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TEORIA DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL

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UNIDADE 1 
Introdução da unidade 
Nesta unidade, você será apresentado ao mundo das investigações criminais, 
principalmente no que tange a seus aspectos orgânicos e sistêmicos. 
Na primeira aula desta unidade, abordaremos os aspectos gerais relativos à 
investigação criminal, com seu conceito, previsões legais e classificações. No 
que concerne ao conceito da investigação, estudaremos desde a etimologia da 
palavra até sua conceituação para diferentes autores, possibilitando, assim, a 
construção concatenada de um conceito próprio. 
Já no que tange às previsões legais, o objetivo é abordar tanto as previsões 
constitucionais e processuais penais, relativas à investigação criminal, quanto 
aquelas previstas em legislações especiais, permitindo a obtenção de 
conhecimentos amplos relativos aos instrumentos investigativos. 
Em se tratando das classificações da investigação criminal, abordaremos a 
chamada investigação pura (ou constitucional), a investigação derivada que, 
apesar da previsão constitucional, é realizada fora do padrão previsto para as 
infrações comuns e, por fim, a investigação impura, aquela que não possui 
previsão constitucional, mas existe em legislações esparsas, abordando os 
aspectos inerentes a cada uma delas. 
A segunda aula desta unidade tem por objetivo o estudo dos aspectos históricos 
que permeiam a investigação criminal, analisando sua realização com a 
antiguidade, por meio dos Magiaí, no antigo Egito, passando pelas previsões 
legais contidas no Código de Hamurabi da Babilônia, até as previsões do Direito 
Grego e Romano. 
Abordaremos, ainda, as investigações criminais no Brasil e como se 
desenvolveram durante o período das Ordenações do Reino, tratando 
especificamente das Ordenações Afonsinas (1446-1521), das Ordenações 
Manuelinas (1521-1603) e das Ordenações Filipinas (1603-1830), culminando 
na edição do Código Penal do Império e a alteração dos modelos até então 
adotados. 
Realizaremos uma análise acurada acerca da investigação criminal e suas 
nuances após a promulgação da Constituição de 1988, e a proteção aos direitos 
 
 
e garantias fundamentais trazida por meio do modelo garantista adotado após o 
período. 
Por meio da abordagem teórica, a última aula desta unidade abordará os 
sistemas processuais penais inquisitivo, acusatório e misto e como eles 
influenciam os procedimentos investigativos, principalmente no que tange à 
necessidade de respeito ao protecionismo constitucional. 
Nesta aula, trataremos, inclusive, da Lei Federal 13.964, de 24 de dezembro de 
2019, denominada “Pacote Anticrime” e as alterações trazidas no bojo do próprio 
sistema. 
Qual é o foco da aula? 
Nesta aula, vamos analisar os aspectos orgânicos e sistêmicos inerentes ao 
processo de investigação criminal, tendo por ponto de partida seu conceito 
enquanto fase primária da persecução penal, que tem por objetivo apurar a 
responsabilidade e a autoria relativa ao delito. 
Objetivos gerais de aprendizagem 
Ao longo desta aula, você irá: 
 definir o conceito de investigação criminal; 
 discutir as previsões legais; 
 analisar a classificação da investigação criminal. 
Situação-problema 
Nesta aula, abordaremos as previsões legais relativas à investigação criminal, 
seja na Constituição Federal, Código de Processo Penal ou legislação 
extravagante, principalmente no que concerne às competências e atribuições 
dos órgãos responsáveis. 
Outro assunto de suma importância para o presente estudo são as classificações 
da investigação criminal, comumente dividida pela doutrina em autêntica, 
derivada e impura, a depender de sua relação com a autorização constitucional. 
Imaginemos uma situação em que, instalada uma CPI na Câmara dos 
Deputados, sem obediência ao quórum necessário, justificada pela ausência dos 
pares na sessão de votação em decorrência do risco da contaminação por 
coronavírus, é determinada a quebra do sigilo financeiro de um investigado por 
ato de improbidade administrativa. 
Você, instado como parecerista da procuradoria parlamentar sobre a 
legitimidade desse ato, deve apresentar resposta sobre a 
legalidade/constitucionalidade do ato. 
O estudo das questões abordadas nesta disciplina é relevante para o auxiliar no 
processo de tomada de decisões, principalmente no que tange à possibilidade 
de uma consulta a respeito do tema, razão pela qual a atenção aos detalhes que 
envolvem o tema é indispensável. 
 
 
Conceito 
Ao tratarmos do processo de investigação criminal, com relação a seus aspectos 
orgânicos e sistêmicos, é indispensável partirmos da conceituação desse 
complexo ato que inaugura a persecução penal. 
A expressão “investigação” vem do latim, investigatione, que, segundo o 
Dicionário Jurídico de Washington dos Santos (2001, p. 130) é: 
“Ato ou efeito de investigar; indagação minuciosa; inquirição; busca, pesquisa”, 
sendo definido, ainda pelo mesmo autor, que a “investigação criminal” refere-se 
ao “processo preparatório do sumário ou instrução criminal”. 
A investigação criminal, enquanto fase inaugural da persecução penal, visa a 
apuração dos fatos que envolvem um delito, com o objetivo de apontar sua 
materialidade e autoria. 
Nesse sentido, Piero Calamandrei (1936, p. 21), ao tratar da investigação, 
conceitua da seguinte forma: 
“É o conjunto de atividades desenvolvidas concatenadamente por órgãos do 
Estado, a partir de uma notícia-crime, com caráter prévio e de natureza 
preparatória com relação ao processo penal, e que pretende averiguar a autoria 
e as circunstâncias de um fato aparentemente delituoso, com o fim de justificar 
o processo ou o não-processo.” 
Tomando por base tais premissas, podemos conceituar a investigação criminal 
como um conjunto de procedimentos e diligências, de caráter estritamente 
técnico, que tem por objeto a coleta de evidências destinadas a demonstrar a 
existência e determinar a autoria de um delito, a fim de que as informações 
coletadas sejam efetivamente utilizadas durante o processamento e julgamento 
do feito. 
 
A investigação criminal é uma atividade estatal voltada ao efetivo esclarecimento 
de um fato considerado criminoso e dotada do que chamamos de função tripla, 
qual seja, a preservação da evidência obtida, afastamento de acusações 
desprovidas de provas e a garantia de uma causa justa para a inauguração de 
uma ação penal. 
 
 
Nessa seara, visando conceituar o instituto da investigação criminal, Eliomar 
Pereira da Silva (2011, p. 43), em sua obra Teoria da Investigação Criminal, é 
didático ao defini-la como: 
“Pesquisa, ou conjunto de pesquisas, administrada estrategicamente, no curso 
da qual incidem certos conhecimentos operativos oriundos da teoria dos tipos e 
da teoria das provas, apresentando uma teorização sob várias perspectivas que 
concorrem para a compreensão de uma investigação criminal científica e 
juridicamente ponderada pelo respeito aos direitos fundamentais, segundo a 
doutrina do garantismo penal.” 
Ante a tais apontamentos, é possível concluir que a investigação criminal é o 
meio que dispõe o Estado para averiguar a autoria, existência e materialidade 
de um determinado delito, colhendo os subsídios necessários para a correta e 
fiel instrução de eventual processo criminal, com o objetivo de possibilitar a 
persecução penal e eventual condenação do acusado, portanto, instrumento 
indispensável ao bom andamento da justiça penal. 
Previsões legais 
A investigação criminal, em que pese não possuir um conceito definido pela 
própria legislação, possui previsão, tanto na Constituição Federal como no 
Código de Processo Penal e, até mesmo, em legislações especiais. 
A Magna Carta, ao tratar da investigação criminal, aborda a competência 
atribuída à Polícia Federal e Civil para apuração de infrações penais; a 
possibilidade de o Ministério Público requisitar diligências investigatórias e, 
ainda, a possibilidade de violação de sigilo de correspondênciaou comunicação 
telefônica para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. 
Ao tratar do tema Segurança Pública, a Constituição Federal, em seu art. 144, 
§1º, atribui à Polícia Federal a responsabilidade pela efetiva apuração dos delitos 
cometidos contra a ordem política, social ou que afetam os interesses da União. 
Assim, a previsão constitucional a respeito da Polícia Federal, no que concerne 
à investigação criminal, é enfática ao atribuir-lhe responsabilidade pela apuração 
de determinados delitos que afetam direta ou indiretamente os interesses da 
União ou que possuam repercussão interestadual ou internacional. 
O parágrafo 4º do art. 144, ao definir a competência da polícia civil, atribui-lhe as 
funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, ou seja, impõe-
lhe a competência para investigação dos delitos em geral. 
Outro aspecto relevante no que tange à previsão constitucional da investigação 
criminal, diz respeito à necessidade de respeito aos direitos fundamentais, sendo 
sacramentado no art. 5º, XII (BRASIL, 1988), por exemplo, que: 
“É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de 
dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, 
nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal 
ou instrução processual penal.” 
 
 
Relevante, ainda, apontar que o STF reconheceu, no bojo do RE 593.727, a 
competência constitucional do Ministério Público para promover, por autoridade 
própria, a investigação de natureza penal. 
 
