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35 construir sua bagagem cultural. 6º princípio: “processo integrativo e dinâmico” - esse processo de acumulação de conhecimentos não é estático. A cada nova aprendizagem o indivíduo reorganiza suas ideias, estabelece relações entre as aprendizagens, faz juízos de valor. 4 PESQUISA EM PSICOLOGIA EDUCACIONAL A pesquisa ou investigação é uma ação pela qual um profissional adquire ou gera um novo conhecimento sobre determinado assunto ou um problema, uma redescoberta de uma realidade, uma inovação que geralmente parte de um questionamento. Qualquer investigação busca esclarecer uma dúvida, replicar um fenômeno, testar uma teoria ou buscar soluções para um dado problema. Por isso, parte de um questionamento sobre a realidade para delimitar o problema a ser pesquisado/investigado. Os conhecimentos que vamos adquirindo no nosso cotidiano são mais simples, pouco sistemáticos e analíticos, contudo, muitas vezes, fundamentam as ações e decisões dos profissionais, mas estão longe de se tornarem uma teoria. Esta se concretiza por meio de estudo rigoroso realizado mediante método científico, que objetiva potencializar a informação disponível em torno de problemas de origem teórica ou prática, na busca de compreensão, explicação, predição e controle dos fenômenos. De acordo com Almeida e Freire (2003), o método científico se caracteriza por ser: objetivo (descreve a realidade como ela é); empírico (baseado em experiência, fenômenos e fatos); racional (apoiado na razão e na lógica); replicável (a sua comprovação pode ser feita por pessoas distintas e em circunstâncias diversas); sistemático (organizado, ordenado, consistente e coerente); 36 metódico (metodologia rigorosa); comunicável (reconhecido e aceito pela comunidade científica); analítico (busca entrar na complexidade e na globalidade dos fenômenos); cumulativo (conhecimento construído e estruturado a partir de conhecimentos científicos anteriores). Os autores citados acima (2003, p. 23), afirma ainda que, [...] para poder explicar e predizer os fenômenos é necessário um sistema de relações, contrastadas mediante dados empíricos. Tal sistema é designado por teoria, ou seja, sistema ou quadro descritivo, e se possível explicativo, preditor e controlador (muitas vezes provisório) dos fenômenos. Na descrição de uma teoria, devemos considerar os seus elementos constitutivos: os conceitos ou variáveis e as suas relações que descrevem os fenômenos, as explicações dos fenômenos descritos e suas relações, e as predições de umas variáveis a partir das outras As profissões que são baseadas em conhecimentos científicos, como a medicina e a engenharia, ao necessitarem solucionar problemas concretos, utilizam desse conhecimento que se transforma em práticas organizadas e adaptadas pelos profissionais dessas áreas, que, ao se defrontarem com novas evidências empíricas, as reavaliam e as renovam. Na área educacional, no entanto, o que se observa é uma dissociação entre teoria e prática, o que demonstra uma comunicação insuficiente ou quase escassa entre a ciência e as práticas pedagógicas. Isso é muito contraditório, se pensarmos no professor como aquele que deveria ser o “senhor” de um intelecto notável e o principal agente na promoção do saber em vários níveis de ensino. Na prática pedagógica de sala de aula, o conhecimento científico é, muitas vezes, ignorado pelos professores, gestores e, inclusive, pelas políticas públicas (NUNES, 2008). Para tanto, segundo Shigunov Neto e Maciel (2009, p. 3-4) é necessário: [...] desmistificar a pesquisa científica que se concentra, quase exclusivamente, nas Instituições de Ensino Superior e torná-la mais acessível e próxima da realidade, do cotidiano, do dia a dia dos profissionais, da sociedade, dos alunos e principalmente dos professores. Sem significar, no entanto, vulgarizá-la, pois a pesquisa, enquanto mecanismo de formação, deve estar ativamente no processo de formação educativa dos cidadãos, alicerçada no “esforço sistemático e inventivo de elaboração própria, através da qual se constrói um projeto de emancipação social e se dialoga criticamente com a realidade. Predomina entre nós a atitude do imitador, que copia, reproduz e faz prova. Deveria impor-se a atitude de aprender pela 37 elaboração própria, substituindo a curiosidade de escutar pela de produzir”. Encontramos na prática de sala de aula duas situações muito enraizadas que predominam nos ensinos fundamental e médio, que é a do aluno que só quer passar de ano de preferência sem nem escutar e a do professor que apenas quer