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Mineralogia Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Francisco de Assis Cavallaro Revisão Textual: Prof.ª Me. Alessandra Fabiana Cavalcanti Fundamentos de Cristalografia Fundamentos de Cristalografia • Conhecer os fundamentos da estrutura e os sistemas cristalinos dos minerais e ter noções de cris- taloquímica, podendo identificar e classificar os minerais conforme seus aspectos e propriedades. OBJETIVO DE APRENDIZADO • Noções de Cristalografia; • Simetria; • Sistemas Cristalinos; • Estruturas Cristalinas; • Fator de Empacotamento Atômico (FEA); • Densidade Atômica Planar; • Fundamentos de Cristalografia Química. UNIDADE Fundamentos de Cristalografia Noções de Cristalografia Conforme descreve Tilley (2014, p. 11) “os cristais são sólidos que possuem ordem de longo alcance. O arranjo dos átomos, em torno de um ponto qualquer de um cris- tal, é idêntico ao arranjo em outro ponto qualquer equivalente do mesmo cristal”. Portanto, podemos concluir que os cristais estão em todo lugar, sendo encontra- dos em uma infinidade de locais, sendo que seu arranjo interno é bastante simétrico, com exceção de alguns defeitos que possam apresentar. A ciência que estuda os cristais e os seus modos de formação e de organiza- ção é denominada Cristalografia, que no início era coadjuvante à Mineralogia. No entanto, com o entendimento de sua importância, tornou-se uma área bastante particular e multidisciplinar, devido à relevância que o seu estudo pode proporcionar ao conhecimento das propriedades dos materiais. Com a descoberta da técnica de difração dos raios X, foi possível a construção da estrutura atômica do cristal, possibilitando a obtenção de conhecimentos importan- tes sobre a geometria e a estrutura atômica dos cristais. Atualmente, a maioria dos novos materiais tem como base a cristalografia, com- preendendo uma gama de produtos muito grande do nosso dia a dia, permeando nossa vida diária. De pequenos componentes eletrônicos a peças de aviões e satéli- tes, a cristalografia estuda a estrutura da matéria, possibilitando aplicar suas técnicas na modificação de uma estrutura. Nesse sentido, o estado da arte da cristalografia pode ser exemplificado por diversos projetos, como na área de desenvolvimento de fármacos, em que a forma das células, principalmente no que se refere às suas propriedades de membranas, pode servir de base para a escolha e a criação de subs- tâncias específicas e personalizadas. Aqui estudaremos as características e algumas técnicas relativas aos cristais. Simetria Observando a natureza que nos rodeia, pode-se observar a existência de inúme- ras evidências da presença de simetria (palavra grega que significa justa proporção). Estas observações podem ser feitas em nosso próprio corpo, em flores, em frutos flocos de neve, outros seres vivos etc. (Figura 1) para citar alguns casos. Para Kuhn (2014), “a simetria é a igualdade, a semelhança, a harmonia, o equilí- brio e/ou a correspondência entre as diferentes partes de um conjunto”. Assim, por definição, um determinado sistema físico possuirá uma justa propor- ção se uma determinada mudança for realizada e o sistema permanecer inalterado (MIESSLER; FISCHER; TARR, 2014). Esta definição é de grande importância à 8 9 química, pois seu conhecimento permite antever e compreender propriedades de moléculas e de suas estruturas. Figura 1 – Simetria na natureza Fonte: Adaptado de Getty Images Muitas moléculas podem ser descritas mediante sua simetria, identificando seus elementos e as operações de simetria envolvidos. Elementos de simetria são deter- minados (ou