Quanto à previsão das investigações criminais no bojo do Código de Processo 
Penal, o art. 4º do códex é enfático ao atribuir a função de polícia judiciária às 
autoridades policiais no território de sua circunscrição, definindo, ainda, que sua 
finalidade será a de apurar infrações penais e sua autoria, ou seja, exercer, 
efetivamente, a atividade investigativa. 
Importante apontarmos que a Lei Federal 12.830, de 20 de junho de 2013, versa 
sobre a investigação criminal conduzida pelo delegado de polícia, sendo enfática 
ao determinar, no parágrafo primeiro de seu art. 2º, que a investigação criminal 
será conduzida pelo delegado de polícia, por meio de inquérito policial ou outro 
procedimento, com o intuito de apurar a materialidade e a autoria de infrações 
penais. 
Ainda ao buscarmos referências na legislação especial, destacamos a Lei 
12.529/11 que atribui o Conselho Administrativo de Defesa Econômica – CADE 
para apurar infrações econômicas relativas à defesa da concorrência; a Lei 
9.605/98, que atribui ao IBAMA a competência para apuração de infrações 
ambientais e, até mesmo, a Lei 12.846/13, que atribui à CGU a responsabilidade 
pela apuração de ilícitos contra a Administração Pública relacionados à Lei 
Anticorrupção. 
 
Classificação da investigação criminal 
. 
A fim de nos aprofundarmos no tema, é importante destacar que a investigação 
criminal, enquanto instrumento do Estado para apuração da materialidade e 
autoria de fatos delitivos, pode ser classificada de três formas, a depender da 
sua previsão legal e do órgão competente para realizá-la. 
A primeira classificação da investigação criminal é reservada para o 
procedimento comum, previsto constitucionalmente e realizado sob a 
 
 
presidência de um Delegado de Polícia. A essa classificação damos o nome 
de “Investigação Criminal Constitucional”, sendo nomeada por alguns 
autores como “autêntica” ou “pura”. 
A investigação criminal constitucional é efetivada pela Polícia Federal e pela 
Polícia Civil, na forma discriminada no art. 144 da Constituição Federal e voltada 
à apuração de infrações penais comuns (no caso da Polícia Civil) ou que afetam 
os interesses da União (no caso da Polícia Federal). 
Podemos, ainda, classificar a investigação criminal como “derivada”, quando sua 
execução é diversa do modelo padrão, como no caso das infrações militares nas 
quais a apuração deve ser realizada pela polícia judiciária militar, segundo 
previsão do art. 8º do Código de Processo Penal Militar (Lei nº 1.002/1969). 
Outra espécie de investigação criminal derivada é aquela realizada pela CPI 
(Comissão Parlamentar de Inquérito), prevista no art. 58, §3º da Constituição 
Federal (BRASIL, 1988), que confere poderes de investigação próprios das 
autoridades judiciais às Comissões: 
“Art. 58. [...] 
[...] 
3º As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação 
próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das 
respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado 
Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de 
seus membros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo 
suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que 
promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.” 
 
Na hipótese de uma investigação criminal sem previsão constitucional, 
estaremos diante da chamada “investigação criminal impura”. 
A investigação criminal impura é a classificação dada às investigações 
realizadas sem previsão constitucional, sendo orientadas apenas por legislação 
especial, como as realizadas, por exemplo, pelo Conselho de Controle de 
Atividades Financeiras – COAF; Conselho Administrativo de Defesa Econômica 
 
 
– CADE ou Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais 
Renováveis – IBAMA. 
Com isso, no que tange às classificações da investigação criminal, é possível 
concluir que indicam não apenas o procedimento a ser adotado, mas também as 
partes integrantes do processo acusatório e quem, efetivamente, adotará as 
providências relativas à apuração de eventual delito, bem como sua 
materialidade e autoria. 
Consigne-se que, independentemente da efetiva classificação da investigação e 
sua previsão ou não no texto constitucional, é indispensável que sejam 
respeitados os direitos fundamentais dos investigados, não servindo a utilização 
de ordenamento especial para o desvirtuamento do caráter da investigação 
criminal. 
______ 
🔁 Assimile 
A investigação impura, como aquela realizada pelo COAF, foi impulsionada pelo 
julgamento do RE 1055941, em 04 de dezembro de 2019, onde o Supremo 
Tribunal Federal, por 10 votos a 1, aprovou as regras de compartilhamento de 
dados fiscais e bancários em investigações criminais, determinando que o COAF 
deve enviar as informações à polícia ou ao Ministério Público por meio de 
comunicação formal, protegida por sigilo e reservando-se a possibilidade de 
fiscalização judicial acerca de possíveis abusos; dessa forma, passou-se a 
dispensar a autorização judicial para o procedimento, fixando-se o Tema de 
Repercussão Geral nº 990. 
______ 
💭 Reflita 
Com base nos temas estudados, é possível refletir acerca das investigações 
criminais impuras e a ausência de autorização constitucional para sua execução, 
principalmente no que tange à violação de sigilo para fins investigativos realizada 
pelos órgãos de controle, como a Receita Federal e o Conselho de Controle de 
Atividades Financeiras. Essa violação fere a intimidade protegida pela Magna 
Carta? 
______ 
📝 Exemplificando 
No ano de 2020, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras bateu seu 
recorde de Relatórios de Inteligência Financeira (RIFs). Até 1º de dezembro 
daquele ano, foram expedidos 11.043 relatórios, quase 4 mil a mais do que no 
ano de 2018. 
______ 
 
 
Os conceitos abordados nesta disciplina têm por objetivo auxiliar você no 
processo de assimilação e introdução à matéria de investigação criminal, 
demonstrando didaticamente as origens dos instrumentos investigativos e o 
papel do próprio Estado a depender do sistema de persecução penal adotado 
Conclusão 
A situação problema apresentou a situação hipotética em que você é colocado 
na situação de parecerista de uma procuradoriaparlamentar, tendo sido 
questionado quanto à legalidade/constitucionalidade de ato perpetrado em uma 
Comissão Parlamentar de inquérito. 
Nessa situação hipotética, instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito na 
Câmara dos Deputados, sem obediência ao quórum necessário, a qual teve por 
justificativa a ausência dos pares na sessão de votação em decorrência do risco 
à contaminação ao coronavírus, foi determinada a quebra do sigilo financeiro de 
um investigado por ato de improbidade administrativa. 
Espera-se que estudantes fundamentem suas resposta nas disposições do art. 
58, §3º da Constituição Federal, frisando que as Comissões Parlamentares de 
Inquérito, nos termos do citado artigo, possuem poderes de investigação 
próprios de autoridades judiciais, além de outros previstos em regimentos. 
A fim de complementar sua dissertação, discentes devem fundamentar que a 
quebra de sigilo bancário é possível por determinação judicial, desde que 
demonstrado o interesse público relevante envolvido na questão. 
Estudantes devem frisar que, à luz das disposições do art. 58 da Constituição 
Federal acerca dos poderes de investigação da Comissão Parlamentar de 
Inquérito, em havendo interesse público relevante demonstrado, é possível a 
determinação de quebra do sigilo financeiro de um investigado por ato de 
improbidade administrativa a ser determinada pela CPI. 
A conclusão apresentada deve apontar que, em que pese a legalidade da quebra 
de sigilo por parte da CPI, o desrespeito ao quórum necessário enseja a nulidade 
do ato, posto que há vício de iniciativa da criação da Comissão. 
Qual é o foco da aula? 
Nesta aula, abordaremos os processos investigativos adotados na antiguidade 
e como o sistema de produção probatória funcionava nos primórdios da vida em 
sociedade. 
Objetivos gerais de aprendizagem 
Ao longo desta aula, você irá: 
 examinar a investigação criminal na antiguidade; 
 explicar a ordenação do reino; 
 debater a investigação federal na constituição de 1988. 
Situação-problema 
 
 
O processo investigativo, com o passar dos anos, sofreu diversas mudanças, 
desenvolvendo-se para melhor se adequar as nuances políticas e sociais. A fim 
de ampliar nossos conhecimentos relativos ao tema, é indispensável 
procedermos a uma análise acurada no que concerne à evolução histórica da 
investigação criminal. 
Analisaremos, do ponto de vista histórico, o desenvolvimento das investigações 
criminais no Brasil, desde sua aplicabilidade durante as Ordenações do Reino, 
passando pelo Código Criminal do Império e culminando nos processos 
investigativos previstos na Constituição de 1988. 
Por meio desta aula, pretende-se ampliar os conhecimentos históricos relativos 
à investigação criminal, possibilitando o correto entendimento quanto às 
influências que as legislações antigas exerceram sobre os procedimentos 
atuais. 
Imagine a situação hipotética em que você foi procurado, no ano e 1831, para 
defender uma pessoa acusada de estupro, porém, soube que, para haver a 
confissão do crime, o acusado, seu cliente, passou por um processo inquisitorial 
focado na tortura. De posse dos elementos de defesa da época (se é que 
existem), apresente uma solução de defesa. 
Investigação criminal na antiguidade 
Ao buscar informações relativas às investigações criminais na Antiguidade, é 
possível encontrar traços dela em 4000 a.C., no antigo Egito onde 
os Magiaí eram responsáveis por colher as acusações e adotar as providências 
que entendessem necessárias para elucidação dos fatos. 
Os Magiaí eram conhecidos como procuradores do rei (ou mesmo, olhos e 
língua do rei) e, além de servirem de agentes responsáveis pelas investigações 
criminais, também aplicavam os castigos necessários à punição dos delitos. 
No ano de 1754 a.C., o rei Hamurabi, da Babilônia, editou o Código de Hamurabi, 
com 282 artigos, o qual já deixava clara a importância da investigação criminal 
para realização de uma acusação, expondo, logo em seu primeiro artigo, que “se 
um awllum acusou um awllum e lançou sobre ele (suspeita de) morte, mas não 
pôde comprovar: o seu acusador será morto”. É importante destacar que 
Emanuel Bouzon (1980, p. 25) ao traçar comentários sobre o Código de 
Hamurabi, frisou que, na Babilônia o termo awllum era usado para descrever o 
homem livre e que gozava de seus direitos. 
Na antiga Grécia, o sistema penal era baseado na acusação popular; 
a Helieia (tribunal) era composta por 500 membros, escolhidos por sorteio, 
dentre os cidadãos com mais de 30 anos. 
Na ágora (praça pública onde se realizada a Helieia), qualquer cidadão poderia 
sustentar uma acusação e, assim, tanto a defesa quanto a acusação possuíam 
o ônus da prova, ou seja, a investigação criminal no período não era competência 
exclusiva do Estado, mas de todos os interessados. 
 
