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Estrutura e formação das palavras Morfema Lexical Morfema derivacional Morfema flexional Alomorfia Morfema é a menor parte significativa que constitui uma palavra. Uma palavra pode apresentar vários morfemas (ou “pedaços”). Por exemplo, a palavra supervalorização tem quatro (4) partes: super + valor + iza + ção. Existem três tipos de morfema: lexical, derivacional e flexional. Vejamos um por um: O morfema lexical é aquele que não pode faltar nas palavras, carrega o significado das palavras e serve de base para que outros morfemas se juntem a ele formando novas palavras. os morfemas lexicais são indecomponíveis, ou seja, não podem ser fragmentados. Exemplo: livreiro (livr- é o morfema lexical – radical, pois posso formar outras palavras com este pedaço, como livrinho, livraria, livrete etc.). é aquele que se une ao morfema lexical para formar novas palavras. São os afixos: prefixos e sufixos. Diz-se normalmente que uma palavra se flexiona quando não há troca de radical nem acréscimo de afixos (prefixo e sufixo), mas sim quando há uso de desinências, ou seja, morfemas que indicam o gênero e o número das palavras (no caso dos nomes) e que indicam o modo, o tempo, o número e a pessoa (no caso dos verbos) sem mudar a classe gramatical das palavras. é uma mudança, uma variação, uma alteração em algum morfema para que a palavra seja bem pronunciada. Normalmente isso ocorre nos morfemas lexicais (radicais). Um exemplo disso é o verbo fazer, que apresenta alomorfia no radical faz- (faço; fez; fizera; farei; feito). RADICAL Antes de qualquer coisa, é bom dizer que raiz e radical são conceitos levemente diferentes. A raiz é um radical mais antigo, ou seja, a raiz é um morfema que deu origem ao radical. Quando estudamos raiz, temos de olhar para o latim, para o grego e outras línguas. Por exemplo, veja estas palavras: amargo, amargor, amargura, amargurar, amargurado, amaríssimo. Percebeu que a última palavra apresenta o radical amar-? Por quê? Muito simples. No latim, amargo era amarus. Eis, portanto, a raiz da palavra amargo. Radical é o mesmo que morfema lexical, é a base da palavra, é a parte responsável pela significação principal de uma palavra e pela formação de novas palavras. Sem radical não há palavra(s). Afixos Os afixos são morfemas derivacionais ligados ao radical e capazes de modificar o seu significado, formando palavras novas. Existem dois tipos: os prefixos e os sufixos. O prefixo vem antes do radical para ampliar sua significação e formar nova palavra. É bom dizer também que o prefixo pode mudar de sentido e de forma (alomorfia), a depender do contexto. Ex. des + graça = desgraça, des+pedaçar. O sufixo vem depois do radical para ampliar seu sentido e formar nova palavra. Ex. – Buda (substantivo) > budista (adjetivo). Nominais Verbais VTs nominais VTs verbais Desinências Desinências são morfemas flexionais colocados após os radicais. Apenas indicam, no caso dos nomes, o gênero e o número das palavras; no caso dos verbos, indicam o modo, o tempo, o número e a pessoa. Tais morfemas não formam novas palavras, mas flexionam, variam, mudam levemente a forma da mesma palavra, indicando certos aspectos. Portanto, não confunda desinência com sufixo! Elas podem ser nominais ou verbais. As desinências -o (masculino) e -a (feminino) indicam o gênero: aluno e aluna, gato e gata, lobo e loba, cachorro e cachorra, menino e menina etc. Tais desinências servem para indicar o sexo do ser (pessoa ou animal). Ela não só aparecem em substantivos, mas também em adjetivos, pronomes e numerais: bonito/bonita, nosso/nossa, primeiro/primeira etc. Existem as desinências modo-temporais (DMTs) e as desinências