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Cidadania e Combate à Fome no Brasil

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Ciência e poder
Cidadania, economia e política
E onde está a origem da cidadania? Atribui-se em princípio à cidade ou pólis grega. A pólis era composta de 
homens livres, com participação política contínua numa democracia direta, em que o conjunto de suas vidas em cole-
tividade era debatido em função de direitos e deveres. Assim, o homem grego livre era, por excelência, um político no 
sentido estrito.
A cidadania está relacionada ao surgimento da vida na cidade, à capacidade de os homens exercerem direitos e 
deveres de cidadão. Na atuação de cada indivíduo, há uma esfera privada (que diz respeito ao particular) e uma esfera 
pública (que diz respeito a tudo que é comum a todos aos cidadãos). Na pólis grega, a esfera pública era relativa à atu-
ação dos homens livres e à sua responsabilidade jurídica e administrativa pelos negócios públicos. Viver numa relação 
de iguais como a da pólis significava, portanto, que tudo era decidido mediante palavras e persuasão, sem violência. 
Eis o espírito da democracia.
Maria de Lurdes Manzini Covre
A questão da fome 
Dentre os grandes problemas ambientais que surgem hoje no Brasil destacam-se a fome e a gran-de falta de moradias e empregos, que criam um exército de excluídos, alijados de direitos bá-sicos da cidadania. O Brasil, por ser um país da periferia do sistema capitalista, tem um papel 
a desempenhar: gerar lucro “selvagem”, criando uma mentalidade competitiva entre os indivíduos, 
desencadeando, assim, uma disputa disfarçada, na qual o importante não é o que é bom para todos ou 
o que é justo, e sim o que dará lucros mais rapidamente, mesmo que a longo prazo isso venha a trazer 
as consequências negativas que citamos para a maioria da população. Por isso, afirmamos que a misé-
ria gerada por nossa sociedade, que exclui milhões de brasileiros, é também uma forma de agressão à 
natureza; já que entendemos que o homem é parte da natureza, logo é um elemento dela. 
Sendo assim, reconhecemos a campanha contra a fome do movimento Ação da Cidadania con-
tra a Miséria e pela Vida, lançada em abril de 1993, sob a liderança do sociólogo Herbert de Souza, o 
Betinho, como um momento de lucidez da sociedade brasileira e uma trincheira de luta da sociedade 
civil contra a exclusão e a agressão aos direitos de cidadania. Seu objetivo: ajudar a combater a fome, 
que é uma negação frontal a um dos direitos fundamentais definidos pela Constituição, o direito à 
vida. Mais de 20% da população do país – cerca de 32 milhões de brasileiros – vive em situação de 
miséria absoluta: não têm o mínimo necessário para comer. Em 1993, a campanha conseguiu adesão 
estimada em 40% da população.
Ciência e poder
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Sem estruturas formais de organização e centralização e distante dos me-
canismos oficiais de ação política, a campanha mobiliza empresários, professores, 
estudantes, artistas, religiosos, donas de casa, aposentados, crianças e até presi-
diários. Participam vários tipos de entidades – sindicatos, associações de bairro, 
partidos políticos –, mas o movimento não tem dono. Os comitês, estimados em 
mais de 5 000, não conseguem calcular quantas toneladas de alimentos foram 
distribuídas no período aos 32 milhões de indigentes que vivem no país. Só para 
o Natal Sem Fome, no Rio.
O Brasil tem aproximadamente 1,2 milhão de crianças desnutridas com me-
nos de cinco anos. Esse número representa 7,1% da população de crianças entre 
zero e cinco anos (17 milhões). A maior parte das crianças desnutridas (83%) per-
tence a famílias com renda de até 0,3 salário mínimo e vive no Nordeste. Outro 
dado: cerca de 10% das crianças brasileiras nascem com “peso baixo” (2,5 quilos 
ou menos). Para essas crianças, o risco de morrer quando nascem é oito vezes 
maior se estabelecida comparação com crianças que nascem com “peso normal”. 
No Rio, em 1994, foram cerca de 600 toneladas, distribuídas sob a forma de 50 
mil cestas com mantimentos para famílias carentes. Menos preocupados em tra-
duzir em números a quantidade de alimentos arrecadados, os comitês têm uma 
eficiência exemplar: as doações chegam rapidamente às populações carentes. Sua 
consequência: despertar em parcelas crescentes da população a solidariedade e a 
consciência de que a miséria existe, é um problema social e pode ser erradicada, 
desde que a própria sociedade se encarregue de atingir essa meta. 
Em novembro de 1993, o movimento Ação da Cidadania contra a Miséria e 
pela Vida colocou a campanha contra a fome em um outro patamar: não basta dar 
comida às populações carentes, é preciso garantir-lhes o direito ao trabalho, con-
dição indispensável ao resgate da dignidade e cidadania. Foi lançada a Campanha 
pelo Emprego. Em dezembro, o Ministério do Trabalho apoiou a iniciativa e lan-
çou projeto de uma ação de emergência com o objetivo de liberar as empresas de 
encargos sociais sobre os novos empregos criados durante a campanha, em 1994.
Conjunto habitacional de perfil popular (cuja definição legal é o de uma habitação de interesse social) localizado em 
um bairro da Zona Leste do município de São Paulo.