 
Já no Direito Romano, a figura dos pater famílias era detentora de toda 
autoridade, dessa forma, cabia a ele investigar, apurar os fatos e impor a sanção 
que considerasse necessária a qualquer membro de seu grupo. 
Já na idade média, a Direito Canônico passou a ter fortes influências sobre a 
persecução penal e o processo investigativo em si, sendo que, a partir do ano 
1184, passaram a vigorar as chamadas Bulas Inquisitoriais: Ad 
Abolendam e Vergentis in Senium, sendo que a segunda, editada pelo Papa 
Inocêncio III, no ano de 1199, deu início à investigação inquisitiva e equiparou o 
crime de heresia ao crime de traição ao rei. 
No período de inquisição católica, surgiu importante figura para o estudo das 
investigações criminais, a chamada “denúncia”, que poderia ser equiparada à 
atual delação, pela qual, caso alguém confessasse seus crimes dentro de 
determinado período e apontasse os seus comparsas, seria aceito novamente 
pela igreja. 
Dessa forma, é possível verificar que os procedimentos de investigação criminal 
estão em constante desenvolvimento e que as figuras responsáveis pela 
persecução penal são alteradas de tempos em tempos, porém, em todos os 
momentos da história, a investigação criminal sagrou-se como importante 
instrumento para a busca da justiça, seja com a finalidade de punir culpados ou 
mesmo de proteger inocentes. 
Ordenações do Reino 
No Brasil pré-colonial, ante a inexistência de um sistema jurídico próprio ou de 
regras relativas aos procedimentos de persecução penal, adotavam-se as leis 
de Portugal, as quais possuíam a denominação de Ordenações do Reino e 
sofriam fortes influências do Direito Canônico. 
Para o estudo relativo às investigações criminais no Brasil, existiram 3 
ordenações importantes, sendo elas: 
 as Ordenações Afonsinas (1446-1521); 
 as Ordenações Manuelinas (1521-1603); 
 as Ordenações Filipinas (1603-1830). 
No período em que vigoravam as Ordenações Afonsinas, a investigação 
criminal era realizada por meio de inquérito, pelo qual o sujeito denunciado 
por um determinado crime participava de todo o procedimento 
investigativo. Exceção ao inquérito era a realização da chamada “devassa”, 
iniciado de ofício e sem a participação do denunciado. 
Cabe ressaltar que as Ordenações Afonsinas tiveram pouca ou nenhuma 
aplicabilidade no Brasil, posto que, em que pese o descobrimento ter se dado 
em 1500, a colonização efetivamente se deu somente no ano de 1531, época 
em que já vigoravam as Ordenações Manuelinas. 
 
 
No período compreendido entre 1521-1603, as Ordenações Manuelinas é que 
determinavam os rumos da persecução penal em solo brasileiro. O procedimento 
criminal tinha início com as querelas juradas, denúncias ou devassas. 
Por fim, nas Ordenações Filipinas de 1603, as investigações criminais tinham 
início com denúncias perpetradas por particulares, dando origem a devassas ou 
querelas, de caráter inquisitorial e realizadas, ante a ausência de uma autoridade 
policial, por membros da sociedade, os quais recebiam ordens dos Alcaides. 
Nesse período, surgiu ainda a figuradas devassas gerais ou especiais, que 
tinham por objetivo apurar crimes incertos. 
Nas querelas e devassas, realizadas sem a presença do denunciado nas 
investigações, o direito de defesa apenas era concedido na fase de julgamento, 
ocasião na qual, era oportunizada a apresentação de testemunhas. As 
Ordenações Filipinas vigoraram até a efetiva promulgação do Código Penal do 
Império, em 1830, que alterou drasticamente o modelo jurídico adotado no Brasil. 
O Código Penal do Império teve clara influência do movimento liberalista 
europeu, o que trouxe avanços para o processo investigativo no Brasil. A esse 
respeito, José Reinaldo Guimarães Carneiro (2007, p. 30), em sua obra O 
Ministério Público e suas Investigações Independentes, é didático ao afirmar 
que: 
“O movimento liberalista europeu acabou por implicar reflexos diretos no cenário 
legislativo e governamental brasileiro, iniciando-se o abandono aos regimes 
opressores e aos sistemas inquisitivos de investigação e aplicação da legislação 
penal, os quais desrespeitavam, por inteiro, os mais básicos direitos humanos.” 
Dessa forma, no que tange à evolução histórica da investigação criminal no 
Brasil, desde o descobrimento, a aplicação das Ordenações do Reino e seu 
caráter indubitavelmente opressivo e inquisitório foi claramente superada pelo 
desenvolvimento da própria sociedade e da forma como a persecução penal 
passou a ser vista, alcançando, assim, patamares mais próximos do efetivo 
respeito à dignidade humana e aos direitos fundamentais do indivíduo. 
A investigação federal na constituição de 1988 
A investigação criminal é o instrumento de que dispõe o Estado para apuração 
da materialidade e da autoria de um determinado delito. 
Desde os primórdios, os procedimentos investigativos vêm evoluindo e se 
desenvolvendo, seja com atuação dos Magiaí, no antigo Egito, das prescrições 
dadas pelo Rei Hamurabi da Babilônia, pelas influências do direito grego e 
romano ou, até mesmo, pelas experiências cravadas pelo sistema inquisitorial 
das Ordenações do Reino. 
Com a promulgação da Constituição de 1988 não foi diferente. O Código de 
Processo Penal, promulgado em 03 de outubro de 1941, tinha como escopo a 
segurança pública, sem dar ênfase ao garantismo e proteção de direitos 
fundamentais; com o advento da Constituição Federal de 1988, os ideais 
democráticos conquistados no período pós-ditadura fortaleceram-se. 
 
 
A Magna Carta, também chamada de Constituição Cidadã, alterou a própria 
essência do Processo Penal, que deixou de ser um mero instrumento voltado à 
aplicação da lei e se converteu em verdadeira ferramenta garantista de proteção 
ao indivíduo face a persecução penal perpetrada pelo Estado. 
 
A respeito de tal premissa, Fauzi Choukr (2006, p. 8) é didático ao tratar do 
afastamento do modelo inquisitivo e da necessidade de respeito aos direitos do 
acusado: 
“A dignidade da pessoa humana como fundamento maior do sistema implica a 
formação de um processo banhado pela alteridade, ou seja, pelo respeito à 
presença do outro na relação jurídica, advindo daí a conclusão de afastar-se 
deste contexto o chamado modelo inquisitivo de processo, abrindo-se espaço 
para a edificação do denominado sistema acusatório. Fundamentalmente aí 
reside o núcleo de expressão que afirma que o réu (ou investigado) é sujeito de 
direitos na relação processual (ou fora dela, desde já na investigação), e não 
objeto de manipulação do Estado.” 
A investigação criminal é alicerçada em diversos princípios trazidos pelo sistema 
garantista protegido pela Constituição Cidadã, como a isonomia, o contraditório 
e a ampla defesa. 
A fim de dar efetivo cumprimento ao seu papel constitucional, a investigação 
criminal possui por objetivo evitar acusações infundadas e sem indícios de 
materialidade ou autoria, até porque o caráter estigmatizante do processo penal 
persiste mesmo que o acusado seja absolvido ao final do procedimento. 
A respeito do assunto, Salo de Carvalho (2008, p. 82) ensina: 
“O modelo garantista pretende instrumentalizar um paradigma de racionalidade 
do sistema jurídico, criando esquemas tipológicos baseados no máximo grau de 
tutela dos direitos e na fiabilidade do juízo e da legislação, com intuito de limitar 
o poder punitivo e garantindo a(s) pessoa(s) contra qualquer tipo de violência 
arbitrária, pública ou privada. Por se tratar de modelo ideal (e ideológico), 
apresenta inúmeros pressupostos e consequências lógicas e teóricas, negadas 
ou desqualificadas por modelos opostos de produção de saber/poder.” 
 