número-pessoais (DNPs). As DMTs marcam a flexão do verbo para indicar as noções de certeza, fato (modo indicativo) e incerteza, hipótese (modo subjuntivo), tempo passado (pretérito perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito), presente e futuro (do presente e do pretérito). Vogal Temática A vogal temática (VT) vem imediatamente após o radical para ligá-lo à desinência de número ou aos sufixos. Com ela, a palavra passa a ter um bom som (eufonia). Veja algumas informações importantes sobre VTs (nos nomes e nos verbos): O conjunto radical + vogal temática recebe o nome de tema: beij + o = beijo (tema). As VTs -a, -e, -o, quando átonas finais, como em “casa, leve, povo”, são vogais temáticas nominais. É a essas VTs que se liga a desinência indicadora de plural ou sufixos: povo-s, leve-s, casa-s; povo-ado, leve-mente, casa-mento. Os nomes terminados em consoante ou em vogal tônica são atemáticos, ou seja, não formam temas, pois não têm VT: cor, raiz, cajá, Pelé, tupi, cipó, baú... É uma vogal que vem após o radical (a, e, i), formando o tema e permitindo uma boa pronúncia do verbo. Indica como vai ser o modelo (paradigma) das conjugações (1a conjugação: -a / 2a conjugação: -e / 3a conjugação: -i). É bom dizer que não há VT na 1a pessoa do singular do presente do indicativo e em nenhuma flexão do presente do subjuntivo (em “Eu amo.”, o -o é DNP; em “Espero que ele volte.” ou “Espero que ele beba.”, o -e e o -a são DMTs). Reveja o quadro de DMTs e DNPs, por favor. Vejamos as VTs verbais: amar: Eu amei, tu amaste, ele amou, nós amamos, vós amastes, eles amaram (pretérito perfeito do indicativo). PROCESSO DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS – Palavra derivada é aquela que resulta de outra na língua portuguesa, isto é, que sofreu processo de derivação: cadavérico, florista, empedrado, descasamento, esverdeado, solar etc. – Palavra simples é aquela que só tem um radical, isto é, que não sofreu processo de composição: flor, pedra, casa, verde, sol etc. – Palavra composta é aquela que tem mais de um radical, isto é, que sofreu processo de composição: flor- amarela, pedra-sabão, casa-comum, verde-água, girassol, etc. DERIVAÇÃO Prefixal A derivação prefixal se dá quando um prefixo é 1) colocado junto à palavra primitiva ou 2) colocado como último elemento de uma palavra que já havia sofrido algum processo de formação*. Veja três exemplos de cada caso, respectivamente: – homem > super- + homem > super-homem – duque > arqui- + duque > arquiduque – pôr > com- + pôr > compor – homem > humano > super- + humano > super-humano – duque > duquesa > arqui- + duquesa > arquiduquesa – pôr > compor > de- + compor > decompor Sufixal Ocorre derivação sufixal quando um sufixo é 1) colocado junto à palavra primitiva ou 2) colocado como último elemento de uma palavra que já havia sofrido algum processo de formação. Veja três exemplos de cada caso, respectivamente: – pincel > pincel + -ada > pincelada – cabeça > cabeça + -ear > cabecear – sutil > sutil + -mente > sutilmente – cobrir > descobrir > descobrir + -mento > descobrimento1 – sexo > sexual > bissexual > bissexual + -ismo > bissexualismo2 – barco > embarcar > embarcar + -ção > embarcação Parassintética (Circunfixação) A derivação parassintética ocorre quando há acréscimo simultâneo de prefixo e de sufixo a uma palavra primitiva (substantivo ou adjetivo). Como diz Margarida Basílio (no excelente texto Teoria Lexical), “nem todas as palavras que apresentam prefixo e sufixo em sua formação devem ser consideradas como de formação parassintética”. Normalmente a parassíntese forma verbos (1). Há, entretanto, alguns nomes adjetivos (2) formados por derivação parassintética. Veja: 