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Professor Me. Marcelo Cristian Vieira Professora Esp. Ednar Rafaela Mieko Shimohigashi Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Briefi ng • O local - Diagnóstico • Estudos preliminares e processo criativo Objetivos de Aprendizagem • Conhecer as etapas de pré-projeto de designer de interiores. • Reconhecer a aplicação da metodologia de projeto em design aplicada a interiores. • Entender a importância do briefi ng para o design de interiores. • Conhecer o levantamento de dados do ambiente. PRÉ-PROJETO Professora Me. Larissa Siqueira Camargo II unidade II unidade INTRODUÇÃO Olá, caro(a) aluno(a) e futuro(a) designer de interiores. Você já conhece em disciplinas do 1º ano do curso a metodologia e as ferramentas que um designer utiliza para a criação do seu produto, no caso aqui, o ambiente, e agora, vamos aplicar exatamente a metodologia, incluindo o processo criativo ao projeto de ambientes residenciais. A primeira etapa do projeto pode ser chamada de “pré-projeto”, con- teúdo que será contemplado no primeiro tópico, e é composto pelo pro- cesso inicial, quando o projeto ainda não tem formas, mas começa a ser pensado. Esse momento está bastante relacionado ao processo criativo, pois é aqui que você deve estabelecer conceito, definir a “cara” que o am- biente que você trabalhará terá ao final da execução do projeto. É nesse momento, também, que as necessidades do cliente devem ser levantadas, para então, nas etapas seguintes, servirem como base para o projeto. Nos estudos preliminares, abordados no segundo tópico desta uni- dade, você buscará as referências para seu projeto, suas ideias começam a ganhar forma, e tendo como base o pré-projeto, personaliza o dese- nho do ambiente, estabelecendo possibilidades, melhores soluções, como o espaço será ocupado. Essa etapa é também o primeiro contato que o cliente terá com o seu trabalho, onde ele irá aprovar, ou não, as ideias iniciais, para que depois, você dê prosseguimento. O terceiro tópico abordará o projeto em si, considerando que, depois de apresentar os estudos preliminares, ocorreu a aceitação por parte do cliente, e então, você pode trabalhar e elaborar melhor o projeto, criando imagens mais detalhadas e passando a especificar melhor formas, ele- mentos, materiais etc. Uma vez que o projeto foi elaborado, e mais uma vez aprovado, é hora de pensar na execução, nos detalhes desse projeto, em que você, como profissional, especificará e apresentará aos executores exatamente os processos. Essa etapa é fundamental para um bom resul- tado final. Vamos em frente. Ótimos estudos! PROJETOS RESIDENCIAIS E DE MOBILIÁRIOS 42 BRIEFING Quando entro em um ambiente, qualquer um, em especial naqueles que em que irei desenvol- ver o projeto de interiores, já começo a elaborar mentalmente a imagem do projeto finalizado, com mobiliários, cores, revestimentos e decoração. Já imagino como ficará ao final da execução do meu projeto. Acredito que você possa compartilhar co- migo esse hábito. Isso, com certeza, pode ser muito interessante e ajudar na elaboração do projeto. Mas nós, designers de interiores, devemos atuar com foco na funcionalidade do espaço, e não somen- te na estética, embasar nosso projeto em soluções técnicas e profissionais, inclusive, para justificar a nossa contratação. Dessa maneira, mesmo com as ideias a mil, é hora de sentar e organizar as informações mentais, colocar em prática os conhecimentos fundamentais da teoria, fundamentos e metodologia do design em prol da qualidade do nosso projeto, podendo assim, oferecer ao final, um ambiente realmente funcional com muita qualidade. Mais do que isso, se a “solução” estética não aparecer na sua cabeça “instantaneamente” ao olhar o espaço, os processos e ferramentas metodológicas serão o seu meio de con- seguir fluir com o seu projeto. A primeira etapa, em qualquer situação, é o conta- to com o cliente, o levantamento dos dados importan- tes para que o briefing possa ser elaborado. Importante entender que o levantamento de informações sobre o cliente não se faz somente por meio de entrevistas, conversas verbais, mas também, e até, principalmente, com a observação (PHILLlPS, 2008). DESIGN 43 Não existe um modelo pronto para a elaboração de um briefing, assim como não é possível estabelecer um padrão de itens a serem levantados junto ao clien- te para a elaboração de um projeto de interiores resi- dencial. Mas alguns pontos podem ser considerados como geral, para qualquer situação, Phillips (2007, p.03) diz que um briefing bem elaborado deve ser “completo e útil” para então servir como “ponto de partida para a descoberta de conceitos criativos”. E o que seria um briefing completo? Aquele que apresen- ta todas as informações necessárias para a elaboração do projeto, sem que ocorram dúvidas, atendendo as necessidades dos clientes, e um briefing útil, é aquele que realmente servirá como base para o projeto. No site Choco la Design, especializado em con- teúdos para design, Canha (2014, on-line)1, apresen- ta 7 itens básicos de um bom briefing: Objetivos e metas do novo projeto; Orçamento e prazos; Público alvo; Escopo do projeto; Material disponível/neces- sário; Estilo/look geral; Objeções. A partir de dife- rentes autores (GURGEL, 2013a; GURGEL 2013b; GIBBS, 2016; MANCUSO, 2014) podemos inter- pretar e detalhar cada um desses itens relacionados a projetos de interiores residenciais: O processo de coleta de informações do clien- te tendo em vista suas necessidades e estilo de vida costuma ser denominado briefing, ou programa de necessidades. Não se deve subestimar a importância dessa etapa, pois é pouco provável que um projeto seja bem- -sucedido sem a total compreensão das ne- cessidades do cliente. (Jenny Gibbs) REFLITA • Objetivos e metas do novo projeto: o que seu cliente deseja com o projeto, qual o uso do espaço a ser projetado, o que ele pretende sentir e fazer no ambiente. E mais do que o cliente expressa como desejo, o designer de interiores deve interpretar o que é preciso para atender a real necessidade do cliente, tendo em vista que nem sempre o verbaliza- do é o que realmente atende as necessidades do cliente. Vamos conhecer um pouco mais sobre Gurgel