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DESIGN DO PRODUTO PROFESSORA Me. Sabrina Giselle Levinton DESIGN DO PRODUTO 2 DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho, Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha, Direção de Operações Chrystiano Mincoff, Direção de Mercado Hilton Pereira, Direção de Polos Próprios James Prestes, Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida, Direção de Relacionamento Alessandra Baron, Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli, Gerência de Produção de Conteúdo Juliano de Souza, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo, Coordenador(a) de Conteúdo Sandra Franchini, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração José Jhonny Coelho, Designer Educacional Isabela Agulhon, Lideranças de área Angelita Brandão, Daniel Fuverki Hey e Hellyery Agda, Revisão Textual Kaio Vinicius Cardoso Gomes, Ilustração Bruno Pardinho e Marta Kakitani, Fotos Shutterstock. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; LEVINTON, Sabrina Giselle. Design do Produto. Sabrina Giselle Levinton. Maringá - PR.:UniCesumar, 2017. 136 p. “Graduação em Design - EaD”. 1. Design. 2. Produto. 3. Ambientes Residenciais EaD. I. Título. CDD - 22ª Ed. 728 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo Bibliotecário João Vivaldo de Souza – CRB-8 - 6828 NEAD Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e solução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho. Cada um de nós tem uma grande responsabilidade: as escolhas que fizermos por nós e pelos nossos fará grande diferença no futuro. Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhecimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros. No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universitário Cesumar busca a integração do ensino-pesquisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consciência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade. Diante disso, o Centro Universitário Cesumar almeja ser reconhecida como uma instituição universitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente; aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; consolidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância; bem-estar e satisfação da comunidade interna; qualidade da gestão acadêmica e administrativa; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relacionamento permanente com os egressos, incentivando a educação continuada. Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualificado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modificou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, Kátia Solange Coelho Diretoria Operacional de Ensino Fabrício Lazilha Diretoria de Planejamento de Ensino de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. boas-vindas autores Sabrina Giselle Levinton Mestre em Administração pela Universidade Estadual de Maringá (2015) seguindo a linha de pesquisa Empreendedorismo, Inovação e Mercado. Especialista em Criação e Produção de Moda pela Universidade do Estado de Santa Catarina (2006). Graduação em Desenho Industrial - Projeto de Produto pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2002). Possui aperfeiçoamento em Coolhunting andFashion Trends pelo Istituto Europeo Di Design, IED, Barcelona/Espanha (2008). Atualmente é Analista de Negócio e Docente no SENAI Maringá. Trabalha com desenvolvimento de consultoria em Gestão do Design, Desenvolvimento de Produto, Planejamento e Desenvolvimento de Coleção e Coolhunting - Pes- quisa de Tendências, além de ministrar disciplinas relacionadas à pesquisa e desenvolvimento de moda. <http://lattes.cnpq.br/1376813249141536>. apresentação Olá aluno(a)! bem vindo(a) ao mundo da Moda! Não é por acaso que, quando nos referimos à essa área, falamos em “mundo”, isso porque lidamos com uma infinidade de situações, processos e profissionais de várias áreas de conhecimento diferentes. Ao longo deste livro você entenderá esse argumento e perceberá que desenvolver uma coleção de moda requer muito mais conhecimento do que simplesmente ser criativo. Este livro está dividido em cinco Unidades, cada qual com um conhecimento diferente e que juntas, ao final, irão possibilitar a você desenvolver a capacidade de pesquisar e interpretar os direcionamentos de moda com o intuito de organizar, planejar e desenvolver uma coleção de moda direcionada para um determinado público-alvo. A seguir apresentamos o que você irá estudar em cada Unidade. Na Unidade I estaremos dentro do universo da pesquisa de moda. Nesta Unidade apren- deremos a observar e organizar o que nos inspira, e também como interpretar os diferentes níveis de uma tendência e qual a sua função. Uma pesquisa de moda bem feita é o primeiro passo para um desenvolvimento produtivo e criativo de uma coleção. Na Unidade II iremos aprender a planejar e estruturar uma coleção de moda. Antes de sair por aí desenhando sem nenhuma referência ou direcionamento, é necessário estabelecer parâmetros para a coleção. Assim, definir um prazo, orçamento e etapas para o desenvolvi- mento competem à geração de um cronograma de desenvolvimento de coleção, definição das cores e matérias-primas que serão utilizadas e quais as peças e o perfil delas em relação ao público-alvo. Na Unidade III abordaremos como direcionar o processo criativo de uma maneira assertiva a partir da análise de venda de coleções anteriores, da estruturação de família de peças para otimização de tecidos e, principalmente, estampas e como esse processo pode colaborar ainda na criação de um portfólio de moda para o estilista/designer de moda. Na Unidade IV faremos o acompanhamento de uma coleção por meio dos registros necessá- rios para que as peças sejam produzidas corretamente, saberemos o que observar e analisar durante uma prova de roupas com a peça piloto e aprenderemos também alguns possíveis direcionamentos de mercado que uma coleção pode se enquadrar. Por fim, na Unidade V, veremos estratégias de aproveitamento de materiais e coleções pas- sadas, assim como conectarmos informações conceituais e inspiracionais de uma coleção para outra. Esperamos que aproveite ao máximo o conteúdo desta disciplina e que coloque em prática os direcionamentos aqui apresentados para que o desenvolvimento de sua coleção tenha um bom embasamento, tanto teórico quanto prático, ao ser lançada no mercado. Ótimos estudos! sumário UNIDADE I UNIVERSO DA PESQUISA DE MODA 14 COMO REALIZAR UMA PESQUISA DE MODA 20 O QUE SÃO TENDÊNCIAS E QUAL A SUA FUNÇÃO 24 COMO GERAR PAINÉIS ORGANIZATIVOS E FINAIS DE MODA UNIDADE II PLANEJANDO E ESTRUTURANDO UMA COLEÇÃO DE MODA 42 COMO PLANEJAR E ORGANIZAR UM CRO- NOGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÃO 46 DEFININDO ORÇAMENTO, CARTELA DE CORES, MATERIAIS E ESTILO DA COLEÇÃO 50 MIX DE MODA E MIX DE PRODUTOS DE UMA COLEÇÃO UNIDADE III UNIVERSO CRIATIVO E CRIAÇÃO DE MODA 68 UTILIZANDO INFORMAÇÕES DE COLEÇÕES PRÉVIAS 72 CRIAÇÃO DE PEÇAS E FAMÍLIAS DE MODA 76 DESENVOLVIMENTO DE PORTFÓLIO DA COLEÇÃO UNIDADE IV GERENCIANDO E APROVANDO UMA COLEÇÃO DE MODA 90 GERANDO DOCUMENTAÇÃO TÉCNICA 94 PROVA DE ROUPA E APROVAÇÃO DE COLEÇÃO 98 DEFINIÇÕES MERCADOLÓGICAS E COMERCI- AIS DE UMA COLEÇÃO DESENVOLVENDO UMA EXTENSÃO DE COLEÇÃO DE MODA UNIDADE V DESENVOLVENDO UMA EXTENSÃO DE COLEÇÃO DE MODA 116 GERANDO CONEXÕES ENTRE COLEÇÕES 120 CUSTOMIZAÇÃO, UPCYCLING E DOWNCYCLING 124 DEFINIÇÕES MERCADOLÓGICAS E COMERCI- AIS DE UMA EXTENSÃO DE COLEÇÃO Professor Me. Marcelo Cristian Vieira Professora Esp. Ednar Rafaela Mieko Shimohigashi Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta Unidade: • Como realizar uma pesquisa de moda • O que são tendências e qual a sua função • Como gerar painéis organizativos e finais de moda Objetivos de Aprendizagem • Identificar os direcionamentos de estilo e comportamento que influenciam a moda. • Compreender a origem das informações e direcionamentos associados às tendências. • Organizar e selecionar as informações coletadas de uma pesquisa de moda. UNIVERSO DA PESQUISA DE MODA Professora Me. Sabrina Giselle Levinton I unidade I unidade INTRODUÇÃO Olá, seja bem-vindo(a) aluno(a)! Nesta Unidade daremos início às pri- meiras atividades que correspondem a observar, compreender, selecio- nar e interpretar as informações sobre moda, tendências e estilos. Iremos aprender a realizar a pesquisa de moda de forma correta, produtiva e coerente