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E em 1995, no terceiro ano da campanha, o empenho centrou-se na refor-
ma agrária. Esse exército de voluntários, motivado pelas conclusões do Mapa da 
Fome, do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), constituiu a base 
com a qual Betinho contou para forçar a inclusão da reforma agrária na agenda 
das urgências do país. “Vamos pressionar a ociosidade das terras, dar exemplos de 
produtividade”, afirmava Betinho. “Vamos propor uma nova visão sobre a terra, 
questionar suas cercas e seu abandono.”
Betinho fez um abaixo-assinado nacional e o entregou ao presidente Fernando 
Henrique Cardoso, “para que ele coloque a terra como bem de todos e não privilégio 
de poucos”. Em julho de 1994, cerca de 2 000 pessoas participaram, em Brasília, da 
1.ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar, concluindo que a democratização 
da terra é a única maneira de combater a fome de forma permanente.
O Ipea já indicou duas importantes armas na luta contra o latifúndio impro-
dutivo. A primeira é a Lei 8.629/93, que define critérios para as desapropriações. A 
segunda é a Lei complementar 76, a Lei do Rito Sumário, que cria procedimentos 
judiciais urgentes para as desapropriações. Em dois anos, cerca de 5 000 comitês 
contra a fome foram criados no país. Cada um tem uma média de dez integrantes, 
atuando em nome da solidariedade e sem um centavo do governo.
Esses movimentos mobilizam setores da população, 
organizados ou não, em defesa de interesses ou questões 
políticas específicas e tendem a ter existência temporária, 
a menos que se modifiquem internamente, transformando-
-se em organizações mais sólidas. O Movimento pela Ética 
na Política, que reúne entidades como a Ordem dos Ad-
vogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Im-
prensa (ABI), a União Nacional dos Estudantes (UNE), a 
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), 
além de sindicatos e Organizações Não Governamentais 
(ONGs), transformou-se em uma espécie de porta-voz da 
indignação popular diante das denúncias de corrupção do 
governo Collor. Essa representatividade terminou quando 
o processo de impeachment do presidente foi concluído, e 
um novo movimento teve início com a instalação da CPI da 
Corrupção, que, após meses de trabalho durante o ano de 
1994, teve um desfecho histórico, inédito na recente democracia brasileira, pois os 
principais responsáveis foram cassados, ou seja, os parlamentares envolvidos nos 
desvios de dinheiro público perderam seu mandato e serão julgados pela justiça 
comum. As entidades que formam o movimento continuam com crédito perante a 
população e se mobilizam diante de outras questões políticas. O movimento Ação 
da Cidadania contra a Miséria e pela Vida surge em 1993, a partir de uma propos-
ta de combate à miséria apresentada ao governo pelos integrantes do Movimento 
pela Ética na Política; portanto, as entidades da sociedadecivil continuam atentas 
e se empenhando nessa campanha. Em 1994, lutaram pelo aumento de empregos 
numa cruzada de norte a sul do país, e em 1995 e 1996, no terceiro e quarto ano da 
O Brasil dos contrastes, de um lado a miséria, 
do outro a riqueza. No detalhe a Avenida Paulista, 
centro da cidade de São Paulo.
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campanha, lutaram pela democratização das terras brasileiras, ou seja, pela refor-
ma agrária. Nos anos seguintes, com a morte do Betinho, o movimento continuou 
com a centralização e organização no Instituto Brasileiro de Análises Sociais e 
Econômicas (Ibase).
ONGs 
As organizações não governamentais surgem como um tipo novo de partici-
pante na cena política durante os anos 1980 e crescem em importância na década 
de 1990. São entidades de direito civil, sem fins lucrativos, sem vínculos com 
sindicatos, partidos políticos ou com o próprio governo, embora possam receber 
financiamentos de fundos governamentais e de outras entidades da sociedade civil 
brasileira ou internacional. Em junho de 1992, 1 350 ONGs cadastraram-se para 
participar da ECO-92, conferência que, além das representações oficiais, reuniu 
ONGs de todo o mundo. 
Atualmente, essas entidades estão articuladas nacionalmente no Fórum Brasi-
leiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. 
A partir desse fórum, elas ainda mantêm redes que reúnem entidades nacionais e 
internacionais para troca de informações e ações conjuntas.
1. Assinale as afirmativas corretas.
a) ( ) O que diferencia um movimento popular de um movimento político são os objetivos 
de cada um: o primeiro geralmente reivindica creches, escolas, melhoramentos nos 
bairros etc.; o segundo pretende conquistar o poder político.
b) ( ) Um movimento político necessariamente tem que possuir uma linha ideológica, 
enquanto o movimento popular pode não ter.
c) ( ) Os movimentos específicos são aqueles que congregam a população de um bairro 
ou qualquer categoria de trabalhadores.
d) ( ) Uma associação de bairro é um movimento popular. 
2. Pesquisa: procure em jornais e revistas notícias que se refiram a movimentos populares, movi-
mentos específicos e movimentos pastorais. 
Os recortes serão lidos nos grupos, que os catalogarão de acordo com os tipos acima especificados.
Problematização:
Só pra terminar a minha fala, disse dona Maria, quero dizer que lutas como a da escola 
a gente teve muitas que ficaram famosas no bairro. Uma luta encaminhava a outra, porque 
dentro das próprias lutas a gente ia descobrindo que havia outros problemas nos bairros, como 
o da água, onde o povo se mexeu bastante.
Foi essa a minha primeira batalha, disse Josefa. A água é muito importante nos bairros 
da região do Boi Mirim, porque é um lugar onde não se consegue água de jeito nenhum. Pode

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