e Gibbs, duas autoras que serão bastante referenciadas em nosso livro, e que indico que vocês conheçam seus livros: Miriam Gurgel é formada em arquitetura pela Universidade Mackenzie, em São Paulo, e em Training and Assessment pelo Central TAFE WA, na Austrália. Fez cursos de aperfeiçoa- mento em arquitetura d´interni e lighting design, em Milão. Foi professora de decoração e design em diferentes instituições, incluindo algumas australianas. Atualmente atua como consultora e palestrante em arquitetura e design, destacando-se como uma das mais importantes escritoras da área de interiores no Brasil. Jenny Gibbs é autora de vários livros sobre design. Dá conferências e colabora em pro- gramas de televisão, é diretora da KLC School of Design em Londres e ainda publica regu- larmente artigos na imprensa. Fonte: adaptado de Serviço Nacional de Aprendiza- gem Comercial (SENAC, [2016], on-line)2 e GG Brasil ([2016], on-line)3. SAIBA MAIS PROJETOS RESIDENCIAIS E DE MOBILIÁRIOS 44 Para exemplificar, um cliente expressa que adora tons claros, em especial, o branco, que imagina sua casa com o máximo possível da cor, porém, esse mesmo cliente tem dois filhos pequenos, com idades entre um e quatro anos, e ainda, um cachorro de es- timação. Possivelmente um estofado branco na sala de convivência da família logo se tornará um pro- blema para o dia a dia, pois a manutenção não será muito fácil, e você, como profissional, deve diagnos- ticar e explicar a situação. • Orçamento e prazos: considerando que um único móvel pode ter uma variação de preço significativa, dependendo de matéria- -prima, acabamentos, fabricante (marca), design, entre outros. É importantesaber qual é o orçamento previsto para a execução do projeto, antes dos passos iniciais, mes- mo que seja aproximado e não exato, para que qualquer tomada de decisão de indi- cação seja pautada nessa informação. Esse dado pode ser levantado de diferentes ma- neiras, não apenas pela resposta direta do cliente a respeito, mas também observando seu perfil econômico e o quanto já se gastou em outros momentos ou etapas. A própria construção da residência pode ser um parâ- metro, lembrando que nem sempre o cliente que construiu uma casa de alto padrão está disposto a investir valores muito altos com interiores, e vice-versa. O prazo também é uma informação relevante na hora das tomadas de decisões quanto ao projeto, considerando que diferentes especificações apresen- tam prazos diferentes para entrega e execução, e o cliente pode ter prazos inextensíveis, e atrasos po- dem acarretar impactos de custo, e claro, insatisfa- ção por parte do cliente. Um exemplo de consideração quanto a custo e prazo pode ser o da escolha de um revestimento de piso, vamos simular que para um quarto. Existem no mercado inúmeros produtos que podem ser apli- cados a essa situação, e, entre tudo que você precisa considerar para a especificação, deve analisar cus- to e prazos. Se a opção for uma piso cerâmico, um porcelanato, o valor pode diferir muito entre as op- ções existentes, e junto ao custo do piso deverá so- mar argamassa, rejunte e mão de obra de instalação, e ainda, o tempo despendido para essa instalação, entre todos os processos necessários. E a opção de um piso laminado de madeira, que a princípio pa- receu ser mais caro que a anterior, pode sair com o valor mais baixo, considerando que a mão de obra da instalação já está incluso no valor do produto, e mais que isso, seu tempo de instalação é considera- velmente mais baixo. Assim, é essencial a avaliação e análise caso a caso. DESIGN 45 • Público alvo: quem será o usuário do am- biente, idade, sexo, profissão, hábitos do dia a dia, hobby, características físicas, como dimensões e peso, enfim, todas as informações possíveis de serem adquiridas podem ser utilizadas como instrumento para a elaboração do projeto. Importante também saber hábitos de visitas, se costu- mam receber, quantidades e periodicidade, além do perfil delas. Pensar nos usuários estabelece todas as tomadas de decisões do projeto, o exemplo citado acima, da es- pecificação do sofá branco para casa com crianças, é uma amostra. Saber a idade é uma informação rele- vante não apenas quando há crianças, mas também para planejar o uso dos espaços por idosos, que pre- cisam de cuidados especiais quanto a segurança dos espaços. Conhecer as características físicas, define dimensões e materiais, por exemplo. Alguns cuidados devem ser tomados para evi- tar acidentes com idosos e pessoas que têm dificuldades de mobilidade, principalmente nos imóveis residenciais. Boa iluminação e interruptores de fácil acesso são alguns dos cuidados a serem tomados. Locais de circu- lação e escadas devem ter iluminação ainda mais claras e potentes, indicando o caminho. O banheiro é um ambiente que necessita de cuidados especiais, local no qual os idosos costumam cair com frequência, e, por isso, é preciso ter muito cuidado, pois as louças podem provocar acidentes, como fratura de membros e crânio. Para prevenir acidentes, é preciso a instalação das barras de apoio, tapetes somente antiderrapantes e com bas- tante aderência. Fonte: adaptado de Encop Engenharia ([2016], on-line).4 SAIBA MAIS PROJETOS RESIDENCIAIS E DE MOBILIÁRIOS 46 Lembro de um projeto que desenvolvi para uma família em que o membro mais baixo, no caso a mãe, tinha 1,90 mts de altura, e o mais alto, que inclusi- ve era jogador da seleção estadual de basquete, 2,22 mts (nunca me esquecerei desses números), maior até que a altura padrão de uma porta - que sei que você sabe qual é, mas só para relembrar, é de 2,10 mts - . Outro detalhe era de que a mãe tinha o tipo físico endomorfo. Todo o projeto teve como base es- sas necessidades, considerando que a contratação de um designer de interiores pela família, foi, em gran- de parte, pela necessidade de personalização, já que os móveis e outras soluções, como gesso, não aten- diam às necessidades. Em se tratando dos mesmos clientes, além do basquete do filho mais velho, haviam outros hábitos e hobbies que puderem ser utilizados no briefing como forma de embasamento para o projeto, como jantares com casais de amigos, video game dos filhos, coleções de lembranças de viagens e fotografias da família. Tudo