com o perfil do público alvo e do segmento selecionado pela empresa, além de conhecer quais são as técnicas utilizadas pelos coolhun- ters, profissionais especializados na observação e predição de tendên- cias, para auxiliar no processo do entendimento dos direcionamentos da moda. A pesquisa de moda é o primeiro passo para o desenvolvimento de um produto ou coleção e, muitas vezes, é uma atividade constante de um departamento em uma empresa. Veremos também, de onde vêm e qual a função das tendências de moda para o desenvolvimento de uma coleção e aprenderemos como utilizar esses direcionamentos de maneira assertiva no desenvolvimento da coleção. Tão importante quanto realizar uma pesquisa de moda correta é analisar, selecionar e filtrar as informa- ções coletadas para, então, construir o conceito da coleção. Esse conceito, caro(a) aluno(a), veremos detalhadamente como deve ser realizado por meio da geração de painéis organizativos da pesquisa e painel conceitu- al da coleção. Uma pesquisa de moda bem feita fornece todas as infor- mações necessárias para o desenvolvimento de uma coleção de moda. Quanto maior o número de informações, melhor é o processo de seleção, porém, é preciso coerência na busca e muita atenção durante a escolha e combinações das informações coletadas. Definir as fontes de pesquisa também faz parte da organização dessa etapa, a qual deve ser planejada e contemplada no cronograma de desenvolvimento de coleção para que tenha um prazo final para acontecer e dar início, então, a próxima etapa, o desenvolvimento. Portanto, nesta Unidade, aprenderemos a pesqui- sar, organizar e selecionar as informações coletadas de uma pesquisa de moda. Bons estudos! DESIGN DO PRODUTO 14 COMO REALIZAR UMA PESQUISA DE MODA A pesquisa de moda é um processo contínuo uma vez que há diariamente modificações no mercado e lançamento de tecnologias que alteram as tendên- cias de moda, além de ser uma etapa importante para que o designer possa desenvolver seu trabalho, de forma a criar uma coleção coerente com os dire- cionamentos de estilo da temporada, mas também que converse com seu público-alvo (TREPTOW, 2003). A pesquisa consiste em observar, consultar e registrar dados, além de, depois de coletadas, inter- pretar e adaptar as informações à coleção. Conforme Sant’Anna e Barros (2010) argumentam, a pesquisa de tendências de moda é importante, uma vez que a inovação dos produtos de moda é direcionada pelas oportunidades de mercado em que as empresas ne- cessitam desenvolver produtos que os consumidores não só desejem, mas que também os adquiram, ou seja, não ficando somente no patamar da admiração DESIGN 15 das criações ou coleções. “Desta forma, a pesquisa de tendência é informaçãoestratégica para os pro- cessos criativos de toda a cadeia produtiva de moda” (SANT’ANNA; BARROS, 2010, p. 2). Diferentes tipos de pesquisa possibilitam dife- rentes tipos de informações, assim o designer deve identificar quais são as modalidades que lhe interes- sa, conforme o segmento, produto ou público que deseja atuar. Imagine que uma das tendências que estão em voga têm referências artesanais, automa- ticamente o designer deverá fazer uma busca mais profunda sobre qual o tipo de tendência artesanal e, também, poderá fazer uma pesquisa regional, para verificar se há algum processo específico em sua região que possa valorizar por meio da coleção. O quadro a seguir apresenta os tipos de pesquisas que podem ser realizadas e qual o seu objetivo, porém, não há uma obrigatoriedade de que todas as opções sejam utilizadas. Mais uma vez é preciso entender que o designer de moda deve saber quais são os ti- pos de pesquisa que deve desenvolver para o sucesso de sua coleção. Tipo de Pesquisa Objetivo Pesquisa de comportamento Acompanhar hábitos de consumo e preferências de de- terminado perfil da população, normalmente está ligado ao público-alvo da marca. Pesquisa de Mercado Verificar marcas concorrentes ou inspiracionais e suas estratégias em relação a produto, preço e mecanismos de promoção. Pesquisa de Tendências Identificar direcionamentos para a estação propostos por órgãos especializados, feiras e outros designers/ marcas em relação a cores, tecidos e estilo. Pesquisa Tecnológica Acompanhar lançamentos de tecnologias, maquinários ou processos que auxiliem a criação ou produção da coleção. Pesquisa de Vocações Regionais Identificar processos ou matéria-prima que possa dife- renciar a coleção por meio de técnicas alternativas. Pesquisa de Tema de Coleção Após definição do tema para a coleção, realizar levanta- mento das informações que serão inspiracionais, como arquitetura, música, indumentária etc. Quadro 1 - Tipos de pesquisa e seus objetivos Fonte: adaptado de Treptow (2003, p. 78). DESIGN DO PRODUTO 16 Embora o designer deva selecionar quais os tipos de pesquisa são importantes de serem realizadas, a pesquisa de tendências precisa ser feita a cada mu- dança de estação ou de ciclo de produto, pois é a que oferece informações quanto às cores, formas e maté- ria-prima. Viajar, ir a exposições, frequentar lugares culturalmente ativos, feiras, mostras e museus, ler jornais e revistas sobre cotidiano e publicações espe- cíficas sobre desfiles e lançamentos de moda, além de acompanhar as marcas nacionais e internacio- nais, fazem parte das atividades para identificação de tendências. Assim, com tantas opções de locais e atividades, Liger (2012) sugere que algumas etapas devem ser seguidas para que o processo seja facilitado. O qua- dro a seguir apresenta a sequência de etapas a serem desenvolvidas na pesquisa de tendências. O benchmarking é um processo de pesquisa que auxilia os profissionais de uma empre- sa ligados ao mercado a compararem: a) os produtos oferecidos no mercado; b) as prá- ticas empresariais definidas; c) os serviços oferecidos; d) as estratégias de comunicação e/ou e) as metodologias utilizadas por outras empresas, sendo estas, concorrentes diretas ou indiretas com o intuito de aproveitar uma informação ou estratégia que possibilite o seu crescimento ou melhoria. Existem vários tipos de benchmarking que podem ser desenvolvi- dos sempre com o objetivo de aumentar a competitividade da empresa que o desenvol- ve. Para saber mais sobre benchmarking e co- nhecer as técnicas utilizadas pelas empresas para executá-lo, acesse o link disponível em: <https://endeavor.org.br/benchmarking/>. Acesso em: 18 out. 2016. Fonte: adaptado de ENDEAVOR (2015). SAIBA MAIS Etapas Objetivo Definir as fontes da pesquisa Selecionar quais jornais, revis- tas, publicações e sites sobre política, economia, moda, de- sign (nacionais e internacionais) será feita a pesquisa. Coletar dados Selecionar dados de curto, mé-dio e longo prazo. Conceituar a leitura em relação a tendências Algumas tendências têm caráter mais comportamental, é preciso verificar qual o posicionamento da população em relação a esse tema. Filtrar informações para o público-alvo Identificar quais tendências de fato podem ser utilizadas para o público-alvo da marca. Aplicação da pesquisa Utilização das informações filtradas da pesquisa servirão de direcionamento para a concei- tuação da coleção. Quadro 2 - Etapas da pesquisa de tendências Fonte: adaptado de Liger (2012, p.93). DESIGN 17 Seguindo as etapas sugeridas por Liger (2012), o processo de pesquisa e organização das informações pode ser inserido e planejado em um cronograma - o cronograma de desenvolvimento de coleção. As principais ferramentas para a pesquisa de moda são uma máquina fotográfica e um caderno de anotações ou tablete para as pesquisas de rua ou criar algumas pastas no computador para pesquisar digitais. Cada designer ou estilista desenvolve suas pró- prias ferramentas, alguns preferem ainda o sistema manual de ilustração e anotações e outros optam pela organização virtual. Independente das ferra- mentas, a pesquisa de moda é parte integrante do desenvolvimento de uma coleção e precisa ser estru- turada de forma correta e eficiente. É muito importante entender como a pesquisa de moda auxilia no desenvolvimento da coleção. Duran- te a fase da concepção, é necessário já ter claramente as informações e direcionamentos que podem ser uti- lizados e os que não há necessidade de inserir. Todos os dados relacionados à pesquisa ser- vem como base conceitual de uma coleção que corresponde ao target e esteja dentro do que está em destaque. Mas, quando a