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A questão do trânsito
Trânsito e cidadania 
O automóvel universalizou o sonho da mobilidade e da velocidade.
Jean Francis Held
O trânsito não pode ser visto como apenas um universo de placas, lombadas, semáforos e ferros-velhos, e por isso mesmo não nos preocupamos em identificá-lo como causa, mas sim, como consequência das necessidades das pessoas. 
É preciso resgatar o respeito a cada cidadão que faz parte dessa sociedade racional para que, 
dessa forma, os “semáforos” indiquem sempre si-
nal verde para a vida. 
Somente dessa forma poderemos ter uma 
vida tranquila, uma vez que dependemos do trân-
sito e nele passamos uma grande parcela de tem-
po de nossas vidas e, mais, esse mesmo trânsito é 
constituído por pessoas, as quais precisam saber 
viver coletivamente.
Portanto, esse trabalho volta-se para a se-
guinte preocupação:
A vida, antes de tudo, com dignidade. E esse 
“simples” fato é capaz de ordenar tudo, inclusive o 
trânsito, que é, sem dúvida, uma questão social. 
Trânsito como instrumento de cidadania
Neste exato momento, em várias partes do mundo, nasce uma criança, que lança seu primeiro 
grito, uma espécie de aviso de chegada de alguém sem a menor ideia do universo que a espera ou do 
papel que desempenhará nessa sociedade. 
Nesse mesmo instante, em inúmeros locais do planeta, no útero metálico das montadoras, mais 
um veículo está sendo concluído: pneus, bancos, motor, à espera de um cérebro para dirigi-lo.
Com o passar dos anos, o homem vem desenvolvendo a ciência, criando vacinas, curando mo-
léstias, para, dessa maneira, melhorar a qualidade de vida das pessoas, como a dessa criança que 
acaba de nascer.
Ao mesmo tempo, o aperfeiçoamento das máquinas tem levado esse mesmo homem a patama-
res jamais vistos até então.
Hoje, é comum falarmos da existência de um combate entre homens e máquinas. Será possível 
isso? Ou não seria apenas um duelo homem versus homem, ou, talvez, um duelo virtual, já que o cérebro 
das máquinas é o próprio homem? Às vezes nos iludimos e nos esquecemos de que as couraças inoxidá-
veis escondem as entranhas humanas, sendo a máquina apenas um revestimento externo do homem.
Congestionamentos como este, em São Paulo, poderiam ser 
evitados se mais pessoas usassem sistemas públicos de trans-
portes coletivos.
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A questão do trânsito
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Qual seria o futuro dessa criança com esses veículos? Enquanto cresce, ela 
vai percebendo a grande utilidade dos automóveis: eles podem nos levar para onde 
desejarmos; a passeios, parques, viagens, teatro, casa de amigos, parentes, escola, 
médicos, trabalho, enfim, os veículos podem ir a qualquer parte, desde que te-
nham combustível e uma pessoa para conduzi-lo.
Essa mesma criança, porém, começa a perceber alguns problemas. Muitas de-
las perdem a vida nas ruas por causa dos veículos que levam outras pessoas para es-
ses lugares, e justamente por isso privam-se da liberdade de brincar nesses lugares, 
pois estes “são para os veículos”, que raramente têm respeito pelos outros e, mesmo 
conduzidos por pessoas, não são capazes de reduzir a sua marcha; afinal, parecem 
estar sempre com muita pressa. Nas ruas, que lhes pertencem, correm e trafegam, 
mas também param nas calçadas. O que sobra para as crianças, adultos e velhos?
As crianças, em suas brincadeiras, são, muitas vezes, mais organizadas que 
toda essa confusão criada pelos homens e suas máquinas.
O que devemos notar é que os veículos, de modo geral, foram criados para 
o bem-estar das pessoas, mas não podemos esquecer que eles são manipulados 
pelos homens e não adianta culparmos a máquina, temos de educar o homem para 
que ele valorize o outro homem como seu semelhante.
Quanto vale uma vida? Quinze segundos? Talvez um minuto. Dez minutos. 
Uma hora. O condutor de um veículo obrigatoriamente possui uma habilitação, mas 
será que esse documento comprova a sua educação enquanto cidadão ou apenas o 
habilita a conduzir o veículo para frente, para trás, para os lados? O importante é 
mostrar às pessoas que uma vida não tem preço e lembrar que, em relação aos pe-
destres, quem está dentro de um veículo chegará sempre antes em qualquer lugar; 
portanto, perder um pouco do seu tempo é muito melhor do que passar o resto da 
vida recordando e se responsabilizando pelas consequências de um acidente.