foi considerado e serviu como base para a pro- posta, que foi posteriormente aprovada e executada. Figura 1 - Tipos básicos de estrutura física humana Ectomorfo Mesomorfo Endomorfo DESIGN 47 O pesquisador de ergonomia Itiro IIda, apre- senta em seu livro Ergonomia, Projeto e Pro- dução (2005), que os três tipos básicos do ser humano são definidos como: • Endomorfo: estrutura corpórea que tem a forma de uma pera (estreita por cima e larga por baixo) formas arredondadas e macias. • Mesomorfo: estrutura corpórea musculosa, de formas angulosas e apresenta cabeça cúbica, maciça, ombros e peito largos e ab- dome pequeno. • Ectomorfo: estrutura corpórea de corpo e membros longos e finos, com pouca gor- dura e músculo. Fonte: Adaptado de IIda (2005). SAIBA MAIS • Escopo, ou sentido, finalidade do projeto: você já sabe o que seu cliente deseja com o projeto, mas é preciso estabelecer também o que você deseja atingir quando o am- biente estiver pronto. Mais que isso, qual o andamento que você deve dar e que priori- dades determinar como base para alcançar o resultado final. Estabeleça o caminhar, o andamento e as considerações que achar re- levante, a profundidade e intervenções ne- cessárias. Priorize as necessidades de cada pessoa, de modo a garantir que futuros ajustes no pro- jeto, se necessários, sigam corretamente a expectativa do cliente. (Miriam Gurgel) REFLITA No escopo você deve definir qual será a sua real atu- ação. Às vezes o cliente precisa e te contrata para um projeto completo - barba, cabelo e bigode - ou me- lhor, piso, paredes, teto, iluminação, móveis, com- plementares e decorativos. Mas em outras situações, o que ele precisa, ou o que quer, é apenas uma repa- ginada nos complementares, sem nem mesmo tro- car o mobiliário. Existe ainda a possibilidade de ser ou não contratado para indicar fornecedores e pres- tadores de serviços, e mais que isso, acompanhar a execução do projeto. Parte do escopo já é definido na primeira entre- vista/conversa com o cliente, mas para que ele real- mente esteja estabelecido é necessário aprofundar- -se nas informações, trocar mais dados e observar e interpretar situações e o próprio ambiente, objeto do projeto. • Material disponível / necessário: aqui, cabe o levantamento de quais são os materiais - móveis, objetos, acabamentos - existentes e que precisam permanecer e ser inseridos no projeto. O que existe como base inicial, ou se não existe. No escopo você definiu qual será a sua intervenção, assim, pode estabelecer o que permanece. No exemplo de uma reforma, talvez seja necessário, por questões financeiras ou por exigência do cliente, que um piso seja mantido, e assim, todas as outras especificações que fará de projeto deverão consi- derar as características do piso. Ou às vezes, e não pouco comum, o cliente tem uma peça, um móvel, relíquia de família, ou com valor sentimental, do qual não abre mão, e assim, você terá que encaixá-lo no projeto. Às vezes, a escolha de permanência de algo pode partir de você mesmo, por diferentes motivos. Veja, ao chegar ao ambiente a ser reformado, encontra um PROJETOS RESIDENCIAIS E DE MOBILIÁRIOS 48 piso de madeira, antigo, mas possível de ser restau- rado, e mesmo que a mão de obra e custo do restau- ro não seja algo tão simples, com certeza compensa em relação a instalar umnovo piso, e no fim, seu ambiente ainda terá um piso de ótima qualidade téc- nica e visual. E imagine, descobrir que seu cliente tem guardado peças antigas, que podem ser incor- poradas à decoração, oferecendo charme e ainda se- guindo a tendência do estilo vintage. Vintage [...] o vintage basicamente é o “oficialmente antigo” e de boa qualidade. [...] Como adjetivo, vintage é “relacionado a algo de alta quali- dade, especialmente algo do passado”. Um Cadillac 1956 é um carro vintage. Retro É a imitação de um estilo antigo nos tempos atuais. Para o autor Beat Schneider em De- sign – Uma Introdução (Ed. Blucher, p. 206), o design retro “Ao contrário das reedições, trata-se de uma reinterpretação atual de ca- racterísticas históricas do design. [...] Exem- plos destacados no design de automóveis: o ‘New Beetle’ da Volkswagen ou o ‘Mini’, da BMW”. [...] Fonte: Fratin (2010, on-line).5 SAIBA MAIS • Estilo / look geral: esse é fácil de compreen- der no contexto de projeto de interiores, é a definição do estilo que se deseja, que pode ser clássico, retro, vintage, minimalista, rústico, country, provençal, mediterrâneo, náutico, despojado, hitch, steampunk, e muitos ou- tros, que vão e voltam a ser tendência. É claro que um ambiente não precisa, e nem sempre fica interessante e atende às necessidades do cliente, em um único estilo, o que pode até levá-lo a parecer uma cenografia, um cenário. A definição do estilo é sobre qual irá predo- minar e servir como base, está relacionado ao perfil do seu cliente e ao próprio ambiente e necessidades. O estilo pode ser inserido na escolha dos móveis, no tipo de instalações, nos elementos decorativos, pode aparecer de forma subjetiva na decoração, o que tor- na os ambientes temáticos mais interessantes. Um ambiente e estilo industrial, por exemplo, não sig- nifica instalações precárias, móveis desconfortáveis e todos de lata. O industrial pode estar inserido no contexto geral, percebido como a base principal. • Objeções: sim, existem objeções quando tra- tamos de projetos de interiores, e muita coisa pode ser uma objeção. Limitadores financei- ros, de prioridades, necessidades específicas, elementos arquitetônicos, que talvez sejam as maiores objeções que podem ser encontra- das, já que, diferente do cliente que pode ser convencido, das escolhas que podem baixar custos, elementos arquitetônicos não podem simplesmente serem eliminados. A melhor opção, certamente, é a de pensar no proje- to introduzindo e considerando a estrutura existente. Quando, realmente, seu projeto ficar comprometido por uma viga, pilar, pontos hidráulicos, elétricos, ou outras possibilidades, procure um engenheiro ou ar- quiteto que possa auxiliá-lo, dentro de suas atribui- ções, a alterar esses elementos. Em uma reforma de banheiro de uma suíte que trabalhei uma vez, o des- locamento da bacia sanitária em 15 cm não prejudi- caria o seu uso e tornaria e