coleção é criada, o tema é uma inspiração do estilista e a tendência, nesse caso, funciona como base norteadora. O estilista deve saber qual a ten- dência que se adapta às suas escolhas (LIGER, 2012, p. 94). Como visto no início deste tópico, a pesquisa de moda engloba uma série de atividades e característi- cas organizativas para que seja realizada da maneira correta. Alguns profissionais se especializam em ob- servar o mercado, pessoas, comportamentos e apre- sentar possíveis direcionamentos às empresas que têm interesse em lançar produtos inovativos ou são as empresas que participam do lançamento de novas tendências, como produtores têxteis ou estamparias, esses profissionais são chamados de coolhunters, ex- plicitamente seriam em português os “caçadores de tendências ou de coisas "legais". DESIGN DO PRODUTO 18 DESIGN 19 O termo coolhunting surgiu no início dos anos 90 e se utiliza de áreas de conhecimento como psicologia evolutiva, antropologia, sociologia, pesquisa e etnografia. “Coolhunting é um termo do mundo do marketing que se refere à predição de futuras tendências e mudanças no consumo” (RIEZU, 2009, p. 6). Embora seja uma área de especialização comple- xa e externa ao processo de planejamento e desen- volvimento de coleção, até porque o objetivo final não é a criação de uma coleção em si, como é o obje- tivo do designer, podemos aproveitar algumas técni- cas utilizadas pelos coolhunters para melhor realizar a pesquisa de moda para uma coleção e identificar com maior facilidade alguns direcionamentos. “A chave do coolhunting é buscar pessoas ‘cool’ primei- ro, e encontrar coisas ‘cool’ depois” (RIEZU, 2009, p. 15), ou seja, a comunicação e as tendências são sempre sobre pessoas, os produtos e serviços gera- dos pela relação das pessoas é uma consequência. Um dos pontos mais importantes que pode ser utilizado durante uma pesquisa de moda é o ques- tionamento. O coolhunter não aceita simplesmente uma informação e, isso colabora com a percepção se é realmente uma tendência ou um fad, por exemplo. Assim, três perguntas são úteis para serem realiza- das quando de frente a uma possível tendência: 1. Quem está por detrás desta tendência? – quais são osfundamentos sólidos que sustentam es- sas tendências, como uma pessoa importante da música, um setor representativo como o de alimentos ou farmacêutico, uma indústria re- conhecida por ser inovadora etc. 2. Quais são as possibilidade de acesso ao mainstream (mercado de massa)? Aqui não nos referimos como “mercado de massa” o mercado de populares, no sentido de baixo teor de qualidade ou informação já proces- sada, mas sim, na popularização no sentido que as tendências devem ser de fácil acesso, facilmente compreensíveis, baratas e atrati- vas. Como exemplo em produtos podemos citar o pendrives e em serviços a compra via internet. 3. A tendência é visível em mais de um lugar? Se surgem indicações de determinada ten- dência em mais de um lugar, por meio de de diferentes segmentos ou indústrias, a ten- dência tem grande chance de se tornar uma confirmação. As tendências são normalmente consideradas como sequenciais ou lineares, o que nem sempre ocorre, uma vez que o mercado pode sofrer variações inespe- radas. Assim, a pesquisa de moda, deve contemplar essa imprevisibilidade também, ou seja, um direcio- namento pode não se confirmar da maneira em que está sendo apresentado graficamente em um palestra, por exemplo, assim, vale a sensorialidade utilizada pelos coolhunters para auxiliar a interpretação das pesquisas. A seguir, veremos com maior profundida- de sobre a origem e função das tendências. A cada pouco tempo, uma novidade anula a anterior sem que exista uma mediação entre elas de causa nem relação visível ou razoável entre elas. (Maria Domínguez Riezu) REFLITA DESIGN DO PRODUTO 20 O QUE SÃO TENDÊNCIAS E QUAL A SUA FUNÇÃO Antes de tudo, é preciso deixar claro que tendências não são regras, são direcionamentos e, enquanto su- gestões de caminhos, podem sofrer alterações antes de suas confirmações acontecerem ou simplesmente deixar de existir. Assim começa o trabalho do desig- ner de moda, desenvolvendo sua pesquisa de moda por meio do conhecimento das tendências para a es- tação que pretende criar a coleção. “A moda move- -se rapidamente em comparação a outras indústrias criativas e isso reflete na pressão constante para lan- çar tendências a cada estação” (SORGER; UDALE, 2009, p. 16). A pesquisa de tendências está baseada na bus- ca de informações quanto a padrões de comporta- mento, materiais e aviamentos. Isso porque as ten- dências oferecem indicativos para as cores, texturas e modelos da estação a que se referem, e os forne- cedores de matéria-prima, aviamentos e estampa- rias já desenvolvem suas coleções considerando os direcionamentos apontados pelas tendências. Nes- DESIGN 21 sa etapa da pesquisa é importante identificar quais as tendências, o que está disponível para aquisição, quem vende ou fabrica e qual o custo disso para a coleção, para que possa ser aproveitado (SORGER; UDALE, 2009). Para Liger (2012), existem três patamares da tendência. O primeiro deles se refere à observação de movimentos da sociedade em vários âmbitos como econômico, social e comportamento, e esses movimentos são traduzidos em conceitos para que fabricantes de matéria-prima, aviamentos ou benefi- ciamentos desenvolvam seus produtos. O segundo patamar considerado por Liger (2012) sugere que a tendência é proposta pelos es- tilistas e designers de grandes marcas que utilizam as informações do primeiro patamar e desenvolvem suas coleções propondo o estilo para a determinada estação. E, por último, fazem parte do terceiro pata- mar os produtos que resultam das informações dos dois patamares anteriores e já foram confirmados por outras marcas e aceitos pelo público em geral. Cada tipo de tendência têm durações diferen- tes. Podemos falar de tendências de moda, mas também existem as macrotendências, as megaten- dências e o fad. Uma tendência de moda é um dire- cionamento que pode durar até cinco anos e indica a roupa que vestimos, os gadgets e as expressões de linguagem, por exemplo, que utilizamos (LINDK- VIST, 2010). Essas tendem a mudar de estação para estação. As macrotendências e megatendências têm re- lação com a observação de mudanças, além das ro- tineiras do nosso dia a dia, mudanças sociais e de comportamento, por exemplo. As macrotendências podem ser identificadas nas mudanças políticas e novas tecnologias e tem duração de uma a duas dé- cadas; já as megatendências costumam durar mais de duas décadas e podem ser identificadas por meio das mudanças na arquitetura e urbanização, por exemplo, assim como comportamentos e po- sicionamentos ideológicos (LINDKVIST, 2010). A fad, ou moda passageira, como o nome já indica, tem um tempo de duração muito curto, são voláteis e surgem espontaneamen- te, normalmente estão ligadas diretamente às ce- lebridades ou pessoas de grande alcance midiático e sua popularidade está ligada aos elementos que a tornam atraente ao pú- blico (RIEZU, 2009). Para compreender melhor as tendências e criar produtos de moda, é preciso ter uma boa cultura geral. No entanto, não me refiro somente ao conhecimento contemporâneo, refiro-me também a conhecer o passado. (Ilce Liger) REFLITA DESIGN DO PRODUTO 22 A moda e as tendências estão ligadas à sazona- lidade ou algum aspecto temporal, portanto, pode- mos dizer que acontecem em ciclos, desde sua as- censão até o seu declínio. Conforme o perfil do ciclo, ele pode sofrer variações de duração, ou seja, alguns estilos duram mais tempo e outros popularizam e deixam de existir rapidamente. A Figura 1 apresenta um esquema da duração dos ciclos. Pico Clássico Modismo Pico Asc ens ão As ce ns ão Declínio Declínio Figura 1 - Comparação de Ciclos Fonte: adaptado de Frings (2012). Estilos considerados clássicos dificilmente saem de moda ou são considerados ultrapassados, uma vez que mantém uma informação estrutural ou concei- tual relativamente simples que permite ser repro- duzida em qualquer período ou não gera nenhum tipo de interferência no estilo contemporâneo. Um exemplo que podemos citar é a calça jeans. Um exemplo é a tendência pesquisada pela Lineapelle (feira italiana do setor de couro, sintéticos, tecidos, componentes e modelos para calçados, roupa de couro e decoração) na passagem do novo milênio, quando foi si- nalizada uma sensação geral