1) envelhecer (en + velho + ecer), aterrar (a + terra + ar), abençoar (a + bênção + ar), amanhecer (a + manhã + ecer), apedrejar (a + pedra + ejar), esfoliar (es + fólio + ar), embarcar (em + barco + ar), emagrecer (e + magro + ecer), amamentar (a + mama + entar), desterrar (des + terra + ar), emudecer (e + mudo + ecer), apadrinhar (a + padrinho + ar) etc. 2) desalmado (des + alma + ado), desbocado (des + boca + ado), desbundado (des + bunda + ado), subterrâneo (sub + terra + âneo), conterrâneo (con + terra + âneo), ensonado (em + sono + ado), descampado (des + campo + ado), envernizado (em + verniz + ado), acebolado (a + cebola + ado), avermelhado (a + vermelho + ado), abatatado(a + batata + ado) etc. Uma maneira clássica de perceber se a palavra sofreu derivação parassintética é retirar o prefixo ou o sufixo. Se alguma palavra sobrar com a retirada de um dos afixos e fizer sentido, existindo na língua portuguesa, mantendo o sentido do radical, aí não houve derivação parassintética. Caso contrário, derivação parassintética certa! Exemplo: enegrecer: enegro (?) / negrecer (?); descerebrado (idiota, imbecil): descérebro (?) / cerebrado (?). Percebe que não é possível retirar os afixos dessas palavras, senão elas deixarão de existir? Logo, sofreram derivação parassintética. Recomendo que só leia isto, se você estiver em um nível avançado. Temos de tomar muito cuidado com as palavras que sofreram derivação parassintética terminadas em -ado, pois este “sufixo” pode ser confundido com uma desinência” de particípio. E, como já sabemos a esta altura do campeonato, desinência serve à flexão, não à derivação. Em outras palavras, se a palavra terminar em -ado e, no contexto, for um particípio, ela não sofreu derivação parassintética; não obstante, se -ado for um sufixo formador de adjetivo, a palavra sofreu derivação parassintética. Uma maneira fácil de perceber se a palavra é tomada como adjetivo no contexto, para que digamos que ela sofreu derivação parassintética, é perceber seu sentido (adjetivo indica estado, característica, qualidade; verbo no particípio indica ação praticada por alguém). Desalmado só é formado por derivação parassintética como adjetivo: “Você é um homem muito desalmado!” Pronto. Agora desalmado (des + alma + ado) é um adjetivo. E -ado é um sufixo formador de adjetivo, e a palavra sofreu derivação parassintética (desalmado é aquele que não tem alma, figurativamente falando (sem compaixão, sem empatia)). Exceto em linguagem bem erudita como a de Rui Barbosa, tal palavra é usada normalmente como um adjetivo. Sacconi diz que a palavra submarino sofreu derivação parassintética. Entretanto, tal análise é passível de discussão séria, pois submarino vem de marino (palavra existente na língua), portanto, houve derivação prefixal. Outra informação pertinente é que palavras terminadas em -mento são erradamente analisadas como parassintéticas por alguns professores (eu, inclusive, em início de carreira) e por algumas bancas de concurso. Nenhuma palavra da língua portuguesa terminada em -mento pode ser encarada como parassintética, pois esse sufixo é formador de substantivos apartir de verbos, logo: alinhar + mento = alinhamento; desmatar + mento= desmatamento. OSERVAÇÕES: Analise comigo: sobre o verbo desalmar, o dicionário Aulete diz: “tornar desalmado; desumanizar, perverter: “A política do heroísmo desalmou os seus chefes”. (Rui Barbosa, Ruínas de um Governo, p. 6, 175, ed. 1931). Transpondo para a voz passiva tal frase de Rui Barbosa teríamos: “Os seus chefes foram desalmados pela política do heroísmo”. Percebe que desalmados é um verbo no particípio? Portanto não há derivação na palavra, mas sim flexão, pois ela recebeu uma