permitiria a instalação de duas cubas na bancada da pia, o que, claro, ofereceria maior conforto aos clientes, e foi isso que executei após a aprovação de um engenheiro parceiro. DESIGN 49 Mais do que levantar esses dados, é essencial saber interpretar e traduzir no projeto, e certamente um bom briefing facilitará o processo projetual e aumen- tará a satisfação e o assertivo do projeto perante o cliente. Importante entender que o briefing pode sim ser alterado durante todo o processo, e novas infor- mações podem ser incluídas, desde que contribuam com o trabalho e não tragam mais confusão, e que as propostas que elas apresentam possam ainda ser al- teradas no projeto e na execução. (GURGEL, 2013a; GURGEL 2013b; GIBBS, 2016; MANCUSO, 2014) O processo de criação começa realmente após a definição de “O que”, “Para quem” e “Onde”. As soluções serão infinitas, portanto a existência de um briefing nos fornecerá di- retrizes, nos manterá nos trilhos e organizará o projeto. (Miriam Gurgel) REFLITA PROJETOS RESIDENCIAIS E DE MOBILIÁRIOS 50 Tão importante quanto conhecer o seu cliente, é co- nhecer o local que será a base, o objeto do projeto. Somente com todos os dados do local é possível ex- plorar as possibilidades, e mais que isso, viabilizar a execução do projeto. A etapa de levantamento de da- dos do ambiente pode ser feita antes do briefing, nor- malmente o espaço é conhecido logo nos primeiros contatos com o cliente, mas o levantamento total das informações acontecerá com mais visitas e buscas. Para Gibbs (2015), o diagnóstico do espaço deve ser dividido em duas etapas. Na primeira, deve ser levantada e registrada todas as dimensões, iniciando pela extensão de parede - largura, comprimento e pé direito - depois de todos os outros elementos conti- dos, incluindo tomadas, entradas de rede, entradas e saídas hidráulicas, rodapé (quando esse existe e será mantido), peitoris, esquadrias e caixilhos das jane- las, portas. O LOCAL DIAGNÓSTICO DESIGN 51 No segundo momento, o designer deverá realizar uma análise do espaço, considerando as informa- ções que não são mensuráveis. Nessa etapa, inte- ressante o registro fotográfico ou até filmagens. Importante observar qual a incidência solar, em quantidade e qualidade, para determinar locali- zação de mobiliário e identificar a necessidade de soluções de filtro. Nessa fase, pode-se estabelecer um check list de itens a serem verificados, garantindo assim que as informações necessárias sejam levantadas (GIBBS, 2015, p. 51-54): Croqui: esboço preliminar e simplificado de uma composição. (GIBBS, 2015, p. 212). Esquadria: qualquer tipo de caixilho usado em uma obra, como portas, janelas, vene- zianas, etc. Pé-direito: altura entre o piso e o teto. Peitoril: base inferior das janelas que se proje- ta além da parede e funciona como parapeito. Fonte: Mancuso (2014, p. 234;240). SAIBA MAIS Figura 2 - Exemplo de croqui com levantamento de medidas Fonte: os autores PROJETOS RESIDENCIAIS E DE MOBILIÁRIOS 52 1 Teto: possui rebaixamentos, sancas, florões ou outros elementos que devem ser restaurados? O pé-direito é muito alto em relação ao volu- me do cômodo? Há vigas que poderiam ficar ocultas pelo rebaixamento? 2 Paredes: são constituídas de tijolos, pedras, concreto, bloco de concreto, taipa ou placas de gesso acartonado? Possuem elementos deco- rativos de gesso, reboco, frisos ou sancas? Há molduras ou painéis decorativos que podem ser muito limitadores? Quais são as condições e o estilo do rodapé? 3 Lareira: a lareira é do tipo elétrico, a gás, a carvão ou a lenha? Para instalar uma lareira a gás, há estrutura para o fornecimento de gás? No caso de lareiras a lenha ou carvão, há espaço para o armazenamento desses combustíveis? A lareira precisa ser limpa, restaurada ou substituída? Um painel aparentemente oco pode estar ocultando uma excelente lareira? 4 Piso: o tipo de piso se adapta ao estilo de vida do cliente e é uma escolha ideal para a função do cômodo? O revestimento é de madeira, concre- to, pedra ou lajota? Se o piso é acarpetado, qual o seu estado? Qual é o tipo de piso existente sob o carpete? Se houver um piso de madeira, ele precisa ser polido? 5 Eletricidade: qual a localização das luminá- rias, interruptores e a quantidade de tomadas? Os interruptores são de que tipo? Comuns ou dimmers? Precisam ser substituídos? Onde es- tão situados os pontos para computador, tele- fone e antena de televisão? 6 Aquecimento: o sistema é a gás, a óleo, por acumuladores elétricos, boiler a diesel com radiadores de água, boiler combinado ou sis- tema megaflow? Há radiadores ou piso radian- te, bomba de aquecimento ou painéis solares? É necessário ocultar os radiadores ou subs- tituí-los por outros mais eficientes e atuais? É necessário substituir o boiler ou o tipo de sistema alternativo de fornecimento? Os ter- mostatos dos cômodos estão bem situados e permitem a eficiência máxima? 7 Marcenaria: qual a qualidade dos espaços pre- existentes para armazenamento?Quais são as medidas dos elementos de marcenaria existen- tes? Serão necessários novos componentes de marcenaria, como estantes para livros, armá- rios de cozinha ou outros móveis embutidos? 8 Portas: as portas são lisas, polidas, pintadas, tingidas ou precisam ser reformadas? Uma por- ta lisa simples pode melhorar com o acréscimo de molduras? Os marcos são ricamente deco- rados e exigem atenção? As portas conduzem ao centro, às laterais ou às extremidades do cômodo? A porta conduz o usuário ao interior do cômodo ou seria mais simples que ela abris- se para o outro lado? As portas corrediças são mais indicadas? Há necessidade de aumentar a largura ou a altura dos vãos das portas? 