 
Ante a tais apontamentos, podemos enfatizar que a evolução histórica da 
investigação criminal, com o advento da Constituição Federal de 1988, teve 
claros avanços no sentido garantista, criando um verdadeiro equilíbrio entre a 
necessidade do Estado na obtenção de indícios de um delito e o respeito aos 
direitos e garantias fundamentais dos acusados, servindo, dessa forma, de 
verdadeiro instrumento de proteção à dignidade da pessoa humana. 
______ 
🔁 Assimile 
Alguns autores consideram que os Magiaí seriam a forma inicial do próprio 
Ministério Público, principalmente ante a sua dupla função no sistema penal 
egípcio, ou seja, acusador e protetor dos cidadãos. A assimilação deste 
conteúdo é importante, principalmente para entender sobre a estrutura e o 
desenvolvimento do próprio Ministério Público e sua atuação no sistema de 
persecução penal, principalmente no que tange à investigação criminal. 
______ 
💭 Reflita 
Ante aos apontamentos realizados no material, cabe a você refletir se os 
criminosos merecem tratamento isonômico, independentemente do delito 
cometido, ou se é possível a relativização de direitos em determinados casos, 
com a aplicação de um procedimento inquisitivo. 
______ 
📝 Exemplificando 
A adoção do modelo garantista pela Constituição Federal de 1988 é importante, 
posto que, com a abolição das penas de tortura pelo advento da Constituição de 
1824, que balizou a promulgação do Código Penal do Império, em uma 
investigação criminal, nos dias de hoje, independente do delito cometido, a 
utilização de tortura para obtenção de uma confissão fatalmente fere a Magna 
Carta, ensejando a nulidade da prova obtida, além da responsabilidade pelo 
crime de tortura. 
______ 
Assim, assimilando o conteúdo exposto até aqui, é possível notar que a 
investigação criminal passou por constante desenvolvimento no decurso dos 
anos, desde o modelo investigativo adotado no antigo Egito até aquele utilizado 
nos dias atuais. Parte desse desenvolvimento se deu em decorrência da própria 
evolução do pensamento social e/ou do modus operandi da criminalidade, que 
acabou forçando os processos investigativos a se modernizarem. 
Conclusão 
A situação problema apresentou a situação hipotética em que você é colocado 
na situação de parecerista de uma procuradoria parlamentar, tendo sido 
 
 
questionado quanto à legalidade/constitucionalidade de ato perpetrado em uma 
Comissão Parlamentar de inquérito. 
Nessa situação hipotética, instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito na 
Câmara dos Deputados, sem obediência ao quórum necessário, a qual teve por 
justificativa a ausência dos pares na sessão de votação em decorrência do risco 
à contaminação ao coronavírus, foi determinada a quebra do sigilo financeiro de 
um investigado por ato de improbidade administrativa. 
É esperado que estudantes fundamentem suas respostas nas disposições do 
art. 58, §3º da Constituição Federal, frisando que as Comissões Parlamentares 
de Inquérito, nos termos do citado artigo, possuem poderes de investigação 
próprios de autoridades judiciais, além de outros previstos em regimentos. 
A fim de complementar sua dissertação, os discentes devem fundamentar que a 
quebra de sigilo bancário é possível por determinação judicial, desde que 
demonstrado o interesse público relevante envolvido na questão. 
É importantefrisar que, à luz das disposições do art. 58 da Constituição Federal 
acerca dos poderes de investigação da Comissão Parlamentar de Inquérito, em 
havendo interesse público relevante demonstrado, é possível a determinação de 
quebra do sigilo financeiro de um investigado por ato de improbidade 
administrativa a ser determinada pela CPI. 
A conclusão apresentada deve apontar que, em que pese a legalidade da quebra 
de sigilo por parte da CPI, o desrespeito ao quórum necessário enseja a nulidade 
do ato, posto que há vício de iniciativa da criação da Comissão. 
Introdução da aula 
Qual é o foco da aula? 
Nesta aula, estudaremos os principais sistemas processuais penais existentes e 
a sua aplicabilidade. 
Objetivos gerais de aprendizagem 
Ao longo desta aula, você irá: 
 apontar o sistema inquisitivo; 
 descrever o sistema acusatório; 
 diferenciar o sistema misto. 
Situação-problema 
Olá, estudante! 
A fim de possibilitar o correto entendimento dos procedimentos relativos à 
investigação criminal, é indispensável conhecer e entender os principais 
sistemas processuais penais existentes e sua aplicabilidade. 
 
 
Os principais sistemas processuais penais são: o inquisitivo, o acusatório e o 
misto. O sistema inquisitivo, explicando de forma resumida, vem marcado pela 
acumulação de poderes e responsabilidade em apenas uma pessoa, 
responsável por gerir todas as provas, acusar e julgar o infrator. 
O sistema acusatório, por sua vez, faz a separação das atribuições, conferindo 
a pessoas diferentes as funções de acusador, defensor e julgador. 
O sistema misto, no que lhe diz respeito, pode ser considerado uma junção dos 
dois sistemas citados, sendo dividido em duas fases: a primeira, denominada 
instrução preliminar, voltada para o lado inquisitivo, e a segunda, chamada 
acusação, com características do sistema acusatório. 
Diante disso, suponha que você estudou por três árduos anos e foi aprovado na 
1ª e 2ª fases do concurso da magistratura do seu Estado. Convocado para a fase 
oral, o examinador, olhando por cima dos óculos, o questiona a respeito do papel 
do juiz na investigação criminal. Conhecedor de todo sistema, como alguém que 
chegou até essa fase do certame, o quê prontamente você responderia? 
Sistema inquisitivo 
O sistema penal inquisitivo, como o próprio nome sugere, remonta à época das 
inquisições católicas, que tinham por objetivo a investigação e punição 
daqueles considerados hereges pelo clero. 
O cerne do sistema penal inquisitivo é a acumulação de poderes e 
responsabilidade em apenas uma pessoa, encarregada de gerir todas as provas, 
acusar e julgar o infrator. 
A respeito do tema, Paulo Rangel (2009, p. 191) é didático, fazendo explanações 
acerca da aplicabilidade e dos objetivos do modelo penal inquisitivo, apontando 
que esse modelo foi aperfeiçoado com o avanço do direito canônico do mundo, 
tendo sido aplicado por praticamente todas as nações da Europa, do século XVI 
a XVII. 
Rangel afirma que o surgimento do modelo penal inquisitivo pode ser atribuído 
à visão de que a defesa social, antes realizada por particulares, não deveria 
depender da boa vontade, assim, o sistema penal inquisitivo serviu de espécie 
de reivindicação do Poder Punitivo pelo próprio Estado, que passou a ter a visão 
de que a responsabilidade pela punição dos delitos deveria ser de sua alçada. 
Característica marcante do sistema inquisitivo diz respeito à posição do acusado 
em relação ao procedimento. Para esse sistema, o infrator não possui desejos, 
sentimentos ou opiniões, não possui direitos, é considerado um simples objeto, 
sem qualquer direito de expor sua versão da verdade. 
No sistema inquisitivo, o processo tramitava em sigilo. Nem o réu tinha acesso 
às provas produzidas contra ele. 
Como explanado, no sistema inquisitivo, a reunião de funções atribuía ao próprio 
julgador a gestão das provas, o que fatalmente contamina a própria investigação, 
 
 
até porque, enquanto único conhecedor das provas produzidas, o magistrado 
seria guiado unicamente pela sua visão dos fatos. 
Quanto à problemática apontada, Jacinto Coutinho (2001, p. 24) enfatiza que o 
modelo inquisitório do sistema penal tem por característica fundamental a figura 
do magistrado como efetivo gestor da prova, sendo que, nesse modelo, há uma 
espécie de vantagem, posto que a gestão do conteúdo probatório permite que o 
juiz se informe sobre a verdade dos fatos, considerando apenas aqueles que 
entende ser penalmente relevantes. 
Coutinho conclui seu pensamento deixando claro que a vantagem mencionada 
é apenas aparente, posto que a onipotência do magistrado que detém a gestão 
probatória prejudica, de fato, a apuração dos fatos, ao passo que afasta o 
contraditório e faz com que a investigação seja guiada apenas pela visão do juiz. 
Com isso, esclarece a problemática quanto à aplicabilidade do sistema 
inquisitório, posto que a acumulação dos poderes relativos à investigação, 
julgamento e a gestão de provas em um único indivíduo fatalmente enseja a 
formação de um pré-julgamento, reduzindo ou mesmo impossibilitando a 
capacidade de defesa de um sujeito acusado injustamente. 
 
 
Sistema penal acusatório 
O sistema penal acusatório é marcado pela efetiva divisão de responsabilidade 
e atribuições, sendo que, diferente do sistema inquisitivo, as funções de acusar, 
defender e julgar são conferidas a pessoas distintas. 
Esse sistema é marcado pela imparcialidade do magistrado, a garantia efetiva 
de exercício do contraditório e ampla defesa por parte dos acusados. 
A fim diferenciar o modelo inquisitório de sistema penal do acusatório, o autor 
Renato Brasileiro (2017, p. 40) é enfático ao tratar da gestão de provas no 
sistema penal acusatório, afirmando que a responsabilidade por tal atribuição é 
das próprias partes, enquanto o juiz, dentro do modelo acusatório, assume o 
papel de garantidor dos direitos e liberdades fundamentais. 
O autor prossegue seu raciocínio apontando que: 
 
 
 
No que tange à não acumulação de funções em uma única figura, o modelo 
acusatório é eficaz na proteção dos direitos fundamentais do acusado ao garantir 
a possibilidade da formação do contraditório e a ampla defesa, de modo a auxiliar 
no livre convencimento do magistrado. 
É importante destacar que o modelo acusatório não é uma invenção do direito 
moderno, tendo sido utilizado durante a Antiguidade, em Roma e na Grécia, bem 
como na própria Idade Média, quando imperava o direito germânico, tendo 
entrado em declínio em meados do século XIII. 
A Magna Carta de 1988 acolheu expressamente o modelo penal acusatório ao 
atribuir, em seu art. 129, I, ao Ministério Público a atribuição privativa de propor 
ações penais públicas, reservando, assim, ao magistrado o poder de gerenciar 
o processo, impedindo que adote qualquer iniciativa que não se alinhe a 
equidistâncias em relação às partes envolvidas. 
Ao se debruçar sobre o sistema acusatório, Norberto Avena (2019, p. 87) aponta 
que ele é próprio dos regimes democráticos e enfatiza e garantia de isonomia 
processual presente nesse modelo: 
“Outra nota importante refere-se à garantia da isonomia processual, significando 
que acusação e defesa devem estar em posição de equilíbrio no processo, 
sendo-lhes asseguradas idênticas oportunidades de intervenção e igual 
possibilidade de acesso aos meios pelos quais poderão demonstrar a verdade 
do que alegam.” 
Quanto à natureza acusatória do processo penal brasileiro, é importante frisar 
que, com o advento da Lei 13.964 de 24, de dezembro de 2019, popularmente 
chamada “Pacote Anticrime”, o Código de Processo Penal foi aprimorado, sendo 
expresso em seu art. 3º-A (BRASIL, 2019) que: 
“O processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase 
de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação”. 
Dessa forma, reforçou-se a aplicabilidade do sistema acusatório noBrasil e a 
proteção dos direitos fundamentais dos acusados, sendo criada, inclusive, a 
figura do juiz de garantias, “responsável pelo controle da legalidade da 
 
 
investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais, cuja franquia 
tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário”. 
É importante destacar que a referida norma teve a eficácia suspensa pela 
decisão cautelar proferida nas ADIs 6298, 6299, 6300 e 6305, exarada pelo 
Ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal. 
 