dar aula sem questionar se os seus conhecimentos estão desatualizados ou não, sem dominar as técnicas e métodos de pesquisa e assume como algo “normal” a sua rotina de transmitir o que aprendeu como um repeteco. [...] as discussões sobre a importância da pesquisa na formação e atuação do professor pesquisador tem tido destaque entre os temas educacionais pesquisados por estudiosos internacionais e nacionais nas últimas décadas. Entre os pesquisadores internacionais podemos destacar Contreras (2002), Perrenoud (1993), Schön (1992), Giroux (1997) e entre os estudiosos brasileiros podemos destacar: André (2001), Lüdke (2001), Pimenta (2002) e Veiga (2002). No âmago da relação entre pesquisa e ensino no campo da Educação, Vilaça (2010) refere que, mesmo tendo uma importância inquestionável, a prática da pesquisa na Educação não é evidenciada na realidade da educação no Brasil. Os projetos de pesquisa são vistos como pertencentes à classe dos professores do nível de ensino superior. A pesquisa e o ensino medeiam o conhecimento e articulam a promoção da aprendizagem por caminhos próprios, mas se entrelaçam. Porém, a figura do professor é ainda desvinculada da figura do pesquisador, o que mostra uma falha também na formação desses professores, e não são sem sentido as últimas exigências e os requisitos de formação superior para todos os professores, tanto do ensino fundamental quanto do médio. Contudo, nada disso será suficiente se não for dada a especial atenção às disciplinas de Metodologia de Pesquisa tão necessárias à pesquisa teórica quanto à aplicada. Ou seja, há um extenso e amplo caminho a ser percorrido no desenvolvimento dos professores, no sentido de trabalhar o ensino e a pesquisa, e uma das possibilidades é de tornar a pesquisa integrante no eixo de formação inicial e continuada dos professores, como, também, é necessário que o profissional (professor) queira ser pesquisador, manejar a pesquisa como princípio científico e educativo, sendo essa sua atitude cotidiana. Outra oportunidade é tornar a pesquisa do corpo docente como parte integrante das disciplinas, para que possam discutir os resultados, analisá-los e verificar a metodologia utilizada com outros professores, construindo, assim, novas temáticas conforme as necessidades escolares. A competência, dessa forma, seria renovada, melhorando as perspectivas de um ensino com mais qualidade. Considerando que, na atuação docente, o conhecimento específico esteja ligado à ação, é importante também que a formação inicial promova novas práticas que possibilite a formação científica vinculada à prática, para que o 38 professor se torne um professor com reflexão na ação, analisando e interpretando a sua realização. Segundo Pio, França e Domingues (2017, p. 112): [...] o professor deve resgatar a base reflexiva de sua atuação, pesquisando e refletindo a sua prática, questionando a sua tarefa, sendo assim, podendo entender melhor a sua situação e depois modificá-la, pois, quando professor pesquisa a sua própria prática, ele consegue interpretar, adaptar, recriar e improvisar as necessidades e dificuldades em sua volta [...] é necessária uma nova postura profissional, que possa corresponder de forma qualitativa o interesse dos envolvidos,efetivando na troca de conhecimentos entre os profissionais, saindo do isolamento, pois, é impossível pensar na escola como unidade de ação com professores isolados [...] Um processo de autonomia dos professores como intelectuais críticos requer analisar, questionar e refletir criticamente no contexto da situação e ter uma postura diante dos problemas, desenvolvendo suas próprias estratégias de ensino. Nesse sentido, o professor deve envolver o currículo cada vez mais em seus princípios e suas práticas, tornando a escola mais atraente aos alunos. 4.1 Principais métodos de pesquisa utilizados na Psicologia Educacional Nas áreas de Psicologia e Educação, segundo Almeida e Freire (2003), existem duas perspectivas básicas de investigação. A primeira é denominada de empírico- analítica, que geralmente é, também, apresentada como quantitativa positivista e experimental, a qual objetiva explicar, predizer e controlar fenômenos, nos moldes das Ciências Exatas ou Ciências Naturais, onde a investigação procura por padrões e leis explicativas com objetividade nos procedimentos e na quantificação dos parâmetros. Os fenômenos psicológicos e educativos, no entanto, são mais complexos que os fenômenos mais regulares, que podem ser analisados em laboratórios pelo método experimental, pois muitas situações são irreparáveis, como também