Trânsito e democracia
A circulação de veículos e de pessoas, como sabemos, é uma atividade vital 
para a manutenção de nossa sociedade. Porém, para que sua “ordem e progresso” 
possam ser garantidas, presenciamos diariamente um verdadeiro estado de guerra 
em nossas ruas, uma guerra civil não declarada, numa violência sem fim, narco-
tráfico, assaltos etc., além de nosso “Vietnã” particular no trânsito: 50 mil mortes 
por ano no Brasil, cerca de 137 mortes diárias, 6 pessoas mortas por hora.
Uma disputa desigual
Não é novidade admitir que nossa sociedade é constituída de classes sociais 
que se formaram ao longo de uma história de dominação e poder. O trânsito, é evi-
dente que respeitando as proporções, conta-nos um pouco dessa mesma história, 
pois também nos apresenta uma disputa desigual num palco nada democrático. 
As características desse confronto, porém, guardam algumas especificidades: na 
história das sociedades, quase sempre os grupos ou as classes sociais possuem 
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interesses conflitantes, como no caso de empresários gananciosos versus trabalha-
dores assalariados; já nas ruas, os diversos conflitos de interesses são mais gene-
ralizados e podem ocorrer independentemente da situação social dos indivíduos, o 
que pode abranger, por exemplo, tanto dois operários disputando um espaço num 
coletivo, quanto dois motoristas de classe média trocando xingamentos por uma 
vaga para estacionar.
No entanto, o que não podemos deixar de perceber é que em ambos os casos 
(sociedade e trânsito) ocorre um complexo exercício das várias formas de poder. Por 
definição, poder intimida, agride, violenta, buzina, atropela, empurra, desrespeita.
A questão do trânsito, portanto, não é unicamente uma discussão técnica 
restrita aos controladores de tráfego, planejadores, geógrafos, urbanistas e auto-
ridades civis e militares; é, sobretudo, uma questão social, política e educacional 
que envolve todos nós, quer tenhamos conhecimento disso ou não.
Conviver no trânsito: 
uma prática de cidadania
A democracia, que estamos conquistando aos trancos e barrancos, é a ex-
pressão política e jurídica do sistema socioeconômico de nosso país.
As relações humanas por vezes obedecem às normas que orientam esse sis-
tema, ou seja, as regras de transação do mercado. Assim, lamentavelmente, quase 
tudo é transformado em mercadoria, e às vezes até o próprio tempo; afinal, “tem-
po é dinheiro”, como estamos acostumados a ouvir.
A sociedade moderna tem pressa e obriga à competição desigual entre seus 
membros trabalhadores, estudantes, empresários, aposentados, crianças e outros.
É tão grande a desigualdade pela disputa do espaço e do tempo nas vias pú-
blicas que o trânsito é, sem nenhuma dúvida, um dos melhores espelhos de nossa 
sociedade.
Espaço e trânsito
Quase todas as pessoas têm certa familiarida-
de com o trânsito, relacionada com as suas experiên-
cias pessoais, ao atravessar uma rua, ao dirigir um 
carro, ao tomar um ônibus, táxi ou trem. Na maioria 
das vezes, as imagens são pouco agradáveis: o movi-
mento caótico e barulhento de veículos; uma sensa-
ção de insegurança; congestionamentos e demoras, 
com pessoas passando horas num engarrafamento; 
poluição do ar; ônibus sujos, desconfortáveis e abar-
rotados; carros novos nas vitrines – muito bonitos, 
mas acessíveis a uma minoria apenas.
A poluição do ar, uma prática comum nas nossas cidades, 
representa uma falta de compromisso com a cidadania.
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A questão do trânsito
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Nesse universo do tráfego, o automóvel torna-se o símbolo máximo das 
sociedades modernas; primeiro porque atrai fortemente a imaginação; segundo, 
porque é produto das economiasindustrializadas, e também porque faz parte 
da vida de milhões de pessoas, moldando comportamentos individuais e cole-
tivos que, bons ou maus, constituem características marcantes do século XX. 
Mas isso ocorreu porque os carros satisfazem inúmeras necessidades, anseios 
e fantasias dos homens de hoje e – em especial, o sonho da liberdade de mo-
vimentos –, sendo tão veloz quanto permitem os motores que se podem (ou 
deveria poder-se) controlar.
A estrada, as quatro rodas, um volante, tudo se resume em uma força sobre- 
-humana oculta sob o capô, pronta para desencadear-se, desde que se pise no pe-
dal certo. Tudo isso é muito mais do que simplesmente percorrer a distância entre 
dois lugares, pois suscita sentimentos fortes, oferece uma fuga das preocupações 
cotidianas. O espaço é dominado. O tempo fica sob controle.