9 Janelas: as janelas ou suas vistas exigem aten- ção? Ou são antiestéticas e precisam ser ocul- tadas ou mesmo removidas? Há árvores no ex- terior? Em caso de positivo, como elas afetam a iluminação e a vista durante o verão e o in- verno? Quais são as condições das ferragens? Possuem vidro duplo? As janelas combinam com o estilo arquitetônico do cômodo? Qual é o tipo de abertura das janelas? É possível e apropriado remover e substituir as janelas existentes por portas articuladas de vidro? Outras considerações: no caso de cômodo já mobiliado, há alguma porta que abre sobre um móvel ou luminária de parede? Há solei- ras de portas que possam provocar tropeções? É difícil a movimentação na área próxima das aberturas de janelas, ou das cadeiras e mesas, inclusive contando com suas extensões? Há uma variedade adequada de assentos? Onde estão situados espelhos, luminárias e aparelho de televisão? Há fiação aparente? É necessário colocar fitas antiderrapantes sob os tapetes para maior segurança? DESIGN 53 1 2 3 6 5 4 PROJETOS RESIDENCIAIS E DE MOBILIÁRIOS 54 7 9 8 DESIGN 55 Como um profissional da área, essencial que conheça o vocabulário dos termos relacio- nados à prática. Procure o significado das palavras que não conhece, a maioria delas você pode encontrar no glossário dos livros dos autores citados nesta unidade. REFLITA Existem ainda situações em que o designer de inte- riores é contratado para a elaboração de um projeto em imóveis ainda em fase de construção, ou mesmo na planta. Nesses casos, quando possível, o desig- ner pode até participar das escolhas de alguns des- ses itens, buscando soluções que se adequem já ao que se está elaborando para o projeto de interiores. Quando não for praticável o levantamento in loco, o projeto pode ser elaborado a partir do projeto técni- co disponibilizado pelo profissional responsável ou pela construtora, e claro que, na hora da execução, será necessário conferir medidas e detalhes no local, que podem variar bastante, até por que, 1 cm de di- ferença na largura de uma parede interfere e muda a instalação de um mobiliário. PROJETOS RESIDENCIAIS E DE MOBILIÁRIOS 56 ESTUDOS PRELIMINARES E PROCESSO CRIATIVO Para Gurgel (2013a), essa etapa é o momento em que todas as informações anteriores são organiza- das e cruzadas, estabelecendo assim a diretriz do projeto. Cada projeto de interior é único e apresen- ta suas especificidades, e para que um designer de interiores atenda aos pontos particulares de cada caso, de forma profissional, precisa realizar estudos prévios a respeito desses. Por exemplo, para projetar um ambiente para pessoas de terceira idade, é pre- ciso conhecer quais são suas necessidades, e como atendê-las, buscar materiais adequados, mobiliários apropriados, circulação, que tipo de acessório para segurança pode especificar, cores adequadas, ques- tões ambientais que mais se aplicam, como a ilumi- nação e temperaturas adequadas. Importante para esse levantamento, que o desig- ner tenha um acervo, virtual ou físico, de referên- cias, em especial de mostruários de materiais, como tecidos, MDF, tintas, papéis de parede, entre outros, sendo que esses são comumente oferecidos pelos fornecedores em lojas ou feiras da área. Interessante também atualizar esses mostruários, considerando que todo ano novos modelos são lançados e outros retirados do mercado (GIBBS, 2015). DESIGN 57 Outra ferramenta que pode ser utilizada nesse ponto é o estudo de correlatos. Considerando que, de acor- do com o Dicionário da língua portuguesa (on-line), correlato é “aquilo que apresenta uma relação entre uma coisa e outra; o que expressa correlação ou cor- respondência”, quando aplicado a interiores, trata da busca de ideias que podem ser utilizadas e servir como base para a elaboração do seu projeto. Você pode buscar referências de correlatos em revistas, na internet, ou ao vivo, em mostras ou outros ambientes. Uma parte fundamental do trabalho do de- signer de interiores é a visitação das feiras e exposições mais importantes do segmento para se manter atualizado sobre às últimas tendências, estilos e produtos. (Jenny Gibbs) REFLITA Como forma de padronizar, alguns profissionais ado- tam a importância de três tipos de correlatos: estético, funcional e tecnológico, sendo que não é preciso se- guir de forma obrigatório essa definição. O correlato estético diz respeito ao caráter visual que se deseja para o ambiente. O funcional é princi- palmente sobre o layout do espaço, e o tecnológico, claro, sobre tecnologias possíveis de serem aplicadas em seu projeto, buscando a qualidade. Interessante sa- ber que às vezes o correlato para seu projeto não está exatamente em um ambiente com a mesma finalidade do seu, por exemplo, o correlato de inspiração estética de um quarto infantil pode vir de uma brinquedoteca, de um cenário teatral, até de um circo. Você pode criar um acervo pessoal de referências, registrando sempre que encontrar algo que chama a atenção e interesse, mesmo que no momento não tenha um projeto onde aquele princípio pode ser aplicado, mas o registrando, poderá consultá-lo em um projeto futuro. Para que essa etapa seja realizada satisfatoria- mente, é preciso que as anteriores do processo de projeto atendam às suas reais funções, de estabelecer perfil do cliente e informações do ambiente, já que as pesquisas da etapa do estudo preliminar serão embasadas nessas informações. Nesse momento o projeto é efetivamente inicia- do, tendo como base os levantamentos anteriores, sendo o processo criativo o start do projeto em si, é quando as suas ideias começam a ganhar forma. Existem diferentes ferramentas que estimulam e auxiliam nesse momento, importante como profis- sional testar e identificar quais delas você melhor se adapta e realmente o auxiliam nessa elaboração. Como forma de auxiliar na criação, e até de apresentar ao cliente o conceito que você pretende aplicar ao ambiente, é possível elaborar um painel semântico conceitual, que pode ser utilizado por PROJETOS RESIDENCIAIS E DE MOBILIÁRIOS 58 você e sua equipe como diretriz para o projeto e também para que seu cliente identifique, e até apro- ve, as ideias inicias, sem mesmo que o projeto tenha começado a ser desenhado (GIBBS, 2015). Além do painel conceitual, você já conheceu e aprendeu ou- tras ferramentas e técnicas na disciplina de Processo Criativo, teste-as, aproveite as atividades e trabalhos durante o curso para conhecer mais a respeito de cada um aplicando-os a simulações de projetos e clientes. Assim, além de conhecer, conseguirá iden- tificar qual ou quais deles se adaptam melhor ao seu modo de trabalhar ou ao projeto em específico. A planta do ambiente deixa de ser um croqui, e deve ser desenhada em escala, para que o layout do projeto seja pensado e desenvolvido. Teste