Sistema misto 
O último, mas não menos importante, sistema penal a ser tratado nesta aula é o 
denominado “sistema misto” ou “sistema francês”, que seria praticamente uma 
fusão de algumas características dos sistemas inquisitivo e acusatório. 
Sua origem remonta ao período Pós-Revolução Francesa, ao Code d’Instruction 
Criminelle francês, promulgado em 1808, daí sua nomenclatura alternativa. 
Esse sistema é dividido em duas fases distintas, sendo que a primeira possui 
características do sistema inquisitorial, no qual a instrução é realizada de forma 
sigilosa e escrita, e não há efetivamente garantia de contraditório ou ampla 
defesa. A primeira fase do sistema misto tem por objetivo apurar a materialidade 
e autoria delitiva. 
A segunda fase do sistema misto é a chamada “fase de julgamento”, que possui 
características próprias do sistema acusatório, no qual predomina a oralidade, 
publicidade, o contraditório e a livre apreciação das provas, com efetivo respeito 
às garantias fundamentais e individuais do acusado. 
Alguns autores defendem que o sistema adotado pela legislação brasileira era o 
misto, porém, com o advento da Constituição Federal de 1988 que, 
expressamente, previu a separação das funções de acusação e julgamento, 
passou-se à adoção do sistema acusatório, sendo esse o posicionamento 
majoritário da doutrina. 
De modo diverso, há autores que defendem que somente com a promulgação 
da Lei 13.964/2019 que realizou alterações no Código de Processo Penal é que 
o Brasil deixou de adotar o sistema misto e passou a adotar o acusatório; nesse 
sentido, Guilherme Nucci (2020, p. 114) enfatiza: 
“O sistema adotado no Brasil era o misto; hoje, após a reforma realizada pela Lei 
13.964/2019, é o acusatório mitigado. Na Constituição Federal de 1988, foram 
delineados vários princípios processuais penais, que apontam para um sistema 
acusatório; entretanto, como mencionado, indicam um sistema acusatório, mas 
não o impõem, pois quem cria, realmente, as regras processuais penais a seguir 
é o Código de Processo Penal.” 
É possível definir que o sistema penal misto nada mais é do que um sistema 
intermediário, entre o modelo inquisitivo e o acusatório, principalmente no que 
tange à presença da efetiva observância dos princípios e garantias 
fundamentais, como a presunção de inocência, contraditório e ampla defesa, 
porém, com traços pertencentes ao sistema inquisitivo, como a produção de 
 
 
provas pelo magistrado e a diminuta publicidade na primeira fase do 
procedimento. 
Diante dos aspectos apresentados, é possível concluir que, em que pese não 
haver consenso doutrinário, o posicionamento majoritário é que o sistema 
adotado no Brasil é acusatório, sendo reforçado tal entendimento em razão das 
previsões constitucionais e, principalmente, por meio das alterações promovidas 
na lei processual penal. 
 
______ 
🔁 Assimile 
As principais características do sistema acusatório podem ser definidas como a 
efetiva separação entre o juiz e a acusação; a oralidade e a publicidade das 
decisões e a igualdade de condições entre a defesa e a acusação. 
______ 
💭 Reflita 
Com base nas premissas apresentadas, o sistema acusatório brasileiro teria 
características comuns ao sistema inquisitório? 
______ 
📝 Exemplificando 
O sistema penal inquisitivo, no início do século XII, fortaleceu-se, principalmente 
com o aumento do poder da igreja, ganhando força, inclusive, usando da tortura 
como método de elucidação de crimes. 
______ 
Por meio dos temas abordados nesta sessão, é possível assimilar e entender os 
diferentes sistemas penais existentes e analisar, sob o ponto de vista crítico, os 
 
 
benefícios e malefícios de cada um deles e como suas metodologias influenciam 
a própria persecução penal. 
Conclusão 
Com base nas premissas apresentadas em aula, é esperado que o estudante 
disserte a respeito do papel garantidor do magistrado no Processo Penal, 
enfatizando a adoção do sistema acusatório no Direito Processual Penal. 
É importante que se realize explanações acerca do art. 156 do Código de 
Processo Penal, relativas à faculdade do magistrado em ordenar, mesmo antes 
de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas e ainda, a 
possibilidade de determinar a realização de diligências para dirimir dúvida sobre 
ponto relevante, o que poderia ser considerado verdadeira condução de 
investigação. 
O estudante deve fundamentar que, com o advento da Lei Federal nº 
13.964/2019 que realizou alterações no Código de Processo Penal, foram 
vedadas as iniciativas do magistrado na fase de investigação, confirmando, 
justamente, a adoção do sistema acusatório no processo penal. 
O discente deve complementar sua conclusão pautando-se no art. 3º-B do 
Código de Processo Penal, incluído pela Lei Federal nº 13.964/2019, que prevê 
a responsabilidade do juiz de garantias pelo controle de legalidade da 
investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais. 
UNIDADE 2 
Introdução da unidade 
Olá, estudante! 
Nesta unidade, abordaremos temas de absoluta relevância para a disciplina 
Investigações Criminais e sua correta interpretação e aplicação em situações 
concretas. 
A primeira aula será reservada aos princípios constitucionais aplicáveis às 
investigações criminais, na qual abordaremos o princípio da isonomia, do 
contraditório e da ampla defesa. Ao tratarmos do princípio constitucional da 
isonomia, o foco será sua aplicabilidade no curso da investigação criminal. 
Desta forma, analisaremos a necessidade de igualdade de tratamento entre os 
acusados, fazendo um paralelo com o princípio da paridade de armas e a 
igualdade de oportunidades entre as partes. Em se tratando do contraditório e 
da ampla defesa, analisaremos, sob a ótica da investigação criminal, tanto a 
oportunidade do acusado de apresentar oposição a toda e qualquer acusação 
que lhe for atribuída, ou seja, a defesa em sentido estrito, quanto a ampla defesa 
em sentido amplo e sua aplicabilidade aos dois polos da ação. 
A segunda aula abordará o instrumento denominado inquérito policial e suas 
nuances, com explanações acerca de sua origem e finalidade. A fim de 
aprofundar os estudos relativos ao inquérito policial, analisaremos os conceitos, 
 
 
as características e os principais aspectos relativos ao instrumento e à sua 
aplicabilidade prática no curso das investigações. 
Por fim, na terceira aula, faremos uma análise concatenada acerca do papel do 
Ministério Público nas investigações criminais, tratando desde sua origem e 
evolução até suas funções institucionais relativas à atuação em matéria penal. 
Com enfoque na atuação do órgão ministerial, o objetivo da aula será tratar do 
papel investigativo do Ministério Públicos e as decisões recentes que permeiam 
a matéria. 
Introdução da aula 
Qual é o foco da aula? 
Nesta aula, abordaremos a investigação criminal sob a ótica constitucional, em 
especial, quanto aos princípios a ela aplicáveis. 
Objetivos gerais de aprendizagem 
Ao longo desta aula, você irá: 
 apontar os os conceitos de isonomia; 
 definir os princípios do contraditório; 
 descrever o conceito de ampla defesa. 
Situação-problema 
É importante destacar que os procedimentos de investigação criminal são 
pautados por diversos princípios em sua condução, dentre eles, o da legalidade, 
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, comuns aos atosadministrativos em geral. 
No que tange ao estudo pretendido, vamos nos aprofundar nos princípios 
constitucionais inerentes à investigação criminal do ponto de vista defensivo. Os 
principais princípios aplicáveis ao instituto da investigação criminal, do ponto de 
vista defensivo, indubitavelmente, são o da isonomia, do contraditório e da ampla 
defesa, aos quais daremos atenção de forma individualizada. 
Imagine a situação hipotética, em que você é acordado às 3h da manhã pelo seu 
cliente Furtosvaldo da Silva, o qual informou que seu irmão, Roubosvildo Mão 
Leve da Silva, foi preso em flagrante e levado à delegacia de polícia. Você, 
saltitante de felicidade, dirige-se à unidade policial para ter acesso aos autos e 
iniciar a defesa. Por surpresa, a autoridade policial negou acesso aos autos. Em 
resposta ao delegado, o que você responderia? 
Isonomia 
O primeiro e, talvez, mais importante princípio a ser abordado nesta aula é o da 
isonomia. 
O princípio da isonomia é previsto na Constituição Federal, logo no caput do art. 
5º, e é enfático ao dispor que: 
 