definidos) por intermédio de uma operação de simetria. Assim, esse par, elementos e operações, devem ser muito bem conhecidos e de forma conjunta (MIESSLER; FISCHER; TARR, 2014). Isto é o que caracteriza um grupo matemático de simetria. O Quadro 1 apresenta os elementos e as operações de simetria relacionadas: Quadro 1 – Elementos e Operações de simetria Elementos de simetria • Eixo de rotação (Cn); • Eixo de simetria (s ou σ); • Centro de simetria ou de inversão (i); • Eixo rotação-reflexão (Sn). Operações de simetria • Rotação (Cn); • Reflexão (s ou σ); • Inversão (i); • Rotação-reflexão (Sn) Fonte: Adaptado de MIESSLER; FISCHER; TARR, 2014 9 UNIDADE Fundamentos de Cristalografia Uma operação de simetria pode ser aplicada a uma molécula se esta molécula apre- sentar exatamente a mesma aparência que tinha antes da operação. Não havendo esta característica, não há a chamada operação de simetria (KLEIN; HULBUT, 2012; MIESSLER; FISCHER; TARR, 2014). A operação de simetria chamada Rotação (Cn) caracteriza-se pelo giro da molé- cula em 360º ao redor de um eixo de rotação, adotando o sentido horário como sen- do positivo e o anti-horário como negativo. O índice n chama-se ordem de rotação, sendo igual a 360° dividido pelo ângulo de rotação da molécula. Para exemplificar este tipo de operação, é apresentado no link a seguir no qual se apresentam os va- lores de Cn para algumas moléculas. Rotação (Cn), disponível em: https://bit.ly/35qNaCH Museu de Minerais, Minérios e Rochas Heinz Ebert. Disponível em: https://bit.ly/2TiY2go A operação seguinte é a reflexão (s ou σ), na qual é inserido um plano no centro da molécula com o objetivo de funcionar como um espelho. Assim, os átomos que ficam na frente deste plano, isto é, o espelho, devem ser igualmente encontrados na parte posterior desse plano como se estivesse sobre sua imagem especular. A Figura apresentada no link abaixo exemplifica esta operação. Operação de reflexão, disponível em: https://bit.ly/2Hr60kW Na terceira operação, a inversão (i), projeta-se cada átomo da molécula através de um ponto imaginário, localizado normalmente no centro da molécula. Através deste Centro de inversão, invertemos os átomos de posição. A Figura 2 exemplifica esta operação (MIESSLER; FISCHER; TARR, 2014; TILLEY, 2014). Figura 2 – Operação de inversão Fonte: joinville.udesc.br 10 11 Na operação rotação-reflexão (Sn) ocorre a inversão da molécula, resultando em uma estrutura indistinguível da molécula inicial, conforme mostrado no exemplo da Figura 3 (MIESSLER; FISCHER; TARR, 2014). São observados os seguintes passos: • Rotação de 360°/ n no eixo de simetria; • Reflexão para um plano perpendicular ao de simetria. Figura 3 – Operação de Rotação -Refl exão para C2 H2 Cl2 Fonte: coral.ufsm.br Sistemas Cristalinos No item anterior foi discutido a simetria de moléculas que compõem a estrutura do cristal, isto é, a simetria interna. Agora, focaremos na simetria externa da estru- tura cristalina, analisando com mais detalhes algumas formas cristalinas de acordo com sua simetria. Sistema Cúbico Este sistema possui três eixos de simetria de ordem 2 perpendiculares entre si (seg- mentos pontilhados, a e c) e quatro eixos de ordem 3, exemplificado no link abaixo. Simetria Sistema Cúbico, disponível em: https://bit.ly/3mgWKih Sistema Tetragonal Neste grupo, temos um eixo de ordem 4, como mostra o link a seguir: Simetria Sistema Tetraédrico, disponível em: https://bit.ly/3mfTrYJ Ortorrômbico Este sistema apresenta três eixos perpendiculares entre si, apresentando dois eixos C2, perpendiculares. O link abaixo apresenta uma imagem que ilustra este grupo. Simetria