possibili- dades, utilizando-se de desenho a mão ou softwares. Não pare na primeira ideia para o projeto, teste di- ferentes possibilidades de distribuição dos mobiliá- rios dentro do espaço, e até a respeito dos tamanhos dessas peças. Pode ser que a ideia inicial que apa- rece mentalmente não seja a melhor solução para o projeto, e uma pequena alteração na dimensão ou formato de umamesa de jantar, por exemplo, pode melhorar a solução para a circulação na sala. Figura 3 - Modelo de planta. DESIGN 59 Para essa elaboração, você deve resgatar os elemen- tos e princípios do design, e mais que isso, como um bom designer, engajado e conhecedor dessas bases, aplicá-las de forma efetiva em seu projeto. Resgate esses conhecimentos a cada novo projeto, interpre- te-os de forma personalizada, buscando qual a so- lução para o projeto em específico, considerando o briefing: um equilíbrio assimétrico cabe melhor a um projeto em estilo despojado, assim como, um ambiente clássico, preferencialmente deve ter um equilíbrio simétrico. Elementos do design Princípios do design Ponto, linha e plano. Equilíbrio . Forma e espaço. Contraste e harmonia. Direção. Repetição e ritmo. Movimento. Gradação. Volume e dimensão. Radiação. Escala e proporção. Ênfase ou focos visuais. Textura e Padronagem. Unidade. Luz e Cor. Silhueta. Quadro 1 - Elementos e Princípios do Design Fonte: adaptado de Pereira e Santos (2015). Com a pesquisa e layout estabelecidos, é hora de co- meçar a definir volumes, pensar nos elementos não somente em largura e comprimento, mas também em altura, além da própria forma e aparência que se pretende dar. Mesmo um guarda-roupa, que a princípio é apenas um caixote, um retângulo, pode ter inúmeras definições de tipo de acabamento, de- talhes, formas, texturas. Pode ser que quando você entrar nesse fazer de “levantar” as formas, até então, estabelecidas apenas em planta-baixa, tenha que re- gressar e alterar algo no layout, porque quando o vo- lume é aplicado o espaço ganha outras proporções. Os primeiros desenhos de volume podem ser elaborados com croquis mesmo, desenhos a mão, para que você tenha uma ideia dessa ocupação e co- mece a fazer decisões definitivas, e somente depois faça a definição. Aproveite para testar também cores, texturas e acabamentos. Com a definição dos volumes e todos os estudos aplicados, Gibbs (2015) diz que o designer de inte- riores deve preparar o painel de amostras, ou painel semântico, que segundo o autor (p. 140), “consti- tuem uma ferramenta de apresentação muito útil, pois os diferentes elementos do projeto são mon- tados da mesma forma como devem estar no am- biente”. Ou seja, o que se refere ao piso, deve estar abaixo no painel, cores de parede, papéis de parede, exemplos de mobiliários e complementos, alocados ao centro, e no alto, tudo o que diz respeito ao teto. O painel deve reunir amostras e elementos que farão parte da composição do projeto, além de palheta de cores. Amostras de tecidos, de papel de parede, de MDF, modelos de mobiliários recortados, que reme- tam a ideia. O painel servirá para apresentar a ideia ao cliente e também para base da sua própria equipe. PROJETOS RESIDENCIAIS E DE MOBILIÁRIOS 60 Agora sim o projeto deve ser realmente formatado com a ideia final, com a proposta que você irá apresentar ao cliente, já que ocorreram as definições de volume e formas, materiais e acabamentos. Nesse momento é importante um desenho mais elaborado, feito a mão ou utilizando-se de softwares, como o sketchup, pro- mob ou 3D Max. Essas imagens, junto com o painel semântico, servem para que o cliente aprove o projeto. Para Gibbs (2015, p. 101), as perspectivas “constituem uma forma de representação gráfica que proporciona uma visão realista”. São essas imagens que apresentam ao cliente o caráter, a atmosfera e o estilo do projeto. Esses desenhos iniciais ainda não precisam apresentar especificações de materiais e acaba- mentos, ou qualquer definição de funcionamento, montagem, eles têm a função de apresentar a ideia da ocupação, a solução de funcionalidade do espa- ço geral e a estética que se propõe para o espaço, a “cara” que se deseja oferecer. Importante a avalia- ção e parecer do cliente nesse momento para que, caso ele não concorde com algo e solicite alguma alteração, você a faça antes da elaboração das pró- ximas etapas, onde já acontecem detalhamentos e especificações. Figura 4 - Painel de amostras. Fonte: Gibbs (2015, p. 143). 61 considerações finais C aro(a) aluno(a), chegamos ao fim desta unidade, e indico que nesse momento você já reflita o quanto foi importante os conhecimentos ad- quiridos no 1º ano do curso, quando conheceu sobre a teoria e funda- mentos do design, história da arte e do design, processo criativo, meto- dologia do projeto, desenho técnico, materiais, ergonomia, enfim, agora é a hora de aplicar toda a bagagem adquirida! Interessante também refletir o quão amplo é o processo de projetar em de- sign, sendo o fator estética, apenas uma pontinha desse processo, já que a beleza é apenas a consequência de um projeto pensado de forma completa, considerando, em especial, o cliente como elemento principal e único em cada projeto. Conhecer seu cliente, necessidades, anseios, perfil faz parte e é o ponto inicial do design de interiores, e um projeto em que um briefing não foi bem elaborado pode não passar de uma solução decorativa, o que certamente não é o que você deseja, como profissional que buscou uma formação de curso superior para a sua atuação. Buscar a melhor solução, pesquisar materiais, entender os processos, limites, conhecer bem o espaço a ser projetado, são itens fundamentais para a qualidade do resultado final, e quanto melhor engajado na busca dessas informações, um melhor briefing é elaborado, o que facilita o aceite por parte do cliente, evitan- do retrabalho. Teste e simule possibilidades, não fique satisfeito com a primeira ideia, sem ao menos testar outra(s). Atualize-se, isso é essencial para um designer, vá a feiras, mostras, eventos da área, leia sobre novidades, novos produtos e soluções, tecnológicas, inovações, entenda que o cliente te procurou e contratou buscando aquilo que ele não con- seguiria sozinho, e quanto mais você traduzir em soluções os anseios que captou no briefing, melhor justifica a sua contratação e abre portas como profissional. 