apresentam dinâmica e interação que são impossíveis de verificação em laboratório. A segunda perspectiva, a humanista-interpretativa, é associada, também, à investigação qualitativa e naturalista, concebendo a realidade psicoeducativa como dinâmica, fenomenológica e concatenada com a história individual e o seu ambiente contextual. O estudo é realizado a partir da perspectiva dos próprios sujeitos implicados nos eventos investigativos, onde, além dos comportamentos observáveis, são necessários a consideração e o conhecimento de suas crenças, seus valores, sistemas de comunicação e de relacionamentos, interessando os significados e as intenções das ações humanas. Um dos métodos qualitativos que se destaca é a “análise de conteúdo”, que pode atender, também, a aspectos quantitativos 39 (frequência de diversas categorias que pode testar uma hipótese). No aspecto qualitativo, busca-se focar nas informações mais detalhadas e complexas, objetivando detectar a presença ou ausência de características do discurso. A análise de conteúdo é aplicada nos dados que são obtidos por meio de entrevistas, documentos ou outros registros (ALMEIDA; FREIRE, 2003). Fonte: www.psicologiaacessivel.net/ A Psicologia e a Educação utilizam três tipos de investigação: descritiva, correlacional e experimental. Podemos, no entanto, encontrar várias taxonomias de investigações em Psicologia e Educação, que variam de autor para autor. Em termos de finalidade, são as investigações que buscam a descoberta e fixação das leis, como a investigação pura ou a investigação aplicada, ou prática, que visa à resolução de problemas concretos e peculiares, ou, ainda, a que engloba as posturas anteriores, que é a investigação-ação. Considerando o aspecto profundidade, vamos ter as exploratórias e experimentais num grau extremo, e, no nível intermediário, teremos as descritivas e as correlacionais. Em função da metodologia, podem ser encontradas várias características, como mais quantitativas ou mais qualitativas, além de laboratoriais ou mais de campo, de natureza mais transversal ou longitudinal. Ainda existe aquela que busca essencialmente leis gerais, como a investigação nomotética, e a investigação centrada nas particularidades ou individualidades, que é a ideográfica http://www.psicologiaacessivel.net/ 40 (ALMEIDA; FREIRE, 2003). Para um melhor entendimento, devemos considerar os paradigmas de investigação, que são o sistema de pressupostos e valores que norteiam a pesquisa e orientam o investigador para a obtenção de “respostas” face ao “problema/questão” que se propôs investigar — são eles que informam a metodologia do investigador —, como também deixar claro alguns termos que são frequentemente utilizados por diversos autores como sinônimos, mas que apresentam algumas diferenças importantes de serem consideradas nos termos “metodologia”, “métodos” e “técnicas”. Os métodos de investigação podem ser definidos como a direção para chegar ao conhecimento científico, sendo o conjunto de procedimentos que serve de instrumento para alcançar a investigação. Com respeito às técnicas, estas são mecanismos de atuação precisos e particulares, meios que auxiliam o método, uma vez que, dentro deste, podemos utilizar várias técnicas. Quanto à metodologia, ela se ocupa de tutelar os métodos, assinalar os seus limites e alcance, explicitando e enaltecendo os seus princípios, procedimentos e suas estratégias mais adequadas para a investigação. Assim, fica claro que a metodologia tem um sentido mais amplo que o método, dado que questiona o que está encoberto, os fundamentos dos métodos, as filosofias que lhe estão implícitas e que intervêm nas escolhas feitas pelo investigador (COUTINHO, 2011). Existem diferentes formas de se investigar a realidade social. Se atentarmos à literatura, a maioria dos autores reconhece que a pesquisa científica pode ser abordada a partir de dois paradigmas, ou alternativas metodológicas: a quantitativa e a qualitativa. Vejamos um pouco mais sobre cada uma delas. Metodologia quantitativa Inspirada na Filosofia positivista, durante décadas, essa metodologia consistiu na perspectiva dominante da investigação em Ciências Sociais e Humanas, sendo também denominada de experimental, empírica ou estatística. É uma investigação basicamente confirmatória, inferencial e hipotético-dedutiva. O investigador se situa fora da investigação, sendo um elemento externo ao objeto que investiga. Os problemas de investigação que surgem dos métodos quantitativos decorrem dos axiomas ou das teorias que já existem por iniciativa do investigador, sendo o estudo 