O homem moderno identifica-se com o carro, instrumento que lhe infunde 
poder, extensão de seu corpo, extensão de seu espaço. Tocar-lhe o corpo de metal 
é um ato de agressão. Riscar-lhe a lataria é como arranhar a pele. Em sua casa, é- 
-lhe reservado um “quarto”, com os mesmos privilégios que se concede a um filho, 
do qual sente tanto orgulho, chegando a ficar longos finais de semana lavando-o, 
polindo-o, numa espécie de ritual semanal.
Mas, de repente, as coisas começam a ir mal: a relação homem-máquina se 
deteriora e o caso de amor se torna amargo. O homem projeta na máquina suas 
frustrações, reais ou imaginárias, e passa a fazer dela um refúgio, uma compensa-
ção, até mesmo uma arma. Isso ocorre com frequência. É tão importante o lugar 
do automóvel nos sonhos humanos que esses sonhos podem virar pesadelos. Não 
raro um motorista exaspera-se com os “desafios” do inimigo (o motorista do carro 
ao lado) e sua raiva o leva dos insultos às vias de fato. Para “vingar-se”, faz ma-
nobras perigosas, agressões mortais que sequer lhe passam pela cabeça quando 
volta a ser um pedestre civilizado. Não importa que as crianças gritem apavoradas 
e já quase se possa ouvir a sirene da ambulância... Ele corta, fecha, ultrapassa. É 
matar ou morrer!
Carlos Drummond de Andrade
Stop
A vida parou
ou foi o automóvel?
Só se morre uma vez, mas as neuroses proliferam, o individualismo frus-
trado não perde a onipotência e a vida cotidiana torna-se um inferno – enormes 
engarrafamentos, grande tensão nervosa, fins de semana que viram testes de pa-
ciência. Nem sempre a civilidade supera a exasperação: os motoristas infringem 
as regras, discutem, ficam agressivos, e se as autoridades fazem “vista grossa”, 
perdem a credibilidade. Isso é um mal para a democracia. Que se pode esperar 
do cidadão que, buscando desesperadamente libertar-se, torna-se formiga entre 
formigas num formigueiro enlouquecido?
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Ninguém duvida que o trânsito, enquanto sistema de circulação, é uma ati-
vidade essencial. De fato, abrange toda a movimentação de pessoas e mercadorias 
nas nossas cidades. É uma atividade-meio que permite a realização das demais 
atividades urbanas, como o trabalho, os estudos, as diversões, as manufaturas e o 
comércio. São as calçadas, ruas e avenidas que dão vida às cidades, condicionadas 
e normalizadas pelas sinalizações do trânsito.
Assim sendo, a organização do trânsito depende de seus elementos e da 
normatização desses mesmos elementos. A conscientização deve vir da educação, 
dada a complexidade dos problemas que surgem no dia a dia de todas as cidades. 
Não há pessoa que não tenha na lembrança um parente, um amigo, um conhecido 
morto ou ferido em acidentes automobilísticos. No mínimo, já foi um espectador.
Hoje, toda a população está envolvida emocionalmente com o problema do trân-
sito. De uma forma ou de outra, gostaríamos que houvesse uma solução para as sérias 
dificuldades que todos enfrentamos, pagando um alto preço pela era motorizada.
1. Coloque V nas afirmações verdadeiras e F nas falsas.
a) ( ) Os boias-frias saem para o serviço às cinco horas da manhã e são conduzidos por ôni-
bus seguro, além de terem almoço oferecido a preço de custo pelos empregadores. 
b) ( ) Passando pelas ruas do centro ou dos bairros, é quase impossível ver veículos estacio-
nados em cima das calçadas, o que dificultaria o acesso dos pedestres, colocando em 
risco suas vidas. 
c) ( ) Em frente às escolas tornou-se hábito o estacionamento em fila dupla, quase sempre negli-
genciado pelo guarda de serviço. 
d) ( ) Recentemente ocorreu uma radical mudança no Código de Trânsito, fato que tem con-
tribuindo muito pela redução de acidente fatais. 
e) ( ) Nos dias de hoje é obrigatório o uso do cinto de segurança.
2. Responda às questões. 
a) O trânsito, enquanto sistema de circulação, é uma atividade essencial?
b) Por que afirmamos que vivemos num verdadeiro estado de guerra em nossas ruas?
c) Podemos afirmar que o automóvel se torna o símbolo máximo das sociedades modernas, ou 
seja, é o símbolo da sociedade de consumo. Justifique sua resposta.

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