 
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do 
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade” (BRASIL, 
1988, [s. p.]). 
Esta premissa trazida pela norma constitucional quanto à igualdade, em âmbito 
processual, indica que as partes devem ter igual tratamento durante a instrução 
processual, perante o magistrado, tendo, assim, as mesmas oportunidades de 
manifestação. 
Neste sentido, Pellegrini (2004, p. 53) afirma: 
“A igualdade perante a lei é premissa para a afirmação da igualdade perante o 
juiz: da norma inscrita no art 5º, caput, da Constituição, brota o princípio da 
igualdade processual. As partes e os procuradores devem merecer tratamento 
igualitário, para que tenham as mesmas oportunidades de fazer valer em juízo 
as suas razões.” 
A isonomia pode ser dividida em formal e real. Enquanto a primeira diz respeito 
à igualdade das pessoas perante a lei, conforme a expressa descrição do já 
citado art. 5º, a segunda é voltada à máxima de igualdade geométrica de 
Aristóteles, a qual afirma que devemos tratar desigualmente os desiguais, na 
exata medida de suas desigualdades, visando, desta forma, alcançar a isonomia. 
Sob a ótica da investigação criminal, indispensável abordar o 
chamado “princípio da paridade de armas”, o qual, por muitas vezes, é tratado 
como sinônimo de isonomia, porém, na concepção majoritária, possui maior 
abrangência, conforme podemos extrair dos ensinamentos de Távora e Alencar 
(2016, p. 48): 
“O princípio da paridade de armas, malgrado seja tratado como sinônimo de 
igualdade ou isonomia no processo penal, tem conteúdo mais rico, indicando o 
direito da defesa de desempenhar um papel proativo, mormente na produção de 
prova e no exercício de poderes que possibilitem a plena igualdade, tal como 
consta do art. 8, do Pacto de São José da Costa Rica.” 
No âmbito do sistema acusatório, o princípio da paridade de armas visa garantir 
a igualdade de oportunidades entre as partes, posto que o ônus da prova, em 
matéria penal, é atribuído à parte acusadora, desta forma, o corolário lógico é a 
concessão de direito de defesa ao acusado, garantindo, desta forma, o 
necessário e indispensável equilíbrio processual. 
 
 
 
Acerca das premissas aqui lançadas, é possível concluir que o princípio 
constitucional da isonomia deve garantir o tratamento igualitário a todos os 
envolvidos na investigação criminal e/ou relação processual, oportunizando as 
mesmas possibilidades de manifestação e defesa, sem qualquer espécie de 
distinção. 
É importante ressaltar que o Ministério Público exerce a função acusatória no 
âmbito do processo penal, assim, no intuito de dar ao acusado as mesmas 
condições e oportunidades, o Código de Processo Penal, em seu art. 261, impõe 
a obrigatoriedade de representação por um defensor, garantindo a existência de 
defesa técnica. 
 
Contraditório 
De suma importância no estudo das investigações criminais, o princípio do 
contraditório garante a oportunidade do acusado de apresentar oposição a toda 
e qualquer acusação que lhe for atribuída. 
Neste sentido, Ramidolf (2017, p. 25) é didático: 
“A substancialidade do contraditório, isto é, a possiblidade de oposição a tudo 
que criminalmente seja atribuído ao agente a quem se imputa a prática de 
conduta considerada delituosa, reconhecendo-lhe, assim, a faculdade 
procedimental de contrapor argumentos e fundamentos à acusação, mediante a 
utilização de todos os meios de prova admitidos pelo direito.” 
 
 
 
Seguindo esta premissa, Brasileiro (2020, p. 58) é enfático ao analisar o efetivo 
momento em que o exercício do contraditório é possível quando da existência 
de uma interceptação telefônica, afirmando que não há sentido em proceder a 
intimação prévia do indivíduo para acompanhamento da investigação, até 
porque, se ciente da interceptação, o ato perderia sua finalidade. 
O autor afirma ainda que não há contraditório durante o curso desse ato 
processual, porém, com a conclusão da diligência e a expedição do respectivo 
laudo de gravação nos autos, é indispensável a abertura de vistas à defesa, para 
que esta possa exercer o direito constitucional do contraditório e da ampla 
defesa. 
Ante a tal premissa, é importante apontar que não há, no caso em questão, 
violação da garantia da efetiva bilateralidade da audiência, ao passo que não 
houve supressão do contraditório, mas apenas a sua postergação. 
Apesar de sua clara relação com o princípio da ampla defesa, o contraditório 
possui uma abrangência maior, principalmente no que concerne ao seu alcance, 
até porque não afeta única e exclusivamente o acusado mas também o 
acusador, na medida em que lhe deve ser oportunizado contrariar os atos 
praticados pela parte contrária. 
Ao tratarmos no contraditório, é importante apontar que há possibilidade de 
mitigação dele em determinados casos, por exemplo, em razão de medida que 
exija provimento imediato, sob pena de prejuízo processual ou ineficácia da 
medida, como ocorre no caso da decretação de uma prisão preventiva, 
sequestro de bens ou a própria interceptação telefônica, como já citado. Nestas 
hipóteses, ocorre o chamado contraditório diferido ou postergado, no qual são 
garantidas a ciência e a manifestação do acusado somente após a medida. 
Lembramos que a Súmula Vinculante nº 14 do Supremo Tribunal Federal trata 
expressamente da garantia do contraditório ao dispor que: 
“É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos 
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório 
 
 
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao 
exercício do direito de defesa.” (BRASIL, 2009, [s. p.]) 
Cristalina, desta forma, a efetiva importância do contraditório no âmbito do 
processo penal e, especificamente, durante a investigação criminal, 
principalmente no que concerne ao postulado da presunção de inocência e 
garantia de tratamento igualitário, cabendo frisar ainda que, mesmo com a 
postergação do contraditório em casos específicos, não é possível preservar a 
garantia de um processo penal igualitário sem a efetiva concessão do 
contraditório. 
Ampla defesa 
Tão importante quanto o contraditório, o princípio constitucional da ampla defesa 
é garantido pelo inciso LV do art. 5º da Magna Carta, que dispõe expressamente 
que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em 
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos 
a ela inerentes” (BRASIL, 1988, [s. p.]). 
Como abordado anteriormente, a ampla defesa e o contraditório, apesar de sua 
semelhança, são princípios distintos, na medida em que a defesa garante o 
contraditório, e somente é possível pormeio do direito à informação (que é parte 
integrante do contraditório). 
Sobre a relação entre o contraditório e a ampla defesa, Brasileiro (2020, p. 58) 
discorre que, à luz do princípio constitucional do devido processo legal, visando 
à preservação das garantias constitucionais durante a persecução penal, é 
indispensável que existam partes em posições opostas, ou seja, uma delas, 
obrigatoriamente, deve estar em posição defensiva, enquanto a outra, de forma 
antagônica, deve se contrapor aos atos da parte contrária. 
Como já citado, o exercício do contraditório possui aplicação ampla, ao passo 
que os dois polos da ação fazem uso deste, assim, caso não seja oportunizado 
ao Ministério Público a manifestação relativa a uma prova produzida, haverá, 
claramente, violação ao contraditório. 
No que tange ao direito à ampla defesa, a hipótese citada não importa em sua 
violação, posto que, diferente do contraditório, o alcance da ampla defesa é 
estrito, restringindo-se apenas ao acusado. 
Tucci (2004, p. 257), ao se debruçar sobre a ampla defesa, expõe que, para seu 
efetivo respeito, é indispensável a existência de três “realidades procedimentais”, 
a saber: 
“A concepção moderna da garantia da ampla defesa reclama, para a sua 
verificação, seja qual for o objeto do processo, a conjugação de três realidades 
procedimentais, genericamente consideradas, a saber: a) o direito à informação 
(nemo inauditus damnari potest); b) a bilateralidade da audiência 
(contraditoriedade); c) o direito à prova legalmente obtida ou produzida 
(comprovação da inculpabilidade).” 
 
 
O direito de informação, como já citado, importa na efetiva necessidade de 
conhecimento por parte do acusado de todos os elementos de prova contra ele 
produzidos. 
 
Por fim, em se tratando do direito à prova legalmente obtida, temos que as partes 
podem trazer aos autos todos os elementos probatórios que julguem necessários 
a efetiva defesa de seus interesses, desde que estes tenham sido obtidos por 
meios lícitos, conforme disposição expressa do art. 157 do Código de Processo 
Penal, que dispõe serem: 
“Inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, 
assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais” 
(BRASIL, 1941, [s. p.]). 
O respeito ao princípio da ampla defesa, assim como do contraditório, é 
indispensável no Estado Democrático de Direito e tem por finalidade preservar 
as garantias constitucionais que devem ser conferidas a todos. 
______ 
🔁 Assimile 
A garantia constitucional de isonomia, no âmbito do processo penal, é 
intimamente ligada à “paridade de armas”, ou seja, à garantia de igualdade de 
oportunidades de defesa dentro do sistema processual. 
______ 
💭 Reflita 
Ante os temas abordados, cabe ao estudante refletir se a ausência de 
contraditório na fase de inquérito fere as garantias constitucionais do investigado 
ou se a oportunização de defesa nas fases processuais posteriores supre essa 
ausência. 
______ 
 