41 da bibliografia científica uma das fontes mais comuns — são considerados como problemas fechados no sentido de que eles serão totalmente determinados antes da coleta de dados. O planejamento da investigação, como o do problema, é definido antes da coleta de dados. É, portanto, um planejamento fechado e totalmente estruturado e feito de fora pela pessoa que realizará a investigação. É na fase de planejamento que a validade da investigação deverá ficar garantida e baseada, essencialmente, no controle das variáveis secundárias e em possíveis erros. Os dados coletados são designados por objetivos e analisados estatisticamente. Muitas vezes, os participantes também são escolhidos de acordo com critérios estatísticos, uma vez que se pretende generalizar os resultados obtidos para populações mais amplas dos participantes da investigação (LUKAS; SANTIAGO, 2004). Coutinho (2011) sintetiza algumas das características gerais dessa perspectiva, observe. 1- Ênfase em fatos, comparações, relações, causas, produtos e resultados do estudo 2- Investigação baseada na teoria, consistindo, muitas vezes, em testar, verificar, comprovar teorias e hipóteses 3- Plano de investigação estruturado e estático (conceitos, variáveis e hipóteses não se alteram ao longo da investigação). 4- Estudos sobre grandes amostras de sujeitos, por meio de técnicas de amostragem probabilística. 5- Aplicação de testes válidos, estandardizados, e medidas de observação objetiva do comportamento. 6- Investigador externo ao estudo, preocupado com questões de objetividade 7- Utilização de técnicas estatísticas na análise de dados. 8- Objetivo do estudo é desenvolver generalizações que contribuam para aumentar o conhecimento e permitam prever, explicar e controlar fenômenos. Metodologia qualitativa A investigação qualitativa surgiu das críticas feitas ao “mecanismo” e “reducionismo”da visão positivista, não sendo fácil a sua definição. Alguns autores, segundo Coutinho (2011, p. 26), a definem como aquela “[...] que descreve os 42 fenômenos por palavras em vez de números ou medidas [...]”, enquanto que outros consideram que uma investigação é qualitativa quando “não é quantitativa”. Esse tipo de investigação privilegia a qualidade ao invés da quantidade. São investigações de natureza exploratória, indutiva, descritiva, próxima aos dados e não generalizável. O investigador se introduz dentro das situações que pretende investigar, consistindo-se, assim, em um participante ativo. Os problemas de investigação são abertos, dado que eles podem alterar-se, consoante à investigação vai progredindo, e surgem, na maioria das vezes, das necessidades que ocorrem nos próprios grupos sociais. O planejamento é flexível e em desenvolvimento — flexível, pois, assim como o problema, pode ir variando ao longo do processo de investigação, e em desenvolvimento, na medida em que vai se reajustando conforme é colocado em prática. Os dados coletados se baseiam essencialmente em observações e entrevistas mais ou menos abertas, permitindo colher informação mais textuais do que numéricas. O investigador é o próprio instrumento. A análise dos dados se realiza mediante processos indutivos, a partir de uma análise profunda dos significados desses dados (LUKAS; SANTIAGO, 2004). Segundo Bento (2012), esse tipo de investigação tem diversas características, observe. Ocorre em ambientes naturais — geralmente o investigador vai ao local dos participantes para coletar os dados com mais detalhes. Utiliza vários métodos (interativos e humanistas) de coleta de dados — o investigador participa ativamente no estudo e tem sensibilidade para com os participantes da investigação Questões de investigação podem ser redefinidas ao longo do processo. Interpretativa e descritiva — o investigador interpreta os dados, descreve os participantes e os locais, analisando-os para configurar temas ou categorias e retirar conclusões. Indutiva — não há preocupação em arranjar dados ou evidências para provar ou rejeitar hipóteses. Investigador qualitativo encara os fenômenos sociais de forma holística. Investigador qualitativo reflete sobre o seu papel na investigação — o “eu” pessoal é indissociável do “eu” investigador. Investigador qualitativo, concomitantemente, recolhe dados, faz a análise e 43 o processo de escrita. Investigador qualitativo é o principal instrumento de recolha de dados. Investigador qualitativo se preocupa mais com o processo do que com os resultados. Nessa abordagem qualitativa, as técnicas de coleta de dados mais utilizadas são apresentadas no Quadro 1. Metodologia quantitativa ou