htm ../../../Constituicao/Constituiçao.htm ../../../Constituicao/Constituiçao.htm ../../../Constituicao/Constituiçao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13964.htm Professor: JULIANO YAMAKAWA LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL MUDE SUA VIDA! 11 O art. 33, §2º, da Lei nº 11.343/06 criminaliza a conduta daquele que induz, instiga ou auxilia alguém ao uso de droga. § 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: (Vide ADI nº 4.274) Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa. DÚVIDA: Manifestações públicas em prol da legalização da maconha configura o tipo penal do art. 33, §2º, da Lei de Drogas? A resposta é NÃO. É importante ressaltar que manifestações públicas em prol da liberação do uso de drogas (por exemplo, Marcha da Maconha) não configura o tipo penal do art. 33, §2º, da Lei nº 11.343/06. Conforme o entendimento do STF, firmado na ADI nº 4274, a utilização do tipo penal do art. 33, §2º, da Lei nº 11.343/06, para proibir manifestações públicas em defesa da legalização atenta contra o direito fundamental de reunião, previsto no art. 5º, XVI, da CF/88. ART. 33, §3º - TIPO PENAL O tipo penal do art. 33, §3º, da Lei nº 11.343/06, conhecido como crime de uso compartilhado, tem a seguinte redação: § 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28. É importante destacar os principais elementos do tipo penal: Eventualmente: não se exige que a conduta seja única, contudo, não pode haver habitualidade Sem objetivo de lucro: o lucro é inerente ao crime de tráfico de drogas Pessoa de seu relacionamento: o tipo penal não define o grau de intimidade ou tipo de relacionamento Para juntos a consumirem: é o dolo específico JURISPRUDÊNCIA CONDENAÇÃO POR TRÁFICO PODE OCORRER MESMO SEM A APREENSÃO DA DROGA Conforme jurisprudência do STJ, apesar do crime de tráfico de drogas ter materialidade que deixa vestígios, é possível sustentar a condenação com base em outros elementos de prova aptos a comprovar a prática do ilícito. Por exemplo, caso não seja possível a apreensão da droga por conta da fuga do vendedor com o produto, nada impede que o comprador seja criminalmente responsabilizado, por exemplo, com as informações obtidas por meio da interceptação telefônica que acompanhou toda a negociação. CONFISCO DE BENS APREENDIDOS ALTERAÇÃO LEGISLATIVA RECENTE! O parágrafo único do art. 243 da CF/88 prevê a possibilidade do confisco de bens apreendidos em decorrência do tráfico de drogas: Art. 243, Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014) http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADIN&s1=4274&processo=4274 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc81.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc81.htm Professor: JULIANO YAMAKAWA LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL MUDE SUA VIDA! 12 Por outro lado, a Lei nº 11.343/06, recentemente alterada pela Lei nº 13.840/19, disciplina a perda de bens: Art. 61. A apreensão de veículos, embarcações, aeronaves e quaisquer outros meios de transporte e dos maquinários, utensílios, instrumentos e objetos de qualquer natureza utilizados para a prática dos crimes definidos nesta Lei será imediatamente comunicada pela autoridade de polícia judiciária responsável pela investigação ao juízo competente. (Redação dada pela Lei nº 13.840, de 2019) § 1º O juiz, no prazo de 30 (trinta) dias contado da comunicação de que trata o caput , determinará a alienação dos bens apreendidos, excetuadas as armas, que serão recolhidas na forma da legislação específica. (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019) Art. 62. Comprovado o interesse público na utilização de quaisquer dos bens de que trata o art. 61, os órgãos de polícia judiciária, militar e rodoviária poderão deles fazer uso, sob sua responsabilidade e com o objetivo de sua conservação, mediante autorização judicial, ouvido o Ministério Público e garantida a prévia avaliação dos respectivos bens. (Redação dada pela Lei nº 13.840, de 2019) Art. 63-F. Na hipótese de condenação por infrações às quais esta Lei comine pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e aquele compatível com o seu rendimento lícito. (Incluído pela Lei nº 13.886, de 2019) CRIME CONSUMADO DE TRÁFICO DE DROGAS – NEGOCIAÇÃO POR TELEFONE O STJ apreciou um caso concreto em que o agente negociou por telefone a compra da droga, tendo, inclusive, disponibilizado o veículo para