Sistema Ortorrômbico, disponível em: https://bit.ly/2IYlkGq 11 UNIDADE Fundamentos de Cristalografia Hexagonal Possui um eixo de ordem 6 e três eixos de ordem 3, conforme ilustra a Figura 4: Figura 4 – Simetria Sistema Hexagonal Fonte: Adaptado de cristal.iqsc.usp.br Simetria Sistema Cúbico, disponível em: https://bit.ly/3mgWKih Estruturas Cristalinas Átomos, íons ou moléculas, quando dispostos num arranjo espacial, formam uma estrutura cristalina, estruturando, através de seu posicionamento, uma matriz que se replica de forma ordenada ao longo de direções bem definidas. Nessa matriz, os átomos estão sempre ligados a seus vizinhos de contato. Assim, as propriedades dos sólidos podemser definidas a partir destas estruturas, embora, de acordo com as variações de pressão e de temperatura, alguns materiais podem apresentar outras estruturas cristalinas. Esta ordenação depende da regula- ridade dos átomos, íons ou moléculas que se dispõem em relação a seus pares de contato. Pode ser de longo alcance, já que a característica de seus elementos formam uma rede que se replica regularmente, como é caso dos cristais. Em ordenação de curto alcance não há arranjo atômico preferencial, como nos vidros e nos polímeros, e também no caso da inexistência de ordenação, sempre que os átomos são dispos- tos aleatoriamente, como, por exemplo, em gases. Podemos definir uma rede cristalina como um agrupamento de células unitárias ordenadas e periódicas, composta pelos átomos do cristal, que estão alocadas e repetidas em toda a estrutura deste cristal. Esta rede representa a simetria da estru- tura cristalina, pois possui geometria de suas faces bem definida e também as posi- ções dos seus elementos em seu interior. Essas células são caraterizadas pela forma e pelo tamanho, sendo essencialmente dependentes do tamanho dos elementos que as constituem; além de sua valência química e do estado de ionização dos átomos e das moléculas. Outro fator importante é o ambiente de formação desta célula pelas condições de temperatura e de pressão, podendo favorecer a formação de cristais com células unitárias muito diferentes, cujo processo é chamado de alotropia. 12 13 Exemplo de alotropia é o caso do carbono que está na natureza numa forma de gra- fite e de diamante. Porém, há um grande número de cristais que formam células uni- tárias regulares que podem ser analisadas e entendidas, podendo ser classificadas por meio de alguns parâmetros denominados parâmetros de redes (KELLY; KNOWLES, 2012). Estes parâmetros são uma combinação entre as 3 (três) arestas, denominadas a, b e c, 3 ângulos, α, β e γ e os 3 comprimentos das arestas (Figura 5). Partindo desta descrição, a tabela 1 apresenta todas as estruturas possíveis, redu- zindo-se a um conjunto de sete arranjos exclusivos de geometrias da célula unitária, também denominado de sete sistemas cristalinos. De forma geral, podem-se con- siderar pontos teóricos arranjados de forma periódica num espaço tridimensional, chamados de pontos de rede. Estes pontos substituem teoricamente os átomos e as esferas reais. As possibilidades limitam-se a um conjunto de 14 redes, denominadas de redes de Bravais. O empilhamento periódico dessas células gera redes de pontos (Figura 5), que são um agrupamento de pontos distribuídos no espaço tridimensional da estrutura, representando os átomos do cristal. Figura 5 – Retículo cristalino de uma célula unitária com formato de paralelepípedo Fonte: repositorio.ufu.br Tabela 1 – Parâmetros de rede para os setes sistemas cristalinos Sistemas Eixos Ângulos Cúbico a=b=c Todos os ângulos = 90° Tetragonal a=b≠c Todos os ângulos = 