qualitativa: qual utilizar? Uma questão que se coloca é a de qual metodologia utilizar. Segundo Bento (2012, p. 2): [...] os investigadores quantitativos coletam os fatos e estudam a relação entre eles. Já os investigadores qualitativos “estão mais interessados em compreender as percepções individuais do mundo. Procuram compreensão, em vez de análise estatística (...). Contudo, há momentos em que os investigadores qualitativos recorrem a técnicas quantitativas, e vice-versa”, isto é, técnicas mistas (quantitativas e qualitativas). Posto isso fica claro que ambas as metodologias assumem o mesmo grau de importância. A utilização delas variará consoante àquilo que queremos estudar e a que perguntas queremos responder. Tanto a abordagem quantitativa como a qualitativa podem ser utilizadas em simultâneo. Bento (2012, p. 3) refere que “[...] os dados qualitativos podem também ser usados para suplementar, validar, explicar, iluminar ou reinterpretar os dados 44 quantitativos obtidos dos mesmos sujeitos [...]”. Ambas as abordagens devem ser encaradas como técnicas que servirão de complemento, aonde cada uma, à sua maneira, dá as suas próprias visões sobre o problema que se pretende analisar. O Quadro 2 apresenta os possíveis tipos investigação. 4.2 Potencialidades da pesquisa-avaliação e da pesquisa-ação No sistema de ensino, a prática de pesquisa ocorre em quatro dimensões: 1) como atividade formal nas instituições de nível superior que têm linhas de pesquisas, onde os professores podem atuar como pesquisadores, construindo conhecimento dentro dos critérios dos métodos científicos, podendo divulgá-las por meio de publicação de artigo científico em periódicos ou em anais de eventos científicos e de livros; 2) como atividade educacional desenvolvida com os alunos, no exercício do programa curricular, para que eles construam conhecimentos que podem ou não seguir os critérios formais de cientificidade, porém trabalhar a questão de plágio; 3) como atividade de avaliação de instituições educacionais e/ou programas educacionais; e 4) como prática reflexiva e de desenvolvimento profissional, professor-como-pesquisador. Abordaremos, agora, a pesquisa de avaliação de programa, a pesquisa-ação e o professor como pesquisador. Segundo Santrock (2009, p. 20): 45 [...] a pesquisa de avaliação de programa é a pesquisa planejada para tomar decisões sobre a eficiência de um programa particular. Normalmente, focaliza uma localização ou tipo de programa específico. Uma vez que a pesquisa de avaliação de programa é muitas vezes direcionada a responder uma questão sobre uma escola ou sistema escolar específico, seus resultados não pretendem ser generalizados a outros ambientes. Para se tomar decisões sobre a eficiência de um programa educacional, será necessário um levantamento prévio e detalhado sobre as especificações e características deste programa, como: em que o programa consiste; como o programa foi desenvolvido (o que ocorreu em sala, em laboratórios); a que o programa visava, que resultados buscava; descrição dos dados demográficos e escolares dos estudantes; características gerais e profissionais dos professores; material utilizado durante o desenvolvimento do programa; descrição física e organizacional da instituição escolar; análise do contexto da comunidade em que o programa foi desenvolvido; do programa, o que foi efetivamente constatado. Segundo Vianna (2005, p. 7-9): [...] a avaliação de programa se preocupa em medir diferentes dimensões, envolvendo habilidades, compreensão e capacidade de interpretar conceitos, por exemplo, cujos resultados devem ser apresentados e interpretados nos relatórios parciais e no documento final [...] tomando-se uma situação hipotética: avaliação de um programa de Matemática ou outro de Literatura Brasileira para o ensino médio, seria certamente necessária uma consulta significativa para saber a opinião dos professores universitários e de professores atuantes nos dois últimos anos do ensino básico, a fim de que seja possível estabelecer padrões de qualidade relevantes para a programação educacional dessas duas áreas curriculares. A pesquisa-ação foi incorporada ao campo da pesquisa qualitativa por Thiollent (1985, p. 14), que a define como [...] uma pesquisa social que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação da situação da realidade a ser investigada estão envolvidos de modo cooperativo e participativo [...]. 