desinência de particípio (desalmar + ado). Se a palavra está no particípio, então -ado é uma desinência, e não um sufixo! Particípio é flexão do verbo, não derivação. Então, quando desalmado será palavra formada por derivação parassintética? Sendo assim, os gramáticos dizem que ela sofreu derivação parassintética. Regressiva (Regressão) Ocorre derivação regressiva quando um verbo que indica ação serve de base para a formação de um substantivo abstrato que igualmente indica ação ou resultado de uma ação – tal substantivo é chamado de deverbal, pois é derivado de verbo. A ideia de regressão (diminuição do vocábulo do ponto de vista estrutural e fonético) ocorre porque o verbo perde sempre sua terminação (vogal temática + desinência de infinitivo: -ar, -er, -ir) dando lugar à vogal temática nominal (-a, -e, -o). Substantivação Imprópria (Conversão) A derivação imprópria se dá pela mudança (daí conversão) de classificação morfológica de uma palavra, a depender do contexto. A palavra não muda absolutamente nada na forma; o que muda é sua classificação morfológica e seu sentido. É por isso que ela é chamada de imprópria, ou seja, ela não é propriamente uma derivação, pois não se usam morfemas (afixos) para mudar a forma da palavra. Veja alguns exemplos de como isso ocorre: A derivação imprópria se forma com muita vitalidade por meio da substantivação. Qualquer morfema, palavra, expressão ou frase pode se tornar um substantivo desde que esteja acompanhada de algum determinante (artigo, pronome, numeral, adjetivo, locução adjetiva) ou tenha valor substantivo (designador) no contexto: – Você tem aracnofobia? (radical) / Eu tenho muitas fobias. (substantivo) – Sou muito pró-ativo. (prefixo) / Esta questão só tem um pró. (substantivo) – Aquela blusa é preta? (adjetivo) / Preta, você me ama? (substantivo) – A casa foi comprada ontem. (artigo) / Esse a da frase anterior é um artigo. (substantivo) – Eu me amo, não posso mais viver sem mim. (pronome) / O me, o te e o se também funcionam como objetos diretos. (substantivos) Composição por Justaposição e por Aglutinação Ocorre composição quando uma palavra é constituída por dois ou mais radicais. Há dois tipos de composição: por justaposição e por aglutinação. Vejamos! Por Justaposição Neste tipo de composição, não há perda de elementos estruturais e fonéticos nos radicais (normalmente separados por hífen): pontapé (ponta + pé), vaivém (vai + vem), passatempo (passa + tempo), paraquedas (para + quedas), girassol (gira + sol), dezoito (dez + oito), joão-bobo (João + bobo), abelha-rainha (abelha +rainha), caixa- d’água (caixa + água)*, guarda-chuva (guarda + chuva), maria vai com as outras (maria + vai + outras)*, leva e traz (leva + traz)* etc. Por Aglutinação Neste tipo de composição, há perda de elementos estruturais e fonéticos nos radicais (não são separados por hífen): boquiaberto (boca + aberta), mundividência (mundo + vidência), alvinegro (alvo + negro), fidalgo (filho de algo), embora (em + boa + hora), aguardente (agua + ardente), petróleo (pedra + óleo), noroeste (norte + oeste), vinagre (vinho + acre), lobisomem (lobo + homem), planalto (pla- no + alto), pernilongo (perna + longa) etc. Onomatopeia Este processo é caracterizado por formar palavras (verbos, substantivos, interjeições) que imitam/reproduzem sons de seres animados ou inanimados: bangue- bangue, zum-zum-zum, blá-blá-blá, tique-taque, pingue-pongue, bem-te-vi, nhenhenhém, nheco -nheco, zás trás, zumbir, rugir, mugir, miar, cacarejar etc. Obs.: Vale dizer que alguns gramáticos chamam de reduplicação/redobro a petição de parte de uma palavra ou de toda ela com finalidade expressiva, como em Lulu, babá, ioiô, reco-reco e outras acima.