entrega. Ocorre que antes do recebimento da droga, a equipe policial que realizava interceptação telefônica, efetuou a apreensão da substância e prendeu o traficante. Em relação ao comprador, o Tribunal entendeu que houve a prática do crime de tráfico de drogas (“adquirir”) na modalidade consumada, ou seja, não foi necessária a efetiva entrega, sendo suficiente o ajuste entre os criminosos (Info 569 STJ). REVISTA ÍNTIMA E DENÚNCIA ANÔNIMA No caso concreto, por meio de denúncia anônima, o diretor de unidade prisional tomou ciência de que a esposa de um detento tentaria entrar no presídio com drogas. Diante disso, foi realizada revista íntima, que comprovou a veracidade dos fatos. Contudo, para o STJ, a prova obtida foi considerada ilícita (Info 659). Segundo o Tribunal, a realização de revista íntima é medida invasiva e vexatória que só deve ser realizada diante de indícios veementes da existência de práticas ilícitas. Dessa forma, a existência de apenas denúncia anônima não justificaria a realização da revista íntima, razão pela qual contaminou de ilicitude a prova produzida. OBS: A decisão acima apontada apresenta o mesmo fundamento da invalidação da prova obtida por meio de prisão em flagrante de indivíduo que fugiu para sua casa (local onde foi encontrada grande quantidade de drogas) ao avistar uma guarnição policial. Nesse caso, a entrada na residência configurou violação de direito fundamental, circunstância que maculou a prova colhida. REVISTA PESSOAL FEITA POR PARTICULAR No caso concreto, um indivíduo foi abordado por agentes de segurança da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, oportunidade em que foram encontrados tabletes de maconha em sua mochila. Para o STJ, a revista pessoal realizada pelos agentes de segurança particular foi ilegal e a prova obtida considerada ilícita. EXERCÍCIOS 1. (CESPE/2019 – DPE – Defensor Público) - A respeito dos delitos tipificados na legislação extravagante, julgue o item a seguir, considerando a jurisprudência dos tribunais http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13840.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13840.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13840.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13840.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13840.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13886.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13886.htm Professor: JULIANO YAMAKAWA LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL MUDE SUA VIDA! 13 superiores. O crime de associação para o tráfico é de natureza hedionda e a progressão de regime prisional desse tipo de crime ocorre após o cumprimento de dois quintos da pena — se o condenado for primário — ou de três quintos da pena — se reincidente. 2. (CESPE/2019 – DPE/DF – Defensor Público) - Com base no entendimento do STJ, julgue o próximo item, a respeito de aplicação da pena. Condenação anterior por delito de porte de substância entorpecente para consumo próprio não faz incidir a circunstância agravante relativa à reincidência, ainda que não tenham decorrido cinco anos entre a condenação e a infração penal posterior. 3. (CESPE/2017 – DPU – Defensor Público) - Tendo como referência as disposições da Lei de Drogas (Lei n.º 11.343/2006) e a jurisprudência pertinente, julgue o item subsecutivo. Situação hipotética: Com o intuito de vender maconha em bairro nobre da cidade onde mora, Mário utilizou o transporte público para transportar 3 kg dessa droga. Antes de chegar ao destino, Mário foi abordado por policiais militares, que o prenderam em flagrante. Assertiva: Nessa situação, Mário responderá por tentativa de tráfico, já que não chegou a comercializar a droga. 4. (CESPE/2013 – PF – Delegado) - Julgue o item seguinte com base na Lei n.º 11.343/2006. O crime de tráfico de drogas é inafiançável e o acusado desse crime, insuscetível de sursis, graça, indulto ou anistia, não podendo as penas a que eventualmente seja condenado ser convertidas em penas restritivas de direitos. 5. (CESPE/2018 - STJ – Analista) - Tendo como referência a legislação penal extravagante e a jurisprudência das súmulas dos tribunais superiores, julgue o item que se segue. Aquele que oferece droga, mesmo que seja em caráter eventual e sem o objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem, comete crime. GABARITO 1. ERRADO 2. CERTO 3. ERRADO 4. ERRADO 5. CERTO
Compartilhar