90° Ortorrômbico a≠b≠c Todos os ângulos = 90° Monoclínico a≠b≠c 2 ângulos = 90° e 1 ângulo ≠ 90° Triclínico a≠b≠c Todos os ângulos ≠ e nenhum = 90° Hexagonal a1=a2=a3≠c 3 ângulos = 90° e 1 ângulo = 120° Romboédrico a=b=c Todos os ângulos iguais, mas ≠ 90° Recursos educativos sobre as Redes de Bravais. Disponível em: https://bit.ly/35mWtDI Nos metais, em sua maioria, as estruturas cristalinas apresentam-se dentro de três configurações, conforme são descritas a seguir: 13 UNIDADE Fundamentos de Cristalografia • Cúbica de Faces Centradas (CFC): célula com 4 átomos; • Cúbica de Corpo Centrado (CCC): célula com 2 átomos; • Hexagonal Compacta (HC): célula com 6 átomos. Devido ao baixo empacotamento atômico, os metais não se cristalizam de acordo com a estrutura Cúbica Simples (CS), pois nesta estrutura há apenas um átomo na célula unitária. Fator de Empacotamento Atômico (FEA) Define-se o fator de empacotamento atômico como um valor percentual que representa a fração do volume da célula unitária que é ocupada por uma certa quan- tidade de átomos (SHACKELFORD, 2008). * ( átomosn volumedecada átomo célulaFEA volumedacélulaunitária ° = Para a forma Cúbica Simples (CS): ( ) 3 3 33 0 4 41 * 1* 3 3 0,52 52% 2 átomo r rcélula ou a r π π = = Figura 6 – Forma Cúbica Simples (CS) Fonte: Wikimedia Commons Para a configuração Cúbica de Corpo Centrado (CCC): 14 15 ( ) 3 3 33 0 4 42 * 2* 3 3 0,68 68% 4 / 3 átomo r rcélula ou a r π π = = Figura 7 – Cúbica de Corpo Centrado (CCC) Fonte: Wikimedia Commons Para a configuração Cúbica de Face Centrada (CFC): ( ) 3 3 33 0 4 44 * 4* 3 3 0,74 74% 4 / 2 átomo r rcélula ou a r π π = = Figura 8 – Cúbica de Face Centrada (CFC) Fonte: JULCA; ALBERTO, 2019 Para a configuração Hexagonal (HC): ( ) 3 3 33 0 4 46 6 3 3 0,74 74% 3 2 633 30 átomo x r x rcélula ou a x r x xcos π π = = ° 15 UNIDADE Fundamentos de Cristalografia Figura 9 – Forma Hexagonal (HC) Fonte: recursosbiblio.url.edu.gt Densidade Atômica Planar De acordo com Shackelford (2008, p. 519), a densidade atômica planar pode ser definida como o “número de átomos por unidade de área em determinado plano de uma estrutura cristalina”. Esta densidade, ρP, é calculada pela equação abaixo: nº efetivo de átomos cujos centros são intersectados pela área selecionada ñ área selecionadap = Para o cálculo da densidade planar, a área a ser considerada é a que intercepta a célula unitária diagonalmente. Para a configuração Cúbica de Corpo Centrado (CCC), o plano considerado para o cálculo é o (110), conforme mostrado na Figura 10. Figura 10 – (a) Célula unitária Cúbica de Corpo Centrado (CCC) e (b) área cortada pelo plano (110) Fonte: foz.unioeste.br 16 17 Exemplo 2 Calcule a densidade planar em átomos do ferro α, que apresenta a configuração Cúbica de Corpo Centrado (CCC), no plano (110), cujo parâmetro de rede é 0,287nm. Resolução nº efetivo de átomos cujos centrossão intersectados pela área selecionada área selecionada pρ = De acordo com a Figura 10 (b), no centro há 1 átomo acrescido de quatro partes de átomo, que representam ¼ de átomo cada. A quantidade total de átomos neste plano é de 2 átomos (1 inteiro + 4 * ¼ = 2). A área selecionada do plano (110), conforme ele é mostrado na Figura 10 (b), é de ( ) 22 2a x a a= . Com isso, podemos calcular a densidade planar ρP: ( ) 12 13 2 2 2 2 2 17,2 10 1 ,72 1 0 / 2 0, 287 v átomos átomos x x átomos mm nm mm ρ = = = Densidade Atômica Linear Definimos a densidade atômica linear como a quantidade de átomos sobre o com- primento da linha em uma direção cristalina. Conforme recomenda Shackelford (2008, p. 64) sobre o cálculo da densidade linear: Ao fazer cálculos de densidade