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CRESCIMENTO INTRAUTERINO RESTRITO (CIUR) AUTOR: PEDRO V.F. MEDRADO - O CIUR representa um estado de “stress” fetal com quebra da homeostase materno-fetal - A restrição do crescimento fetal (RCF) é uma intercorrência obstétrica que ocorre em 3-10% das gestações e ocorre quando o feto não atinge o seu potencial genético de crescimento. · Presente em 26% dos natimortos, e aumenta em 10x a mortalidade perinatal - A quebra da homeostase de forma muito aguda, ou muito rápida, pode resultar em comprometimento respiratório (hipoxemia), e quando de forma crônica, ou insidiosa, o comprometimento nutricional (CIUR). · Pode haver uma mescla dos dois fatores, é comum · DPPNI é uma causa de CIUR de forma aguda, com componente respiratório prevalente. - CIUR é um substrato estrutural da injúria fetal prolongada, com insuficiência da placenta. - Definido · Peso estimado pela ultrassonografia menor que o percentil 10º para idade gestacional, com isso solicitamos o Doppler · Será chamado de pequeno para a idade constitucional – se ausência de achados Doppler alterados e VLA normal, e entre o percentil 3º e 10º. · Será chamado de CIUR (crescimento fetal restrito) – se o bebe estiver abaixo do 10º percentil com achados Doppler alterados. · Será chamado de CIUR – se o bebe estiver abaixo do percentil 3º, independente dos achados de Doppler. · Entre o percentil 10º e o 90º - AIG · Abaixo do percentil 10º - PIG ou RCIU · Abaixo do percentil 3º - RCIU, embora exista PIG abaixo do percentil 3º, mas por uma questão de facilitar o acompanhamento, classificamos em RCIU, mesmo com doppler normal · “É melhor pecar por excesso, do que por falta nesses casos” - Ultrassom mandatório de rotina em toda gestante · 1º trimestre – 11 a 14 semanas · Tanto a USG quanto a DUM nos fornece a IG da mulher, e sempre devemos confrontar a USG do 1º com a DUM para verificar se não é erro de data. · 2º trimestre RASTREAMENTO DO PIG - EPF <10º · Erro de data · Falso PIG (AIG) · Verdadeiro PIG · 25% RCIU · 20% insuficiência de placenta – PIG desnutrido · 5% alteração fetal – PIG malformado (cromossomopatia p.ex) · 75% Small Gestational Age (SGA) constitucional (pequenos normais) – PIG normal - Fatores de Risco · CIUR em gestação previa · Síndromes hipertensivas – mais importante e mais comum · Tabagismo · Desnutrição · Colagenoses · Medicamentos · Trombofilias ETIOLOGIAS - Causas · 50-70% são constitucionais · 5-10% por cromossomopatias e malformações · 20-30% por síndromes hipertensivas (insuficiência placentária) - Por compartimentos · Materno – insuficiência placentária · Placentário (obstétrico) – insuficiência placentária e intrínseco · Fetal – intrínseco (5% dos casos) - Trombofilias congênitas ou adquiridas são causas idiopáticas, mas que não são investigadas durante a gestação. - Principalmente no 3º trimestre, o crescimento do bebê é mais robusto, com maior ganho de peso, no 7-8 mês o feto ganha 150-200g/semana - Classificação · Tipo I – simétrico (fetal, 5% dos casos) · Fator intrínseco – DBP afetado; etiologia viral, radiação (5 Rad, 5-6 urografias excretoras) e genética · Tipo II – assimétrico (polo cefálico normal, e abdome anormal, p. ex) · Fator extrínseco – DBP não afetado; insuficiência placentária (mãe com hipertensão, por exemplo) · Tipo III – intermediário · Fator extrínseco – DBP pouco afetado; desnutrição - Classificação da RCF em · Precoce · Diagnóstico <32 semanas · Parto <37 semanas – prematuros · Prevalência de 1-2% (20-30%) · Associação com pré-eclâmpsia precoce em 50% · Insuficiência placentária grave · IP AU> p95 · Feto imaturo – hipoxemia/hipoxia grave, readaptação CV crônica, história natural longa, alta morbimortalidade neonatal e morbidade sistêmica a longo prazo. · Tardia · Diagnóstico >32 semanas · Parto >37 semanas – termos · Prevalência 3-5% (70-80%) · Associação com pré-eclâmpsia tardia 10% · Insuficiência placentária leve · IP AU nl. IP Aut>p95; RCP*<p5 · Feto maduro – hipoxemia, hipoxia leves, óbito fetal próximo ao termo, baixa morbimortalidade neonatal e morbidade neurológica a longo prazo. · *RCP – relação do fluxo da ACM/fluxo da umbilical INVESTIGAÇÃO - O doppler investiga três compartimentos – materno, fetal e o placentário (nos fornece a informação da troca entre a mãe, placenta e o feto) · Materno é representado pelas artérias uterinas direita e esquerda · Placentário é representado pelas artérias umbilicais, avaliar a medida do fluxo dessas artérias · Fetal é representado pela artéria cerebral média · Uterina (M) -> Umbilical (P) -> Cerebral Média (F) CONDUTA - O grande problema para esses bebês é a prematuridade, o que eleva a mortalidade - Melhor momento para o parto? Isso exige o conhecimento de quando o ambiente fora é melhor que o