46 Esse é um tipo de pesquisa muito utilizado com grupos sociais, tendo uma abordagem e um engajamento sócio-políticos a serviço de causas populares em vários campos de atuação social. No Brasil, ela foi introduzida no campo da educação por João Bosco Pinto, em 1989, sociólogo brasileiro, com o conceito de educação libertadora. O objetivo da pesquisa-ação é estabelecer uma relação entre o conhecimento e a ação, onde os pesquisadorese pesquisados se envolvem na busca de solução de determinado problema ou de entendimento de uma determinada realidade, aumentando o nível de conhecimento dos pesquisadores e de uma tomada de consciência dos participantes, avançando o debate do tema objeto de estudo, ou seja, objetiva uma ação prática como resultado. O método de realizar o estudo já é um modo de intervenção com a finalidade de agir e ter uma solução ou transformação da realidade em estudo pela ação coletiva. Os pesquisados, como agentes ativos na pesquisa, são os elementos que tem o conhecimento de sua própria realidade, que adquirirão os conhecimentos necessários para resolver seus problemas, satisfazendo as suas próprias necessidades (BALDISSERA, 2001) Conforme Franco (2016, p. 513): [...] toda pesquisa-ação tem caráter formativo; no caso da pesquisa-ação pedagógica, a formação pedagógica dos sujeitos da prática passa a ser a finalidade primeira. É um trabalho participativo, colaborativo pedagógico, entre pesquisadores e professores, na perspectiva de formação crítico- - reflexiva, que, por pressuposto, reverterá na melhoria do ensino. Cumpre ressaltar que não se trata de transformar os professores em pesquisadores profissionais, mas em realizar um trabalho coletivo, que gere benefícios a ambos, ou seja: ao pesquisador, compreender a práxis docente, permitindo articular melhor teoria educacional e prática docente; e ao professor, compreender sua prática, sua função social e política e transformar seu olhar sobre ela para, assim, poder reconstruí-la na perspectiva da formação dos alunos. Em ambos os casos, vislumbro possibilidades de retificação das teorias pedagógicas postas. Dentro desse contexto de pesquisa, o tornar-se um “professor-pesquisador” tem uma amplitude significativa de possibilidades de atuação. A grande ameaça aos pesquisadores, professores e gestores da área educacional, por conta da ausência de um canal de comunicação entre a Ciência e as práticas pedagógicas, segundo Nunes (2008, p. 97), refere-se às seguintes questões: 47 [...] a) a ocorrência de sentimentos de ameaça à credibilidade da educação como profissão; b) a possibilidade de os cientistas inadvertidamente delinearem modelos conceituais distanciados da realidade das salas de aula; e c) o risco de os responsáveis pela formulação de políticas públicas passarem a defender práticas educacionais que se mostram ineficazes na atualidade. Exercitar os tipos de investigação/pesquisa que poderiam estar sendo desenvolvidos pelos professores na sua postura de reflexão de sua prática envolve problemas cotidianos na sala de aula, como demonstrado por Tuckman (2000). As investigações em educação circulam ao redor das características de aprendizagem e ensino (análise do processo ensino-aprendizagem, recursos em sala de aula, métodos mais eficazes), dos componentes de ensino (condições em que se realiza o ensino, as características dos alunos e dos conteúdos) e dos resultados obtidos pelos estudantes (performance dos alunos). Os problemas à serem investigados poderiam estar delineados conforme a seguir. Características do ensino: nesta categoria, poderiam ser investigados o programa de ensino (envolveria materiais, currículo, equipamento, filosofia ou plano para a gestão do processo de ensino), os materiais de ensino (publicação impressa — como livros —, multimídia — como filmes e vídeos —, tecnologia — como computador e programação —, passatempos — como jogos e simulações, etc.), o estilo de ensino (centrado no estudante versus aula expositiva, professores mais calorosos versus formais, filosofia do professor e sua forma de atuação), a situação de aprendizagem (organização da sala de aula, formas de os estudantes se relacionarem com as fontes de ensino), a atividade de aprendizagem (respostas dos estudantes às atividades propostas, tempo gasto, quantidade de trabalhos a serem realizados em casa, etc.). Componentes do ensino: nesta categoria, poderiam ser investigados as características dos estudantes (aptidão, habilidade, rendimento escolar anterior, QI, progressão na aprendizagem, idade, sexo, personalidade, estilo de aprendizagem e classe social), as características do professor (experiência de ensino, graus acadêmicos, atitudes, crenças, percepções, concepções filosóficas, estilo de aula pelas perspectivas de outros