linear pela primeira vez, é importante ter em mente que estamos contando apenas os átomos cujos centros se encontram diretamente na linha de direção, e não com qualquer um que possa cruzar essa linha com seu centro deslocado. (SHACKELFORD, 2008, p. 64) Pode-se calcular a densidade atômica linear, ρL, usando a relação: L N dediâmetros atônicos intersecionados na direçãorelacionada comprimentodalinha selecionada ρ °= Exemplo 3 Cálculo da densidade linear em átomos do cobre, que apresenta a configuração Cúbica de Face Centrada (CFC), no plano (110), cujo parâmetro de rede é 0,361nm. 17 UNIDADE Fundamentos de Cristalografia Figura 11 – Representação de uma célula Cúbica de Face Centrada (CFC) na direção (110) Fonte: foz.unioeste.br Resolução De acordo com a Figura 11, o comprimento da diagonal com intersecção no centro é de 2 a . Nesta diagonal, há um átomo inteiro e mais duas metades, totali- zando a quantidade de 2 (dois) diâmetros de átomos. Com isso, podemos calcular a densidade atômica linear ρL: ( ) 6 62 3,92 10 3,92 1 0 / 2 0,361L átomos átomos nmx x átomos mm nm mm ρ = = = Índices de Miller Cristais são caraterizados por átomos que ocupam posiçõespré-estabelecidas de acordo com o sistema cristalino utilizado. Porém, suas propriedades dependem da orientação cristalográfica, das direções cristalinas e dos planos cristalinos, e seu estudo é importante para descrever a estrutura cristalina, sendo utilizados métodos de difração, cuja caraterística é medir diretamente a distância entre planos paralelos de pontos do reticulado cristalino. O método de difração de raios X é utilizado para a determinação dos parâme- tros e das propriedades do retículo cristalino, possibilitando a medição dos ângulos entre os variados planos. Para a identificação das direções e dos planos cristalinos, utilizamos os índices de Miller. Estes índices são uma notação utilizada para definir conjuntos de planos em uma rede de Bravais. 18 19 Os Índices de Miller são um dos vários métodos existentes, porém é o mais uti- lizado, pois denotam as interseções das faces cristalinas com os respectivos eixos cristalinos. Segundo Klein e Dutrow (2012, p. 159), “os índices de Miller de uma face consistem em uma série de números inteiros que foram derivados das interseções por meio de inversão e, se necessário, com subsequente simplificação de frações”. Os números atribuídos aos índices sempre se referem aos três eixos a, b e c. No entanto, conforme enumera Klein e Dutrow (2012, p. 159): Quando as interseções exatas não são conhecidas, é conveniente em alguns casos utilizar um símbolo geral (hkl) para os índices de Miller. Nesse caso, h, k e I são, respectivamente, inversos das interseções racionais, porém inde- finidos, ao longo dos eixos a, b e c. O símbolo (hkl) indicaria que uma face corta todos os três eixos cristalográficos sem implicar unidades relativas ao longo destes eixos. Se uma face for paralela a um dos eixos cristalográficos, um 0 é usado, pois 1/ 0∞= . (KLEIN; DUTROW, 2012, p. 159) Outra observação sobre a escrita dos índices de Miller é que a tripla h, k e l são números inteiros positivos (Figura 1 2), sendo que, na ocorrência de número negativo é necessária a inclusão de uma barra acima do número, por exemplo, ( h ). Figura 1 2 – Exemplo da representação dos índices de Miller nas interseções do plano (hkl) com os respectivos eixos Fonte: Wikimedia Commons 19 UNIDADE Fundamentos de Cristalografia Figura 13 – Índices de Miller em planos na base cúbica. Fonte: Wikimedia Commons Quando aparecem quatro eixos cristalográficos, como estão presentes na configu- ração hexagonal, há outro sistema derivado de classificação, denominado de índices de Miller-Bravais, simbolizados como (h k i l). Para definir os Índices de Miller, é necessário percorrer o roteiro a seguir: 1. Determinar as interseções do plano que não passe pela origem com os respectivos eixos cristalográficos, podendo ou não pertencer a uma cé- lula primitiva; 2. Encontrar os recíprocos (inversos das interseções); 3. Encontrar o MMC (mínimo múltiplo comum); 4. Reduzir aos menores números inteiros, multiplicando as frações pelo MMC;. 