 
📝 Exemplificando 
Cabe ressaltar que, dentre as peças defensivas existentes no processo penal 
para o efetivo exercício do contraditório e da ampla defesa, a resposta preliminar, 
prevista no art. 514 do Código de Processo Penal, é peça facultativa, sendo, 
inclusive, desnecessária na ação penal instruída por inquérito policial, nos exatos 
termos da Súmula 330 do Superior Tribunal de Justiça. 
______ 
Diante dos assuntos abordados nesta disciplina, é possível concluir que, no 
efetivo prosseguimento dos processos de natureza penal e, principalmente, nos 
procedimentos relativos à investigação criminal, a observância dos princípios e 
das garantias fundamentais é indispensável, devendo sempre ser dado o devido 
respeito à isonomia, ao contraditório e à ampla defesa, sob pena de nulidade 
processual. 
Conclusão 
Apresentou-se ao estudante uma situação hipotética, em que, ao atender um 
cliente preso em flagrante e levado à delegacia de polícia, foi-lhe negado acesso 
aos autos de inquérito. 
Com base em tal premissa, é esperado que o discente, de posse dos elementos 
estudados em aula, disserte a respeito da previsão do inciso LV do art. 5º da 
Magna Carta, que dispõe expressamente que “aos litigantes, em processo 
judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o 
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (BRASIL, 
1988, [s. p.]). 
Sob este enfoque,é importante frisar que a Súmula Vinculante 14, do Supremo 
Tribunal Federal, é enfática ao garantir ao defensor o amplo acesso aos 
elementos de prova já produzidos e documentos no procedimento investigatório, 
posto que estes dizem respeito ao direito de defesa de seu cliente. 
A fim de complementar sua dissertação, o estudante deve apontar que a 
publicidade é um dos princípios que pauta o processo criminal, sendo possível a 
sua mitigação ou postergação apenas em razão de medida que exija provimento 
imediato; se não for o caso, a negativa de acesso aos autos é absolutamente 
infundada. 
Introdução da aula 
Qual é o foco da aula? 
Nesta aula, abordaremos o inquérito policial e suas nuances, com o objetivo de 
compreender e aprofundar o entendimento relativo a este importante 
instrumento. 
Objetivos gerais de aprendizagem 
Ao longo desta aula, você irá: 
 
 
 discutir a origem do inquérito policial; 
 esclarecer conceitos e características do inquérito; 
 analisar os principais aspectos do inquérito policial. 
Situação-problema 
Olá, estudante! 
Primeiro, faremos uma análise concatenada da origem do inquérito policial e os 
aspectos relativos ao seu efetivo desenvolvimento e evolução no decorrer das 
legislações penais editadas no país. 
Em seguida, abordaremos os conceitos e as características que permeiam o 
inquérito policial e as divergências doutrinárias relativas ao tema. 
Por fim, analisaremos os principais aspectos relativos a este importante 
instrumento investigativo e como sua efetividade é afetada pelas decisões das 
autoridades que o presidem, incluindo uma análise pormenorizada acerca dos 
objetivos do inquérito policial. 
Agora, você é um advogado e foi contratado para acompanhar um flagrante de 
crime de roubo. Chegando à delegacia, com os procedimentos findos, verificou 
que já havia sido formalizado inquérito policial sem que se tivesse ouvido o 
condutor, mas somente o interrogatório do acusado. 
Além desses desencontros processuais, não lhe foi concedido o direito de 
comunicar sua prisão a alguém conhecido ou a um familiar. Ocorre que a 
comunicação do flagrante foi feita ao juiz. Vendo que não lhe restava mais nada 
a fazer na delegacia, esclareça qual direito assiste ao acusado. 
 
A origem do inquérito policial 
As origens do inquérito policial remontam à Grécia, sendo que a etimologia da 
expressão advém do latim in quaerere, cuja tradução literal pode ser definida 
como “em busca”. 
A Lei de 29 de novembro de 1832, que promulgou o Código do Processo Criminal 
de primeira instância, não tratava especificamente de um instrumento análogo 
ao inquérito policial, definindo apenas as atribuições dos chamados “Inspetores 
de Quarteirão”, aos quais competia vigiar sobre a prevenção de crimes, não lhes 
atribuindo, assim, a função de polícia judiciária, quedando-se silente também 
sobre o processo informativo. 
Em 3 de dezembro de 1841, a Lei nº 261 reformou o Código de Processo 
Criminal, atribuindo aos chefes de polícia, em toda a Província e na Corte, e aos 
seus delegados, nos respectivos distritos, a função de remeterem, quando 
conveniente, todos os dados, provas e esclarecimentos relativos ao delito 
apurado, com a devida exposição de motivos ao magistrado, ou seja, criando 
uma espécie de inquérito policial, mesmo sem a utilização da nomenclatura. 
 
 
 
O inquérito policial propriamente dito aparece nos textos legislativos brasileiros 
pela primeira vez no ano de 1871, quando,por meio do Decreto nº 4.824, de 22 
de novembro, regulou-se a execução da Lei nº 2.033, de 24 de setembro do 
mesmo ano, dispondo, em suma, que o inquérito policial consistiria no conjunto 
de atos concatenados voltados à identificação da materialidade e autoria de um 
fato criminoso em instrumento reduzido por escrito, definindo em seu art. 10: 
“Artigo 10. Aos Chefes, Delegados e Subdelegados de Polícia, além das suas 
actuaes attribuições tão sómente restringidas pelas disposições do artigo 
antecedente, e § unico, fica pertencendo o preparo do processo dos crimes, de 
que trata o art. 12 § 7º do Codigo do Processo Criminal até a sentença 
exclusivamente. Por escripto serão tomadas nos mesmos processos, com os 
depoimentos das testemunhas, as exposições da accusação e defesa; e os 
competentes julgadores, antes de proferirem suas decisões, deverão rectificar o 
processo no que fôr preciso.” (BRASIL, 1871, [s. p.]). 
Já no ano de 1936, com a criação do anteprojeto do Código de Processo Penal, 
Vicente Rao, até então Ministro de Justiça, tentou instituir os chamados 
“Juizados de Instrução”, em substituição ao inquérito policial, posto que tal 
instituição teria por objetivo justamente a obtenção de lastro probatório suficiente 
ao prosseguimento das ações penais. 
Sendo presidido por um magistrado, o Juizado de Instrução visava remover a 
atribuição investigativa das polícias, mantendo com elas apenas a prevenção e 
a repressão delitiva imediata, tendo tal proposta perdido força com as alterações 
políticas à época. 
O Código de Processo Penal de 1941 manteve o inquérito policial como é 
observado atualmente, como uma ferramenta voltada à efetiva identificação da 
materialidade e autoria de um delito, sendo instrumento indispensável à efetiva 
formação da cadeia de evidências. 
Conceitos e características 
Ao tratarmos do inquérito policial, indispensável abordarmos suas características 
e seus conceitos, possibilitando aprofundar os conhecimentos relativo ao tema. 
Insta consignar que o inquérito policial se trata de procedimento inquisitorial, 
voltado à efetiva obtenção das informações relativas a um determinado delito e 
necessárias à sua elucidação. 
 
 
Avena (2020, p. 335) conceitua o inquérito policial de forma didática e elucidativa: 
“Por inquérito policial compreende-se o conjunto de diligências realizadas pela 
autoridade policial para obtenção de elementos que apontem a autoria e 
comprovem a materialidade das infrações penais investigadas, permitindo ao 
Ministério Público (nos crimes de ação penal pública) e ao ofendido (nos crimes 
de ação penal privada) o oferecimento da denúncia e da queixa-crime.” 
Por inquérito policial compreende-se o conjunto de diligências realizadas pela 
autoridade policial para obtenção de elementos que apontem a autoria e 
comprovem a materialidade das infrações penais investigadas, permitindo ao 
Ministério Público (nos crimes de ação penal pública) e ao ofendido (nos crimes 
de ação penal privada) o oferecimento da denúncia e da queixa-crime. 
 
No que tange às características do inquérito policial, são comumente 
definidas como: 
procedimento escrito; 
 oficiosidade; 
 oficialidade; 
 discricionariedade; 
 inquisitorial; 
 indisponibilidade; 
 sigilo. 
Ao tratarmos da forma do procedimento, temos que este deve se dar de forma 
escrita, conforme previsão do art. 9º do Código de Processo Penal, o qual é 
expresso ao definir que: 
“Todas as peças do inquérito policial serão, num só processo, reduzidas a escrito 
ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade” (BRASIL, 1941, [s. 
p.]). 
 
 
A característica definida como oficiosidade se refere à necessidade de 
instauração independente de provocação do inquérito policial, ou seja, sempre 
que uma autoridade policial tiver ciência de um delito, deve proceder à 
instauração do respectivo inquérito. A respeito dessa característica, impende 
apontar que há exceção nos casos de ação penal pública condicionada à 
representação e dos delitos de ação penal privada, as quais não iniciadas de 
ofício. 
A oficialidade se refere à efetiva necessidade de os atos investigativos inerentes 
ao inquérito policial serem realizados por agentes públicos, não podendo tal 
atribuição ser delegada a um particular. 
Característica relevante pertencente ao inquérito policial é a discricionariedade, 
a qual se refere à liberdade que o delegado de polícia tem de realizar as 
diligências que entender necessárias para a instrução do inquérito, visando, 
desta forma, obter êxito na investigação. 
A natureza inquisitorial gravada como característica do inquérito diz respeito à 
ausência de ampla defesa nesta fase processual, principalmente ante a sua 
função preparatória. A respeito do tema, cabe frisar que essa natureza 
inquisitorial não obsta que advogados se manifestem no curso do inquérito, 
cabendo ao delegado, enquanto presidente do inquérito, indeferir diligências que 
considerar desnecessárias. 
Quanto à característica da indisponibilidade, por força do art. 17 do Código de 
Processo Penal, à autoridade policial é vedada a promoção de arquivamento do 
inquérito por iniciativa própria, mesmo que no curso da investigação apure tratar-
se de conduta atípica, devendo, desta forma, os autos serem encaminhados ao 
juízo em qualquer hipótese. 
Por fim, a característica relativa ao sigilo do inquérito policial impõe exceção ao 
princípio da publicidade, visando justamente resguardar o sucesso de eventual 
investigação. Sob este aspecto, compete citar que a Súmula Vinculante 14, do 
Supremo Tribunal Federal, garante ao defensor o amplo acesso aos elementos 
de prova já documentados em procedimento investigatório. 
 