de temor, o que refletia uma necessidade social de proteção (cocconing). Essa sensação foi traduzida na aplicação de materiais “protetores” (explo- ração sensorial e não somente estética da matéria) que transmitissem sensações de prazer e segurança, como couros macios ou materiais com acabamentos em película protetora. Esse discurso vale também para as cores ligadas às percepções sensoriais baseadas nas estações de referência e em períodos históricos: um momento particu- lar ligado à ecologia e aos bioaspectos, por exemplo, possivelmente terá predominân- cia de cores da natureza com variedades de verde e marrom. Fonte: Liger (2012). SAIBA MAIS Já os estilos considerados como modismo são itens que podem influenciar um grupo de consumidores, têm forte informação estrutural e são rapidamente aceitos e rejeitados pelo mercado. Como exemplo de modismo podemos citar o calçado chamado sneaker com salto, popularizado entre 2012 e 2013. DESIGN 23 DESIGN DO PRODUTO 24 COMO GERAR PAINÉIS ORGANIZATIVOS E FINAIS DE MODA Antes de se gerar um painel é preciso organizar e filtrar as informações coletadas na pesquisa de moda, como já estudamos anteriormente. Após selecionar efetiva- mente quais direcionamentos e estilos gostaríamos de utilizar na coleção, passamos a estruturar painéis, fí- sicos ou virtuais, com tais informações. Visualmente é uma ferramenta muito importante pois possibilita uma visão holística das principais referências de uma coleção, inclusive, na definição temática e conceitual. Pode-se chamar de painel organizativo, um pai- nel não muito utilizado, mas que pode facilitar o processo da interpretação da pesquisa de modare- alizada anteriormente. Graficamente, ele possibilita a visualização das principais características de uma tendência de moda. A figura 2 apresenta a divisão de campos de um painel organizativo. DESIGN 25 O primeiro campo, o da “Tendência”, refere-se às imagens e/ou textos sobre determinada tendência de moda, pode-se inclusive colocar um painel semânti- co da própria tendência caso ele já exista. Nos segun- do e terceiro campos são desmembradas as principais informações sobre modelagens, cores e materiais ou matérias-primas que essa tendência engloba. Nesse espaço, podem ser colocadas imagens ou fotos de desfiles que utilizaram essa tendência ou desenhos de peças de vitrines e estampas que personifiquem a tendência estudada. Esse estilo de painel é muito prático para traduzir fisicamente informações das tendências e visualizar, por exemplo, quais marcas e como estas traduziram a tendência para sua coleção. A etapa do desenvolvimento de uma coleção contempla duas situações que podem acontecer si- multaneamente ou sequencialmente. Ou o designer define o tema de sua coleção enquanto ainda está fi- nalizando a pesquisa de moda e por consequência, selecionando quais tendências de moda irá utilizar, ou ele define a temática após escolher as tendências. O tema ou conceito de uma coleção tem uma função estratégica para o desenvolvimento das peças. Ele é o fio condutor entre as peças e as tendências, ou seja, é o tema que permite a reunião das informações para que o contexto artístico permita o surgimento de uma coleção, caso contrário, teremos um amonto- ado de peças que seguem tendências de moda, mas que se comunicam entre si. Portanto, não podem ser definidas como uma coleção. Para escolher o tema de uma coleção, designers podem utilizar meios diferentes de inspiração. Pode ser por meio de “um conceito abstrato por meio da roupa (por exemplo ‘isolamento’), enquanto outros escolhem trabalhar com um enfoque mais visual (como ‘o circo’)” (SORGER; UDALE, 2009, p. 18). In- dependente de qual tipo de inspiração o designer uti- liza, o tema deve ser algo familiar ou de interesse do profissional, ou seja, o tema precisa inspirar o estilista! Utilizar uma tendência de moda como tema da co- leção é possível desde que esta se conecte com as outras tendências. Seguir somente uma tendência de moda ipsis litteris ao que foi apresentado em uma feira ou caderno de tendências não necessariamente define sua coleção como criativa, já que somente reproduz infor- mações de uso comum e acessíveis a todas as marcas. Figura 2 - Divisão de campos de um painel organizativo Fonte: a autora. Tendência Principais Modelagens/Formas Principais Cores e Materiais DESIGN DO PRODUTO 26 Alguns estilistas, com o intuito de diferenciar ou dei- xar a coleção exclusiva, utilizam como temática algu- ma viagem que fizeram, seja de férias ou como pesqui- sa de moda. Sua vivência e suas recordações, pessoais, sensoriais e fotográficas servem de material para o de- senvolvimento de modelagens, cartela de cores e mate- riais e estampas. A marca brasileira Osklen, por exem- plo, definiu como seu tema para o Verão 2016/2017 uma história baseada em uma ilha imaginária baseada em um dos últimos lugares visitados pelo estilista da marca, Oskar Metsavaht, em que um casal cosmopo- lita se refugia (VASONE, 2016)2. Outros designers já preferem selecionar algum movimento artístico ou personalidade do momento. Após definido o tema e as tendências, cria-se o painel conceitual. Também chamado de painel de inspiração ou pai- nel temático, o painel conceitual é uma extensão do que foi visto durante a pesquisa de moda, porém já com os filtros do que realmente será utilizado para a coleção que pretende ser lançada. Muitas informações resultantes da pesquisa não acabam sendo aproveita- das e, portanto, não participam do painel conceitual. Normalmente o painel conceitual é uma estrutu- ra em forma de quadro que apresenta colagens, ima- gens, desenhos e todas as informações pertinentes ao tema escolhido, pode ser feito digitalmente tam- bém. Essa estrutura serve de apoio não só para que o estilista respeite as seleções feitas previamente e não insira outros temas ou direcionamentos que não fo- ram contemplados na definição temática, mas tam- bém como fonte gráfica e visual para apresentações em reuniões com o marketing ou com fornecedores de estampas ou tecidos, por exemplo. A figura 3 re- presenta um painel conceitual. “Os tecidos e a cor neste painel de inspiração são baseados nas imagens ao fundo; a imagem aquática evoca tecidos transpa- rentes e fluidos. O broche de plumas sugere cores fragmentadas e um desenho de poás” (SORGER; UDALE, 2009, p. 26). No painel conceitual ficam, então, registradas as informações que nortearão a coleção, sejam elas em cores, texturas, efeitos, temas e tendências. Mas como unir tendências e tema? Como visto anterior- mente, o tema é o fio condutor da coleção, é ele que une, conceitualmente, as peças. Hoje, a moda nos proporciona uma série de direcionamentos e um estilista pode escolher um ou vários para usar em sua coleção, portanto, a primeira etapa é selecionar quais tendências farão parte da coleção. Na sequên- cia, devemos interpretar as tendências e dividir as informações, primeiramente, em “modelagens”, “co- res”, “materiais” e “efeitos”. É uma análise estrutural da tendência e permite visualizar objetivamente o que e como será inserido na coleção. Uma vez “traduzidas” as tendências, verificamos qual a relação com o tema e como podemos inserir, por exemplo, na cartela de cores alguma tonalidade que remeta ao conceito ou um efeito de modelagem, sem comprometer a coleção. Na figura 3, percebe- Figura 3 - Painel conceitual Fonte: Sorger e Udale (2009). DESIGN 27 mos que a explicação dos tecidos estava diretamente ligada à proposta de fluidez que a imagem remetia. O mesmo pensamento deve ser adotado ao transpor características do tema à coleção. Por exemplo, uma peça pode seguir os direcionamentos quanto à mo- delagem da tendência, mas ser confeccionada com um tecido estampado personalizado que tem rela- ção com o tema. Podemos também imaginar que a matéria-prima da coleção se refere a uma tendência de moda com características minimalistas e o tema da coleção é “arquitetura moderna”. Então, a mode- lagem das peças remeterá ao tema. A estilista mineira Patricia Motta é reco- nhecida por desenvolver suas criações em couro e em entrevista para o site Fashion Foward (2014, on-line)3, em abril de 2014, contou como costuma se inspirar e qual a temática para a coleção de Verão 2014/2015 apresentada durante o SPFW. Para Patrícia, a natureza sempre é fonte de inspiração e para a coleção de verão 2014/2015 utilizou a tríade moda, arte e gastronomia como direcionamento