5. Definir o respectivo Índice de Miller na forma (h k l). Exemplo 3 Supondo que as interseções de um plano cristalográfico x, y e z forem, respecti- vamente, 1/2, 2 e 2/3, para determinar os Índices de Miller, seguiremos as etapas a seguir: 1. Encontrar os recíprocos (inversos das interseções): {2,1/2,3/2}. 2. Encontrar o MMC (mínimo múltiplo comum): 2. 20 21 3. Reduzir aos menores números inteiros, multiplicando as frações pelo MMC: 1 32 2; ; 4;1;3 2 2 × = . 4. Defi nir os respectivos Índices de Miller: (4 1 3). Fundamentos de Cristalografia Química A formação dos cristais pode ser entendida mediante a compreensão de seus processos. Para que se possa entender e explicar a composição estrutural e a orientação dos cristais é importante a compreensão dos processos de sua formação, que são dependentes, basicamente, de três fatores, a saber: temperatura, pressão e ambiente químico (Figura 14), que são as condições básicas para a formação. Assim, o cristal pode ser formado a partir de três diferentes maneiras: • A partir de uma solução; • A partir de uma substância fundida; • A partir de um gás. Temperatura Pressão Ambientequímico Formação de cristais Figura 1 4 – Fatores que infl uenciam a formação de cristais Para exemplificar, será utilizada uma solução supersaturada de NaC𝓁 que sofrerá uma evaporação lenta e gradual, em que será observada a formação lenta de cristais. Quando essa evaporação, de forma lenta, ocorrer numa solução supersaturada do mineral, os íons C𝓁 – e Na+ atraem-se mutuamente pela diferença de carga (Figura 15), segregando-se da solução (CANTO, 1997). Lembre-se: uma solução supersaturada é aquela que possui uma quantidade maior de so- luto do que uma solução saturada. Por um aquecimento, muitas vezes, é possível obter a supersaturação, apesar de apresentar-se instável, podendo, em geral, precipitar o excesso de soluto. 21 UNIDADE Fundamentos de Cristalografia Figura 15 – Formação de Cristais de NaC𝓁 a partir de uma solução Fonte: people.ufpr.br O processo de cristalização, utilizando soluções, relaciona-se de forma direta com a solubilidade das substâncias no solvente. Porém, um fator importante é a tempera- tura, que ao ser diminuída, influencia a solubilidade do soluto, diminuindo-a também, obtendo-se, assim, o processo de cristalização. Outro fator importante será a pres- são. Quanto maior a pressão aplicada no sistema, maior será a quantidade do soluto que permanecerá solubilizado. Desta forma, a formação de cristais, considerando uma solução, pode acontecer a partir da evaporação lenta e gradual do solvente, da diminuição da temperatura (diminuição da solubilidade) e da pressão (ATKINS; JONES, 2012). Quando a energia é diminuída, consequentemente a temperatura diminui também, forçando as moléculas a iniciarem o processo de agregação e, por sua vez, a formação de cristais de gelo. De uma forma menos frequente, em relação às outras duas, a formação de cristais a partir de um gás é, também, decorrência de uma diminuição da temperatura de forma lenta, que faz com que as moléculas do gás possam se unir para iniciar o processo de formação do sólido cristalino (MILOVSKY; KONONOV, 1985; TILLEY, 2014; KLEIN; HULBUT, 1999). Assim, a formação dos cristais é influenciada, basicamente, pela sua constituição e pelas condições de temperatura e de pressão do ambiente em que o cristal é formado. Outro fato importante é a velocidade de resfriamento e as condições de intemperismo químico do ambiente, que contribuem de forma significativa para a formação de cristais. Os elementos químicos que farão parte da assembleia do cristal devem participar em quantidades suficientes, senão outros elementos estranhos à estrutura, caso estejam presentes no mesmo ambiente, podem ser inseridos e utilizados no arranjo atômico, podendo modificar as características do cristal. A maioria dos minerais pode ser for- mada à temperatura que varia de 1.200ºC até dezenas de graus negativos. A pressão pode ser de 1 a 20.000 atm (atmosferas). O principal problema ao se tentar repro- duzir essas condições no laboratório é a reprodução exata da natureza química das substâncias que se têm no ambiente de formação do cristal, que são fatores cruciais para a formação adequada desse cristal (POPP, 2010; TILLEY, 2014). Porém, pode- -se descobrir em quais condições ocorreu a formação do cristal por meio de ensaios laboratoriais chamados de termometria geológica. Ela se fundamenta na medida de ponto de fusão e inversão, dissociação e exsudações, mudança em propriedades físicas e recristalização e inclusão fluida (TILLEY, 2014). 22 23 Estas condições podem gerar inúmeros tipos de cristais, e, por conseguinte, minerais de muitos tipos. Destes, os mais comuns formadores de rochas, como, por exemplo, o quartzo e o feldspato, que são formadores do granito, até minerais raros como a benitoíte (Figura 16). Este cristal possui coloração azul e é pertencente ao grupo dos ciclosilicatos.Figura 16 – Benitoíte Fonte: Wikimedia Commons 23 UNIDADE Fundamentos de Cristalografia Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Museu de Minerais, Minérios e Rochas Heinz Ebert https://bit.ly/37yjrKE Leitura Programa interativo revela estrutura de cristais para estudantes https://bit.ly/37zudR4 Formação e imperfeições na estrutura cristalina https://bit.ly/35o15tk Recursos educativos – Redes de Bravais https://bit.ly/3obLtS6 24 25 Referências ASHCROFT, N. S.; MERMIN, N. D. Solid State Physics. New York: Harcourt, 1976. ATKINS, P.; JONES, L. Princípios de química: questionando a vida moderna e o meio ambiente. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2012. CALLISTER JR., W. D. Materials science and engineering: an introduction. 4. ed. New York: J. Wiley & Sons, 1997. CANTO, E. L. Minerais, minérios, metais: de onde vem? Para onde vão? 4. ed. 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Química inorgânica. São Paulo: Pearson, 5. ed., 2014. MILOVSKY, A. V.; KONONOV, O. V. Mineralogy. Moscou: Mir Publishers, 1985. PADILHA, A. F. Materiais de engenharia. São Paulo: Hemus, 1997. POPP, J. H. Geologia geral. 14. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2001. SHACKELFORD, J. F. Introdução à ciência dos materiais para engenheiros. Tradução: Daniel Vieira; Revisão técnica: Nilson C. Cruz. São Paulo: Pearson Pren- tice Hall, 2008. SMITH, W. F. Princípio de ciência e engenharia dos materiais. 3. ed. Portugal: McGraw. 25 UNIDADE Fundamentos de Cristalografia TILLEY, R. J. D. Cristalografia, cristais e estruturas cristalina. São Paulo: Ofici- na de Textos, 2014. WORTMAN, J. J.; EVANS, R. A. “Young’s modulus, shear modulus, and Poisson’s ratio in silicon and germanium”, J. Applied Physics, vol. 36(1), pp. 153–156, Jan. 1965. 26
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