62 LEITURA COMPLEMENTAR CLIENTE, SE U MELHOR AMIGO! Se você chegou aqui esperando um texto com vários tópicos explicando tin-tin por tin-tin a melhor forma de fazer um briefi ng, isso não vai acontecer. Não porque eu não quero, mas por não existir uma fórmula, uma receita de bolo, que irá solucionar todas suas dúvidas. Eu estou aqui para nós batermos um papo e juntos compreendermos melhor quais são as questões que não devemos deixar passar na hora de elaborar um bom briefi ng. Como já sabemos, a palavra briefi ng vem do inglês, do verbo brief que signifi ca resumir. Então, é assim que ele deve funcionar, como um condensado de informações, contendo tudo o que é necessário para elaborar um bom projeto. Mas como fazer para conseguir todas essas informações sem esquecer de nada? Bom, aí você pode criar um padrão, uma lista para servir de guia, baseado em alguns tópicos que nós iremos analisar. Porém, essa lista não precisa ser seguida em forma de questionário. Neste caso, o bom e velho bate-papo pode ren- der melhores resultados. E para começar vamos falar de um assunto que pode parecer óbvio, mas que muitas vezes é esquecido. Pois na hora de planejar as questões que farão parte do briefi ng, devemos ter em mente que elas devem nos direcionar a conhecer melhor o estilo do nosso cliente. Estilo nada mais é do que o gosto do seu cliente. Pode acontecer que nem ele mesmo saiba exatamente quais são as suas verdadeiras preferências. Já nós, não podemos limitar nossas ideias a estilos de decoração pré-defi nidos. Por exemplo: “em uma dessas conversas ele mencionou que gosta de cimento queimado como acabamento”. Isso não quer dizer que ele tenha preferência por um estilo industrial, pois nessa mesma conversa ele pode ter cogitado a possibilidade de usar muitas cores. E aí, como entender qual realmente é o estilo desse cliente? Neste momento, devemos dar uma de Sherlock Holmes e analisar cada pequeno sinal que o cliente passa.Se você for visitar a casa dele, por exemplo, descobrir seus hobbies pode ajudar na composição de um projeto com apelo emocio- nal, que pode conquistar de vez o seu cliente. Veja bem, não estou falando para elaborar um projeto com tudo o que ele propõe, afi nal nem sempre a mistura funciona bem. Bater um bom e detalhado papo com o cliente pode ajudar muito, pois algumas vezes ele vem com uma lista pré-defi nida de móveis e acessórios (bem modernos) que ele gosta. Nessa conversa você descobre que ele viveu momentos na casa da avó que lhe deram muita alegria, e esses momen- tos tinham como pano de fundo móveis antigos, coloridos e delicados. Então aí está o “x” da questão. Pense em um projeto com móveis modernos e práticos, afi nal eles são de extrema importância hoje em dia, mas tente aliar essa memória que ele tem do passado com um papel de parede ou então objetos decorativos vintage, que trarão essa sensação de aconchego quando ele olhar. Com certeza seu coração baterá mais forte. Ser empático com seu cliente pode lhe gerar grandes ideias, pois nada melhor do que se colocar no lugar da pessoa para entender seus anseios e expectativas. 63 LEITURA COMPLEMENTAR Segundo Martin Buber, fi lósofo: “Apesar de todas as semelhanças, cada pessoa e situação de vida exige uma reação que não pode ser preparada de antemão. Isto requer presença e responsabilidade.” E quando compreendemos isso, nossas escolhas serão muito mais assertivas, pensando como nosso cliente e analisando cada possibilidade, cada dúvida que ele possa ter e sua possível solução. Muitas vezes nós temos que fazer o papel de psicólogos, ouvindo e entendendo o nosso cliente. E é assim que con- seguimos informações mais pessoais, do tipo: o que as pessoas gostam, o que fazem, suas expectativas e até mesmo seus sonhos. E quando nos colocamos no lugar do cliente outra questão que vem em mente é: quanto seu cliente quer e pode gastar? Saber essa informação faz toda a diferença. Entender quanto seu projeto custará pode guiar todo o seu trabalho, evitando desperdício de tempo e determinando prazos e prioridades na sua agenda. Não que você deva dar menos atenção a um projeto mais barato, mas sabendo exatamente essa informação você poderá escolher melhor seus fornecedores, determinar revestimentos e acessórios que se ajustam às necessidades do seu cliente. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE), o poder de compra do brasileiro diminuiu 3,5% em 2016. Compreender essas adversidades pode nos ajudar a captar e conquistar mais clientes. [...]. Pronto, agora temos pautadas com clareza várias questões que devemos analisar na hora de elaborar um bom brie- fi ng, e com elas obter as respostas certas para a elaboração de um bom projeto. Com todas as respostas em mãos, nós vamos para o escritório, sentamos em frente ao computador e começamos a elaborar o tão esperado projeto. Se você não faz parte de um pequeno grupo de pessoas que possuem memória fo- tográfi ca, provavelmente quando chegar ao escritório não lembrará da maioria dos detalhes dos ambientes nos quais você intervirá. Então, imediatamente vai pensar: -Por que eu não tirei uma foto? No momento atual, com a facilidade em se produzir imagens fotográfi cas, não existe desculpa para não registrar tudo o que for possível. O registro fotográfi co é importante pois ali poderemos conferir a cor dos pisos, paredes, esqua- drias… resumindo: todos os detalhes que devemos considerar na hora de projetar. Afi nal, nem sempre o cliente irá colocar um piso novo ou então trocar o papel de parede. Lembrar das nuances que já existem no ambiente poderá lhe ajudar na escolha dos materiais e a elaborar um projeto harmonioso. Em resumo, conheça seu cliente, descubra suas necessidades, sonhos e anseios. Coloque-se no lugar dele e tente compreender todas as possíveis variáveis envolvidas. Descubra quanto dinheiro seu cliente tem reservado para esse projeto. Por fi m, registre tudo em fotografi a. Assim, quando alguma dúvida surgir, basta olhar os arquivos. Fonte: Bertolini (2016, on-line).6 64 atividades de estudo 1. O Briefing, ferramenta primordial quando se trata de um projeto de de- sign, pode ser definido, resumidamente, como: a. Conjunto de informações sobre o ambiente a ser projetado. b. Estilos possíveis de serem aplicados a um projeto de interiores. c. Conjunto de informações a respeito do cliente e do projeto. d. Desenhos iniciais do projeto. e. Programa de necessidades do cliente em relação ao projeto. 