temático. Como resultado, as estampas da coleção são estampas de pitangueiras em diversos tamanhos dife- rentes, isso porque a estilista estava em um momento de reflexão embaixo de uma pitangueira. A cartela de cores ganhou no- mes de frutas e a silhueta lady like (saias amplas com a cintura marcada) e o uso de zíper à mostra (tendências de moda para a estação) fizeram parte da coleção. Os outros diferenciais apresentados no desfile foram os trabalhos realizados por Patricia Motta em couro com desenhos vazados de renda, recortes e texturas imitando o linho. Fonte: Duarte (2014, on-line)4. SAIBA MAIS Não existe uma forma específica de que a conexão entre as tendências e o tema ocorra, por isso muitos estilistas têm dificuldade em trabalhar com as infor- mações juntas. Porém, a prática deve ser realizada e mais importante ainda é que o tema seja de uma área de interesse do criador. Isso porque um tema de co- nhecimento do estilista pode ser melhor aproveitado, uma vez que há o conhecimento específico sobre ele; assim, mais detalhes podem ser aproveitados para de- senvolvimento de peças, efeitos e estilos na coleção. Ao contrário,se um tema for desconhecido, pode ser que a coleção seja superficial em seu aproveitamento. A coleção de sucesso tem sempre algo novo para propor, com linguagem coerente e uni- dade de estilo, destinada a fazer tendência desenvolvendo o tema com diversas solu- ções e, todas são condutíveis em relação ao projeto de base. (Morixe) REFLITA 28 considerações finais C aro(a) aluno(a), esta Unidade tratou sobre as atividades que envolvem o observar, compreender, selecionar e interpretar as informações sobre moda, tendências e estilos. Aprendemos que a pesquisa de moda é uma fase importante do desenvolvimento de coleção por todas as informa- ções que se adquirem nessa fase para o início da criação e que deve ser conside- rada no planejamento de coleção. Conhecemos também quais são as possíveis etapas a serem seguidas para realizar a pesquisa de moda e como cada uma das modalidades pode oferecer diferentes indicativos que serão úteis para a cole- ção, portanto, cabe ao designer identificar quais etapas da pesquisa de moda são prioritárias e secundárias para cada coleção ou desenvolvimento de produtos de moda. Aprendemos sobre o especialista em predição de tendências, o coolhunter e como uma das técnicas utilizada por esse profissional pode colaborar com a agilidade da pesquisa de moda e conexão com o mercado. Conhecemos as moda- lidades de tendências e a amplitude de interferência e duração de cada uma delas para então compreender que as tendências de moda também sofrem alterações e que é preciso organizar o processo da pesquisa de moda para acompanhar os direcionamentos que o mercado propõe tanto em estilo quanto em comporta- mento. Por fim, caro(a) aluno(a), vimos o passo a passo de como relacionar um tema de coleção às tendências de moda e entendemos que essa ação possibilita a diferenciação da coleção frente às marcas concorrentes, além de permitir que o estilista possa exercer a criatividade na execução da coleção. O tema de uma coleção é o fio condutor entre as diversas peças que serão desenvolvidas ao longo do período em que a coleção estiver no mercado e esse conceito pode ainda ser utilizado nos materiais de divulgação, promocionais e de comunicação da marca, conferindo a todas as peças de marketing unidade de informação. 29 LEITURA COMPLEMENTAR Coolhunting e Arquétipos para a Indústria da Moda * O texto escrito segue normas ortográficas de Portugal 1. Arquétipos: Aplicação dos Estudos de Tendências na Indústria da Moda Os Estudos de Mercado e outras disciplinas possuem ferramentas e metodologias espe- cíficas para a identificação de arquétipos de consumo, de públicos-tipo e de segmentos. Neste ensaio, apresentamos o primeiro desenho do modelo ―Arquétipos através de Tendências, ou Modelo AT, desenhado com o objetivo de identificar e segmentar arqué- tipos e grupos de indivíduos, de acordo com as suas receções dos comportamentos e dos objetos das tendências. Por outras palavras, o estudo da receção das mentalidades e dos seus consequentes padrões de comportamento permite a identificação de arqué- tipos de consumidores, em articulação com o conceito de tribos urbanas e a questão da tribalização cultural. Neste sentido, a metodologia do Coolhunting continua a ser a principal ferramenta capaz de estudar as relações entre público, objeto, comportamento e tendência. Ela permite não só identificar a manifestação da tendência, como analisar a sua disseminação e relação com manifestações semelhantes, bem como os públicos e os espaços envolvidos. Não obstante, existem outras metodologias que podem articular-se com o Coolhunting e os Estudos de Tendências, tais como, numa primeira fase, o estudo do meme cultural, da parasitação e dos tópicos do zeitgeist, a par de atividades de visual profiling; e, numa segunda fase, a gamification e o storytelling. Importa sublinhar que este modelo não se limita apenas a um único campo, ou à análise de uma sub-cultura ou grupo específicos, mas para efeito deste trabalho, a atenção irá concentrar-se sobre o seu potencial no sector e na indústria da moda. Os pontos seguin- tes desconstroem as várias metodologias do modelo e a sua articulação. 2. Identificação de Arquétipos: Receção de Mentalidades e Coolhunting Não é possível falar do Coolhunting como componente de um modelo, sem antes refe- rir e exemplificar esta prática emergente. O Coolhunting tem sido muito criticado como prática “pouco científica” e séria. Isto advém do facto de a maioria dos indivíduos que diz praticar o Coolhunting não ter formação nem experiência para tal, resultando em dados recolhidos de forma aleatória e sem método, que muitas vezes apenas se resumem a “coisas giras”. O Coolhunting, prática com ligações à etnografia, procura manifestações 30 LEITURA COMPLEMENTAR das tendências de mentalidade que sejam consideradas atrativas (que chamem a aten- ção), que sejam inspiradoras (que promovam ação por parte dos indivíduos e que inspi- rem ideias) e que tenham potencial de crescimento (replicação social). Tal como Carl Roh- de sugere (vd. www.scienceofthetime.com), estes são os três elementos que se procuram nas manifestações, ou seja, nos Cool Examples. A estes, acrescentamos a necessidade de possuírem um carácter vanguardista. Após se identificar um Cool Example, no mundo digital ou no terreno, o Coolhunter deve registar o mesmo (anotando o espaço onde foi identificado, tirando um registo visual e descrevendo os principais elementos do contexto em que o registo foi executado) para posteriormente descrever o mesmo, de modo a ser útil para a geração de inovação. Uma correta descrição do Cool Example deve possuir os seguintes elementos: a) Título que descreva sumariamente o conteúdo; b) Registo visual (com a indicação da fonte se for um registo de origem digital); c) Descrição do Cool Example, identificando as suas caracte- rísticas e contexto; d) Justificação da natureza Cool (razão pelo qual se considera atrativo, inspirador e com potencial de crescimento); e) Identificação das principais pistas de ino- vação que podem ser transferidas; f) Identificação das principais tendências relaciona- das; g) Identificação do Coolhunter ou do Analista de Tendências que executou o registo e a descrição. Esta é a metodologia empregue pela rede holandesa Science of the Time, uma das mais antigas redes de Coolhunting no mundo, e desenvolvida pela plataforma Trends Observer em Portugal. No campo da moda, os registos podem não ser tão rigorosos, mas sublinhe-se que a mes- ma metodologia tem aplicação na identificação de tendências de estilo e gosto. Quando um largo número de manifestações, ou Cool Examples, sugerem comportamentos ou a geração de objetos semelhantes, então estamos perante a base para a identificação de uma tendência. Não obstante, no que diz respeito ao modelo proposto, o Modelo AT, o Coolhunting é a principal ferramenta, ou a primeira, na identificação de grupos segmenta- dos. Tendo abordado a prática e o registo das manifestações que resultam do Coolhun- ting, importa agora compreender como pode ir para além dos seus objetivos iniciais. Ao terminar um, ou mais, Coolhunt, os Coolhunters e os Analistas de Tendências ficam na posse de um largo número de manifestações e dos seus contextos. Se, ao invés de abor- dar as mesmas com o objetivo de identificar tendências, o analista estudar os públicos, os indivíduos e os espaços associados a cada Cool Example, então ele poderá compreender 31 LEITURA COMPLEMENTAR quais os grupos e tipos de indivíduos mais recetivos a determinadas manifestações e qual foi o grau de receção por parte dos vários públicos. Por si só, estes dados e análises podem ser suficientes, mas em articulação com as seguintes ferramentas, gera-se um processo de confirmação múltipla das descobertas e dos segmentos, ou grupos, identi- ficados. Fonte: Gomes, Lopes e Alves (2016). 