Principais aspectos 
Ao abordarmos a matéria relativa ao inquérito policial, há aspectos 
indispensáveis que devemos abordar, por exemplo, a forma de início desta fase 
investigativa. 
Em se tratando de crimes de ação penal pública incondicionada, o início do 
inquérito policial se dá por meio de portaria expedida pela autoridade policial, 
nos termos impostos pelo inciso I do art. 5º do Código de Processo Penal, 
independentemente de provocação das partes ou da forma que se deu a notícia 
do fato criminoso. 
 
 
De modo diverso, nos crimes de ação penal pública condicionada, o inquérito se 
inicia com a representação do ofendido. 
 
Por óbvio que a existência de irregularidade no inquérito gera efeitos e 
consequências relevantes para o curso das investigações e processamento, 
como no caso da possibilidade de relaxamento do auto de prisão em flagrante 
quando não observadas as formalidades dos arts. 304 a 306 do Código de 
Processo Penal. 
Quanto ao conteúdo probatório obtido em sede de inquérito, este é tratado como 
mero elemento de prova, posto que é indispensável a sua repetição em juízo, 
respeitando-se o contraditório e a ampla defesa, à exceção das provas 
cautelares, as quais, nos termos do art. 155 do Código de Processo Penal, são 
produzidas de forma antecipada e não são repetíveis. 
No que tange aos prazos para encerramento do inquérito policial, estes 
dependem do ilícito cometido e das condições em que o acusado se encontra – 
preso ou solto –, podendo variar de 10 dias (inquérito comum com o sujeito 
preso) a 90 dias (Lei de Drogas – sujeito solto), podendo ser prorrogável ou não, 
dependendo das circunstâncias. 
Em se tratando de crimes de caráter militar, há alterações quanto à competência 
para instauração do inquérito. Neste sentido, Brasileiro (2020, p. 177) é didático: 
“A atribuição para as investigações recai sobre a autoridade de polícia judiciária 
militar, a quem compete determinar a instauração de inquérito policial militar 
(IPM), seja no âmbito das Polícias Militares ou dos Corpos de Bombeiros, nos 
crimes da alçada da Justiça Militar Estadual, seja no âmbito do Exército, da 
Marinha ou da Aeronáutica, em relação aos crimes militaresde competência da 
Justiça Militar da União.” 
O inquérito policial é indispensável à obtenção de elementos de prova que 
demonstrem a materialidade e a autoria de um fato criminoso, visando à 
instrução de uma futura e eventual ação penal. Desta forma, a correta instrução 
deste com o devido respeito às formalidades legais é vital para o sucesso de 
uma investigação. 
Assim, os principais aspectos que permeiam o instrumento de inquérito dizem 
respeito justamente à sua finalidade e às nuances relativas à sua promoção na 
 
 
fase investigativa, devendo sempre serem observados os detalhes e as nuances 
que o envolvem. 
______ 
🔁 Assimile 
O inquérito policial se trata de procedimento inquisitorial, voltado à efetiva 
obtenção das informações relativas a um determinado delito e necessárias à sua 
elucidação. 
São características do inquérito policial: procedimento escrito; oficiosidade; 
oficialidade; discricionariedade; inquisitorial; indisponibilidade e sigilo. 
______ 
💭 Reflita 
De acordo com o conteúdo estudado, em uma situação de crime ocorrida em 
uma pequena cidade do interior, onde o contingente policial não é suficiente para 
realização de inquérito policial, o prefeito pode realizar, por meio de dispensa de 
licitação, a contratação de profissionais particulares para realização de tal ato, 
ou isso fere a característica da oficialidade? 
______ 
📝 Exemplificando 
A respeito dos princípios que regem o inquérito policial, durante a efetiva 
execução deste, é imprescindível o seu sopesamento, objetivando o resguarde 
do sucesso da eventual investigação, como no caso da sobreposição do princípio 
do sigilo em relação ao princípio da publicidade, em casos em que a investigação 
pode ser afetada se tornada pública, uma vez que o investigado pode vir a 
destruir eventuais provas. 
______ 
Os conceitos abordados nessa disciplina tem por objetivo auxiliar você no 
desenvolvimento relativo à matéria de investigação criminal, demonstrando, 
didaticamente, os princípios que regem tal ato e suas principais características. 
Conclusão 
Na introdução da aula, foi apresentada uma situação, em que você, na condição 
de advogado, foi contratado para acompanhar um flagrante de crime de roubo. 
Chegando à delegacia, com os procedimentos findos, verificou que já havia sido 
formalizado inquérito policial sem que se tivesse ouvido o condutor, mas 
somente o interrogatório do acusado. 
Além desses desencontros procedimentais, foi concedido ao acusado o direito 
de comunicar sua prisão a alguém conhecido ou a um familiar, tendo sido a 
comunicação do flagrante feita ao juiz. 
 
 
Com base no caso apresentado, é esperado que o estudante aponte que, 
enquanto advogado do acusado, o remédio adequado é a impetração de pedido 
de relaxamento da prisão em flagrante, com fulcro no inciso I do art. 310 do CPP, 
uma vez que não foram observados os ritos procedimentais expostos no bojo 
dos arts. 304 e 306 do CPP, bem como o desrespeito aos ditames expostos no 
bojo da Súmula Vinculante 14, do Supremo Tribunal Federal, o que torna a prisão 
de seu cliente ilegal. 
Introdução da aula 
Qual é o foco da aula? 
Nesta aula, abordaremos as questões a respeito das funções institucionais 
penais do Ministério Público e de seu poder investigativo. 
Objetivos gerais de aprendizagem 
Ao longo desta aula, você irá: 
 apontar a origem e evolução do ministério público; 
 identificar as funções institucionais penais do ministério público; 
 reafirmar o poder investigativo do ministério público. 
Situação-problema 
Olá, estudante! 
Nesta aula, abordaremos temas de absoluta relevância para a disciplina sobre 
investigações criminais, na qual trataremos a respeito de seu contexto histórico, 
das funções institucionais penais do Ministério Público e de seu poder 
investigativo. 
O crime de roubo é promovido por ação penal pública incondicionada, entretanto, 
como advogado da vítima, percebeu que, mesmo com a autoria e a materialidade 
demonstradas, o promotor de justiça, depois de seis meses, ainda não 
denunciou o investigado. Motivo até que obteve sua liberdade. Indignado com a 
postura, verifique se é possível provocar uma persecução penal, diante da 
inércia do Ministério Público. 
Origem e evolução do ministério público 
Antes de adentrar no tema, é importante ressaltar que a Constituição Federal 
define o Ministério Público, em seu art. 127, como uma instituição permanente e 
essencial à função jurisdicional do próprio Estado, atribuindo-lhe a 
responsabilidade pela defesa da ordem jurídica, do regime democrático, dos 
interesses sociais e individuais indisponíveis. 
No que concerne à atuação ministerial dentro da esfera criminal, o inciso I do art. 
129 da Magna Carta é enfático ao impor que ao Ministério Público compete 
privativamente promover a ação penal pública, analisando as nuances do 
processo criminal É de fácil percepção que o Ministério Público, enquanto único 
titular da ação penal pública, exerce verdadeiro protagonismo na esfera penal. 
 
 
Ao tratar da participação do Ministério Público no processo criminal, Avena 
(2020, p. 255) é didático ao expor seu papel tanto nas ações penais públicas 
quanto nas privadas, diferenciando cada espécie de atuação: 
“Na órbita criminal, o Ministério Público representa o Estado-Administração, 
incumbindo-lhe, primordialmente, nos crimes de ação penal pública, deduzir 
perante o Estado-juiz as providências necessárias para que se concretize a 
pretensão punitiva; e, nos delitos de ação penal privada, fiscalizar a instauração 
e o desenvolvimento regulares do processo, bem como o cumprimento e a 
aplicação da lei ao caso concreto.” 
Abordando-se o tema relativo ao papel do Ministério Público dentro do processo 
criminal, indispensável falar acerca da função atribuída a este pelos incisos VII 
e VIII do art. 129 da Constituição Federal, qual seja, o dever de exercer o controle 
externo da atividade policial e de requisitar diligências investigatórias. 
No que tange à origem do Ministério Público, esta remonta à época das 
colonizações, ao passo que, no período das ordenações do reino, em especial, 
as Ordenações Manuelinas (1521-1603) e as Ordenações Filipinas (1603-1830), 
já se previa a existência do Promotor de Justiça, ao qual cabia a incumbência de 
fiscalizar a lei e efetivar as acusações criminais. 
O Código de Processo Criminal de 1832 previa a figura do promotor público da 
forma sistematizada que observamos atualmente, impondo a ele a atribuição de 
denunciar os crimes e acusar delinquentes, conforme disposição expressa no 
art. 37. 
O Decreto nº 848, de 11 de outubro de 1890, dispôs em capítulo próprio acerca 
da estruturação e das atribuições do Ministério Público, dando ênfase aos 
critérios de indicação para o cargo de procurador-geral e as funções deste. 
Tratando-se das menções ao Ministério Público nas diversas constituições, a 
depender dos regimes adotados, há ou não menções, como no caso da 
Constituição de 1824, que não faz referência expressa ao Ministério Público. 
A atual Constituição Federal é expressa ao citar o Ministério Público, inclusive, 
listando-o no capítulo relativo às funções essenciais da justiça. 
O papel do órgão ministerial se desenvolveu e se alterou com o passar dos anos, 
porém suas atribuições sempre estiveram ligadas ao sistema de persecução 
penal e à fiscalização da lei, sendo um órgão com clara proximidade com a 
população. 
Funções institucionais penais do ministério público 
Nos termos impostos pela própria Constituição Federal em seu art. 127, o 
Ministério Público é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, ao qual 
é incumbida a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses 
sociais e individuais indisponíveis. 
 
 
O art. 129 da Constituição Federal define as funções institucionais do Ministério 
Público, listando-as nos incisos I a IX. Tratando-se

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