2. Entre as informações a serem levantadas para a elaboração do briefing, estão: I. Hobbys dos moradores. II. Idades dos moradores e visitantes mais comuns. III. Frequência de visitas recebidas. IV. Antropometria dos moradores. Assinale a alternativa correta: a. Apenas I, II e III estão corretas. b. Apenas II e III estão corretas. c. Apenas II, III e IV estão corretas. d. Apenas III está correta. e. Todas as alternativas estão corretas. 3. Como profissional da área de design de interiores, é essencial conhecer termos empregados a elementos relacionados à prática profissional. Expli- que ao que se referem as palavras Croqui, esquadria, pé-direito e peitoril. 4. Dentre os itens a serem verificados na fase de diagnóstico do local, estão: I. Piso. II. Lareira. III. Portas e janelas. IV. Fachada. 65 atividades de estudo Assinale a alternativa correta: a. Apenas I, II e III estão corretas. b. Apenas II e III estão corretas. c. Apenas III e IV estão corretas. d. Apenas III está correta. e. Todas as alternativas estão corretas. 5. (ENADE, 2015, on-line)7 No design de interiores, a composição espacial é expressa por uma série de princípios, como, por exemplo, o ritmo, elemen- to que ajuda a garantir a harmonia do ambiente, e que pode ser utilizado, também, para integrar diferentes espaços de um mesmo projeto. A partir do exposto, em relação a figura, indique três características que representam o ritmo na composição espacial do ambiente. 6. Sobre o painel de amostras, ou painel semântico, descreva sua definição e função na elaboração do projeto de interiores. A cada semana, uma pessoa expõe para o programa qual é o problema com o cômodo que de- seja reformar e como esse problema impacta a vida das pessoas que moram naquela casa ou apartamento. O arquiteto Maurício Arruda, novo apresentador do Decora, visita o local e numa conversa informal consegue traduzir no ambiente fi nal os desejos e necessidades dos oradores. Acesse: <http://gnt.globo.com/programas/decora/>. Em cada episódio, Candice Olson leva seus 20 anos de experiência em design para os lares de milhões de espectadores de todo o mundo. Após se formar em Design de Interiores pela Ryerson University, de Toronto, Candice abriu um escritório de design comercial e residencial. Acesse: <http://discoverymulher.uol.com.br/casa/ao-estilo-de-candice/ao-estilo-de-candice-candice-olson/>. Dicionário de Artes Decorativas & Decoração De Interiores Stella Moutinho, Rúbia Bueno do Prado e Ruth Londres Editora: Pearson Prentice Hall Sinopse: o ‘Dicionário de artes decorativas & decoração de interio- res’ procura estabelecer uma síntese dos diversos elementos que compõem a história das artes decorativas, a partir dos objetos, to- mados quase como seres, permanentes testemunhos do gesto e do tempo do homem. Esse dicionário oferece 1.755 verbetes e 716 ilustrações, dando destaque aos assuntos como mo- biliário, cerâmica, vidro, tapetes etc. Esse plano lexicográfi co deu aos verbetes feição enciclo- pédica cabível em diversos ramos de atividade. O leitor pode encontrar também informações sobre algumas personalidades relevantes e, ainda, detalhes das artes decorativas no Brasil e em Portugal. 67 referências GIBBS, J. Design de interiores. São Paulo: GG Brasil, 2015. GURGEL, M. Projetando espaços: guia de arquitetura de interiores para áreas resi- denciais. 7. ed. São Paulo: Senac São Paulo,2013a. ______. Projetando espaços: design de interiores. 5. ed. São Paulo: Senac São Paulo, 2013b. IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2005. MANCUSO, C. Arquitetura de interiores e decoração: a arte de viver bem. 4. ed. Porto Alegre: Sulina, 2002. ______. Guia Prático de Design do Interiores. São Paulo: Sulina, 2014. PHILLIPS, P L. Briefing: A Gestão do Projeto de Design. São Paulo: Editora Blucher, 2007. Referências on-line: 1 Em: <http://chocoladesign.com/7-itens-basicos-de-um-bom-briefing>. Acesso em: 18 out. 2014. 2 Em: <http://www.editorasenacsp.com.br/portal/autor.do?appAction=vwAutor Detalhe&idAutor=1118>. Acesso em: 18 out. 2016. 3 Em: <http://ggili.com.br/pt/tienda/productos/design-de-interiores? persona_ id=705>. Acesso em: 18 out. 2016. 4 Em: <http://www.encop.com.br/visualizacao-de-noticias/ler/154/pequenas -adap- tacoes-em-casa-garantem-mais-protecao-aos-idosos>. Acesso em: 18 out. 2016. 5 Em: <http://designices.com/vintage-ou-retro/>. Acesso em: 18 out. 2016. 6 Em: <http://refresher.com.br/cliente-seu-melhor-amigo/>. Acesso em: 18 out. 2016. 7 Em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2015 /15_ cst_design_interiores.pdf>. Acesso em: 17 out. 2016. 68 gabarito UNIDADE II 1. C 2. E 3. Croqui: esboço preliminar e simplificado de uma composição. Esquadria: qualquer tipo de caixilho usado em uma obra, como portas, janelas, ve- nezianas etc. Pé-direito: altura entre o piso e o teto. Peitoril: base inferior das janelas que se projeta além da parede e funciona como parapeito. 4. A 5. Linhas horizontais do painel de pedras e da janela ao fundo. Repetição das formas geométricas entre os painéis de madeira atrás do sofá e o painel de pedras. Retângulos de costura do braço do estofado e o piso cerâmico retangular. Painéis atrás do sofá e mesas de centro (retângulos de madeira). Textura do tapete e do painel de pedras. 6. Constituem uma ferramenta de apresentação muito útil, pois os diferentes elemen- tos do projeto são montados da mesma forma como devem estar no ambiente. Ou seja, o que se refere ao piso, deve estar abaixo no painel, cores de parede, papéis de parede, exemplos de mobiliários e complementos, alocados ao centro, e no alto, tudo o que diz respeito ao teto. O painel deve reunir amostras e elementos que farão parte da composição do projeto, além de palheta de cores. Amostras de tecidos, de papel de parede, de MDF, modelos de mobilíarios recortados, que remetam à ideia; o painel servirá para apresentar a ideia ao cliente e também para base da sua pró- pria equipe.