32 atividades de estudo 1. Ao longo da Unidade, estudamosque existem várias definições e perfis de tendên- cias e cada uma com um tempo de duração diferente. Assinale a alternativa que corresponde à associação de termo e conceito. I. Tendência de Moda 1. Direcionamentos que duram mais de duas déca- das e podem ser identificados por meio das mu- danças na arquitetura e urbanização, assim como comportamentos e posicionamentos ideológicos. II. Macrotendência 2. Direcionamentos com um tempo de duração mui- to curto, são voláteis e surgem espontaneamente, normalmente estão ligadas diretamente às cele- bridades. III. Megatendência 3. Direcionamento que pode durar até cinco anos e indicam a roupa que vestimos, os gadgets e as ex- pressões de linguagem. IV. Fad 4. Mudanças sociais e de comportamento que po- dem ser identificadas nas mudanças políticas e novas tecnologias e tem duração de uma a duas décadas. a. I – 3 / II – 4 / III – 1 / IV – 2. b. I – 2 / II – 4 / III – 1 / IV – 3. c. I – 4 / II – 3 / III – 1 / IV – 2. d. I – 2 / II – 4 / III – 1 / IV – 3. e. I – 3 / II – 2 / III – 1 / IV – 4. 2. Leia o texto abaixo e assinale a alternativa correspondente ao tipo de tendência apre- sentado: Um exemplo é a tendência pesquisada pela Lineapelle (feira italiana do setor de couro, sintéticos, tecidos, componentes e modelos para calçados, roupa de couro e decoração) na passagem do novo milênio, quando foi sinalizada uma sensação geral de temor, o que refletia uma necessidade social de proteção (cocconing). Essa sensação foi traduzi- da na aplicação de materiais “protetores” (exploração sensorial e não somente estética da matéria) que transmitissem sensações de prazer e segurança como couros macios ou materiais com acabamentos em película protetora. Esse discurso vale também para as cores, ligadas às percepções sensoriais baseadas nas estações de referência e em períodos históricos: um momento particular ligado à ecologia e aos bioaspectos, por exemplo, possivelmente terá predominância de cores da natureza com variedades de verdes e marrons. Fonte: Liger (2012). a. Cocconing pode ser considerado como uma tendência de moda, pois expressa ma- teriais e cores. 33 atividades de estudo b. Cocconing pode ser considerado uma macrotendência, pois representa uma mudança comportamental. c. Coccuning é uma fad baseada em uma sensação momentânea. d. Coccuning é uma megatendência, pois apresenta características que serão duradouras. e. Coccuning é uma tendência de moda porque direciona possíveis modelagens. 3. Considerando a afirmação de Sorger e Udale (2009, p. 16), “a moda move-se rapida- mente em comparação a outras indústrias criativas e isso reflete na pressão constan- te para lançar tendências a cada estação”, assinale a alternativa que corresponde a uma análise verdadeira: a. A pesquisa de moda precisa ser constante para poder acompanhar as novas tendên- cias e as que ainda estão influenciando determinada estação. b. A equipe de estilo não precisa se preocupar com as tendências, já que elas podem se repetir por até cinco anos. c. A cada estação surgem novas tendências que substituem todas as tendências ante- riores, por isso há muita pressão. d. A moda passageira pode durar até dez anos, igual a uma macrotendência. e. Como a moda se move rapidamente nem todas as estações têm tendências de moda para servirem de direcionamento. 4. Sobre as etapas da pesquisa de moda aprendidas na Unidade, leia as afirmações abaixo e assinale a alternativa correta: I. A pesquisa de moda deve ser realizada aleatoriamente e não seguir uma sequência preestabelecida já que contempla o fator sensorial permitindo que as informações fluam durante a busca. II. A pesquisa de moda deve seguir uma estrutura preestabelecida para auxiliar na orga- nização e filtro das informações o que torna o processo mais ágil. III. A pesquisa de moda deve seguir uma estrutura rígida e imutável de atividades, inde- pendente do perfil de informações. a. F, V, V. b. F, F, V. c. V, F, V. d. F, V, F. e. V, F, F. 34 atividades de estudo 5. O painel semântico de uma coleção pode ser construído de várias maneiras e con- templar diversas informações que sejam pertinentes para a coleção. Avalie as afir- mações abaixo e assinale a alternativa correta: I. Cores, Materiais e texturas podem expressar o tema de uma coleção. II. Fotografias referentes ao tema podem indicar tanto uma estampa quanto um cená- rio para o catálogo. III. A Indicação das tendências de moda que serão utilizadas no painel semântico facilita a conexão entre os temas. a. Somente a alternativa I é Falsa. b. Somente a alternativa II é Falsa. c. Somente a alternativa III é Verdadeira. d. Somente a alternativa I é Verdadeira. e. Todas as alternativas são Verdadeiras. 6. Analise as afirmações abaixo e selecione qual a alternativa correta referente à fun- ção do tema em uma coleção. I. O tema de coleção é o fio condutor entre as peças e, por meio dele se conta uma história que será representada nas cores, estampas, formas e materiais. II. O tema de coleção é definido pela equipe de marketing depois que a coleção toda está finalizada e, serve para orientar a produção do catálogo. III. O tema de coleção é o mesmo que a tendência de moda que será utilizada na cole- ção, isso facilita a estratégia de marketing. a. V, V, F. b. V, F, V. c. F, F, V. d. F, V, F. e. V, F, F. Pesquisa e Design Simon Seivewright Editora: Bookman Sinopse: a pesquisa é fundamental para o sucesso de qualquer design. Com explicações concisas e exemplos de projetos contem- porâneos, Pesquisa e Design introduz os principais aspectos da pesquisa de moda, discutindo o que é pesquisa, porque ela é tão importante e onde buscar inspiração para desenvolver conceitos e temas para a sua coleção. Comentário: esse livro apresenta diversas técnicas de compilagem da pesquisa por meio de ilustrações e fotografia de trabalhos de estudantes e outros designers. Excelente material para fazer parte da biblioteca pessoal de qualquer designer para ser consultado a qualquer hora. 36 referências FRINGS, G. S. Moda: do conceito ao consumidor. Porto Alegre: Bookman Edi- tora, 2012. GOMES, N.; LOPES, M. V.; ALVES, P. E. Coolhunting e estudos de tendências aplicados à moda: modelo de segmentação estratégica. ModaPalavra e-Periódi- co, Florianópolis, v. 9, n. 17, p. 6-26, jan-jun, 2016. LIGER, I. Moda em 360 graus: design, matéria-prima e produção para o merca- do global. São Paulo: Senac, 2012. LINDKVIST, M. O guia do caçador de tendências. São Paulo: Editora Gente, 2010. RIEZU, M. D. Coolhunting: marcando tendências en la moda. Barcelona: Par- ramón Ediciones, 2009. SANT’ANNA, P.; BARROS, A. R. de. Pesquisa de tendências para moda. Anais. VII Colóquio de Moda. São Paulo, 2010. SORGER, R.; UDALE, J. Fundamentos de design de moda. Porto Alegre: Bookman, 2009. TREPTOW, D. Inventando moda: planejamento de coleção. D. Treptow, 2003. Referências On-line 1 Em: <https://endeavor.org.br/benchmarking/> Acesso em: 16 de out. 2015. 2 Em: <http://ffw.com.br/desfiles/sao-paulo/verao-2017-rtw/osklen/1582874/>. Acesso em: 05 ago. 2016. 3 Em: <http://ffw.uol.com.br/desfiles/sao-paulo/verao-2015-rtw/patricia-mot- ta/839948/>. Acesso em: 21 out. 2016. 4 Em: <http://ffw.com.br/noticias/moda/o-estilista-fala-minha-inspiracao-sem- pre-vem-da-natureza-revela-patricia-motta/> Acesso em: 25 out. 2015. 