ambiente intraútero. · Quanto mais próximo o feto nasce do termo, menor a morbimortalidade, sempre que possível o eu prefiro que o feto nasça a termo, mas isso vai depender se ele vai conseguir chegar até lá. - Repercussões a saúde do RN no curto, médio e longo prazo – prematuridade. - Realidade do professor – a partir de 28 semanas o feto pode nascer vivo e acompanhado - Conduta de acordo com grupo Barcelona de estudo para CIUR - Se feto pequeno para idade gestacional abaixo percentil 10º (isso eu vou saber com o ultrassom do pré-natal, por exemplo a mulher tem hipertensão ou o fundo uterino é pequeno para IG, daí eu solicito o USG) · Conduta: fazer o Doppler de três compartimentos · Se o Doppler dos três compartimentos não tiver anormalidades – É feito USG obstétrico com Doppler mensal. · A via de parto de escolha é a obstétrica com pelo menos 40 semanas · O acompanhamento é feito como pré-natal de alto risco - Se o feto for CIUR abaixo do percentil 10º e o IP* média das artérias uterinas alterando a relação ACM/UMB menor que o percentil 5º OU IP* da artéria umbilical acima do percentil 95 · É solicitado – USG obstétrico com Doppler quinzenal associado a PBF e Doppler semanal · A via de parto é obstétrica com pelo menos 37 semanas · O acompanhamento é particularizado a depender das condições maternas · *IP = Índice de Pulsatilidade · Se a mulher com CIUR alterar Doppler interna na enfermaria - Se o feto for um CIUR abaixo do percentil 10º e o IP da artéria umbilical >p95 E/OU IP da ACM <p5. · Resolução com 37 semanas · Via de parto é particularizada · 28 semanas =< IG <36 semanas · Doppler 3x por semana · IG < 28 semanas · Doppler 2x por semana · Nessas situações ocorre internação a partir de 24 semanas – corticoide e monitoramento materno · E o que fazer se Diástole zero OU reversa na artéria umbilical? · Diástole zero – diástole baixa chegando na linha de base · Diástole reversa – fluxo enchendo em situação de · É uma situação grave - Artéria umbilical diástole zero OU reversa · IG < 28 semanas · Doppler 2x por semana – DV IPV >=1 e resolução IG >= 28 semanas · 28 =< IG < 30 semanas · DV IPV <1 – Internação e corticoide, e DV a cada 24 horas · DV IPV >=1 – Parto via alta, corticoide e sulfato de magnésio · IG >= 34 semanas para diástole zero (DZ) e IG >= 30 semanas para diástole reversa (DR) · Parto via alta, corticoide e sulfato de magnésio - Se complicações potencialmente fatais – síndrome HELLP, pré-eclâmpsia e outras é feito a interrupção da gestação. VIA DE PARTO - O colo não favorável não inviabiliza a indução do parto, DIGITAT e o HYPITAT trials demonstraram a possibilidade de indução com gestações acometidas por desordens hipertensivas e CIUR - A CIUR pode estar associada a hipoxia em variados graus, consequentemente é importante otimizar a resolução da gestação e o monitoramento contínuo intraparto. A análise do cordão umbilical é sugerida se houver disponibilidade - A CTG e o PBF antenatais normais autorizada a tentativa do parto induzido e monitorado de forma contínua autoriza a tentativa de parto induzido e monitorado de forma contínua. Entretanto, a frequência de cesariana por padrão cardiotográfico não tranquilizador é elevado, em decorrência da alta prevalência de hipoxia crônica e oligodramnia - Em resumo – discutir com a equipe e o casal a melhorforma de resolução, considerando os recursos disponíveis para cada serviço. · Parto normal – é possível em bebe com CIUR, mas sem alteração de artéria umbilical ou cerebral média por exemplo. PROGNÓSTICO - Estudo retrospectivo com 355 fetos CUIR versus fetos com crescimento normal, avaliou: · Natimorto (2,5x OR 6,2) · Morte neonatal (1,4x OR 5,2) · Parto prematuro (2,5x OR 10,8) · RN pequeno para idade (37x OR 5,5) - Estudo prospectivo de 436 fetos com CIUR versus fetos com crescimento normal, avaliou: · 34 a 51% nascidos vivos e sobreviveram ao parto · 27 a 43% nascidos vivos e sobreviveram ao parto sem morbidade grave (displasia broncopulmonar grave, enterocolite necrosante grave, retinopatia grave da prematuridade, hemorragia intraventricular grave III ou IV) - Deve-se explicar de forma mais clara possível aos familiares, quanto ao aumento da morbimortalidade. RECORRÊNCIA - Estudo prospectivo com fetos CIUR versus fetos com crescimento normal (23 versus 3%) - Medidas preventivas em gestações subsequentes · Mudanças de hábitos – ingesta de álcool, tabagismo e hábitos educação alimentar. · Baixas doses de aspirina em pacientes com CIUR secundário a desordens hipertensivas reduz incidência de CIUR comparado ao placebo. · Heparina de baixo peso molecular e não fracionada não reduz pré-eclâmpsia, CIUR, DPPNI e perda fetal. · Mudanças da dieta e suplementos, uso de anti-hipertensivos, betamiméticos e repouso não previvem CIUR.