37 gabarito 1. A. 2. B. 3. A. 4. D. 5. E. 6. E. Professor Me. Marcelo Cristian Vieira Professora Esp. Ednar Rafaela Mieko Shimohigashi Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Como planejar e organizar um cronograma de desenvolvimento de coleção • Definindo orçamento, cartela de cores, materiais e estilo da coleção • Mix de Moda e Mix de Produtos de uma coleção Objetivos de Aprendizagem • Identificar e organizar as etapas referentes ao planejamento e desenvolvimento de uma coleção. • Desenvolver indicadores e referenciais para o desenvolvimento de uma coleção. • Estabelecer o mixde moda e de produto que a marca deve adotar para sua coleção. PLANEJANDO E ESTRUTURANDO UMA COLEÇÃO DE MODA Professora Me. Sabrina Giselle Levinton II unidade II unidade INTRODUÇÃO Olá, aluno(a), bem-vindo(a)! Na Unidade II, iremos conhecer um pouco mais sobre como ocorre o processo de planejar, organizar e estruturar uma coleção de produtos de moda. Pense que uma coleção é o resultado de muitas informações e processos de vários setores e caso a empresa deseje reaproveitar essas informações, ou até parte delas, em outra cole- ção, esses dados precisam estar acessíveis e de forma organizada e clara. Portanto, com especial atenção ao desenvolvimento do cronograma e à documentação dessa coleção, veremos quais conhecimentos operacio- nais de registro dos produtos são necessários. O orçamento que a área de estilo tem para realizar as aquisições da nova coleção é o resultado da interação de outros departamentos como o comercial e marketing e, as- sim, configura-se a primeira etapa do planejamento. Após coletar, filtrar e interpretar as tendências de moda aprenderemos a compor as cartelas de cores e de materiais de uma coleção. A compra e aproveitamento de materiais para uma nova coleção dependem da seleção de cores e ma- térias-primas realizada nesta etapa, assim, a visita dos representantes é aproveitada e o estilista já tem direcionamentos do que espera utilizar em sua coleção, otimizando a compra de produtos que mais tarde não seriam utilizados. Conheceremos o passo-a-passo de como relacionar um tema de coleção com as tendências de moda. Quando a marca desenvolve um tema para sua coleção ela cria uma personalidade para as peças, conta uma história por meio dos looks que “conversam” entre si, pois tem um fio condutor que os une, ou seja, o tema da coleção. Também compreen- deremos qual o objetivo e como criar o mix de moda de uma empresa, o mix de produtos de uma coleção e etapas que ocorrem antes dos de- senhos. Portanto, nesta Unidade, aprenderemos a planejar e estruturar uma coleção de produtos. Vamos em frente. Bons estudos! DESIGN DO PRODUTO 42 COMO PLANEJAR E ORGANIZAR UM CRONOGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DE COLEÇÃO Parte do planejamento para uma coleção está as- sociado à organização dos tempos, prazos e infor- mações pertinentes de cada etapa que permeia a pesquisa, desenvolvimento, produção e comerciali- zação de uma coleção ou de um produto específico. O cronograma é uma tabela que pode ser gerada em qualquer programa de computador ou manualmen- te, em que as informações de datas e atividades são confrontadas (TREPTOW, 2003). Esse cronograma auxilia o acompanhamento das eta- pas do desenvolvimento da coleção, pois é possível verificar em que fase alguns produtos se encontram e prever possíveis alterações em prazos, entregas ou inclusões de acordo com o mercado. Também permi- te verificar em que momento mais de uma coleção se “encontram” na fábrica, já que, enquanto a produção está produzindo as peças de determinada estação, a equipe de estilo já está desenvolvendo e criando a DESIGN 43 próxima. Esses “encontros” podem gerar problemas chamados de “gargalos”, caso não sejam previstos com antecedência ou estruturados de maneira coerente. Algumas empresas adotam estratégias de mer- cado para suas coleções inserindo outras pequenas coleções no meio de uma estação por exemplo, ou pequenas coleções temáticas; tecnicamente falare- mos sobre elas nas próximas Unidades, porém essas inserções devem estar também previamente con- templadas e organizadas no cronograma de desen- volvimento de coleção. A marca brasileira Richards lançou em maio de 2016 uma coleção-cápsula que celebra as Olimpíadas. A coleção feminina e mas- culina de estilo esportivo fazendo alusão ao tema olímpico contempla características do inverno da marca que se unem a detalhes que homenageiam o velejador Torben Grael. Atletas olímpicos fazem parte da campanha de divulgação da coleção-cápsula. Fonte: Vogue (2016, on-line)1. SAIBA MAIS A estrutura de um cronograma é relativamente simples e pode ser dividida em meses, semanas ou dias. Porém, quanto mais detalhada em relação a dias e atividades, o controle sobre a/as coleção/ões será melhor, uma vez que algumas datas são fixas. O cronograma deve ser sempre preenchido de trás pra frente, ou seja, à partir da data final como o lançamento da coleção por meio do desfile, por exemplo, ou o envio dos mostruários aos represen- tantes, até o início das atividades como a pesquisa de moda e de tendências. Isso porque a data final é o limite máximo de entrega/lançamento da coleção e deve ser respeitado para que não interfira no tem- po de exposição e venda dos produtos. À partir da data final, começam a ser preenchidos os campos com estimativas de prazos para a execução de cada etapa, como por exemplo: tempo de execução de costura, tempo de execução do beneficiamento das peças, tempo de execução de modelagens por dia, tempo de execução da pesquisa de moda e assim por diante. A Figura 1 representa um cronograma com os primeiros meses do ano de 2016 feito no programa Microsoft Excel®. Figura 1 - Cronograma de Desenvolvimento de Coleção Fonte: a autora. DESIGN DO PRODUTO 44 Perceba com a Figura 2 que a coluna da esquer- da indica o ano ao qual o cronograma se refere e as atividades que compreendem o desenvolvimento da coleção. Todas as atividades pertinentes e impor- tantes de serem consideradas devem estar inseridas nessa coluna; cada empresa conforme seu processo de venda e distribuição preenche os campos. Assim, o cronograma é desenvolvido conforme a realidade da marca. Ao longo da planilha estão os dias do ano. As colu- nas marcadas com a cor cinza fazem referência aos SÁBADOS e DOMINGOS e as colunas com a cor alaranjada fazem referência aos FERIADOS. As co- res podem ser escolhidas aleatoriamente, desde que a pessoa que esteja construindo o cronograma possa identificar rapidamente ao que se refere, mantenha sempre a mesma formatação de cores e coloque uma legenda para que outras pessoas possam também acompanhar. Figura 2 - Atividades de desenvolvimento de coleção Fonte: a autora. Figura 3 - Cronograma de coleção para 5 peças Fonte: a autora. DESIGN 45 Como mencionado anteriormente, o cronogra- ma deve ser preenchido de trás pra frente. A Figura 3 ilustra como data de lançamento da coleção e o percurso que uma coleção de 5 peças precisa percor- rer ao longo do cronograma. Os prazos devem ser coerentes com o tempo ne- cessário para a execução de cada atividade. O recebi- mento da matéria-prima adquirida para a produção da coleção não é no dia seguinte da compra, portan- to, é preciso ter a informação do representante para acrescentar os dias de “espera” desse recebimento. Algumas etapas são simultâneas porque os departamentos trabalham em conjunto com ativi- dades diferentes ou porque à medida que um pro- cesso vai sendo realizado já se passa para o outro departamento. É o que ocorre, por exemplo, entre Dependendo de como é produzida e distribu- ída, uma coleção pode levar prazo maior ou menor para chegar ao consumidor. Indepen- dente dos prazos de produção e distribuição, o designer deve atentar para que a coleção esteja disponível ao varejo no período certo. (Doris Treptow) REFLITA a criação e a modelagem. À medida que a criação desenvolve as peças, elas vão sendo encaminhadas para a modelagem, não se espera finalizar toda a coleção para somente então passar para o próximo departamento. DESIGN DO PRODUTO 46 DEFININDO ORÇAMENTO, CARTELA DE CORES, MATERIAIS E ESTILO DA COLEÇÃO Definir os materiais, cores e efeitos de uma coleção pode, à primeira vista, parecer uma tarefa fácil e pra- zerosa, mas ela engloba uma série de definições pré- vias que asseguram a manutenção do tema e coerên- cia orçamentária que precisam ser consideradas em uma infinidade de possibilidades apresentadas por representantes comerciais de tecidos e aviamentos,prestadores de serviço de beneficiamento e estampa- ria, por exemplo. O orçamento de uma coleção é um item de extrema importância que deve ser consulta- do no primeiro momento de estruturação. Normal- mente é definido pelo departamento comercial que considera qual o custo disponível para o desenvolvi- mento das peças, qual a margem de lucro que cada peça pode ter e qual será o ponto de equilíbrio da empresa para determinada coleção, ou seja, até que ponto a coleção vendida paga seu investimento e em que momento sequencial representa lucro. Ao considerarmos a coleção, sabemos que ha- verão estilos de peças diferentes conforme segmen- DESIGN 47 tação do mix de moda, item que aprofundaremos detalhadamente no próximo tópico. Portanto, cada estilo de peça deve ter seu custo calculado em re- lação à matéria-prima utilizada, beneficiamento e aviamentos. O equilíbrio de uma coleção está em oferecer uma margem de valores por grupos de pe- ças, ou seja, peças “básicas” são mais baratas que pe- ças de uma linha festa, por exemplo. Esse equilíbrio permite que um lojista, por exemplo, possa adquirir mais peças da coleção para sua loja, pois pode, den- tro de seu orçamento, escolher um pouco de cada estilo. Portanto, é importante que departamento de estilo e departamento comercial realizem uma reu- nião para alinhamento do orçamento para cada co- leção no início das atividades, incluindo disponibi- lidade financeira para aquisição de matéria-prima e prestação de serviços para a coleção. Uma vez estabelecido o orçamento disponível para cada coleção, o designer passa a buscar, dentre suas pesquisas e com representantes comerciais, mate- riais e processos para desenvolver a coleção. A seleção e estruturação das cartelas de cores e materiais têxteis para uma coleção é uma atividade mais complexa do que escolher combinações. Está relacionada ao conhe- cimento sobre materiais têxteis, suas variedades, qua- lidades e como podem ser aplicados aos modelos cria- dos. A estação que o designer está criando, por meio das tendências de moda, irá direcionar a espessura, textura e caimento dos tecidos, assim como também as cores em evidência. Cabe ao designer utilizar as in- formações da pesquisa de moda e uní-las ao conceito da coleção, para definir, então, os materiais e cores que utilizará (SORGER; UDALE, 2009). A cor é dividida em três propriedades: matiz, tom e intensidade. Cada uma dessas proprie- dades da cor auxilia na composição da cartela de cores de uma coleção que pode ser estru- turada somente de tonalidades da mesma cor, por exemplo. O matiz diz respeito a cor em si e permite que diferenciemos uma cor da outra, é o que se diz da cor “pura”. O tom já se refere à variação da intensidade da luz na cor, ou seja, se há mais branco, portanto, a cor é mais clara, ou se há mais preto e a cor escurece. A intensidade está associada à saturação de uma cor, ou seja, se a cor tem brilho ou palidez. As cores que chamamos na moda de “bebê” são cores pálidas, por exemplo e, portanto, têm baixa saturação. Para saber mais sobre as propriedades das cores e a relação quanto a sua classificação consulte a obra "Moda em 360: design, matéria-prima e produção para o mercado global", da autora Ilce Liger (2012). Fonte: a autora. SAIBA MAIS DESIGN DO PRODUTO 48 As cores estão associadas à estação e também in- fluenciam fortemente o aspecto emocional de uma coleção. Pode se tornar um elemento decisivo em uma venda, pois é o primeiro elemento que o con- sumidor presta atenção quando vai em busca de um produto (FRINGS, 2012). Normalmente, os desig- ners de moda irão utilizar, além das cores apontadas pelas previsões nas feiras e publicações de tendên- cias, suas próprias escolhas que tem relação ao tema que a coleção terá. A cartela de cores de uma coleção deve conter todas as cores que serão utilizadas, mesmo como variantes, e contemplar o preto e o branco, normal- mente considerados como cores “neutras”. Uma co- leção em média é composta de 8 a 9 cores, podendo variar esse número entre 6 e 12 cores (TREPTOW, 2003). Quanto mais cores uma coleção tiver, mais peças de tecido dessas tonalidades deverá adquirir a empresa, portanto, encontrar o equilíbrio nas cores selecionadas para a coleção e o estoque da empresa é uma atividade que pode ser realizada em conjunto entre os departamentos pertinentes. O designer tem a opção de selecionar as cores de fa- bricantes de tecidos que desenvolvem sua coleção ba- seada nas tendências, mas também pode optar pelo desenvolvimento de uma cor especial, ou seja, uma tonalidade ou cor específica que gostaria de ter na coleção por meio do tingimento de tecidos. Para que isso aconteça, a empresa deve adquirir um lote míni- mo do tecido e da cor, o que chamamos de barca. Esse mesmo processo pode ser realizado com fornecedores de estamparia também, ou seja, o desenvolvimento de desenhos ou estampas exclusivas e personalizadas. O conhecimento sobre as cores e seus efei- tos é muito importante para as pessoas que trabalham com moda. Principalmente para profissionais como designers que criam es- tampas, os art buyers e os personal stylists, por exemplo. (Ilce Liger) REFLITA A estruturação da cartela de cores segue alguns dire- cionamentos para uma melhor visualização das cores. Em uma reunião de aprovação da coleção ou como instrumento de venda de um representante comercial, a cartela de cores precisa apresentar uma estética lim- pa e organizada. É aconselhável que as amostras de cor sejam todas da mesma matéria-prima, que sejam fixa- das em uma placa ou base de fundo branco, para que não haja a interferência do fundo na cor da amostra e que elas sejam dispostas com pelo menos um interva- lo de 1cm entre cada uma. O tamanho da amostra não deve ser menor que 2x3 cm e todas as cores devem estar especificadas com o nome da cor e código do fornecedor ou código Pantone® (TREPTOW, 2003). DESIGN 49 O raciocínio sobre a seleção e montagem da cartela de materiais que serão utilizados na coleção, segue o mesmo da cartela de cores. Quanto maior a variedade, maior deverá ser a aquisição dos elemen- tos por parte da empresa. O estilista deve considerar, ao selecionar os tecidos para a coleção, a adequação deste à peça que pretende criar, tanto em relação ao custo, mas também em relação às propriedades dessa matéria-prima, ou seja, se ela se adequa à pro- posta. Vale acrescentar que a coleção é composta também por aviamentos e outros itens que o estilis- ta julgue pertinente incluir na coleção. Todos esses outros itens podem ser acrescentados à cartela de materiais ou pode-se também executar uma carte- la à parte, desde que contenham relação com o que se está considerando em termos de cores, texturas e efeitos para a coleção. nado tecido e quais as propriedades desse, caso seja necessário passar por algum tipo de beneficiamento, como estamparia, por exemplo. O cálculo do custo da peça está relacionado à quantidade de tecido que será consumida para a sua execução. No momento da exe- cução da piloto, caso o estilista esteja utilizando um tecido novo ou ainda não tenha muita experiência, deve solicitar as informações à produção. Selecionar quem serão os fornecedores também é uma atribuição do estilo, é preciso planejar a com- pra e a entrega do artigo dentro do prazo estabele- cido para a coleção no cronograma que foi gerado no início. Antes de realizar o pedido, o estilista deve solicitar aos fornecedores de tecidos uma pequena amostra para a execução de peça piloto ou testes que definam se o artigo está adequado ao esperado em termos de rendimento, maleabilidade e estilo. Mais uma vez, o estilista deve filtrar algumas informações e verificar a coerência entre os teci- dos e as cores. Treptow (2003) indica a técnica do cruzamento de informações em uma tabela em que um lado corresponde às cores e o outro aos tecidos, assim, é possível verificar quais cores existirão em determinados tecidose se a seleção está adequada ao número de modelos e variantes que se pretende desenvolver. A seleção dos materiais utilizados pode ser di- ferente conforme cada criador, Liger (2012) explica que alguns designers optam por desenvolver suas peças à partir de uma determinada matéria-prima, enquanto outros preferem desenvolver suas criações no papel primeiro e buscar, na sequência, qual ma- téria-prima melhor se adapta à sua criação respei- tando a compatibilidade com o estilo. Independente do raciocínio de cada designer para seu desenvol- vimento, a correta seleção da matéria-prima pode definir se a peça terá sucesso. Todo fornecedor de tecidos apresenta suas peças com uma ficha técnica de informações que serão extrema- mente importantes para o designer utilizar para as próximas coleções, mas principalmente fazer o custo prévio da peça que será confeccionada com determi-